É FALTA DE SORTE NASCER NEGRO? José Raimundo Santana dos Santos Turma C – 5º Período – Licenciatura em História da FJAV Em um mundo de sociedades tão imensamente diversificadas, é incompreensível acreditar na prática discriminatória e preconceituosa ao ser humano caracterizado negro. Por séculos, utilizaram-se no mundo colocações que deturpam a pessoa do negro africano e afro-descendente: fenótipos, com a particularidade a tonalidade ou pigmentação da pele. Assim, a cor da pele negra denunciava uma inferioridade sagaz, essa foi à forma mesquinha e fantasiosa com relação a esse povo. Vale ressaltar que nem todo africano é negro. O desafio seria de desmistificar uma inverdade lançada como brasa ardente da Europa para o mundo, isso na busca de induzi-lo a não enxergar civilidade ou até mesmo negar a história própria do africano. Como agora vir a desfazer a tão sangrenta contribuição de Hegel, na idéia de negação à África ou às áfricas e que o fator cor da pele distinguiria dominador e dominado? Via-se necessário, até como questão de honra, a necessidade que o mundo “europeizado e híbrido”, enxergasse ou então aceitasse a ver o mal encarnado em um povo que não teve chance de defesa, quanto mais de ataque. Para tal injustiça, que fosse não desfeita, até porque não haveria como trazer de volta as vidas que os chicotes de couro cru as levaram; trazer de volta os negros que serviam como saco de pancadas de seus senhores que em muitas vezes morriam por maus tratos, não havia mais a possibilidade de querer devolver a virgindade de jovens “negrinhas” que seus senhores brutalmente fez uso. Não havendo, portanto, como desfazer uma injustiça tamanha com os negros africanos, mas a busca de muitos é que esta herança nefasta se torne página arrancada, jamais esquecida, é que agora esse mesmo mundo que se intitula civilizado mostre sua civilidade humildade em tentar recuperar e dar suporte a um povo que por tanto tempo foi utilizado como um mero objeto de consumo. Para isso vários nomes, programas, vêm por algum tempo buscando resgatar a alta estima de um povo saqueado, seja em seus ideais, sonhos, tesouros e pior de todos eles, sua cidadania. Faz-se por necessário, que a negritude seja vista não como um diferencial, mas sim como uma parte de um mundo tão diversificado, tão divergente. É triste saber que o mundo moderno, que tem como seu marco cronológico o século XVIII, ainda no século XX nas décadas de 70 e 80, existiu um movimento tão discriminatório como o “apartheid”, onde o seu maior símbolo de liberdade, o ex-presidente da África do Sul o Nelson Mandela, esteve preso por tanto tempo por defender a causa negra. Pior que tal fato, é saber que esse mesmo movimento de repressão ao negro, esteve presente no mesmo continente dos povos em questão.Uma frase importante desse mesmo lutador das causas negras, Nelson Mandela, deixa claro a busca a ser tomada para tentar reparar séculos de uma dívida incalculável, onde ele cita “consegui subir uma montanha, mas tenho muitas a subir”. Para entendermos essa frase do Mandela aos dias de hoje, é buscar ver e entender o porquê das poucas colinas, nem mesmo pequenas montanhas foram superadas. No caso brasileiro principalmente, se lembrarmos que era aqui o maior destino do negro africano em época colonizadora, migração de Angolanos, Congoleses, e de tantas outras partes que vieram para cá, deixa claro a nossa dívida. Uma nação que cresceu com o suor de braços e pernas do negro africano, portanto é incompreensível que apenas no século XX, mais preciso na década de 90, que algumas iniciativas mais claras vêm mostrar a intenção a reparar a dívida brasileira com os mesmos. Leis como a 7.685 de 17de janeiro de 1994 em Belém, lei 2.221 de 30 de novembro de 1994 em Aracaju, lei 11.973 de 4 de janeiro de 1996 em São Paulo e algumas outras leis na área da educação, vêm buscando adicionar com caráter de obrigatoriedade estudos como a descriminações raciais, estudos da raça negra, entre uma série de assuntos nesse contexto nas áreas de ensino. Leis essas que não vigoram na sua veracidade, sendo mais tarde chegando à lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003, onde tentar resgatar o prestígio de leis anteriores reformulá-las, mas é notório quanto a sua ineficaz até então. Em um país como o Brasil, por toda a história que cerca esse cruzamento entre pais colonizado e negros africanos, se torna muito pouco a criação de leis que não conseguem imprimir seu poder obrigatório ou então usar o dia 20 de novembro, dia da consciência negra como o pagamento de uma dívida que não fizemos diretamente, mas de fato não podemos omitir-se a ela. Chegamos ao século XXI, seguindo uma cronologia óbvia, deveríamos fazer parte de um processo civilizatório evoluído, onde as diversidades deveriam ser vistas de uma outra forma, mas infelizmente não é isso que acontece. A televisão torna-se um meio cada vez mais discriminatório, os postos de empregos em seus altos cargos, quase a participação negra fica fora dessa estatística, e até os próprios centros educacionais superiores (universidades federais), que deveriam abraçar com mais clareza e sensatez, mostra-se descriminatórios na criação de cotas a negros nas universidades federais, tema discutido, polêmico, mas na sua verdade discriminador. Quando se separa cotas para a raça negra, entende-se que estes estão a baixo no requisito intelectualidades quanto às pessoas denominadas brancas, só que se entende que intelectualidade não é denominada através da cor da pele e sim de uma construção do saber. Mais uma vez, ataca-se não a raiz do mal, mas os galhos proliferados. Portanto, parece que voltamos meio que a idade das trevas, onde não há uma inquisição imposta por nenhuma ordem religiosa, mas por uma sociedade a longe de uma possível e real civilidade que não conseguem ver o direito a todos os povos independentemente de escala social, religião, nacionalidade, entre tantos fatores, mas principalmente no aspecto cor da pele, pois para isso deixo como reflexão uma pergunta: “É falta de sorte nascer negro?”