UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO ANDERSON ANTONIO DE ARAUJO ABORDAGEM DE ALGUNS LUGARES GEOMÉTRICOS PLANOS EM UM AMBIENTE DE GEOMETRIA DINÂMICA SÃO PAULO 2011 UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ANDERSON ANTONIO DE ARAUJO ABORDAGEM DE ALGUNS LUGARES GEOMÉTRICOS PLANOS EM UM AMBIENTE DE GEOMETRIA DINÂMICA Dissertação submetida à banca examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação Matemática. Orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Xavier de Barros SÃO PAULO 2011 Araujo, Anderson Antonio de Abordagem de alguns lugares geométricos planos em um ambiente de geometria dinâmica / Anderson Antonio de Araujo. São Paulo: [s.n.], 2011. Dissertação de Mestrado para a obtenção do título de Mestre em Educação Matemática. Programa de Pós Graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Xavier de Barros. 1. Educação matemática 2. Ensino e aprendizagem 3. Lugar geométrico 4. Livros didáticos 5. História da Matemática. 6. Geometria Dinâmica. I. Título ANDERSON ANTONIO DE ARAUJO ABORDAGEM DE ALGUNS LUGARES GEOMÉTRICOS PLANOS EM UM AMBIENTE DE GEOMETRIA DINÂMICA DISSERTAÇÃO APRESENTADA À UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO, COMO EXIGÊNCIA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Presidente e Orientador NOME: Titulação: Instituição ASSINATURA: __________________________________________________ 2ª Examinador Nome: Titulação: Instituição: ASSINATURA: __________________________________________________ 3ª Examinador Nome: Titulação: Instituição: Assinatura: __________________________________________________ Biblioteca Bibliotecário: Assinatura:_________________________________________Data____/____/____ São Paulo, de de 2011 Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. i Dedicatória Dedico esse trabalho à minha mãe, Norma Dutra de Araujo, ao meu pai Deusded Gomes de Araujo, ao meu tio Santinho ( Sebastião Dutra ) e aos amigos Paulo Roberto Furtado Dias e Paulo Roberto Petrillo pois foram pessoas que sempre acreditaram nos meus sonhos e permaneceram do meu lado, mesmo nos momentos mais difíceis da minha vida . De coração, agradeço pela amizade de todos vocês e sempre terei um lugar reservado dentro de mim para lembrar da importância do amor e do carinho que sempre terei por vocês. ii Agradecimentos Agradeço a Virgem Maria pela presença constante na minha vida e a sua ajuda amorosa que fez com que eu me reerguesse e continuasse meu caminho me fazendo enxergar que nenhuma situação triste e dolorosa dura para sempre. Ao Prof. Dr. Luiz Gonzaga Xavier de Barros pela orientação competente e pela sua incrível sensibilidade, aliada ao seu grande conhecimento, que tanto me ajudou a encontrar os caminhos corretos no desenvolvimento do meu trabalho . Ao meu amigo Laerte, que esteve sempre presente do meu lado, me apoiando em todos os momentos do meu trabalho. Ao Governo do Estado de São Paulo pela bolsa concedida a minha pessoa e ao apoio incondicional da direção e coordenação da FAFIT agradeço o apoio. Agradeço também a Dona Arlete por ter me acolhido como um filho em sua casa e a professora Josete Biral pela revisão competente da parte gramatical da minha dissertação. iii Sucesso é, antes de tudo, a exata e intransferível sensação de fazermos aquilo que gostamos. Não há nada mais gratificante do que a realização de nossos sonhos! Quando identificamos o que efetivamente nos motiva, conseguimos entender e buscar a verdadeira razão de nossa existência: O poder de sonhar e de realizar. Karine Bighelini iv RESUMO Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa exploratória com seis estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual da cidade de Itararé – SP sobre abordagem de alguns lugares geométricos em dois ambientes de aprendizagem: um ambiente de papel & lápis e um ambiente de Geometria Dinâmica. Para embasá-la foram tomados como referenciais a Engenharia Didática de Michèle Artigue, a Teoria das Situações Adidáticas e o Contrato Didático da Guy Brousseau. Como elemento motivador, o trabalho se apoiou nos aspectos históricos de lugares geométricos e na análise de alguns livros didáticos utilizados nas últimas décadas. Para o aspecto exploratório, foram elaboradas e aplicadas oito atividades referentes a lugares geométricos a dois grupos de estudantes. Um dos grupos trabalhou em um ambiente de papel & lápis, enquanto o outro grupo trabalhou num ambiente de Geometria Dinâmica. Em seguida foram feitas análises das produções discentes. A pesquisa chegou em dois resultados. O primeiro é que a noção de lugar geométrico evoluiu ao longo do tempo, mas só recentemente tem sido abordada de maneira mais qualificada nos livros didáticos. O segundo resultado do trabalho é que o ambiente de Geometria Dinâmica favorece o processo de ensino e aprendizagem de lugar geométrico, pois nele foi obtido um número bem maior de informações e de maneira mais rápida que no ambiente de papel & lápis, facilitando, assim, a formação do conceito de lugar geométrico. Palavras chaves: Educação matemática, Ensino e aprendizagem. Lugar geométrico. Livros didáticos. História da Matemática. Geometria Dinâmica. v ABSTRACT This work presents the results of an exploratory research with Fundamental Teaching 9th grade students in a state school in Itararé – SP about the approach to some loci in two learning environments: a paper & pencil environment and a Dynamic Geometry environment. The Didactics Engineering by Michele Artigue and the Didactics Situations Theory and Didactic Contract by Guy Brousseau are taken as referential. The historical aspects of locus and the analysis of some didactical books which were in use during the last decades support this work as a motivational element. Eight activities related to focus were elaborated and applied to two groups of students. One of the groups worked in a paper & pencil environment while the other group worked in a Dynamics Geometry environment. After that it was made analysis of the student productions. The research had two conclusions. The first is that the locus notion had an evolution from the Antiquity but only recently this matter has been approached in a better qualified way in the didactics books. The second conclusion of this work is that the Dynamics Geometry helps the teaching and learning process of locus, since in it a bigger number of data was obtained and in a quicker way than in the paper & pencil environment, becoming easier the locus concept formation. Key words: Mathematics education. Teaching and learning. Locus. Didactics books. Mathematics History. Dynamics Geometry. vi LISTA DE FIGURAS Figura 1 : Situação de ação.......................................................................................12 Figura 2 : Situação de formulação.............................................................................13 Figura 3 : Situação de validação................................................................................14 Figura 4: Caderno do aluno 2a série..........................................................................21 Figura 5 : Caderno do aluno 6a série..........................................................................21 Figura 6 : duplicação do cubo...................................................................................23 Figura 7 : Trissecção do ângulo ABC ........................................................................25 Figura 8 : conchóide de Nicomedes...........................................................................28 Figura 9 : Trissecção do ângulo dado ABC ...............................................................29 Figura 10 : Demonstração da proposição XVIII ........................................................30 Figura 11 : Espiral de Arquimedes ............................................................................31 Figura 12 : Trissecção usando espiral Arquimedes...................................................32 Figura 13 : Quadratriz Hípias ...................................................................................33 Figura 14 : Cissóide Diocles .....................................................................................35 Figura 15 : Demonstração da equação cissóide ......................................................35 Figura 16 : trissecção de um ângulo usando uma hipérbole ....................................37 Figura 17 : Demonstração da trissecção de um ângulo usando uma hipérbole.......38 Figura 18 : capa do livro Geometria Elementar.........................................................41 Figura 19 : Indice do livro Geometria Elementar.......................................................41 Figura 20 : Explicação do conceito de mediatriz ......................................................42 Figura 21: Exercícios de bissetriz interna .................................................................42 Figura 22: Exercícios propostos sobre lugares geométricos ....................................43 Figura 23: Livro II : Circulo.........................................................................................44 Figura 24: Arco capaz................................................................................................44 Figura 25: Aplicação do conceito de arco capaz........................................................45 Figura 26: Problema do circulo de Apolônio...............................................................46 Figura 27: Definição de circunferência como limite de polígonos regulares..............47 Figura 28: Capa do livro Matemática: Curso Ginasial - 3a Série ..............................48 Figura 29: Índice do capítulo II PARTE I...................................................................49 Figura 30: Índice do capítulo 2 PARTE II..................................................................49 vii Figura 31: Os instrumentos geométricos na construção de lugares geométricos....50 Figura 32: Definição de lugar geométrico.................................................................50 Figura 33: mediatriz e bissetriz interna como lugares geométricos..........................51 Figura 34: Circunferência como lugar geométrico....................................................51 Figura 35 : Construção da bissetriz interna..............................................................53 Figura 36 : Lugar geométrico dos pontos cuja razão das distâncias a dois pontos fixos é constante PARTE I........................................................................................53 Figura 37 : Figura 36 : Lugar geométrico dos pontos cuja razão das distâncias a dois pontos fixos é constante PARTE II....................................................................53 Figura 38 : Capa do livro Lugares Geométricos Planos............................................54 Figura 39 : Sistema de referência para se resolver problemas de lugares geométricos...............................................................................................................55 Figura 40 : Histórico sobre origem do termo lugar geométrico.................................55 Figura 41 : Observações para se resolver problemas de lugares geométricos........56 Figura 42 : Lugar geométrico dos pontos cuja diferença dos quadrados das distâncias a dois pontos fixos seja constante...........................................................57 Figura 43 : Lugar dos pontos cuja razão das distâncias a um ponto fixo e uma reta fixa, ( que não se pertençam ) seja constante...........................................................58 Figura 44 : Elipse, hipérbole e parábola como lugares geométricos........................59 Figura 45 : O problema Delineano............................................................................60 Figura 46 : Solução de Menecmo para o problema da duplicação do cubo.............60 Figura 47 : Solução de Diocles para o problema da duplicação do cubo.................61 Figura 48 : Etimologia de alguns lugares geométricos.............................................61 Figura 49 : Capa do livro Matemática Ginasial 3a série de Roxo –Thiré – Melo e Souza (Livraria Francisco Alves de 1948 – 3aedição)...............................................63 Figura 50 : Definição de lugar geométrico como trajetória de pontos........................63 Figura 51 : Exemplos de lugares geométricos definidos como trajetórias de pontos........................................................................................................................64 Figura 52 : Definição de lugar geométrico como conjuntos de pontos......................64 Figura 53 : Definição de circulo como lugar geométrico............................................65 Figura 54 : Superfície esférica como lugar geométrico.......... ...................................65 Figura 55 : Critérios para se estabelecer um lugar geométrico..................................65 Figura 56 : Outra forma de se estabelecer um lugar geométrico ..............................66 viii Figura 57 : A mediatriz como lugar geométrico.........................................................66 Figura 58 : A bissetriz como lugar geométrico..........................................................67 Figura 59 : Definição de problema gráfico e de problema quadrático.......................67 Figura 60 : Método dos lugares geométricos............................................................68 Figura 61 : Construções geométricas pelo método dos lugares geométricos..........68 Figura 62 : Definição de circulo como lugar geométrico...........................................68 Figura 63 : Diâmetro como lugar geométrico............................................................69 Figura 64 : ângulo sob o qual se vê um segmento de reta.......................................69 Figura 65 : Capa do livro Desenho Geométrico – Jose Carlos Putnoki ....................69 Figura 66 : O método dos lugares geométricos.........................................................71 Figura 67 : Circunferência como lugar geométrico.....................................................72 Figura 68 : Mediatriz como lugar geométrico.............................................................73 Figura 69 : Resolução de exercícios pelo uso do método do lugar geométrico.........74 Figura 70 : Retas paralelas e Bissetriz como lugares geométricos ...........................75 Figura 71 : Definindo um lugar geométrico................................................................78 Figura 72 : Construindo pontos com o LOCI..............................................................78 Figura 73 : Fazendo conjecturas com o LOCI............................................................79 Figura 74 : Atividade envolvendo uso do LOCI..........................................................79 Figura 75 : Análise do lugar geométrico................................................................79/80 Figura 76 : Solução de um aluno usando o LOCI......................................................81 Figura 77 : Lugar geométrico do simétrico de um ponto P.........................................83 Figura 78 : Solução do Cabri evidenciando uma parábola.......................................85 Figura 79 : Soluções do Cabri evidenciando uma hipérbole e uma elipse................85 Figura 80 : Limaçon de Pascal...................................................................................86 Figura 81 : Uso do wandering dragging ....................................................................90 Figura 82 : Uso do line dragging ...............................................................................91 Figura 83 : Uso do linked dragging ...........................................................................91 Figura 84 : Uso do dragging test ...............................................................................92 Figura 85 : Baricentro como lugar geométrico...........................................................95 Figura 86 : Uso das ferramentas lugar geométrico e rastro no Cabri-Géomètre II ...95 Figura 87 : Solução do problema do baricentro como lugar geométrico....................96 Figura 88 : Desenhos protótipos................................................................................98 Figura 89 : Variação da posição do ortocentro...........................................................98 Figura 90 : Ortocentro como lugar geométrico...........................................................99 ix Figura 91 : Demonstração ortocentro como lugar geométrico ................................100 Figura 92 : Ângulos inscritos numa circunferência ...................................................103 Figura 93 : Construção usando lugar geométrico.....................................................104 Figura 94 : Passos de uma construção usando o método dos lugar geométricos...105 Figura 95 : construção mole divisão segmento em 3 partes iguais...........................106 Figura 96 : Divisão de um segmento em 3 partes iguais...........................................106 Figura 97 : Campo de futebol exemplificando um problema de lugar geométrico...110 Figura 98 : Solução do problema 1............................................................................111 Figura 99 : Solução do problema 2............................................................................113 Figura 100 : Atividade 1.............................................................................................117 Figura 101 : Resolução da atividade 1 do GRUPO I.................................................118 Figura 102 : Resolução da atividade 1 do GRUPO II................................................120 Figura 103 : Atividade 2............................................................................................123 Figura 104 : Resolução da atividade 2 do GRUPO I................................................126 Figura 105 : Resolução da atividade 2 do GRUPO II..............................................126 Figura 106 : Atividade 3............................................................................................127 Figura 107 : Resolução da atividade 3 do GRUPO I................................................129 Figura 108 : Resolução da atividade 3 do GRUPO II..............................................131 Figura 109 : Atividade 4............................................................................................132 Figura 110 : Resolução da atividade 4 do GRUPO I................................................134 Figura 111 : Resolução da atividade 4 do GRUPO II...............................................136 Figura 112 : Atividade 5............................................................................................138 Figura 113 : Resolução da atividade 5 do GRUPO I................................................140 Figura 114 : Resolução da atividade 5 do GRUPO II...............................................142 Figura 115 : Atividade 6............................................................................................143 Figura 116 : Resolução da atividade 6 do GRUPO I................................................145 Figura 117 : Resolução da atividade 6 do GRUPO II...............................................148 Figura 118 : Atividade 7............................................................................................149 Figura 119 : Resolução da atividade 7 do GRUPO I................................................150 Figura 120 : Resolução da atividade 7 do GRUPO II...............................................152 Figura 121 : Atividade 8............................................................................................154 Figura 122 : Resolução da atividade 8 do GRUPO I................................................156 Figura 123 : Resolução da atividade 8 do GRUPO II..............................................158 x LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Atividade 1 GRUPO I.....................................118/119 Quadro 2 - Atividade 1 GRUPO II...........................................121 Quadro 3 - Atividade 2 GRUPO I............................................124 Quadro 4 - Atividade 2 GRUPO II...........................................126 Quadro 5 - Atividade 3 GRUPO I............................................129 Quadro 6 - Atividade 3 GRUPO II...........................................131 Quadro 7 - Atividade 4 GRUPO I............................................134 Quadro 8 - Atividade 4 GRUPO II...........................................137 Quadro 9 - Atividade 5 GRUPO I.....................................140/141 Quadro 10 - Atividade 5 GRUPO II..................................142/143 Quadro 11 - Atividade 6 GRUPO I..........................................146 Quadro 12 - Atividade 6 GRUPO II..................................148/149 Quadro 13 - Atividade 7 GRUPO I..........................................151 Quadro 14 - Atividade 7 GRUPO II.........................................153 Quadro 15 - Atividade 8 GRUPO I..........................................156 Quadro 16 - Atividade 8 GRUPO II.........................................158 xi SUMÁRIO CAPÍTULO I FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS 1.1 Introdução ................................................................................................................. 1 1.2 O conceito de Engenharia Didática .......................................................................... 4 1.3 A noção de Contrato Didático .................................................................................... 8 1.4 A Teoria das Situações Didáticas..............................................................................10 CAPÍTULO II ASPECTOS HISTÓRICOS DO CONCEITO DE LUGAR GEOMÉTRICO 2.1 Introdução ............................................................................................................... 16 2.2 A importância da História da Matemática no processo de ensino aprendizagem ... 18 2.3 Os Cadernos da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo........................19 2.4 Os três problemas clássicos da Antiguidade ........................................................... 21 2.4.1 O problema da trissecção de um ângulo ......................................................... 22 2.4.2 O problema da duplicação do cubo ................................................................. 23 2.4.3 O problema da quadratura do circulo .............................................................. 24 2.5 A construção por nêusis e o uso de lugares geométricos na solução dos três problemas clássicos da antiguidade grega ....................................................................24 2.6 Nicomedes e sua solução para o problema da trissecção de um ângulo ................ 27 2.7 A espiral de Arquimedes e sua solução para o problema da trissecção de um ângulo.............................................................................................................................29 2.8 A quadratriz de Hípias e o seu uso na solução do problema da trissecção de um ângulo e na quadratura do circulo....................................................................... 33 2.9 A cissóide de Diocles e sua solução para o problema da duplicação do cubo........ 34 2.10 Papus de Alexandria e a solução do problema da trissecção usando uma hipérbole........................................................................................................................ 36 xii CAPÍTULO III O CONCEITO DE LUGAR GEOMÉTRICO EM ALGUNS LIVROS DIDÁTICOS 3.1 Introdução.................................................................................................................40 3.2 Livro: Geometria Elementar..................................................................................... 41 3.3 Livro: Matemática: Curso Ginasial ........................................................................... 48 3.4 Livro: Lugares Geométricos Planos......................................................................... 54 3.5 Livro : Matemática Ginasial......................................................................................63 3.6 Livro: Desenho Geométrico......................................................................................70 CAPÍTULO IV O PAPEL DA GEOMETRIA DINÂMICA NO PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM DO CONCEITO DE LUGAR GEOMÉTRICO 4.1 Introdução ............................................................................................................... 76 4.2 O software Loci ....................................................................................................... 77 4.3 O software Cabri – Géomètre II e lugares geométricos........................................... 82 4.4 Tipos de deslocamento ........................................................................................... 87 4.4.1 Um exemplo de aplicação do conceito de deslocamento na solução de um problema de lugar geométrico ....................................................................................... 90 4.5 As conjecturas e a demonstração matemática no ambiente de geometria dinâmica ........................................................................................................................................94 4.6....... As construções moles e robustas e o papel de cada uma delas no ensino da Geometria e dos lugares geométricos......................................................................101 4.6.1 A construção robusta .................................................................................... 102 4.6.2 A construção mole ........................................................................................ 105 4.7 O uso dos problemas abertos e a Geometria Dinâmica ........................................ 107 4.7.1 Análise e discussão dos problemas abertos ................................................... 111 xiii CAPÍTULO V PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DAS ATIVIDADES 5.1 Experimento de ensino...........................................................................................115 5.2 Sujeitos da pesquisa...............................................................................................115 5.3 Procedimento experimental....................................................................................116 5.4 Atividades propostas..............................................................................................116 5.4.1 Análise a priori e a posteriori da atividade 1.................................................116 5.4.2 Análise a priori e a posteriori da atividade 2.................................................122 5.4.3 Análise a priori e a posteriori da atividade 3.................................................127 5.4.4 Análise a priori e a posteriori da atividade 4.................................................132 5.4.5 Análise a priori e a posteriori da atividade 5.................................................138 5.4.6 Análise a priori e a posteriori da atividade 6 .................................................143 5.4.7 Análise a priori e a posteriori da atividade 7.................................................149 5.4.8 Análise a priori e a posteriori da atividade 8.................................................153 5.5 Considerações sobre as atividades.......................................................................159 Considerações finais....................................................................................................161 Referencias bibliográficas............................................................................................164 1 CAPÍTULO I – FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS 1.1 Introdução Desde a adolescência, o estudo da Geometria foi algo que me cativou bastante. Busquei com o passar do tempo, pesquisar diversas obras, no intuito de conseguir aprender de forma mais simples este conteúdo. Alguns autores eram bem metódicos colocando cada tema de forma bem ordenada e fazendo inúmeras demonstrações. Outros autores buscavam um diálogo mais aberto com os leitores, explicando a teoria envolvendo algumas situações diárias que pudesse ficar evidenciada a utilidade da Geometria. Desta forma, percebi que muitos assuntos eram vistos com um enfoque bem grande, como, por exemplo, a semelhança de triângulos e indo num caminho contrário notei que um assunto sempre era colocado de forma simplória no final de alguns livros. Muitas das vezes era exposto no final da obra como uma observação ou se um capítulo era dedicado a este assunto, pouquíssimas páginas eram escritas. Falo do conceito de lugar geométrico exposto nos livros didáticos. Com o passar do tempo, ingressei no curso de licenciatura em Matemática na Universidade Federal de São Carlos, onde tive contato com uma disciplina chamada História da Matemática. Este curso me ajudou a pensar e procurar respostas para diversas questões relativas ao ensino do conceito de lugar geométrico exposto nos livros didáticos. Percebi que nenhum enfoque histórico era dado e me deparei com diversas dúvidas e a principal foi: Será que o enfoque abordado em relação ao conceito de lugar geométrico sempre foi visto desta maneira? Existiu alguma época no qual um enfoque diferenciado foi dado a este tema? Analisando obras da Federal de São Carlos relativas à História da Matemática percebi que o conceito de lugar geométrico era algo muito mais profundo pois estava envolvido na solução de diversos problemas históricos, dando desta forma uma grande contribuição para a evolução da Matemática. Desta forma, surgiu na minha mente a necessidade de procurar associar a História da Matemática com o conceito de lugar geométrico. 2 De fato, estudando os livros didáticos atuais percebi um único enfoque voltado somente para alguns lugares geométricos, como a circunferência e a mediatriz de um segmento, e colocando desta forma o conceito de lugar geométrico como algo superficial desprovido de qualquer associação histórica. O aspecto histórico é primoroso no ensino da Matemática. Este tipo de enfoque potencializa em muito a aprendizagem de um aluno e esta visão não é usada de forma continua em diversos livros didáticos atuais. Gomes (2005, p.58 apud VIANNA, 1995, P.4) nos fala a respeito disso. A análise dos livros didáticos revelou-me que os usos didáticos da História da Matemática têm estado limitados às questões de motivação e/ou simples informações adicionais, raramente incorporando-se o conhecimento histórico na elaboração de novas sequências ou estratégias didáticas. (VIANNA, 1995: 4) Levando em consideração a importância que creditamos ao uso da História da Matemática como algo tangível, que visa melhorar a compreensão do aluno, tornando-o um sujeito crítico com relação aos conceitos matemáticos ao seu redor, foi criado um capítulo que visa dar suporte a este aspecto, relacionando - o ao conceito de lugar geométrico. Tivemos este intuito no sentido de desmitificar o aspecto puramente formal de um lugar geométrico dado nos livros didáticos atuais, desligando-o de qualquer prática histórica, deixando assim de mostrar o seu uso na solução de problemas importantíssimos que serviram de base para o aprimoramento de muitos conceitos matemáticos. Tendo em mente este tipo de metodologia, foi feita uma análise de 4 livros didáticos existentes em épocas distintas e foram estudadas as metodologias estabelecidas por cada um destes com relação ao conceito de lugar geométrico. Esta análise foi feita buscando responder a uma primeira questão: Como o conceito de lugar geométrico tem sido tratado nos livros didáticos ao longo das últimas décadas? Outro ponto da pesquisa surgiu quando tive a oportunidade, no curso de Desenho Geométrico na Federal de São Carlos, de conhecer o software CabriGéomètre. Este software abriu caminho para que eu pudesse refletir sobre o uso das suas ferramentas no ensino da Geometria e buscar respostas visando um melhor uso do conceito de lugar geométrico. Esta idéia ficou adormecida na minha mente. 3 Anos depois, quando me tornei professor da rede pública do Estado de São Paulo, este software foi distribuído pelo Governo para as escolas estaduais no intuito de ajudar alunos e professores a desenvolver questões e trabalhos em conjunto. Com a vinda deste software, o Governo buscou mudar a visão de muitos docentes com relação ao ensino da geometria plana em sala de aula. Pela minha prática e vivência como professor no Estado de São Paulo percebi que este software deixou de ser usado, tanto pelos professores, quanto pelos alunos e não houve nenhum curso envolvendo docentes com a intenção de capacitá-los no sentido de torná-los sujeitos fluentes no uso deste programa de Geometria Dinâmica. Estudando de forma mais profunda este software e lendo artigos referentes as suas potencialidades como as ferramentas rastro, lugar geométrico, o uso do mouse para movimentarmos uma figura em diversas posições testando nossas conjecturas de forma bem rápida e dinâmica, somando a isto a possibilidade de escondermos partes da construção que não nos interessa, percebi a utilidade bem nítida de se usar o Cabri-Géomètre como uma ferramenta facilitadora para resolvermos diversos problemas geométricos, fazendo-se uso de um lugar geométrico, e a partir disto fazer a junção com temas relacionados a História da Matemática, como por exemplo o problema da trissecção de um ângulo fazendo-se uso de uma nêusis. Assim, uma segunda questão de pesquisa é colocada: O uso de um software de Geometria Dinâmica amplia as possibilidades de ação, formulação e validação em uma situação a-didática do estudo de lugares geométricos planos? Desta forma, ao longo do trabalho, foram colocados diversos tópicos relacionados ao uso da Geometria Dinâmica envolvendo o tema lugar geométrico, procurando fazer uso deste na sala de aula no intuito de mudar o paradigma encontrado em diversos livros didáticos. Terminando o estudo referente ao conceito de lugar geométrico, foi proposta uma Engenharia Didática baseada nos trabalhos de Michele Artigue, tendo como pressuposto metodológico os trabalhos de Guy Brousseau relativos às metodologias das Situações adidáticas e do Contrato Didático. 4 1.2 O conceito de Engenharia Didática O conceito de Engenharia Didática surgiu em meados da década de 1980 com as pesquisas de Michele Artigue. Esta metodologia faz analogia com o trabalho de um engenheiro que usa seus conhecimentos teóricos de forma prática. No meio acadêmico isto se faz através da pesquisa e da vivencia educativa. Desta forma, da mesma maneira que um prédio para poder se erguer precisa passar por todas as etapas, desde a construção do alicerce, no processo de ensino ocorrerá algo análogo pois o trabalho realizado pelo professor terá de seguir todas as etapas, desde a elaboração das atividades iniciais até a execução destas de forma prática. Carneiro (2005) fortalece o que foi dito acima : A origem desta teoria está na preocupação com uma certa “ideologia de inovação” presente no domínio educativo, que abre caminho para qualquer tipo de experiência na sala de aula, descolada de fundamentação científica. Ao mesmo tempo, está relacionada com o movimento de valorização do saber prático do professor, com a consciência de que as teorias desenvolvidas fora da sala de aula são insuficientes para captar a complexidade do sistema e para, de alguma forma, influir na transformação das tradições de ensino. Nesta perspectiva, a questão consiste em afirmar a possibilidade de agir de forma racional, com base em conhecimentos matemáticos e didáticos, destacando a importância da realização didática na sala de aula como prática de investigação. (CARNEIRO, 2005, pg. 89-90) A engenharia didática permite ao pesquisador, elaborar estratégias visando uma melhor abordagem metodológica na sala de aula. Pode-se compreender essa como uma prática investigativa. O conteúdo, explicado pelo docente, é discutido de forma plena entre os alunos. Trocas constantes de opiniões são feitas no ambiente escolar. Esse mecanismo, muda a visão com relação a visão de um professor como um sujeito detentor de todo conhecimento e o aluno como alguém estático, receptor das idéias transmitidas, onde não cabe a esse fazer qualquer tipo de questionamento. Dessa forma, passa a existir, de modo bem coerente a relação entre o saber teórico e o saber prático. Artigue (2002) coloca a sua concepção a respeito do que seja uma Engenharia Didática 5 Considera-se um ponto do sistema didático cujo funcionamento parece, por razões de naturezas diversas, pouco satisfatório. Analisase esse ponto de funcionamento e as condições que tendem a encontrar um novo ponto de equilíbrio e, depois, trabalhando com essas condições, busca-se determinar condições de existência de um modo de funcionamento mais satisfatório. (ARTIGUE, 2002) Para que a metodologia da Engenharia Didática seja realizada de forma plena é preciso que diversas fases sejam seguidas criteriosamente numa determinada ordem, visando assim uma melhor abordagem desta metodologia. Temos então as seguintes fases: Análise preliminar: Aqui é feito um levantamento geral dos principais aspectos que fundamentarão a pesquisa. Pode-se considerar por exemplo os aspectos didáticos, psicológicos e cognitivos. Isto é feito para que se possa ter uma idéia das variáveis que estarão presentes no ambiente de pesquisa que poderão ou não, interferir de forma positiva em cada caso analisado. De uma maneira geral, pode-se resumir o que foi dito através de Santana et al. (2004): Algumas pessoas podem confundir este processo com o levantamento bibliográfico, no entanto, a engenharia didática é uma tentativa de análise de todas as situações didáticas que podem ocorrer ao se ensinar um conteúdo específico. Em outras palavras o que é proposto aqui é uma tentativa de se evitar a “reinvenção da roda”. De acordo com Almouloud (2008), pode-se resumir essa primeira fase, levando em consideração os seguintes critérios: A epistemologia que será usada com relação aos conteúdos que serão ensinados pelo professor A prática da metodologia do ensino que será visado e as características de seus efeitos Análise das dificuldades oriundas dos alunos, e o que esses fatores poderão dizer a respeito da evolução destes no experimento de ensino. Colocar de forma bem nítida, os objetivos que o pesquisador pretende alcançar no decorrer da pesquisa A necessidade de se ensinar o conhecimento afim de modificá-lo, levando em consideração o sistema educativo ao qual desejamos realizar o trabalho 6 Deve-se ressaltar que nada impede do pesquisador nas etapas subseqüentes retornar essa parte do experimento. Na realidade, isso é algo lícito e muito proveitoso, pois irá permitir ao pesquisador, analisar de forma contínua, processos que necessitam de algum reajuste. Análise a priori: Nesta fase, considerando os dados coletados na análise preliminar é feita uma sequência didática no intuito de ter um controle nas experiências realizadas. Artigue (1988) nos fala de dois tipos de variáveis fundamentais para a realização de uma Engenharia Didática que são as variáveis macrodidáticas ou globais e as variáveis microdidáticas ou locais. Macro – didáticas: O pesquisador faz um levantamento global da sua engenharia, levando em conta, aspectos como tipos de materiais a serem usados, como será realizada a medição do conhecimento adquirido pelos alunos. Micro – didáticas: O pesquisador realiza e organiza a engenharia, levando em consideração a organização de alguma sessão, tendo como variáveis o meio em que a engenharia se estabelece . Almouloud e Coutinho (2008) reforçam o que foi dito: O objetivo de uma análise a priori é determinar como as escolhas efetuadas ( as variáveis que queremos assumir como pertinentes ) permitem controlar os comportamentos dos alunos e explicar seu sentido. Dessa forma, em uma análise a priori devemos: Descrever as escolhas das variáveis locais e as características da situação adidática desenvolvida Analisar a importância dessa situação para o aluno e, em particular, em função das possibilidades de ações e escolhas para construção de estratégias, tomadas de decisões, controle e validação que o aluno terá. As ações do aluno são vistas no funcionamento quase isolado do professor, que, sendo o mediador no processo, organiza a situação de aprendizagem de forma a tornar o aluno responsável por sua aprendizagem. Prever comportamentos possíveis e tentar mostrar como a análise feita permite controlar seu sentido, assegurando que os comportamentos esperados, se e quando eles intervêm, resultam do desenvolvimento do conhecimento visado pela aprendizagem. 7 Conforme foi dito, a análise a priori possui duas características que auto se complementam. A parte da descrição e a parte da previsão. Levando em consideração esses dois fatores, diversos questionamentos podem ser levantados como: Qual o conhecimento necessário para o aluno compreender e resolver um problema proposto? Até que ponto o aluno consegue ter controle sobre sua ação no momento de realizar alguma atividade? Logo, nesta etapa, as hipóteses levantadas, irão constituir um alicerce forte para o desenvolvimento da nossa engenharia didática pois é a partir dessa etapa que poderá ser analisado com uma profundidade maior, os resultados obtidos na última etapa, mostrando ou não a validação dos resultados apresentados pelos sujeitos da pesquisa. Experimentação: Neste instante o pesquisador coloca em prática toda teoria elaborada nas fases anteriores. Um fator importante, evidenciado nesta fase, é a possibilidade de corrigir pontos da sequência didática quando o experimento realizado nos mostra esta necessidade. O processo de experimentação pode ser feito usando uma determinada quantidade de aulas e segundo Silva (2010) “essas aulas devem passar por um planejamento e uma análise prévia apurada com o intuito de observar situações de aprendizagem, envolvendo os conceitos previstos na pesquisa didática”. Análise a posteriori: Depois do processo de experimentação, o material é recolhido e analisado pelo professor onde este verifica as principais intervenções que podem ser feitas no intuito de melhorar de forma significativa o experimento. Dando sequência a idéia exposta citamos novamente Almouloud e Coutinho (2008) Assim, a análise a posteriori depende das ferramentas técnicas (material didático, vídeo) ou teóricas (teoria das situações, contrato didático...) utilizadas com as quais se coletam os dados que permitirão a construção de protocolos de pesquisa. Esses protocolos serão analisados profundamente pelo pesquisador e as informações daí resultantes serão confrontadas com a análise a priori realizada. O objetivo é relacionar as observações com os objetivos definidos a priori e estimar a reprodutibilidade e a regularidade dos fenômenos didáticos identificados. 8 Considerando o aspecto didático que deve ser escolhido no momento de elaborar uma Engenharia Didática, optamos pelas Teorias das Situações Didáticas e do Contrato Didático de Guy Brousseau, pois elas permitiram modelar de forma coerente as atividades que foram elaboradas para o experimento. As próximas seções tratam um pouco dessas teorias. 1.3 A noção de Contrato Didático Lendo textos referentes à didática estabelecida na sala de aula, nos deparamos com a importância de um plano de aula bem estruturado. Um fator importante muita das vezes é deixado de lado e acaba não sendo percebido por muitos professores. Neste sentido, a noção de Contrato Didático criado por Brousseau nos auxilia como uma ferramenta facilitadora nesta relação dinâmica entre professor e aluno dentro de uma sala de aula. De forma geral, o Contrato Didático estabelece a relação entre professor e aluno e os deveres que devem coexistir entre eles. Devemos focar aqui, que este contrato pode se expandir para outros tipos de ambientes, não ficando necessariamente dentro da instituição escolar. Chama-se Contrato Didático o conjunto de comportamentos do professor que são esperados pelos alunos e o conjunto de comportamentos do aluno que são esperados pelo professor (...) Esse contrato é o conjunto de regras que determinam, uma pequena parte explicitamente, mas sobretudo implicitamente, o que cada parceiro da relação didática deverá gerir e aquilo que, de uma maneira ou de outra, ele terá de prestar conta perante o outro. (Brousseau, 1980, pg.101 apud MORETI, 2009, p.116). A origem deste termo esta relacionado ao contrato social de Rousseau, este destacou a noção de contrato pedagógico, onde são estabelecidas e determinadas as relações inerentes entre aluno, professor e sociedade. Devemos levar em conta que este contrato pode parecer algo paradoxal e na realidade isto acaba por ser verdade, vejamos as palavras de Brousseau: Dei-me conta de que semelhante construção de modelos levava a contradições, que se expressavam na realidade por meio de paradoxos: o professor, por exemplo, não pode dizer explicitamente, e 9 de antemão, o que o aluno terá de fazer diante de um problema, sem tirar-lhe, ao fazê-lo, a possibilidade de manifestar ou adquirir o conhecimento correspondente. O professor não pode se comprometer a “fazer o aluno entender” um conhecimento e, muito menos, fazer com que este se produza: ninguém sabe como “se faz” uma matemática nova e, menos ainda, como se pode “fazer com que seja feita” de maneira acertada. De forma que a relação didática não pode formalmente gerar um contrato. As cláusulas não podem ser escritas, as sanções em caso de quebra não podem ser previstas. Contudo, a ilusão de que existe um contrato é indispensável para que a relação aconteça e seja, eventualmente,bem sucedida. (BROUSEAU, 2008, p.73-74) Do que foi dito até o momento percebemos que o Contrato Didático é algo muito flexível e dinâmico. Além do mais, permite uma maior interação entre professor e aluno. O docente deixa de ser detentor de todo conhecimento, o saber não se torna algo pronto e acabado. Diversas mudanças podem ser feitas no decorrer das atividades e poderemos chamar isso de ruptura do contrato que poderá nos dar um retorno positivo ou negativo dependendo de cada situação analisada. São apresentados em seguida os principais efeitos de um Contrato Didático segundo Brousseau: Efeito Topaze: Este efeito ocorre quando o professor procura, através de diversos tipos de mecanismos, ajudar o aluno a obter a resposta de algum problema, tirando deste a oportunidade de mostrar suas idéias com uma plenitude substancial Efeito Jourdain: Neste caso, o professor procura evitar um debate com o aluno com receio de diagnosticar algum fracasso deste. Assim, o professor admite um conhecimento sábio no aluno, mesmo tendo plena convicção de que este não possui uma idéia concreta e coerente. Na realidade, o efeito Jourdain é uma forma de efeito Topaze. Uso abusivo de analogias: O uso excessivo de analogias pode gerar uma grande produção de feitos Topazes. Quando o aluno não consegue resolver algum problema o professor acaba criando um mecanismo para que o aluno decore a solução deste, não conseguindo criar assim um conhecimento de forma plena. De acordo com Brousseau (2008): 10 Se os alunos fracassam em seu processo de aprendizagem, devem receber uma nova oportunidade no mesmo assunto. Eles sabem disso. Ainda que o professor dissimule o fato de que o novo problema se parece com o anterior; os alunos vão procurar – o que é legítimo – a solução que já lhes foi dada. Essa resposta não significa que a consideram adequada para a pergunta formulada, mas simplesmente que reconheceram indícios, talvez totalmente exógenos e não controlados, de que o professor queria que eles a produzissem. Desta forma, obtêm a solução lendo as orientações didáticas, e não graças a um compromisso com o problema. (BROUSEAU, 2008, p.84) 1.4 A Teoria das Situações Didáticas Segundo Brousseau, o comportamento dos alunos no momento de resolverem um problema revela o funcionamento deste meio. Desta forma, um problema ou exercício não deve ser encarado como uma regra que visa somente repetir o conhecimento transmitido pelo professor, mas sim um dispositivo que faça o sujeito refletir de forma plena sobre a situação proposta. Isso pode ser feito através de um jogo, um desafio, uma situação que gere um antagonismo, fazendo com que o sujeito pense de tal modo a colocar suas próprias idéias, conservando ou mudando-as de acordo com o meio em que interage. Brousseau propõe desta forma, que o aluno se torne um pesquisador colocando suas idéias, expondo suas opiniões, colocando suas conjecturas, testando suas hipóteses e fazendo tudo isso em parceria com um meio, um conjunto de colegas que socializem suas descobertas. Pommer (2010, p.7 apud BROUSSEAU, 1996, p. 37-38) nos coloca essas idéias: O trabalho intelectual do aluno deve ser, por momentos, comparável a esta atividade científica. Saber matemática não é apenas aprender definições e teoremas, a fim de reconhecer as ocasiões que eles podem ser utilizados e aplicados; sabemos perfeitamente que fazer matemática implica resolver problemas. (...) Uma boa reprodução pelo aluno de uma atividade científica exige que ele aja, formule, prove, construa modelos, linguagens conceitos, teorias,os troque com outros,reconheça aqueles que são conformes à cultura, retire destas aquelas que lhe são úteis (...) (BROUSSEAU, 1996a, p. 37-38). 11 A esses tipos de situações, Brousseau chamou de situações adidáticas, que podem ser descritas da seguinte maneira: Situações de ação Neste tipo de situação, o professor propõe um problema para um aluno ou grupo de alunos com o intuito de criar um ambiente investigativo. Aqui o aspecto experimental é predominante. Através de um jogo, uma situação instigante o aprendiz vai fazendo suas conjecturas sem pensar de imediato numa teoria que fundamente suas idéias. O processo continua, com trocas contínuas de informações entre os aprendizes onde uma teoria poderá ser aceita ou não depois de diversos diálogos e experimentações existentes no grupo de alunos. Cabe ao professor fazer interações sem interferir de forma direta na solução do problema. Este poderá através de análises contínuas ajustar as ações dos alunos, verificando quais resultados serão pertinentes para a validação de uma idéia proposta. Desta forma, usando este tipo de situação, o aprendiz se torna construtor do seu próprio conhecimento, não recebendo informações prontas e acabadas, conseguindo se tornar um sujeito ativo no processo de ensino aprendizagem. Conforme nos fala Brousseau (2008) temos: Para um sujeito, “atuar” consiste em escolher diretamente os estados do meio antagonista em função de suas próprias motivações. Se o meio reage com certa regularidade, o sujeito pode relacionar algumas informações as suas decisões (feed-back), antecipar suas respostas e considerá-las em suas futuras decisões. Os conhecimentos permitem produzir e mudar essas “antecipações”. A aprendizagem é o processo em que os conhecimentos são modificados. Podemos apresentar esses conhecimentos por meio de descrições de táticas (ou procedimentos) que o indivíduo parece seguir ou pelas declarações daquilo que parece levar em consideração, mas tudo são só projeções. A manifestação observável é um padrão de resposta explicado por um modelo de ação implícito. (BROUSSEAU, 2008, p.28) Buscando colocar as palavras num esquema figurativo, poderemos entender esta situação analisando a seguinte figura. 12 Figura 1 : Situação de ação Fonte : (Brousseau 2008 p.28) Situações de formulação Esta situação tem como característica principal a troca de conhecimento entre o sujeito e os colegas que interagem com ele, existindo uma linguagem um pouco mais formal sem a adoção de um critério matemático rigoroso. Neste contexto, o uso de termos colocados pelos alunos que expressem suas idéias fazendo-se uso de metáforas, de algum código simbólico é algo contínuo que visa a compreensão entre os grupos procurando buscar um entendimento comum. Citamos então Maioli (2004) que fortalece nossas colocações : O objetivo das situações de formulação é a troca de informações: há momentos em que um aluno quer agir, mas as informações que detém são insuficientes, então ele consulta seus companheiros em busca dos dados que lhe faltam. Com estas trocas, pode haver julgamentos e questionamentos sobre validade, no entanto, esses aspectos não são exigidos para caracterizar uma situação de formulação. (MAIOLI, 2004, p.6) Podemos exprimir a situação de formulação usando o seguinte quadro esquemático: 13 Figura 2: Situação de formulação. Fonte : (Brousseau 2008 p.29) Situações de validação Nesta situação, o aprendiz procura usar uma linguagem matemática apropriada ( demonstrações, provas ) Pomeer (2008). Temos aqui, a possibilidade de corrigir qualquer equívoco de conceitos matemáticos. Nesta etapa, o aluno consegue interagir com seus pares sem entrar em contradição, usando esquemas de prova. Brousseau (2008) nos fala deste tipo de situação: Os alunos colaboram na busca da verdade, ou seja, no esforço de vincular de forma segura um conhecimento a um campo de saberes já consolidados, mas entram em confronto quando há dúvidas. Juntos encarregam-se das relações formuladas entre um meio e um conhecimento relativo a ele. Cada qual pode posicionar-se em relação a um enunciado e, havendo desacordo, pedir uma demonstração ou exigir que o outro aplique suas declarações na interação com o meio. (BROUSSEAU, 2008, p.30) Nesta situação temos a elaboração de algum tipo de prova que não foi realizada e concretizada nas duas etapas anteriores. Cabe então, ao grupo de alunos discutirem suas idéias fazendo uso de algum tipo de demonstração fundamentada num aspecto lógico e formal. O quadro abaixo resume este tipo de situação. 14 Figura 3: Situação de validação. Fonte: (Brousseau 2008 p.30) As situações de ação, formulação e validação formam a tipologia das situações a-didáticas onde o professor se torna o mediador, não revelando de forma imediata as suas idéias na solução do problema. O aluno procura encontrar uma resposta visando a situação colocada pelo professor, sem existir qualquer tipo de raciocínio que busque uma mera reformulação de conceitos e fórmulas. Brousseau acreditava que estas três situações bastavam para caracterizar de forma plena o conhecimento adquirido pelo aluno, mas no decorrer de suas pesquisas este observou uma lacuna: No passado, acreditávamos que, ao considerarmos as situações de ação, formulação e validação, dispúnhamos já de todos os tipos possíveis de situação. Tínhamos situações de aprendizagem – no sentido dos psicólogos – e se poderia pensar que havíamos reduzido o ensino a sucessões de aprendizagem. Mas, no decorrer das experiências desenvolvidas na escola Jules Michelet, vimos que os professores, depois de certo tempo, precisavam ordenar um espaço. Não queriam passar de uma lição a seguinte, queriam parar para “rever o que já haviam feito”. Vimo-nos obrigados a perguntar a causa dessa resistência dos professores a reduzir a aprendizagem aos processos que havíamos concebido. (BROUSSEAU, 2008, p.31) O fato de garantir a consistência do conjunto das modelagens, eliminando as que são contraditórias, exige um trabalho teórico – mostraram a necessidade de considerar as fases de institucionalização que deram a determinados conhecimentos o staus cultural indispensável de saber. (BROUSSEAU, 2008, p.31) 15 Situações de institucionalização Nesta situação, o professor retorna sua posição inicial, ou seja, o sujeito que transmite o conhecimento de forma a esclarecer as dúvidas oriundas do corpo discente após a explanação de algum conteúdo. Aqui, cabe ao professor corrigir conceitos, idéias ou generalizações colocadas pelos alunos de tal forma a construir um saber formal que será compartilhado por todos. Cabe ressaltar que esta etapa não se enquadra na tipologia das situações a-didáticas pois conforme dito existe uma interferência direta do professor, caracterizando assim uma situação didática. Desta forma, citamos Azevedo e Pietrocola (2008) que ressaltam o que foi dito até o momento: O papel do professor inclui, além de organizar a aprendizagem, verificar o que os alunos fizeram ou não, o que eles aprenderam ou ainda precisam aprender. Deste modo, há uma retomada das ações e formulações realizadas que são incluídas no repertório dos alunos para serem usados posteriormente. O conhecimento produzido durante a sequência de atividades é discutido e resgatado de modo que o aluno perceba tratar-se de um saber aceito pela comunidade social e científica representada pelo professor. Esta situação não é mais uma situação adidática: há explicitamente a intenção de incluir o conhecimento gerado pelo aluno no estatuto do saber institucionalizado. (AZEVEDO E PIETROCOLA, 2008, p.7) 16 CAPÍTULO II – ASPECTOS HISTÓRICOS DO CONCEITO DE LUGAR GEOMÉTRICO 2.1 Introdução Nos dias atuais, quando se faz referência a uma curva, podemos definir esta como um lugar geométrico, ou seja, um conjunto de pontos o qual satisfaz determinada propriedade. Essa visão conjuntista é algo criado de forma recente. LIMA (2001) fala que a expressão “lugar geométrico” é anterior a teoria dos conjuntos e permaneceu depois dela. Ele não cita algum período onde essa expressão começou a ser usada. Numa crítica a um livro sobre uma definição de lugar geométrico fala : Na realidade, “conjunto” e “propriedade” são conceitos intercambiáveis. Portanto, a definição acima simplesmente diz que lugar geométrico é qualquer conjunto de pontos. Isto nos leva a concluir que o conjunto dos pontos do plano que têm coordenadas racionais é um lugar geométrico. (Seria mais adequado dizer que este é um lugar algébrico.) Se é assim, então para que falar em lugar geométrico, se já temos a consagrada palavra “conjunto” ? Uma saída para os autores de livros didáticos seria dizer um lugar geométrico (plano) é um subconjunto do plano definido por uma propriedade geométrica. (LIMA, 2001, p.41) Caso se olhe os originais gregos, não será encontrado o nome lugar geométrico. Arquimedes, por exemplo, na sua obra “As espirais”, antes de colocar a proposição 12, coloca sete definições explicando o que seja uma espiral e em nenhuma dessas definições encontramos qualquer referência a um lugar geométrico. Como exemplo, colocamos a primeira definição: Se, uma linha reta for desenhada no plano e se, permanecendo fixa uma das suas extremidades, ela girar com uma velocidade uniforme um número qualquer de vezes até retornar da posição de que partiu, e se, além disso, durante esta rotação da linha reta, um ponto se mover sobre a reta com uma velocidade uniforme a partir da extremidade fixa, o ponto descreverá uma espiral no plano 17 Assim, deixamos claro, que as definições usadas fazendo referência a essas curvas como lugares geométricos estão associados a conceitos mais modernos, mas de qualquer modo isso não nos impede de dar uma visão mais atual, sem faltar de forma alguma com o rigor de qualquer definição ou demonstração matemática. Na maioria dos livros didáticos atuais, o conceito de lugar geométrico é apresentado sem nenhum enfoque histórico. Dessa forma, muitas vezes, o lugar geométrico é colocado como algo pronto e acabado, desassociado completamente das inúmeras aplicações que este conceito contém. Assim, o aluno é levado a deixar de ter a possibilidade de redescobrir, através da história, o papel primoroso dos lugares geométricos na matemática, e potencialmente pode se tornar um sujeito estagnado, que aceita informações oriundas de várias fontes sem procurar questionar o que está por de trás de diversos conceitos relacionados a matemática. Outro ponto importante é a inter - relação entre a História da Matemática e as demonstrações. Acreditamos que o uso da história da matemática pode ajudar no entendimento de uma demonstração, colocando esta como algo associado a um momento, a uma época. Isso torna o processo de ensino aprendizagem algo mais prazeroso e faz com que o aluno possa compreender, de forma mais ampla, os diversos meios que os matemáticos criaram para resolver um determinado problema. Levando em consideração essas colocações, neste capítulo estabelecemos os três problemas clássicos da antiguidade grega e procuraremos explorar a relação destes com o conceito de lugar geométrico. Vale ressaltar que nesta pesquisa foi encontrada uma variedade enorme de problemas históricos envolvendo lugares geométricos, mas escolhemos este tema por considerá-lo bem fecundo e propício. 18 2.2 A importância da História da Matemática no processo de ensino aprendizagem Muitos educadores matemáticos enfatizam a importância da História da Matemática como uma ferramenta facilitadora na aprendizagem do aluno. Partindo dessa premissa, temos a oportunidade de formar uma pessoa crítica que não aceita uma idéia como algo imutável. Em Geometria, o uso de fatos históricos coloca o aluno como um sujeito centrado nos aspectos investigativos, analisando as características que levaram à descoberta de um modelo, de um padrão e de um contexto cultural de certa época. Neste sentido, temos o papel importante desempenhado pela demonstração em Geometria. Alguns temas envolvendo fatos históricos, como por exemplo, “a soma dos ângulos internos de um triangulo vale 1800”, ou a demonstração do teorema de Pitágoras, são assuntos com uma fundamentação histórica riquíssima, e a aprendizagem desses temas não se restringe somente a uma única demonstração possibilitando diversos caminhos ao aluno, aumentando assim, o seu raciocínio dedutivo e abrindo possibilidades para que este se torne um aprendiz no processo de pesquisa. Segundo Miguel, Carvalho, Brito e Mendes (2009), o papel da História da Matemática já vem sendo discutido desde o século XVII, com Clairaut. Desde o início do século XIX, essas idéias passaram a fazer parte de congressos internacionais de ensino da matemática. Miguel et al.(2009, p.9 apud FAUVEL, 1991) fala da importância da história da matemática no auxilio do ensino da mesma : 1) A História da Matemática aumenta a motivação para a aprendizagem da Matemática 2) Humaniza a Matemática 3) Mostra seu desenvolvimento histórico por meio da ordenação e apresentação de tópicos no currículo 4) Os alunos compreendem como os conceitos se desenvolveram 5) Contribui para as mudanças de percepções dos alunos com relação à matemática 6) Suscita oportunidades para a investigação em Matemática (MIGUEL et al.2009, p.9 ) O professor não deve ficar estagnado com relação a sua prática docente, e por isso deve buscar métodos inovadores, visando a melhorar o ensino da Matemática na sala de aula. Neste contexto, a História da Matemática dá a sua 19 contribuição de forma bem plausível, pois o docente tem condição de estabelecer múltiplas conexões, fazendo um elo com várias disciplinas. Desta forma, o aluno terá uma variedade de possibilidades de vislumbrar o processo de ensino aprendizagem, não se limitando ao uso e aplicações de fórmulas e aumentando sua percepção de analisar fatos de forma mais metódica. D’AMBRÓSIO (1999, p.97 apud VIANNA, 2008, p.4) nos relata e fortalece as idéias comentadas acima: Em Matemática é impossível discutir práticas educativas que se fundam na cultura, em estilos de aprendizagem e nas tradições sem recorrer à história, que compreende o registro desses fundamentos. Desvincular a Matemática das outras atividades humanas é um dos maiores erros que se pratica particularmente em Educação Matemática (D´AMBRÓSIO, 1999, p.97) 2.3 Os Cadernos da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo O currículo de Matemática das escolas públicas do Estado de São Paulo dá um enfoque muito relevante aos aspectos históricos, tornando-os ferramentas primorosas para o desenvolvimento de novas habilidades por parte dos alunos. Isso quebra paradigmas dentro da sala de aula. Fazendo uma análise do currículo proposto, podemos encontrar diversos trechos que falam da importância de se usar e vivenciar os aspectos históricos com os alunos: Na construção dos significados, uma idéia norteadora é a de que as narrativas são muito importantes, são verdadeiramente decisivas na arquitetura de cada aula. É contando histórias que os significados são construídos (SP: SEE, 2010, p.45) Na verdade, não parece concebível ensinar qualquer disciplina sem despertar o interesse em sua história – e na história em sentido pleno. Ainda que possamos tentar ensinar os conceitos que nos interessam, tais como eles nos são apresentados atualmente, os significados são vivos, eles se transformam, eles tem uma história (SP: SEE, 2010, p.45) E é na história que buscamos não apenas uma compreensão mais nítida dos significados dos conceitos fundamentais, mas 20 principalmente o significado das mudanças conceituais, ou seja, o significado das mudanças de significado. (SP: SEE, 2010, p.45) Para contar uma boa história, é necessário, no entanto, ganhar a atenção dos alunos, é preciso criar centros de interesse. É fundamental cultivar o bem mais valioso de que dispõe um professor na sala de aula: o interesse dos alunos. (SP: SEE, 2010, p.46) Nos Cadernos da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, existe uma prioridade com relação ao desenvolvimento de conteúdos matemáticos, levando em consideração aspectos históricos da Matemática. Procura-se assim, formar jovens com uma consciência maior da importância do desenvolvimento desta na vida de um sujeito como um todo. Isso fica evidenciado, por exemplo, no caderno do aluno, volume 4, da oitava série, quando o aluno é convidado a fazer um estudo do número PI. Apresentar o numero PI somente a partir de sua definição formal não é suficiente para garantir um significado amplo deste conceito. É preciso ir além, trazendo para a sala de aula outras situações que ampliem tal significado. A história constitui um excelente recurso a favor da construção do significado dos conceitos em qualquer área do conhecimento. Na Matemática, particularmente, ela é de fundamental importância para evitar visões cristalizadas ou excessivamente simplistas. Ainda que alguns livros tratem a Matemática como um conhecimento pronto e acabado, é importante que os alunos saibam que o que estudamos hoje é fruto de muito trabalho e pesquisa de pessoas que lhe dedicaram tempo e esforço no decorrer da história da humanidade. Fonte: São Paulo ( 2009, 8asérie vol. 4 pg.12 ) De maneira geral, analisando esses Cadernos, sempre se encontra alguma referência ao aspecto histórico da Matemática, incentivando o docente a fazer uso deste na sua aula. Outro ponto positivo, ao fazer uso dessa metodologia, é transformar a mentalidade do professor, incentivando-o a buscar respostas a fatos que antes pareciam simples e pitorescos, fazendo sua visão em relação aos aspectos históricos se tornar mais concreta e ampliando seus horizontes. Dessa forma, o professor pode auxiliar o aluno de forma mais segura e ganha muito com isso, pois se torna alguém com um saber mais consistente, analisando fatos de forma bem mais profunda e segura. Apresentamos, em seguida, dois exemplos do uso de fatos históricos encontrados nos Cadernos, evidenciando mais uma vez o que foi dito acima. No 21 primeiro exemplo, é comentado o princípio de Cavalieri, e são citados os nomes de outros matemáticos como Arquimedes e Galileu Galilei. No segundo exemplo, é comentada a razão áurea e sua importância para os gregos nas construções de uma forma geral. Figura 4: Caderno do aluno 2a série. Fonte: São Paulo (2009, 2asérie, vol. 4 pg.10). Figura 5: Caderno do aluno 6a série. Fonte: São Paulo (2009, 6asérie, vol. 3 pg. 35). 2.4 Os três problemas clássicos da Antiguidade Os Elementos de Euclides, em seus três primeiros postulados, não fazem qualquer referência ao uso de uma régua não graduada e de um compasso: Postulado I: Pode-se desenhar uma linha reta de qualquer ponto para qualquer ponto. Postulado II: Uma linha reta determinada pode continuar sobre si mesma até onde seja necessário. Postulado III: Com centro qualquer e raio qualquer podemos descrever um circulo. Descrevendo de forma mais prática esses três postulados, Eves (2007) fala que, com uma régua, é permitido apenas traçar uma reta de comprimento infinito, dados dois pontos não coincidentes, e que, com um compasso, é permitido traçar 22 uma circunferência de centro A passando por B. Por causa disso é comum chamar a régua e o compasso de instrumentos euclidianos. Ficam estabelecidas, então, de maneira informal, as regras para se fazer uso desses dois instrumentos para resolver qualquer problema de construção geométrica. Isso é algo importante, pois se fosse proposto um problema envolvendo algum tipo de construção, com certeza, levaria vantagem aquele matemático que pudesse fazer uso de uma régua graduada ou delimitada por um número condizente de pontos. Na geometria grega, resolver um problema de construção geométrica se baseava nesses três postulados. Mas, com o passar do tempo, foram surgindo alguns problemas que na realidade não podiam ser resolvidos usando as regras citadas acima. Estes necessitavam de outros métodos para serem resolvidos e se tornam então os três problemas clássicos da matemática grega. O problema da trissecção de um ângulo, o problema da duplicação de um cubo e o problema da quadratura de um círculo. 2.4.1 O problema da trissecção de um ângulo Diversos autores acreditam que o problema da trissecção de um ângulo surgiu de forma natural a partir de um problema mais simples, o de dividir um ângulo qualquer em dois ângulos de mesma medida, ou seja traçar a bissetriz interna de um ângulo dado. Pode parecer à primeira vista um problema bem simples o de dividir um ângulo dado em três partes de mesma medida, talvez pela facilidade de dividir um ângulo de 90 em três partes iguais, assim como os múltiplos deste ângulo. Este problema, ao contrário do que se pensava, abriu uma lacuna de milênios até a definitiva prova da sua insolubilidade. Contador (2006) diz que uma possibilidade da criação desse problema se deve à construção de um polígono de nove lados, a qual, para ser realizada, necessita da construção de um ângulo de 600 para obtermos um ângulo de 400 que é, na realidade, a divisão de 3600 por 9. 23 Outra origem atribuída a esse problema é citado por Carvalho (2004), que diz acreditar que Hípias de Elis foi um dos primeiros gregos a tentar encontrar uma solução para esse problema. 2.4.2 O problema da duplicação do cubo O problema da duplicação de um cubo ou, o problema deliano, teve uma de suas origens numa lenda grega que diz respeito ao oráculo de Apolo. De acordo com Netto (1956), essa versão se deve a Filopônio, que fala a respeito de uma grande maldição que estava devastando a cidade de Atenas. O povo, em grande desespero, procurou o oráculo de Delfos e perguntou o que poderia ser feito para aplacar a ira dos Deuses, e Apolo respondeu que deveriam dobrar o tamanho do altar de forma cúbica. Dessa forma, de maneira errônea, foi construído um altar com o dobro da aresta do altar anterior. Fazendo isso, ao invés de duplicarem o volume, acabaram multiplicando o volume deste por 8, deixando assim os Deuses em cólera aumentando o tamanho da peste. Outra versão, segundo Eves (1994), é atribuída a Eutócio ( 560 d.C ), que relata uma suposta carta escrita por Eratóstenes a Ptolomeu, referente ao rei Minos, que teve o desejo de construir uma tumba em forma de cubo para seu filho. Mas, este, descontente com o tamanho do monumento, ordenou que fosse dobrado, pedindo que aumentassem duas vezes o tamanho da aresta. Intrigado, Eratóstenes descobriu o erro e, a partir disso vários geômetras se dispuseram a resolver o problema. Figura 6 : duplicação do cubo. Fonte : Bossle e Gobbi 2004) 24 Usando os conceitos de nossos dias, o problema pode ser equacionado e resolvido da seguinte forma: Considerando um cubo de aresta a=1, queremos obter um novo cubo de aresta a com o dobro Vcubo aresta a = 2 V cubo aresta1 do volume a3 = 2 do primeiro cubo, ou seja, a = 3 2 . Desta forma, um cubo de aresta 3 2 tem o dobro do volume de um cubo de aresta igual a 1. 2.4.3 O problema da quadratura do circulo Este problema se reduz a encontrar um quadrado que tenha área equivalente a um circulo dado. Dos três problemas clássicos, este é, sem dúvida, o mais antigo, pois, no papiro de Rhind, já se encontravam resultados da equivalência dessas duas figuras. Contador (2006) relata que esse problema pode ter surgido por mera curiosidade, mas com o passar do tempo foi intrigando a mente de muitos matemáticos e o primeiro matemático grego a estudar esse problema de forma profunda foi Anaxágoras (440 a.C) e, apesar de estar preso por motivos políticos, conseguiu alguns resultados, mas sem obter uma conclusão satisfatória. Carvalho (2004) diz que o problema primitivo teve origem na quadratura do retângulo e Aristóteles afirmava tudo se iniciou na tentativa de se obter a média geométrica mas foi esquecido com o passar do tempo. 2.5 A construção por nêusis e o uso de lugares geométricos na solução dos três problemas clássicos da antiguidade Grega Muitas tentativas infrutíferas foram feitas no desejo de resolver os três problemas clássicos, usando as regras dos instrumentos Euclidianos. Com o passar do tempo, novas idéias foram surgindo e ao contrário de muitos, os gregos usavam outros tipos de técnicas para resolverem problemas de construções geométricas. Citamos então Carvalho (2004) que nos fala : 25 No entanto, é falsa a crença de que os gregos, na resolução de problemas de construções geométricas, trabalhavam somente com a régua e o compasso. Exatamente como os matemáticos de hoje, para resolverem um problema eles usavam todas as ferramentas disponíveis ou criavam novas ferramentas apropriadas. De suas tentativas para achar soluções para os problemas clássicos, surgiram várias curvas e métodos que enriqueceram a Matemática. (CARVALHO, 2004, p.2) Essas curvas descritas por Carvalho são na realidade lugares geométricos criados para resolverem os referidos problemas. No decorrer dos séculos, outros lugares geométricos foram encontrados e utilizados para resolverem problemas clássicos, como foi o caso do problema da catenária e da braquistótona que aguçou a mente de muitos matemáticos renomados. Antes de apresentar qualquer solução a respeito do uso de lugares geométricos na obtenção desses problemas, é de suma importância explicar o que significa uma construção por nêusis e o papel desempenhado por esse tipo de construção, pois é a partir disso que se pode evidenciar e compreender as novas soluções apresentadas pelos matemáticos gregos, fazendo uso do conceito de lugar geométrico. Antes de uma definição formal, será usado o exemplo de Souza (2001), que reduz o problema da triseccção de um ângulo dado a uma construção por nêusis para poder explicar de forma prática o que significa esse tipo de construção. Para isso, considere o ângulo ABC dado, conforme a figura a seguir. A E D B F Figura 7 : Trissecção do ângulo ABC C 26 A partir do ponto A, são traçadas uma paralela e uma perpendicular em relação ao segmento BC. O segmento DE é construído de tal forma que DE=2AB e que o ponto E pertença à semi reta construída a partir do ponto A. Fazendo uso desta construção, pode-se provar que o ângulo DBC é a terça parte do ângulo ABC. A demonstração deste fato será feita no próximo tópico, mas, aceitando a referida construção, pode-se citar Souza (2001) que nos diz : O problema da trissecção dum ângulo agudo fica resolvido se soubermos inserir o segmento DE (duplo de AB) entre as rectas FA e AE e apontando para o ponto B. Assim, ao depararmo-nos com o problema da trissecção de um ângulo, reduzimo-lo a um outro problema, que os geômetras gregos designaram por problema de construção por nêusis – a inserção dum segmento de recta de comprimento pré-definido entre duas curvas, de modo a que um ponto fixo se encontre ou nesse segmento ou no seu prolongamento. (SOUZA, 2001, p.18) A palavra nêusis, em grego, significa apontar. Na realidade, pode-se dizer que é uma construção por ajustamento ou “a inserção dum segmento de recta prédefinido entre duas curvas, de modo a que um ponto fixo se encontre ou neste segmento ou no seu prolongamento” (SOUZA, 2001, p.18). De acordo com Pappus no seu livro “A coleção”, os gregos dividiram os problemas geométricos em 3 classes: 1) Problemas geométricos planos : construções feitas usando somente régua e compasso 2) Problemas geométricos sólidos : construções envolvendo o uso de elipses, hipérboles, parábolas e diversas secções cônicas 3) problemas geométricos lineares : construções envolvendo o uso de nêusis com o auxilio de diversas curvas como a espiral de Arquimedes, a conchóide de Nicomedes, a cissóide. O uso de construções por nêusis era aceitável desde que todas as tentativas pelos dois primeiros métodos fossem esgotadas. Uma evidência desse fato pode ser percebida quando é feita a leitura dos elementos de Euclides, onde não se encontra qualquer referência a uma construção por nêusis. Existia também outro tipo de construção, usando instrumentos mecânicos, segundo Sallum (2006) 27 A construção de máquinas para desenhar certos tipos de curvas, como as cônicas , a cissóide e a conchóide, teve importância fundamental na resolução alternativa de problemas clássicos insolúveis com régua e compasso tais como duplicação do cubo e Trissecção de ângulo. (SALLUM,2006, p.1) Como exemplo desses tipos de máquinas, podemos citar a máquina de Platão, a máquina de Eratóstenes, mas esses tipos de mecanismos não eram aceitos de forma plena, fugindo dos moldes das construções Euclidanas. 2.6 Nicomedes e sua solução para o problema da trissecção de um ângulo De acordo com Galvão (2008), Nicomedes viveu na primeira metade do século III a.c e inventou esta curva com a intenção de resolver o problema da trisecção de um ângulo, sendo posteriormente usado na resolução do problema da duplicação do cubo. Uma definição da conchóide de Nicomedes é dada, baseado em Sallum (2006): Considere fixados um ponto O, uma reta r cuja distância a O é AO = a > 0 e Para cada ponto X b > 0. r considere os pontos P e P’ obtidos pela intersecção da reta OX com a circunferência de centro X e raio b. A conchóide é o lugar geométrico dos pontos P e P’ assim obtidos quando X percorre a reta r 28 Figura 8 : conchóide de Nicomedes. Sallum (2006, p.20) Pelo desenho, há três possibilidades distintas para obtermos o referido lugar geométrico: a > b , a = b e a < b . Analisando esse problema do ponto de vista teórico e histórico, uma demonstração será dada, baseada em Galvão (2008), mas os mesmos comentários podem ser encontrados em Eves (2008). Vamos supor que queremos dividir em três partes iguais um dado ângulo ABˆ C . Com esse intuito, consideremos um retângulo BCAD de tal forma que o referido ângulo esteja entre a diagonal AB e o lado BC. Toma-se, a partir do ponto B, um segmento BF com F pertencente à semi-reta DA. O segmento BF encontra o segmento AC em E de tal forma que EF = 2AB (por construção) . Com esses dados ˆ 1 ABC ˆ vamos provar que EBC 3 Pela figura abaixo, temos AEF CEB pelo caso AA, pois (ângulos retos) EAˆ F ECˆ B e AEˆ F CEˆ B (ângulos opostos pelo vértice) logo AFˆE CBˆ E . Tomando um ponto G sobre EF de tal forma que G seja ponto médio deste segmento, temos EG = GF. Considerando o triângulo retângulo AEF, AG será a mediana da hipotenusa EF e, assim, teremos AG=EG=GF, pois a mediana relativa à hipotenusa de um triângulo retângulo mede a metade da hipotenusa. 29 D A F G E B C Figura 9 : Trissecção do ângulo dado ABC Assim, o triângulo AGF é isósceles, e AFˆG GAˆ F CBˆ E . Considerando o AGF , temos AGˆ B 2EBˆ C , pois AGˆ B é ângulo externo do AGF e, pela relação acima teremos essa igualdade. Do problema, temos que EF 2 AB , mas como G é ponto médio de EF vem: EF 2 AB , EF 2 EG logo AB EG . Dessa forma, como AG EG , temos AB AG . Com isso, teremos ABG isósceles com ABˆ G AGˆ B Sendo: ABˆ G AGˆ B 2 EBˆ C e ABˆ C ABˆ G EBˆ C vem: EBˆ C ABˆ C AGˆ B EBˆ C ABˆ C 2 EBˆ C ABˆ C 3EBˆ C ABˆ C EBˆ C 3 2.7 A espiral de Arquimedes e sua solução para o problema da trissecção de um ângulo Arquimedes deu uma valorosa contribuição matemática ao tentar resolver o problema da trissecção de um ângulo bem como o problema da duplicação do cubo. Para esse fim ele usou uma construção por nêusis, criando um lugar geométrico chamado de espiral de Arquimedes. 30 Esse lugar geométrico pode ser definido como o lugar dos pontos P que se movem uniformemente ao longo de um raio que, por sua vez, gira uniformemente num plano em torno de sua origem Eves (2008). Essa curva, bem como diversas proposições relacionados a ela encontra-se no trabalho “Sobre as Espirais” e no “Livro dos Lemas”. De acordo com Souza (2001), em diversas proposições de “Sobre as Espirais”, são feitas referências a construções por nêusis e, no “Livro dos Lemas” é encontrada uma proposição com uma solução para o referido problema. Por exemplo : Proposição XVIII : Se AB for qualquer corda num círculo de centro O, e se AB for prolongado até C de modo que BC seja igual ao raio e se, por outro lado, CO intersectar o círculo em D e for prolongado de modo a intersectar o circulo uma segunda vez em E, o arco AE será igual a três vezes o arco BD. A B E O D C Figura 10 : Demonstração da proposição XVIII Demonstração : ˆ o ângulo que deve ser trissectado. Os triângulos AOB e OBC Seja AOE ˆ BCO ˆ . O ângulo é ângulo externo ˆ OBA ˆ e BOC são isósceles, logo OAB no OBC , logo, 1 arcoBD arcoAE . 3 2 mas 180 2 180 3 ou seja, 31 A solução foi obtida. No entanto, pela construção realizada, não pode ser resolvida sem o uso de uma régua graduada e compasso, recaindo então num problema por nêusis. Arquimedes, então, na sua obra “Sobres as Espirais” apresenta diversas definições sobre sua referida curva e apresenta uma proposição que serve de base para a solução do problema da trissecção do ângulo : Proposição XIV: Se, a partir da origem da espiral, se traçarem duas linhas retas até encontrarem a primeira volta da espiral, e se se prolongarem até encontrar a circunferência do primeiro circulo, as linhas traçadas até a espiral terão entre si a mesma razão que os arcos da circunferência entre a extremidade da espiral e as extremidades das retas prolongadas até encontrarem a circunferência, sendo os arcos medidos para a frente a partir da extremidade da espiral. Figura 11: Espiral de Arquimedes Arquimedes, além de matemático, era engenheiro e, na solução de diversos problemas, usou métodos experimentais, baseando-se em leis da Física. Para o entendimento dessa proposição, é lícito dizer que ele usou algum método experimental para descrever tal fato. Com o objetivo de dar uma explicação, consideremos a espiral descrita acima pelos pontos A,B,C,D,E e F bem como a circunferência que descreve essa espiral que contém os pontos F,G,H e K. Vamos demonstrar que a seguinte proporção abaixo é verdadeira: AE EKG AD FKH 32 Pela definição da espiral de Arquimedes como um lugar geométrico, o ponto A percorre o segmento AF com velocidade constante, ocorrendo o mesmo com o ponto F quando este percorre a circunferência dada. Baseado então nas leis da Cinemática e levando em consideração a proporcionalidade entre os segmentos considerados na espiral e os arcos descritos pelas mesmas de acordo com a proposição XIV, temos a referida relação, que é o alicerce fundamental para a solução do problema da trissecção de um ângulo dado. Na realidade, Arquimedes simplificou o problema, pois, ao invés de usar arcos na circunferência, ele reduziu o problema a segmentos de reta que determinam tais arcos, sendo um segmento sempre comum, aquele que é o que dá origem à espiral. Levando em consideração isso, a compreensão da solução deste problema, usando este lugar geométrico, se torna evidente. Para isso, consideremos a figura abaixo. Figura 12 : Trissecção usando espiral Arquimedes – Fonte Boyer 2009 p. 88 Seja AOˆ P o ângulo que se deseja trissectar. Fazendo coincidir o vértice O com a origem da espiral e da semi-reta AO, o segmento OP é dividido em três partes de mesma medida, obtendo assim os pontos R e S. A partir de O são traçadas circunferências de raios OR e OS. Esses círculos cortam a espiral nos pontos U e V e desta forma tem-se as retas OU e OV trissectando o ângulo dado. 33 2.8 A quadratriz de Hípias e o seu uso na solução do problema da trissecção de um ângulo e na quadratura do circulo Hípias de Elide nasceu aproximadamente em 425 A.C. Souza(2001) diz que este lugar geométrico descreve uma das mais antigas curvas da matemática e que foi inventada com a intenção de resolver o problema da trissecção de um ângulo, sendo usada posteriormente por Dinóstrato para realizar a quadratura do círculo. Uma das vantagens do uso dessa curva é a possibilidade de dividir um ângulo em n partes iguais e não ficando apenas em três partes iguais. Para exemplificar como a quadratriz de Hípias irá trissectar um ângulo dado, primeiramente mostraremos como este lugar geométrico é gerado, e a partir disto faremos uma demonstração baseada nas idéias de Contador (2006), Carvalho (2004) e Souza (2001). Considerando o quadrado ABCD da figura I, o lado AD irá se deslocar para baixo e no mesmo intervalo de tempo o lado AB irá e deslocar no sentido horário, gerando o arco AC, com centro em B e raio AB. Quando esse movimento é realizado na sua totalidade, irá gerar a curva AE, descrita pela figura II. Então pode-se definir a quadratriz como : O lugar geométrico gerado pela intersecção desses dois lados móveis. Figura 13 : Quadratriz Hípias - Fonte Contador 2006 p.240 Sendo P um ponto pertencente à quadratriz, quer-se trissectar o ângulo PBC. Para isso, observando a figura III, basta traçar uma paralela ao segmento BC passando por P, obtendo assim o ponto S, pertencente ao segmento AB. Com isso, deve-se dividir o segmento BS em três partes de mesma medida. 34 A quadratriz segue o mesmo modelo cinemático descrito pela espiral de Arquimedes e por esse fato existe uma proporção entre a distância percorrida pelo lado AD e o arco AC. Dessa forma pode-se escrever : AB AC BS A´C Sento T e U as projeções ortogonais de P´ e P´´ sobre o segmento AB, A´ o ponto de intersecção do arco AC com a semi reta BP e A´´ o ponto de intersecção do arco AC com a semi reta BP´´ vem : BS A´C PBC BU A´´C P´´BC O segmento BU é a terça parte do segmento BS. Pela proporcionalidade descrita pela quadratriz de Hípias, esse problema se resume em encontrar os segmentos descritos acima, transformando a trissecção de um ângulo qualquer em uma tarefa bem mais cômoda. 2.9 A cissóide de Diócles e sua solução para o problema da duplicação do cubo Diócles viveu aproximadamente em 180 a.C e inventou esta curva com a intenção de resolver o problema da duplicação de um cubo. No intuito de mostrar a sua solução, nos basearemos na demonstração dada por Carvalho (2004) e Frensel (2002), que usaram os conceitos de Geometria Analítica, dando assim um enfoque mais moderno na solução do problema. Considerando um sistema de eixos coordenados e uma circunferência com centro A(a,0) e diâmetro igual a 2a, considere os pontos B(2a,0) e C(0,4a).Traça-se uma reta perpendicular ao eixo dos x, passando pelo ponto B. Sendo P um ponto pertencente à circunferência a semireta OP encontrará esta reta perpendicular no ponto D. Tomando um ponto E sobre o segmento OD de tal forma que OP=DE, pode-se definir a cissóide como : O lugar geométrico do ponto E quando o ponto P percorre a circunferência 35 Figura 14: cissóide Diocles Vamos fazer a dedução da equação da cissóide em coordenadas polares. Para isso, considerando a figura abaixo: Figura 15: Demonstração da equação cissóide Seja a circunferência de diâmetro AO, AB um segmento tangente ao círculo no ponto A e C o ponto de intersecção entre o segmento OB e o círculo.Considerando o ponto P sobre o segmento OB de tal forma que OP=BC. 36 AOˆ C BAˆ C . Chamando de estes ângulos e pelo triângulo Pela figura, temos retângulo AOB, vem AB=2a.tg . Sendo =OP=CB e considerando o triângulo retângulo ABC, tem-se CB=AB.sen , dessas duas igualdades, podemos escrever =2a.tg sen (*) Passando para coordenadas cartesianas e fazendo uso das fórmulas de transformação x2 y 2 , sen y 2 x y x 2 y 2 2a y x 2 , tg y e substituindo em (*) vem : x 2 y x2 y x2 y 2 2ay x3 y 2 (2a x) , 2 x que é a equação da cissóide em coordenadas cartesianas. Neste caso a=1/2 e dessa forma, a equação da cissóide se torna x3 y 2 (1 x) . Obtendo a equação da reta BC, temos: mBC 4a 0 mBC 2 2a 0 y 0 2( x 2a ) y 2 x 4a y 2 x 2 Fazendo a intersecção da reta BC com a cissóide, encontramos o ponto F dado por: x3 y 2 (1 x) y 2(1 x) x3 = y y2 2 y3 2 x3 y 3 2x Que é uma reta de coeficiente angular 3 2 . Fazendo a intersecção desta reta com a reta x=1 obtemos o ponto G dado por (0, 3 2 ) que é na realidade a solução do problema. 2.10 Papus de Alexandria e a solução do problema da trissecção usando uma hipérbole Papus de Alexandria viveu em torno do final do século III d.C. e escreveu uma obra chamada de “Coleção”, composta por 8 livros, que desempenhou um papel importante no estudo da matemática grega, pois este se preocupou em fazer um 37 registro histórico de muitos teoremas e proposições de matemáticos que viveram em épocas anteriores. Segundo (Boyer p. 129) : “A coleção de Papus é o último tratado matemático antigo realmente significativo, pois a tentativa do autor de ressuscitar a geometria não teve sucesso. Obras matemáticas continuaram a ser escritas em grego por mais de mil anos, continuando uma influencia com início quase um milênio antes, mas os autores que vieram depois de Papus nunca mais chegaram ao seu nível. Suas obras tem quase exclusivamente a forma de comentários sobre tratados anteriores. O próprio Papus é em parte responsável pelos comentários que surgiram em seguida de todos os lados, pois ele escreveu comentários sobre Os elementos de Euclides e o Almagesto de Ptolomeu, entre outros, dos quais só restam fragmentos.” Segundo Souza (2001), Papus usou a seguinte construção para trissectar um ângulo dado ABC: 1) Construir uma circunferência de centro B e intersectando os lados do ângulo dado nos pontos A e C sendo AC seu arco 2) Seja a corda AC dividida em H de modo que AH = 2HC 3) Construímos uma hipérbole com AH como eixo transverso e 3 AH como eixo não transverso 4) Um dos ramos desta hipérbole vai intersectar a circunferência num ponto que vamos designar por P Figura 16: Trissecção de um ângulo usando uma hipérbole Com essa construção, teremos ˆ 1 ABC ˆ PBC 3 e para primeiramente vamos aceitar como verdadeira a seguinte relação: provar isso 38 PB 2 3 AB.BH Consideremos a figura a seguir: Figura 17 : Demonstração da trissecção de um ângulo usando uma hipérbole Considerando a segunda figura, é marcado um ponto C no prolongamento da semi-reta AH de tal forma que AH=2HC. Da mesma forma, são marcados os pontos E e Z para que se tenha BC=BE=EZ. Da figura AC=AH+HC e como AH=2HC, vem AC=3HC. Da mesma forma se chega a conclusão que CZ=3BC. Da mesma figura temos CH=BC+BH BH=CH – BC. Multiplicando ambos os lados por 3, vem 3BH=3(CH – BC) 3BH = 3CH – 3BC 3BH = AC – CZ 3BH = AZ Pelo que foi provado, pode-se escrever a relação: EP 2 EZ 2 EP 2 BE 2 EP 2 EZ 2 BP 2 Teorema de Pitágoras no PBE EP2 EZ 2 3BH . AB Relação demonstrada Pois EZ=BE por construção EP2 EZ 2 AZ .AB EP2 EZ 2 ( AE EZ ).( AE BE ) Como BE=EZ vem : EP2 EZ 2 ( AE EZ ).( AE EZ ) EP 2 EZ 2 AE 2 EZ 2 39 Desta última relação, vem EP=AE ˆ PAE ˆ sendo o ângulo PEC ˆ , ângulo Assim, o AEP é isósceles com APE externo do ˆ PEC ˆ . Do CEP , o ponto B é ˆ APE ˆ PAE ˆ 2 PAE AEP , vem PEC ponto médio do segmento CE e, como o ponto P é perpendicular a este segmento, o ˆ PEC ˆ e, como PEC ˆ 2PAE ˆ , vem PCE ˆ 2 PAE ˆ . triângulo será isósceles, com PCE ˆ PAC ˆ e PCE ˆ PCA ˆ logo PCA ˆ 2PAC ˆ . Da figura temos PAE ˆ é ângulo central correspondendo ao arco Da primeira figura, o ângulo PBA ˆ , sendo ângulo inscrito do arco AP , vem ˆ AP . O ângulo PCA AP , logo PBA ˆ AP PCA 2 ˆ e da mesma forma vem PBC ˆ , e com isso: ˆ 2PCA ˆ 2 PAC PBA ˆ 2 PAC ˆ PCA ˆ 1 PBA ˆ PBA ˆ 2 PBC ˆ PBC 2 ˆ ABP ˆ PBC ˆ e da última relação concluímos Da primeira figura, sabemos que ABC ˆ 1 ABC ˆ . que PBC 3 40 CAPÍTULO III - O CONCEITO DE LUGAR GEOMÉTRICO EM ALGUNS LIVROS DIDÁTICOS 3.1 Introdução Neste capítulo, a intenção é mostrar como o conceito de lugar geométrico é colocado em algumas obras clássicas de matemática escolar. Iremos adotar os critérios estabelecidos por Alves (2009, p.3 apud CHOPIN, 2002, p.3) que fala como definir uma determinada amostra para escolha de livros a serem analisados. De acordo com Alves (2009), são quatro os fatores adotados por Chopin (op.cit., p.20) para verificar se um livro terá uma grande difusão de publicação: A duração da vida editorial ( diferença entre as datas da última e da primeira edição); o número de edições declaradas (mas a estratégia dos diferentes editores não é idêntica e a realidade das edições anteriores não é sempre assegurada); o número das edições indicadas pelas biliografias;e, por fim, o número de exemplares conservados (ALVES, 2009, p.3) Os livros analisados foram: 1) Geometria Elementar – Companhia Livraria Francisco Alves (1914) 2) Matemática: Curso Ginasial – Osvaldo Sangiorgi – Companhia Editora Nacional (1961) 3) Lugares Geométricos Planos – F. A. Lacaz Neto – Livraria Nobel (1957) 4) Matemática Ginasial (1948) – Euclides Roxo, Julio Cesar de Mello e Cecil Thiré – Livraria Francisco Alves (1948) 5) Desenho Geométrico – José Carlos Putnoki – Editora Scipione - (1991) O intuito foi pesquisar os vários enfoques nos períodos diversos do ensino da Matemática ao tema lugar geométrico e o destaque que foi dado por cada obra ao lidar com esses conceitos. Tentamos observar a influência que cada um desses livros exerceu nas obras de escritores posteriores, tentando entender a maneira como o conceito de lugar geométrico é abordado em livros didáticos. 41 3.2 Livro: Geometria Elementar Figura 18: Capa do livro Geometria Elementar (Companhia Livraria Francisco Alves - 1914) O livro intitulado “Geometria Elementar” data do ano de 1914 e foi escrito por um grupo de professores, os quais não são nomeados no livro. Conforme o índice mostrado na Figura 19, no LIVRO I, os autores registram algumas definições, como o conceito de linhas e ângulos para, depois, tratarem do estudo da congruência de triângulos e dos polígonos regulares. Figura 19 : Índice do livro Geometria Elementar Nesta primeira parte, nenhuma referência ao conceito de lugar geométrico é feita, nenhuma definição é dada. Não há preocupação em dar provas do tipo 42 hipótese - tese e por isso acreditamos que os autores resolveram omitir os conceitos de alguns lugares geométricos importantes, como é o caso da mediatriz de um segmento ou da bissetriz interna de um ângulo dado. No exemplo abaixo, estamos falando da mediatriz de um segmento e é apresentada uma prova, mas, como podemos perceber, não existe referência à mediatriz ou citação desta como um lugar geométrico. 1 Figura 20: Explicação do conceito de mediatriz Ao final desta primeira parte do livro, encontramos uma série de exercícios, e, para que um aluno consiga resolver sem dificuldade cada um deles, é primordial que tenha em mente o conceito envolvendo cada ente geométrico explorado em cada problema proposto. Dessa forma, analisando os exercícios da lista abaixo, verificamos que os autores acreditavam que os alunos já tinham em mente o conceito de bissetriz interna como um lugar geométrico. 2 Figura 21: Exercícios de bissetriz interna 1 Figura 20– página 15 do livro Geometria Elementar 2 Figura 21– página 44 do livro Geometria Elementar 43 Observemos agora o problema 23: “As bissectrízes dos três ângulos de um triângulo concorrem no mesmo ponto”. Aqui não ficou especificado que se tratava da bissetriz interna, podendo gerar outra interpretação por parte do aluno. Não houve sequer uma pequena explicação dizendo que o ponto de encontro dessas 3 bissetrizes internas se chama incentro, evidenciando mais uma vez a falta de preocupação dos autores com relação a esse tema. Continuando com a lista, temos os seguintes problemas: 3 Figura 22: Exercícios propostos sobre lugares geométricos No problema 46, os autores propõem na realidade que o aluno seja capaz de encontrar a mediatriz de um segmento AB e, mais uma vez, nada foi citado sobre 3 Figura 22– página 46 do livro Geometria Elementar 44 este lugar geométrico. Analisando os exercícios, percebemos uma falta de precisão ao definirmos um lugar geométrico, pois há várias frases com o mesmo significado. Seria lícito que os autores tivessem verificado essa analogia entre as frases citadas acima, pois o estudante menos atento poderia pensar que cada situação descrita seria bem diferente da outra, e na realidade não é. Da mesma forma, no exercício 56, é pedido para provar que as três medianas de um triângulo concorrem num mesmo ponto, e nada é dito a respeito deste lugar geométrico, o qual chamamos de baricentro. No LIVRO II são estudadas as propriedades da circunferência conforme é mostrado na figura seguinte: 4 Figura 23: Livro II : Circulo Na pagina 73 encontramos o seguinte problema “Sobre uma recta dada A’B’ como corda construir um segmento de circulo capaz de um ângulo dado A” 5 Figura 24: Arco capaz 4 Figura 23- Índice do livro Geometria Elementar 5 Figura 24 – página 73 do livro Geometria Elementar 45 Observemos que naquela época se usava a palavra “círculo” como sinônimo de “circunferência”. Aqui, é ensinado a construir o arco capaz de um ângulo dado, mas não há referência deste como um lugar geométrico, encontrando somente a justificativa da construção. Logo em seguida, é proposto o seguinte problema : “Três pontos A, B e C, sendo situados num terreno horizontal e indicados num mappa, determinar neste mappa o ponto M donde as distâncias AB e BC se observam debaixo dos ângulos e que foram medidos.” 6 Figura 25: Aplicação do conceito de arco capaz Conforme a figura retirada do livro, o ponto M será a solução, pois este se acha sobre o segmento AB e é o arco capaz do ângulo , e o ponto M irá satisfazer as mesmas condições para o segmento BC, sendo arco capaz do ângulo . Chegamos então a uma observação dada pelos autores conforme a figura acima. Pela explicação feita, percebemos que só no final desta é colocada uma referência com relação ao arco AMC, dizendo que este é o conjunto de pontos que satisfazem o problema. Mostra-se dessa forma, a pouca ênfase ao lidar com esse assunto. Na página 103, encontramos, pela primeira vez, uma referência com 6 Figura 25– página 74 do livro Geometria Elementar 46 relação ao conceito de lugar geométrico. Não é usado este termo, mas sim “o lugar dos pontos”. Temos o seguinte teorema: “O lugar dos pontos taes que a razão de suas distâncias a dois pontos fixos A e B seja constante, é uma circumferência.” 7 Figura 26: Problema do circulo de Apolônio Comprovamos aqui, mais uma vez, a falta de estabelecimento de um critério único ao definir um lugar geométrico. Um detalhe que podemos perceber nesta obra é a inexistência de tentar relacionar um lugar geométrico a um fato histórico. No caso acima, poderia ter sido dito algo a respeito do círculo de Apolônio, falar deste problema histórico e relacionar a sua solução com o teorema proposto, que nada mais é do que um lugar geométrico. No LIVRO II, não existe enfoque algum ao definir a circunferência como um lugar geométrico. Nesse sentido, no LIVRO III há uma definição bem diferente, apresentando a circunferência como o limite de uma quantidade variável de polígonos regulares inscritos numa circunferência. Seguem, abaixo, a explicação e a respectiva definição dada neste capítulo: 7 Figura 26 – página 104 do livro Geometria Elementar 47 8 Figura 27: Definição de circunferência como limite de polígonos regulares inscritos nesta Analisando as páginas seguintes referentes à parte da geometria plana, não encontramos teorema ou qualquer observação a respeito de um lugar geométrico, ficando evidente a falta de preocupação em colocar um capítulo sobre o tema. Temos a impressão de que os autores acreditam firmemente que o aluno já tenha pré estabelecidos, os conceitos relativos aos lugares geométricos mais comuns. Mesmo assim, houve uma falta de sequência lógica ao lidar com o tema. 8 Figura 27 – página 125 do livro Geometria Elementar (companhia Livraria Francisco Alves - 1914) 48 3.3 Livro: Matemática: Curso Ginasial Figura 28: Capa do livro Matemática: Curso Ginasial - 3a Série de Osvaldo Sangiorgi (Companhia Editora Nacional – de 1961 – 57aedição) O livro “Matemática, curso ginasial 3a série” de autoria do professor Osvaldo Sangiorgi, foi escrito na década de 1950. Camilo (2007, p.28 apud MIORIM 2005, p.3) fala sobre a atualização dos livros de Matemática desta época, segundo a portaria ministerial no 966/1951. De acordo com Pinto (2009), os livros de Matemática escritos de acordo com essa portaria eram metódicos, com uma linha rígida de demonstrações, não tendo a preocupação de criar um diálogo mais aberto entre o autor e o aluno. “O uso do livro didático pelo aluno ginasial restringia-se à consulta das definições, ao estudo das demonstrações e à cópia dos enunciados dos exercícios nos cadernos. A maioria das aulas era expositiva, centrada na ação do professor e na prática de exercícios, cujos procedimentos eram passo a passo explicados pelo mestre. O livro didático era, portanto, um material secundário para o aluno e que perdia de longe para o caderno escolar. Para o professor, o livro era um importante auxiliar para o cumprimento do programa oficial” (PINTO, 2009, p.64) Tendo em vista essa concepção, a parte relativa à Geometria Plana é tratada a partir do capítulo II, conforme o índice abaixo: 49 9 Figura 29: Índice do capítulo II PARTE I 10 Figura 30: Índice do capítulo 2 PARTE II 9 Figura 29 – Páginas 10 e 11 do livro matemática curso ginasial 3o volume de Osvaldo Sangiorgi 10 Figura 30 – Páginas 12 e 13 do livro matemática curso ginasial 3 volume de Osvaldo Sangiorgi o 50 É interessante notar a preocupação de Sangiorgi com a utilização de construções geométricas como base para um melhor entendimento das suas demonstrações e um estudo mais criterioso de diversos lugares geométricos. 11 Figura 31: Os instrumentos geométricos na construção de lugares geométricos Posteriormente, poderemos perceber a ligação feita entre construções geométricas e lugares geométricos, ao ficar evidenciada a construção da mediatriz de um segmento AB ou a bissetriz interna de um ângulo dado AOB. Pelo índice mostrado anteriormente, temos o capítulo 5 referente a “Perpendiculares e oblíquas. Lugares Geométricos”. Analisando este capítulo, temos uma definição do conceito de lugar geométrico. 12 Figura 32: Definição de lugar geométrico Logo em seguida, são apresentadas a mediatriz e a bissetriz interna como lugares geométricos. Uma demonstração criteriosa, usando o conceito de hipótesetese é feita por Sangiorgi, evidenciando, de fato, a característica das obras de matemática desta época. 11 Figura 31 – Página 19 do livro matemática curso ginasial 3 volume de Osvaldo Sangiorgi 12 Figura 32– Página 147 do livro matemática curso ginasial 3 volume de Osvaldo Sangiorgi o o 51 13 Figura 33: mediatriz e bissetriz interna como lugares geométricos Apesar do intuito do autor, de dedicar parte de um capítulo ao estudo dos lugares geométricos, isso acabou sendo dado de forma pouco aprofundada, pois no geral 3 páginas foram dedicadas a este tema. Não houve um aprofundamento, além desses dois lugares geométricos, nenhum outro foi comentado. Dessa forma, um leigo teria uma visão bem limitada, pois da quantidade de exercícios propostos neste capítulo (10 no total) não encontramos um sequer que nos fale de um lugar geométrico específico. Assim, mesmo com todo rigor da obra do professor Osvaldo Sangiorgi, pouca ênfase foi dada ao lidar com um lugar geométrico e, somente na página 196, temos outra referência a um lugar geométrico, quando o autor nos dá a definição de uma circunferência como sendo “O lugar geométrico dos pontos de um plano eqüidistantes de um ponto dado no mesmo plano”. 14 Figura 34: Circunferência como lugar geométrico 13 Figura – Páginas 148 e 149 do livro matemática curso ginasial 3 volume de Osvaldo Sangiorgi 14 Figura 34– Página 196 do livro matemática curso ginasial 3 volume de Osvaldo Sangiorgi o o 52 Na página 231, é apresentado o capítulo “Construções geométricas com régua e compasso”, onde são explicadas, através de exemplos, as construções geométricas básicas que servem de apoio para a solução de problemas mais elaborados, envolvendo este mesmo assunto. No primeiro exemplo, é pedido que se trace a mediatriz de um segmento. Aqui, novamente, é lembrada a definição de mediatriz como um lugar geométrico e, com isso em mente, é apresentada a construção passo a passo. Na página 233, temos como exemplo a construção da bissetriz de um ângulo dado e não encontramos referência ao defini-la novamente como um lugar geométrico. 15 Figura 35 : Construção da bissetriz interna No capítulo III, na parte relativa a “linhas proporcionais no triângulo” encontramos o círculo de Apolônio, discutido anteriormente, mas Sangiorgi o retrata como “Lugar geométrico dos pontos cuja razão das distâncias a dois pontos fixos é constante” 15 o Figura 35 – Página 233 do livro matemática curso ginasial 3 volume de Osvaldo Sangiorgi 53 16 Figura 36 : Lugar geométrico dos pontos cuja razão das distâncias a dois pontos fixos é constante PARTE I 17 Figura 37 : Lugar geométrico dos pontos cuja razão das distâncias a dois pontos fixos é constante PARTE II Ele faz uma demonstração bem detalhada ao provar que este lugar geométrico é uma circunferência conforme visto nas páginas acima. É interessante notar o processo de uma sequência lógica adotada no livro, pois Sangiorgi nos diz 16 17 Figura 36 – Páginas 256 e 257 do livro matemática curso ginasial 3o volume de Osvaldo Sangiorgi o Figura 37 – Página 258 do livro matemática curso ginasial 3 volume de Osvaldo Sangiorgi 54 “como aplicação das propriedades das bissetrizes de um triângulo vamos demonstrar o seguinte teorema” (SANGIORGI, 1961, p.256), ou seja, neste capítulo ele coloca todas as propriedades relativas a bissetrizes internas de um triângulo, faz as demonstrações e só depois ele nos apresenta esse lugar geométrico. Dessa forma, o aluno não terá maiores problemas de compreensão se tiver total clareza dos teoremas expostos . Fica evidenciado o rigor nesta obra, assim como a demonstração criteriosa e a sequência lógica seguida para poder compreender cada teorema. Mesmo agindo dessa forma, o assunto lugar geométrico poderia ter sido tratado com ênfase bem maior e não colocado somente em algumas páginas, sem nenhum exercício proposto aos alunos, abrindo uma grande lacuna e impedindo que estes pudessem tentar assimilar de forma mais primorosa o conceito de um lugar geométrico. 3.4 Livro: Lugares Geométricos Planos Figura 38 : Capa do livro Lugares Geométricos Planos de F.A.Lacaz Netto (Livraria Nobel S/A de 1957 – 2aedição) 55 Esse livro foi escrito na década de 1950 com o intuito de aprofundar os conhecimentos dos alunos no entendimento e resolução de exercícios envolvendo lugares geométricos. A obra trata somente deste tema, apresenta, assim, uma análise profunda dos problemas propostos bem como notas históricas envolvendo lugares geométricos específicos. O caminho tomado por F. A. Lacaz Netto é bem diferente de outros autores quando nos referimos ao método usado na solução de um problema. Na sua obra, é empregado o método cartesiano na resolução de todos os problemas, mas este deixa bem claro o uso de outros métodos, como, por exemplo, o vetorial, embora nesta obra foi feita a opção pelo primeiro, conforme visto a seguir : 18 Figura 39 : Sistema de referência para se resolver problemas de lugares geométricos O livro começa com uma nota histórica atribuindo a Platão a criação da teoria dos lugares geométricos e os motivos que levaram ao desenvolvimento desta, que serviu de base para a resolução de problemas históricos, como a duplicação do cubo e da trissecção do ângulo conforme visto no capítulo I 19 Figura 40 : Histórico sobre origem do termo lugar geométrico 18 19 Figura 39 – pagina 6 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto Figura 40 – pagina 7 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 56 Lacaz faz uma observação importante com relação ao sistema de referência adotado no momento de resolver um problema de lugar geométrico. Temos em mente, analisando as obras atuais, um único sistema de referência. Aquele que tem como origem a intersecção de duas retas que formam um ângulo de 900. No entanto, apresenta diversas escolhas bem distintas, demonstrando, assim, a plenitude de várias decisões cabíveis, aumentando de certa forma as possibilidades empregadas na solução de um exercício. 20 Figura 41 : Observações para se resolver problemas de lugares geométricos 20 Figura 41 – pagina 8 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 57 Levando em consideração o que foi dito acima, Lacaz apresenta diversos problemas esmiuçados com todos os detalhes possíveis. Dessa forma, são citados a seguir dois exemplos com suas respectivas soluções. “11 – Exercício. Lugar geométrico dos pontos cuja diferença ( numa certa ordem ) dos quadrados das distâncias a dois pontos fixos seja constante. ” 21 Figura 42 : Lugar geométrico dos pontos cuja diferença dos quadrados das distâncias a dois pontos fixos seja constante Neste exemplo, Lacaz considera, no eixo dos x, o segmento de reta determinado pelos pontos A e B constrói a mediatriz deste segmento ( item b) da observação 4 ), obtendo o eixo y e tendo como origem a intersecção destes. Ao tomar a decisão de escolher a mediatriz de AB como parte do sistema de referência, Lacaz torna o problema mais simples, pois os pontos A e B serão simétricos em 21 Figura 42 – pagina 12 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 58 relação ao eixo y, facilitando em muito as manipulações algébricas no momento de resolver a equação e obter a solução mostrada acima. 20 – Exercício : Lugar dos pontos cuja razão das distâncias a um ponto fixo e uma reta fixa, ( que não se pertençam ) seja constante É colocado um sistema de referência que realmente facilita a solução conforme citado abaixo : 22 Figura 43 : Lugar dos pontos cuja razão das distâncias a um ponto fixo e uma reta fixa, ( que não se pertençam ) seja constante É feito o cálculo da projeção ortogonal do ponto P sobre a reta d=y e obtida uma curva a partir do qual tem início uma discussão para verificar se a elipse, parábola ou uma hipérbole. 22 Figura 43 – pagina 23 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 59 23 Figura 44 : Elipse, hipérbole e parábola como lugares geométricos E com essa discussão vem a conclusão do autor : teremos uma elipse caso a constante seja menor que um, uma hipérbole, se a constante for maior do que um e uma parábola caso seja igual a um. Existe uma preocupação em evidenciar fatos históricos, colocando a importância do estudo dos lugares geométricos na solução dos problemas da antiguidade clássica, conforme foi visto no capítulo I. Aqui é mostrado o problema delineano e colocadas duas origens para o referido problema, uma atribuída a Filopônio e a outra a Erastótenes 23 Figura 44 – pagina 23 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 60 24 Figura 45 : O problema Delineano É colocada uma solução atribuída a Menecmo e outra a Diocles. A primeira faz uso da intersecção de duas parábolas, e a segunda faz uso de uma cissóide e de um círculo com diâmetro tomado igual a unidade. 25 Figura 46 : Solução de Menecmo para o problema da duplicação do cubo 24 Figura 45 – pagina 97 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 25 Figura 46 – pagina 97 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 61 26 Figura 47 : Solução de Diocles para o problema da duplicação do cubo No final do livro, como curiosidade, é dada a etimologia de alguns lugares geométricos como a cissóide e a conchóide 27 Figura 48 : Etimologia de alguns lugares geométricos Dos livros analisados, este representa uma obra muito aprofundada, fazendo um estudo metódico de diversos lugares geométricos, partindo de conceitos simples, a partir dos quais são apontados outros lugares geométricos. Para um entendimento plausível é necessário um conhecimento algébrico e geométrico profundo e, junto com as definições e inúmeros exercícios resolvidos, o livro traz uma quantidade 26 Figura 47 – pagina 98 e 99 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 27 Figura 48 – pagina 121 do livro Lugares geométricos planos de F.A.Lacaz Netto 62 enorme de exercícios. Isso mostra a preocupação do autor com o aluno, com o fato de exercitar o que foi ensinado, não ficando somente numa teoria vaga e pouco profunda. 63 3.5 Livro: Matemática Ginasial 3a série Figura 49 : Capa do livro Matemática Ginasial 3a série de Roxo –Thiré – Melo e Souza (Livraria Francisco Alves de 1948 – 3aedição) Este livro data do ano de 1948 e foi escrito em conjunto pelos professores Euclides Roxo, Julio César de Mello e Cecil Thiré. Dos livros analisados, este é o único que apresentou duas definições distintas do conceito de lugar geométrico. Primeiro, os autores definem um lugar geométrico como uma trajetória : 28 Figura 50 : Definição de lugar geométrico como trajetória de pontos 28 a Figura 50 – pagina 144 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza 64 Existe uma preocupação em dar exemplos, não ficando um texto pautado somente na teoria. É dado então um exemplo histórico de um lugar geométrico que é a ciclóide e outro bem prático, mostrando o lugar geométrico como um curva : 29 Figura 51 : Exemplos de lugares geométricos definidos como trajetórias de pontos Logo em seguida, os autores falam a respeito do conceito de lugar geométrico como um conjunto de pontos, mas antes de qualquer definição formal, um exemplo minucioso é dado. Existe uma preocupação em estabelecer um diálogo com o leitor e, bem depois disso, o formalismo em questão é apresentado : 30 Figura 52 : Definição de lugar geométrico como conjuntos de pontos 29 30 a Figura 51 : Páginas 144 e 145 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza a Figura 52 : Página 145 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza 65 31 Figura 53 : Definição de circulo como lugar geométrico Interessante é a observação registrada no final do capítulo, onde é estabelecida a relação entre superfície esférica e lugar geométrico e, após isso, a definição de lugar geométrico como uma linha ou superfície. 32 Figura 54 : Superfície esférica como lugar geometrico Na página 185, são explicados os critérios para se estabelecer um lugar geométrico, critérios usados nos livros didáticos atuais. 33 Figura 55 : Critérios para se estabelecer um lugar geométrico 31 Figura 53 : Página 146 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza a 32 Figura 54 : Página 146 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza 33 Figura 55 : Página 185 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza a a 66 Os autores apresentam outra possibilidade: a negação do item (b) mostrando então dois caminhos no estabelecimento de um lugar geométrico 34 Figura 56 : Outra forma de se estabelecer um lugar geométrico Logo em seguida, são dadas a mediatriz e a bissetriz interna como lugares geométricos. Uma demonstração rigorosa é feita seguindo a linha hipótese e tese. Ao observar as obras do professor Euclides Roxo, percebe-se que é possível um diálogo com o leitor, e escrever de forma acessível, sem deixar de lado o rigor matemático. 35 Figura 57 : A mediatriz como lugar geométrico a 34 Figura 56 : Página 186 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza 35 Figura 57 : Páginas 186 e 187 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza a 67 36 Figura 58 : A bissetriz como lugar geométrico Os autores apresentam um capítulo a respeito das construções geométricas e falam a respeito do método euclidiano e das possíveis soluções através deste método. 37 Figura 59 : Definição de problema gráfico e de problema quadrático a 36 Figura 58 : Página 187 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza 37 Figura 59 : Página 230 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza a 68 É estabelecido um método denominado pelos autores de método dos lugares geométricos, fazendo mais uma vez referência a esse conceito e interligando construção geométrica e lugar geométrico conforme visto abaixo: 38 Figura 60 : Método dos lugares geométricos 39 Figura 61 : Construções geométricas pelo método dos lugares geométricos No capítulo referente ao estudo do círculo, este é definido como um lugar geométrico de duas maneiras distintas, fato que revela mais uma vez a preocupação dos autores em dar uma visão mais ampla do entendimento de qualquer conceito envolvendo um lugar geométrico. 40 Figura 62 : Página 237 do livro Matemática Ginasial 3a série de Roxo –Thiré – Melo e Souza (Livraria Francisco Alves de 1948 – 3aedição) 38 Figura 60 : Página 230 do livro Matemática ginasial 3a série de Roxo –Thiré – Melo e Souza 39 Figura 61 : Página 231 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza 40 Figura 62 : Página 237 do livro Matemática ginasial 3 série de Roxo –Thiré – Melo e Souza a a 69 Nesta obra é encontrada uma definição distinta para o conceito de diâmetro de uma circunferência. Os autores colocam o diâmetro como um lugar geométrico, fato evidenciado somente neste livro. 41 Figura 63 : Diâmetro como lugar geométrico Uma característica comum nas obras analisadas é o problema do círculo de Apolônio, colocado também nesta obra conforme a figura a seguir : 42 Figura 64 : Ângulo sob o qual se vê um segmento de reta Das obras analisadas, esta foi a que mais apresentou referências ao conceito de lugar geométrico, fazendo elo entre lugar geométrico e desenho geométrico, por meio de diversas definições. Não se limitou ao estudo deste tema somente em um capítulo, mas distribuiu em várias partes da obra . 41 42 Figura 63 : Página 244 do livro Matemática ginasial 3a série de Roxo –Thiré – Melo e Souza Figura 64 : Página 272 do livro Matemática ginasial 3a série de Roxo –Thiré – Melo e Souza 70 3.6 Livro: Desenho Geométrico Figura 65 : Capa do livro Desenho Geométrico - José Carlos Putnoki (Editora Scipione 1991) Este livro apresenta um modo de resolver problemas de desenho geométrico, chamado de Método dos lugares geométricos, o qual será explicitado no capitulo IV. Putnoki explica o método dos lugares geométricos dando exemplos preliminares, onde incita o aluno a pensar na resposta de algumas perguntas feitas no livro. Após este fato é apresentado o conceito de lugar geométrico e um problema preliminar é resolvido, procurando tirar dúvidas surgidas pelos leitores. O autor coloca cinco lugares geométricos que ele considera como fundamentais que são: Lugar geométrico 1 : circunferência Lugar geométrico 2 : mediatriz Lugar geométrico 3 : Retas paralelas Lugar geométrico 4 : Bissetriz Lugar geométrico 5 : Arco capaz 71 Uma explicação do conceito de lugar geométrico é dada e ilustrando a definição. O autor coloca um exemplo para um melhor entendimento do que foi exposto. 43 Figura 66 : O método dos lugares geométricos Com isso, Putnoki começa a resolver problemas fundamentais de construções geométricas usando cada um dos seus lugares geométricos. 43 Figura 66 : Páginas 65 e 66 do livro Desenho Geométrico - José Carlos Putnoki 72 No inicio, conforme visto na figura 68 é apresentado o seguinte problema “São dados dois pontos, A e B, e duas distâncias, m e n. Obtenha um ponto X que diste m de A e n de B.”. Neste caso, é usada a intersecção de duas circunferências na obtenção do ponto X caracterizando desta forma o uso do lugar geométrico 1. 44 Figura 67 : Circunferência como lugar geométrico 44 Figura 67 : Página 68 do livro Desenho Geométrico - José Carlos Putnoki 73 Seguindo as explicações, o autor apresenta o lugar geométrico 2 : mediatriz de um segmento. Ele coloca de forma bem clara, um exemplo preliminar, e após esse fato da definição de mediatriz como um lugar geométrico conforme visto na figura 69. 45 Figura 68 : Mediatriz como lugar geométrico Dois exemplos são apresentados. No primeiro, pede que se construa um triângulo isósceles, dados dois pontos e uma circunferência e no segundo uma construção clássica que é a de se construir uma circunferência dados 3 pontos não colineares. Considerando o problema resolvido, Putnoki obtém as intersecções dos lugares geométricos e dessa forma obtém a solução de cada um deles conforme visto na figura 70. 45 Figura 68 : Página 71 do livro Desenho Geométrico - José Carlos Putnoki 74 46 Figura 69 : Resolução de exercícios pelo uso do método dos lugares geométricos Seguindo a mesma linha de raciocínio, são apresentados de forma seqüencial os outros lugares geométricos, seguidos de diversos exemplos conforme pode ser visto na figura 71. 46 Figura 69 : Páginas 73 e 74 do livro Desenho Geométrico - José Carlos Putnoki 75 47 Figura 70 : Retas paralelas e Bissetriz como lugares geométricos Esta obra apresenta de forma bem clara um método que faz uso dos lugares geométricos para se resolver diversos problemas de construções geométricas. Um livro de geometria pode fazer associação com fatos envolvendo construções geométricas e a partir disso, trabalhar de forma bem mais ampla e criteriosa, exercícios e problemas de geometria. 47 Figura 70 : Páginas 79 e 80 do livro Desenho Geométrico - José Carlos Putnoki 76 CAPÍTULO IV - O PAPEL DA GEOMETRIA DINÂMICA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DO CONCEITO DE LUGAR GEOMÉTRICO 4.1 Introdução Neste capitulo será discutido o papel da geometria dinâmica no processo de ensino-aprendizagem de Geometria Plana, dando ênfase ao seu uso no estudo de lugares geométricos. No início apresentaremos um software chamado Loci, que teve o intuito de facilitar o estudo de lugares geométricos, ajudando o aluno a criar suas próprias conjecturas. Em seguida, apresentaremos o Cabri-Géomètre II, o software usado na pesquisa em foco. No início, será dada uma visão geral das funcionalidades deste software e a seguir serão discutidas duas ferramentas primordiais no estudo de um lugar geométrico, a ferramenta lugar geométrico e a ferramenta rastro. Concluindo esta parte, mostraremos a facilidade do uso deste software no momento de realizarmos construções geométricas envolvendo lugares geométricos. Terminando o capítulo, será feita uma análise dos problemas abertos e como poderemos usá-los para dar um enfoque diferenciado no estudo de lugares geométricos. Uma discussão a respeito do uso do deslocamento no ambiente de geometria dinâmica e das construções moles e robustas será enfatizada e veremos como esses dois fatores poderão auxiliar o aluno a desenvolver novos conceitos, fazendo uso do aspecto experimental e investigativo que um software de geometria dinâmica pode oferecer. 77 4.2 O software Loci No boletim GEPEM, encontramos um artigo escrito por Hershkowitz, Friedlander e Dreyfus (1994), chamado “Loci e Pensamento Visual”, no qual os autores descrevem um software chamado Loci, que tem como finalidade permitir aos estudantes construírem uma imagem bem global do conceito de lugar geométrico. No artigo, encontramos uma crítica ao processo estereotipado dado ao estudo de um lugar geométrico evidenciando a visão algébrica de muitos autores ao lidarem com este tema : O processo requisitado do aluno consiste na análise de uma situação que geralmente é apresentada verbalmente, traduzi-la para uma linguagem algébrica e então executar computações de acordo com regras formalizadas. Os processos de intuir, visualizar, explorar, conjecturar, definir, construir e dinamicamente transformar, que são tão importantes na matemática não encontram seu lugar neste tipo de atividade. (HERSHKOWITZ et al., 1994, p.77) Usando o Loci, tem-se a possibilidade de escolher quatro tipos de ação: Definir lugar geométrico Construir pontos do lugar geométrico definido Fazer conjecturas sobre sua forma Transformar o lugar geométrico modificando os dados em sua definição A seguir o funcionamento de cada ação é detalhado: Definir um lugar geométrico : O usuário escolhe e fixa dois elementos, como por exemplo duas retas ou um ponto e uma reta. Desse modo o lugar geométrico será decidido pela soma, diferença ou razão entre os elementos escolhidos. Assim, pode-se obter por exemplo uma elipse, escolhendo dois pontos fixos e informando para o Loci esta distância, pois : Elipse é o conjunto de pontos de um plano cuja soma das distâncias a dois pontos fixos do plano é constante 78 Na realidade, um número enorme de possibilidades pode ser criada e evidenciada fazendo uso do Loci Figura 71 : Definindo um lugar geométrico (Hershkowitz et al., 1994, p.78) Construir pontos do lugar geométrico definido : Depois de definir o lugar geométrico o aluno terá a possibilidade de verificar se um determinado ponto pertence ou não a tal conjunto de pontos. Para isso, ele poderá escolher circunferências de raios pré-definidos ao redor de um determinado ponto e traçar paralelas verificando as intersecções entre estas duas . Figura 72 : Construindo pontos com o Loci (Hershkowitz et al., 1994, p.79) Fazer conjecturas : No Loci, fica evidenciado o papel importante do aluno de fazer conjecturas pois este software possibilita uma lista de 22 escolhas possíveis para o lugar geométrico. Logo temos a oportunidade de quebrar este paradigma de problemas de construções prontas e acabadas mudando a visão dos alunos. Abaixo citamos um exemplo dado pelos autores : Em nosso exemplo, o lugar geométrico consiste de dois segmentos de parábolas (figura 3). Em qualquer momento, o usuário pode escolher construir mais pontos para fazer novas conjecturas. Se um número suficiente de construções já tiver sido realizado – 6 construções, no mínimo – também é possível obter o lugar geométrico sobre a tela sem ser necessário fazer uma conjectura correta sobre sua forma. (HERSHKOWITZ et al., 1994, p.79) 79 Figura 73 : Fazendo conjecturas com o Loci (Hershkowitz et al., 1994, p.79) Feito estas operações, se a hipótese do aluno estiver em acordo com o lugar geométrico pedido este será desenhado na tela do computador e este irá descrevêlo de forma verbal. Transformar locus: Nesta situação, temos a possibilidade de fazer transformações no lugar geométrico construído. No caso da elipse, podemos aumentar ou diminuir a distância entre os dois pontos fixos. Se esta distância for reduzida de forma significativa num determinado momento o lugar geométrico irá se tornar vazio e o Loci irá evidenciar isso para nós. Os autores propõem uma atividade descrita abaixo onde nos falam a respeito de dois tipos de raciocínio, o local e o global. “Dados uma reta b e um ponto A. Decida para cada um dos seguintes desenhos se ele é ( ou não é ) o lugar geométrico dos pontos com a soma das distâncias ao ponto A e a reta b é fixa” (HERSHKOWITZ et al., 1994, p.81) Figura 74 : Atividade envolvendo uso do Loci (Hershkowitz et al., 1994, p.81) Fazendo uso do Loci ou verificando de forma algébrica as distâncias pedidas tem-se como resposta correta os itens ii) e iv). 80 Pode-se combinar o uso do Loci com outro software denominado Geogebra. Este é um software livre que possui uma ferramenta para somar medidas de segmentos e verificar se esta soma é constante. Isso facilita a visualização e ajuda na confirmação de conjecturas. A Figura 76 mostra os resultados obtidos com esse software. 81 Figura 75 : Análise do lugar geométrico com soma constante Analisando as respostas de alguns alunos ficou evidenciado o Raciocínio local : neste caso, temos uma análise superficial da situação descrita pois o aluno escolhe um número muito reduzido de pontos para tomar uma decisão. Citamos como exemplo o raciocínio de um aluno no caso ii) que nos diz “ A circunferência A não é o lugar geométrico, pois as distâncias do ponto E e O ao ponto A são r, mas a distancia do ponto O a reta b é maior do que a distancia do ponto E a reta b. ” (HERSHKOWITZ et al., 1994, p.83) Figura 76 : Solução de um aluno usando o Loci (Hershkowitz et al., 1994, p.83) Raciocínio global : neste caso, a visão do aluno sobre o lugar geométrico pedido é mais profunda. Ele tem um foco bem aguçado de um lugar geométrico como um conjunto de pontos satisfazendo uma certa propriedade. O número de pontos considerados na solução do problema também é maior e citamos como exemplo o raciocínio do aluno Amir que fez seu comentário sobre o caso i 82 “Não a parábola não é o lugar geométrico porque conforme nós caminhamos pela parábola, as distâncias tanto ao ponto A quando a reta b são aumentadas. ” (HERSHKOWITZ et al., 1994, p.84) Pelo que foi apresentado acima, o Loci foi um software criado para evidenciar e aprimorar o tratamento dado no estudo de um lugar geométrico, e segundo a pesquisa dos autores um software de Geometria Dinâmica pode ajudar em muito na mudança de um raciocínio local para um raciocínio global. Tivemos o intuito de focar neste software, pois ele trabalha diretamente com o nosso tema de pesquisa e nos abre caminho para falar do Cabri-Géomètre que será usado na nossa atividade de pesquisa. 4.3 O software Cabri Géomètre II e lugares geométricos O uso dos instrumentos euclidianos na elaboração de construções geométricas via papel e lápis sofre muitos empecilhos quando comparado às construções feitas fazendo uso de um software de Geometria Dinâmica. Gravina (1996) afirma que um dos fatores desfavoráveis quanto ao uso do primeiro meio é a impossibilidade de variarmos a posição da figura. Não existi assim, formas viáveis de fazer novas conjecturas. No caso de construções envolvendo lugares geométricos, este fator se torna preponderante, pois muitas vezes a construção será feita usando uma nêusis como no caso da trissecção de um ângulo usando a conchóide de Nicomedes. O ajuste da figura será feito de forma bem mais fácil, usando o ambiente de Geometria Dinâmica. Fica evidenciado então o papel das ferramentas rastro e lugar geométrico, no Cabri Géomètre II, como facilitadoras na construção de lugares geométricos. Isso é verdadeiro, pois no ambiente papel e lápis, a precisão no momento de estabelecer um lugar geométrico fica a mercê de diversos fatores. Segundo Araujo (2010, p.29 apud KING E SCHATTSCHNEIDER, 1997), é difícil imaginar um conjunto de pontos se movendo na tela do computador respeitando determinada característica e, a partir disso, conceber o lugar geométrico determinado por estes pontos. 83 Citando exemplos, podemos relatar a precisão imposta pela pessoa que irá realizar a construção. Os mecanismos usados devem estar em condições apropriadas, sem levar em consideração que estabelecer uma grande quantidade de pontos para determinar o lugar geométrico poderá ser uma tarefa árdua, gerando a possibilidade de diversos tipos de erros. Como primeiro exemplo, iremos nos basear na construção abaixo : a) Construa duas retas r e s concorrentes não formando ângulo reto. b) Construa uma circunferência num dos quadrantes determinados pelas duas retas. c) Considere um ponto P sobre a circunferência d) Conduzir uma paralela a s por P e achar o ponto de intersecção dessa reta com a reta r .Nomeie este ponto de Q. e) Obtenha o simétrico de P em relação ao ponto Q. Nomeie este ponto de P’ f) Qual é o lugar geométrico de P’ quando P se movimenta sobre a circunferência? r P´ Q P s Figura 77 : Lugar geométrico do simétrico de um ponto P No ambiente papel-lápis, esta construção poderia ter o empecilho de ter uma grande quantidade de pontos do simétrico de P em relação ao ponto Q. Isso poderia ser feito, usando uma régua graduada ou fazendo transporte de segmento com um compasso. Por outro lado, fazendo uso do Cabri-Géomètre, o aluno poderá usar por exemplo a ferramenta rastro, conseguindo uma visualização mais rápida do referido 84 lugar geométrico não entrando em possíveis erros acarretados por um mau uso da régua graduada ou por qualquer instrumento de desenho. Vejamos agora esse segundo exemplo: Considere um circulo de centro O e raio d uma reta r que não se interceptam, ambos contidos no plano. Determine o lugar geométrico dos centros dos círculos que são tangentes ao círculo dado (exteriormente) e à reta dada. Pela definição de parábola, temos: Uma parábola é o conjunto de pontos do plano equidistantes de um ponto fixo e de uma reta que não contém o ponto. Dessa forma, o lugar geométrico pedido será uma parábola cujo foco será O e cuja diretriz é uma reta paralela, a uma distância d da reta dada, não passando pelo ponto O. Levando em consideração a falta de conhecimento da definição de parábola como lugar geométrico, o aluno, fazendo uso da ferramenta circunferência no CabriGéomètre II, poderá através do método de tentativas e erros, criar circunferências que sejam tangentes aos objetos dados. No entanto, diferentemente do primeiro caso, encontrar um conjunto de pontos que mostrem uma visão geral do lugar geométrico se tornará mais difícil, pois, conforme foi dito no primeiro caso, a simetria da figura era bem mais simples de se obter, mas neste segundo exemplo, caso o sujeito desconheça a parábola como lugar geométrico não ficará evidenciado qualquer simetria de forma clara e nítida. Dessa forma, obter o lugar geométrico via papel e lápis se tornará uma árdua tarefa. No ambiente de geometria dinâmica, este empecilho poderá ser minimizado, pois caso o centro da circunferência não satisfaça a condição dada, este poderá ser apagado de forma rápida, e logo em seguida, uma nova tentativa poderá ser feita. Além do mais, as circunferências desenhadas que satisfizeram a condição poderão ser escondidas, deixando somente o ponto considerado, fazendo com que a construção fique livre de objetos construídos que poderiam dificultar a visão do sujeito no momento de buscar uma generalização. Caso exista o conhecimento de que uma cônica é dada a partir de 5 pontos poderá ser feita uma escolha minuciosa de 5 pontos e, com isso, usando a ferramenta cônica, obter o lugar geométrico desejado, conforme visto na figura abaixo. 85 O O Figura 78 : Solução do Cabri evidenciando uma parábola Se a precisão estabelecida no momento de determinar os pontos não for adequada, o software poderá dar como resposta lugares geométricos diferentes do correto, conforme podemos verificar na figura abaixo onde temos o traçado de uma hipérbole e de uma elipse, levando neste caso o aluno ao erro. O O Figura 79 : soluções do Cabri evidenciando uma hipérbole e uma elipse Uma característica positiva dos lugares geométricos é o seu uso na resolução de problemas envolvendo construções geométricas, bem como na associação e confirmação de um lugar geométrico como uma curva algébrica Araujo (2010). Como exemplo, consideremos a seguinte curva chamada de Limaçon de Pascal, dada pela seguinte equação cartesiana (x2 + y2 - 2ax)2 = b2(x2 + y2). Plotando pontos num 86 sistema de eixos cartesianos, a tarefa se tornará árdua e muita vezes o número de pontos obtidos não será suficiente para caracterizar de forma concreta a curva em questão. Mudando o foco e considerando esta curva como um lugar geométrico, podese realizar a seguinte sequência e obtermos a sua construção : a) Construa uma circunferência de centro O. b) Obtenha um ponto P sobre a circunferência. c) Crie o segmento OP. d) Construa uma reta r pelo ponto P perpendicular ao segmento OP. e) Considere um ponto fixo A externo à circunferência e à reta r. f ) Obtenha a projeção ortogonal de A sobre a reta r. Nomeie esta projeção de X. g) Agora movimente o ponto P sobre a circunferência e tente imaginar a curva descrita pelo ponto X Desta forma podemos defini-la como: O lugar geométrico dos pontos M e N quando B se desloca sobre a circunferência Figura 80 : Limaçon de Pascal Logo, mudando o enfoque algébrico da referida curva e colocando-a como associada a um lugar geométrico a tarefa de obter seu traço num plano cartesiano ficará bem mais fácil. Assim, o Cabri Géomètre, com suas ferramentas rastro, lugar geométrico, cônica e tantas outras, torna a visualização e construção de curvas associadas a um lugar geométrico algo mais simples, possibilitando uma acuidade visual bem mais primorosa se comparada a um ambiente estático. 87 4.4 Tipos de deslocamento A visualização desempenha um papel importante no aprendizado da Geometria. Deslumbrar uma figura num ambiente computacional permite ao aluno formar uma imagem mental de alguma característica desta que ainda não se tornou evidente para ele. Por isso relatamos o uso do deslocamento como uma ferramenta auxiliadora na aprendizagem da Geometria Dinâmica. Essa função tão benéfica, pode ser usada fazendo uso do mouse ou das propriedades características do software o qual queremos usar. Segundo Silva e Penteado (2009, p.1069 apud GOLDENBERG, SCHER E FEURZEING, 2008) temos que o arrastar permite ao usuário mover livremente certos elementos de um desenho e observar outros elementos que correspondem às condições alteradas. Dessa forma a tela fornece a impressão de que o desenho está sendo deformado continuamente em todo o processo de arrastar, enquanto mantém as relações que foram especificadas como essenciais da construção original. Isso permite agilidade na investigação, pois figuras que demorariam muito tempo para serem construídas no papel são criadas em segundos na tela do computador. (GOLDENBERG, SCHER E FEURZEING, 2008) Logo, a oportunidade de usarmos o mouse para arrastarmos um ponto sobre algum objeto ou de efetuarmos operações mais complexas, envolvendo conceitos mais elaborados, torna-se algo mais simples e eficiente quando realizamos nossas atividades fazendo bom uso do deslocamento. Com essa opção, podemos obter e determinar o movimento de vários objetos, usando caminhos bem diferentes. Frank e Mariotti (2009) registram dois tipos de movimentos : o movimento direto e o movimento indireto . No primeiro caso, citamos como exemplo o arrastar do vértice de um triângulo, caracterizando assim o aumento ou a diminuição de seu perímetro. ou seja, teremos a variação deste elemento (o vértice) com relação ao ambiente geométrico (o plano). No segundo caso, temos algo bem mais elaborado, este tipo de movimento ficará bem determinado quando realizamos uma construção geométrica e esta no final do processo fica bem sucedida. Neste caso, o deslocamento permitirá uma 88 visão mais global das características da figura construída, auxiliando a enxergar particularidades que não seriam vistas num ambiente estático. Citamos Silva (2010) que nos diz Por tanto, é observado que, contrariamente aos desenhos feitos com régua e compasso no “mundo real”, as construções geométricas virtuais produzidas com o software Régua e Compasso são dinâmicas: elas se movem sobre o comando do aluno, além disso, os pontos geométricos iniciais de uma construção podem ser arrastados com o mouse mantendo-se as relações matemáticas que vigoram entre eles e os demais objetos. Com isso, é permitido o estudo de uma construção sob diferentes configurações de pontos, sem que seja necessário realizar uma nova construção. Esse é um dos pontos fortes dos programas de Geometria Dinâmica. (SILVA, 2010, p.5) Dessa forma, o deslocamento acaba se tornando uma grande chave no entendimento e desenvolvimento de conjecturas, pois permite visualizar as relações das propriedades geométricas contidas numa figura com relação à imagem desta na tela do computador. Falando de uma outra maneira, o deslocamento permite a realização de testes para verificar a validade de uma construção quando vários elementos da figura são modificados, tornado-se assim uma ferramenta para acentuar a percepção dos alunos ao analisarem novas propriedades do objeto geométrico em questão . Arzarello, Oliveiro, Paola e Robutti (2002) apontam diversos tipos de deslocamentos e do papel de cada um na aprendizagem dos estudantes. Realizam uma análise do movimento do mouse enquanto os alunos resolvem um determinado problema proposto pelo professor. Nesta pesquisa foi possível identificar as seguintes modalidades : Wandering dragging : modalidade em que o aluno arrasta move pontos e objetos sobre a tela, de forma aleatória, com a intenção de encontrar certas regularidades no desenvolver do deslocamento desses entes geométricos. Bound dragging : modalidade em que o aluno arrasta um objeto, mas este fica ligado diretamente à figura e não é possível o deslocamento deste sem deixar de estar interligado com a figura em questão. 89 Guided dragging : nesta modalidade deslocamos os elementos da figura a fim de obtermos uma forma determinada. Um exemplo bem simples é quando arrastamos os vértices de um retângulo a fim de obter um quadrado. Dummy locus dragging : neste caso movemos pontos de uma figura com uma característica ou propriedade que permanece escondida. Line dragging : o aluno desenha novos pontos para “marcar um caminho” a fim de perceber algum tipo de regularidade ou padrão, descobrindo assim um possível lugar geométrico não evidenciado anteriormente. Linked dragging : aqui o aluno tem a opção de deixar um rastro na tela quando move um objeto, permitindo uma visão de um lugar geométrico por meio deste rastro. Dragging test : Temos a possibilidade de mover uma figura e verificar até que momento esta guarda uma propriedade inicial. Se isso for verdadeiro, nosso teste foi validado, caso isso seja falso, a construção estará incorreta e terá de ser refeita. Cada modalidade citada ajuda a entender alguma característica de uma figura, de um lugar geométrico que não ficou evidenciado num determinado momento. Azarello et al. (2002) afirmam : Nós temos observado que estudantes exploram essas diferentes modalidades de arrasto para testar diferentes afirmações como exploração, conjectura, validação e justificação. Por exemplo, wandering e guided dragging são geralmente usados na descoberta de alguma característica da figura e dummy locus e dragging test são usados principalmente para testar uma conjectura (AZARELLO et al., 2010, p.3) Tomando como base o que foi dito até o momento, percebemos a importância de verificarmos estas modalidades de deslocamento para um melhor entendimento da aprendizagem de cada aluno. Auxiliando assim, em um processo de compreensão das etapas que cada sujeito segue de forma individual e diferenciada. 90 4.4.1 Um exemplo de aplicação do conceito de deslocamento na solução de um problema de lugar geométrico Vamos dar um exemplo de como podemos usar esses modelos no momento de resolvermos um problema de lugar geométrico, fazendo o uso de um software de Geometria Dinâmica, e como isso poderá ajudar a estabelecer critérios de raciocínios dedutivos por parte dos alunos. Problema: Achar o lugar geométrico dos pontos extremos de todas as secantes a uma circunferência traçados de um ponto A desta circunferência e tal que a parte interna de cada secante tenha o mesmo comprimento da parte externa No começo, num intuito dedutivo, o aluno poderá marcar de forma aleatória pontos no plano de tal modo que o ponto considerado em cada situação tenha o mesmo comprimento da secante interna, caracterizando assim o uso do wandering dragging. A Figura 81 : Uso do wandering dragging A seguir, poderá ser usada a ferramenta “simétrico de um ponto em relação a outro ponto” que pode ser encontrada no Cabri Géomètre II, por exemplo. Marcando mais alguns pontos e seus simétricos, o aluno poderá evidenciar alguma regularidade, mostrando assim o uso do line dragging. 91 C´ B´ C B D´ D A E G F E´ G´ F´ Figura 82 : Uso do line dragging Usando a opção rastro do software de Geometria Dinâmica e deslocando o ponto A sobre a circunferência, o aluno poderá vislumbrar o lugar geométrico pedido e, dessa forma, teremos o linked dragging. B A Figura 83 : Uso do linked dragging Terminando, o aluno poderá mover a figura e perceber desse modo a invariância desta com relação ao lugar geométrico pedido, ou seja, ele estará fazendo uso do dragging test e, depois disso, através desses testes, uma demonstração criteriosa poderá ser realizada 92 Demonstração : Construímos 3 pontos notáveis do lugar geométrico pedido : A, C e outro ponto qualquer que chamaremos de E; em cada caso traçamos as secantes ABC, ADE de tal modo que a parte exterior BC, DE seja igual a parte interior AB, AD e com isso teremos AB = BC e AD = DE; os três pontos A, C e E não estão em linha reta e levando em conta o fato de AB = BC e AD = DE o lugar geométrico pedido será uma circunferência. Para terminarmos a demonstração, vamos obter o centro e o raio desta circunferência . C B O A D E Figura 84 : Uso do dragging test Demonstração : traçamos DB e CE, BD tem extremidades nos pontos médios de dois lados do triângulo ACE, então BD será paralelo ao lado CE e, pelo teorema fundamental da semelhança de triângulos, teremos ABD ACE ; pelo fato do ângulo ADˆ B ser reto por ser ângulo inscrito numa circunferência de diâmetro AB e da semelhança de triângulos citada, temos ângulo AEˆ C reto também, e como B é o ponto médio do segmento AC, o lugar geométrico pedido é a circunferência de diâmetro AC e centro em B, como queríamos demonstrar. Dessa forma, o uso do deslocamento permite avanços bem significativos na aprendizagem da geometria. Evidenciamos abaixo alguns pontos positivos do seu uso na sala de aula : 93 O fato de podermos mover a figura em diversas posições aumenta a percepção do aluno, e com isso ele poderá antecipar, de forma mais eficiente e precisa, alguma conjectura A experimentação e a exploração aumentam, e esses diversos tipos de deslocamentos evidenciam uma maior facilidade de sairmos de uma conjectura e irmos para uma prova A visualização para procedermos uma demonstração aumenta de forma considerável, pois caso o aluno não tivesse a opção do deslocamento este levaria um tempo bem maior até adquirir um amadurecimento para fazer uma prova via papel e lápis Esta hierarquia de deslocamentos permite compreender melhor o processo de aprendizagem de cada aluno e o caminho evidenciado por cada um no momento da realização de uma atividade. Com o uso do deslocamento, temos a possibilidade de conseguir uma nova abordagem aos problemas geométricos, dando um enfoque maior aos problemas de construções geométricas e deixando de dar uma evidência tão grande a problemas de pouca praticidade. Movendo uma figura, temos a possibilidade de verificarmos suas invariantes, adquirindo assim uma maior percepção de algum lugar geométrico ou propriedade não evidenciada anteriormente. Esclarecemos que um conhecimento teórico é importante para o aluno ter um bom retorno do uso do deslocamento. Sem esse embasamento, fica difícil a visualização de entes geométricos da figura em questão. Farias (2008) afirma : A utilização do deslocamento como um instrumento exige do utilizador conhecimentos geométricos precisos. É necessário ter conhecimento suficiente para poder reconhecer as propriedades geométricas da figura quando esta se desloca pois, o deslocamento permite encontrar as primitivas geométricas da figura e contém, por conseguinte, a idéia de propriedade válida subjacente a demonstração. Essa pode ser a causa das dificuldades de apropriação do deslocamento, especialmente dos alunos no início do ensino fundamental II ( ginásio ) pois estes ainda não possuem esta noção (FARIAS, 2008, p.8) 94 Dessa forma, a união deslocamento – conhecimento teórico deve sempre ser enfatizada no momento de usarmos um software de Geometria Dinâmica, pois caso isso não seja feito, o professor poderá entrar em erro e ter sua aula prejudicada, deixando assim de aproveitar de forma satisfatória os recursos do deslocamento neste ambiente dinâmico. 4.5 As conjecturas e a demonstração matemática no ambiente de geometria dinâmica No ramo da Matemática, tivemos a criação de diversos softwares matemáticos servindo de apoio em disciplinas como a Geometria Plana e Espacial, o Cálculo Diferencial e Integral, a Geometria Analítica e a Álgebra Linear. Esse tipo de tecnologia é muito benéfica no ensino e aprendizagem da Matemática, mas o professor deve ficar atento à maneira de inserir esta nova ferramenta, pois, sem um embasamento teórico apropriado, sua validade pode ficar comprometida. Um problema de Geometria Plana deve aguçar a mente do aluno para que este consiga, através das diversas formas de manipulação das ferramentas do software de Geometria Dinâmica, verificar as propriedades intrínsecas do objeto geométrico, e a partir disso, fazer novas descobertas que servirão de apoio para seu amadurecimento rumo a uma possível demonstração. Muitos podem pensar, de forma errônea, que fazendo todas as manipulações possíveis na figura estaremos comprovando uma tese, mas isso é uma falácia. Damos como exemplo o seguinte problema : Considere o triângulo ABC inscrito no círculo de centro O, seja G o baricentro deste triângulo. Qual o lugar geométrico do ponto G quando o ponto A percorre toda a circunferência ? 95 A O G B C Figura 85 : Baricentro como lugar geométrico Usando o cabri–Géomètre II, o aluno poderá girar o ponto A em torno da circunferência e, através do deslocamento deste, evidenciar a circunferência formada com o movimento do ponto G. Isso poderá ser feito usando também a ferramenta lugar geométrico ou a ferramenta rastro. A A O O G G B C B C Figura 86 : Uso das ferramentas lugar geométrico e rastro no Cabri-Géomètre II Uma pessoa leiga poderia acreditar e afirmar que a demonstração foi feita. A validade da nossa tese é correta, mas este não é o papel da Geometria Dinâmica. Essa ferramenta facilitadora nos auxilia a testar conjecturas e não a validar uma 96 demonstração. Uma demonstração rigorosa deve ser dada, neste caso, fazendo uso da geometria euclidiana conforme dados a seguir : Demonstração : Seja M o ponto médio do segmento BC, sendo OM um segmento que pertence ao raio da circunferência, e BC uma corda, então OM será perpendicular a BC. Dividindo o segmento OM em 3 partes iguais e colocando um 1 ponto P pertencente a OM, pela figura, temos MP MO . Sendo os pontos O e M 3 fixos, o ponto P também será fixo. A mediana AM que contém o baricentro (ponto G) 1 esta dividida em 3 partes de mesma medida, logo MG MA . Pela construção 3 realizada e pelo teorema fundamental da semelhança de triângulos, temos MGP MAO com razão de semelhança 1/3. Sendo AO o raio da circunferência circunscrita ao triângulo ABC, teremos PG igual a 1/3 de AO. Como P é um ponto fixo e a distancia de P até G é um valor constante, então o ponto G só tem liberdade de se movimentar numa circunferência de centro P e raio R/3, ou seja, PG OA R 3 3 A O G P B M C Figura 87 : Solução do problema do baricentro como lugar geométrico Logo, o lugar geométrico de G é a circunferência de centro P e raio R/3 No entanto, o fato de testarmos conjecturas é válido e desempenha um papel importante na aprendizagem. A Geometria Dinâmica nos permite uma multiplicidade de visão. Podemos enxergar uma construção geométrica sob vários focos, auxiliando então a encontrar propriedades geométricas que não seriam vistas 97 usando somente a lousa com régua e compasso. Brandão e Isotani (2003) afirmam : Em resumo, como a Geometria Dinâmica possibilita visualizar uma mesma construção de diversas formas, e assim facilitar a compreensão do comportamento geométrico dos elementos envolvidos, podemos utilizar um programa de Geometria Dinâmica para revelar relações geométricas intrínsecas que poderiam passar desapercebidas numa representação estática. Com isso, o professor pode incentivar o espírito investigativo do aluno, solicitando ao final uma justificativa para as relações encontradas (rumo a uma a prova matemática), podendo ser mais formal de acordo com o nível de aprendizagem do aluno. (BRANDÃO E ISOTANI, 2003, p.4) Outro ponto a ser analisado, que dificulta consideravelmente uma mudança de pensamento geométrico por parte do aluno é o modo com que as construções geométricas são vistas nos livros didáticos. Fazendo uma análise meticulosa dos livros de Matemática adotados no Brasil, observa-se uma tendência muito forte a demonstrações criteriosas, levando em consideração raciocínios sequenciais e prontos. Gravina (1996) estuda este modelo estereotipado encontrado nos livros de geometria : Os livros escolares iniciam com definições, nem sempre claras, acompanhadas de desenhos bem particulares, os ditos desenhos prototípicos. Por exemplo, quadrados com lados paralelos às bordas da folha de papel, retângulos sempre com dois lados diferentes, alturas em triângulos sempre acutângulos, etc... Isto leva os alunos a não reconhecerem desenhos destes mesmos objetos quando em outra situação. E mais, para os alunos, a posição relativa do desenho ou seu traçado particular, passam a fazer parte das características do objeto, quer no aspecto conceitual ou quer no aspecto figural, estabelecendo desequilibrios na formação dos conceitos como veremos adiante. O aspecto de construção de objetos geométricos raramente é abordado; dificilmente encontramos no livro escolar a instrução “ construa ” , e no entanto esta é uma das atividades que leva o aluno ao domínio de conceitos geométricos. Mais difícil ainda é encontrar questões do tipo “ o que podemos dizer nesta situação ? ” ou “ que regularidades percebemos ? ”, onde estratégias de investigação devem ser estabelecidas (GRAVINA, 1996, p.2) Essas configurações chamadas por Gravina (1996) de desenhos protótipos acabam por exercer um obstáculo epistemológico no ensino de Geometria; como exemplo, temos a configuração do seguinte triângulo retângulo. 98 Modelo I Modelo II Figura 88 : Desenhos protótipos O primeiro modelo é encontrado em diversos livros de ensino fundamental e serve como base para o entendimento do teorema de Pitágoras. Depois da fixação desta imagem pelos alunos, uma outra configuração é ensinada em séries posteriores ( Modelo II ). Alunos acostumados com a imagem mental da primeira figura acabam por ter dificuldades de assimilar a segunda configuração como um triângulo retângulo e acabam por deixar de perceber que se trata do mesmo objeto geométrico. Levando em consideração o que foi dito acima, citamos como exemplo o pensamento fixo de que o ortocentro de um triângulo sempre está localizado no interior deste. Usando um SGeometria Dinâmica, poderemos verificar de forma bem rápida a falsidade desta conjectura. A A A B H C H B B C H C Triângulo acutângulo Triângulo retângulo Triângulo obtusângulo Figura 89 : Variação da posição do ortocentro No primeiro caso, temos o ortocentro localizado no interior do triângulo (triângulo acutângulo), no segundo caso, temos o ortocentro coincidindo com o ângulo reto ( triângulo retângulo ) e, no terceiro caso temos o ortocentro fora do triângulo ( triângulo obtusângulo). 99 Essas três configurações, juntamente com o auxilio da Geometria Dinâmica, permitem elaborar o seguinte problema envolvendo o conceito de lugar geométrico, que ajuda a compreender de forma mais clara e concisa a importância da variação do ortocentro, que não é vista de maneira coerente nos livros didáticos : Qual o lugar geométrico descrito pelo ortocentro de um triângulo ABC quando o vértice C se desloca sobre uma reta paralela ao lado oposto AB ? Fazendo o uso do Cabri – Géomètre II, podemos obter o ortocentro através da ferramenta “reta perpendicular” passando por um ponto. Dessa forma, teremos o ponto H. Arrastando o vértice C e observando a variação do ponto H, a suposição de que o lugar geométrico é uma parábola ficará bem evidente. Usando a ferramenta “lugar geométrico” ou “rastro”, uma possível confirmação da hipótese será estabelecida e deste modo ficará mais fácil gerar uma demonstração baseada nas suposições evidenciadas no SGeometria Dinâmica. C H A B Figura 90 : Ortocentro como lugar geométrico Demonstração : Sejam A(-d,0) , B(d,0) e C(xc,h) de tal forma que AB=2d conforme a figura abaixo : 100 Figura 91 : Demonstração ortocentro como lugar geométrico A equação do lado BC é y h (x d ) xc d Com isso, a equação da altura do ponto A ortogonal ao lado BC será : y ( xc d ) ( x d ) O ortocentro satisfaz esta relação com h x xc que é a equação da altura passando pelo ponto C. Desta forma : y ( xc d ) ( x d ) d 2 x2 y x2 AB 2 h h h 4h Esta equação corresponde a uma parábola com concavidade para baixo, passando por A e B, simétrica com relação a mediatriz do lado AB. Dessa forma, a posição evidenciada pelo ortocentro em cada configuração pode ser colocada nos livros didáticos, fazendo uso de um problema de lugar geométrico. Assim, teríamos uma aplicação da movimentação deste objeto geométrico, enfatizando, então, a importância de se colocar problemas envolvendo lugares geométricos para que se possa mudar o enfoque dado em diversos livros didáticos. Pelo que foi exposto, e levando em conta pesquisas realizadas neste tema podemos dizer que a fisionomia estática do desenho desempenha um empecilho na elaboração de conceitos, na generalização de padrões ou na validação de certas conjeturas. Deste pressuposto, evidenciamos neste momento o papel dos softwares 101 de Geometria Dinâmica como ferramenta facilitadora na aprendizagem de Geometria. Quadros (2007) nos fala do papel destes softwares A Geometria Dinâmica pode ser entendida como a implementação da geometria da “régua e compasso”. Uma vantagem importante da Geometria Dinâmica é a necessidade de explicar as relações entre os objetos geométricos (como pontos, retas ou circunferências). Outra vantagem é sua interatividade: uma vez feita a construção pode-se mover algum ponto inicial e o programa redesenha, de modo aparentemente contínuo, todos os objetos da construção preservando suas relações. Vem daí o termo dinâmica do nome Geometria Dinâmica. (QUADROS, 2007, p.4) Dessa maneira, conjecturas feitas pelos alunos podem ser testadas rapidamente de modo eficiente, pois os softwares de Geometria Dinâmica fornecem um retorno rápido a cada hipótese permitindo, assim, uma melhor visualização e validação do seu raciocínio dedutivo. Contribui dessa forma, para uma possível confirmação de uma demonstração matemática. A demonstração de uma proposição adquire grande credibilidade quando é apoiada em fatores visuais. Uma imagem ou uma seqüência de imagens é capaz de convencer até mesmo observadores que não têm grande habilidade em Matemática e pouca familiaridade com artifícios e sutilezas de demonstrações formais. Entre aqueles que possuem uma tendência para a Matemática, a observação de imagens que sugerem resultados torna o trabalho muito mais interessante e, em geral, incentiva o estudante para a realizações de novas investigações As provas no sentido usual, necessárias em muitos casos, em geral satisfazem os matemáticos – e são dirigidas para eles - mas não convencem a maioria dos estudantes que, por não entendê-las, passa a decorar a seqüência de palavras, traços e argumentos, e daí a repulsa pela Matemática. (LOURENÇO, 2002, p.88) 4.6 As construções moles e robustas e o papel de cada uma delas no ensino da Geometria e dos lugares geométricos A dualidade entre os termos variação e invariante desempenha um papel importante na Geometria. Segundo Laborde (2005) a Geometria Dinâmica exterioriza essa dualidade, pois, fazendo uso do deslocamento, podemos mover 102 uma figura e verificar se certas propriedades inerentes desta permanecem inalteradas Uma propriedade geométrica é uma invariante satisfazendo um objeto variável bem como este objeto varia sobre um conjunto de objetos satisfazendo alguma condição comum. A variabilidade de objetos geométricos é geralmente invisível porque a formulação de uma propriedade geométrica é na maioria das vezes expressa como sendo ligada com um único objeto estático, as quantidades são implícitas, especialmente na escala secundária. Isto acaba causando problemas para os estudantes que não percebem a generalidade dos teoremas ou propriedades (LABORDE, 2005, p.1) Verificando a dificuldade dos estudantes de perceberem a generalidade de objetos geométricos e de teoremas, o autor cita dois paradigmas no uso do deslocamento : o paradigma da construção robusta e o paradigma da construção mole. Construções robustas são construções que preservam suas propriedades quando usamos o modo de arrastar. Tais construções devem ser feitas usando os objetos geométricos e as relações que caracterizam a construção que queremos obter. Em tais construções a variação é usada como um meio de verificação. Nas construções moles, a variação é parte da construção em si e uma propriedade somente se torna visível quando a outra esta satisfeita. (LABORDE, 2005, p.1) 4.6.1 A construção robusta : Para um melhor entendimento do que seja uma construção robusta daremos um exemplo, considerando a circunferência de centro O e marcar os pontos A, B, C e D pertencentes a ela; construindo os segmentos de reta AD , AC , BC e BD , encontramos o ponto P, intersecção de AC e BD . ˆ e CBD ˆ obtendo o valor de Usando o Cabri-Géomètre marcamos os ângulos CAD cada um deles. 103 A 32,0 ° D 32,0 ° B C Figura 92 : Ângulos inscritos numa circunferência subentendidos por um mesmo arco Arrastando o ponto A ou o ponto B sobre a circunferência, verificamos que esses ângulos sempre irão possuir a mesma medida, o que comprova a sua ˆ invariância. De fato, como os ângulos CAD ˆ são ângulos inscritos e CBD subtendendo o mesmo arco, eles terão o mesmo valor. Neste caso, estamos lidando com uma construção robusta, ou seja, os pontos A e B pertencem à figura e, por mais que o movimentemos, o valor dos ângulos citados permanece inalterado. Usando o mouse e fazendo uso de uma construção robusta, os alunos podem validar alguma propriedade do objeto em questão bem como desconsiderar alguma conjectura que este tinha na mente como verdadeira. As construções robustas estão relacionadas intimamente com as construções euclidianas, pois oferecem um caminho seguro e firme no momento de resolver um problema de geometria fazendo uso de uma régua não graduada e um compasso. Levando em consideração o que foi dito, o uso de lugares geométricos surge como uma ferramenta poderosa quando lidamos com uma construção robusta. Wagner (2009) fala deste método que consiste basicamente no seguinte : encontrar um ponto chave que dará a solução do problema e, a partir disso, obter a intersecção de dois lugares geométricos que contenham o referido ponto. Colocamos então o exemplo proposto por Wagner no intuito de deixar bem elucidado esse método . Problema : São dados uma circunferência de centro O, um ponto P e um segmento a. Pede-se traçar por P uma reta que determine na circunferência uma corda de comprimento a 104 Figura 93 : Construção usando lugar geométrico. Fonte : Wagner (2009) página 22 Wagner pede para imaginar o problema resolvido e expõe a configuração de uma possível solução. A partir disso afirma : Se M é o ponto médio da corda AB de comprimento a em qualquer posição, então OM é constante pois AO e AM são constantes. Assim, o lugar geométrico de M é uma circunferência de centro O. Por outro lado, supondo o problema resolvido, a reta que passa por P e determina na circunferência dada uma corda de comprimento a é tal ˆ = 90 e, portanto, M também pertence a circunferência de que PMO diâmetro PO. (WAGNER, 2009, p.22) 0 Uma construção para a obtenção do problema é feita. Colocamos passo a passo as etapas seguidas por Wagner (2009), usando o fato de podermos esconder partes da construção que já não interessam, mostrando mais uma vez a eficiência dos softwares de Geometria Dinâmica que possibilitam uma melhor visualização da solução do problema. 1) Assinale um ponto X qualquer sobre a circunferência dada 2) Pegue com o compasso o segmento dado e determine, sobre a circunferência um ponto Y tal que XY = a 3) Trace por O uma perpendicular a XY determinando o ponto Z médio de XY 4) Trace a circunferência de centro O e raio OZ, que é um lugar geométrico de M 5) Trace a mediatriz de PO determinando seu ponto médio C 6) Com centro em C trace a circunferência de diâmetro PO, que é outro lugar geométrico de M 7) As duas circunferências se cortam em M e M´ 8) As retas PM e PM´ são a solução do problema (WAGNER, 2009, p.23) 105 X X Z Z X O O Y O Y Y Passo 4 Passos 3 Passos 1 e 2 P X P P C A X Z M B C O Z Y A´ O O M´ Y Passo 5 B´ Passo 6 Passos 7 e 8 Figura 94 : Passos de uma construção usando o método dos lugares geométricos. Fonte : (WAGNER, 2009, p.23) Pelo que foi exposto, há uma intima relação entre o uso de lugares geométricos e a obtenção de uma construção robusta, sendo um método eficiente para resolver problemas de construções geométricas e de geometria plana, validando de forma concreta, através do arraste de pontos da figura, a solução de um problema proposto. 4.6.2 A construção mole : Como um exemplo de construção mole, citamos o seguinte problema : dividir um segmento AB dado em 3 partes de mesma medida. Fazendo uso do Cabri –Géomètre II, um aluno pode criar dois pontos arbitrários C e D sobre o segmento dado e, com isso, obter os segmentos AC, CD e DB. Usando a ferramenta “distância ou comprimento”, poderá ser marcado o valor de cada segmento. Usando o deslocamento nos pontos C e D, o aluno poderá obter 106 uma aproximação excelente para a solução do problema, mas esta estará comprometida com qualquer deslocamento na construção, caracterizando assim a construção mole. A C D 2,95 cm 2,97 cm B 3,08 cm Figura 95 : construção mole divisão segmento em 3 partes iguais De acordo com as idéias de Laborde (2009) e Healy (2000), a construção mole serve como uma base, uma caminho para que se possa obter uma construção robusta, na qual podemos movimentar a figura em qualquer posição sem que se modifiquem os aspectos intrínsecos desta. Assim, o aluno poderá, a partir desta construção inicial, realizar uma construção robusta, usando o método dos lugares geométricos. Uma construção robusta pode ser feita usando os seguintes passos 1o Passo : Traça-se por A uma reta r auxiliar formando um ângulo agudo com AB 2o Passo : Escolhe-se um segmento u qualquer e, a partir de A, transporta-se u para a reta r, obtendo-se os pontos C, D e E 3o Passo : Traça-se EB e as paralelas a esse segmento passando por D e C. Desta forma obtêm-se os pontos C´ e D´ que dividem AB em três partes iguais. A B A A B B C C D D E E PRIMEIRO PASSO D´ C´ u TERCEIRO PASSO S EGUND O PAS SO Figura 96 : Divisão de um segmento em 3 partes iguais Outro aspecto importante da construção mole está relacionado com as construções por nêusis. Realmente isso é algo verídico, pois nestas construções é necesário um ajuste para obter a referida solução. Um exemplo foi dado no capítulo I quando foi obtida a trissecção de um ângulo ABC, tomando como base um segmento DE com o dobro do comprimento do segmento AB. 107 Obviamente o Cabri-Géomètre II ajuda a fazer esse ajuste, usando os diversos tipos de ferramentas que contém, facilitando muito o trabalho no momento de obter a construção por nêusis que acaba sendo caracterizada por uma construção mole. 4.7 O uso dos problemas abertos e a Geometria Dinâmica Com o uso da Geometria Dinâmica, damos início ao processo da experimentação. Os alunos têm a devolução do computador a cada passo feito, permitindo dessa maneira um aprimoramento e refinamento de suas idéias iniciais. O aluno, então, entrará num processo mais sofisticado, obtendo argumentações mais precisas para uma demonstração matemática. Logo, a Geometria Dinâmica liberta do empecilho originado pelos desenhos estáticos, onde as verdadeiras propriedades geométricas deixam de ser vistas. Chamamos esse aspecto de invariante de uma determinada configuração. No ambiente lousa-giz, esse número se torna muito pequeno, reduzindo, então, as possibilidades de ensino do professor. No ambiente dinâmico, essas invariantes aumentam e, dessa forma, com o movimento das figuras, podemos analisar a solução do problema sob diversos pontos de vista. Citamos mais uma vez Gravina (1996) que teoriza a respeito da geometria dinâmica e do papel dos invariantes Através de deslocamentos aplicados aos elementos que compõem o desenho, este se transforma, mantendo as relações geométricas que caracterizam a situação. Assim, para um dado objeto ou propriedade, temos associada uma coleção de “ desenhos em movimento ”, e os invariantes que ai aparecem correspondem as propriedades geométricas intrínsecas ao problema. E este é o recurso didático importante oferecido : a variedade de desenho estabelece harmonia entre os aspectos conceituais e figurais; configurações geométricas clássicas passam a ter multiplicidade de representações; propriedades geométricas são descobertas a partir dos invariantes no movimento 108 O papel do professor sofre uma drástica mudança quando se faz uso de um software de Geometria Dinâmica. Ele deixará de ser o detentor de todo conhecimento, o saber passará a coexistir entre professor e aluno. Este último poderá interagir com os outros colegas, verificando e discutindo suas formulações e possíveis validações advindas do problema proposto pelo professor. Um fator preponderante, que irá medir a eficácia da atividade proposta, é o controle do professor no momento de lidar com situações inesperadas. Com o auxilio de um software de Geometria Dinâmica, e com a proposta de testarmos conjecturas para transformá-las num teorema, o docente terá pela frente o desafio de lidar constantemente com perguntas inesperadas. O número de grandes possibilidades existentes ao escolheremos um determinado comando levará o aluno a ter diversas escolhas, aumentando assim a quantidade de novas situações. Desta forma, este processo de ensino – aprendizagem ocorrerá em um tempo maior. O docente deve tomar cuidado para não entrar numa situação de acomodação quando fizer uso de um software de Geometria Dinâmica. Muitos irão usar os mesmos passos aplicados em aulas anteriores, e isso será um empecilho no ensino da geometria. Por isso, torna-se importante e evidente a elaboração de novos problemas que instiguem e agucem o pensamento geométrico do aluno, libertando-o de um ciclo formado por uma quantidade muito finita de caminhos, que poderia impedir o aluno a elaborar uma conjectura ou uma possível demonstração. Silva e Penteado (2009) afirmam : Mesmo utilizando TIC em sua prática docente, alguns professores acabam voltando à zona de conforto, conduzindo toda turma aos mesmos “passos”, trabalhando, por exemplo, em forma de tutorial. Valente (1993) destaca que esse método não é o que vai usufruir vantagem educacional da TIC, pois é apenas uma versão computadorizada do que já ocorre usualmente na escola. (SILVA E PENTEADO, 2009, p.4) Silva e Penteado também apontam os benefícios que a incerteza e a imprevisibilidade podem trazer na aprendizagem dos alunos., Esses fatores também podem servir de apoio para o professor alavancar novas estratégias. Fica evidente, então, a união da Geometria Dinâmica com fatores de imprevisibilidade na elaboração e validação de conjecturas. 109 Esse tipo de foco de ensino, o qual muitos pesquisadores chamam de problemas abertos, traz uma nova maneira de construir o conhecimento matemático. Realmente, o professor deve procurar mudar sua visão, deixando de lado os problemas mecânicos, que não trazem um grande benefício nesta estratégia de ensino da geometria. Medeiros (2004) trata dos benefícios do uso de problemas abertos na sala de aula : Os problemas abertos se caracterizam por não terem vínculo com os últimos conteúdos estudados, evitando as regras de contrato didático já arraigadas. Por estarem em um domínio conceitual familiar, permitem que o aluno tenha condições de resolvê-los. E, sobretudo, por possuírem enunciado curto, os problemas abertos podem permitir ao aluno conquistar as primeiras idéias em um novo estudo. Isso pode dar a impressão, bem vinda, de que o problema é de fácil solução, fazendo com que o aluno se interesse em encontrá-la. Um problema aberto também possui uma ou mais soluções. Além disso, ele pode ser trabalhado em grupo, diminuindo o medo de não conseguir resolver, aumentando a chance de produção de conjecturas num intervalo de tempo razoável e possibilitando o surgimento de ricos conflitos sócio cognitivos. (MEDEIROS, 2004, p.4) Fazendo a junção entre Geometria Euclidiana e Geometria Dinâmica podemos propor aos estudantes diversos problemas abertos, acerca dos quais terão a oportunidade de fazer suas investigações e elaborar questionamentos. Dúvidas emergentes dessas discussões serão bem vindas para um tratamento mais formal do desafio proposto. Tentando esclarecer de forma mais objetiva o papel de um problema aberto, colocamos como exemplo três enfoques distintos desse tipo de situação e daremos a solução de dois deles com a intenção de mostrar os benefícios desta metodologia quando bem aplicada pelo professor. Problema 1 ) Por um ponto da base de um triângulo isósceles, traçam-se paralelas aos lados iguais. Pergunta-se : a) Qual o nome do quadrilátero obtido ? b) O que podemos afirmar a respeito do perímetro do quadrilátero obtido ? Problema 2 ) Numa região limitada por um quadrado, ache, justificando, o ponto tal que a soma das distâncias aos quatro vértices do quadrado é a menor possível 110 Problema 3 ) O esquema da figura seguinte representa um campo de futebol. Supõe que, num determinado momento de um jogo, João, Miguel e Francisco jogadores de Os vencedores, se encontram, respectivamente, nas posições J, M e F. O arbitro encontra-se a igual distância dos três jogadores. Assinale a lápis, na figura, com a letra A o ponto onde esta o árbitro. Figura 97 : Campo de futebol exemplificando um problema de lugar geométrico Antes de realizar qualquer demonstração, é possível verificar nos enunciados propostos a mudança de questionamento na elaboração de cada problema. Aqui o esquema hipótese-tese deixa de existir. Experimentos terão de ser feitos pelos alunos para que estes consigam formular idéias válidas na solução do problema. A certeza que tínhamos quando era feita uma pergunta do tipo “demonstre que” não tem espaço no momento de lidarmos com essa nova situação. Paterlini (2009) afirma : Para propiciar aos estudantes “fazer Matemática” sugere-se que o professor trabalhe, em sala de aula, com atividades exploratórias e investigativas. Dentre essas atividades destacamos, nesse trabalho, os denominados problemas abertos. São questões com um enunciado que delimitam um contexto, e o estudante é convidado a explorar aquela situação. O problema aberto se contrapõe ao problema fechado, e a diferença entre eles pode, de forma simples, ser caracterizada pelo fato de que este último diz o que o estudante deve demonstrar, enquanto o primeiro o deixa livre para perceber quaisquer relações matemáticas naquele contexto. Naturalmente podem ser utilizados problemas com enunciado intermediário, em que o trabalho do estudante é parcialmente direcionado. (PATERLINI, 2009, p.2) Os problemas abertos (quando) sugeridos em aula levam o aluno a uma maior exploração das situações, a elaborar conjecturas, tirar conclusões. O professor deve utilizá-los eventualmente, pensando na 111 melhor estratégia: introdução de um assunto? fechamento de um assunto? (PATERLINI, 2009, p.6) A união do software de Geometria Dinâmica com um embasamento de Geometria euclidiana permite ao aluno obter as pistas necessárias para a validação de suas idéias. Muitas soluções diferentes poderão ser apresentadas e isso servirá de apoio para novas discussões, acrescentando dessa forma novos conhecimentos. A dúvida, gerada pela incerteza, acaba se tornando um ponto positivo ao nosso favor, aguçando a curiosidade de cada aluno, fazendo com que este procure trabalhar em conjunto para que, assim, possa encontrar um caminho viável na solução do problema proposto. 4.7.1 Análise e discussão dos problemas abertos Solução do problema 1 : Na solução deste problema, fizemos o uso do software Geogebra, obtendo a figura abaixo: Figura 98 : Solução do problema 1 Arrastando o ponto P sobre o lado AB do ABC e marcando os valores dos segmentos EP , EC , CF e FP e dos ângulos assinalados iremos perceber a invariância destes que permanecerão com a mesma medida. O software Geogebra 112 possui uma função que permite somar segmentos. Usando essa função, descobriremos que EP + EC + CF + FP = 8, independente da posição de P quando este percorre AB . O uso do deslocamento do ponto P ajudou a verificar nossas hipóteses iniciais. Dessa forma, pelo uso do SGeometria Dinâmica, poderemos acreditar na suposição da validade da congruência dos ângulos assinalados, mas a prova só poderá ser contundente fazendo uso da geometria euclidiana. De fato, as retas passando por EP e CF são paralelas e, usando as transversais passando por FP e EC , que também são duas retas paralelas, teremos a confirmação. Depois de testar essas conjecturas, o aluno poderá passar para uma demonstração rigorosa. Na verdade, temos FP paralelo a EC , e da transversal CF teremos ˆ CFG ˆ e, como EP é paralelo a CF , teremos CFG ˆ EPF ˆ , por serem ângulos ECF ˆ EPF ˆ e, correspondentes. Usando o conceito de transitividade encontraremos ECF ˆ PFC ˆ . Falta mostrar que EP CF e com raciocínio análogo, teremos PEC EC PF . Como o aluno poderá chegar a esse fato fazendo uso do Geogebra ? Um dos caminhos seria traçar o segmento CG paralelo ao segmento AP , usando o comando de marcar ângulos. Com isso o aluno iria verificar que AEP GFC , pois ˆ APE ˆ e GFC ˆ AEP ˆ . teríamos GCF De forma rigorosa, poderiam ser usadas as paralelas passando por CG e AP e usar as transversais passando por CF e EP para demonstrar a congruência destes ângulos. Usando o mesmo raciocínio, conseguiremos provar que PF EC . Para provarmos a segunda parte do problema, o aluno poderá fazer uso da relação EP + EC + CF + FP = perímetro. Da primeira parte, teremos EP = CF e EC = FP , logo 2 EP + 2 FP = perímetro. Pelo fato de FP ser paralela a EC e EP paralela a CF , a proporcionalidade dos segmentos paralelos terá de ser mantida. Logo, o perímetro terá de ser constante. Indicamos, aqui, apenas um caminho que poderia ser tomado, fazendo conjecturas com o uso do Geogebra. Conforme foi explicitado em parágrafos anteriores, o enfoque que esse tipo de problema proporciona é enorme, 113 possibilitando, assim, diversos questionamentos produtivos, encorajando o grupo de alunos a buscar novas idéias para uma solução mais simples e elegante. Solução do problema 2 : Construindo um quadrado ABCD com o auxilio do Geogebra, teremos a figura abaixo onde colocamos o ponto de intersecção das duas diagonais na origem do sistema de eixos coordenados; marcamos então as diagonais AC e BD . Tomando um ponto P qualquer dentro do quadrado, unimos este aos vértices A, B, C e D, obtendo os segmentos AP , BP , PC e PD ; como foi dito anteriormente, o Geogebra permite arrastar o ponto P e obter a soma AP + BP + PC + PD quando P percorre todo interior do quadrado. Fazendo isso, teremos a possibilidade de testar onde esta distância será mínima. Figura 99 : Solução do problema 2 Fazendo esse teste chegaremos à conclusão de que P deve estar no encontro das diagonais AC e BD . Falta, agora, uma prova formal, por meio da qual teremos a certeza e a confirmação da nossa dedução, realizada com o uso do software de Geometria Dinâmica. Antes dessa prova, reforçamos nossas idéias com Talavera (2004) que afirma : 114 Os softwares de geometria dinâmica unem a técnica ao raciocínio dedutivo, valorizando o pensamento geométrico, permitindo realizar ações independentes; o aluno se sente motivado, capaz de formular argumentos informais e, em seguida, utilizar o pensamento dedutivo, pelo fato de estar visualizando o que acontece com as figuras quando as manipula na tela do computador. Neste nível, o aluno pode compreender o significado da dedução como uma maneira de estabelecer a teoria geométrica no contexto de um sistema axiomático, ou seja, esses recursos permitem um pensamento mais livre (TALAVERA, 2004, p.127) Primeira demonstração : Usando o sistema de eixos coordenados estabelecido temos P(a,b) , A(-x/2 , x/2) B(x/2 , x/2) , C(x/2 , -x/2) e D(-x/2 , -x/2) . calculando as distâncias de P aos vértices do quadrado temos : 2 x x dPA a b 2 2 2 2 x x dPC a b 2 2 2 2 2 2 x x dPB a b 2 2 2 x x dPD a b 2 2 A soma dessas distâncias tem de ser mínima, mas sendo esta a menor possível, se elevarmos todos os membros ao quadrado, a invariância continuará a mesma, logo : 2 2 2 x x x x Mínimo = 2 a 2 b 2 a 2 b 2 2 2 2 2 Mínimo = 2( 2a2 + 2b2 + x2 ) Para que essa expressão seja mínima, teremos de ter a=b=0, ou seja ,P(0,0) e, como colocamos nossa origem no ponto de encontro das duas diagonais, o ponto P será mínimo quando estiver na intersecção das diagonais AC e BD . Uma outra solução pode surgir se lembrarmos da desigualdade triangular. Esta desigualdade pode ser verificada quando variamos P e este é diferente do centro O; assim teremos as desigualdades PA PC AC e PB PD BD , logo PA PC PB PD > AC BD no caso de termos P O . Portanto, a soma das distâncias de P aos vértices é a menor possível quando P = O 115 CAPÍTULO V - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 5.1 Experimento de ensino Neste capítulo é apresentado o experimento que foi realizado com os alunos do Ensino Fundamental. São relatadas as ações desenvolvidas e são apresentadas e comparadas as análises a priori e a posteriori do experimento, completando assim a última parte do desenvolvimento da Engenharia Didática deste trabalho. O objetivo geral do experimento foi comparar as dificuldades oriundas de problemas envolvendo conceitos relativos a lugares geométricos com relação aos dois ambientes. O primeiro ambiente num espaço estático, fazendo uso de papel, lápis e pelos instrumentos euclidianos usuais e o segundo num ambiente dinâmico tendo como suporte o software de geometria dinâmica Cabri – Géomètre II. No final, foi realizada uma comparação entre esses dois ambientes, procurando caracterizar e evidenciar as facilidades que apareceram no ambiente dinâmico, mostrando dessa forma, o seu potencial no momento de visualizar e caracterizar algum lugar geométrico, o que sem dúvida favoreceu o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. 5.2 Sujeitos da pesquisa Os sujeitos que participaram desta pesquisa são alunos da rede estadual de ensino, situada na cidade de Itararé no Estado de São Paulo. Esses alunos cursavam o nono ano do Ensino Fundamental no ano de 2011.Foi feito um convite oral para as três classes dessa série existentes na escola sem nenhum tipo de restrição. Um grupo de 35 alunos mostrou interesse em participar do experimento. Não existiu nenhum tipo de empecilho com relação ao deslocamento dos alunos até a escola fora do período escolar regular. Outro fator importante na hora da seleção dos sujeitos foi escolher alunos que não tinham tido contato algum com o software Cabri – Géomètre II e alunos que desconhecessem qualquer tipo de construção no ambiente papel e lápis. Isso foi importante, pois para se fazer tal tipo de comparação entre os trabalhos de cada grupo foi fundamental que os sujeitos não tivessem fluência nesses dois ambientes. 116 5.3 Procedimento experimental Os seis alunos escolhidos foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo realizou as atividades fazendo uso de papel, lápis, par de esquadros, transferidor e compasso. O segundo grupo fez uso de um ambiente de Geometria Dinâmica, no nosso caso, o software Cabri – Géométre II. O experimento foi realizado em 3 sessões no período de primeiro de julho à 3 de julho. O GRUPO I realizou as atividades no período matutino e o GRUPO II no período vespertino. O pesquisador tomou os devidos cuidados para que não houvesse qualquer troca de informações entre os grupos pois caso isso ocorresse o experimento poderia sair prejudicado. As mesmas orientações foram passadas em ambos os grupos. Somente intervenções bem superficiais foram dadas, ou seja, o pesquisador interveio de forma bem sucinta no desenvolvimento de todas as atividades. Fez–se o uso de um gravador de som para que o pesquisador pudesse analisar as idéias dos alunos e, caso existisse alguma dúvida com relação a fala dos sujeitos poderia ser feita uma volta as atividades retirando alguma suspeita sobre o conteúdo exposto. Com isso, fazendo o recolhimento das fichas de cada atividade proposta, foi realizada uma análise dos dados que podem ser evidenciados nas atividades que se seguem no próximo tópico. 5.4 Atividades propostas Nesta seção é feita a apresentação das atividades, assim como, são feitas as análises das produções discentes. 5.4.1 Análise a priori e a posteriori da atividade 1 117 Atividade 1 Dado um ponto A num plano e uma distância fixa d, obter o conjunto de pontos do plano que estejam a uma distância d deste ponto dado. A Figura 100 : Atividade 1 Análise a priori Nesta atividade a variável didática é o lugar geométrico chamado circunferência. Deseja-se que os alunos sejam capazes de identificar este conjunto de pontos, utilizando as ferramentas dadas. Não se espera uma dificuldade maior na identificação deste lugar geométrico em ambos os ambientes. GRUPO I Análise a posteriori No início, os alunos tiveram dificuldades em compreender o que o pesquisador queria dizer com “obter um conjunto de pontos” . Os alunos, na primeira tentativa, obtiveram apenas 3 pontos e, de forma apressada, desenharam um triângulo como resposta. Após uma intervenção, foi dada mais uma explicação, sugerindo um número maior de pontos no papel. Depois disso, os alunos discutiram entre si, colocando outras hipóteses, colocando, por exemplo, um quadrado ou uma circunferência. O grupo levou um tempo considerável para obter a solução, prevalecendo o aspecto da tentativa e erro. O professor, no decorrer da atividade, foi colocando pontos a serem discutidos, incitando a troca de idéias até o surgimento de uma 118 hipótese consistente aceita por todos os elementos do grupo, determinando o lugar geométrico pedido. Figura b) Figura a) Figura 101 : Resolução da atividade 1 do GRUPO I As etapas da atividade podem ser resumidas pelo uso do quadro abaixo : Quadro 1 - Atividade 1 GRUPO I , análise a posteriori Situação adidática Atividade 1 Ação O grupo lê o enunciado. Os sujeitos elaboram a primeira interpretação. Em seguida, usando uma noção bem intuitiva começam a discutir os possíveis pontos do lugar geométrico. Formulação Os alunos discutem entre si, propondo algumas soluções. Vão aumentando o número de pontos, obtendo um triângulo, logo após, um quadrado e começam a verificar uma associação entre um número maior de pontos e o traçado de uma circunferência. 119 Validação O grupo consegue ter uma postura mais firme ao sugerir a circunferência como lugar geométrico dizendo que qualquer distância pré estabelecida a priori do ponto dado dará a referida solução. Para comprovar o que foi dito, escolhem uma circunferência de raio igual a 5 cm e, com o compasso, desenham a figura, validando a hipótese. Institucionalização Levando em consideração a discussão e as idéias colocadas pelo grupo, o professor faz a concatenação dos fatos levantados. Explica-se que o conjunto de pontos que permanecem a uma distância fixa de um ponto dado é uma circunferência de centro A e raio r. GRUPO II Análise a posteriori O GRUPO II apresentou as mesmas dificuldades iniciais do GRUPO I, colocando um número insuficiente de pontos e, a partir disso acabaram, tomando decisões precipitadas, obtendo figuras que não iriam satisfazer a propriedade requerida. Foi feita a mesma intervenção realizada no GRUPO I, onde o pesquisador, de forma mais detalhista explicou o que significava a expressão “conjunto de pontos”. Após esse fato, colocando alguns pontos aleatórios, o grupo usou as ferramentas “segmento” e “distância e comprimento”, tomando como medida um segmento de comprimento 4.18 cm. Usando o mouse e arrastando os segmentos obtidos, tiveram como resultado a figura a) onde imaginaram como solução uma estrela. Verificando esse fato, foi apresentada a ferramenta “Esconder/Mostrar” e, fazendo uso desta, o grupo conseguiu obter uma construção “limpa”, deixando somente os pontos pertencentes ao lugar geométrico ( figura b ). Assim, a 120 visualização ficou mais clara e com isso, usando a ferramenta circunferência obtiveram o referido lugar geométrico ( figura c ). Neste ambiente, pode-se notar um tempo menor para obter a resposta. Mesmo em se tratando de uma construção mole, os alunos, com a ajuda do arrastar do mouse, obtiveram os segmentos com o comprimento pré-determinado e, escondendo os objetos auxiliares na construção, visualizaram, de forma mais nítida, a solução da atividade proposta. Figura a) Figura b) Figura 102 : Resolução da atividade 1 do GRUPO II As etapas da atividade podem ser resumidas no quadro abaixo : Figura c) 121 Quadro 2 - Atividade 1 GRUPO II, análise a posteriori Situação adidática Atividade 1 Ação O grupo lê o enunciado. Os sujeitos elaboram a primeira interpretação. Colocam pontos de forma aleatória no Cabri, e manipulando-os, tentam obter algum padrão. Formulação Usando as ferramentas “segmento” e “distância e comprimento”, medem os segmentos obtidos, conjecturando a forma de diversas figuras. Uma discussão é feita, procurando limitar o número de soluções, tentando encontrar algum padrão comum a todos os pontos determinados. Validação Usando a ferramenta “Esconder/Mostrar”, o grupo consegue deixar presente na tela somente os pontos que estão satisfazendo o lugar geométrico pedido. Com isso, conseguem obter rapidamente um número bem maior de pontos e, assim, afirmam que o lugar geométrico é uma circunferência e para validarem essa hipótese usam a ferramenta “circunferência”, obtendo a solução desejada Institucionalização Levando em consideração a discussão e as idéias colocadas pelo grupo, o professor faz a concatenação dos fatos levantados. Explica-se que o conjunto de pontos que permanecem a uma distância fixa de um ponto dado é uma circunferência de centro A e raio r. 122 5.4.2 Análise a priori e a posteriori da atividade 2 Atividade 2 Dado o segmento de reta AB abaixo, contido num plano , obter o conjunto de pontos do plano, pertencentes ou não a esse segmento de reta que estejam a mesma distância dos pontos A e B B A Figura 103 – Atividade 2 Análise a priori Nesta atividade as variáveis didáticas estão relacionadas com o conceito da obtenção da mediatriz de um segmento AB. Espera-se que os grupos consigam perceber que o ponto médio do segmento AB é caracterizado por esta propriedade e depois desta constatação, eles consigam obter pontos fora do segmento dado bem como o ponto médio de AB obtendo assim, a mediatriz deste segmento. GRUPO I Análise a posteriori O grupo continua a confundir o conceito de conjuntos de pontos, relacionando este com alguma figura geométrica. Percebe-se que os traços deixados no papel confundem o raciocínio do grupo . Na figura a), o grupo diz que o resultado será uma 123 circunferência. Na realidade, eles encontram o ponto médio de AB que satisfaz a condição pedida e, a partir disso, desenham a circunferência, mas abandonam essa idéia quando pegam um ponto pertencente a esta. Medindo com régua a distância entre um ponto pertencente à circunferência e os vértices do segmento dado, encontram valores discordantes, abandonando dessa forma esta primeira idéia. Depois de uma breve explicação, o professor salienta que as figuras obtidas funcionam como objetos auxiliares. Na figura a) é desenhado um triângulo isósceles, onde o grupo liga o ponto médio de AB ao vértice C, podendo, dessa forma, encontrar a solução. Mas nenhum aluno consegue visualizar este fato e, com o decorrer do diálogo estabelecido, vão fazendo algumas medidas até chegarem na figura b). Na figura b), os alunos tiveram a idéia de dar como resposta diversos tipos de losangos, demonstrando de certa forma uma percepção de simetria de ponto em relação a uma reta, mas, conforme dito, após a intervenção do pesquisador, os alunos mudaram a conjectura, dizendo que a resposta seria uma reta. Conforme explicitado na resposta, vê-se uma insegurança “ dependendo do lugar onde se ligam os pontos, o resultado vai ser uma reta”. Analisando os diálogos e as figuras feitas, nota-se um obstáculo à compreensão do lugar geométrico de acordo com os traços desenhados no papel. Figura a) Figura b) Figura 104 : Resolução da atividade 2 do GRUPO I 124 As etapas da atividade podem ser resumidas no quadro abaixo : Quadro 3 - Atividade 2 GRUPO I, análise a posteriori Situação adidática Atividade 2 Ação O grupo procura encontrar algum ponto sobre o segmento AB, satisfazendo a propriedade pedida. Encontram o ponto médio de AB e, de forma equivocada, procuram generalizar, dizendo que o a solução será uma circunferência de diâmetro AB Formulação O grupo desenha um triângulo isósceles ABC, mas não consegue perceber que a altura deste dará a resposta requerida. Procuram algum tipo de padrão ou simetria, e começam a tentar desenhar um quadrado no intuito de obter outros pontos com a mesma propriedade. Validação Percebem uma simetria entre os pontos obtidos, pegam a régua e medem as distâncias do ponto a cada vértice do segmento AB. Verificando que o resultado é análogo para os diversos pontos desenhados, o grupo traça uma reta passando pelos pontos C e D, obtendo desta forma o resultado desejado. Institucionalização Levando em consideração a discussão e as idéias colocadas pelo grupo, o professor faz a concatenação dos fatos levantados. Explica-se que a união dos pontos obtidos forma um conjunto, que é uma reta, que passa pelo ponto médio do segmento AB, formando com este um ângulo de 90o GRUPO II Análise a posteriori Usando as ferramentas mostradas pelo pesquisador na atividade 1, os alunos conseguem, de forma mais rápida, obter o resultado desejado. No início não 125 compreendem claramente o que foi pedido. Eles medem o comprimento do segmento AB, colocam um ponto aleatório e, unindo este aos vértices do segmento dado. Usando o arrastar do mouse, procuram obter uma distância igual ao comprimento de AB. Percebendo isso, é feita uma intervenção, e o professor explica que as distâncias pedidas não precisam ter necessariamente o comprimento de AB. Desse modo, o grupo consegue obter um número maior de pontos. Nesta atividade é apresentada a ferramenta “Fixo/Livre”, com a qual podem demarcar pontos e outros objetos que necessitam estar fixos. Os alunos observam que cada ponto obtido forma um triângulo isósceles com o segmento AB. Usando a ferramenta “Esconder/Mostrar”, eles visualizam os pontos obtidos, chegando à conclusão de que o lugar geométrico pedido é uma reta contida nesse conjunto de pontos. É interessante notar que este grupo não considera o caso de ter algum ponto pertencente ao segmento AB, preocupando-se somente com pontos fora desse segmento. Figura a) Figura b) Figura c) 126 Figura 105 : Resolução da atividade 2 do GRUPO II As etapas da atividade podem ser resumidas no quadro abaixo : Quadro 4 - Atividade 2 GRUPO II, análise a posteriori Situação adidática Atividade 2 Ação O grupo marca um ponto qualquer não pertencente ao segmento AB. Usando a ferramenta segmento, ligam este ponto aos vértices e, com a ferramenta “distância e comprimento”, procuram estabelecer um valor que contenha a medida do segmento dado. Formulação Começa uma discussão e cada aluno procura colocar seu ponto de vista. Percebe-se que o grupo, de forma intuitiva, detém o conceito de simétrico de um ponto em relação a uma reta e,assim obtém a figura b) Validação O grupo obtém outros pontos e, escondendo as construções auxiliares, conseguem visualizar mais nítidamente os pontos desejados. Fazem uma análise e entram num acordo, dizendo que o resultado será uma reta. Institucionalização Levando em consideração a discussão e as idéias colocadas pelo grupo, o professor faz a concatenação 127 dos fatos levantados. Explica-se que a união do conjunto de pontos obtidos passa pelo ponto médio do segmento AB, formando com este um ângulo de 90o 5.4.3 Análise a priori e a posteriori da atividade 3 Atividade 3 Dados dois pontos A e B, obter o conjunto de pontos formado pelos centros das circunferências que passam por A e B A B Figura 106 – Atividade 3 Análise a priori Nesta atividade o lugar geométrico circunferência será usado para evidenciar mais uma vez o lugar geométrico mediatriz de um segmento. Espera-se que, no desenrolar desta atividade, os alunos consigam fazer a associação entre as duas atividades anteriores, conseguindo obter a solução requerida pelo pesquisador. 128 GRUPO I Análise a posteriori Os alunos começaram o debate, escolhendo o ponto médio de AB. O pesquisador pergunta por que eles marcaram este ponto e os alunos dizem que este ponto é bom, pois está a mesma distância do segmento AB. Aqui, sem usarem um termo formal, conseguiram estabelecer o conceito de centro de uma circunferência, dado o diâmetro AB. Fazendo uso do compasso, os alunos começam a tatear pontos com a ponta seca do compasso tentando descobrir uma outra circunferência passando pelos pontos A e B. O grupo descobre mais alguns pontos e com isso marcam um segmento de reta. Colocando a ponta seca do compasso sobre o segmento, verificam a hipótese, dizendo que o lugar geométrico pedido é uma reta. Aqui, não existiu uma associação com as atividades 1 e 2. O pesquisador tinha em mente que, com o desenrolar do debate, essa associação fosse feita, mas isso não ocorreu . Não houve uma dificuldade maior em obter o lugar geométrico pedido. Analisando o procedimento dos alunos, percebeu-se que o uso do compasso ajudou e muito no momento de encontrar o conjunto de pontos requerido. O grupo chegou a algumas conclusões interessantes como, por exemplo, “A partir do momento em que eu for aumentando a reta, a circunferência aumenta também”, ou seja, de forma intuitiva, tiveram a noção da proporcionalidade entre diâmetro e comprimento da circunferência. 129 Figura 107 : Resolução da atividade 3 do GRUPO I As etapas da atividade podem ser resumidas no quadro abaixo : Quadro 5 - Atividade 3 GRUPO I, análise a posteriori Situação adidática Atividade 3 Ação Os alunos leem o enunciado. Com uma régua, marcam o ponto médio do segmento AB. Entram em consenso, dizendo que este ponto irá satisfazer a condição pedida. Formulação Com a ponta seca do compasso no ponto médio de AB, os alunos determinam uma circunferência, satisfazendo a condição dada. Tendo isso como pressuposto, pegam o compasso e começam a procurar pontos com a mesma propriedade. Validação Traçam uma reta passando por dois pontos obtidos, satisfazendo a condição do problema. Com isso, descrevem diversas circunferências com centro nesta reta. Com essa experimentação, conseguem validar o 130 resultado obtido anteriormente. Institucionalização O professor explica que esta atividade está relacionada com as duas atividades anteriores. Mostra que esta reta passa pelo ponto médio do segmento AB e forma com este um ângulo de 90o. Assim, o professor explica que dado um segmento de reta de medida qualquer, esta reta obtida chama-se mediatriz deste segmento. GRUPO II Análise a posteriori Nesta atividade apresentou-se a ferramenta “circunferência”. Foi mostrado como aumentar, diminuir e arrastar este ente geométrico. O grupo descreveu algumas circunferências, realizando manipulações e, logo após foi explicado a atividade proposta. Fazendo-se uso desta ferramenta, o grupo realizou uma construção mole, procurando ajustar a posição e o comprimento da circunferência aos dois pontos dados. Gastaram um tempo bem menor do que o grupo 1 para realizar esta atividade. Este grupo não se preocupou em obter o ponto médio de AB como uma das soluções. Analisando o desenvolvimento da atividade, notou-se uma grande facilidade no momento de se ajustar a circunferência aos dois pontos considerados e, por este fato, acredita-se que o grupo se deteve somente a pontos não pertencentes ao segmento dado. Este grupo não fez analogia com as duas atividades anteriores. Usando a ferramenta “Esconder/Mostrar”, deixaram somente os pontos, satisfazendo a propriedade pedida. Traçaram uma reta passando por dois pontos que obtiveram e consideraram esta como o lugar geométrico requerido. 131 Figura 108 : Resolução da atividade 3 do GRUPO II As etapas da atividade podem ser resumidas no quadro abaixo : Quadro 6 - Atividade 3 GRUPO II, análise a posteriori Situação adidática Atividade 3 Ação Os alunos descrevem algumas circunferências, usam a nova ferramenta ensinada e, a partir disso, procuram encontrar o primeiro ponto do lugar geométrico Formulação Marcam circunferências com centros aleatórios. O grupo busca obter novos pontos, satisfazendo a propriedade dada. Validação Descobrem um padrão, dizendo que o lugar geométrico será uma reta. Constroem essa reta e, para validar o resultado, marcam mais algumas circunferências com centros na reta obtida anteriormente. Institucionalização O professor explica que esta atividade está relacionada com as duas atividades anteriores. Mostra que esta reta passa pelo ponto médio do segmento AB e forma com este um ângulo de 90o. Assim, o professor explica que 132 dado um segmento de reta de medida qualquer, esta reta obtida chama-se mediatriz deste segmento. 5.4.4 Análise a priori e a posteriori da atividade 4 Atividade 4 Dado o ângulo ABC abaixo, obter o conjunto de pontos que estejam à mesma distância das semi retas BA e BC A B C Figura 109 – Atividade 4 Análise a priori Nesta atividade as variáveis didáticas estão relacionadas com o conceito da bissetriz interna de um determinado ângulo. Espera-se que os grupos consigam estabelecer a distância apropriada entre os dois segmentos, fazendo uso do conceito de distância entre ponto e reta. Foi colocada a figura, formando um ângulo maior do que 900, sendo cada segmento não paralelo às bordas da folha para verificar a noção de projeção ortogonal, sem levar em consideração um desenho estereotipado. 133 GRUPO I Análise a posteriori O professor inicialmente explica o conceito de distância entre ponto e reta. Antes da realização da atividade, foi ensinado como usar o par de esquadros para marcar um ângulo de 900 e também como fazer uso do transferidor para conferir a determinação do referido ângulo. Logo após, foi explicada a experiência para o grupo de alunos. Eles compreenderam bem o enunciado e começaram a procurar o primeiro ponto, satisfazendo a propriedade pedida. O grupo sentiu uma dificuldade em marcar os pontos, pois não conseguiram obter uma distância apropriada entre o ponto e as duas retas, satisfazendo o enunciado. Isso acabou gerando uma insegurança no momento de se obter o lugar geométrico. Analisando a figura a), percebe-se essa dificuldade ”Estamos em dificuldades de achar os ângulos, cada ponto que a gente coloca, nunca da certo a mesma distância dos pontos AB e BC” . Depois de algum tempo, um elemento do grupo disse “primeiro a gente acha o meio aqui” e pede para um colega medir o ângulo para verificar a validade da sua hipótese. O teste é feito, e o aluno confirma dizendo, “aí professor, vai dar mesmo, vai dar uma reta”. O grupo justifica essa afirmação, dizendo que no inicio foi formado um losango e, achando o meio dessa figura geométrica, conseguiriam obter os outros pontos. Observando a figura b), nota-se que o grupo encontrou de certa forma a solução do problema, pois o lugar geométrico pedido é a bissetriz interna do ângulo dado, mas houve um erro, pois esta reta deveria ter origem no vértice B . Acreditase, então, que esse ambiente dificultou um pouco na visualização do conjunto de pontos. Os alunos não conseguiram obter de forma mais precisa o conjunto de pontos pedidos, sendo levados ao erro no momento de obterem este lugar geométrico. 134 Figura a) Figura b) Figura 110 : Resolução da atividade 4 do GRUPO I As etapas da atividade podem ser resumidas pelo uso do quadro abaixo : Quadro 7 - Atividade 4 GRUPO I, análise a posteriori Situação adidática Atividade 4 Ação O professor ensina o grupo a usar o par de esquadros e o transferidor, explica o conceito de distância entre ponto e reta. Os alunos começam a procurar o primeiro ponto do lugar geométrico. Formulação O grupo obtém um ponto que esteja próximo à bissetriz interna. Pegam o par de esquadros para obterem uma projeção de 90o com um dos lados do ângulo dado. Com o transferidor, conferem o valor determinado e assim conseguem determinar o primeiro ponto. Com isso, conjecturam que os outros pontos devam pertencer também à bissetriz interna do referido ângulo. Validação Traçam uma reta e validam o resultado, dizendo que o conjunto de pontos determinará vários losangos e, 135 assim, qualquer ponto pertencente a diagonal destes será a solução. Com isso, dizem que o lugar geométrico pedido é uma reta. Institucionalização O professor explica o conceito de bissetriz interna de um ângulo, dizendo que esta divide o ângulo em duas partes de mesma medida e que a solução será uma semi – reta com origem no vértice do ângulo dado. GRUPO II Análise a posteriori O professor inicialmente explica o conceito de distância entre ponto e reta. Apresenta ao grupo a ferramenta “reta perpendicular” e mostra a funcionalidade dessa ferramenta. Os alunos descrevem uma reta na tela do Cabri – Géomètre, marcam um ponto qualquer fora desta e traçam a perpendicular a esta reta passando por este ponto. Após este início de explicações, é apresentada a atividade. O grupo lê o enunciado e, da mesma forma que ocorreu com o primeiro grupo, compreendem bem o que foi pedido. Marcam um ponto interno ao ângulo dado e traçam uma perpendicular aos segmentos AB e BC passando por este ponto. Com a ferramenta “distância e comprimento”, movimentam o ponto até obter a mesma projeção ortogonal aos segmentos AB e BC. O procedimento é repetido mais duas vezes, e o grupo dialoga entre si, dizendo que a resposta será uma reta. Eles escondem os objetos auxiliares e traçam uma reta passando por dois pontos obtidos, que irá passar também pelo ponto B. Neste caso, mesmo em se tratando de uma construção mole, o grupo obteve o resultado da figura b), pois foi usada uma grande precisão no momento de arrastar os pontos desejados. Não foi usada uma construção robusta. Desse modo o grupo poderia recair no mesmo erro do GRUPO I, que acabou traçando uma reta sem considerá-la passando pelo ponto B. Um item favorável a este ambiente é realmente a facilidade que oferece no momento de obter uma precisão bem melhor de algum resultado envolvendo uma construção mole, se comparado ao ambiente papel e lápis. 136 Lendo a análise do grupo, percebe-se uma grande dificuldade em explanar o resultado obtido. A reta (bissetriz interna) irá dividir o ângulo no meio, mas não formará um ângulo de 900 com os dois segmentos de reta. Neste caso faltou ao grupo um pouco de critério, pois foi observando somente a figura é que chegaram a essa conclusão. Nesta atividade o grupo não havia tomado conhecimento da ferramenta “ângulo”, que só foi apresentada na atividade 5 e, por este fato, acreditase que este erro possa ter acontecido. Figura 111 : Resolução da atividade 4 do GRUPO II 137 As etapas da atividade podem ser resumidas pelo uso do quadro abaixo : Quadro 8 - Atividade 4, GRUPO II análise a posteriori Situação adidática Atividade 4 Ação O professor ensina o grupo a usar a ferramenta “reta perpendicular”, explica o conceito de distância entre ponto e reta. Os alunos começam a procurar o primeiro ponto do lugar geométrico. Formulação Traçam as perpendiculares aos segmentos dados, ajustam os pontos de forma a obterem a mesma projeção ortogonal. Conjecturam que o lugar geométrico será uma reta. Validação Apagam os objetos auxiliares, marcam mais alguns pontos e validam o resultado, construindo uma reta passando por dois destes pontos, dizendo que esta irá dividir o ângulo em duas partes de mesma medida. Institucionalização O professor explica o conceito de bissetriz interna de um ângulo, dizendo que esta divide o ângulo em duas partes de mesma medida e que a solução será uma semi – reta com origem no vértice do ângulo dado. 138 5.4.5 Análise a priori e a posteriori da atividade 5 Atividade 5 Dado segmento de reta AB, obter o conjunto de pontos que vêem esse segmento sob um ângulo de 900 B A Figura 112 – Atividade 5 Análise a priori Nesta atividade estaremos propondo a construção do lugar geométrico circunferência. Espera-se que o aluno seja capaz de marcar ângulos com um transferidor ou com as ferramentas do Cabri – Géomètre II a fim de descobrir que o conjunto desses pontos dará um circunferência. Acredita-se que os alunos que fizerem uso do ambiente de geometria dinâmica terão uma maior facilidade de obter este referido lugar geométrico e conseguirão uma visualização mais primorosa, facilitando, assim, a visualização de possíveis características deste lugar geométrico. GRUPO I Análise a posteriori O professor ensina o grupo a usar o transferidor. Os alunos realizam algumas atividades preliminares, medindo alguns ângulos dados pelos pesquisador. Marcam um primeiro ponto, que eles chamam de ponto C. Pela figura a) observa-se que eles 139 apenas deslocam o transferidor sobre o segmento de reta, obtendo pontos que formam retas paralelas ao segmento dado. Em determinado momento, o grupo entra num primeiro consenso, quando um dos elementos diz “vai aumentando aqui,vai formando um retângulo que não fecha em cima”. Um outro aluno questiona se é possível obter pontos abaixo do segmento AB. O grupo abre uma discussão e todos concordam que é possível obter pontos abaixo de AB. Em seguida, o grupo decide que o lugar geométrico será formado por várias retas que darão origem a diversas formas geométricas. O professor, observando os resultados, para a atividade e explica novamente como se deve usar o transferidor, pois percebe que o grupo não compreendeu bem o uso deste instrumento. Dessa forma, a atividade é refeita. Começam a usar novamente o transferidor e marcam, após diversas tentativas, o primeiro ponto que chamam de c (figura b). Uma grande dificuldade é encontrada para se obter pontos satisfazendo o lugar geométrico. O grupo não consegue prosseguir de forma satisfatória. Usando o método da tentativa e erro, vão marcando pontos e medindo o ângulo que cada um forma com o segmento dado. Acabam se detendo na parte de cima do desenho e não observam que poderia existir uma semicircunferência. Concluem a atividade, dizendo da dificuldade que tiveram de obter os pontos. O grupo obtém o simétrico do ponto C, mas acaba concluindo de forma errônea que este não seria um ponto pertencente ao lugar geométrico. 140 Figura 113 : Resolução da atividade 5 do GRUPO I Quadro 9 - Atividade 5 GRUPO I, análise a posteriori Situação adidática Atividade 5 Ação O professor ensina para o grupo como usar o transferidor. O grupo lê e interpreta o enunciado. Marcam os primeiros pontos, fazendo uso deste instrumento. Formulação Usam o transferidor e marcam pontos que irão formar retas paralelas ao segmento dado. Dizem que o lugar geométrico será o conjunto de várias retas que dará origem a várias formas geométricas. Validação O pesquisador explica novamente o uso do transferidor e o grupo marca novos pontos no papel. O grupo obtém de forma coerente alguns pontos, mas não 141 consegue validar o resultado, não percebendo que poderia existir uma semi circunferência com o conjunto de pontos obtidos. Institucionalização O professor explica o conceito de ângulo inscrito em uma circunferência e sua relação com o arco que este determina, e após isso fala a respeito do referido lugar geométrico. GRUPO II Análise a posteriori Foi apresentada ao grupo a ferramenta “ângulo” e como usá-la para conhecer o valor de um ângulo determinado por 3 pontos. No caso em questão, para obter o valor de um ângulo qualquer, só é necessário um ponto fora do segmento AB, pois os pontos A e B são fixos. Tendo isso em mente, foi colocada a atividade para o grupo. Ao contrário do GRUPO I, que teve muitas dificuldades para obter algum resultado significativo, este grupo determinou de forma mais clara a solução do problema. Marcaram de início um ponto qualquer fora do segmento AB, criaram dois segmentos e com isso usaram a ferramenta “ângulo” para obter o valor do ângulo desejado. Manuseando os pontos colocados, foram ajustando seus valores até conseguirem obter ângulos de 900 e, com isso, obtiveram a figura a). Os alunos, no decorrer da discussão, perceberam que diversos triângulos seriam formados. No início, ficaram limitando os pontos somente na parte de cima da figura e com isso concluíram que o resultado daria uma semi circunferência, mas no decorrer da atividade pegaram pontos, considerando a figura como um todo. Assim, a hipótese estipulada foi derrubada e o grupo chegou a um consenso de que o lugar geométrico seria uma circunferência. Escondendo os objetos auxiliares, o grupo deixou somente os pontos obtidos, determinaram o ponto médio do segmento AB e, com a ferramenta circunferência, validaram o resultado, obtendo então a figura b) . 142 Figura 114 : Resolução da atividade 5 do GRUPO II Quadro 10 - Atividade 5 GRUPO II, análise a posteriori Situação adidática Atividade 5 Ação O grupo lê e interpreta o enunciado. Escolhem um ponto aleatório acima do segmento AB. Constroem dois segmentos ligando o ponto aos vértices do segmento AB. Deste modo usam a ferramenta “ângulo” e, arrastando o ponto, obtém um ângulo de 900, fazendose uso de uma construção mole. Formulação Pegam mais alguns pontos e vão realizando o mesmo procedimento. No primeiro momento se detém na parte de cima da figura e concluem que o lugar geométrico pedido será uma semicircunferência. Após este fato, uma discussão é aberta e o grupo busca encontrar 143 pontos abaixo do segmento dado, satisfazendo a propriedade requerida. Validação Observam, pela configuração dos pontos, que o lugar geométrico será uma circunferência. Validam o resultado, construindo uma circunferência com centro no ponto médio de AB, com diâmetro AB. Institucionalização O professor explica o conceito de ângulo inscrito em uma circunferência e sua relação com o arco que este determina, e após isso fala a respeito do referido lugar geométrico. 5.4.6 Análise a priori e a posteriori da atividade 6 Atividade 6 Dado um ponto A pertencente à circunferência, obter o conjunto de pontos de todas as secantes traçadas por A de tal modo que a parte interna de cada secante tenha o mesmo comprimento da parte externa. A Figura 115 : Atividade 6 144 Análise a priori Nesta atividade, o intuito é analisar o conceito de simetria axial para obter o lugar geométrico desejado . Espera-se que o grupo que fará uso da régua e do compasso no ambiente de papel e lápis use estes instrumentos para medir o comprimento de cada secante e, com isso, obter o seu simétrico com relação ao ponto pertencente à circunferência. Neste caso, por se tratar de uma simetria bem simples, acredita-se que os estudantes não terão maiores problemas em obter o referido lugar geométrico. No ambiente dinâmico, será apresentada a ferramenta “compasso” para que os alunos possam fazer transportes de segmentos e, assim, conseguir obter os pontos simétricos para a obtenção do lugar geométrico. Neste sentido, depois de analisada esta hipótese, será apresentada a ferramenta “simetria axial” e será verificada a diferença de metodologia usada pelos alunos. GRUPO I Análise a posteriori O professor explica o conceito de secante e, em seguida, ensina como fazer transporte de segmentos, usando o compasso, deixando bem claro que se pode fazer uso da régua graduada caso sintam necessidade de medir qualquer segmento. É feita a leitura da atividade para os alunos que conseguem compreender bem o enunciado, e desta forma começam a realizar a tarefa. O grupo escolhe a régua para medir os segmentos de cada secante. Procuram de forma intuitiva encontrar o centro da circunferência. Feito isso, traçam um diâmetro com vértice no ponto A e marcam o primeiro ponto sobre a circunferência que pertence ao diâmetro citado acima. Determinam assim a primeira secante interna. Chamam, na linguagem deles, de “ponto maior” (figura b) e com isso medem o diâmetro obtido e marcam a secante externa. Seguindo essa analogia, marcam outros pontos, concentrando-se na parte de cima da figura e chegam a uma primeira conclusão, dizendo que o lugar geométrico será uma semi circunferência. Um componente do grupo sugere marcar pontos ao redor de toda circunferência e, dessa forma, aumentam o número de pontos. O 145 grupo acaba considerando que o resultado pode ser um conjunto de diversas circunferências. Num determinado momento, um aluno coloca a ponta seca do compasso sobre a circunferência no ponto pertencente ao diâmetro passando por A. Com a outra ponta no vértice A, determina a circunferência que será o lugar geométrico pedido. O professor pergunta para o aluno por ele tomou essa decisão, e ele responde “peguei esse ponto, pois ele é o meio da circunferência, ele é o maior também ” . Na realidade, ele falou a respeito do diâmetro, não houve uma justificativa fundamentada em termos mais concretos para ter uma aceitação plausível desta resposta, mas, agindo dessa maneira, o grupo conseguiu obter o lugar geométrico pedido. Houve uma demora muito grande para a validação do resultado, o grupo discutiu diversas conjecturas até conseguir chegar ao resultado desejado. Figura a) Figura b) Figura 116 : Resolução da atividade 6 do GRUPO I 146 Quadro 11 - Atividade 6 GRUPO I, análise a posteriori Situação adidática Ação Atividade 6 O grupo lê o enunciado e faz as primeiras interpretações. De forma intuitiva, traçam o diâmetro da circunferência passando pelo ponto A e, a partir disso obtém o primeiro ponto da secante externa. Formulação Continuam o processo. Escolhem pontos pertencentes somente a uma determinada parte da figura e com isso concluem que o lugar geométrico será uma semi circunferência. Validação Tomam pontos em partes distintas e observam que a primeira hipótese não é coerente. De forma intuitiva, colocam a ponta seca do compasso sobre a circunferência no diâmetro determinado pelo ponto A e, com a outra ponta neste ponto, validam o resultado, dizendo que o lugar geométrico será uma circunferência. Institucionalização O professor explica que o lugar geométrico pedido será uma circunferência de raio igual ao diâmetro da circunferência dada e demonstra como obter esse respectivo resultado. GRUPO II Análise a posteriori Primeiramente é apresentada ao grupo a ferramenta “compasso” . Com isso, o professor mostra como fazer o transporte de um segmento dado, e o grupo realiza algumas atividades para se habituar com essa nova ferramenta. Logo após é apresentada a atividade. Os alunos não se preocupam em escolher o centro da circunferência para marcarem a primeira secante. Marcam um ponto qualquer pertencente à circunferência traçam o segmento determinado por este e o ponto A e, usando o compasso, encontram o primeiro ponto . 147 Analogamente repetem o processo, obtendo desta forma a figura a). O pesquisador notou uma dificuldade dos alunos ao usarem o compasso após este fato foi apresentada a ferramenta “simetria central”. Novamente, uma atividade complementar foi dada, explicando essa ferramenta antes de prosseguirem na atividade. Feito isso, o grupo marcou pontos aleatórios pertencentes à circunferência e, fazendo o simétrico dos pontos em relação ao ponto A, obtiveram o conjunto de pontos mostrados na figura b). Fazendo uso da simetria central, os alunos obtiveram o conjunto de pontos de forma bem simples, sem maiores problemas. Conseguiram visualizar de maneira coerente, que a resposta seria uma circunferência mas, usando uma construção mole, cometeram um equivoco no momento de validarem a resposta. O grupo não percebeu que o centro da circunferência maior seria simétrico do ponto A em relação ao cento da circunferência menor e, tomando um outro ponto da circunferência menor, construíram a circunferência da figura b), dizendo que esta era “ maior, mas não exata”. Conversando com o grupo, percebe-se que este termo foi usado no sentido de dizer que não conseguiram obter uma circunferência passando por todos os pontos obtidos usando - se a simetria central. Concluindo esta atividade, percebeu-se uma dificuldade em usar coerentemente o compasso, mas fazendo uso da simetria central, o grupo elaborou de forma bem rápida a solução da atividade, vislumbrando mais nitidamente o lugar geométrico pedido pelo professor. No momento final, quando validaram o resultado, não perceberam o centro da circunferência maior, mas obtiveram de maneira simples o resultado pedido. 148 Figura 117 : Resolução da atividade 6 do GRUPO II Quadro 12 - Atividade 6 GRUPO II, análise a posteriori Situação adidática Ação Atividade 6 O grupo lê o enunciado. Fazem as primeiras interpretações. Com a ajuda do compasso, traçam as primeiras secantes, procurando buscar o lugar geométrico pedido. Formulação Usam o compasso, procurando obter a solução. Verificando uma demora no momento de realizar a atividade, é apresentada ao grupo a ferramenta simetria central. Fazendo uso desta, os alunos conjecturam que 149 o lugar geométrico será uma circunferência . Validação Observam pela configuração Géomètre o que circunferência. lugar Validam, dada pelo geométrico fazendo uma cabri será - uma construção robusta, escolhendo um centro qualquer com um ponto pertencente à circunferência menor Institucionalização O professor explica que o lugar geométrico pedido será uma circunferência de raio igual ao diâmetro da circunferência dada e demonstra como obter esse respectivo resultado. 5.4.7 Análise a priori e a posteriori da atividade 7 Atividade 7 Sejam as retas r e s formando um ângulo de 90o entre si. Dado o ponto P pertencente a circunferência, seja P´ o simétrico de P em relação a reta r. Qual o conjunto de pontos que P´ irá formar enquanto P percorre a circunferência ? Figura 118 : Atividade 7 150 Análise a priori Nesta atividade espera-se que cada grupo consiga, de forma bem simples obter o lugar geométrico circunferência. Pela simetria da atividade acredita-se que não ocorrerá maiores dificuldades para se obter a solução em ambos os grupos. No GRUPO I poderá se fazer uso da régua ou do compasso para se fazer transporte de segmento. Mesmo com alguma imprecisão de medida acredita-seque não irá existir algum problema para validar o resultado. No GRUPO II, após as primeiras tentativas, será apresentada a ferramenta “rastro” , ferramenta esta que ajudará na validação do resultado final. Pelas atividades anteriores, pode-se imaginar que o grupo marque pontos em torno de P´ para visualizarem de forma mais ampla o lugar geométrico pedido obtendo dessa forma um resultado bastante significativo. GRUPO I Análise a posteriori Figura 119 : Resolução da atividade 7 do GRUPO I 151 Quadro 13 - Atividade 7 GRUPO I, análise a posteriori Situação adidática Atividade 7 Ação O grupo lê o enunciado. Procuram, usando os instrumentos obter o primeiro ponto simétrico de P. Formulação Marcam mais alguns pontos sobre a circunferência dada. Discutem entre si dizendo que o lugar geométrico será um semi círculo Validação Após uma intervenção do professor, os alunos procuram obter o simétrico do centro da circunferência dada e com um compasso validam o resultado descrevendo uma circunferência Institucionalização O professor explica o conceito de simétrico de um ponto com relação a uma reta e diz que, neste caso, pela configuração da atividade apresentada, o resultado será a reflexão da circunferência. GRUPO II Análise a posteriori O professor explica o enunciado para os alunos e estes, dizendo terem entendido, arrastam o ponto P sobre a circunferência e, com isso começam a discutir qual será o conjunto de pontos que dará origem ao Lugar geométrico. O grupo observa o ponto Q pertencente à reta r bem como o segmento PQ’ e, no primeiro momento, dizem que o Lugar geométrico será um retângulo. Analisando essa primeira idéia do grupo, percebe-se que o deslocamento deste segmento causou um problema na visualização do Lugar Geométrico no início da atividade. Tendo isso em mente, o pesquisador explica novamente o enunciado e pede que eles não se detenham ao movimento deste segmento. Dessa forma, o grupo abre uma nova abordagem e começa e fixar a visão em P’ e, desse modo, dizem que o resultado será uma circunferência. Um elemento do grupo questiona se existiria algum modo de obter pontos para ter uma visualização mais concreta da figura pedida, e um colega sugere arrastar o ponto P sobre a circunferência e, a 152 cada movimento correspondente de P’, pegar um ponto e demarcar este bem próximo de P’. Com isso, o grupo forma a circunferência mostrada na figura a) e dizem que o resultado será uma circunferência. Após esses fatos, o professor apresenta a ferramenta “rastro”, procurando responder ao questionamento do grupo com relação a uma melhor visualização da figura formada. Dessa forma, escrevem as conclusões que podem ser lidas na figura b). Observa-se, então, pelo desenrolar da atividade, uma dificuldade inicial de entendimento, mas depois de uma breve intervenção, conseguiram visualizar de forma clara o Lugar geométrico pedido, não apresentando maiores dúvidas no momento de validar o resultado. Figura 120 : Resolução da atividade 7 do GRUPO II 153 Quadro 14 - Atividade 7 GRUPO II, análise a posteriori Situação adidática Atividade 7 Ação O grupo lê o enunciado e manipulam o ponto P sobre a circunferência, procurando observar uma primeira configuração dada pelo movimento do ponto P’. Formulação Dizem que o Lugar geométrico será um retângulo. Acredita-se que essa primeira impressão se deu pelo fato de os alunos deterem a visão no movimento do segmento P’Q. Após isso, uma intervenção é feita e o grupo começa a realizar uma nova discussão. Validação O grupo movimenta o ponto P sobre a circunferência dada e observam que o Lugar Geométrico será uma circunferência. Procuram validar o resultado, marcando pontos sobre P’ conforme este se movimenta sobre a circunferência. Usando a ferramenta “rastro”, confirmam o resultado, dizendo que será uma circunferência . Institucionalização O professor explica o conceito de simétrico de um ponto com relação a uma reta e diz que, neste caso, pela configuração da atividade apresentada, o resultado será a reflexão da circunferência. 5.4.8 Análise a priori e a posteriori da atividade 8 Antes de se propor a atividade 8 uma explicação será dada a respeito da figura abaixo : Dadas duas retas concorrentes r e s no plano e um ponto P fora delas, traçamos por P uma reta paralela a s. Essa reta intercepta a reta r no ponto O. Sobre essa reta construímos um ponto P´ tal que a distância de P´ a O é igual a distância de P a O. O ponto P´ é chamado o simétrico de P em relação a r tomando como direção a reta s. Levando em conta essa explicação temos a atividade 8 descrita abaixo : 154 Atividade 8 Se o ponto P percorre uma circunferência situada num quadrante determinado por r e s, qual é o conjunto dos pontos P´ construídos conforme a descrição acima? Figura 121 : Atividade 8 Análise a priori Nesta atividade estaremos lidando com o conceito de simetria axial para obtermos o lugar geométrico pedido, que será uma elipse. Acreditamos que os grupos de alunos que farão a atividade no ambiente papel e lápis terão dificuldades em obter o referido lugar geométrico, pois a simetria aqui é mais elaborada e difícil de ser visualizada neste ambiente. No ambiente de geometria dinâmica a solução poderá ser vista e elaborada de forma mais simples, pois o ponto P poderá ser deslocado ao redor da circunferência e com isso os alunos terão uma imagem mental do referido lugar geométrico, usando também a ferramenta rastro a visualização ficará muito nítida nos mostrando desta forma a solução da atividade proposta. 155 GRUPO I Análise a posteriori Uma explicação do enunciado é feita pelo pesquisador. O pesquisador explica novamente ao grupo a noção de simetria. O grupo começa a atividade marcando alguns pontos. Percebe-se a incoerência da obtenção dos pontos simétricos conforme fica explicitado na figura a). Desta forma, uma nova explicação é dada. O professor tenta, sem intervir de forma a passar alguma informação que invalide a atividade, a diferença entre esta atividade e a anterior. Com isso, uma nova figura é obtida pelo grupo. Eles ficam em dúvida se seria mais fácil obter os simétricos usando uma régua ou um compasso e uma discussão é aberta. Os alunos optam por obter os simétricos, fazendo uso do segundo instrumento, mas declinam dessa atitude conforme pode ser visto na figura b). Outro ponto a se considerar é o pensamento do grupo de não considerar pontos na parte de baixo da circunferência. Eles concentram os pontos somente na parte de cima e isso acaba prejudicando o raciocínio e a visão no momento de obter o lugar geométrico. Não querendo fazer um número muito grande de intervenções, para não atrapalhar no resultado da atividade, é deixado que os alunos terminem a atividade e coloquem os resultados. Não conseguiram obter nenhum resultado satisfatório. Uma demora muito grande foi obtida para obter um número mínimo de pontos. Todo momento que se cometia algum erro a figura era apagada. A indecisão de se usar o compasso ou a régua para obter o simétrico gerou muita confusão e perda de tempo. O ambiente estático formado por estes materiais não contribui de forma satisfatória para o sucesso dos alunos nessa atividade. 156 Figura 122 : Resolução da atividade 8 do GRUPO I Quadro 15 - Atividade 8 GRUPO I, análise a posteriori Situação adidática Atividade 8 Ação O grupo lê o enunciado. Marcam os primeiros pontos procurando obter alguma configuração plausível Formulação Com um conjunto de pontos estabelecido dizem que o resultado será uma linha torta. Após algumas discussões, aumentam os números de pontos, mas não chegam a um acordo com relação a uma resposta aceitável por todos. Validação O grupo não consegue validar o resultado. Obtém somente, resultados inconclusivos, não podendo assim, chegar a uma conclusão que mostre algum resultado coerente. Institucionalização O professor explica para o grupo o conceito de simetria axial e a diferença existente entre esta atividade e a anterior. Desta forma é colocado o conceito de elipse como um lugar geométrico. 157 GRUPO II Análise a posteriori O professor explica o enunciado para o grupo. Fazendo uma associação com a atividade anterior o grupo arrasta o ponto P sobre a circunferência e analisa o movimento de P´. Dizem que o resultado será uma “boca de um buraco”, mas para terem certeza, utilizam a estratégia de demarcar pontos conforme P´ vai se movimentando, obtendo desta forma a figura a). Logo após, usam a ferramenta rastro e validam o resultado figura b). A execução da atividade foi bem rápida. Levando em conta a experiência anterior, o grupo conseguiu fazer um elo bem forte descobrindo na sua maneira de colocar os fatos que o lugar geométrico seria uma elipse. Neste ambiente, a validação foi bem rápida e precisa. Não existiu empecilhos que invalidassem as conclusões. O grupo conseguiu trabalhar de maneira bem coerente com os objetos. O software ajudou de forma bem nítida, fazendo com que o grupo encontrasse o resultado sugerido pelo professor. O poder de visualização dos conjuntos de pontos dados pelo Cabri_Géomètre quando P percorria a circunferência foi um fator preponderante, mostrando a eficiência deste meio, ao lidarmos com lugares geométricos que exigem uma acuidade visual maior por parte dos alunos. 158 Figura 123 : Resolução da atividade 8 do GRUPO II Quadro 16 - Atividade 8 GRUPO II, análise a posteriori Situação adidática Atividade 8 Ação O grupo lê o enunciado e manipulam o ponto P sobre a circunferência, procurando observar uma primeira configuração dada pelo movimento do ponto P’. Formulação Marcam pontos na tela do computador conforme P´ vai se deslocando. dizem que o resultado será uma “boca de buraco”. Validação Validam o resultado usando a ferramenta rastro, onde conseguem obter de forma nítida o formato da figura, uma elipse Institucionalização O professor explica para o grupo o conceito de simetria axial e a diferença existente entre esta atividade e a anterior. Desta forma é colocado o conceito de elipse como um lugar geométrico. 159 5.5 Considerações sobre as atividades As atividades propostas buscaram evidenciar o papel da Geometria Dinâmica como ferramenta facilitadora na aprendizagem de conceitos relativos ao tema lugar geométrico. O trabalho foi realizado levando em conta construções moles. Não se teve o intuito de fazer com que os alunos fizessem construções robustas usando o método dos lugares geométricos. Fazendo as devidas comparações entre as análises a priori e a posteriori das atividades propostas conseguiu-se notar de forma bem coerente um entendimento bem maior do aspecto de lugar geométrico no ambiente de Geometria Dinâmica. No início das atividades, notaram-se as mesmas dúvidas oriundas dos dois grupos e as mesmas dificuldades no entendimento dos enunciados, mas com o passar do tempo o grupo que realizou as atividades no ambiente dinâmico conseguiu retornar devolutivas bem mais rápidas e mais precisas para o pesquisador. O grupo do ambiente papel & lápis demorou um tempo considerável, se comparado ao outro, para obter um conjunto mínimo de pontos e dessa forma, conseguir algum resultado satisfatório. Notou-se um empecilho ao colocar os pontos nesse ambiente. A precisão no momento de realizar as atividades ficou comprometida. O fato de ter de apagar a todo o momento algum ponto que por ventura não tivesse satisfeito a referida propriedade dificultou o aprendizado das atividades. Outro ponto a ser considerado foi o manuseio dos instrumentos euclidianos. Em algumas atividades o uso da régua no momento de marcar distâncias acabou causando dificuldades. O uso do transferidor, mesmo depois de diversas intervenções do pesquisador, acabou sendo comprometido, pois mesmo sabendo fazer uso coerente desse instrumento, o método da tentativa e erro foi usado e dessa forma não foi possível existir uma validação por parte dos alunos. O ambiente dinâmico mostrou-se eficiente, pois no avançar das atividades o grupo conseguiu gastar um tempo bem menor e deu ao pesquisador devolutivas bem concretas na maior parte das tarefas propostas. O software Cabri-Géomètre II, bem como as ferramentas fornecidas por ele, desempenhou um papel primoroso na obtenção de diversos tipos de lugares geométricos. 160 A importância de se poder esconder objetos, apagar de forma simples pontos que poderiam ser desconsiderados na construção, a facilidade de movimentação de entes geométricos somados a ferramentas do tipo “simetria central”, “rastro”, “distância ou comprimento”, “medida de angulo”, “Esconder/Mostrar” e tantas outras, ajudaram a evidenciar a potencialidade deste meio em comparação ao ambiente estático. Logo, na obtenção de resultados relativos ao conceito de lugar geométrico fazendo-se uso de construções moles o ambiente dinâmico teve um desempenho bem melhor se comparado ao primeiro. Pelas análises a priori e a posteriori de todas as atividades, pouquíssimas contradições foram obtidas. Os resultados previstos pelo pesquisador foram satisfatórios, descrevendo, assim, as evidências favoráveis ao uso deste meio na sala de aula no estudo de lugares geométricos. 161 Conclusões e Considerações Finais Este trabalho se originou da tentativa de responder a duas questões ligadas a lugares geométricos e que surgiram durante a vida de estudante e de professor do autor. Primeira questão: Como o conceito de lugar geométrico tem sido tratado nos livros didáticos ao longo das últimas décadas? Segunda questão: O uso de um software de Geometria Dinâmica amplia as possibilidades de ação, formulação e validação em uma situação a-didática do estudo de lugares geométricos planos? Para tentar obter respostas para essas duas questões, o autor procurou um embasamento teórico e metodológico na Teoria da Engenharia Didática, na Teoria das Situações Didáticas e na Teoria do Contrato Didático. Para entender a formação do conceito de lugar geométrico, o autor procurou as origens históricas dos temas ligados ao lugar geométrico e levantou as construções das curvas clássicas da Geometria. Para a primeira questão, além de procurar apoio na História da Matemática para entender o conceito, foram analisados cinco livros didáticos que procuraram contemplar cinco períodos diferentes no século XX. A conclusão a que se chegou é que o conceito de lugar geométrico só foi formalizado pelos matemáticos no último século, embora desde a Antiguidade o assunto já fosse abordado, e isso se refletiu também nos livros didáticos do século XX. Os livros do início daquele século tratavam os problemas de lugares geométricos como problemas de geometria em geral. Da metade do século XX para frente é que o assunto passou a ter um destaque sendo abordado como um assunto quase que autônomo dentro da geometria. Os livros mais recentes já formalizam esse conceito, inclusive adotando métodos geométricos baseados em lugares geométricos. Para a segunda questão, além de desenvolver um capítulo referente ao software Cabri-Géomètre e sua relação com o conceito de lugar geométrico, foram elaboradas e aplicadas oito atividades exploratórias depois de uma análise a priori, como preconiza a Teoria da Engenharia Didática. As atividades foram aplicadas a 162 dois grupos distintos de estudantes. Um dos grupos trabalhou num ambiente estático de papel & e lápis e o outro grupo trabalhou num ambiente dinâmico apoiado pelo software Cabri-Géomètre. Foi de grande importância o papel do trabalho colaborativo vivenciado pelos dois grupos, caracterizado pelas situações a-didáticas. As situações de ação, onde o pesquisador colocava o problema e o grupo discutia as primeiras idéias, seguida pela etapa de validação onde cada elemento colocava a sua opinião, muitas das vezes em dissonância com o restante do grupo acabou se tornando algo muito benéfico. Diversos questionamentos foram levantados e a partir disso foi possível se caracterizar de forma plena a etapa da validação, onde o grupo consegue discutir de forma mais fluente a caracterização dos aspectos matemáticos envolvidos na atividade, procurando dessa forma, dar uma resposta coerente ao problema proposto. Com isso, foi possível ao pesquisador, colocar a etapa da institucionalização, desmitificando qualquer dúvida oriunda dos componentes de cada grupo. Dificuldades surgiram no decorrer do experimento. O pesquisador teve de fazer algumas interferências no decorrer das diversas atividades, visando auxiliar, sem dar qualquer tipo de “dica” ou resposta a cada um dos alunos, evitando dessa forma um efeito Topaze. Deve-se levar em consideração também, a falta de costume dos alunos na realização desse tipo de atividade, pois esta metodologia é pouco utilizada nas escolas brasileiras. Em todas as oito atividades ficaram evidenciadas as vantagens do ambiente dinâmico em relação ao ambiente estático, destacando três delas: 1) A quantidade de informação obtida no ambiente dinâmico é muito maior do que a obtida no ambiente estático. 2) A qualidade da informação obtida no ambiente dinâmico é muito melhor do que a obtida no ambiente estático. 3) O tempo de compreensão do problema e de institucionalização da resolução atividade é muito menor no ambiente dinâmico do que no ambiente estático. e isso responde à segunda questão. 163 Obviamente, as conclusões obtidas neste trabalho são parciais e incompletas, apenas apontando para conclusões já obtidas em outros trabalhos. Portanto não esgotam o assunto. Outros experimentos com outras atividades com outros sujeitos em situações distintas da situação descrita aqui deverão ser feitos para consolidar a impressão apontada neste experimento. Mais que a obtenção de respostas às duas questões, os resultados mais importantes para o autor foram o amadurecimento das ideias relativas ao conceito de lugar geométrico, a imersão na História da Matemática e no conhecimento de livros didáticos, às vezes, quase centenários, o desenvolvimento de um modo disciplinado de trabalho para atingir um objetivo e a alegria do trabalho em ambiente de Geometria Dinâmica com adolescentes interessados em aprender e progredir. 164 Referências Bibliográficas ALMOULOUD, S.; COUTINHO, C. Engenharia didática: características e seus usos em trabalhos apresentados no GT – 19 / ANPEd. REVEMAT – Revista Eletrônica de Educação Matemática. UFSC, v.3, n.6, 2008. Disponível em < http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/revemat >. Acesso em : 25 mar. 2011 ALVES, A. M. M. 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Caderno do aluno: matemática, ensino fundamental – 8ª série, 4º bimestre : SEE/CENP, 2009. _____ Secretaria de Estado da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Caderno do aluno: matemática, ensino médio – 2ª série, 4º bimestre : SEE/CENP, 2009. _____ Secretaria de Estado da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Caderno do aluno: matemática, ensino fundamental – 6ª série, 3º bimestre : SEE/CENP, 2009. SALLUM, E; ALVES, S. Construções alternativas para problemas insolúveis com régua e compasso. In: BIENAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MATEMÁTICA, 2., Bahia, BA. Mini Curso...2004. P. 1-16 SALLUM, E. Aparatos que desenham curvas. In: BIENAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MATEMÁTICA, 3., Goiás, GO. Mini Curso...2006. P. 1-22 SANTANA, J; NETO, H; ROCHA, E. A sequência Fedathi: uma proposta de mediação pedagógica no ensino de matemática. In : VIII ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, Recife, PE. Anais...2004 p. 1 - 11 SILVA, J. 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Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 2007. 110 p 170 ANEXOS Ficha de atividades Atividade 1 Dado um ponto A num plano e uma distância fixa d, obter o conjunto de pontos do plano que estejam a uma distância d deste ponto dado. A Atividade 2 Dado o segmento de reta AB abaixo, contido num plano , obter o conjunto de pontos do plano, pertencentes ou não a esse segmento de reta que estejam a mesma distância dos pontos A e B B A 171 Atividade 3 Dados dois pontos A e B, obter o conjunto de pontos formado pelos centros das circunferências que passam por A e B A B Atividade 4 Dado o ângulo ABC abaixo, obter o conjunto de pontos que estejam à mesma distância das semi retas BA e BC A B C 172 Atividade 5 Dado segmento de reta AB, obter o conjunto de pontos que vêem esse segmento sob um ângulo de 900 B A Atividade 6 Dado um ponto A pertencente à circunferência, obter o conjunto de pontos de todas as secantes traçadas por A de tal modo que a parte interna de cada secante tenha o mesmo comprimento da parte externa. A 173 Atividade 7 Sejam as retas r e s formando um ângulo de 90o entre si. Dado o ponto P pertencente a circunferência, seja P´ o simétrico de P em relação a reta r. Qual o conjunto de pontos que P´ irá formar enquanto P percorre a circunferência ? Atividade 8 Se o ponto P pertencente uma circunferência, qual é o conjunto dos pontos P´ construídos conforme a descrição acima ? 174 Ficha de respostas dos alunos Atividade 1 GRUPO I Atividade 1 GRUPO II 175 Figura a) Atividade 2 GRUPO I Atividade 2 GRUPO II Figura b) Figura c) 176 Figura a) Atividade 3 GRUPO I Figura b) Figura c) 177 Atividade 3 GRUPO II 178 Atividade 4 GRUPO I Figura a) Atividade 4 GRUPO II Figura b) 179 Atividade 5 GRUPO I Atividade 5 GRUPO II 180 181 Atividade 6 GRUPO I Figura a) Figura b) Atividade 6 GRUPO II 182 Atividade 7 GRUPO I Atividade 7 GRUPO II 183 Atividade 8 GRUPO I Atividade 8 GRUPO II