MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas Curso de Especialização em Línguas Estrangeiras Modernas Márcia Maria Frigotto AS RELAÇÕES ENTRE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM, MOTIVAÇÃO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS. CURITIBA 2006 MÁRCIA MARIA FRIGOTTO AS RELAÇÕES ENTRE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM, MOTIVAÇÃO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS. Monografia apresentada como requisito parcial a conclusão do curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, UTFPR. Orientadora: Prof{ Carla Barsotti, M.S. CURITIBA 2006 iii TERMO DE APROVAÇÃO Márcia Maria Frigotto A RELAÇÃO ENTRE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM, MOTIVAÇÃO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: Monografia aprovada com nota 85 como requisito parcial para obtenção de título de Especialista, pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Profª Carla Barsotti, MS Universidade Tecnológica Federal do Paraná Profº Egídio Romanelli, Dr. Universidade Federal do Paraná Pontifícia Universidade Católica do Paraná Profª Cláudia Beatriz Monte Jorge Martins, MS Universidade Tecnológica Federal do Paraná Coordenadora: Profª Carla Barsotti, MS Universidade Tecnológica Federal do Paraná CURITIBA 2006 iv AGRADECIMENTOS À minha mãe pela dedicação com que cuidou de minhas filhas para que eu pudesse estudar. Dedico Dedico esse trabalho a meu marido e minhas filhas. v SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................1 1.1 EXPOSIÇÃO DO ASSUNTO..................................................................................1 1.2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA.......................................................................2 1.3 HIPÓTESES ..........................................................................................................3 1.4 OBJETIVOS...........................................................................................................3 1.4.1 Objetivos Gerais .................................................................................................4 1.4.2 Objetivos Específicos .........................................................................................4 1.5 JUSTIFICATIVAS ..................................................................................................5 1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................6 1.7 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS ......................................................................7 2 O APRENDIZ DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E ALGUMAS VARIÁVEIS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM .......................................................................9 2.1 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS NO APRENDIZ DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS ........................................................................................................9 2.2 O ADOLESCENTE COMO APRENDIZ DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS............12 2.3 A MOTIVAÇÃO NA APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA..................15 2.4 AS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM NA APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA .........................................................................................................19 3 METODOLOGIA.....................................................................................................23 3.1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................23 3.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA .......................................................................23 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRAGEM ........................................................................24 3.3.1 O Ensino de Inglês aos Alunos Mantidos pela ONG.........................................26 3.3.2 O Grupo de Alunos Observados ............ .........................................................27 3.4 COLETA DE DADOS ..........................................................................................29 vi 3.4.1 Instrumentos de Coleta de Dados ....................................................................30 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS..........................................................33 4.1 RESULTADOS OBTIDOS....................................................................................33 4.2 DISCUSSÃO .......................................................................................................46 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................52 ANEXOS....................................................................................................................54 vii LISTA DE TABELAS TABELA 1 - RESULTADOS DAS AVALIAÇÕES ORAIS E ESCRITAS DOS ALUNOS DO PROGRAMA EM 2003, 2004 E 2005...............................................34 TABELA 2 – NOTAS DAS AVALIAÇÕES ESCRITAS E ORAIS DOS ALUNOS DE 17 E 18 ANOS – 2003 E 2004 ..................................................................36 TABELA 3 – NOTAS DAS AVALIAÇÕES ESCRITAS E ORAIS DOS ALUNOS DE 15 E 16 ANOS – 2004 E 2005 ........................................................37 TABELA 4 – USO DE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DO GRUPO DE 17 E 18 ANOS ......................................................................................38 TABELA 5 - USO DE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DO GRUPO DE 15 E 16 ANOS ......................................................................................40 TABELA 6 – O USO DE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DO GRUPO DE 13 E 14 ANOS ................................................................................41 TABELA 7 – ORIENTAÇÕES MOTIVACIONAIS NO GRUPO DE 17 E 18 ANOS ...................................................................................................43 TABELA 8 – ORIENTAÇÕES MOTIVACIONAIS NO GRUPO DE 15 E 16 ANOS ...44 TABELA 9 – AVALIAÇÃO DE AUTO – EFICÁCIA DO GRUPO DE 17 E 18 ANOS .45 viii TABELA 10 – AVALIAÇÃO DE AUTO – EFICÁCIA DO GRUPO DE 15 E 16 ANOS.........................................................................................................................46 ix RESUMO Este trabalho analisa o papel das estratégias de aprendizagem e da motivação no processo de aprendizagem do Inglês como língua estrangeira pelos alunos de um Programa Educacional no Paraná. O Programa faz parte de um projeto social não governamental que visa selecionar alunos com alto potencial educacional nas escolas públicas com fim de direcioná-los a escolas com mais recursos para que possam desenvolver melhor os seus talentos. A pesquisa abordou as possíveis causas de dificuldade no processo de aprendizagem da língua estrangeira pelos alunos mantidos pelo Programa, destacando-se as questões da motivação e do uso de estratégias de aprendizagem. O trabalho esta dividido em três partes: a primeira parte apresenta as características ideais parta um aprendiz de línguas ter sucesso, o adolescente como aprendiz de línguas, a motivação e as estratégias de aprendizagem. Na segunda parte, o Programa Educacional e os alunos são apresentados, é especificada a amostra e feita a coleta de dados. Para finalizar o trabalho os resultados das pesquisas são discutidos e são delineadas propostas de intervenção que possam auxiliar na solução dos problemas identificados no processo de aquisição da língua estrangeira pelos alunos do Programa. Palavras-chave Estratégias de aprendizagem, motivação, língua estrangeira, adolescentes. 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 EXPOSIÇÃO DO ASSUNTO Aprender uma língua estrangeira é indispensável na era da globalização e para muitos esta aprendizagem torna-se um desafio de considerável complexidade que exige do aprendiz uma série de características que muitas vezes não são passíveis de controle. Segundo BROWN (2000) aprender uma segunda língua, doravante mencionada como L2, é um processo longo e complexo que afeta profundamente o aprendiz e que requer dedicação total e envolvimento físico, intelectual e emocional para que se tenha sucesso. A aprendizagem da L2 envolve aspectos que vão muito além do domínio cognitivo, da habilidade lingüística, idade, aptidão, ou qualidade do processo de ensino aprendizagem. DORNYEI (2001) diz que o estudo de línguas é um evento social que exige a incorporação de uma variedade de elementos da cultura da língua alvo. Existem literalmente centenas de estudos que investigam a contribuição das diferenças individuais no processo de aprendizagem da L2 (WILLIAMS e BURDEN, 1997). São exemplos destes estudos A Teoria de Múltiplas Inteligências de GARDNER (1983), e a Aplicação de Estratégias de Aprendizagem de OXFORD (1990) que sugerem variáveis de relevada importância no estudo de línguas estrangeiras. Outro fator importante é a motivação. DORNYEI (2001), ressalta que a motivação desempenha um papel fundamental na determinação do sucesso ou fracasso em qualquer situação de aprendizagem. Segundo BROWN (2000) dentre as variáveis do domínio afetivo, a motivação é um dos fatores mais poderosos e que pode agrupar um outro grande número de variáveis significativas. Também no campo da afetividade existe um grande número de variáveis que compõem a personalidade do indivíduo que interferem profundamente na aquisição da L2. Aos fatores já mencionados, pode-se acrescentar ainda o fator idade. A influência das variáveis pessoais do domínio afetivo, como a inibição, ansiedade, empatia, auto - estima, motivação, entre outras, é notável em qualquer 2 idade, em qualquer atividade nova que o indivíduo se proponha a desenvolver . É, contudo, na adolescência que estas características desempenham um papel mais importante, pois o indivíduo ainda está em formação e dependendo do contexto social no qual o adolescente esteja inserido elas podem adquirir proporções imensuráveis. WILLIAMS e BURDEN (1997) argumentam que, apesar de serem características difíceis de serem mensuradas através de testes, é inquestionável o fato de que os aprendizes trazem muitas destas características individuais ao processo de aprendizagem e que estas terão um efeito tanto na forma como aprendem quanto no resultado desta aprendizagem. 1.2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA Após 10 anos trabalhando como professora e coordenadora do curso de inglês ofertado aos alunos pertencentes a um programa educacional mantido por uma ONG em Curitiba PR, cujo nome não será divulgado a pedido da direção, observamos que, embora talentosos, um número significativo de alunos adolescentes apresentavam dificuldade no processo de aquisição do inglês como língua estrangeira, principalmente no desenvolvimento da habilidade oral no segundo idioma . As questões relativas à motivação dos alunos em situação de aprendizagem da L2 e o uso reduzido de estratégias de aprendizagem nos pareceram ser problemas recorrentes e merecedores de estudo. Conforme explicam DORNYEI e OTTÓ (1998) as oscilações na motivação em cursos de longa duração podem provocar períodos de queda de rendimento e dificuldades na aprendizagem. As características individuais do domínio afetivo, principalmente as que se relacionam com a percepção do “eu” como o auto conceito, descritos por WILLIANS e BURDEN (1997) e apresentados no capítulo dois deste trabalho e a inibição, poderiam ser os agentes influenciadores da motivação dos aprendizes. Notamos que após algum 3 tempo de exposição ao ambiente interativo e desafiador estabelecido pelo grupo de aprendizes, alguns indivíduos adotaram uma atitude defensiva e silenciosa nas aulas, gerando dificuldades de assimilação e fixação dos conteúdos e queda de rendimento. A proposição desta pesquisa é estudar o perfil e a atitude dos alunos pertencentes a este programa em relação à aprendizagem da L2, procurando identificar o fatores influenciadores da motivação e as possíveis causas para o sucesso ou fracasso destes alunos no processo de aquisição da L2. 1.3 HIPÓTESES São hipóteses da pesquisa: - a falta de motivação intrínseca para aprender a L2 é um dos fatores geradores da dificuldade de aprendizagem dos alunos do programa; - os alunos do programa que apresentam rendimento abaixo da média não utilizam um grande número de estratégias de aprendizagem nas suas abordagens à língua estrangeira; - os alunos do programa que fazem o uso consciente ou inconsciente de estratégias de aprendizagem apresentam melhores performances. - os alunos com avaliação de performance oral insatisfatória não utilizam um grande número de estratégias de aprendizagem afetivas ou sociais. 1.4 OBJETIVOS A proposta deste trabalho é desenvolver uma pesquisa qualitativa e quantitativa procurando verificar, através da coleta e análise dos dados dos alunos 4 pertencentes ao programa mencionado, características individuais de motivação ou a ausência delas. Também será acessado o volume de utilização de instrução baseada em estratégias pelos aprendizes do curso de inglês como língua estrangeira. 1.4.1 Objetivo Geral O objetivo desta pesquisa é o de estabelecer relações entre estratégias de aprendizagem, motivação e o desempenho dos alunos de um programa educacional na aprendizagem da L2. 1.4.2 Objetivos específicos Os objetivos específicos da monografia são: - identificar o tipo de motivação que dirige os alunos para o aprendizado do inglês como língua estrangeira; - verificar se os alunos utilizam estratégias de aprendizagem nas suas abordagens à língua estrangeira; 5 1.5 JUSTIFICATIVA Com o objetivo de tentar aprofundar as observações coletadas ao longo dos 10 anos ensinando inglês para alunos pertencentes ao programa, e elaborar estratégias que possam auxiliar os alunos com dificuldades, resolvemos desenvolver um estudo no ambiente de aprendizagem. O grupo de alunos analisado é composto de aprendizes com idade de 13 a 18 anos, selecionados pela ONG através de testes e entrevistas que procuram acessar o potencial educacional do aluno, bem como o seu comprometimento e interesse na aprendizagem. Um dos pré-requisitos para a admissão no programa é o rendimento escolar acima da média 70 e a dedicação aos estudos. A permanência no programa está vinculada a manutenção dos parâmetros estabelecidos e o baixo rendimento no inglês pode ser eliminatório. Nesta pesquisa procuramos ampliar a compreensão das questões emocionais e de aprendizagem da L2 dentro do programa. A sua importância para ampliar o conhecimento esta no enfoque dado a questão da motivação em alunos adolescentes considerados talentosos, mas que não apresentam um bom rendimento quando colocados em situação de aprendizagem do inglês como língua estrangeira. A abordagem da motivação no ambiente de aprendizagem como uma variável mutável e flexível, que pode passar por diversas fases no decorrer de cursos de longa duração, contribui para o entendimento de situações de aprendizagem em que o baixo rendimento dos aprendizes parece não condizer com a sua capacidade educacional. Os estudos envolvendo a utilização de estratégias de aprendizagem, consciente ou inconscientemente, em relação ao fracasso ou sucesso no processo de aquisição da L2, também são contribuições importantes para o entendimento do processo de aprendizagem da L2 e para o desenvolvimento de abordagens que possam auxiliar na reversão das dificuldades de aprendizagem dos estudantes de L2. 6 1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Em busca da melhor fundamentação para este trabalho procuramos verificar as teorias do conhecimento e da aprendizagem de línguas estrangeiras modernas que teriam maior correspondência com os aspectos descritos. Optamos por estruturar o trabalho principalmente nas teorias de DORNYEI (1998,2001), OXFORD (1990), GARDNER,(1994), BROWN (2000, 2001) e WILLIANS e BURDEN (1997). Todos estes autores confirmam a inter-relação entre a aprendizagem de uma segunda língua e as características de personalidade individuais, a motivação, e a importância do uso de estratégias de aprendizagem. A autora tentará estabelecer um parâmetro entre a teoria apresentada pelos autores e as observações feitas na prática como professora de Inglês. A pesquisa apresentará um resumo teórico da influência relevante da motivação no comportamento do aprendiz em sala de aula, de variáveis do domínio afetivo que podem reverter à motivação positiva dos aprendizes, e de estratégias de aprendizagem (OXFORD, 1990) e de motivação (DORNYEI, 2001) delineadas para servirem como meio de intervenção para restaurar ou despertar a motivação dos alunos. A ênfase será dada principalmente as questões que se referem aos possíveis fatores responsáveis pela instabilidade da motivação no adolescente em situação de aprendizagem extensiva. A manutenção ou reversão da motivação durante o curso e as possíveis causas desta mudança no ambiente de aprendizagem altamente competitivo e com altos níveis de stress e exigência também serão abordados. A parte prática do trabalho seguirá os seguintes passos: 1-) Levantamento de resultados dos alunos adolescentes nos últimos 3 anos para averiguar o percentual de aprendizes com baixo desempenho em nota e em proficiência oral. 2-) Separação dos resultados dos dois últimos anos do grupo de alunos utilizado como amostra. 7 3-) Aplicação dos instrumentos utilizados para a coleta de dados sobre a motivação e a utilização de estratégias de aprendizagem aos alunos. Serão utilizados como instrumentos de coleta de dados o Inventário de Estratégias para o Aprendizado de Línguas (SILL) de OXFORD (1990); um questionário com perguntas fechadas sobre a motivação adaptado de NOELS (2000); e um questionário de avaliação da percepção de auto eficácia no uso de inglês adaptado de NOELS (2000). 4-) Compilação dos resultados e elaboração do diagnóstico. Será desenvolvido um comparativo de resultados do grupo de alunos com a teoria apresentada para que se possa, ou não, estabelecer uma relação entre os resultados menos expressivos e os problemas observados em sala de aula com estes alunos. O grupo utilizado como amostra é composto de alunos cursando o nível intermediário e avançado do inglês. Os alunos têm entre 13 e 18 anos e estão cursando o nível médio e a faculdade. 1.7 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS Dando continuidade ao exposto nesta primeira parte, o segundo capítulo apresenta o referencial teórico dos autores já citados. Serão apresentadas as características desejáveis em um bom aprendiz de línguas estrangeiras segundo alguns teóricos; o adolescente como aprendiz de línguas estrangeiras; a motivação e as variáveis afetivas que podem influenciá-la com o enfoque dado pelos autores citados, entre outros. No terceiro capítulo o programa ao qual pertencem os alunos é apresentado; as características do curso de línguas e do grupo utilizado como amostra são especificadas. Também no capítulo três, introduzimos os instrumentos de coleta de dados e o processo de aplicação dos mesmos. No capítulo quatro apresentamos os resultados obtidos e a discussão. Em seguida, apresentamos as propostas de intervenção com base, principalmente nas pesquisas e trabalhos de 8 OXFORD (1990) e DORNYEI (2001). Para finalizar, são apresentadas as considerações finais com uma retomada das informações expostas anteriormente. 9 2 O APRENDIZ DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS 2.1 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS NO APRENDIZ DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS Os questionamentos sobre o que caracteriza e identifica o aprendiz de línguas eficaz são freqüentes. A literatura sobre o assunto é bastante extensa e ao lermos tais textos nos deparemos com um número de variáveis influenciadoras que vão desde a idade, motivação, características cognitivas, características individuais, até o tipo de abordagem utilizada. Segundo BROWN (2000) as características que teoricamente identificam um aprendiz de línguas eficaz são, quase sempre, difíceis de serem mensuradas, e, portanto, não são de fácil apresentação. No entanto, parece haver um consenso entre os pesquisadores com relação a algumas delas, as quais serão apresentadas brevemente neste capítulo. A idade do aprendiz parece ser um dos fatores que influencia grandemente a aprendizagem e a competência na segunda língua, tanto no domínio cognitivo quanto no afetivo. BROWN (2001) enumera uma série de fatores relevantes que diferenciam o aprendiz de línguas de acordo com a sua idade como: desenvolvimento intelectual, tempo de concentração, fatores afetivos entre outros, e que quando não respeitados podem determinar baixas performances no aprendizado da língua estrangeira. Para OXFORD e SCARCELLA (1992) a idade do aprendiz é o fator determinante de sucesso ou fracasso na aquisição de estruturas gramaticais mais comumente citado pelos pesquisadores. KRASHER, LONG e SCARCELLA (1982), argumentam que os adultos se sobressaem na fase inicial da aprendizagem, mas os aprendizes mais jovens são mais eficazes considerando-se períodos mais longos e conseguem desenvolver performances mais próximas à dos falantes nativos em termos de pronúncia. BROWN (2000) diz que os adultos são mais vulneráveis aos efeitos e interferência da primeira língua na aprendizagem da 10 língua estrangeira, entre outras perspectivas significativas sobre a idade da aquisição da língua estrangeira. Segundo BROWN 1 (2000), o domínio afetivo também apresenta fatores importantes na distinção da aprendizagem em diferentes fases da vida do indivíduo, como na pré-adolescência, por exemplo, quando os indivíduos estão começando a desenvolver inibições e é concebível que tenham considerável dissonância afetiva para superar quando tentam aprender a segunda língua. Para WILLIANS e BURDEN (1997) variáveis como a inibição tem elevada importância no sucesso da aprendizagem de uma língua estrangeira e a forma como a criança atravessa este período de amadurecimento pode determinar a habilidade que o futuro adolescente terá em gerenciar este tipo de emoção no ambiente de aprendizagem. Além da inibição, existe um número de características emocionais que podem ser fatores determinantes do sucesso ou fracasso de um aprendiz de línguas em qualquer idade, mas que são delineadas na infância e pré-adolescência. Segundo ERIKSON, a adolescência é um período no qual a procura pela identidade produz um desafio chave. Se este forte senso de identidade pessoal não está estabelecido, então o resultado pode ser a confusão de papéis, falta de objetivo e comportamento anti-social. De acordo com DORNYEI (2001), o entusiasmo, a dedicação e a persistência do aprendiz também são fatores decisivos no sucesso ou fracasso da aprendizagem da língua estrangeira. Os três fatores acima citados estão diretamente ligados à motivação do aprendiz para o aprendizado da língua estrangeira. DORNYEI (2001) diz que aprendizes com motivação suficiente podem desenvolver um certo grau de domínio do segundo idioma independente da sua aptidão ou outras características cognitivas. Existe um grande número de trabalhos publicados que citam a motivação do aluno como um dos fatores de maior relevância no sucesso da aquisição da L2, NOELS (2000), DORNYEI (1998) DORNYEI (2001), BROWN (2000) BROWN (2001). 1 Todas as traduções foram feitas pela autora. 11 O modelo de motivação de WILLIAMS E BURDEN (1997) ressalta que a motivação envolve pelo menos três estágios: o despertar do interesse, a manutenção deste interesse e o tempo, energia e esforço investidos para se alcançar certos objetivos. Segundo OXFORD E SCARCELLA (1992), a importância da motivação e da atitude do aprendiz na determinação do sucesso na aprendizagem da L2 é inquestionável. A atitude positiva e aberta e o interesse do aprendiz pela cultura das comunidades da língua alvo também caracterizam um aprendiz de línguas de sucesso. Especialmente em contextos de aprendizagem de segunda lingua, o sucesso na adaptação dos aprendizes à nova cultura vai afetar o sucesso na aquisição da língua, e vice versa, de muitas formas significativas” (BROWN,2001, p. 65). Segundo GARDNER (1985) aprendizes de L2 eficientes sabem que é praticamente impossível dissociar a aprendizagem da segunda língua de elementos da tradição e costumes dos falantes nativos da língua e, portanto, procuram oportunidades de aprender sobre aquela cultura, mesmo quando os seus motivos para aprender a língua alvo não são relacionados com interesse social ou cultural. “A aprendizagem de uma língua é um evento profundamente social que requer a incorporação de uma vasta escala de elementos da cultura da língua estrangeira (DORNYEI 2001,15)”. Segundo OXFORD e SCARCELLA (1992), a capacidade de identificar e aplicar estratégias de aprendizagem de acordo com as suas características e estilos pessoais e desenvolver outras que possam testar a eficiência das mesmas, é também uma habilidade poderosa em aprendizes de línguas estrangeiras talentosos. A aplicação de estratégias de aprendizagem resulta em desenvolvimento da proficiência e da auto-confiança em muitas situações. Estratégias são especialmente importantes para o aprendizado de línguas porque elas são ferramentas ativas, de envolvimento auto direcionado que são essenciais para o desenvolvimento da proficiência na comunicação.” (OXFORD E SCARCELLA 1992, p 63). Um bom aprendiz de línguas desenvolve e aplica inconscientemente estratégias variadas, de acordo com a habilidade específica sendo desenvolvida, sem nunca ter sido orientado para isto. No entanto, segundo DORNYEI (2001) um 12 professor eficiente pode ensinar aos seus alunos como desenvolver o hábito de utilizar estratégias para melhorar suas performances na aprendizagem da língua estrangeira. Segundo BROWN (2001), nos últimos anos a metodologia no ensino de línguas tem demonstrado um aumento dramático de atenção ao que o autor chama de “investimento estratégico” que os aprendizes de línguas podem fazer em benefício do seu próprio desenvolvimento. DORNYEI (2001), diz que as características que podem determinar o sucesso ou fracasso da aprendizagem da L2 são extremamente individuais e, portanto, um investimento em metodologias que incentivem e treinem o aluno para uma educação mais independente, com ênfase para o uso de estratégias de aprendizagem que se moldem as necessidades e dificuldades pessoais, pode ser o caminho para a superação de dificuldades dos aprendizes não tão talentosos e com características menos positivas para a aprendizagem de uma segunda língua. Nesta seção vimos como a idade, variáveis emocionais, entusiasmo, dedicação e persistência, utilização de estratégias de aprendizagem e atitude frente ao processo de aquisição da L2 podem ser características de extrema importância na determinação do sucesso na aprendizagem da segunda língua. Na próxima seção apresentaremos o nosso foco de pesquisa, o adolescente, como aprendiz de línguas estrangeiras. 2.2 O ADOLESCENTE COMO APRENDIZ DE LINGUAS ESTRANGEIRAS O adolescente, segundo GARDNER (1994) é o ser humano em processo de formação, tendo suas características fina e delicadamente delineadas, em processo único de maturação, impressão de traços de identificação e personalidade. Segundo GARDNER (1994) estas características acompanharão o indivíduo pelo resto da vida e definirão suas qualidades e defeitos, pontos fortes e fraquezas, aptidões e inaptidões. Os meios familiar, cultural e social, ainda segundo GARDNER (1994), exercem grande poder de influência na formação daquilo que o autor chama 13 de um senso de eu, que é um amadurecimento do conhecimento da própria pessoa e do conhecimento de outras pessoas. Para GARDNER (1994) esta formação de um senso de eu é um processo de importância primordial pois a maneira de sua execução determinará se o indivíduo poderá funcionar com eficácia dentro do contexto social no qual vive. O adolescente é um ser que já desenvolveu maturidade suficiente para entender que em comunidades existem regras e que ele deve conviver com elas e respeitá-las, mas muitas vezes não desenvolveu maturidade suficiente para aceitar as críticas, imposições e pressões exercidas pela comunidade na esfera pessoal e como conseqüência não consegue expor-se a elas inconsequentemente. Adolescentes são as pessoas mais inseguras do mundo, nesta fase suas vidas estão vulneráveis a um número de pressões diferentes: pressões sobre namoro, pressões sobre drogas, pressões sobre gangues, pressões sobre os pais, pressões sobre roupas, pressões sobre a sexualidade, pressões sobre raça, pressões sobre notas, entre outras. (DAVID SCHEIDECKER e WILLIAM FREEMAN, apud DORNYEI, 2001, p 87”. Segundo DORNYEI (2001) a aprendizagem da língua estrangeira, neste contexto, vem adicionar, ao já sobrecarregado sistema do adolescente, mais um desafio, algo novo e desconhecido que para muitos adolescentes pode adquirir um tom ameaçador e expositivo incalculável. A aprendizagem de línguas é uma das matérias mais temidas devido à pressão de ter que operar usando um código relativamente limitado, os aprendizes são forçados a balbuciar como crianças o que pode ser o limite para alguém cuja identidade pessoal já está instável ou depreciada (DORNYEI, 2001. p. 40). Segundo BROWN (2000) o desenvolvimento da personalidade envolve universalmente o conceito que a pessoa tem de si mesma, a aceitação de si mesma, e a reflexão sobre si mesma como é vista na interação entre si e os outros e neste contexto as questões relativas ao “eu” são todas muito relevantes , e também todas muito relevantes na aprendizagem de uma língua estrangeira. O auto conceito, segundo WIILIAMS e BURDEN (1997) engloba todas as nossas percepções e concepções sobre nós mesmos e que formam o nosso senso de identidade pessoal. A auto-imagem, a auto-estima, e a auto-eficácia são os três aspectos do auto 14 conceito, que segundo WILLIAMS e BURDEN (1997), representam respectivamente: a imagem que temos de nós mesmos, os sentimentos associados com a nossa autoimagem, e a as nossas crenças sobre a nossa capacidade para atuar em certas áreas ou de realizar tarefas. Os autores WILLIAMS e BURDEN (1997) dizem que uma das implicações destes três aspectos diferenciados do auto conceito é que a forma como o adolescente vê a si próprio como aprendiz de línguas, pode ter muito pouca relação com a forma como ele vê a si mesmo como aprendiz em qualquer outra área acadêmica porque a sua percepção de auto eficácia em uma outra área acadêmica pode ser positiva. Segundo BROWN (2000) seria fácil afirmar que nenhuma atividade, cognitiva ou afetiva, pode ser desempenhada com sucesso sem um certo grau de auto-estima, autoconfiança, conhecimento de si mesmo e crença na própria capacidade para aquela atividade. Segundo WILLIAMS e BURDEN (1997), outro fator de grande influência no processo de aprendizagem da L2 é a ansiedade. Na adolescência, período em que o jovem deve tomar decisões que vão interferir no seu futuro, sem necessariamente ter maturidade suficiente para isto, não faltam motivos para ansiedade. Segundo BROWN (2000) três componentes de ansiedade na aprendizagem de línguas foram identificados por pesquisadores: a apreensão à comunicação, surgindo da inabilidade do aprendiz para expressar idéias e pensamentos de forma natural; o medo da avaliação social negativa, que surge da necessidade que o aprendiz tem de causar uma impressão social positiva nos outros; a apreensão com relação aos testes ou à avaliação acadêmica. Todos os três componentes estão muito presentes no ambiente de aprendizagem do adolescente. A motivação do aprendiz é, segundo DORNYEI (2001), uma variável de extrema importância no processo de aquisição da L2, em qualquer idade. Em seu construto de motivação o autor considera características como as de formação de personalidade, percepção do “eu”, ansiedade, inibição, como sendo influências motivacionais relevantes no comportamento do aprendiz em sala de aula e que podem determinar o sucesso ou fracasso na aprendizagem da L2. Na próxima 15 seção, apresentamos um panorama da motivação e o seu papel na aprendizagem da L2. 2.3 A MOTIVAÇÃO NA APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESTRANGEIRA A motivação tem sido, segundo DORNYEI (2001), constantemente aclamada como uma das mais poderosas variáveis na aprendizagem de uma língua estrangeira. A sua definição não parece ser de fácil formulação, pois a literatura sobre o assunto nos campos da psicologia e do ensino de línguas é bastante rica e vasta e a apresentação de todos os trabalhos seria muito extensa. Objetivando uma apresentação mais concisa, nesta seção serão abordados apenas os trabalhos de alguns autores no campo do ensino de línguas. O Modelo Sócio Educacional de Aprendizagem de Línguas de GARDNER (1985) define a motivação aplicada à aprendizagem da L2 como sendo uma combinação de desejo e esforço para se atingir o objetivo de aprender a língua aliado a atitudes favoráveis para com o aprendizado da língua. Neste trabalho, o autor desenvolveu uma bateria de testes com o objetivo de mensurar o desejo do aprendiz em aprender a língua, a intensidade da motivação, e as atitudes do aprendiz com relação ao aprendizado da língua. GARDNER (1985) também faz a distinção entre orientação integrativa e orientação instrumental na motivação. A orientação integrativa ocorre quando o aprendiz está estudando a língua porque tem um desejo de identificação com a cultura dos falantes daquela língua, enquanto que uma orientação instrumental descreve um grupo de fatores relacionados com o surgimento da motivação a partir de objetivos externos, como passar em exames, gratificação financeira, ou ser promovido no trabalho. BROWN (2000) ressalta que embora originalmente se acreditasse que a motivação integrativa tivesse uma correlação com desempenhos melhores na aprendizagem da L2, esta visão foi contestada por outros pesquisadores e atualmente acredita-se que a motivação integrativa pode ser mais importante em contextos de aprendizagem da língua como 16 segunda língua e a motivação instrumental podem produzir melhores desempenhos em contextos de aprendizagem onde o inglês funcione como língua estrangeira. A Teoria da Auto Determinação de DECI e RYAN (1985), que caracteriza a motivação como intrínseca ou extrínseca, tem contribuído muito na área de pesquisa sobre a motivação, pois ajuda a clarificar pontos importantes sobre o que motiva o aprendiz no processo de aquisição da língua estrangeira, como o que move um aluno a responder de um jeito e não de outro em determinadas atividades e situações. Segundo a teoria, quando uma situação, atividade, ou experiência gera interesse e prazer, e as razões para desempenhar a atividade estão relacionadas com a própria atividade, a motivação é provavelmente intrínseca, ou seja, vem de dentro do indivíduo. Quando a razão para desempenhar a atividade é o ganho de alguma recompensa ou prêmio, ou o preenchimento de alguma exigência, como passar em um exame, então a motivação é provavelmente extrínseca, despertada por razões externas. BROWN (2001) argumenta que as recompensas mais poderosas são aquelas que são intrinsecamente motivadas, pois o comportamento surge da necessidade, do querer, do desejo interior do indivíduo, desta forma o próprio comportamento é auto-gratificante e nenhuma gratificação externa é necessária. Segundo DORNYEI (1998), o desejo de ter auto iniciativa e de ser auto regulador são pré-requisitos para qualquer comportamento humano ser intrinsecamente gratificante. Além das duas teorias apresentadas, existe ainda um número de outros modelos relacionados por DORNYEI e OTTÓ (1998). Estes modelos tentam reduzir o número de variáveis para explicar uma porção significativa de variação no comportamento humano, dentre as quais se destacam a Teoria da Expectativa e Valor, a Teoria da Atribuição, a Teoria da Auto Eficácia e a Teoria da Auto Valorização. Segundo os autores, na Teoria da Expectativa e Valor se assume que a motivação para desempenhar certas atividades é produto da expectativa que o aprendiz deposita no sucesso e no valor que o sucesso tem para o aprendiz. Já a Teoria da Atribuição, deposita a ênfase em como o aprendiz processa as situações passadas de sucesso e fracasso enquanto que a Teoria da Auto Eficácia, refere-se ao julgamento que o aprendiz tem da própria capacidade na realização de 17 determinadas tarefas. Finalmente a teoria da Auto Valorização, defende que as maiores prioridades do ser humano são a necessidade de auto aceitação e a manutenção de uma imagem positiva. Segundo DORNYEI e OTTÓ (1998), do ponto de vista de delineação de intervenções motivacionais em sala de aula é necessário um modelo particularmente eclético que liste todos os principais motivos que possam ter um impacto no sucesso na aprendizagem. Para os autores apesar de algumas variáveis chaves realmente parecerem ter um efeito destrutivo na aprendizagem em geral, o número de influências que são fundamentais é muito mais extenso do que uma teoria individual pode sugerir. DORNYEI e OTTÓ (1998), consideram que todos os processos de aquisição de conhecimento em longo prazo apresentam características motivacionais diferentes daquelas apresentadas em atividades de realização em curto prazo. Os modelos a seguir, embora propostos anteriormente ao trabalho de DORNYEI e OTTÓ (1998), também seguem a mesma linha de pensamento. Seguindo uma nova tendência no pensamento dos pesquisadores no campo da L2, DORNYEI (1994) propôs uma abordagem educacional de motivação mais voltada para a perspectiva da sala de aula. Neste modelo o autor conceitua a motivação em três níveis: o nível da língua, o nível do aprendiz e o nível da situação de aprendizagem. O nível da língua representa os elementos tradicionais da motivação na L2 associados à integração e instrumentação, como por exemplo a cultura; o nível do aprendiz envolve as características individuais que o aprendiz traz ao processo de aprendizagem, como a auto confiança. Já o nível da situação de aprendizagem está associado a motivos situacionais específicos enraizados em vários aspectos da aprendizagem da língua estrangeira no ambiente de sala de aula. Neste nível são abordados os fatores relativos aos componentes específicos do curso, os componentes específicos da motivação do professor de línguas, e os componentes relativos às características do grupo de aprendizes. Outro modelo que segue a proposta de uma abordagem educacional de motivação e é bastante influente entre os pesquisadores é o modelo de WILLIAMS e BURDEN (1997). Os autores apresentam uma definição de motivação que parte de 18 um princípio essencialmente cognitivo, mas que se encaixa num molde social construtivista. Segundo a visão de motivação dos autores a motivação de um aprendiz está sujeita a influências sociais e contextuais que incluem o cenário cultural, a situação social, e a interação do indivíduo com outras pessoas. Neste modelo a motivação do aprendiz segue três fases, sendo as duas primeiras mais relacionadas com a motivação inicial, e a terceira com a manutenção desta motivação. Os fatores de influência são agrupados em duas categorias, internos e externos. Cada categoria então apresenta um número de componentes de relevância seguindo alguns temas atuais da psicologia educacional. Nesta visão a motivação seria então um estado de despertar de interesse emocional e cognitivo que levaria o indivíduo a tomar uma decisão consciente de agir que dá origem a um período de esforço físico e intelectual para se atingir um objetivo previamente estabelecido. Mais recentemente DORNYEI e OTTÓ (1998), DORNYEI (2001) apresentaram uma visão de motivação que, segundo DORNYEI (2001) traz um elemento novo e que reflete uma nova abordagem. O modelo apresenta uma visão dinâmica da motivação, considerando as mudanças que a motivação sofre no decorrer de cursos com duração longa. O novo elemento do modelo é a base em uma abordagem processo orientada. Segundo DORNYEI (2001), um modelo de motivação a ser aplicado à aprendizagem na escola deve considerar um eixo temporal, pois a motivação não pode ser vista como um atributo estável, que permanece constante por vários meses. Ao contrário, o que os professores podem observar em seus alunos é que a motivação flutua, atravessando períodos de instabilidade que a elevam ou reduzem. Tais períodos podem ser explicados por um número de fatores relevantes, como a época do ano escolar, ou o tipo de atividade na qual o aluno está envolvido. Neste modelo, a motivação consiste de várias fases distintas. Primeiro a motivação precisa ser gerada; segundo a motivação precisa ser mantida e protegida; finalmente, num terceiro momento, o aprendiz avalia retrospectivamente as suas atividades procurando identificar o que mais o motivou. Neste, como também em todos os outros modelos de motivação apresentados anteriormente, existem variáveis que podem reverter à motivação 19 positiva do aprendiz e interferir negativamente na aprendizagem da língua estrangeira. As características individuais do domínio afetivo que são mais frequentemente mencionadas pelos pesquisadores como fatores de influência na motivação do aluno no processo de aquisição da L2 são a ansiedade, a auto-estima, a habilidade para aceitar riscos, e a inibição. A utilização de estratégias de aprendizagem na manutenção da motivação inicial dos alunos, ou na reversão de dificuldades no processo de aprendizagem da L2, é reconhecidamente uma arma poderosa segundo autores como DORNYEI (2001), BROWN (2000) e WILLIANS e BURDEN (1997). A seguir apresentamos algumas considerações sobre o uso das estratégias de aprendizagem no ensino de L2. 2.4 AS ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS O uso de estratégias de aprendizagem e estratégias motivacionais no processo de aquisição da língua estrangeira tem sido constantemente correlacionado com o sucesso na aprendizagem da L2 (DORNYEI, 2001; DORNYEI, OTTÓ, 1998; OXFORD, 1990; BROWN, 2000; WILLIAMS, BURDEN, 1997; COHEN, 1998 et. al). Segundo Cohen (1998), o termo estratégias, no sentido aplicado a línguas estrangeiras, tem sido usado para denominar o movimento consciente feito pelos falantes de línguas estrangeiras com o intuito de serem eficientes falando ou aprendendo línguas. Para BROWN (2001), aprendizes de sucesso muitas vezes fazem uso de estratégias naturalmente, pois possuem características cognitivas que os direcionam para este tipo de comportamento na aprendizagem, mas um grande número de aprendizes que não possuem a mesma aptidão natural, podem alcançar sucesso na aprendizagem da L2 fazendo o uso consciente de estratégias de aprendizagem. Para OXFORD e SCARCELLA (1992) estratégias de aprendizagem 20 de línguas são ações específicas, comportamentos, passos ou técnicas usadas pelos aprendizes para desenvolver o próprio aprendizado. Segundo WILLIAMS e BURDEN (1997), há considerável evidência de que um indivíduo pode aprender a se tornar mais eficiente na aprendizagem de uma segunda língua. Segundo os autores, o que parece ser importante é a habilidade do aprendiz de responder a situações de aprendizagem específicas e gerenciar a sua aprendizagem de forma apropriada. De acordo com OXFORD (1990) estudos sobre aprendizes eficazes e aprendizes não eficazes mostram que pessoas que têm sucesso na aprendizagem desenvolveram uma série de estratégias e são capazes de selecionar as mais apropriadas para um problema em particular adaptando-as flexivelmente de acordo com a necessidade de uma situação específica. Segundo OXFORD e SCARCELLA (1992), aprendizes não tão aptos podem usar estratégias parecidas com a mesma freqüência, mas sem a avaliação e adaptação das mesmas para servirem à situação específica. Contudo, segundo os autores, aprendizes podem ser treinados a utilizarem as estratégias mais habilmente, identificando quando e como aplicá-las e tornando-se mais auto direcionados, eficientes, e autônomos na sua aprendizagem. OXFORD e SCARCELLA (1992) também apontam que a instrução no uso de estratégias inclui a demonstração de onde uma certa estratégia pode ser útil, e como se deve utilizá-la. Segundo BROWN (2001), o trabalho de OXFORD (1990) é considerado um dos melhores trabalhos nesta área. A autora dá exemplos de muitas técnicas diferentes para sala de aula e mostra quais estratégias estas técnicas encorajam. OXFORD (1990), apresenta um sistema de categorização de estratégias de aprendizagem detalhado e extremamente útil tanto para o professor quanto para o aprendiz. De acordo com o modelo da autora, as estratégias estão divididas em diretas e indiretas. As estratégias diretas estão subdivididas em três tipos: estratégias de memorização as quais incluem uma variedade de formas diferentes de desenvolvimento da memória; estratégias cognitivas que se referem ao uso de processos mentais para dar sentido à aprendizagem; estratégias compensatórias as quais ajudam os aprendizes a superar as limitações do conhecimento. As estratégias indiretas estão subdividias em meta cognitivas, afetivas, e sociais. As estratégias 21 meta cognitivas permitem ao aprendiz coordenar o processo de aprendizagem e de auto-avaliação; as estratégias afetivas ajudam os alunos a gerenciar as emoções, motivações, e atitudes; as estratégias sociais ajudam os alunos a aprender através da cooperação, interação, e empatia com os outros colegas. Um dos melhores e mais compreensivos instrumentos para se acessar o nível de utilização de estratégias de aprendizagem em sala de aula, segundo BROWN (2001) é a aplicação do Inventário de Estratégias para o Aprendizado de Línguas (SILL), desenvolvido por OXFORD (1990). O teste é composto de 50 questões que abrangem as estratégias diretas e indiretas. O inventário pode ser utilizado em sala de aula para desenvolver a consciência dos alunos sobre a importância da utilização de estratégias do investimento pessoal na aprendizagem. Um outro fator de extrema importância nas considerações sobre o treinamento do aluno para o uso de estratégias de aprendizagem é a manutenção da motivação do aprendiz. De acordo com DORNYEI e OTTÓ (1998), ao usar estratégias de aprendizagem o aprendiz já demonstra motivação uma vez que o uso delas envolve um processo voluntário de utilização de cognição, comportamento, e características afetivas para aumentar a eficácia da aprendizagem. O papel das estratégias de aprendizagem na manutenção da motivação em sala de aula tem sido bastante pesquisado nos últimos dez anos. MCINTOSH e NOELS (2004), DORNYEI (2001), OXFORD e SCARCELLA (1992), entre outros, acreditam que embora os aprendizes desenvolvam, ou descubram algumas estratégias de auto motivação sozinhos, estas são frequentemente insuficientes em número e variedade. Segundo DORNYEI (2001) o importante não é a quantidade de estratégias utilizadas, mas sim a qualidade das estratégias selecionadas. Desta forma, uma parte importante do trabalho motivacional do professor é a conscientização dos alunos sobre a utilização de estratégias relevantes e o constante reforço sobre a utilização contínua destas estratégias em sala de aula. O trabalho de DORNYEI (2001) foi o primeiro dedicado totalmente à utilização de estratégias motivacionais no ensino de línguas estrangeiras modernas. Segundo o autor, estratégias motivacionais são técnicas que promovem o 22 comportamento relacionado ao estabelecimento de metas pelo indivíduo. Estratégias motivacionais referem-se aquelas influências que são conscientemente exercidas para se atingir um efeito sistemático, duradouro e positivo. A organização dos componentes no modelo desenvolvido por DORNYEI (2001) inclui quatro categorias: a criação das condições básicas de motivação; a geração da motivação inicial; a manutenção e proteção da motivação; o encorajamento positivo a auto avaliação retrospectiva. O autor então desenvolveu um número de estratégias motivacionais dirigidas ao professor de línguas que se encaixam em cada uma das categorias propostas totalizando trinta e cinco estratégias. Segundo o autor, o estudo de estratégias motivacionais é ainda um território pouco explorado no campo do ensino de línguas, mas não há dúvidas de que a motivação do aluno pode ser conscientemente melhorada através do uso de técnicas criativas. 23 3 METODOLOGIA 3.1 - INTRODUÇÃO A seguir procedemos com a parte prática da monografia. Iniciamos com a apresentação da proposta da pesquisa e suas limitações. Em seguida apresentamos um resumo sobre o programa ao qual os alunos pertencem e suas principais diretrizes. Também explicamos como funciona o processo de ensino de língua estrangeira aos alunos do programa. Delimitamos então a amostra, aproximadamente 30% dos alunos do programa. Na seqüência, introduzimos os instrumentos e procedimentos utilizados para coleta de dados. Serão aplicados questionários para avaliação da motivação, do uso de estratégias de aprendizagem e da percepção de auto eficácia no aprendizado da L2. A aplicação destes instrumentos tem o objetivo de delinear o perfil e atitudes dos alunos do programa em situação de aprendizagem do inglês para identificação das possíveis causas de sucesso ou fracasso na aprendizagem. 3.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA A proposta da pesquisa é fazer um estudo de caso de natureza quantitativa, com coleta e tabulação de dados através de vários instrumentos, e qualitativa, com a análise dos dados para o entendimento e delineamento do perfil do grupo de alunos estudado. Inicialmente fazemos o levantamento percentual do número de alunos do programa que apresentaram notas inferiores a 90, média para a permanência no programa, ou desenvolvimento de performance oral considerados insatisfatórios pelos professores da escola de inglês nos últimos três anos. Deste grupo inicial, selecionamos uma amostra de aproximadamente 30% dos alunos. Coletamos, através de uma pesquisa de arquivo, os dados das notas das provas escritas e avaliações de proficiência oral destes alunos nos últimos dois anos. Procedemos então com a aplicação dos instrumentos de coleta de dados 24 diretamente com os alunos. Com o resultado dos questionários respondidos pelos alunos sobre a motivação para o aprendizado do inglês, anexo 1, uso de estratégias de aprendizagem, anexo 2, e percepção da auto eficácia no uso do idioma, anexo 3, pretendemos avaliar as características individuais de aprendizagem e delinear o perfil dos alunos da amostra. Em seguida, tentamos correlacionar os resultados destes questionários com as notas dos alunos e com as teorias apresentadas no capítulo dois para comprovar as hipóteses da pesquisa. 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRAGEM O programa ao qual o grupo de alunos observados pertence faz parte de uma Organização Não Governamental (ONG) sediada em Pinhais, PR. Todas as informações sobre o programa e seus alunos apresentadas nesta pesquisa foram fornecidas pelos dirigentes do programa através da direção da escola de inglês Legacy English School, responsável pelo ensino da L2 aos alunos do programa. O programa foi implantado no ano de 1994, e tinha como objetivo original identificar em escolas públicas 200 crianças provenientes de famílias de baixa renda, mas com um bom rendimento escolar, e encaminhá-las a escolas particulares onde teriam oportunidade de desenvolver melhor os seus talentos. As crianças selecionadas tinham todas as despesas escolares custeadas pelo programa, que era quase totalmente financiado pelos idealizadores do projeto. Com o passar dos anos o programa foi transformado em uma franquia social, implantado em outras cidades do Brasil, beneficiando um número crescente de crianças e contribuindo para o desenvolvimento da consciência social dos alunos e do meio empresarial. O processo seletivo para o aluno ser aceito no programa segue duas diretrizes principais: a renda familiar e o rendimento escolar da criança. Os candidatos precisam ter um histórico escolar exemplar, sem reprovações e com média escolar mínima de 70. Os candidatos são entrevistados por profissionais 25 treinados e passam por uma série de avaliações pessoais e de conhecimentos para identificação do perfil ideal para o programa. Os critérios de seleção dos alunos visam a manutenção das qualidades que identificam os indivíduos como membros do programa; o potencial de desenvolvimento educacional e a carência de recursos financeiros para custear os estudos. Após entrarem no programa, os alunos são preparados durante um ano para a transferência da escola pública para a escola particular, o que ocorre normalmente na sétima série, com a idade entre 12 e 13 anos. Aproximadamente seis meses antes de iniciar os seus estudos na escola particular, os alunos iniciam a aprendizagem da língua estrangeira, o inglês. Para muitos alunos isto significa algo totalmente novo e diferente, completamente desafiador e com certeza, gerador de ansiedade e insegurança. A língua inglesa é um item de avaliação de extrema importância para a permanência no Programa e os alunos precisam manter uma média acima de 90, e desenvolver boa proficiência oral no segundo idioma. O objetivo do programa é a preparação dos alunos não apenas para o vestibular e a vida acadêmica, mas também para o mercado de trabalho cada vez mais competitivo. O estudo do inglês, que é obrigatório para todos os alunos mantidos pelo programa, inicia-se na sétima série e estende-se por três anos e meio, até que os alunos cheguem ao terceiro ano do segundo grau, quando terão um intervalo de um ano nos seus estudos do Inglês para se prepararem para o vestibular. Após terem entrado na faculdade, os alunos retomam o inglês para os dois últimos anos do curso. Após terminarem o curso de inglês, os alunos do programa são incentivados a iniciar os estudos de uma terceira língua, normalmente o espanhol. Ao se formarem na faculdade, muitos dos alunos do programa já estão inseridos no mercado de trabalho, trabalhando em empresas de porte, multinacionais, onde entraram como estagiários e foram efetivados no final do primeiro contrato devido a sua boa formação, talento e habilidades. A ONG oferece um time de profissionais especialmente contratados e treinados para orientar os alunos no processo de adaptação à vida acadêmica, primeiro emprego, escolha de áreas de especialização, e outras decisões importantes que os alunos, ainda jovens, precisam tomar. A capacidade dos alunos do programa é conhecida e respeitada no 26 meio empresarial e a central de atendimento da ONG recebe freqüentemente ligações solicitando a indicação de alunos talento aos estágios e oportunidades de emprego definitivo remunerado. Além da educação formal e dos cursos complementares, os alunos do programa têm a oportunidade de aprimorarem os seus conhecimentos com a vivência no exterior. Os alunos são incentivados a identificar cursos de aperfeiçoamento, estágios, ou outras experiências em outros países que possam auxiliar no seu amadurecimento pessoal e profissional. O programa financia estes projetos pessoais que proporcionam aos alunos uma visão mais globalizada do mundo, novas perspectivas e um enriquecimento cultural que dificilmente seria alcançado apenas com a vivência no Brasil. 3.3.1 O Ensino de Inglês aos Alunos Mantidos pela ONG Os alunos do programa iniciam o curso de inglês aproximadamente aos 12 anos, na sexta série do ensino fundamental, e terminam quando já estão cursando a universidade. O curso adota atualmente a Abordagem Comunicativa e utiliza como livro texto o Interchange Third Edition, da Cambridge University Press para os níveis básico e intermediário. No nível avançado é utilizada uma metodologia diferenciada que prevê a adoção de materiais variados em portfólio de acordo com o interesse e necessidade dos alunos. As turmas são compostas de no máximo 14 alunos dispostos em um semicírculo criando um ambiente altamente interativo onde nenhum aluno fica fora do campo de visão do professor ou de costas para algum colega. O uso da tradução e do idioma materno são praticamente eliminados das aulas objetivando o desenvolvimento de uma maior naturalidade e rapidez de raciocínio no uso do segundo idioma. 27 O curso é dividido em 11 módulos de aproximadamente 80 horas cada. Cada módulo é trabalhado em quatro meses e o aluno leva cinco anos e meio para completar o curso. A média exigida dos alunos para passar de nível é de 90. As avaliações são compostas de dois testes escritos semestrais com valor de 100 pontos cada. A avaliação do desenvolvimento oral, participação, pontualidade e tarefas é feita aula a aula e é ponto de considerável importância na avaliação final do aluno. No nível avançado os alunos são avaliados com a aplicação de simulados do TOEFL (Test of English as a Foreign Language). Os alunos que alcançarem mais de 550 pontos no simulado da versão impressa do TOEFL, o que equivale a 213 pontos na versão computadorizada, poderá se candidatar para o programa do exterior. Segundo BROWN (2001), a Abordagem Comunicativa requer uma participação constante do aluno na aula, interagindo, trocando idéias, dando opiniões e expondo-se de forma bastante direta e pessoal ao resto do grupo. Segundo o autor, a eficiência do método depende da concordância do aluno em se arriscar, se expor ao erro, tentar se comunicar utilizando a língua alvo e assim promover a fixação dos conteúdos aprendidos e desenvolver a facilidade e riqueza de vocabulário progressivamente. 3.3.2 O Grupo de Alunos Utilizado na Amostra O grupo estudado para o desenvolvimento deste trabalho é composto de 56 alunos participantes do programa educacional, o que corresponde a aproximadamente 30% do grupo total de alunos em situação de aprendizagem do inglês. Os alunos freqüentam a escola formal em um turno e, no contra turno as aulas complementares, incluindo o inglês. Optamos por não selecionar como parte da amostra alunos dos dois primeiros anos do curso, pois acreditamos que não teriam maturidade suficiente para responder aos questionários devido a sua pouca idade, entre 12 e 13 anos. Selecionamos então alunos entre 14 e 18 anos que estão 28 cursando os níveis intermediário e avançado. Os alunos estão divididos em três níveis distintos de conhecimento da língua inglesa, formando quatro turmas. A amostra de alunos de 14 anos é composta de 14 indivíduos que estão cursando o primeiro semestre de intermediário e serão questionados apenas sobre o uso de estratégias de aprendizagem, anexo 1. Os resultados verificados neste grupo serão considerados para o cálculo de uma média no uso de estratégias de aprendizagem pelos alunos nesta fase do curso. Os alunos não receberam nenhuma instrução sobre o uso de estratégias de aprendizagem e a aplicação dos questionários a estes alunos visa verificar o uso inconsciente das estratégias de aprendizagem. Os resultados não serão comparados com as notas dos alunos neste grupo. Os 28 alunos de 15 e 16 anos da amostra estão cursando o terceiro semestre de intermediário. Estes alunos já estão começando a sentir a pressão que antecede o ano de preparo para o vestibular, durante o qual deverão parar o estudo do inglês. O grupo responderá ao questionário de avaliação da motivação anexo 1, o qual será utilizado para um comparativo com o resultado do questionário de avaliação da motivação dos alunos que acabaram de passar no vestibular e retornar ao inglês após um ano afastados. O alunos também responderão ao questionário sobre uso de estratégias de aprendizagem, anexo 2, e ao questionário de avaliação da auto eficácia no uso do idioma, anexo 3. Os resultados serão compilados e comparados as notas destes alunos nos últimos dois anos. Os 14 alunos que formam o grupo de alunos mais velhos estão cursando o primeiro semestre de avançado no inglês e o primeiro ano da faculdade e voltaram para o inglês após um ano sem contato com a língua devido ao preparatório para o vestibular. Os alunos estão um pouco apreensivos com a nova rotina escolar e bastante ansiosos com a perspectiva de começarem a trabalhar. Objetivamos acessar o nível motivacional apresentado por estes alunos ao retornarem para o inglês após o período de um ano dedicado exclusivamente à escolha e preparação para o curso universitário, avaliar o uso de estratégias de aprendizagem nesta fase mais madura da aprendizagem e acessar a percepção da auto eficácia dos alunos 29 no uso do inglês. Os dados coletados serão correlacionados com as notas dos dois últimos anos anteriores a parada para o preparatório do vestibular. 3.4 COLETA DE DADOS A coleta de dados da pesquisa iniciou-se com um levantamento das notas de todos os alunos do programa em processo de aprendizagem do inglês nos últimos três anos, tabela 1. A pesquisa foi feita através da verificação dos boletins de resultados emitidos pelo professor após cada prova e mantidos no arquivo da escola, anexo 4. O objetivo desta verificação foi o de estabelecer o percentual de alunos que não conseguiram alcançar a média 90 na prova escrita, em pelo menos uma das duas provas aplicadas semestralmente, ou não tiveram avaliações da produção oral muito boas. Para permanência no inglês os alunos precisam alcançar a média 90, portanto a maioria dos alunos que não atingiram este resultado já não está mais no programa e não pode fazer parte da amostra. No entanto, segundo as informações verificadas nos arquivos da escola, aproximadamente 70% dos alunos desligados não apresentou resultados significativamente inferiores a 90, assim como muitos dos alunos que permanecem no inglês, não apresentam notas expressivamente acima dos 90 e estão sempre na eminência de desligamento. Os cortes de alunos são feitos quase sempre após a segunda nota e esta verificação também serve para comprovar o estabelecimento de um padrão por parte dos alunos, o de tirar notas mais baixas na primeira prova e recuperar este resultado na segunda prova, o que poderia indicar problemas motivacionais. A seguir, selecionamos os 56 alunos para representarem a amostra considerando o nível do conhecimento do inglês e a idade. Procedemos então com a coleta, através dos boletins dos resultados dos alunos fornecidos pela escola de inglês, dos dados referentes as notas e avaliações de performance oral dos 56 alunos nos dois últimos anos. Estes dados foram organizados e apresentados na 30 tabela 2, para posterior comparação com os dados levantados através dos instrumentos aplicados aos alunos. Iniciamos a seguir a parte da pesquisa que envolveu diretamente os alunos. Primeiramente explicamos aos alunos da amostra os objetivos da pesquisa e os convidamos a participar. Os alunos receberam esclarecimentos sobre o tipo de questionários que estariam respondendo e propuseram-se a cooperar. A seguir os alunos iniciaram o preenchimento dos questionários recebendo a orientação do professor sempre que surgiam dúvidas. O primeiro questionário aplicado é composto de 32 perguntas que visam a verificação do tipo de motivação que dirige os alunos para o aprendizado do inglês. O segundo questionário aplicado foi um inventário sobre o uso de estratégias de aprendizagem composto de 50 perguntas. Para finalizar, o alunos responderam a um questionário de identificação da percepção do aprendiz com relação a sua auto eficácia no aprendizado e uso do inglês. Os dados coletados dos três questionários foram compilados e organizados em tabelas de acordo com as variáveis que representam. A seguir, explicamos em maior detalhe os instrumentos utilizados para coleta de dados, o que cada um dos questionários verifica e como foram corrigidos. 3.4.1 Instrumentos de Coleta de Dados Os instrumentos de coleta de dados utilizados nesta pesquisa são validados e foram escolhidos por serem coerentes com a proposta da pesquisa e terem sido utilizados anteriormente em pesquisas similares desenvolvidas por pesquisadores experientes e respeitados. Para verificação do volume de utilização de estratégias de aprendizagem foi aplicada a versão com 50 questões para falantes de outras línguas do Inventário de Estratégias para Aprendizagem de Línguas (SILL), de OXFORD (1990), anexo 2, o qual, segundo BROWN (2001), é um dos melhores e mais compreensivos 31 instrumentos utilizados para este fim. O questionário foi aplicado em sala da aula, com a presença do professor que esclareceu dúvidas que surgiram durante o preenchimento. O inventário utiliza uma escala de 1 a 5, sendo o valor 1 para o menor uso de estratégias e o valor 5 para o uso mais freqüente de estratégias. O inventário está dividido em seis baterias de perguntas, A,B,C,D,E,F, cada uma delas destinada à verificação de um grupo de estratégias que podem auxiliar os aprendizes a maximizar as suas habilidades na aquisição da L2. A parte A é composta de 9 perguntas que avaliam a utilização das estratégias de memórias; a parte B acessa, com 14 perguntas o uso das estratégias cognitivas; o bloco de perguntas C avalia a utilização das estratégias de compensação através de 6 perguntas; a parte D é composta de 9 perguntas direcionadas a avaliação do uso das estratégias meta cognitivas; no grupo E, 6 perguntas visam a avaliação das estratégias afetivas; o grupo F está direcionado as estratégias sociais e contém 6 perguntas. A pontuação de cada uma das etapas é então somada e dividida pelo número de perguntas que formam aquela bateria para se chegar a uma média de utilização daquelas estratégias. Para verificação do tipo de motivação apresentado pelo grupo de alunos foi aplicado um questionário de 32 perguntas adaptado de NOELS et al. (2000) anexo 1. A escala visa à verificação do tipo de motivação de acordo com a Teoria de Auto Determinação de DECI e RYAN (1985). A escala contém 12 itens de verificação da motivação intrínseca subdivididos em 4 perguntas para verificação da motivação referente ao conhecimento, 4 referente à realização, e 4 referentes ao estímulo; As 8 perguntas de verificação dos reguladores integrado e identificado também foram considerados como fatores de motivação interna. O restante das perguntas visa acessar reguladores da motivação extrínseca. A falta de motivação para a aprendizagem da língua também foi verificada com 4 questões. Os alunos preencheram o questionário considerando uma escala de 1 a 5. A valorização dos itens foi feita considerando-se os valores do menor = nunca verdadeiro para mim, ao maior = sempre verdadeiro para mim. Em seguida, todos os valores das questões indicativas de motivação intrínseca foram somados e divididos pelo número total de perguntas para o estabelecimento de um diagnóstico da motivação intrínseca. Para correção das questões referentes a motivação extrínseca foi utilizado o mesmo 32 procedimento. Nesta etapa da pesquisa os alunos de 13 e 14 anos não foram envolvidos. A verificação da percepção de auto eficácia foi feita com base em um questionário de 4 perguntas, cada uma verificando uma das habilidades básicas do aprendiz de línguas, anexo 3. A resposta será fornecida através de uma escala de 1 a 5, sendo o número 1 para uma percepção de auto eficácia baixa e o 5 para uma percepção de auto eficácia alta. Nesta etapa da pesquisa não serão considerados os resultados do grupo de alunos de 13 e 14 anos. O questionário foi adaptado de NOELS et al. ( 2000). A coleta de resultados dos últimos 3 anos foi feita através de pesquisa dos arquivos de relatórios de resultados no computador. Nestes relatórios, preenchidos pelo professor após cada teste, foram acessadas as notas e avaliação de rendimento oral e participação dos alunos durante as aulas, anexo 4, as quais foram organizados em tabelas demonstrativas. Cópias dos 4 instrumentos de coleta utilizados estão disponíveis nos anexos 1, 2 e 3 do trabalho, páginas 53 a 57. 33 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 4.1 OS RESULTADOS OBTIDOS A pesquisa iniciou-se com a verificação dos dados referentes as notas e desenvolvimento oral dos alunos do programa nos últimos 3 anos, conforme apresentamos na tabela 1, os dados foram utilizados para um cálculo percentual de número de alunos com notas abaixo de 90 ou avaliações de proficiência oral consideradas insatisfatórias segundo o relatório fornecido pelos professores. Foram pesquisados os resultados de todos os alunos pertencentes ao programa nos anos de 2003, 2004, 2005. Em cada semestre o aluno é avaliado duas vezes com provas escritas com valor de 100. A avaliação do desenvolvimento da proficiência oral é feita aula a aula e lançada conceitualmente no mesmo relatório no meio e final de cada semestre. Os dados levantados mostraram que foi estabelecido um padrão de desenvolvimento. Nos primeiros testes de cada semestre o número de alunos com problemas de notas foi sempre superior ao número de alunos com problemas no segundo teste. As avaliações do desenvolvimento oral dos alunos não seguiram o mesmo padrão e algumas vezes mostraram o resultado inverso, como no segundo semestre de 2004 e no segundo semestre de 2005. Foi observado que no ano de 2005 as dificuldades com a produção oral foram mais significativas do que nos outros anos com 33,5% dos alunos apresentando resultados insatisfatórios. A avaliação da produtividade oral do aluno não representa uma causa para desligamento do curso de inglês. No entanto, um resultado inferior a 90 na prova escrita pode significar o afastamento do aluno. 34 TABELA 1 - RESULTADOS DAS AVALIAÇÕES ORAIS E ESCRITAS DOS ALUNOS DO PROGRAMA EM 2003, 2004 E 2005. Avaliações N° de 1° Avaliação 2° Avaliação Percentual 1° Avaliação Percentual 2° Avaliação Ano/Semestre alunos N° de alunos abaixo da nota % de alunos abaixo da nota Prova Escrita (PE) Prova Oral (PO) Prova Escrita (PE) Prova Oral (PO) Prova Escrita (PE) Prova Oral (PO) Prova Escrita (PE) Prova Oral (PO) 1° Semestre 166 32 30 20 18 19,3% 18,5% 12% 11% 2° Semestre 163 37 39 8 34 22,5% 24% 5% 21% 1° Semestre 121 18 29 11 17 15% 24% 9% 14% 2° Semestre 152 26 22 9 26 17% 15% 6% 17% 1° Semestre 181 29 40 14 46 16% 22% 8% 25,6% 2° Semestre 238 55 79 25 68 23% 33,5% 10,5% 28,5% 2003 2004 2005 A coleta dos dados apresentados na tabela 1 tem o objetivo de demonstrar que nem todos os alunos do programa conseguem manter os parâmetros estabelecidos. A tabela mostra o número total de alunos mantidos pelo programa no curso de inglês em cada semestre, o número de alunos com notas abaixo da média 90 na prova escrita e o número de alunos com avaliação de performance oral G = good, ou inferior. Com base nestes números apresentamos um cálculo percentual de alunos com resultados considerados insatisfatórios nos anos de 2003, 2004, 2005. Como os alunos são desligados quando não mantém a média 90, não foi possível acessar o nível de utilização de estratégias de aprendizagem e o tipo de motivação 35 destes alunos. No entanto, selecionamos uma amostra de 56 indivíduos, separados de 1 a 14 para alunos de 17 e 18 anos e de 15 a 40 para os alunos de 15 e 16 anos, os demais estão representados por letras e formam o grupo de 13 e 14 anos. Esses 56 alunos representam aproximadamente 30% dos alunos do programa que estudam inglês, para tentarmos estabelecer o perfil e atitudes destes alunos com relação a aprendizagem da L2. Apresentamos a seguir as tabelas, com o resultado das avaliações orais e escritas dos 56 alunos nos últimos dois anos. Para os alunos de nível universitário estaremos considerando os anos de 2003 e 2004, uma vez que estes alunos pararam com o inglês no ano de 2005. As provas escritas recebem o valor máximo de 100 pontos e as avaliações orais são mensuradas através de conceitos E para excellent, V very good, G para good, F para fair e P para poor. As performances orais avaliadas com os conceitos G = good, F = fair, P = poor são considerados insatisfatórias. 36 TABELA 2 – NOTAS DAS AVALIAÇÕES ESCRITAS E ORAIS DOS ALUNOS DE 17 E 18 ANOS – 2003 E 2004 Alunos Períodos 1° semestre 2003 2° semestre 2003 1° semestre 2004 2° semestre 2004 Provas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 PE 99 99 96 87 99 93 97 94 98 100 99 98 93 97 PO V V E G V V E E E E E V E G PE 100 100 95 96 100 100 100 99 100 99 99 98 98 99 PO E E E G E V V E E E E V E G PE 96 95 98 97 96 98 91 96 94 99 98 92 95 97 PO E E V G E V V V E E E E V G PE 100 100 100 99 98 97 100 97 99 100 100 99 96 98 PO E E E G E E V V E E E E G G PE 94 99 100 91 94 97 98 98 96 98 98 96 97 98 PO V E V G E E E V E E E E E G PE 98 100 95 89 97 98 100 99 96 98 100 100 100 100 PO E V V G V V E V E E E V E G PE 94 100 94 86 96 96 95 89 96 100 95 94 100 89 PO V E V V E E E E E E E E E V PE 100 99 96 100 90 96 99 99 91 96 92 98 96 100 PO E E E G E E E E E E E E V G NOTA: PE corresponde à prova escrita e PO à prova oral 37 TABELA 3 – NOTAS DAS AVALIAÇÕES ESCRITAS E ORAIS DOS ALUNOS DE 15 E 16 ANOS – 2004 E 2005 Alunos Provas 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 PE 93 100 100 897 94 94 95 98 93 98 93 96 98 98 94 100 97 98 92 87 97 84 91 96 85 93 PO V V E V V G V V G V V V V V V V V G G V G G V V G G PE 92 100 100 94 98 97 96 98 92 99 100 97 97 93 98 100 93 98 98 92 95 98 96 96 98 92 PO G V E G V G V V G V V V V G G V V G G E V G V E G G 90 PE 93 98 94 92 96 97 96 96 87 98 91 92 96 92 96 98 92 84 96 97 93 95 96 98 92 PO V E V V V V V V V V G V V V V G V G G V V G V E G G PE 87 98 100 95 98 98 100 100 93 96 88 97 99 93 90 96 95 98 93 100 95 96 96 98 90 93 PO V G V G V G E E V V G V V G G V E V V V V G E V G G PE 96 100 97 89 96 98 96 96 96 97 91 95 99 91 95 100 94 94 98 94 95 94 91 98 99 88 PO V E E V E G E V V E G E E F V V E E F G V G V E G F PE 95 100 95 95 100 98 100 99 100 100 97 98 100 97 97 100 100 98 97 94 93 95 98 100 99 90 PO V E E G E G E V E E E E G F G V E E F V G G E E G F PE 93 96 96 98 95 100 100 96 93 91 95 95 96 95 82 98 94 90 92 99 95 94 87 100 100 92 PO V E V G V G E V V V G V E G G V V V G V V G V V E F PE 98 96 100 93 94 100 100 98 90 94 96 93 100 77 97 98 92 90 92 92 96 96 96 100 97 98 PO V E V G V V E E V V G V V G G V V G G V V V V V G G NOTA: PO corresponde à prova oral e PE à prova escrita . A verificação da notas dos alunos nos últimos dois anos demonstrou que os alunos do grupo de 15 e 16 anos tiveram flutuações de notas consideravelmente mais significativas do que aquelas apresentadas pelo grupo de alunos de 16 e 17 anos. No grupo de alunos mais velhos, tabela 3, apenas dois alunos, os números 04 e 14, apresentaram inconstâncias nas notas das provas escritas e performances orais insatisfatórias. No grupo de alunos de 15 e 16 anos, mais de 50% dos alunos apresentaram variações significativas de rendimento ou avaliações de proficiência oral não coerentes com as notas das provas escritas, como nos casos dos alunos números 18, 20, 25, 28, 29, 32, 39 e 40. A correção dos inventários de utilização de estratégias de aprendizagem, de OXFORD (1990), constantes dos anexos desta pesquisa, evidenciou que os alunos do programa, nos três grupos avaliados, fazem o uso moderado de estratégias de aprendizagem. Os índices de utilização ficaram entre 3,0 = utilizo às vezes e 4,0 = 38 utilizo freqüentemente. Os índices identificados nos questionários são apresentados a seguir. ESTRATÉGIAS DIRETAS ESTRATÉGIAS INDIRETAS A = estratégias de memória D = estratégias meta cognitivas B = estratégias cognitivas E = estratégias afetivas C = estratégias de compensação F = estratégias sociais TABELA 4 – USO DE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DO GRUPO DE 17 E 18 ANOS Alunos Estratégia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Média A 3,2 3,3 2,6 3,2 3,1 2,5 3,1 3,7 3,2 3,3 3,5 2,2 2,3 3,2 3,0 B 3,2 4,0 3,0 2,8 3,7 3,0 2,5 3,7 4,2 3,5 3,4 2,6 3,0 3,1 3,2 C 3,1 4,8 4,0 3,1 4,0 3,0 3,3 4,1 3,6 3,5 3,5 2,5 3,0 3,0 3,4 D 3,5 3,3 3,8 3,2 4,0 2,8 2,8 4,3 4,1 3,8 3,8 3,5 3,2 3,7 3,5 E 2,6 3,6 3,0 3,1 3,6 3,1 3,5 3,3 3,6 2,6 3,5 3,3 2,0 2,6 3,1 F 3,6 4,0 4,3 3,8 4,8 3,3 3,5 4,6 4,0 3,8 4,3 3,5 2,8 4,0 3,8 No grupo de aprendizes de 17 e 18 anos, conforme tabela acima, verificamos que os alunos fazem um uso mais significativo das estratégias indiretas, principalmente das estratégias sociais, que segundo OXFORD (1990) são muito importantes por serem responsáveis pela comunicação, cooperação, empatia e 39 elaboração de perguntas no ambiente da sala de aula. O índice indicativo das estratégias meta – cognitivas também foi significativo, com uma média de 3,5 em uma escala de 5,0. Estas estratégias, segundo OXFORD (1990), permitem que os alunos controlem a sua própria cognição, ou seja, coordenem, planejem e organizem o processo de aprendizagem. As estratégias menos utilizadas pelos alunos, de acordo com os dados coletados, são as estratégias diretas de memória e as estratégias afetivas. As estratégias de memória, segundo OXFORD (1990), são as responsáveis pelo armazenamento das informações e, desta forma, extremamente importantes no processo de fixação. As estratégias afetivas referem-se a capacidade do aprendiz de controlar emoções como a ansiedade e a inibição, duas variáveis que, segundo BROWN (2001), exercem grande influência no processo de aprendizagem da L2. Os resultados do questionário de utilização de estratégias de aprendizagem aplicados aos alunos de 15 e 16 anos, ilustrados na tabela 5, também evidenciaram uma média mais alta no uso das estratégias indiretas, com os índices maiores nas estratégias sociais, 3,6 e o segundo valor mais significativo nas estratégias meta – cognitivas, 3,5. O índice das estratégias de memória foi, novamente o mais baixo, com um valor inferior a 3,0. As estratégias afetivas e as estratégias de compensação, foram o segundo valor mais baixo identificado neste grupo. As relações destes resultados com as performances dos alunos serão explicadas no capítulo de discussão. 40 TABELA 5 - USO DE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM DO GRUPO DE 15 E 16 ANOS. A B C D E F 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 Médias Estratégias Alunos 2,6 3,4 2,6 4,1 3,2 3,8 3,3 2,2 3,9 3,3 2,5 2,6 2,3 2,9 3,6 2,8 2,2 2,7 2,7 3,4 2,7 2,4 3,0 3,6 2,4 3,2 2,9 2,6 4,0 2,8 4,6 3,0 3,3 3,6 3,3 4,4 3,6 3,3 4,7 3,3 2,8 3,2 3,0 3,3 2,8 3,3 3,4 2,5 2,7 3,2 3,8 2,8 3,0 3,3 2,6 3,0 2,6 3,1 2,7 3,1 3,8 3,5 4,6 3,0 2,6 3,8 2,7 3,0 3,6 3,5 4,0 2,0 2,5 2,8 3,0 3,8 2,5 4,3 2,6 3,5 3,1 3,0 5,0 3,0 4,0 3,9 3,6 4,2 3,9 4,4 3,1 3,5 4,8 3,1 3,2 3,1 3,6 3,4 3,8 4,0 3,7 3,0 2,5 3,4 4,6 3,1 2,7 3,5 2,5 4,0 2,6 3,3 3,1 3,0 3,8 3,1 4,6 3,8 3,3 3,3 2,8 2,5 3,0 2,1 3,8 2,5 4,0 3,8 1,3 2,5 2,8 4,8 2,5 2,8 3,1 3,5 4,8 2,6 3,1 3,8 3,1 4,6 3,3 4,5 3,3 4,1 3,0 3,5 3,5 3,1 2,6 4,3 3,6 4,5 3,3 2,3 3,0 4,1 4,5 4,1 3,8 3,6 O terceiro grupo de aprendizes que respondeu ao inventário de estratégias foi o grupo de adolescentes entre 13 e 14 anos, tabela 6. Os alunos deste grupo estão no programa a menos tempo e alguns ainda apresentam características de préadolescência, com níveis diferenciados de amadurecimento, segundo os profissionais de psicologia do programa educacional que os acompanham e treinam. A inclusão deste grupo na amostra tem o objetivo de verificar o uso mais espontâneo e natural das estratégias de aprendizagem. O grupo de aprendizes, embora mais novos e expostos ao processo de aprendizagem do inglês a menos tempo, apresentou índices de uso das estratégias iguais ou superiores aqueles apresentados pelos outros dois grupos da amostra. Os índices mais significativos foram os de utilização de estratégias indiretas novamente, mas neste grupo as estratégias meta – cognitivas aparecem em primeiro lugar, o que, segundo OXFORD (1990), pode significar que estes alunos possuem uma capacidade natural para se organizarem no processo de aquisição da L2. As estratégias afetivas também apresentaram um índice mais alto neste grupo, apresentando um valor de 3,5. A explicação deste índice mais alto pode ser, segundo WILLIANS e BURDEN (1997), o fato do inglês ser ainda algo novo para os alunos e o nível de motivação destes 41 aprendizes ser elevado. Segundo os autores, a motivação é uma variável que pode correlacionar-se com o melhor uso de estratégias. TABELA 6 – O USO DE ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM PELOS DE 13 E 14 ANOS Alunos a b c d e f g h i j l m n o Média A 3,8 2,4 4,0 4,1 2,6 2,2 2,5 3,2 2,3 2,6 3,4 3,0 2,8 3,5 3,0 B 3,6 2,8 3,5 3,5 2,7 2,8 3,0 2,1 2,9 2,3 4,0 2,5 4,0 4,1 3,1 C 2,6 2,0 2,1 3,0 3,6 3,1 2,6 3,6 3,1 3,1 5,0 4,0 2,1 3,8 3,1 D 4,4 3,1 4,0 3,5 4,1 3,8 3,3 2,3 2,4 3,8 5,0 3,6 2,3 4,2 3,5 E 3,8 2,6 4,0 3,3 4,0 2,5 2,8 2,1 3,0 3,3 5,0 2,1 4,6 2,6 3,2 F 4,1 4,5 4,1 3,6 4,6 4,6 3,3 5,0 3,3 4,5 4,0 4,5 2,2 3,8 3,7 Estratégias O resultado do Questionário de Avaliação da Motivação, anexo 1, adaptado de NOELS (2000) segundo a Teoria da Auto Determinação de DECI E RYAN (1985) que foi aplicado aos alunos dos grupos de 15 e 16 anos e aos alunos de 17 e 18 anos, demonstrou que os alunos possuem um nível maior de motivação intrínseca, tabela 8. No entanto os fatores identificadores da motivação intrínseca puros, no total de 12 perguntas referidos nos textos e tabelas 6 e 7 como MI, que objetivavam a verificação da motivação de acordo com o conhecimento, realização, e estímulo, não foram os responsáveis pela pontuação maior neste item. A combinação das perguntas referentes a motivação intrínseca com as 4 perguntas de verificação das orientações motivacionais identificada MID, e com as 4 perguntas da orientação motivacional integrada MIT, foi o que determinou o resultado da motivação intrínseca. No seu teste NOELS (2000) considerou que estes dois fatores, apesar de externos, são internalizados pelos indivíduos e, portanto, devem ser considerados como motivadores intrínsecos. Segundo o construto de motivação de DECI E RYAN (2000), os dois fatores, apesar de serem assimilados pelos indivíduos 42 e internalizados, ainda devem ser considerados como fatores de motivação extrínseca. Abaixo apresentamos um quadro explicativo das orientações motivacionais intrínsecas e extrínsecas delineado por NOELS e seus associados (1999) QUADRO 1 – TEORIA DE AUTO DETERMINAÇÃO: EXEMPLOS DE ORIENTAÇÕES MOTIVACIONAIS NA LINGUA ESTRANGEIRA “Porque você está estudando uma língua estrangeira?” Motivação intrínseca Orientação Exemplo Motivacional MI-Conhecimento MI-Realizações “Pelo sentimento de satisfação que tenho em descobrir coisas novas.” “Pelo prazer que eu experimento quando eu encontro uma estrutura difícil na segunda língua.” MI-Estímulo “Pelo sentimento de elevação que eu sinto quando estou falando a segunda língua.” Orientação Integrada Orientação Identificada “Por que é uma parte da minha identidade” “Por que eu acredito que seja importante para o meu desenvolvimento pessoal.” Orientação internalizada “Por que eu me sentiria culpado se eu não falasse uma segunda língua.” Orientação externa Ausência de motivação “Para conseguir um emprego de mais prestígio no futuro .” “Eu não sei, eu não entendo o que eu estou fazendo estudando uma segunda língua.” 43 NOTA: Dados traduzidos pela autora. Exemplos são baseados na escala de itens delineada por NOELS e seus associados (e.g., Noels et al.1999,2000). Se considerados assim, e em conjunto com os outros fatores puramente extrínsecos, como a RE, regulador externo, e a RI regulador internalizado, os resultados teriam evidenciado um nível alto de motivação extrínseca nos alunos da amostra. O resultado do teste de mais de 50 % dos alunos demonstrou um índice maior do regulador integrado do que de motivação puramente intrínseca. O índice do regulador externo verificado foi maior do que o de motivação intrínseca em 27 dos 40 alunos testados. Com base nestes dados, e em conformidade com os pontos defendidos por DECI e RYAN (2000) a orientação de motivação dos alunos seria extrínseca. TABELA 7 – ORIENTAÇÕES MOTIVACIONAIS NO GRUPO DE 17 E 18 ANOS Alunos Motivação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 AM 1.0 1.0 1.0 1.0 1.2 1.2 1.0 1.0 1.2 1.0 1.0 1.0 1.2 1.2 RE 4.5 2.3 3.7 4.0 4.7 3.0 3.0 4.2 3.7 3.7 2.5 4.2 4.0 4.2 RI 2.7 2.0 1.7 2.7 2.0 3.0 2.2 2.2 2.5 2.0 2.0 2.5 2.5 2.0 RID 4.0 3.2 3.5 3.2 4.2 3.0 3.5 3.7 4.2 3.7 3.7 5.0 3.2 3.2 RIN 4.5 1.7 2.7 3.7 3.5 4.2 2.2 3.5 4.5 4.5 4.0 5.0 2.7 4.7 MI 4.4 2.3 2.8 3.1 4.3 3.0 3.6 4.1 4.0 3.4 3.9 4.4 3.0 3.0 44 AM = ausência de motivação RID = regulação identificada RE = regulação externa RIN = regulação integrada RI = regulação internalizada MI = motivação intrínseca TABELA 8 – ORIENTAÇÕES MOTIVACIONAIS NO GRUPO DE 15 E 16 ANOS Motivação Alunos 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 AM 1 1 1,2 1,5 1 1 1 1 1,2 1,5 1,2 0,5 1 3 1,7 1,5 1,2 1 1,2 RE 3,7 3,2 3,2 4,2 3,7 4,5 3,2 4 4,7 3,5 4,2 3 2,5 3,7 4,2 4 3,7 3 4,2 4,2 2,5 RI 3 3,5 2 2 3 2,7 2,7 3,2 3,2 3,5 2,7 3 1,7 3,5 2,7 3,5 4 1,7 3 1,7 2,5 RID 4 4 2,2 4,5 4 4,2 4,5 4 4,2 4,2 3 2,7 2,7 3 3 3,2 4,7 3 3,5 RIN 3,5 3,7 3 2,2 3,5 3,7 4,5 4,5 5 4,5 3,5 3,2 2,2 2,7 3,5 3 4,7 3,7 3,2 4,5 3,2 3,8 3,9 4,7 3,2 3,2 MI 3 3,4 2,4 3,7 3,6 3,8 4 3,9 3,8 3,6 3,5 3,5 1,7 3,5 3,7 2,6 4,1 2,3 2,8 3,1 2,9 3,9 3,8 4,1 2,8 2,9 34 35 36 37 38 39 40 1 4 3,7 2,5 1,7 1 1 1,2 3,7 4,2 4,5 4,5 4,2 2,5 2 3 2,7 3 2,5 3,7 4 4,7 3,5 2,5 A correção dos questionários de avaliação de auto eficácia mostrou que a maioria dos 14 alunos universitários testados tem uma boa percepção da sua eficácia nas quatro habilidades da língua. A habilidade com um índice de avaliação mais baixa, 3 em uma escala de 5, foi a percepção da capacidade de falar em Inglês, com 4 alunos. O segundo índice mais baixo foi a percepção da habilidade de escrever em Inglês, com dois alunos. Comparamos os resultados dos 4 alunos que marcaram com um 3 a sua avaliação de eficácia na habilidade de falar em Inglês e verificamos que 3 dos 4 alunos também tiveram pontuações mais baixas no uso de estratégias afetivas, 2.6, 2.7, 3.1; e no uso de estratégias de memória, 3.2, 3.1, 3.2. Os índices de motivação intrínseca destes 3 alunos também não foram altos, 3.1, 3.0, 3.0. O índice de regulação externa foi mais significativo do que o de motivação 45 intrínseca, 4.0, 4.2, 4.0. Na verificação das notas e das avaliações orais destes 3 alunos, notamos que os 3 sempre apresentaram avaliações orais insatisfatórias e algumas vezes notas abaixo da média em um dos dois testes. No caso dos 3 alunos universitários aqui analisados, confirmam-se as hipóteses da pesquisa. TABELA 9 – AVALIAÇÃO DE AUTO – EFICÁCIA DO GRUPO DE 17 E 18 ANOS EI = escrevo em Inglês ENI = entendo Inglês LI = leio em Inglês FI = falo em Inglês Alunos Auto eficácia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 EI 4 4 4 4 3 4 4 4 4 3 4 4 4 4 ENI 4 4 4 5 5 4 4 5 4 5 4 4 4 4 LI 4 3 4 4 4 4 5 4 4 5 4 4 4 5 FI 4 4 4 4 3 3 4 5 4 3 3 4 4 5 NOTA: escala de 1 a 5 46 TABELA 10 – AVALIAÇÃO DE AUTO – EFICÁCIA DO GRUPO DE 15 E 16 ANOS Alunos Auto Eficácia 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 EI 4 4 4 5 4 4 5 3 5 5 3 4 4 2 3 4 4 3 3 4 3 3 4 4 3 3 ENI 4 4 4 5 4 5 4 4 4 5 4 4 4 2 3 4 4 5 4 4 2 4 4 5 4 4 LI 4 3 4 4 4 4 3 4 5 4 4 4 4 3 3 4 3 4 4 4 2 4 4 5 3 3 FI 4 3 3 4 4 4 4 3 5 4 4 4 4 2 2 4 4 3 4 4 2 3 4 3 3 3 4.2 DISCUSSÃO O objetivo desta pesquisa é o de estabelecer relações entre estratégias de aprendizagem, motivação e o desempenho dos alunos de um programa educacional na aprendizagem da L2. As hipóteses da pesquisa são as de que a falta de motivação intrínseca para aprender a L2 é um dos fatores geradores da dificuldade de aprendizagem dos alunos do programa; os alunos do programa que apresentam rendimento abaixo da média não utilizam um grande número de estratégias de aprendizagem; os alunos adolescentes do programa que fazem o uso consciente ou inconsciente de estratégias de aprendizagem apresentam melhores performances; os alunos com avaliação de performance oral insatisfatória não utilizam um grande volume de estratégias sociais ou afetivas. Tendo em vista que os alunos pertencentes a este programa são selecionados devido ao seu desempenho escolar bastante satisfatório, e precisam manter uma média de rendimento educacional alta, fica mais difícil identificar as possíveis causas de rendimentos abaixo da média nestes alunos. Optamos então pela realização de uma pesquisa quantitativa, com 47 coleta de dados, e qualitativa, com a análise destes dados para delinear o perfil destes aprendizes em comparação com os resultados apresentados pelos alunos na aprendizagem da L2. Para comprovação das hipóteses da pesquisa que se referem ao uso de estratégias de aprendizagem foi aplicado o Inventário de uso de Estratégias de OXFORD (1990). O inventário foi aplicado a três grupos distintos de aprendizes. No grupo de aprendizes mais jovens, entre 13 e 14 anos, não realizamos um comparativo com as notas, pois objetivamos apenas verificar o uso inconsciente de estratégias. Estes alunos ainda estão no início do nível intermediário no inglês e não receberam nenhum treinamento específico para o uso de estratégias, conforme informação fornecida pela coordenação da escola. Os resultados do questionário demonstraram que estes alunos fazem um uso mais consistente de estratégias indiretas, tabela 6. Os índices mais significativos foram os das estratégias meta – cognitivas, 3,8 e sociais, 3,7, mas o índice de estratégias afetivas também foi expressivo neste grupo, 3,5. Segundo OXFORD (1990) as estratégias indiretas são muito úteis virtualmente em todas as situações de aprendizagem de línguas e são aplicadas as quatro habilidades: ouvir, ler, falar e escrever. WILLIANS e BURDEN (1997) argumentam que a meta – cognição não inclui apenas o conhecimento dos processos mentais envolvidos na aquisição do saber, mas também os conhecimentos relativos as próprias emoções, personalidade, motivação, atitudes e estilos de aprendizagem. Os dois grupos de alunos mais velhos componentes da amostra, demonstraram também índices mais altos no uso das estratégias indiretas. Todavia, os índices das estratégias sociais foram mais expressivos do que os das meta – cognitivas. Segundo OXFORD (1990), o aprendizado de uma língua é um evento de comunicação social e o uso apropriado de estratégias sociais é muito importante neste processo. Segundo a autora, uma das interações sociais mais básicas é a formulação e direcionamento de perguntas, uma ação que é muito importante para os aprendizes no contexto de sala de aula. 48 O índice de utilização de estratégias afetivas nos grupos de alunos de 15 e 16 anos e no de alunos de 17 e 18 anos, foi expressivamente inferior ao de utilização de estratégias sociais e meta – cognitivas. Este resultado, segundo WILLIANS e BURDEN (1997), pode interferir e afetar o uso dos processos cognitivos, representados pelas estratégias diretas, cujos índices foram inferiores aos das estratégias indiretas nos três grupos de aprendizes da amostra. BROWN ( 2001), diz que o lado afetivo de aprendiz é provavelmente um dos fatores influenciadores mais poderosos na determinação do sucesso ou fracasso na aprendizagem da L2 e que o uso eficiente de estratégias afetivas pode auxiliar aos aprendizes a controlarem sua emoções. A auto estima, segundo o autor, é um dos elementos primários e refere-se ao auto julgamento de valor, baseado num sentimento de eficácia. Com base nas teorias acima expostas e considerando os resultados demonstrados nas tabelas 1, 2, 4, 5 e 6, as hipóteses da pesquisa que se referem ao uso de estratégias de aprendizagem em relação ao sucesso no processo de aquisição da L2, foram confirmadas nesta pesquisa. A comprovação da hipótese da pesquisa de que os alunos que tem performances orais insatisfatórias utilizam menos estratégias afetivas foi comprovada no caso dos alunos números 04 e 14, do grupo de 17 e 18 anos, no caso dos alunos do grupo de 15 e 16 anos, verificamos que os alunos números 20, 28, 29, 39 e 40, também poderiam apresentar performances orais insatisfatórias em decorrência do baixo uso de estratégias afetivas. A comprovação da hipótese de que os alunos que fazem uso reduzido de estratégias de aprendizagem são os que apresentam notas abaixo da média confirma-se até certo ponto, pois todos os alunos que estão no programa precisam manter a média acima de 90. No entanto, verificamos que os alunos números 04, 14, 15, 28, 37,39, apresentam percentuais reduzidos em alguns tipos de estratégias, o que poderia justificar as notas não tão expressivas, principalmente naqueles em que o uso das estratégias de memória, as quais segundo OXFORD (1990), são importantes para a fixação de conteúdos. A hipótese de que os alunos que apresentam desempenhos mais baixos nas provas escritas ou orais não possuem motivação intrínseca para a aprendizagem da L2, comprova-se em quase todos os casos de notas menos expressivas, como por 49 exemplo nos alunos de números 04, 15, 18, 20, 23, 25, 29, 32, 33, 34, 35, 36, 39, que apresentaram baixos índices de motivação intrínseca pura, de acordo com as tabelas 2, 3, 4, 5 e o quadro 1 adaptado de NOELS (2000) segundo a Teoria de Auto Determinação de DECI e RYAN (1985). 50 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após análise de todos os dados coletados nesta pesquisa em concordância com as teorias mencionadas no desenvolvimento desta monografia, concluímos que os objetivos da pesquisa foram cumpridos. O perfil dos alunos pertencentes ao programa foi satisfatoriamente delineado e poderá ser utilizado futuramente para elaboração de um programa de intervenção. No contexto mais especificamente discutido nesta pesquisa, convém ressaltar que o ambiente de aprendizagem da língua estrangeira é descrito como altamente competitivo do ponto de vista de capacidade e potencial educacional, e das características grupais, portanto é de importância relevada que se estabeleça um convívio social baseado na igualdade e no respeito dentro do ambiente de aprendizagem, sem, contudo, ignorar-se a individualidade de cada aluno e a relevância das interações no plano do indivíduo. Neste cenário, podemos considerar que a verificação de que os alunos fazem um uso significativo de estratégias sociais, as quais segundo OXFORD (1990) referem-se a cooperação, interação, serve para comprovar que os alunos do programa tem um perfil de cooperação e abertura a comunicação. Além disto, verificamos que os alunos do programa são dirigidos principalmente por recompensas externas, o que parece bastante natural no contexto de aprendizagem ao qual pertencem. O nível de motivação intrínseca dos alunos é inferior ao de motivação extrínseca, o que pode, segundo DORNYEI e OTTÓ (1998), provocar flutuações nos níveis motivacionais e conseqüentes quedas de rendimento. A percepção de auto eficácia dos alunos é razoável, mas os índices de utilização de estratégias afetivas demonstraram que os aprendizes podem ter problemas de afetividade, como a baixa auto estima. Segundo OXFORD (1990), o senso de eficácia influencia a motivação do aluno e se reflete na atitudes do aprendiz. As variáveis afetivas como a, inibição, ansiedade, baixa auto estima são, segundo WILLIANS e BURDEN (1997), BROWN (2000) e DORNYEI (2001), fatores de grande influência no processo de aprendizagem da L2. Segundo GARDNER 51 (1985) a motivação e auto estima correlacionam-se com o melhor uso de estratégias e vice versa. A avaliação das características individuais dos alunos pelo professor pode ser o divisor entre o sucesso e o fracasso para alunos que não são dotados de um grande dom natural para o aprendizado de uma segunda língua, segundo DORNYEI (2001). É responsabilidade do professor e da escola estar sempre se aprimorando. As pesquisas realizadas na área de ensino de línguas oferecem, cada vez mais, possibilidades de avaliação de dificuldades e fatores específicos que possam justificar as baixas performances. Segundo DORNYEI (2001) há fortes indicativos de que existem poucos alunos que realmente não teriam capacidade para aprender uma segunda língua, portanto a diferença está no processo de aprendizagem. Uma abordagem de ensino onde se considerem as individualidades e se oriente o aprendiz para utilização de estratégias e aproveitamento das suas melhores habilidades, pode mudar todo o cenário de aprendizagem da língua estrangeira e a contribuição das pesquisas sobre motivação e utilização de estratégias de aprendizagem podem auxiliar muito no processo de elaboração de propostas de intervenção para os alunos que não apresentam rendimentos satisfatórios. A realização desta pesquisa ilustrou características importantes dos alunos pertencentes ao programa educacional estudado. A elaboração do perfil destes alunos e o estabelecimento de áreas de competências e de dificuldades vai auxiliar na prevenção de futuros problemas através do treinamento para utilização das estratégias de aprendizagem e motivacionais que melhor se apliquem ao perfil identificado neste alunos. 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROWN, D. Principles of Language Learning and Teaching, 4.Ed. [S.l.:] Person Education Company, 2000. BROWN, D. Teaching by Principles: An Interactive Approach to Language Pedagy. 2.Ed. [S.l.:] Pearson Education Company, 2001. COHEN, A. D. Language Learning: Insights for learners, teachers, and researchers. [S.l.:] Heinle & Heinle, 1990. COHEN, A. D. Strategies in Learning and Using a Second Language. Harlow: Longman,1998. DECI, E.; RYAN, R. Intrinsic Motivation and self determination in human behavior. New York: Plenum Press,1985. DORNYEI, Z. Motivational Strategies in the Language Classsroom. [S.l.:] Cambridge University Press, 2001 DORNYEI, Z.; OTTÓ, I. Working Papers in Applied Linguistics, vol. 4. London: Thames Valley University. p. 43 - 69. [S.l.:] 1998. GARDNER, H. 1994 Estruturas da Mente, A Teoria da Inteligências Múltiplas, tradução Sandra Costa, Porto Alegre: Artes médicas Sul. 1983 GARDNER, R. Social Psychology and Second Language Learning. London: Edward Arnold, 1985. KRASHEN, S. D.; LONG, M.; SCARCELLA, R. Age, rate, and eventual attainment in second language acquisitions. [S.l.:] Newbury House, 1982. MCINTOSH, C.; NOELS, K. Self Determined Motivation for Language Learning; The Role of Need for Cognition and Language Learning Strategies. [S.l.:] 2004. NOELS, K.; PELLETIER, L.; CLEMENT, R.; VALLERAND, R. Why are you learning a second language? Motivational orientations and self dertermination theory, Language Learning. [S.l.:], 2000. p. 57 – 85. OXFORD, R.; SCARCELLA, R. The Tapestry of Language Learning, The Individual in the Communicative Classroom, [S.l.:] Heinle & Heinle Publishers, 1994. OXFORD, R. Language Learning Strategies: What every teacher should know. New York: Harper Collins, 1990. 53 RYAN, R.; DECI, E. Intrinsic and Extrinsic Motivations: Classic Definitions and New Directions, Contemporary Education Psychology. www.idealibrary..com.on. P. 54-67. Acessado em: 26/4/2006. WILLIANS, M.; BURDEN. Psychology for Language Teachers: a Social Constructivist Approach. [S.l.:] Cambridge University Press, 1997. 54 ANEXOS 55 ANEXO 1 – SELF DETERMINED MOTIVATION FOR LANGUAGES LEARNING Adaptado de NOELS (1999-2000) SELF- DETERMINED MOTIVATION QUESTIONNAIRE: For each of the statements below, please indicate to what extent you agree with the statement, using the 1- 5 scale below. If it is never or almost never true for you, circle 1; if it is always or almost always true for you, circle 5. Of course, it may neither be true nor untrue for you; if so, please circle the number between 2 and 4 that represents the best fit . 1 – Never or almost never true for me. 2 - Usually not true for me. 3 - Somewhat true for me. 4 - Usually true for me. 5 - Always or almost always true for me. Why are you learning English? 1. I don’t know: I don’t understand what I am doing studying English. 2. In order to get a more prestigious job later on. 3. Because I would feel guilty if I didn’t know English. 4. Because I think it is important for my personal development. 5. Because I enjoy the feeling of acquiring knowledge about the English community and their way of life. 6. Honestly, I don’t know, I truly have the impression of wasting my time in studying English. 7. In order to have a better salary later on. 8. Because I would feel ashamed if I couldn’t speak to my friends from the in English. 9. Because I choose to be the kind of person who can speak more than one language. 10. For the pleasure that I experience in knowing more about English literature. 11. I don’t see why I study English, and frankly, I don’t care. 12. To gain the benefits that speaking English will provide me. 13. Because I choose to be the kind of person who can speak English. 14. I probably once had good reasons for studying English, but I can’t think of many good reasons now. 15. For the satisfied feeling I get in finding out new things. 16. In order to understand more about how language works. 17. For the “high” I feel when hearing foreign languages spoken. 18. Because it is an important part of how I define myself. 19. For the enjoyment I experience when I grasp a difficult construct in 12345 12 345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 56 English. 20. In order to experience a different way of thinking about things. 21. For the satisfaction I feel when I am in the process of accomplishing difficult exercises in English. 22. In order to understand more about English. 23. Because I see myself as the kind of person who can speak English. 12345 12345 24. For the pleasure I get from hearing English songs. 25. Because I think English is a beautiful language. 26. Because I want to pass this course and get the course credits. 27. For the pleasure I experience when surpassing myself in my English studies. 28. For the “high” that I experience while speaking English. 29. Because there is social pressure to learn English. 12345 12345 12345 30. To show myself that I am a good citizen because I can speak English. 31. Because learning the language is a part of who I am and what I do. 32. Because I feel an obligation to do it. 33. For the satisfied feeling I get in finding out new things about the language. 34. Because it is a part of my identity. 35. Because I enjoy the challenge of learning English. 36. Because I have the impression that it is expected of me. 39. Because it may be a gateway to new opportunities. 40. Because I think it’s a good idea to know some English. 41. For the pleasure I feel as I get to know the language better. 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 57 ANEXO 2 – THE ROLE OF LANGUAGES LEARNING STRATEGIES OXFORD (1990) INVENTORY OF LEARNING STRATEGIES USE: Please turn the page Below are some statements pertaining to different techniques that English students might use to assist them in their learning. For each of the statements, please indicate to what extent you use the technique it describes, using the 1- 5 scale below. For example, if you use the technique fairly often, circle 4; if you always use the technique, circle 5 1 never use it 2 use it a little 3 sometimes 4 fairly often 1. I think of relationships between what I already know and new things I learn in English. 2. I use new English words in a sentence so I can remember them. 3. I connect the sound of a new English word and an image or picture of the word to help me remember the word. 4. I remember a new English word by making a mental picture of a situation in which the word might be used. 5. I use rhymes to remember new English words. 6. I use flashcards to remember new English words. 7. I physically act out new English words. 8. I review English lessons often. 9. I remember new English words or phrases by remembering their location on the page, on the board, or on a street sign. 10. I say or write new English words several times. 11. I try to talk like native English speakers. 12. I practice the sounds of English. 13. I use the English words I know in different ways. 14. I start conversations in English. 15. I watch English language TV shows spoken in English or go to movies spoken in English. 16. I read for pleasure in English. 17. I write notes, messages, letters, or reports in English. 18. I first skim a English passage (read over the passage quickly) then go back and read carefully. 19. I look for words in my own language that are similar to new words in English. 20. I try to find patterns in English. 21. I find the meaning of a English word by dividing it into parts that I understand. 5 always use it 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 58 22. I try not to translate word-for-word. 23. I make summaries of information that I hear or read in English. 24. To understand unfamiliar English words, I make guesses. 25. When I can’t think of a word during a conversation in English, I use gestures 26. I make up new words if I do not know the right ones in English. 27. I read English without looking up every new word. 28. I try to guess what the other person will say next in English. 29. If I can’t think of a English word, I use a word or phrase that means the same thing. 30. I try to find as many ways as I can to use my English. 31. I notice my English mistakes and use that information to help me do better. 32. I pay attention when someone is speaking English. 33. I try to find out how to be a better learner of English. 34. I plan my schedule so I will have enough time to study English. 35. I look for people I can talk to in English. 36. I look for opportunities to read as much as possible in English. 37. I have clear goals for improving my English skills. 38. I think about my progress in learning English 39. I try to relax whenever I feel afraid of using English. 40. I encourage myself to speak English even when I am afraid of making a mistake. 41. I give myself a reward or treat when I do well in English. 42. I notice if I am tense or nervous when I am studying or using English. 43. I write down my feelings in a language learning diary. 44. I talk to someone else about how I feel when I am learning English. 45. If I do not understand something in English, I ask the other person to slow down or say it again. 46. I ask English speakers to correct me when I talk. 47. I practice English with other students. 48. I ask for help from English speakers. 49. I ask questions in English. 50. I try to learn about the culture of English speakers. 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 59 ANEXO 3 – SELF EFFICACY QUESTIONNAIRE Adaptado de NOELS (1999-2000) Please turn the page The following questions ask you about your knowledge of English. Indicate your answers to the following statements by circling the number which corresponds best to your opinion. For example, you think you write English well, circle 5. However, if you think that your writing in English lies between “well” and “a little ”, you should circle 4. 1. I write English... 1 Not at all 2 3 A little 4 5 well 3 A little 4 5 well 3 4 5 2. I understand English... 1 Not at all 2 3. I read English... 1 2 Not at all A little well 4. I speak English... 1 Not at all 2 3 A little 4 5 well THANK-YOU VERY MUCH FOR YOUR PARTICIPATION! 60 ANEXO 4 – REPORT CARD (BOLETIM) 61 62