DELMA SANTOS COSTA ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE EM UMA COZINHA CENTRAL DE UMA REDE FAST FOOD EM LAURO DE FREITAS–BA Salvador-Ba 2008 1 DELMA SANTOS COSTA ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE EM UMA COZINHA CENTRAL DE UMA REDE FAST FOOD EM LAURO DE FREITAS–BA Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi Árido – UFERSA como o requisito parcial para obtenção do titulo de Especialização em Gestão da Qualidade e Vigilância Sanitária em Alimentos Orientadora: MSc Lílian Lessa Andrade UFBA Salvador-Ba 2008 2 DELMA SANTOS COSTA ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE EM UMA COZINHA CENTRAL DE UMA REDE FAST FOOD EM LAURO DE FREITAS–BA Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA como o requisito parcial para obtenção do titulo de Especialização em Gestão da Qualidade e Vigilância Sanitária em Alimentos Orientadora: MSc Lílian Lessa Andrade UFBA APROVADA EM 14 / 03 / 2008 BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Lílian Lessa Andrade - UFBA Presidente da banca ________________________________________ Dr. Alexandro Íris – UFERSA Primeiro Membro ________________________________________ Dr. João Alves do Nascimento Júnior - UFERSA Segundo Membro ________________________________________ Dr. Jean Berg Alves - UFERSA Terceiro Membro Salvador -Ba 2008 3 AGRADECIMENTOS A Deus, por ter-me concedido a vida e esta oportunidade de crescimento; Aos meus pais, Antonio e Delza, amores inigualáveis, que com carinho e dedicação, sempre trouxeram o apoio e o incentivo necessários às minhas realizações. Ao meu esposo Hatila pelo apoio em todas as minhas decisões profissionais e pelas palavras amigas nos momentos de angustia. A minha orientadora Lílian Lessa pelo apoio e compreensão na execução deste trabalho A todos os colegas da turma de especialização, em especial Rose e Lícia, pelos bons momentos de convivência; À diretoria da empresa, e aos participantes deste estudo, que oportunizaram, pelo relato de suas atividades, a concretização deste estudo; Aos meus amigos e parentes, mais próximos e distantes, de quem não citarei nomes para não cometer injustiças ao esquecer algum de vocês, que participaram do meu diaa-dia e que, direta ou indiretamente me toleraram e ajudaram a atingir o objetivo de concluir este trabalho. 4 “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” (Chico Xavier) 5 RESUMO As indústrias alimentícias têm procurado melhorar a qualidade e segurança de seus produtos, não apenas para atender as exigências da legislação brasileira e mundial, como também para oferecer produtos mais seguros aos consumidores. Este trabalho teve como objetivo identificar os pontos críticos de controle com proposta de elaboração do plano APPCC para o recheio das esfihas carne, queijo e frango, em uma central de produção de rede fast food localizada em Lauro de Freitas-BA. Foram definidos como objetos de estudo, os alimentos processados no setor açougue. Inicialmente, aplicou-se a lista de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos do anexo II da RDC nº 275 (21/10/2002) do Ministério da Saúde, realizando um diagnóstico do estabelecimento. Logo após, foram elaborados planos APPCC para os recheios esfiha carne, queijo e frango, seguindo os passos: 1) análise de perigos; 2) identificação dos pontos críticos de controle e construção do fluxograma de produção; 3) estabelecimento de limites críticos; 4) estabelecimento dos procedimentos de monitoração do sistema e 5) estabelecimento de ações corretivas. Devido ao baixo percentual de não conformidades identificadas, foi possível considerar que as boas práticas de fabricação estão implantadas, todavia, torna-se necessário a eliminação das falhas detectadas. Além disso, constatou-se que, a implementação do sistema de Análise de Riscos e Pontos Críticos de Controle, pode contribuir significativamente para a elaboração de produtos com mais qualidade e segurança alimentar, adquirindo maior credibilidade do produto na comercialização. Palavras-chave: APPCC; Segurança Alimentar; Esfiha; PCC. 6 ABSTRACT The food industry has been searching to improve the quality and safety of its products, not only to meet the requirements of the Brazilian and world legislation, but also to offer safer products to consumers. This study aimed to identify the critical points of control with draft preparation of the plan for the HACCP esfihas filling of meat, cheese and chicken in a plant producing network fast food located in Lauro de Freitas-BA.These were defined as objectives of study, and the processed food of the butcher sector. Initially, a checklist of best practices in manufacturing of food in Annex II of the DRC paragraph 275 (21/10/2002) of the Ministry of Health was applied, performing a diagnosis of the establishment. HACCP plans were developed for esfiha fillings of meat / cheese and chicken, using following steps: 1) analysis of hazards, 2) identification of critical points of control and construction of the flow of production; 3) establishment of critical limits; 4) establishment of procedures for monitoring the system and 5) establishment of corrective actions. Due to the low percentage of nonconformities identified, it was possible to consider that good manufacturing practices are implemented, however, it is necessary to eliminate flaws detected. Furthermore, it was found that the implementation of the system of the Risk Analysis and Critical Points of Control, can contribute significantly to the development of products with higher quality and food safety, gaining greater credibility in the marketing of the product. Keywords: HACCP; Food Safety; Esfiha; PCC 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Princípios do Sistema HACCP....................................................................... 24 Figura 2 - Diagrama decisório na identificação de PCC................................................. 28 Figura 3 - Proposta de Plano de APPCC........................................................................ 39 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Não conformidades identificadas no check list.............................................. 36 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Comparação do Sistema HACCP com o método tradicional de inspeção..... 16 Quadro 2 - Manual de boas Praticas de Fabricação.......................................................... 19 Quadro 3 - Comparativo PPHO e BBF............................................................................ 20 Quadro 4 - Arvore decisória para perigos microbiológicos.............................................. 26 Quadro 5 - Critérios de segurança considerados na metodologia HACCP...................... 29 Quadro 6 - Critérios de recebimento de gêneros alimentícios.......................................... 40 Quadro 7 - Análise dos perigos na produção recheio das esfiha carne/queijo e frango... 46 Quadro 8 - Princípios 03 a 07 do Plano APPCC na produção recheio esfihas carne, 48 queijo e frango.................................................................................................................. 10 LISTA DE ABREVIATURAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle BPF Boas Práticas de Fabricação DTA Doenças Transmitidas por Alimentos FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.) FDA Food and Drug Administration (Agência que regula alimentos e medicamentos) FMEA Failure Mode and Effect Analysis (Análise de Falhas, Modos e Efeitos) Hazard Analisys and Critical Control Points (Análise de Perigos e Pontos HACCP Críticos de Controle) International Commission on Microbiological Specifications for Foods ICMSF INPAZ (Comissão Internacional para Especificações Microbiológicas dos Alimentos) Pan American Institute for Food Protection and Zoonosis (Instituto PanAmericano de Proteção de Alimentos e Zoonose ) MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MS Ministério da Saúde OMS Organização Mundial da Saúde PC Ponto Crítico PCC(s) Ponto(s) Crítico(s) de Controle POP Procedimento Operacional Padrão PPHO Procedimento Padrão de Higiene Operacional 11 SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE QUADROS LISTA DE ABREVIATURAS 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 12 2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................... 14 2.1 2.2 2.2.1 2.2.2 2.3 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.3.4 Qualidade na Indústria de Alimentos...................................................... BPF e PPHO…………………………………………………………....... Boas Práticas de Fabricação..................................................................... Procedimento Padrão de Higiene Operacional....................................... O Sistema HACCP…….….…………….….……….………..……….…. Breve Histórico e Importância................................................................. Aplicação do Sistema HACCP................................................................. Etapas para o Estabelecimento do Sistema HACCP.............................. Pré-requisitos e Implantação do Sistema HACCP.................................. 14 17 17 19 22 22 23 24 31 3. MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................... 34 3.1 3.2 Material....................................................................................................... Metodologia................................................................................................ 34 34 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................. 36 4.1 Verificação das Conformidades e Não Conformidades no Programa de Pré-requisitos......................................................................................... Proposta Plano APPCC ............................................................................ Descrição das etapas do fluxograma........................................................ 36 38 40 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 52 GLOSSÁRIO................................................................................................................ 53 REFERÊNCIAS........................................................................................................... 55 ANEXOS....................................................................................................................... 59 4.2 4.2.1 12 1. INTRODUÇÃO De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Segurança Alimentar deve assegurar que toda população disponha de acesso físico e econômico a alimentos inócuos e nutritivos, que permitam manter uma vida sadia, ativa e plenamente produtiva (OPAS/OMS, 2001). Já o conceito brasileiro de segurança alimentar, enfatiza que deve ser garantido o acesso aos alimentos para todas as pessoas, todos os dias, em quantidade suficiente para assegurar uma vida ativa e saudável, contemplando ainda o acesso suficiente, regular e a baixo custo dos alimentos básicos, simultaneamente a melhoria das condições de vida e acesso as informações. Este conceito foi elaborado em Julho de 1994 na I Conferência Nacional de Segurança Alimentar (SESC, 1999). O acesso a uma maior variedade de produtos oriundos de todas as partes do mundo e a atual globalização dos mercados, devido à facilidade de comunicação entre os países e dos transportes cada vez mais rápidos, favoreceram a circulação de produtos alimentícios das mais variadas origens, tornando os aspectos referentes à Segurança Alimentar, um dos assuntos de maior relevância na atualidade. A busca pelo alimento, como item essencial para a sobrevivência do homem, vem desde os tempos primitivos, onde as civilizações alimentavam-se basicamente de frutas, grãos e animais de caça disponíveis no território; com o passar dos anos, esta atitude foi sendo modificada através da inclusão de novos hábitos alimentares. Vários fatores exerceram influência para esta mudança, entre eles o desenvolvimento econômico, o êxodo rural, o consumo de alimentos por refeições feitas fora de casa, refeições rápidas e alimentos industrializados, consumo de produtos induzidos pela publicidade comercial e pelo modismo, como as refeições das grandes redes de “fast foods”. Segundo OPAS (2001), as enfermidades transmitidas por alimentos (ETAs) são uma das principais causas de morbidade nos paises da América Latina e do Caribe. Os produtos de origem animal são uma importantíssima fonte de nutrientes, portanto, excelentes substratos para microrganismos, favorecendo a sobrevivência e multiplicação de flora deteriorante e patogênica, representando a principal categoria de alimento transmissor de doença. A carne, o leite, os ovos, procedentes de animais infectados ou contaminados durante sua elaboração, contribuem decisivamente para a incidência de 13 infecções, geralmente, de natureza diarréica. Os animais e o próprio homem (a partir de matéria fecal) constituem-se em fontes de infecção importantes na cadeia de transmissão destas doenças, favorecendo a disseminação de agentes patogênicos através da contaminação da água e alimentos. Dos resíduos fecais dos animais de sangue quente, provêm importantes patógenos para o ser humano, como as bactérias: Salmonella, Campylobacter, Escherichia coli enterotoxigênica e Listeria monocytogenes (ICMSF, 1997). Durante a produção de carne deve-se manter e controlar os princípios que permitam o máximo de qualidade, a fim de preservar os benefícios que o alimento pode proporcionar ao consumidor, pois estão sujeitos à contaminação por várias fontes. Sua qualidade e segurança dependem do controle que pode ser desenvolvido desde a criação, abate, pesca, preparação, armazenamento até a apresentação para venda. Para garantir a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos, tem sido utilizadas ferramentas como as boas práticas de fabricação e manipulação dos alimentos chamadas de Good Manufacturim Pratices (GMP) e o sistema de Analise de Perigos e Ponto Crítico de Controle (APPCC), pois se pode identificar os perigos concretos e adotar as devidas medidas preventivas e corretivas. Para as indústrias alimentícias, a implantação de um programa de segurança alimentar como o APPCC, cujos princípios são aceitos e reconhecidos internacionalmente, pode melhorar de maneira significativa o conhecimento dos processos e dos produtos. Neste sistema, os pontos críticos para a segurança, de forma geral, são enfatizados, o que, sem dúvidas, contribui para que as indústrias tornem-se mais competitivas e estáveis nos mercados nacional e internacional. O objeto de estudo escolhido para este trabalho foi o recheio das esfihas carne, queijo e frango, que representam um dos principais produtos comercializados por esta rede de fast food. Em função disto faz-se necessário o estabelecimento de programa que venha a garantir a seguridade deste alimento aos consumidores, visto ser o carro-chefe da empresa. Este trabalho teve como objetivo identificar os pontos críticos de controle com proposta de elaboração do plano APPCC para o recheio das esfihas carne, queijo e frango, em uma central de produção de rede fast food localizada em Lauro de Freitas-BA . 14 2.REVISÃO DE LITERATURA O presente capítulo tem como objetivo fundamentar, através da exposição dos conhecimentos constantes na literatura especializada, o tema abordado. Sendo assim, são expostos os conceitos qualidade na indústria de alimentos, boas práticas de fabricação (BPF), procedimentos operacionais padrão de higiene (PPHO) e o Sistema HACCP. No próximo item apresentam-se de maneira genérica os principais sistemas da qualidade utilizados pela indústria de alimentos que garantem, além da qualidade, a seguridade de seus produtos. 2.1 Qualidade na indústria de alimentos Segundo a Comissão Internacional para Especificações Microbiológicas dos Alimentos (ICMSF) “durante a produção, processamento, embalagem, transporte, preparação, manutenção e consumo, o alimento está susceptível à contaminação por substâncias tóxicas ou por microrganismos infecciosos ou toxigênicos”. Além disso, se um consumidor ingerir um produto com a contaminação referida acima, poderá adquirir uma enfermidade transmitida por alimento. De acordo com vários autores, e dentre eles: Silva Junior (2001), Arruda (2002b) e Trigo (1999), a garantia contra surtos de contaminação de alimentos, deve ser identificada em todos os setores operacionais, passando desde a recepção de gêneros alimentícios, pela higienização de alimentos, utensílios e equipamentos, a estocagem, o pré-preparo, o preparo até a distribuição do alimento. Para ser atingido o padrão estabelecido pela legislação brasileira, expressa pelas Portarias nº 1428, de 11/1993 e nº 326, de 30/07/07, do Ministério da Saúde, reconhece-se o papel das normas série ISO 9000 no gerenciamento da qualidade no design, desenvolvimento, produção, instalação e serviços (ISO 9001), do gerenciamento da qualidade total (TQM), das 15 Boas Práticas de Manufatura (GMP) e dos princípios da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP) na atividade das indústrias de alimentos (PINTO, 1999). Mortimore e Wallace (1997) citam a necessidade de que seja entendido o que é um sistema de gestão da qualidade, definindo-o como o conjunto de todas as atividades que visam garantir o cumprimento dos objetivos da qualidade. Desta forma, o APPCC pode ser considerado um sistema de gestão da qualidade, uma vez que, por meio da identificação e controle de todos os pontos ou procedimentos, assegura a sanidade do alimento. A falta de controle pode resultar em risco inaceitável à saúde. Os autores citam também que nas indústrias de alimentos, a segurança de seus produtos deve ser considerada prioridade máxima. O APPCC foi criado tomando-se como base um sistema de engenharia conhecido como Failure, Mode and Effect Analysis - FMEA – ou Análise de Falhas, Modos e Efeitos –; neste sistema se observa, em cada etapa do processo, os erros que podem ocorrer, suas causas prováveis e seus efeitos, para então se estabelecer o mecanismo do controle (MORTIMORE; WALLACE, 1997). Segundo o Pan American Institute for Food Protection and Zoonosis (INPAZ), o APPCC é compatível com outros sistemas de gestão de qualidade. Isto significa que inocuidade, qualidade e produtividade podem ser abordadas em conjunto, resultando em benefícios para os consumidores, como maior confiança, maior lucro para as indústrias e melhores relações entre os que trabalham em função do objetivo comum de garantir a inocuidade e a qualidade dos alimentos. Para o INPAZ (1997) a crescente aceitação do sistema APPCC em todo o mundo pelas indústrias, governos e consumidores, juntamente com a compatibilidade com os sistemas de garantia da qualidade, permite prever que esse sistema será a ferramenta mais utilizada no século XXI para garantir a inocuidade dos alimentos em todos os países. O método APPCC tem sido utilizado por profissionais de controle de qualidade, por órgãos de saúde pública, por cientistas, por acadêmicos e aplicado no processamento dos alimentos por ter seu enfoque na identificação dos perigos à saúde humana. Este método é racional, pois se baseia em dados registrados sobre causas de doenças e deterioração. Enfatiza sua ação em operações consideradas criticas, onde o controle é essencial, diferentemente do modelo de inspeção tradicional. É lógico e compreensível, pois considera os ingredientes, processos e usos subseqüentes dos produtos ou preparações. È continuo, uma vez que os 16 problemas são detectados antes ou no momento em que ocorrem, possibilitando a aplicação imediata das medidas corretivas. È sistemático por ser completo, abrangendo todas as operações e medidas de controle, reduzindo assim, os riscos de ocorrências de doenças veiculadas por alimentos (SENAI, 2000) O sistema HACCP é indicado por vários órgãos competentes e várias empresas do setor alimentício. Fazendo-se uma comparação entre o método tradicional de inspeção para garantir a segurança alimentar e o HACCP (Quadro 01), pode-se observar alguns pontos que justificam a sua utilização (MITCHELL apud ROQUE-SPECHT, 2002). Quadro 01: Comparação do Sistema HACCP com o método tradicional de inspeção. MÉTODO TRADICIONAL SISTEMA HACCP O controle é reativo, em que ações corretivas são O controle é proativo, em que ações corretivas podem tomadas depois que o problema ocorreu. ser tomadas antes que o problema ocorra. Considerável experiência pode ser necessária para interpretar os resultados dos testes. Controle é feito por características que são fáceis de serem monitoradas, como tempo, temperatura e aparência. O controle é tão rápido que ações corretivas podem ser A realização dos testes pode ser muito lenta. tomadas quando necessário. O custo da amostra do produto depende do tipo de O controle é barato em comparação com métodos e as análise. análises químicas e microbiológicas. A operação é controlada por funcionários do laboratório que, muitas vezes, não são conscientes sobre os aspectos de manufatura. Somente um número limitado de amostras pode ser avaliado. Nenhum HACCP envolve todos os níveis de staff segurança do produto, incluindo o pessoal técnico. Muitas medidas podem ser tomadas para cada grupo de produtos porque o controle é focado em pontos críticos da operação. perigo em potencial é tomado em consideração. HACCP pode ser usado para predizer um perigo potencial. Fonte: Roque-Specht, (2002). O Sistema HACCP tem por finalidade identificar os perigos microbiológicos existentes em uma linha de produção, identificar os pontos críticos de controle (PCCs) nos quais estes perigos podem ser controlados e estabelecer sistemas baseados predominantemente em testes químicos, físicos e em observações visuais através dos quais a efetividade do controle possa ser monitorada. 17 É de fundamental importância considerar que a implantação do HACCP deve ser feita de forma personalizada, levando-se em consideração os recursos materiais e humanos disponíveis e o tipo e a forma de consumo da produção (ARRUDA, 2002b). Para a implantação do Sistema HACCP, um dos pré-requisitos básicos é a aplicação das Boas Práticas de Fabricação e utilização dos Procedimentos Operacionais Padrão de Higiene, sobre o que versará os próximos itens. 2.2 BPF E PPHO O método APPCC é executado a partir da aplicação das Boas Práticas de Fabricação e Procedimento Padrão de Higiene Operacional, os quais englobam todos os itens envolvidos na elaboração de um alimento, desde a estrutura física até procedimentos para evitar a contaminação do produto. 2.2.1 Boas Práticas de Fabricação (BPF) A Portaria nº1428 do Ministério da Saúde (MS), Brasil (1993), define Boas Práticas de Fabricação como normas e procedimentos que visam atender a um determinado padrão de identidade e qualidade de um produto ou serviço na área de alimentos, cuja eficácia e efetividade devem ser avaliadas através da inspeção e/ou investigação, consistindo na apresentação de informações referentes aos seguintes aspectos básicos: a) Padrão de Identidade e Qualidade - PIQ; b) Condições Ambientais; c) Instalações e Saneamento; d) Equipamentos e Utensílios; e) Recursos Humanos; f) Tecnologia Empregada; g) Controle de Qualidade; h) Garantia de Qualidade; i) Armazenagem; j) Transporte; k) Informações ao Consumidor; l) Exposição / Comercialização; m) Desinfecção / Desinfestação. A Portaria nº 368, do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Brasil (1997), aborda especificamente as BPF aprovando o Regulamento Técnico sobre as condições higiênico-sanitárias e de Boas Práticas para estabelecimentos 18 industrializadores de alimentos, onde são estabelecidos os requisitos essenciais de higiene para alimentos destinados ao consumo humano. A Portaria nº 326, de 1997, da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ligada ao MS exige para estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos, o manual de BPF e sugere os PPHO para que estes facilitem e padronizem a montagem do manual de BPF, a mesma exigência é feita na Portaria nº 368 do MAPA . Para Silva Junior (2001, p. 56) “estas publicações oficiais visam um melhor entrosamento entre o que se vai produzir com o que se vai fiscalizar, tendo como conseqüência um alimento com melhor qualidade sanitária”. Segundo Franco (1996), este sistema define requisitos essenciais de higiene e de boas práticas de elaboração para alimentos industrializados destinados ao consumo humano, sendo responsável por modificações no processamento da matéria-prima, na edificação, uso de equipamentos, alem de interferir no sistema de gestão da empresa e promover mudanças comportamentais nas pessoas envolvidas na cadeia de produção. Santos apud Joaquim (2001) afirma que as boas práticas de fabricação, além de ser requisito de legislação nacional, proporcionam padronização de procedimentos, resultando em uso mais racional de insumos, na melhoria da operação propriamente dita e ainda, no comportamento das pessoas, o que favorece a melhoria da produtividade. O Manual de Boas Práticas de Manipulação e Produção de Alimentos deve ser um descritivo real dos procedimentos técnicos para cada estabelecimento em especial, envolvendo os pré-requisitos básicos para uma perfeita produção dos alimentos, entre os quais Silva Junior (2001) destaca: responsabilidade técnica, controle de saúde dos funcionários, controle da água para consumo, controle integrado de pragas, regras para visitantes, controle das matérias-primas, adequação estrutural do estabelecimento. A partir destas condições básicas, devem-se definir os procedimentos técnicos envolvendo a higiene (pessoal, ambiental e alimentos), manipulação (recebimento, armazenamento, pré-preparo/preparação, cocção, refrigeração, congelamento, reaquecimento, porcionamento e distribuição) e como etapa final definir as regras de controle para alimentos transportados. O manual de boas práticas é fundamental para desenvolver qualquer outra metodologia complementar, é portanto, um prérequisito para a implantação do HACCP. Assim, o Manual de Boas Práticas de Manipulação, deve abordar procedimentos e condutas em relação aos itens apresentados no quadro 02: 19 Quadro 02: Manual de Boas Práticas de Manipulação MANUAL DE BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO Descrever as condutas em relação a: • Funcionários • Matérias-primas • Controle integrado de pragas • Água de abastecimento • Visitantes • Condições estruturais Descrever os procedimentos e critérios em relação a: • Higiene: - Pessoal - Ambiental - Alimentos • Manipulação - Recepção de mercadorias - Armazenamento de produtos - Reconstituição - Descongelamento - Pré-preparo/preparação - Refrigeração - Cocção - Reaquecimento - Porcionamento - Espera para distribuição - Distribuição - Alimentos transportados • Transporte - Veículos - Higiene - Condições de tempo/temperatura Fonte: Silva Junior, 2001, p 58. As Boas Práticas consistem em procedimentos que permitam atingir os critérios de segurança de um modo amplo, enquanto que o HACCP deve ser entendido como um suporte técnico para melhorar o entendimento e oferecer melhores condições de controle do processo de produção de alimentos (SILVA JUNIOR, 2001). 2.2.2. Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO) O Procedimento Padrão de Higiene Operacional (PPHO) do inglês Standard Sanitizing Operating Procedures (SSOP) é representado por requisitos de BPF considerados críticos na cadeia produtiva de alimentos. Para estes procedimentos, recomenda-se a adoção 20 de programas de monitorização, registros, ações corretivas e aplicação constante de checklists. Os PPHO preconizados pelo Food and Drug Administration (FDA) constituíam, até outubro de 2002 a referência para o controle de procedimentos de higiene, até que em 21/10/02 a Resolução 275 da Agencia Nacional de vigilância Sanitária (ANVISA), criou e instituiu aqui no Brasil os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) que vão um pouco além do controle da higiene, porém, não descaracterizam os PPHO, que continuam sendo recomendados pelo MAPA, inclusive em resolução de maio de 2003 (Resolução nº 10 de 22/05/2003- MAPA) que institui o programa PPHO a ser utilizado nos estabelecimentos de leite e derivados que funcionam sob regime de inspeção federal, como etapa preliminar de programas de qualidade como o APPCC. Às vezes, o que tem sido feito é o acréscimo dos itens que faltam nos PPHO em comparação aos POP (5,7,8), enumerando-os como PPHO 9, 10, e o que for mais necessário, mas ambos (PPHO e POP) que são instrumentais vão dar suporte à confecção do mesmo manual de boas práticas que é documental. Quadro 03 : Comparativo PPHO e POP PPHO 1- Potabilidade da água 2- Higiene das superfícies de contato com o produto POP 1-Higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios 2-Controle da potabilidade da água 3- Prevenção da contaminação cruzada 3- Higiene e saúde dos manipuladores 4- Higiene pessoal dos colaboradores 4- Manejo dos resíduos 5-Proteção contra contaminação do produto 6- Armazenamento de produtos químicos 7- Saúde dos colaboradores 8- Controle integrado de pragas 5-Manutenção preventiva e calibração de equipamentos 6- Controle integrado de vetores e pragas urbanas 7- Seleção das matérias-primas, ingredientes e embalagens. 8- Programa de recolhimento de alimentos Fonte : MAPA(2003) e MS (2002) Os PPHO ou os POPs juntamente com as BPF vão dar o suporte necessário para que o sistema APPCC não desvie do seu objetivo e possa agir em pontos cruciais, onde as ferramentas anteriores não conseguiam atuar, porém, elas vão auxiliar muito na redução de custos e esforços. Observa-se também que os POPs contemplam alguns itens do manual de 21 boas práticas, sendo um pouco mais abrangente que os PPHO. Tanto a Portaria nº1428 (MS), quanto a nº46/98 (MAPA), preconizam os mesmo quesitos para BPF, com pequenas diferenças. Um ambiente sanitário é condição prévia básica para se preparar alimentos inócuos e o sucesso da implementação do HACCP. Instalações ou equipamento não sanitários, práticas indevidas de manipulação de alimentos, higiene pessoal inadequada e práticas não sanitárias criam um ambiente propício à contaminação de produtos, portanto, inadequado para a implantação do HACCP (INPPAZ, 2001). Os Padrões e Procedimentos Operacionais de Sanitização são programas considerados parte das BPFs, mas, devido a sua importância, é necessário estudá-los em separado. Para Figueiredo (1998) o objetivo central dos Padrões e Procedimentos Operacionais de Sanitização - SSOPs é prevenir a contaminação direta de produtos. Portanto dá-se ênfase especial às principais fontes potenciais de contaminação, a saber: contaminação secundária ou cruzada de produtos crus para produtos cozidos; contato de produtos com água não potável ou outras substâncias insalubres; contato com substâncias não alimentícias; contato com partículas aerotransportadas; enfermidades de manipuladores ou higiene imprópria; objetos estranhos aos alimentos; e animais daninhos. De acordo com o Food Safety and Inspection Service (FSIS), todo estabelecimento que lida com alimentos deve elaborar, manter e cumprir as determinações, por escrito, do plano SSOP. Os SSOPs abordam todos os procedimentos diários de higiene operacional e préoperacional que o estabelecimento deve implementar para evitar contaminação direta, indireta ou adulteração dos produtos, assim como as devidas correções efetuadas, quando necessário (INPPAZ, 2001; FIGUEIREDO, 1998). Portanto, o SSOP deve descrever todos os procedimentos operacionais administrados pelo estabelecimento, especificar a freqüência dos procedimentos, identificar o indivíduo responsável por implementar e monitorar o SSOP e ser assinado e datado pelo indivíduo com autoridade de implementação, quando adotado ou modificado. 22 2.3 O Sistema HACCP 2.3.1 Breve histórico e importância A aplicação do APPCC para a produção de alimentos foi iniciada pela Pillsbury Company em resposta aos requisitos de inocuidade impostos pela National Aeronautic and Space Administration (NASA). A aplicação do sistema originou-se no inicio da década de sessenta, desenvolvendo alimentos para o programa espacial dos Estados Unidos. Objetivavase aproximar dos 100 % a garantia contra a contaminação por bactérias patogênicas e vírus, toxinas e riscos químicos e físicos que poderiam causar doenças ou ferimentos aos astronautas. Em 1971, nos Estados Unidos, ocorreu a primeira apresentação do sistema APPCC durante a Conferência Nacional sobre Proteção de Alimentos e, posteriormente, este passou a servir de base para a agência americana Food and Drug Administration - FDA, no desenvolvimento de normas legais para a produção de alimentos de baixa acidez. Em 1973 foi publicado o primeiro documento detalhando o sistema APPCC, pela Pillsbury Company, o qual foi utilizado para o treinamento dos inspetores da agência FDA (GARCIA, 2000). Durante os anos seguintes, sistemas APPCC foram gradualmente implementados por outros setores da indústria alimentícia e seus segmentos, como os de serviços alimentares e de transporte de alimentos. Organizações de classes profissionais adotaram o APPCC, como a International Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF) (PINTO, 1999). Gelli (2001) comenta que desde 1991, o Codex Alimentarius iniciou a elaboração de documentos sobre este tema, com o titulo de “Guias para Aplicação do Sistema HACCP” e que, em 1993, foi formalmente transformado em documento de trabalho do Comitê Codex Alimentarius para a Higiene de Alimentos. No Brasil, na década de 90, o Serviço de Inspeção de Pescados e Derivados SEPES, órgão do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária - MARA, estabeleceu normas para a implantação do sistema APPCC nas indústrias de pescado (GARCIA, 2000). 23 Em 1993, a Portaria nº 1498 do Ministério da Saúde estabeleceu obrigatoriedade e procedimentos para a implantação do sistema nas indústrias de alimentos a partir de 1994 (GARCIA, 2000). O Sistema HACCP tem por finalidade identificar os perigos existentes em uma linha de produção, identificar os pontos críticos de controle (PCCs) nos quais estes perigos podem ser controlados e estabelecer sistemas baseados predominantemente em testes químicos, físicos e em observações visuais através dos quais a efetividade do controle possa ser monitorada. É de fundamental importância considerar que a implantação do HACCP deve ser feita de forma personalizada, levando-se em consideração os recursos materiais e humanos disponíveis e o tipo e a forma de consumo da produção (ARRUDA, 2002b). Porém, Silva Junior (2001, p.57, grifo do autor) enfatiza que: O método HACCP apenas estuda os perigos e indica os controles dos pontos críticos prioritários que tragam segurança aos alimentos (PCCs), sendo que as condutas e critérios descritos no manual de boas práticas configuram os procedimentos que devem ser seguidos para o controle higiênico-sanitário eficaz. Com isso, não existe método HACCP sem um manual de boas práticas elaborado e implantado. A implementação do sistema APPCC reduz a necessidade de inspeção e teste do produto final, aumenta a confiança do consumidor e resulta num produto comercialmente mais viável. Facilita o cumprimento das exigências legais e permite o uso mais eficiente de recursos, acarretando redução dos custos da indústria de alimentos e uma resposta mais imediata para as questões de inocuidade de alimentos (INPAZ,2001). Sabe-se que para implantar o Sistema HACCP, um dos pré-requisitos básicos é que a empresa atue nas Boas Práticas de Fabricação e que utilize os Procedimentos Operacionais Padrão de Higiene. 2.3.2 Aplicação do Sistema HACCP O sistema APPCC aplica-se tanto para produtos existentes quanto para novos produtos pois permite uma análise estruturada dos perigos microbiológicos, físicos e químicos potenciais relacionados com a produção e comercialização de um produto. 24 Os requisitos para a implantação em uma indústria vão além das BPF e PPHO; o comprometimento da alta direção é indispensável para o início das atividades, essa deve ser informada e motivada para a importância e benefícios que o sistema possa trazer e, também, disponibilizar recursos para aquisição de equipamentos, sanitizantes, material de pesquisa, etc. 2.3.3 Etapas para o desenvolvimento do Sistema HACCP O Sistema HACCP está constituído de várias etapas inter-relacionadas desde a produção de alimentos, a começar pela obtenção da matéria-prima, até o consumo do alimento, fundamentando-se na identificação de perigos potenciais à segurança do alimento bem como nas medidas para o controle das condições que geram os perigos que devem ser seguidas (SENAI, 2000). Segundo Pinto (1999, p.14), conforme se verifica na figura 1: O Sistema HACCP sustenta os sete seguintes princípios: análise perigo, identificação de pontos críticos de controle, estabelecimento limites críticos para cada ponto crítico de controle, estabelecimento procedimento de monitoramento, de ações corretivas/preventivas, procedimentos de arquivamento de dados e de verificação. Conduzir Análise de Perigos Identificar Pontos Críticos de Controle Estabelecer Limites Críticos de Controle Descrever Procedimentos de Monitoramento ao PCC Estabelecer Medidas Corretivas Efetivar Procedimentos de Documentação Estabelecer Procedimentos de Verificação Figura 1 - Princípios do Sistema HACCP.. Fonte: Pinto (1999). de de de de 25 Para Destro (1996), porém a primeira etapa a ser cumprida no sistema HACCP deve ser o preparo do fluxograma detalhado do processo, incluindo desde especificações dos ingredientes, formulação do produto, etapas de processamento, sistema de embalagem, até o produto final ou consumidor. A seguir é que se deve identificar perigos, determinar sua severidade e os riscos decorrentes destes perigos. Após esta etapa, pode-se identificar ou determinar os pontos críticos de controle, nos quais os perigos possam ser controlados, para que então se especifique, para cada PCC, os critérios que possam indicar em que situações uma operação encontra-se sob controle. Na seqüência deve-se estabelecer e colocar em prática procedimentos para monitorar cada PCC, a fim de verificar se os mesmos estão realmente sob controle. Sempre que o monitoramento indicar que um PCC não está sob controle, realiza-se a próxima etapa que consiste em especificar e registrar quais ações corretivas serão tomadas. Como última etapa, deve-se verificar, através do uso de informações adicionais, se o Sistema HACCP planejado está funcionando. 2.3.3.1 Princípio 01 - Análise e identificação de perigos Este princípio representa a base para a identificação dos PCCs e PCs e visa identificar perigos significativos e estabelecer medidas preventivas cabíveis. Com auxílio do histórico dos produtos, consultas bibliográficas, entre outros recursos, os perigos são identificados, focando a atenção aos fatores, de qualquer natureza, que possam representar perigo. Todas as matérias-primas, ingredientes e etapas são avaliadas e, quando não é possível eliminar, prevenir, ou reduzir o perigo, por meio de medidas preventivas, alterações no fluxograma deverão ser realizadas. O beneficiamento dos produtos alimentícios nas indústrias expõe os alimentos a um maior contato com equipamentos, superfícies de trabalho, utensílios, agente manipulador, condições de processamento e armazenamento, envolvendo as questões relativas ao binômio tempo/temperatura utilizados nos processos, além da agregação de substâncias coadjuvantes de tecnologia, conservantes e flavorizantes, aumentando ou interagindo com a carga dos contaminantes já presentes. Estas condições e suas implicações tornam os alimentos potenciais carregadores de contaminantes e, portanto, nem sempre inócuos à saúde humana, conferindo aos alimentos a condição de transmissores de doenças, as quais podem ser de 26 origem química, física e microbiológica. As substâncias químicas podem ocorrer de modo natural nos alimentos, como as toxinas presentes em algumas espécies de peixes e cogumelos, ou resultar da incorporação intencional ou acidental, em qualquer etapa da cadeia alimentar de agentes nocivos como: pesticidas (organoclorados, organofosforados), fármacos (antibióticos, hormônios, aditivos), metais pesados. A contaminação de origem física é representada por pedaços de vidro, metal, plástico e outros elementos, como também por resíduos de radioatividade. Os perigos biológicos (bactérias, fungos, parasitas e vírus) estão presentes nos alimentos, os quais se apresentam contaminados desde a sua origem (ICMSF, 1997) 2.3.3.2 Princípio 02 - Identificação dos pontos críticos de controle Ponto crítico de controle (PCC) é uma operação na qual uma medida de prevenção ou controle pode ser aplicada, sendo essencial prevenir ou eliminar um perigo relativo à segurança dos alimentos, reduzi-los ou mantê-los em níveis aceitáveis. Os PCCs são pontos caracterizados como realmente críticos à segurança, e devem ser restritos ao mínimo possível. Um perigo pode ser controlado por um mesmo PCC, ou que mais que um PCC pode ser necessário para controlar um único perigo Identificar os PCCs no estudo do HACCP pode ser facilitado através da utilização da arvore decisória, que consiste em se fazer uma serie de perguntas para cada etapa de elaboração do produto. Os pontos considerados como PCCs, devem ser identificados e enumerados no fluxograma. Para a identificação do PCC, pode-se aplicar as árvores decisórias apresentadas no quadro 04 e figura 02 Quadro 04 : Árvore decisória para perigos microbiológicos ARVORE DECISORIA PARA PERIGOS MICROBIOLOGICOS 1. Existem perigos nas matérias-primas utilizadas e que pode trazer risco à saúde? Não : não é PCC Sim : continue na etapa seguinte 2. Nas etapas de preparação os perigos podem ser controlados? Não : mudar a preparação ou eliminar o alimento do cardápio Sim : definir em quais etapas poderão ser determinados os PCCs 3. Existe uma etapa de cocção que elimine os eprigos? Não : procurar outro tipo de controle Sim : é um PCC quando atingir a temperatura de segurança 4. Existe uma etapa que previna os perigos (aquecimento, refrigeração, congelamento, etc)? Não : procurar outro tipo de controle Sim : é um PCC quando o processo evitar a multiplicação microbiana 27 5. Existe uma etapa que retarde o metabolismo microbiano ou reduza sua quantidade a níveis suportáveis até o consumo? (higiene, preservantes, acidulantes, etc) Não : volte a etapa 2 Sim : é um PCC pouco eficaz. Procurar encurtar os tempos e consumir rapidamente o alimento, enquanto os microrganismos se encontram em níveis suportáveis Fonte : Silva Junior, p 210, 2001) A árvore decisória é uma ferramenta de trabalho que não substitui o conhecimento especializado dos perigos, do fluxograma e do processamento do produto; porém, auxilia nesta etapa. Ressalta-se que o seguimento não consubstanciado da seqüência de perguntas pode levar a falsas conclusões. De acordo com o texto do Instituto Adolfo Lutz, 1997 apud Silva Junior ( 2001, p. 208-209) “todos os pontos, etapas e procedimentos são objetos de controle, porém, nem todos são considerados críticos. Um determinado ponto pode ser identificado como PCC quando os perigos podem ser eliminados no ponto ou etapa”. 28 Responder a questão 1. Existe(m) medida(s) preventiva(s) para o perigo? Modificar a etapa, processo ou produto SIM NÂO O controle nesta etapa é necessário para garantir a inocuidade do produto? NÂO Não é um PCC SIM Pare Responder a questão 2. Esta etapa foi projetada para eliminar ou reduz ir o perigo a níveis aceitáveis? NÂO SIM Responder questão 3. O perigo pode atingir níveis inaceitáveis? SIM NÂO Não é um PCC Responder questão 4. Existe uma etapa posterior que elimine ou reduza o perigo a níveis aceitáveis? NÂO NÃO PONTO CRÍTICO DE Não é PCC Pare CONTROLE - PCC Figura 2 - Diagrama decisório na identificação de pontos críticos de controle. Fonte: OPAS (2001) Pare 29 2.3.3.3 Princípio 03 - Estabelecimento de limites críticos para cada PCC Os limites críticos são aqueles que separam os produtos aceitáveis dos inaceitáveis, podendo ser qualitativos ou quantitativos. Cada parâmetro estabelecido deve ter seu limite critico estabelecido, de forma a manter a visão clara das medidas de controle dos PCCs. Quadro 05 : Critérios de segurança considerados na metodologia HACCP. CRITÉRIOS ESPECIFICAÇÕES TEMPERATURA Congelados: -18º; De refrigeração: Pescado: até 0º; Carnes: até 4º; Laticínios: até 8º; Hortifrutigranjeiros: até 10º Para óleo de fritura: 180º De descongelamento: 4º C Do banho-maria: 90º (alimentos no mínimo a 60º) Do balcão frio: 8º (alimentos no máximo 10º) Da água da lavadora de utensílios: 90º De reaquecimento no interior do alimento: 70º (2min) De cocção no interior do alimento: 80º (5min), 74º (5 min) ; 65º (10min) De transporte de alimentos quentes e temperatura do pass through ou estufa para espera de distribuição: 65º; Alimentos durante a manipulação, entre o pré-preparo e o preparo final fora da refrigeração, devem ficar no máximo 1 hora e 30 minutos à temperatura ambiente; cubas com alimentos abaixo de 60ºC devem permanecer apenas 60 minutos na distribuição; carnes cruas ou cozidas devem permanecer na refrigeração a 4ºC até 48horas. O tempo necessário para uma refrigeração segura, depende da cocção inicial, podendo ser do seguinte esquema: (ºC) TEMPO HIGIENE TECNICOS -Cocção a 80ºC no interior do alimento por 5 minutos, em seguida resfriamento até atingir 55ºC, a partir daí deve atingir 4ºC em 4 horas, -Cocção a 74ºC no interior do alimento por 5 minutos, em seguida resfriamento até atingir 55ºC, a partir daí deve atingir 4ºC em 5 horas, -Cocção abaixo de 74ºC até 65ºC no interior do alimento por 10 minutos, em seguida resfriamento até 55ºC, deve atingir 4ºC em 2 horas -Os equipamentos e utensílios de preparação devem conter no máximo 50 bactérias/cm e ausência de microrganismos potencialmente patogênicos ou indicadores de contaminação fecal. Os utensílios de mesa devem conter no máximo até 100 bactérias/cm ou por unidade. Estes critérios devem ser atingidos através da lavagem com água e sabão ou sem desinfecção final. -As mãos, após a lavagem com água e sabão com ou sem antissepsia, devem estar livres de microrganismos potencialmente patogênicos ou indicadores de contaminação fecal. -Os alimentos vegetais (verduras, legumes e frutas) lavados e desinfetados de modo a atingir os padrões microbiológicos estabelecidos para esta categoria de alimentos, não devendo existir resíduos de desinfetantes em concentrações nocivas à saúde. -Ovos quando utilizados em preparação que não vão sofrer tratamento térmico deverão ser lavados e desinfetados como para os alimentos vegetais. Altura máxima dos monoblocos e assadeiras= 10 cm Porcionamento das carnes: espessura de 10 cm; dos pescados: no máximo, 1 cm; dos alimentos na geladeira após a cocção, para que atinjam a temperatura de refrigeração segura. 30 Matérias-primas perecíveis: observação das características sensoriais e testes físicoquímicos (H2S amônia e pH) conforme padrões. Alimentos transportados: congelados= -18ºC; refrigerada= 4-6ºC; resfriada= 6-10ºC; quente= 65ºC SAÚDE Exame médico e análises laboratoriais admissionais, revisionais e demissionais: análises laboratoriais para pesquisa de doenças agudas, crônicas ou portadores de microrganismos patogênicos (coprocultura, coproparasitológico, hemograma, VRDL e urina tipo 1); radiografia dos pulmões; exame clínico para avaliação das condições da pele e das mãos, para os manipuladores de alimentos. Fonte : Adaptado de Silva Junior (2001) 2.3.3.4 Princípio 04 - Estabelecimento dos procedimentos de monitoramento de cada PCC Para garantir que as medidas de controle operem como planejado nos PCCs e detectem qualquer perda de controle é necessário definir um sistema de monitoramento dos PCCs. Neste deve estar definido qual o procedimento de controle que deve estar associado a cada PCC. Os métodos de controle devem ser rápidos, para serem efetivos. O monitoramento pode ser conduzido da seguinte maneira: a) observação das práticas de manipulação e os procedimentos de limpeza; b) medição do tempo/temperatura, pH ou acidez, atividade de água, concentração de detergente/desinfetante, características do recipiente/embalagem (costurado, selado, a vácuo); e/ou c)coleta e análise de amostras de alimentos. Envolve também observação, medição ou registro sistemático dos fatores importantes para a prevenção ou controle dos perigos. O sistema de monitoração deve permitir, quando possível, que os ajustes sejam feitos antes que uma medida exceda os limites críticos, portanto deve ser efetuado durante o preparo do alimento. 2.3.3.5 Princípio 05 - Estabelecimento de ações corretivas Ações corretivas devem sempre ser aplicadas quando ocorrem desvios dos limites críticos. No Plano APPCC, o procedimento a ser seguido na ocorrência de um desvio bem como o responsável pela aplicação das ações corretivas, já esta definido na implantação, devendo a resposta ser rápida, no momento ou imediatamente após a identificação de 31 ocorrências que envolvam a qualidade sanitária dos produtos. Os desvios e procedimentos para disposição dos produtos devem estar documentados. 2.3.3.6 Princípio 06 - Estabelecimento dos procedimentos de registros Os procedimentos do sistema HACCP devem estar documentados, assim como os registres das atividades de monitoramento dos PCCs, das ações corretivas relacionadas aos desvios e das modificações do sistema HACCP. Estas informações devem ser mantidas para acompanhamento e revisões subseqüentes. 2.3.3.7 Princípio 07 - Estabelecimento de procedimentos de verificação A aplicação de métodos de verificação e auditoria, procedimentos e testes, incluindo amostragem e análises aleatórias, podem ser utilizadas para testar se o sistema HACCP está adequadamente implantado e se funciona conforme planejado e, também, para assegurar que o monitoramento está sendo conduzido de maneira efetiva e eficiente.. De maneira regular ou não planejada, a informação disponível no sistema HACCP deve ser sistematicamente analisada. 2.3.4 Pré-requisitos e implantação do Sistema HACCP A empresa processadora de alimentos que tenha intenção de implantar o sistema HÁCCP deve dispor de um programa que controle as condições operacionais, mantendo o seu ambiente interno adequado para a produção de um alimento seguro. Segundo Gelli (2001), não se pode, sob nenhuma hipótese, desconsiderar os princípios e regras das Boas Práticas na conceituação e implementação do Sistema HACCP: “quando as boas práticas não são respeitadas, não há como e nem por que implementar o Sistema APPCC”. 32 Segundo o IAMFES apud Arruda, (2002b) existem algumas providências a serem tomadas no desenvolvimento do Sistema HACCP, como: 1. comprometimento da alta administração; 2. delegação de responsabilidades; 3..seleção e treinamento de equipes; 4. reunião de materiais; 5. revisão dos dados epidemiológicos; 6. exame de informação de produção e preparo de alimentos e, 7. seleção de locais para o início da implementação. 2.3.4.1 Formação da equipe HACCP A equipe deve ter uma formação multidisciplinar. As pessoas devem estar familiarizadas com os produtos e seus métodos de elaboração. As pessoas integrantes da equipe devem ter poder de convencimento, liderança e capacidade de multiplicação dos conceitos. O líder da equipe deve ter treinamento e habilidade suficiente em HACCP. O escopo do estudo deve ser definido, sabendo-se quais etapas da cadeia produtiva devem ser envolvidas. Todos os membros devem entender adequadamente como a indústria opera e sob que condições (tecnologia, equipamento, processamento, aspectos práticos de manuseio de alimentos e o fluxograma completo do processo industrial). Conhecimentos básicos de microbiologia de alimentos e de princípios e técnicas HACCP são de grande valia para os membros da equipe, embora este conhecimento possa ser completado por consultores externos, auditoria, uso de material informativo e literatura técnica (PINTO, 1999). 2.3.4.2 Descrição do produto Um plano HACCP é específico para cada alimento elaborado pelo estabelecimento. Uma detalhada descrição do produto deve ser realizada, incluindo sua composição química e física, o tipo de embalagem, o transporte utilizado na distribuição, as condições de armazenagem e o tempo de vida útil. 33 2.3.4.3 Elaboração de fluxograma de processo O objetivo do fluxograma é proporcionar uma descrição clara, simples e objetiva das etapas envolvidas no preparo do alimento. È uma etapa fundamental do plano APPCC que permite a equipe conhecer e descrever o processo de preparo. È a base para a identificação dos PCCs e aplicação das medidas preventivas relacionadas com os perigos identificados. 34 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Material Foi escolhida uma cozinha central de uma rede fast food, situada em Lauro de Freitas-Ba como objeto de estudo. Para este trabalho, com proposta de implantação do sistema APPCC, considerou-se os componentes que exercem influência na qualidade do produto final, tais como a parte predial (construção, instalações hidráulicas, mecânicas, equipamentos), todos os demais integrantes do contexto industrial (funcionários, documentos) além das matérias-primas, ingredientes e produtos envolvidos. 3.2 Metodologia Para a realização do diagnóstico proposto foi utilizada a lista de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos existente no anexo II da RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002 do Ministério da Saúde. Ao final deste diagnóstico todas as evidências de não conformidades encontradas foram relatadas, para facilitar o entendimento de todas as situações fora de conformidade encontradas. As opções de respostas para o preenchimento do check-list foram: “Conforme” (C) – quando o estabelecimento atendeu ao item observado, “Não Conforme” (NC) – quando o estabelecimento apresentou Não-conformidade para o item observado e “Não Aplicável” (NA) – quando o item foi considerado não pertinente ao local pesquisado. Os itens, cuja resposta foi a opção Não Aplicável, não foram estatisticamente avaliados. Durante as visitas a cozinha central, o check-list foi preenchido através de observações no próprio local e informações prestadas pelo proprietário do estabelecimento. Em relação à produção dos recheios das esfihas (carne/queijo e frango), as diversas etapas do fluxograma, desde o recebimento da matéria prima até a liberação para as Lojas 35 franqueadas, foram monitoradas para que fosse possível elaborar o Plano APPCC destes produtos. Como parte da metodologia deste estudo, um dos passos do sistema APPCC proposto ao final deste estudo é a determinação dos Pontos Críticos de Controle. Para a isto, utilizou-se o diagrama conhecido por árvore decisória (vide figura 06). Durante o emprego da árvore decisória, uma série de questões é respondida, levando-se a decisão se a etapa é ou não um Ponto Crítico de Controle - PCC. A partir destes dados, serão estabelecidos limites críticos para os perigos encontrados, procedimentos de monitorização, ações corretivas e planilhas de registros para acompanhamento das etapas do fluxograma. Por fim, a última fase, verificação do plano APPCC, permite assegurar se o sistema está funcionando efetivamente ou não. O plano APPCC proposto será apresentado sob a forma de quadros e fluxograma, englobando todas as etapas da produção dos recheios esfihas carne,queijo e frango. . 36 4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Verificação das conformidades e não conformidades no programa de pré-requisitos Tabela 1 - Não conformidades identificadas no check list ASPECTOS E ITENS AVALIADOS Edificação e instalações – Áreas externa e interna, vias de acesso, paredes e divisórias, pisos, teto, portas, ralos e canaletas, tetos, forros e portas, janelas e telas, ventilação, iluminação, sanitários e vestiários, lavatórios, manejo de resíduos, esgotamento sanitário, lay out, abastecimento de água e controle de pragas. Equipamentos, móveis e utensílios Condições gerais e material utilizado. Higienização - Instalações, equipamentos e utensílios, produtos e materiais. Manipuladores - Uniforme, vestuário, hábitos higiênicos, EPIs, programa de controle de saúde e programa de capacitação. Produção e transporte do alimento - matéria-prima, ingredientes e embalagens, fluxo de produção, rotulagem e armazenamento do produto, controle de qualidade e transporte do produto final. Documentação – Manual de Boas práticas e Procedimentos Operacionais Padronizados. TOTAL Nº DE ITENS FORA DE CONFORMIDADE % DE NÃO CONFORMIDADES 7 4,6 1 0,6 0 0 0 0 2 1,3 0 0 10 6,5 Esta análise foi composta por 154 itens (100%), aplicáveis ao estabelecimento, conforme modelo da lista de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos, RDC 275/2002. Os itens do check list classificados como não conforme foram : Em edificação e instalações : • Área externa e interna (lavagem de caixas) com presença de equipamentos e utensílios em desuso, acumulando sujeiras e sendo propicio ao abrigo de pragas; • Piso com rachaduras no setor lavagem de caixas, permitindo o acúmulo de sujidades; • Suporte pedal lixeiras dos banheiros manipuladores necessitando manutenção; 37 • Lavatórios na área de produção com torneiras acionamento manual; • Em algumas seções as lâmpadas estavam sem proteção; • A ventilação na cozinha, em áreas não climatizadas, não garante o conforto térmico, necessitando da instalação de mais exaustores e coberturas nas áreas externas para impedir a incidência direta dos raios solares na parede. • Algumas telas milimétricas ausentes na cozinha. Conforme destacado por Murmann et al (2005), em pesquisa realizada em estabelecimentos comerciais do Rio Grande do Sul, os maiores problemas encontravam-se nos locais que manipulam diversos alimentos. Estas irregularidades possibilitam a contaminação cruzada, podendo acarretar perdas na qualidade, deterioração dos alimentos e, consequentemente, danos a saúde do consumidor. Ramos et al (2005), em estudo de caso sobre irregularidades mais comuns em indústrias de panificação na Grande Porto Alegre, observou, na área externa, focos de insalubridade, objetos em desuso ou elemento estranho ao ambiente. Além disso, a ventilação era insuficiente, favorecendo o acúmulo de calor excessivo, condensação de vapor, poeira e não permitindo a eliminação de ar contaminado. As áreas de produção de alimentos são um pólo de atração inquestionável e as pragas vão utilizar todos os meios disponíveis para entrar e buscar alojamento nestas áreas (através de janelas sem proteção e portas sem mola, ralos de pias, fendas na estrutura do prédio, mercadorias já infestadas, entre outros (SCHULLER, 2001) Em equipamentos, móveis e utensílios : • Equipamentos necessitando pintura. Este item está relacionado com a manutenção dos equipamentos, que exercerá maior influência na produtividade. Pinturas desgastadas expõem as superfícies dos equipamentos à corrosão (podendo levar a redução da vida útil do equipamento) bem como acúmulo de resíduos (facilitando a proliferação microrganismos). Necessário investimentos para evitar situações assim, apesar de que no setor em estudo, apenas a base dos equipamentos necessitam pintura. 38 Em produção e transporte do alimento : • Lay out com cruzamentos no setor açougue. • Pré-preparo da carne in natura na mesma área climatizada de preparação de salgados, sem barreiras física ou técnica. Para os itens observados no bloco “Produção e transporte de alimentos”, notam-se cruzamentos durante a realização da produção. Uma medida, de caráter preventivo neste setor, seria a realização da etapa de pré-preparo em horário diferenciado do preparo final do produto, evitando-se assim os cruzamentos que a estrutura física proporciona. Este bloco, apesar do percentual baixo, tem uma influência direta com a seguridade do produto final, pois durante a produção dos recheios das esfihas, pode-se favorecer a contaminação dos mesmos. Através dos resultados obtidos, o estabelecimento foi enquadrado no Grupo I, com mais de 80 % de itens em conformidade, segundo classificação da RDC 275 (2002). Portanto, estes dados constituem um indicativo que a empresa possui as boas praticas de fabricação implantada, mas torna-se necessário investir em melhorias nos itens detectados como não conforme. 4.2 Proposta de Plano APPCC Após a verificação das Boas Práticas de Fabricação no estabelecimento, foi elaborado e validado o fluxograma de processamento do recheio das esfihas carne, queijo e frango, com a proposta de Plano APPCC como pode ser visualizado na figura 03. Neste fluxograma foram identificados os Pontos Críticos de Controle necessários para o processamento de um alimento seguro. As etapas, desde o recebimento da matéria-prima até a distribuição do produto, foram descritas passo-a-passo e posteriormente, resumidas nos quadros 06 e 07, nos quais os perigos identificados/as medidas preventivas para evitar os perigos bem como os princípios 03 a 07 do Plano APPCC foram descritos, respectivamente. 39 RECEBIMENTO ARMAZENAMENTO PCC 1 (B) CÂMARA RESFRIADA Nº01 CÂMARA CONGELADA Nº01 MANIPULAÇÃO RECHEIO CARNE CORTE RECHEIO FRANGO DESCONGELAMENTO PESAGEM PESAGEM Mº ESFIHA FRANGO RECHEIO QUEIJO HORTIFRUTI PESAGEM CONDIMENTAÇÃO SELEÇÃO TRITURAÇÃO HIGIENIZAÇÃO MOAGEM PCC (B) COCÇÃO CONDIMENTAÇÃO PCC 2 (B) MONTAGE MOAGEM RESFRIAMENTO HOMOGENEIZAÇÃO PORCIONAMENTO EMBALAGEM E ETIQUETAGEM ARMAZENAMENTO CÂMARA RESFRIADA Nº 02 PCC (B) Figura 03 - Proposta de Plano de APPCC 40 4.2.1 Descrição das etapas dos fluxogramas Recebimento : No ato do recebimento de alimentos de origem animal, de acordo com o tipo de produto, as seguintes características sensoriais e temperaturas são observadas e registradas na Planilha de Recebimento de Produtos Alimentícios. Quadro 06 - Critérios de recebimento de gêneros alimentícios. Produto Carnes Bovinas Resfriadas Frango cozido e desfiado congelado Queijo Minas frescal Características sensoriais Temperatura de Recebimento Aspecto : firme, não amolecido, nem pegajoso Cor : vermelho vivo, sem escurecimento Odor : característico Embalagem integra, sem sinais de rachaduras na superfície, sem acumulo de liquido no interior da embalagem ou cristais de gelo na superfície do produto Aspecto : crosta mal formada, consistência macia, textura fechada com ou sem buracos mecânicos pequenos, sem estufamento da embalagem Cor : branca ou branco creme, homogênea Entre 0 e 10ºC -12ºC ou inferior Entre 0 e 5ºC Odor : característico Ricota Fresca Aspecto : crosta rugosa, não formada ou pouco nítida, consistência mole, as vezes sem soro, textura fechada ou com alguns olhos mecânicos Cor : branca Entre 0 e 5ºC Odor : característico, suave Fonte : Adaptado de Nascimento Neto, 2005 Os alimentos de origem animal são recebidos em caixas de papelão enquanto que os queijos em caixas de PVC especificas (todos embaladas internamente em sacos plásticos transparentes incolores), com rótulo constando nome do produto, fornecedor, data de embalagem ou manipulação, ingredientes, prazo de validade e registro no órgão fiscalizador. Os hortifrutigranjeiros são recebidos com as seguintes características : aparência sem defeitos físicos ou mecânicos; frescos, ausência de manchas, sujidades, corpos estranhos, insetos e larvas; sem umidade externa anormal (“gosmenta’) e grau de maturação de acordo 41 com a finalidade do produto. Estes são recebidos à temperatura ambiente, em sacas e em caixas plásticas, papelão ou madeira. Para os outros ingredientes, o estado de conservação das embalagens, que não devem apresentar deformidades, é item imprescindível, evitando assim risco de contaminação. As características citadas acima se constituem medidas preventivas para identificar perigos potenciais existentes na matéria-prima, os quais comprometerão a qualidade do produto a ser elaborado. Todavia, existem perigos, tais como utilização de agrotóxico em níveis elevados nos hortifrutigranjeiros ou a contaminação microbiológica durante abate bovino, que não podem ser percebidos pela análise sensorial nesta etapa, devendo-se adotar como medidas de controle o cadastramento de fornecedores, com visitas periódicas para avaliação do processo. Armazenamento : Antes do armazenamento, são retiradas as embalagens externas e os alimentos são colocados em monoblocos de polipropileno, adequadamente higienizados. Os monoblocos são mantidos sobre estrados fenestrados. Situando-se no fluxo de produção, imediatamente após o recebimento, o armazenamento sob refrigeração dever ser controlado, com o objetivo de garantir que a matéria-prima não será submetida a temperaturas superiores, acima de 5º C. Pois se sabe que temperaturas elevadas podem comprometer não só a qualidade microbiológica, como a físicoquímica. Esta etapa é considerada um PCC, porque quando é seguida corretamente, apresentase como uma garantia de que eventuais contaminações (a níveis aceitáveis/seguros) não se desenvolvam. O sistema PVPS também deve ser monitorado, evitando-se assim eventuais problemas. Os alimentos de origem animal são armazenados, de acordo com as orientações do fabricante ou dos critérios de uso: sob refrigeração (entre 0 e 10º C) ou congelados (temperatura inferior a -12ºC). Os hortifrutigranjeiros são transferidos para caixas plásticas fenestradas e armazenados em temperatura ambiente, ou até mesmo sob refrigeração, após sanitização, a 42 depender do grau de maturação da matéria-prima. Estas caixas são mantidas sobre estrados fenestrados, em local livre de sujidades. Frango Descongelamento O descongelamento ocorre sob refrigeração, em câmara com temperatura de até 4ºC, por até 72 horas. Outra forma de descongelamento ocorre à temperatura ambiente até que a superfície do produto atinja 4º C, quando então é levado a câmara para que termine o descongelamento sob refrigeração. Manipulação As embalagens das matérias primas são abertas após serem borrifadas com álcool 70º e os alimentos são manipulados (limpos, porcionados) com auxilio de tábua de polipropileno e faca, devidamente higienizados. È retirada quantidade suficiente de alimento para manipulação, em sala climatizada, por até 02 horas. A carne in natura após a limpeza é moída em equipamento industrial e reservada até o momento de uso em câmara de refrigeração. O queijo fresco é transferido (sem o soro) para monoblocos de PVC higienizados, revestidos com sacos plásticos, sendo pesados conforme a receita padrão. Por fim, é acrescentado a salsa in natura higienizada na quantidade estabelecida na receita. Nos hortifrutigranjeiros são retiradas cascas, olhaduras e então, subdivididos em partes menores para posterior corte em equipamento manual específico. No caso do limão, após o corte, é extraído o suco em equipamento elétrico. Os outros ingredientes são porcionados conforme receita padrão. Como medidas de controle devem ser adotados procedimentos de monitoramento de higienização dos utensílios, equipamentos e mãos de manipuladores, evitando-se assim a recontaminação da matéria-prima. 43 Higienização Os hortifrutigranjeiros são selecionados, onde são retiradas as unidades ou folhas danificadas e, logo após, são lavados em água corrente para retirada de sujidades. Então, são imersos em solução de hipoclorito de sódio por 10 minutos, segundo instruções do fabricante. Após esta etapa, são enxaguados em água corrente. Esta etapa constitui-se em um PCC, uma vez que os microrganismos patogênicos existentes na matéria-prima são eliminados ou reduzidos a níveis aceitáveis. Como medidas de controle devem ser adotados procedimentos de monitoramento do tempo de ação e concentração do sanitizante, para que os patógenos possam ser reduzidos a níveis aceitáveis. A água utilizada em todas as operações deve ser potável, tendo sua qualidade microbiológica aprovada através de laudos laboratoriais. Molho Trituração Os tomates, após manipulação, são liquidificados com outros ingredientes para preparação do molho. A higienização do liquidificador e mãos do manipulador deve ser monitorada nesta etapa, evitando a recontaminação da matéria-prima. Cocção O molho é levado ao fogo, onde permanece por até 4 horas, obtendo as características do produto final (cor, textura, etc). 44 Resfriamento O molho é resfriado logo após o cozimento. O molho é armazenado em baldes de polipropileno e colocado em câmara até que atinja temperaturas de 55ºC, de maneira que atinja 21º C em, no máximo, 02 horas e após 6 horas, atinja a temperatura de 4ºC. Como medidas de controle devem ser adotados procedimentos de monitoramento de higienização dos baldes e mãos de manipuladores, evitando-se assim a recontaminação do molho pronto. Homogeneização Os ingredientes são dispostos em uma misturadeira industrial e homogeneizados uniformemente através do vai-e-vem das paletas do equipamento. A monitorização dos procedimentos de higiene dos equipamentos e mãos de manipuladores deve ser mantida sob rigoroso controle para prevenção de contaminações. Porcionamento / Embalagem O produto é porcionado em caixas de PVC, revestidas com saco plástico, sendo pesado conforme o padrão estipulado. A embalagem é fechada com lacre e fixada etiqueta correspondente ao produto. Medidas preventivas incluem o controle do tempo de porcionamento/embalagem (não superior a 02 horas em temperatura ambiente bem como a higienização dos utensílios. Os manipuladores envolvidos neste processo devem adotar as boas práticas de fabricação, principalmente, no que refere-se a higiene pessoal (asseio corporal, uniformes limpos, utilização de equipamentos de proteção individual). Armazenamento O produto é armazenado em câmara refrigerada com temperaturas que oscilam de 0 a 4 º C, permanecendo neste local até a liberação para as Lojas. 45 O monitoramento das câmaras refrigeradas deve ser constante, evitando a elevação das temperaturas e comprometendo a qualidade do produto. Caso ocorra qualquer alteração no equipamento, o produto deverá se transferido para outra câmara que atenda aos pré-requisitos necessários para o produto em questão. Expedição/ Carregamento De acordo com o pedido das Lojas, o produto é expedido. O transporte é realizado em caminhões refrigerados com temperaturas entre 08 a 10ºC, devidamente higienizados. Como medidas de controle devem ser monitorados no veículo os cuidados com a higienização e a manutenção do equipamento de refrigeração, garantindo assim que o produto será transportado em ambiente sanitizado e com temperatura controlada, não expondo-o a situações que permitam a multiplicação dos microrganismos existentes em níveis aceitáveis ou contaminando-o durante o trajeto até o destino final. 46 Quadro 07. Análise dos perigos na produção recheio das esfiha carne/queijo e frango. Ingredientes/ Etapas do processo Perigos potenciais introduzidos, controlados ou aumentados nesse ponto Biológico RECEBIMENTO Químico Físico Identificação dos Perigos Justificativa para a identificação dos perigos Medidas Preventivas que podem ser adotadas para prevenir os perigos significativos Enterobactérias patogênicas; Verificar características sensoriais no ato do C. Perfrigens Drogas veterinárias; Agrotóxicos Contaminação de origem, do transporte ou recebimento, condições de acondicionamento armazenamento e transporte e informação do rótulo Presença materiais estranhos (ossos, Fornecedor cadastrado e conforme grampos, madeira, pregos) Controlar temperatura equipamento ARMAZENAMENTO Biológico Enterobactérias patogênicas; C. Perfrigens Multiplicação microbiana devido à BP: Instalações/ equipamentos temperatura de armazenamento inadequada Utilizar sistema Primeiro que Vence, Primeiro que Sai Enterobactérias patogênicas; DESCONGELAMENTO Biológico C. Perfrigens Bacillus cereus MANIPULAÇÃO Biológico Enterobactérias patogênicas; C. Perfrigens; Staphylococcus aureus Multiplicação microbiana devido Controlar temperatura equipamento inadequação do procedimento de Monitorar temperatura da peça quando o descongelamento e tempo de exposição descongelamento for a temperatura ambiente demasiado Contaminação cruzada devido à higiene inadequada de mãos e utensílios/equipamentos Treinamento em BP utensílios/equipamentos manipuladores : Higiene e mãos dos dos 47 HIGIENIZAÇÃO Enterobactérias patogênicas; vírus entéricos patogênicos; parasitos Biológico humanos Sobrevivência de microrganismos devido Reduzir contaminantes patogênicos a níveis uso de solução clorada em concentração aceitáveis inadequada e/ou tempo de contato insuficiente Utilização de água potável Recontaminação devido utilização água contaminada para enxágue TRITURAÇÃO COCÇÃO RESFRIAMENTO HOMOGENEIZAÇÃO Contaminação cruzada devido à higiene inadequada de mãos e utensílios/equipamentos Treinamento em BP : Higiene dos utensílios/equipamentos e mãos dos manipuladores Microrganismos termoresistentes Assegurar a fervura do molho Biológico Enterobactérias patogênicas; C. Perfrigens; Staphylococcus aureus; Bacillus cereus Microrganismos patogênicos esporulados (Clostridium perfringens, Bacillus cereus) Formas esporulados (Clostridium perfringens, Bacillus cereus) Microrganismos termoresistentes Controle da temperatura do alimento e tempo de exposição Biológico Enterobactérias patogênicas; C. Perfrigens; Staphylococcus aureus Contaminação microbiana devido à higiene insuficiente do manipulador, utensílios/equipamentos utilizados Biológico Biológico PORCIONAMENTO/ EMBALAGEM ARMAZENAMENTO EXPEDIÇÃO/ Biológico Biológico Enterobactérias patogênicas; C. Perfrigens; Staphylococcus aureus Enterobactérias patogênicas; C. Perfrigens; Staphylococcus aureus Enterobactérias patogênicas; C. Perfrigens; Staphylococcus aureus Biológico CARREGAMENTO Contaminação microbiana devido à higiene insuficiente do manipulador, utensílios/equipamentos utilizados Treinamento em BP : Higiene dos utensílios/equipamentos e mãos dos manipuladores Treinamento em BP : Higiene dos utensílios/equipamentos e mãos dos manipuladores Assegurar tempo máximo de exposição, porcionando os alimentos Armazenar os recheios à temperatura ideal de 4ºC BP: Instalações/ equipamentos Realizar o transporte em caminhões Multiplicação dos microrganismos devido manutenção em temperatura inadequada por tempo prolongado Multiplicação dos microrganismos devido manutenção em temperatura inadequada refrigerados, monitorando a temperatura dos por tempo prolongado alimentos no recebimento (ponto de distribuição) DATA: ___________________ APROVADO POR: ______________________________________ 48 Quadro 08. Princípios 03 a 07 do Plano APPCC na produção recheio esfihas carne/queijo e frango ETAPA PERIGO LIMITE CRITICO MONITORIZAÇÃO AÇÃO CORRETIVA O quê? Características sensoriais e de acondicionamento e de transporte; Temperatura RECEBIMENTO Biológico Químico Físico Conformidade com as especificações para recebimento Devolver o produto Como? Observação visual. Inspeção do transporte. Termômetro Quando? Cada recebimento Avaliação e uso do produto Quem? Estoquista O quê? Temperatura do equipamento Como? Auxilio do termômetro ARMAZENAMENTO REFRIGERADO Biológico Temperatura do equipamento ≤ 5º C ou – 12º C Quando? Diariamente Quem? Estoquista O quê? Temperatura do DESCONGELAMENTO Biológico - Temperatura do equipamento 0 a 4ºC - Superfície do produto até 4ºC equipamento/Superfície do produto Como? Auxilio do termômetro Quando? Diariamente Quem? Estoquista/Gerente Manutenção do equipamento e transferência dos produtos para equipamentos conformes Manutenção do equipamento Avaliação e uso do produto REGISTRO VERIFICAÇÃO Planilha Controle - Supervisão do de Recebimento preenchimento das de Produtos planilhas Alimentícios -Acompanhamento do (Anexo A) processo Planilha de Não -Visita Técnica a Conformidade no Fornecedores Recebimento de -Programa de Produtos calibração de Alimentícios termômetros (Anexo B) -Supervisão do preenchimento das planilhas Planilha Controle -Programa de de Temperatura calibração de de Equipamentos termômetros (Anexo E) -Programa de manutenção de equipamentos -Supervisão do preenchimento das planilhas Planilha Controle -Programa de de Temperatura calibração de descongelamento termômetros (Anexo G) -Programa de manutenção de equipamentos 49 MANIPULAÇÃO Biológico Utensílios/ Equipamentos e mãos de manipulador em condição aceitável de higiene O quê? Higiene manipuladores e utensílios / equipamentos Como? Supervisão Quando? Diariamente Quem? Gerente O quê? Teor de cloro residual livre HIGIENIZAÇÃO Biológico Mínimo 0,2 ppm de cloro residual livre Como? Kit para cloro Quando? Diariamente Quem? Gerente TRITURAÇÃO Biológico - Utensílios/ Equipamentos e mãos de manipulador em condição aceitável de higiene Treinamento em BP : Higiene pessoal, limpeza e desinfecção de utensílios e equipamentos Solicitar a limpeza do reservatório e usar água mineral ou água potável transportada até arealização da limpeza O quê? Higiene manipuladores e utensílios / equipamentos; Como? Supervisão e relógio Quando? Diariamente Quem? Supervisor Treinamento em BP : Higiene pessoal, limpeza e desinfecção de utensílios -Check list Semanal -Planilhas de treinamento -Relatórios de supervisão Planilha de Controle de Cloro (Anexo D) -Check list Semanal -Planilhas de treinamento -Relatórios de supervisão O quê? Fervura do molho COCÇÃO Biológico Temperatura de cocção (fervura do molho) Como? Auxilio do termômetro Quando? A cada cocção Cozinhar até que o molho ferva Quem? Manipulador RESFRIAMENTO Biológico -Redução a 21ºC em 02 horas O quê? Temperatura do alimento; -Utensílios/ Equipamentos e mãos de manipulador em manipulador e utensílios tempo de resfriamento; higiene de -Acelerar processo de resfriamento (banho de gelo ou água fria) -Rejeitar o produto -Planilha Controle de Resfriamento (Anexo C) -Check list Semanal -Supervisão do preenchimento do check list -Supervisão etapa -Programa de coleta e análise de amostras utensílios, mãos manipulador, etc -Supervisão do preenchimento das planilhas -Supervisão da etapa -Programa de coleta e análise de água e produto -Supervisão do preenchimento do check list -Supervisão etapa -Programa de coleta e análise de amostras utensílios, mãos manipulador -Supervisão do processo -Programa de calibração de termômetros -Programa de calibração de termômetros e relógios -Supervisão do preenchimento das 50 condição aceitável de higiene Como? Termômetro, relógio e após 02 supervisão Quando? Diariamente, horas do inicio do resfriamento que permanecer mais de 01 hora em temperatura de risco -Treinamento em BP -Planilhas de treinamento planilhas e processo Quem? Manipulador O quê? Higiene equipamentos HOMOGENEIZAÇÃO Biológico Equipamentos em condição aceitável de higiene Como? Supervisão Quando? Diariamente Quem? Gerente PORCIONAMENTO/ EMBALAGEM Biológico Utensílios/ Equipamentos e mãos de manipulador em condição aceitável de higiene Máximo 02 hs à temperatura climatizada Treinamento em BP : Higiene, limpeza e desinfecção de equipamentos -Check list Semanal -Planilhas de treinamento -Relatórios de supervisão O quê? Higiene manipuladores e utensílios / equipamentos; tempo de porcionamento Como? Supervisão e relógio Quando? Diário e a cada processo Treinamento em BP : Higiene pessoal, limpeza e desinfecção de utensílios Check list Semanal Planilhas de treinamento Relatórios de supervisão Quem? Gerente/manipulador O quê? Temperatura do equipamento Como? Auxilio do termômetro ARMAZENAMENTO Biológico Temperatura do equipamento ≤ 5º C EXPEDIÇÃO/ CARREGAMENTO Biológico Temperatura do veiculo entre 8 e 10º C Quando? Diariamente O quê? Temperatura do alimento e Quem? Estoquista transporte e tempo carregamento Manutenção do equipamento e transferência dos produtos para equipamentos conformes Planilha Controle de Temperatura de Equipamentos (Anexo E) Agilizar o processo de carregamento Planilha Temperatura do Veiculo -Supervisão do preenchimento do check list -Supervisão etapa -Programa de coleta e análise de amostras de equipamentos Supervisão do preenchimento do check list Supervisão etapa Programa de coleta e análise de amostras utensílios, mãos do manipulador -Supervisão do preenchimento das planilhas -Programa de calibração de termômetros -Programa de manutenção de equipamentos -Programa de calibração de termômetros 51 Como? Auxilio termômetro e relógio Quando? Em toda a expedição Quem? Encarregado expedição DATA: _____________________________ (Anexo F) -Supervisão do preenchimento das planilhas e do processo APROVADO POR: ___________________________________________ 52 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Baseando-se nos resultados obtidos a partir deste estudo: • Devido ao baixo percentual de não conformidades encontradas no estabelecimento, pode-se considerar que as boas práticas de fabricação estão implantadas. Todavia, faz-se necessário a eliminação das falhas detectadas no programa de pré-requisitos, uma vez que as mesmas poderão interferir no sucesso da implementação do sistema. Salienta-se que a administração da empresa encontra-se empenhada para corrigir os itens que faltam para as boas práticas e implantar um sistema de qualidade do modelo APPCC • Na linha de produção dos recheios esfihas carne/ queijo e frango, foram identificados 04 Pontos Críticos de Controle, sendo todos biológicos. O primeiro, na etapa de armazenamento da matéria-prima; o segundo, na etapa de higienização dos hortifruti, o terceiro (para o molho do recheio frango) na etapa de cocção e, o último, no armazenamento do produto em câmara, onde foram estabelecidos, para cada Ponto Critico de Controle, limites críticos, procedimentos de monitorização, ação corretiva, de registro e verificação. • Com a adoção do sistema APPCC, a empresa poderá alcançar a garantia da segurança dos alimentos e a diminuição dos custos operacionais, como redução da necessidade de testes dos produtos acabados e das perdas e, ainda, maior credibilidade do produto na comercialização, além de atendimento aos requisitos legais do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura. 53 GLOSSÁRIO Os conceitos apresentados a seguir foram estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (2001). Alta Direção: pessoa ou grupo de pessoas que dirige e controla uma organização no mais alto nível. Árvore decisória: seqüência de perguntas que podem ser aplicadas a cada etapa do processo para um perigo identificado, para determinar se o perigo será controlado, e em qual etapa do processo ocorrerá este controle, que será denominado de Ponto Crítico de Controle (PCC). Auditoria de APPCC: exame sistemático para determinar se as atividades do sistema APPCC e os resultados relacionados atendem ao plano estabelecido, se este plano está efetivamente implementado e se é satisfatório para alcance dos objetivos. Controlar: tomar as ações necessárias para assegurar e manter a conformidade com critérios estabelecidos no Plano APPCC. Desvio: falha em atingir o limite crítico de controle. Etapa: ponto, procedimento, operação ou estágio na cadeia de alimentos incluindo matérias primas, da produção primária até o consumo final. Fluxograma: representação esquemática da sucessão de passos ou operações unitárias em um determinado processo produtivo. Grupo de produtos e linha de produtos: correspondem ao agrupamento de produtos por similaridade de processo. Limite crítico: valor ou critério que separa a aceitabilidade da não aceitabilidade. Matérias-primas: materiais que são usados na fabricação de um produto, incluindo todos os materiais utilizados diretamente no processamento de alimentos. Medidas de controle: qualquer ação ou atividade que pode ser usada para prevenir, eliminar ou reduzir um perigo à segurança do alimento a um nível aceitável. Monitorar: ato de conduzir uma seqüência planejada de observações ou medidas dos parâmetros de controle para avaliar quando um PCC está sob controle. 54 Plano APPCC: documento preparado conforme os princípios de APPCC para assegurar o controle de perigos que são significativos para a segurança alimentar de alimentos no segmento da cadeia alimentar considerada. Ponto Crítico de Controle (PCC): etapa no processo onde um controle deve ser aplicado, e é essencial para prevenir, eliminar ou reduzir a um nível aceitável um perigo à segurança do alimento. Risco: probabilidade de ocorrência de um perigo. Segurança do alimento: garantia de que o produto não contém perigos de natureza biológica, física ou química que possam causar um agravo à saúde ou integridade física do consumidor. Sistema APPCC: sistema que identifica, avalia e controla os perigos que são significativos para a segurança de alimentos. É um sistema articulado e consistente estabelecido pela Comissão conjunta da Food and Agriculture Organization of the United Nations - FAO, da Organização Mundial da Saúde - OMS e do Codex Alimentarius visando a segurança de alimentos para o consumidor. O sistema APPCC é fundamentado em 7 princípios. Estes princípios constituem o conjunto mínimo de atividades ou ações a serem adotadas para que um limento, grupo ou linha de produtos, possam ser considerados seguros para o consumo. A implementação dos princípios deve ser efetuada seguindo-se uma seqüência lógica de etapas. Esta seqüência fornece diretrizes gerais para aplicação prática do APPCC. Sistema de gestão do APPCC: estrutura organizacional, procedimentos, processos, recursos necessários para executar o Plano APPCC e atingir seus objetivos. Validação: comprovação, através do fornecimento de evidência objetiva, de que os requisitos para uma aplicação ou uso específicos pretendidos foram atendidos. Verificação: comprovação, através de fornecimento de evidência objetiva, de que requisitos especificados foram atendidos. 55 REFERÊNCIAS ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR14900. Sistema de Gestão da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle - Segurança de Alimentos. Norma Técnica. . Setembro de 2002. ALMEIDA, C. R. O sistema HACCP como instrumento para garantir a inocuidade dos alimentos. Higiene Alimentar, São Paulo, v. 12, n. 53, p. 12-20, 1998. ARRUDA, G. A. Análise de perigos em pontos críticos de controle no SND. 2002a. Disponível em http://www.ccih.med.br/novocapitulo66.html ______. Manual de boas práticas – unidades de alimentação e nutrição. 2ª ed. São Paulo: Editora Ponto Crítico, 2002b. BRASIL. Portaria nº 326, de 30/07/1997. Regulamento Técnico: “Condições HigiênicoSanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos”. Diário Oficial da União, Brasília. Seção 1, de 01/08/97. ________. Portaria nº1428, de 26/11/1993. Regulamento Técnico para Inspeção Sanitária de Alimentos. Diário Oficial da União, Brasília. Seção 1, nº 229, de 02/12/93. ________. Portaria n. 46, de 10/02/1998. Institui o sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle: APPCC a ser implantado nas indústrias de produtos de origem animal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 fev. 1998. Seção I. ________. Ministério da Saúde, ANVISA. Resolução RDC 275, 21 de outubro de 2002 Dispões de Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados Aplicados aos Estabelecimentos de Alimentos e à lista de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos produtores de alimentos. Brasília, DF, BR CODEX ALIMENTARIUS. 2002. O Sistema HACCP do Codex Alimentarius. Disponível em www.trigalia.com.ar/Excelencia.asp?Ing=2.htm DESTRO, M. T. Análise de perigos e Pontos Críticos de Controle. In: FRANCO, Bernadete Dora G. de Melo & LANDGRAF, Mariza. Microbiologia dos Alimentos. São Paulo: Editora Atheneu, 1996 56 FIGUEIREDO, L. G. B. Implantação de um Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC/HACCP) na produção de leite bovino. Florianópolis, 1998. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Alimentos) – Curso de Pós Graduação em Ciências dos Alimentos, Universidade Federal de Santa Catarina. 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Higiene Alimentar, São Paulo, vol. 20, n. 138: p.28 – 36, jan/fev, 2006. 59 ANEXOS 60 ANEXO A - Planilha de Controle de Recebimento de produtos alimentícios DATA PRODUTO FORNECE DOR TEMPERATURA (ºC) OBSERVAÇÃO AÇÃO CORRETIVA RESPONSÁVEL 61 ANEXO B - Planilha de Não - Conformidade no recebimento de produtos alimentícios DATA: PRODUTO: MARCA: FORNECEDOR: NF: NÃO-CONFORMIDADE OBSERVADA: AÇÃO CORRETIVA: COMUNICAÇÃO AO SETOR DE COMPRAS: RESPONSÁVEL: 62 ANEXO C - Planilha de Controle de Resfriamento RESFRIAMENTO DATA PRODUTO INICIO T(ºC) HORA FINAL T(ºC) HORA AÇÃO CORRETIVA RESPONSAVEL 63 ANEXO D – Planilha de Controle de Cloro MÊS ____________________________/________ DATA HORTIFRUTIGRANJEIRO CONCENTRAÇÃO DA SOLUÇÃO CLORADA (PPM) TEMPO DE IMERSÃO INICIO FINAL AÇÃO CORRETIVA FINAL 64 ANEXO E - Controle de Temperatura Equipamentos Mês : __________________/_____ DATA HORÁRIO CÂMARA CONGELADOS CÂMARA RESFRIADO 01 CÂMARA RESFRIADO 02 CÂMARA RESFRIADO 03 65 ANEXO F - Controle Temperatura Veículos Loja: Data Horário Tempº Motorista Loja: Data Horário Mês : ______________________/____ Tempº Motorista Loja: Data Horário Tempº Motorista 66 ANEXO G - PLANILHA DE CONTROLE DE DESCONGELAMENTO MÊS / ANO:________________ / ___________ DATA PRODUTO TEMPERATURA AMBIENTE DESCONGELAMENTO ENTRADA NA REFRIGERAÇÃO TEMPO(h) TEMPERATURA (ºC) AÇÃO CORRETIVA RESPONSAVEL