O PAPEL DO EDUCADOR FRENTE À SOCIEDADE MODERNA GT1 - ESPAÇOS EDUCATIVOS, CURRÍCULO E FORMAÇÃO DOCENTE (SABERES E PRÁTICAS) Luiz Gustavo Rosa Santos* RESUMO: A pesquisa que aqui se apresenta visa retratar o papel do educador frente à Sociedade Contemporânea. Para esta análise fez-se necessária uma retrospectiva ao contexto sóciopolítico e Educacional dos anos sessenta, momento em que o país vivenciava uma Ditadura. Em seguida são abordadas as principais mudanças ocorridas nos anos oitenta, provocadas pelo desgaste do fim do Regime Militar e pelas incertezas da Nova República. Surge, então, à Sociedade Moderna com suas exigências e características peculiares, requerendo da Educação um novo perfil de Educador e Educando. Considera-se que o ato de educar é política e ideologicamente comprometido. Neste ínterim, há a busca por uma fundamentação teórica que esclareça qual a postura esperada, por parte do Educador, diante da Contemporaneidade. PALAVRAS – CHAVE: Educador. Sociedade. Professor. ABSTRACT: The research presented here seeks to portray the role of the teacher facing the Contemporary Society. For this analysis it was necessary a retrospective to the sociopolitical and educational sixties, when the country was experiencing a dictatorship. Next are discussed the main changes in the eighties, caused by wear of the end of the military regime and the uncertainties of the New Republic. Then comes the Modern Society with your requirements and unique characteristics, requiring a new profile of Education for educators. It is considered that the act of educating is politically and ideologically committed. In the meantime, there is the search for a theoretical framework to clarify what the rule is expected by the educator in front of the Contemporary KEYS-WORDS: Educator. Society. Professor. * Especialista em Direito Educacional, Graduado em Pedagogia com Habilitação em Administração Escolar e Graduando em Letras. Professor Universitário em cursos de formação de Professores. 2 1 PROFESSOR VERSUS EDUCADOR É importante caracterizar cada uma dessas figuras, para melhor entendimento do presente estudo, segundo esta análise. É necessário frisar que os termos “Professor e Educador” aqui utilizados não pretendem rotular, mas diferenciar as práticas daquilo que denominamos de “Instruir e Educar”. Entende-se por professor, o profissional responsável por formar mão de obra e força de trabalho para a Sociedade Capitalista, que requer homens e mulheres cada vez mais técnicos, visando apenas resultados. Esse é um conservador da tradição social e educacional, um agente de repasse dos interesses de um grupo dominante ideologicamente constituído. O professor tem em seu plano de ensino um conjunto de conteúdos que devem ser ensinados, e ensinar para ele é uma atividade de transmissão de conhecimentos de forma que há um sujeito (professor) que ensina e um objeto (aluno) que aprende. Nessa relação não há troca de saberes, o que existe é uma relação unilateral a fim de formar um indivíduo que atenda aos interesses da Sociedade. Essa concepção infringe os princípios educacionais alicerçados nos quatro pilares da Educação: “Aprender a aprender, Aprender a ser, Aprender a fazer e Aprender a viver junto”. Com essa postura tradicional e autoritária de ensino, não é possível formar um cidadão, cônscio dos seus direitos e de seu papel social. Essa forma de ensinar é uma herança Jesuítica que já deveria ter sido superada pelos Educadores brasileiros. Isso pode ser explicado quando no seu livro “Deixa-me ser criança professor (1993)”, Fernando M. Lobo recorda: Como professor tradicional, eu era o depositário da ciência onde o aluno guardava os conhecimentos como se guarda o capital num banco. Era o método de funil ou seringa para o ensino memorizado à base de um didactismo artificial feito a murro. Mediam-se as capacidades pela mesma raza. Fritavam-se os miolos!" (p.241). Dava aulas, ensinava, "extravasava a ciência para a cabeça da criança por uma rede de canículos, quando a criança de boca aberta e olhos fixos [no professor] , como pássaro implume, à espera da bicada, parecia pedir mais alimento (LOBO, 1993, p.243). 3 Por outro lado, o educador é um agente de transformação, um crítico, é aquele que desperta no educando a consciência política de olhar a sociedade e nela intervir, ele traz consigo uma vocação, o dom de aprender enquanto ensina, e ensinar enquanto aprende. Embora o Educador tenha em seu plano um programa de conteúdos a ser cumprido, ele sempre usa o bom senso e a flexibilidade para ensinar, pois considerando o que diz Paulo Freire (2007: p.53) “Ensinar não é transmitir conhecimentos, é dar condições para que o educando aprenda e/ou produza seu próprio conhecimento”. Educar para a vida é dar subsídios ao indivíduo para que ele viva na sociedade em que está inserido, de acordo com o tempo no qual está vivendo. O trabalho pedagógico não deve se limitar ao espaço físico da sala de aula ou a um apanhado de conteúdos retirados de livros, o educando deve ser capaz de criticar, questionar, posicionar-se diante das situações e isso só é possível a partir de uma Educação libertadora. Percebe-se então, que existe uma oposição de ideias e práticas entre aqueles que promovem a instrução e aqueles que fazem a educação. Em relação a isso Gadotti (1998) diz: [...] há uma contradição interna na educação, própria da sua natureza, entre a necessidade de transmissão de uma cultura existente – que é a tarefa conservadora da educação – e a necessidade de criação de uma nova cultura, sua tarefa revolucionária. O que ocorre numa sociedade dada é que uma das duas tendências é sempre dominante. (GADOTTI, 1998, p. 57) Professores e Educadores vivem em mundos distintos, mas não deviam. Professores pensam que sua maior obrigação é dar o conteúdo, os Educadores pensam além. O mais importante não é a matéria e, sim, o objetivo. Apesar disso, o Educador é uma figura em extinção, pois a sociedade capitalista tem dado mais importância ao professor. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR OU EDUCADOR 4 A postura exercida no trabalho pedagógico depende da formação que cada um teve, não só na Academia, como também em toda sua carreira escolar. Sany Rosa (2000) afirma: A formação do profissional da educação não se inicia, ao contrário do que se imagina, quando esse ingressa em um curso de formação de professores, mas sim desde o primeiro dia em que esse ingressa na escola como aluno. Suas representações e significados de educação, vivificados enquanto estudantes, são muito mais influenciadas pela sua vivência escolar do que com as teorias que venha a entrar em contado em sua formação acadêmica. (ROSA, 2000, p. 62) Tratar dessa formação requer o entendimento de como se deu a história da Educação brasileira. Segundo Gadotti (1998), os cursos de formação de professores, mais especificamente o curso de Pedagogia tem sua regulamentação no Brasil em 1969, momento em que o Brasil vive a Ditadura Militar. Fica claro então que os professores que estão em sala de aula, tiveram suas formações marcadas também por todos esses conflitos, a Educação que se tem hoje ainda sofre as influências desses entraves ocorridos há algumas décadas. A SOCIEDADE MODERNA A sociedade atual demanda conhecimentos integrais e globalizados e que estejam em sintonia com o seu tempo, exige uma educação voltada para a formação do cidadão crítico e consciente. Sintonizar a Escola com o Mundo Contemporâneo não é tarefa fácil, exige observação, reflexão e muito debate, pois, a velocidade com que os avanços técnicos e tecnológicos são produzidos, nos traz a certeza de que cedo o novo fica velho e a Escola precisa acompanhar esse ritmo. A instituição escolar tem uma grande importância na educação de homens e mulheres e deve investir na construção de um cidadão solidário, com iniciativa e capacidade de resolver problemas, elegendo princípios que edifiquem conhecimentos sólidos para uma atuação responsável no mundo. 5 Não se espera mais que a escola ensine tudo o que o indivíduo precisa, mas que leve a um entendimento da necessidade de uma educação permanente, na qual se busca a atualização constante para uma ação competente num mundo em constantes transformações. É necessário conscientizar o cidadão sobre a importância da qualificação permanente, a fim de transformar sua condição humana. Paulo Freire analisa que o professor deve ter um objetivo definido ao ensinar: Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos. Esse é um momento apenas de minha atividade pedagógica. Tão importante quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los. É a decência com que o faço. [...] (FREIRE, 2007, p. 103) A Escola, embora não possa dar conta de resolver todos os problemas, é um espaço privilegiado para promover as mudanças necessárias à adaptação do educando à nova sociedade. Isso ocorrerá se os professores estiverem bem preparados, cônscios e comprometidos com o seu papel social. O bom senso leva a pensar que, se a sociedade muda, a escola só pode evoluir com ela, antecipar, até mesmo inspirar as transformações culturais. Isso significa esquecer que o sistema educativo beneficia-se de uma autonomia relativa. O PAPEL SOCIAL DO EDUCADOR O papel social do professor implica em sintonizar a escola com o seu tempo, com o contexto social, refletindo sobre sua prática e o mundo a sua volta. Provocar mudanças nas esferas educacionais, tornando o ambiente escolar mais atrativo, a fim de construir o aluno cidadão. O discurso do educador não pode ser contraditório a sua prática, não se pode pregar democracia assumindo uma postura autoritária, ou mesmo reproduzindo as diferenças sociais, de raça ou gênero. Em determinados momentos alguns professores acabam sendo preconceituosos em seus discursos, agravando ainda mais a relação de inferioridade e superioridade entre pobres e ricos respectivamente. Usando um exemplo dado por Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia, ele coloca a 6 seguinte situação, presenciada por nós em vários momentos: “José é pobre, mas é educado”. Ora, o fato de alguém ser pobre impede que ele seja educado? A sua situação econômica determina seu comportamento? Já ouviu alguém dizer: “Paulo é rico, mas é inteligente”? Não. O discurso sempre une a condição econômica a suas características. É como se os pobres tivessem que ser desprovidos de saber e mal educados, enquanto os ricos já tivessem em si uma predisposição natural de serem inteligentes e educados. É contra esse discurso que o educador deve lutar. Pode parecer utópico pensar que todas essas transformações são possíveis, mas ensinar significar isso, ter convicção de que há possibilidade de mudar. O educador é um agente de mudança, de transformação. A Respeito dessa utopia Pierre Furter (1976) diz: Sem a utopia, não existiriam perspectivas, nem horizonte profundo; sem a ação, a utopia se desfaria em abstração e em sonho delirante. Portanto, a utopia deve tornar-se concreta. [...]. As raízes da utopia consistem no fato de que o homem ainda não é um ser satisfeito, porque ainda não é perfeito, porque o mundo ainda não é acabado. (FURTER, 1976, pp. 44-45) É preciso sonhar, pensar alto, mas não se pode perder de vista as coisas concretas e agir para tornar possíveis todos os sonhos. Os Professores têm, antes de tudo, um papel político e devem problematizar a educação, instigando os porquês e para quê do ato de educar, e mais, trabalhando os conflitos, não o conflito pelo conflito e sim o conflito pela sua superação. Porém questiona-se até que ponto esses profissionais estão politizando a educação ou se estão se calando diante das injustiças cometidas contra os menos favorecidos? Estabelecem uma relação dialógica com o saber, buscando uma sociedade democratizada ou reproduzem os interesses do sistema estimulando a exclusão e competitividade? O papel do Educador necessita ser repensado. Esse não pode mais viver neutro na sociedade dos conflitos, não pode se calar quando é preciso falar, não pode ser omisso, pois os alunos esperam do professor uma atitude política, não partidária, mas no sentido de se definir em que lado está, qual a sua opinião em relação aos conflitos. Hoje não se pode mais esconder-se atrás daquela visão de que a educação só poderá mudar, quando houver mudanças no sistema. É necessário 7 acreditar, como FREIRE (2007), que apesar de a Educação não poder mudar toda a sociedade, nenhuma mudança poderá acontecer sem sua contribuição. A transformação social a que muitos almejam acontecerá quando se evidenciarem os problemas, trazendo-os à tona no âmbito educacional, buscando a sua superação. Não se pode dizer que os educadores se extinguiram, apenas estão perdendo o espaço na atual sociedade capitalista que visa resultados imediatistas, e que tem interesses em manter a reprodução ideológica do Estado. Diante da atual conjuntura da política educacional, é imprescindível refletir e agir. Cada um de nós possui um educador que está adormecido, por comodismo ou por falta da consciência de politizar e transformar a sua prática. Porém, é possível a convivência do Educador-professor, para isso é preciso refletir sobre sua ação. O que está em jogo é a formação de uma sociedade. EDUCAR É UM ATO POLÍTICO A educação é um ato político e ideologicamente comprometido. O educador deve estar ciente de seu papel e de sua responsabilidade com o ato de educar. Não se pode permanecer neutro diante das interações sociais e educacionais, ou se estar a favor da classe popular ou se estar contra ela. Isso não implica em política partidária. Alguns autores acreditam na educação como instrumento de transformação e ascensão social, e dizem ainda que, se a educação não transforma uma sociedade, tampouco sem ela a sociedade se modifica. Para isso, é preciso que haja dos educadores o devido engajamento em politizar a educação através de um trabalho intencional. Sem essa intencionalidade, não é possível formar o cidadão, envolvido com as questões sociais dentro e fora da escola. O Ato de ensinar não implica em transferência de saberes, cada ser é único e possui experiências e conhecimentos próprios que devem ser aproveitados no processo e ensino. O educador, quando chegar à sala de aula deve estar ciente de que irá se deparar com questionamentos diversos, dúvidas e conflitos de 8 pensamentos. Antes de tudo, deve-se respeitar a autonomia de cada um, como Freire diz: ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Manter aquilo que já deu certo propicia certa tranquilidade e uma rejeição às mudanças. A nossa sociedade vive grandes transformações, por conta das novas tecnologias, do acesso rápido a informações e a rapidez das inovações. Essa situação incomoda e desperta a necessidade de rever os conceitos constantemente. A respeito das dificuldades de o sistema educacional acompanhar as mudanças, LOPES e TORMAN (2010) diz: Temos hoje um grande desafio decorrente do contexto atual econômico-político-social que é a inserção dos sujeitos em uma sociedade globalizada, o que ganha uma dimensão e relevância cada vez mais complexas. Como o educador se vê inserido nesse processo? (LOPES e TORMAN 2010, p. 49) O autor remete a questões que fazem lembrar as mudanças ocorridas na esfera Educacional, através de documentos oficiais, norteadores da Prática educativa, que apesar de serem bem formulados, permanecem esquecidos nas prateleiras das escolas, não havendo uma transposição da teoria para a prática. Antes de criticar os professores acerca da resistência, é preciso analisar alguns questionamentos: por que existe a resistência? A quem interessa essa imagem de resistência em torno dos educadores? A escola tem condições estruturais de colocar em prática todos esses planos? Será que os mais interessados foram consultados antes de ocorrerem as mudanças? Levantar esses e outros questionamentos se faz necessário para professores e professoras; porém, o que não se pode negar é a urgência de provocar mudanças nas esferas educacionais. Entender que, por vezes, as mudanças educacionais são propostas por tecnoburocratas e por alguns educadores que atingiram um certo nível de ilustração, não significa ficar alheio à realidade e a observar que a sociedade mudou, que as crianças estão envoltas hoje em um mundo «polifônico e policrômico [...] cheio de cores, imagens e sons. Muito distante do espaço quase que exclusivamente monótono, monofônico e monocromático que a escola costuma oferecer» (KENSKI, 1996, p.133). Sendo assim, é imprescindível refletir com urgência sobre a necessidade de se criar nas escolas um ambiente mais agradável, que chame a atenção das 9 crianças e que dê conta das transformações sociais, pois é nessa sociedade que irão interagir. A respeito dessa transformação, Gadotti (1998) diz: O homem faz a sua história intervindo em dois níveis: sobre a natureza e sobre a sociedade. O homem intervém na natureza e sobre a sociedade, descobrindo e utilizando suas leis, para dominá-la e colocá-la a seu serviço, desejando viver bem com ela. Dessa forma ele transforma o meio natural em meio cultural, isto é, útil a seu bemestar. Da mesma forma ele intervém sobre a sociedade de homens, na direção de um horizonte mais humano. Nesse processo ele humaniza a natureza e humaniza a vida dos homens em sociedade. O ato Pedagógico insere-se nessa segunda tipologia. (GADOTTI, 1998, p. 81) Faz-se necessário entender essa complexidade da ação educativa para não cair em posturas extremistas, ora idolatrando ora amaldiçoando quaisquer coisas. Idolatrando no sentido de se apaixonar por tudo que é novo, e achando que tudo vai dar certo a partir dali sem que se faça nenhuma crítica. E amaldiçoando, rejeitando tudo o que é novo, mesmo sem conhecer, mantendo-se apegado demasiadamente às práticas tradicionais. Posturas extremistas não ajudam a transformar a educação, talvez o que falte seja a consciência de que a mudança ocorre pela ação e decisão dos homens juntos, levando em consideração as condições concretas que possibilitam a mudança. A educação não pode negar a sociedade na qual ela está inserida, antes ela pode despertar nos estudantes uma consciência social e política, visando à melhoria da qualidade de ensino, do trabalho que se desenvolve na escola, dentre outros itens que podem ser defendido por um estudante politizado. Para Gadotti (1998, p. 85): Estudante politizado é aquele que atua politicamente dentro e fora da escola. É um estudante que tem motivação pela qualidade, pela relevância social e teórica do que é ensinado. Passa a exigir do professor, tem interesse pelas relações humanas estabelecidas no interior da escola, discute a gestão da escola, o currículo, enfim, o projeto político-pedagógico da escola. (GADOTTI, 1998, p. 85) Pergunta-se até que ponto esse espaço defendido por Gadotti tem sido oferecido aos nossos alunos e alunas. É do interesse dos professores trabalharem com essa consciência crítica? Será que estes já fizeram a reflexão que ou se educa para a transformação ou para manter-se no status quo? 10 Se algum educador ainda tem dúvidas sobre a necessidade de provocar mudanças, é só olhar ao seu redor e identificar o que a sociedade tem produzido: fome, desemprego, injustiças sociais, preconceitos raciais, sexuais e sociais, desrespeito aos direitos humanos. Gadotti (1998) mostra que: Educar nessa sociedade é tarefa de partido, isto é, não educa para a mudança aquele que ignora o momento em que vive, aquele que pensa estar alheio ao conflito que o cerca. É tarefa de partido porque não é possível ao educador permanecer neutro. Ou educa a favor dos privilégios ou contra eles, ou a favor das classes dominadas ou contra elas. Aquele que se diz neutro estará apenas servindo aos interesses do mais forte. No centro, portanto, da questão pedagógica situa-se a questão do poder. (GADOTTI, 1998, p. 87) Apesar de o ato político estar tão presente na fala de Gadotti, assim como na de Paulo Freire, ambos não reduzem o ato pedagógico ao político, mas concordam que, apesar da política não dar conta de toda a complexidade pedagógica, ela não deve ser ignorada na esfera educacional. Na atualidade, o quadro não tem sido diferente. Os dilemas e impasses do setor educacional são, inicialmente, um problema relacionado à crise da própria proposta político-pedagógico para a formação da população brasileira. Historicamente, a escola vem relatando e defendendo que seu papel é o de formar os indivíduos para a sociedade. Essa mesma sociedade da forma como está estruturada não comporta os homens e mulheres com saberes e entendimento da vida que na escola aprendem. Ao novo educador compete refazer a educação, reinventá-la, criar as condições objetivas para que uma educação realmente democrática seja possível, criar uma alternativa pedagógica que favoreça o aparecimento de um novo tipo de pessoas. Esse novo projeto de educação não pode ser criado a portas trancadas dentro de um gabinete, deve nascer das reais necessidades, por aqueles que fazem a educação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar o professor e o educador pode-se constatar que existem por parte do primeiro uma função mais de conservação dos valores instituídos pela 11 ideologia dominante, e que, do outro lado o segundo exerce um papel de mediador no sentido de transformação, em que o importante é a vocação e o amor, e a principal preocupação é em formar o cidadão, educar a pessoa humana. Quando se fala do papel do educador na sociedade, devemos antes de tudo questionarmos se ainda há educadores. Porque, como podemos perceber, o educador está sendo substituído pelo professor que considera importante manter sua carreira profissional e não trabalhar realmente os ideais de mudança e de construção de uma sociedade mais consciente de suas atribuições e seus deveres. Para tanto, é de suma importância a politização de seus membros, para que os mesmos possam exercer sua cidadania. Contudo, não podemos admitir que já se extinguiram os educadores, mas que estão adormecidos e sem espaço na atual sociedade capitalista. Onde o espaço de trabalho está todo ele para os professores que como já foi mencionado são especialistas em reprodução ideológica do Estado. Porém, devemos questionar essa atual condição do educador, já que a palavra e a crítica são mecanismos de mediação de esperança exercida pelo mesmo. A proposta desse estudo não é o de apresentar soluções ou receitas para os problemas educacionais ou para o papel que o educador deve exercer frente à sociedade atual. O objetivo principal é o de provocar uma reflexão acerca do que tem sido e do que deve ser a educação. REFERÊNCIAS DIMENSTEIN, Gilberto. O Cidadão de Papel. 17ª edição. São Paulo: Ática, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 36ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2007. Coleção Leitura. 12 FURTER, Pierre. Educação e reflexão, 9ª ed..Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1976. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da práxis, 2.ª ed., São Paulo: Cortez, 1998. KENSKI, Vani Moreira. O ensino e os recursos didáticos em uma sociedade cheia de tecnologias. in: VEIGA: Ilma Passos Alencastro (org.): Didática: o ensino e suas relações, Campinas: Papirus, 1996. LOBO, Fernando Martins. Deixa-me ser criança, Professor! Estante Editora, 1993. LOPES, Kátia de Conto. TORMAN, Ronalisa. O Educador frente às diversidades da Contemporaneidade. In: KRONBAUER, Selenir Corrêa Gonçalves. SIMIONATO, Margareth Fadanelli. Formação de Professores, abordagens contemporâneas. 2ªed. São Paulo: Paulinas, 2008. Rosa, Sanny S. da . Construtivismo e mudança, São Paulo: Cortez Editora, 2000.