Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
REVISTA PEDAGÓGICA 2011
– 14ª Edição –
Escola Preparatória de
Cadetes do Exército
Comando da Escola
Fábio Benvenutti Castro – Coronel
Comandante
e Diretor
de Ensino
Comando
da
Comando
daEscola
Escola
Publicada pela Escola Preparatória de
Cadetes do Exército. Campinas,SP. Fone:
(0xx19)37442000,Fax:(0xx19) 32411373
www.espcex.ensino.eb.br, ISSN 1677- 8359.
Nossa Capa
Pedro
Paulo
de
Araújo
Alves
– Coronel
Décio
Luis
Schons
––Tenente-Coronel
Décio
Luis
Schons
Tenente-Coronel
Subcomandante
e
Subdiretor
de
Ensino
Comandante
e
Diretor
de
Comandante e Diretor deEnsino
Ensino
Fernando
Bartholomeu
Fernandes
Luciano
LucianoPuchalski
Puchalski––Tenente-Coronel
Tenente-Coronel
–
Tenente-Coronel
– de
Subcomandante
e
Subdiretor
Subcomandante e Subdiretor
deEnsino
Ensino
Comandante do Corpo de Alunos
*********************************
*********************************
Divisão
dede
Ensino
Divisão
Divisão
deEnsino
Ensino
Claúdio
Magni
Rodrigues––Coronel
Jorge
Luiz
Cappellano
Jorge
LuizPavan
Pavan
Cappellano
Coronel
–
Coronel
R1de
–deEnsino
Chefe
da
Divisão
Chefe da Divisão
Ensino
Chefe da Divisão de Ensino
João
JoãoAlves
Alvesde
dePaiva
PaivaNeto
Neto––Coronel
Coronel
Wilson
Roberto
Rodrigues
Chefe
da
Seção
de
Ciências
Chefe da Seção de CiênciasNaturais
Naturais
– Coronel R1 –
Chefe
da Seção
de Ciências
Matemáticas
José
Francisco
Martinez
–– Coronel
José
Francisco
Martinez
Coronel
Chefe
da
Seção
de
Ciências
Chefe da Seção de CiênciasMatemáticas
Matemáticas
Hajime Kiyota
–
–
Gil
Hermínio
Rocha
––Tenente-Coronel
Gil HermínioCoronel
Rocha R1
Tenente-Coronel
Chefe
da
Seção
de
Ciências
Sociais
Comandante
do
Corpo
Alunos
Comandante do Corpode
de
Alunos
Criação: Eduardo Tramonte Cappellano
Guaraci
Alexandre
Vieira
Collares
Paulo
Roberto
Loyolla
Kuhlmann
––Major
Paulo
Roberto
Loyolla
Kuhlmann
Major
–
Coronel
R1
–
Chefe
da
Seção
de
Ciências
Sociais
Chefe da Seção de Ciências Sociais
Chefe da Seção de Comunicação e Expressão
Edson
Edsonde
deCampos
CamposSouza
Souza––Capitão
Capitão
José
Francisco
Martinez
Chefe
da
Seção
de
Comunicação
Chefe da Seção de ComunicaçãoeeExpressão
Expressão
– Coronel R1 –
Chefe
da Seção de Idiomas
*********************************
*********************************
João
Alves de Paiva Neto
Direção da
Revista:
– Coronel
R1 – - Coronel
Jorge Luiz Pavan
Cappellano
Chefe da Seção de Ciências Naturais
Revisão:
Edson de*********************************
Campos Souza – Capitão
Direção da Revista e Diagramação:
Jorge
Luiz Pavan Cappellano – Coronel R1
Diagramação:
Wallace Fauth – 1º Tenente
Arte Final: Eduardo Tramonte Cappellano – Publicitário
Fotografia:
Revisão:
Edison
CaldeiraSouza–
Faustino
e Edis Faustino
Edson
de Campos
Major
Fotolito
e Impressão: EGGCF
Fotolito
e Impressão:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
EsPCEx, onde tudo começa
A Nossa Capa reproduz imagens da
fachada da EPSP (1940), da EPC (1959) e da
atual EsPCEx. Na parte superior, à esquerda,
vê-se a imagem que ilustrou a capa da primeira
Revista Pedagógica, editada no ano do Jubileu
de Ouro da EsPCEx e, à direita, o Brasão da
EsPCEx. A capa assinala o ano de implantação
do Ensino Superior na EsPCEx.
****************************
Tiragem da Revista: 1000 exemplares
Os conteúdos dos textos apresentados são
de responsabilidade de seus autores e não
expressam, necessariamente, as opiniões da
direção da EsPCEx.
- Distribuição Gratuita -
1
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Sumário
Editorial
Fábio Benvenutti Castro – Cel Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx......................05
A Escola de Ontem, de Hoje e a Visão de Futuro
Jorge Luiz Pavan Cappellano – Cel R1 Professor de Português e Adm Memorial da
EsPCEx............................................................................................................06
As Demandas Doutrinárias em Face da Evolução dos Combates
Fábio Benvenutti Castro – Cel Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx......................08
Contextualização e Competência
Guaraci Alexandre Vieira Collares – Cel R1 Professor de Português ................................13
Considerações sobre Geopolítica
Oscar Medeiros Filho – Maj Professor de Relações Internacionais da AMAN .....................16
Liderança Emocional e Ação Docente
Aline Marques Martins – 1º Ten Professora de Desenho Plano e Descritivo .......................21
Ser Educador/Mediador: o grande desafio
Ana Claudia Rocha Barbosa – Pedagoga ..................................................................23
A Ansiedade Cognitiva e Somática no Esporte: efeitos psicológicos no período précompetição
Márcia Maria Carvalho Luz Fornari – 1º Ten Psicóloga ................................................31
Sudão
Helcio Miranda Duque Botelho – Ten Cel Comandante do Corpo de Alunos da EsPCEx .............34
Alfabetização, Leitura e Letramento: estratégias possíveis de norte a sul do Brasil
Célia Cristina de Almeida Gauté – Maj Professora de Português .....................................41
Uma Visão da Importância da Informação e da Segurança da Informação para a
Sociedade, para o País e para as Forças Armadas
Sérgio da Costa Ferreira – Maj Chefe da Divisão de Tecnologia da Informação da EsPCEx
.....................................................................................................................49
O Projeto Arquitetônico da Escola Preparatória de Cadetes do Exército
Davi Hoor – 3º Sgt Auxiliar da Seção de Licitações e Contratos ...................................54
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Arcos Romanos
Jorge Luiz Pavan Cappellano – Cel R1 Professor de Português e Adm Memorial da
EsPCEx..............................................................................................................57
A Criação do Brasão da Turma General Pitaluga (registro) ....................................59
Juramento à Bandeira (registro)...........................................................................60
EsPCEx, onde tudo começa
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Nossos Comandantes
General de Exército
Enzo Martins Peri
Comandante do Exército
General de Exército
General de Divisão
Ueliton José Montezano Vaz
Fernando Vasconcellos Pereira
Chefe do Departamento de Ensino e
Cultura do Exército
Diretor de Formação e Aperfeiçoamento
EsPCEx, onde tudo começa
4
Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
EDITORIAL
EsPCEx – Onde se Aprende a Amar a Pátria
Se existe algo com poder suficiente para transformar uma sociedade, esse poder está
solidamente fundamentado na Educação.
A Escola Preparatória de Cadetes do Exército é um estabelecimento de ensino vocacionado
para receber jovens destinados à carreira militar, jovens que, no futuro, serão os oficiais do
Exército Brasileiro.
O Exército Brasileiro é uma instituição moderna, dinâmica, que frequentemente se adapta às
novas tendências administrativas e, sobretudo, operacionais, alinhando-se, ao longo da sua
exitosa história, com o que de mais moderno existe no concerto da arte militar.
As diferentes tecnologias impactam, em maior ou menor grau, os atores responsáveis pela
execução da defesa. Destarte, a tecnologia impacta, também, o Exército Brasileiro, o que lhe
impõe necessárias transformações.
Essas transformações, mandatórias para as Forças que pretendem se manter no estado da
arte quanto ao emprego militar, tendem a balizar novas condutas, a desenvolver novas habilidades
e a incorporar novos procedimentos, fruto de novos conceitos presentes pela nova dinâmica
proporcionada pela tecnologia crescente.
Em face desse cenário fluido e dinâmico, sobressai a importância e a responsabilidade de
uma educação capaz de tornar o homem o agente protagonista das transformações ínsitas às
Forças Armadas.
Nesse escopo se insere a EsPCEx, estabelecimento de ensino que, há mais de 70 anos, vem
iniciando a formação de jovens e educando-os de acordo com os preceitos seculares estabelecidos
pelo Exército Brasileiro.
Tendo como alicerce a necessária transformação do Exército, a EsPCEx, como Escola de
Formação, adapta-se e implementa o ensino por competências a fim de Educar o material humano
– os futuros oficiais, para que efetivamente deem as respostas esperadas pelo Exército, o Exército
de Caxias, conhecido pelo Braço Forte e pela Mão Amiga, fatores de garantia e de integração
nacional.
Fábio Benvenutti Castro – Coronel
Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx
EsPCEx, onde tudo começa
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
EsPCEx, ONDE TUDO COMEÇA
A Escola de Ontem, de Hoje e a Visão de Futuro
Jorge Luiz Pavan Cappellano(*)
Professor de Língua Portuguesa e Literatura
O valor histórico da Escola poderia ser
explicado, de uma forma simples, apenas pela
sua magnífica arquitetura em estilo colonial
espanhol. Trata-se de uma construção única,
iniciada em 1944, que, além dos traços coloniais,
preserva a tecnologia de engenharia e arquitetura
de uma época, quando as grandes obras eram
precedidas por detalhados desenhos, feitos de
próprio punho, em papel vegetal. Outra
característica interessante da metade do século
XX, predominante nessa obra, foi o emprego de
grande quantidade de operários, e de poucas
máquinas, pois a maioria dos serviços de
alvenaria era realizado manualmente.
O arquiteto Hernani do Val Penteado, autor
do Projeto Original da EsPCEx, criou uma fortaleza
com paredes largas e estrutura muito forte,
utilizando tijolos de barro, de tonalidade vermelha,
assentados em paralelo, dois a dois, o que explica
a resistência e a generosa espessura das
paredes. Não há nada igual na cidade de
Campinas e no Estado de São Paulo.
de conquistas e vitórias, que, no decorrer dos
anos, foi responsável pela formação de 71 turmas
e de um valioso acervo histórico e cultural.
Dos primeiros dias de 1941 até hoje, muitas
coisas foram se modificando, quer pela própria
evolução da sociedade, quer motivadas pelos
constantes avanços tecnológicos. A Escola,
sempre atenta, foi-se adaptando às novidades,
impondo intenso ritmo de ensino e aprendizagem,
o que lhe garantiu uma posição de vanguarda na
área do Ensino Médio e uma excelência na
preparação dos futuros cadetes da AMAN.
Nesses mais de 70 anos, as grandes
conquistas foram também entremeadas por
grandes transformações no ensino, como a
adoção do curso científico completo (atual Ensino
Médio) em 1948, o funcionamento da Escola com
apenas o 3º ano do Ensino Médio a partir de
1990, modelo que já havia sido adotado de 1940
a 1947. Em todas essas transformações, seus
profissionais, civis ou militares, permaneceram
firmes e determinados na missão de selecionar e
preparar futuros cadetes, confirmando, em cada
momento, o compromisso sagrado de despertar
vocações e priorizar todos os meios disponíveis
para melhor preparar os recursos humanos de
que necessitam a Academia Militar das Agulhas
Negras (AMAN) e o Exército Brasileiro (EB).
A existência de um acervo composto por
significativa coleção de peças históricas, reunidas
nesses 71 anos – tais como monumentos,
estátuas, pinturas, documentos, fotografias e
tantos outros objetos – acrescentam – por seus
referenciais artísticos, históricos e anímicos –
inestimável valor ao magnífico conjunto
No ano de 2010, o Departamento de Ensino
arquitetônico e conferem especial notoriedade à
e Cultura do Exército (DECEx) começou a
belíssima edificação.
desenvolver estudos para promover as
Em cada recanto desse conjunto necessárias mudanças de atitude de seu público
arquitetônico, há sempre um fato ou interno, sobretudo de professores e instrutores,
acontecimento que merece ser lembrado e e a atualização curricular de todos os seus
admirado.
estabelecimentos de ensino, visando à
modernização do Sistema de Ensino Bélico. Essa
Essa septuagenária Escola Militar, criada
iniciativa foi registrada no documento intitulado
no início dos anos quarenta, no bairro da Bela
Nova Sistemática para a Modernização do Ensino
Vista, na cidade de São Paulo, e transferida para
do Exército.
Campinas nos primeiros dias de 1959,
surpreende-nos não só pela beleza de seus traços
Para proporcionar esse salto de qualidade,
arquitetônicos, mas, também, pelo seu passado a EsPCEx, a partir de 2012, incluirá em seu
EsPCEx, onde tudo começa
6
Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
currículo os conteúdos do 1º ano do Curso Básico
da AMAN de ensino superior, passando a se
constituir o primeiro dos cinco anos de formação
do oficial do EB. Nesse novo modelo, continuará,
de forma integrada com o ensino acadêmico
superior, a exercer sua vocação selecionadora e
formadora dos futuros cadetes de Caxias.
Para responder a esses desafios, a EsPCEx
desenvolveu, de forma simultânea ao
funcionamento do último ano de Ensino Médio,
os novos currículos das disciplinas que irão
compor a grade de disciplinas a partir de 2012.
As transformações decorrentes da
implantação desse novo modelo de ensino não
se limitam aos campos materiais e técnicos, mas,
sobretudo, buscam um novo profissional,
preocupado com o seu autoaperfeiçoamento,
consciente de que o que sabe hoje não será
suficiente para responder às necessidades de
uma sociedade dinâmica, em constante evolução,
sintonizada com os avanços tecnológicos e a
informação.
Com a adoção da Nova Sistemática para a
Modernização do Ensino do Exército, a EsPCEx
continuará a desenvolver sua vocação
vanguardista de ensino, em constante busca por
novas formas de ensinar e aprender,
proporcionando ao aluno experiências que
favoreçam a aquisição de uma estrutura dinâmica
de aprendizado e de aprimoramento cognitivo,
afetivo e físico.
***
(*) O Coronel R1 de Intendência e do Magistério Militar Jorge Luiz Pavan Cappellano foi
aluno da EsPCEx, formando-se em 1972. Graduou-se na Academia Militar das Agulhas
Negras – AMAN em 1976. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais – EsAO (nível
mestrado) em 1986. Especializou-se em Informática Aplicada à Educação Construtivista
(pós-graduação) pela UNICAMP em 1997. É autor dos livros: “Memorial da EsPCEx, da
Rua da Fonte à Fazenda Chapadão, 65 Anos de História” (2007) e do “Diário da Escola
Preparatória de Cadetes de São Paulo” (2011). Atualmente é Professor de Português e
Administrador do Memorial da EsPCEx.
E-mail:[email protected]
EsPCEx, onde tudo começa
7
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
As Demandas Doutrinárias em
Face da Evolução dos
Combates
Fábio Benvenutti Castro (*)
Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx
A necessidade de mudança na doutrina
vigente não pode apoiar-se somente em
experiências passadas, com base em
lições aprendidas, que, muitas vezes, não foram
ratificadas pela prática sistemática. O acervo
do conhecimento técnico-doutrinário deve ser
coerentemente discutido, reavaliado e
ponderado, sem que isso signifique dizer que haja
qualquer tipo de crítica às orientações expedidas
ou diretivas correntes. As discussões doutrinárias
devem ser entendidas como contribuições
válidas, não trazendo arranhões à hierarquia e à
disciplina. Muito pelo contrário, o levantamento
de novas ideias devem ressaltar, sobretudo,
posicionamentos que utilizam outro enfoque, um
ponto de vista diferente, que visam unicamente
aos mesmos objetivos pretendidos pelo Comando
– a ampliação da capacidade de defesa e de
proteção da Pátria. Essas discussões, que visam
à maturação doutrinária ou ao desenvolvimento
de outra forma de conhecimento, estimulam o
aperfeiçoamento do alicerce doutrinário que rege
as forças em operação. Vale ressaltar que não
há como evoluir se as modificações seguem a
concordância hegemônica, se as experimentações são limitadas por fatores externos ou se os
possíveis debates abordam temas superficiais. A
linha contraditória de pensamento deve revelar
ideias e conceitos ainda não colocados em prática
ou ainda totalmente não revelados.
A constante aplicação do conhecimento
em exercícios ou em operações, bem como as
revelações proporcionadas pela história militar
recente, servem de ferramentas básicas para
nortear o processo de revisão dos princípios que
orientam a doutrina. O desapego ao préestabelecido, à rotina, às soluções previamente
concebidas constituem-se em condições
essenciais para a formulação de novos
procedimentos doutrinários com vistas a ampliar
a eficiência operacional e a maximizar condutas,
de modo a contemplar a componente estratégica,
EsPCEx, onde tudo começa
em sentido amplo, e, em nível restrito, valorizar
os aspectos eminentemente táticos e seus
reflexos para a execução de tarefas específicas
dos escalões mais elementares da Força.
Necessariamente, a evolução doutrinária
carece de um aperfeiçoamento cíclico e
ininterrupto. De tempos em tempos, sob
influência dinâmica de fatores que alteram as
relações mundiais em todos os campos do
conhecimento, as soluções doutrinárias de
outrora e talvez as de hoje mereçam sofrer
cuidadoso reestudo, visando provocar um
redirecionamento de procedimentos ou mesmo
para ratificar condutas e orientações até então
creditadas como verdadeiras.
“... cada Era tem tido suas formas peculiares de
guerra.(...)Cada qual, portanto, tinha sua própria
teoria de guerra e quem quiser compreender a
guerra e suas manifestações deve lançar um olhar
arguto às principais características (...) em cada
Era determinada”. (Clausewitz, On War)
O tempo é Senhor das transformações. As
organizações concebidas para obter sucesso nos
combates previstos para serem realizados no
Século XXI carecem constantemente de
reavaliações, a fim de se verificar sua contínua
adequabilidade para as futuras missões ou
mesmo para superar as crises que porventura
poderão emergir num mundo cada vez mais
complexo e multifacetado. Tais crises vão desde
contendas internas, como as operações de
garantia da lei e da ordem, como também missões
internacionais, respeitada a carta das Nações
Unidas. O espectro de missões atribuídas a forças
militares que envolvem aspectos humanitários
vem crescendo exponencialmente, fato que não
pode ser descaracterizado no estudo das
condicionantes doutrinárias do porvir.
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Revista Pedagógica 2011
A Era da indústria de série, da produção
em massa, deixou de ser decisiva na
determinação das ilhas de modernidade. Com a
inundação do conhecimento, provocada pelo
enorme avanço da eletrônica e da informática,
quem domina a tecnologia, o conhecimento,
passou à vanguarda e tem maiores possibilidades
de enfrentar com sucesso os cenários previstos
para o milênio que se descortina.
Os exércitos que sabem mais, que
conhecem com mais profundidade, que dominam
a tecnologia e suas ramificações, que se
comunicam ininterruptamente e em segurança,
que se deslocam mais rápido e de modo
coordenado têm maiores chances de
alcançar vitórias, impor sua vontade ao
oponente, com menor desgaste e com o mínimo
de baixas. Enfim, têm melhores condições de
dominar a situação tática e influenciar o
combate, mantendo a iniciativa.
A partir da “Pax de Westphalia”, os
exércitos passaram a definir as funções e as
características das frações que os integravam.
Cada arma possuía sua missão particular, que
compunha um todo harmônico, indivisível. Todas
elas, operando coordenadamente, proporcionavam condições para que as batalhas fossem
vencidas. Existia um sincronismo implícito,
desejável, de modo que as armas-base
comandavam as ações principais e, via de regra,
definiam a sorte dos enfrentamentos. Essa
prática foi dominante na organização e na
estruturação dos exércitos que se enfrentaram
nos maiores combates bélicos do século passado.
EsPCEx
de certo modo restritivas, direcionavam o
emprego tático das forças oponentes. As
campanhas de ar, terra e mar eram
planejadas, em sua maioria, com relativa
antecedência a fim de possibilitar as
coordenações mandatórias.
A partir do momento em que a velocidade
do combate foi considerada essencial para que
a vitória fosse alcançada, novos meios, oriundos
da revolução industrial, foram incorporados aos
exércitos, o que provocou uma verdadeira
mudança de paradigmas nos escalões
responsáveis pela manutenção do comando e
controle. Os procedimentos mecanizados em vigor
foram, rapidamente, substituídos pelas
ramificações eletrônicas, característica da
informatização dos processos. Considerando
esses novos meios, os sistemas de comando e
controle, bem como o pessoal envolvido na rotina
de trabalho, até então acostumados a operar
em ritmo industrial, tiveram que rapidamente
se estruturar a fim de acompanhar o avanço da
tecnologia da informação, adaptando-se à
rapidez dos processos comandados pela Era
digital.
O binômio velocidade-informação veio a
proporcionar condições para que as frações
táticas responsáveis pelos engajamentos
tivessem possibilidade de impactar precisamente
os adversários. Quem encontrasse e entendesse
a situação primeiro, poderia se movimentar com
mais precisão e, assim, orientar o combate de
modo a conduzi-lo em vantagem. As informações
processadas em tempo real passaram a
fundamentar os procedimentos táticos em todos
Os conflitos posteriores à II Grande Guerra
os escalões.
se sucederam e demonstraram a tendência
determinante de que o emprego combinado das
As decisões, gradativamente, ficaram
armas-base, infantaria e cavalaria, apoiados pelas dependentes de informações precisas e
ações da força aérea e por apoio de fogo preciso, oportunas, que passaram a fluir pelos novos
cerrado ou não, seriam fundamentais aos novos sistemas em tempo real. A coleta dos dados
conflitos. Tal aspecto foi ressaltado nos conflitos táticos, a busca de inteligência de combate nada
árabe-israelenses, nos quais a velocidade, a mais é do que implementar conhecimento sobre a
audácia, a liderança em todos os níveis de situação enfrentada, suas ramificações e
comando e a flexibilidade foram essenciais à tendências. No Exército, a cavalaria,
conquista da iniciativa das ações bélicas e, em particularmente a mecanizada, é a fração de
síntese, responsáveis pela decisão dos conflitos. tropa responsável por nutrir o comando com as
informações necessárias à tomada de decisão.
Embora a letalidade dos armamentos tenha
Em síntese, ela é, na essência, a fração de tropa
sido implementada, sofrendo grande incremento
portadora do conhecimento – fator fundamental
na segunda metade do século XX, a técnica de
para as operações de combate em todos os
execução das batalhas permaneceu inalterada.
cenários.
O combate permaneceu atrelado a linhas
definidoras de responsabilidade. Essas medidas,
EsPCEx, onde tudo começa
9
EsPCEx
O conhecimento, entre outros fatores,
depende da capacidade de ver além do limite
definido pelo campo visual, habilidade permitida
quando há incorporação de sensores específicos
que proporcionam essa ampliação do poder de
combate da fração, retirando-a do contexto
tradicional. As operações de inteligência, de
levantamento de dados e por sua vez de
reconhecimento tornam-se fundamentais a
qualquer escalão de tropa encarregado de
realizar operações táticas. A transição dessas
operações para missões de combate dependem,
em muito, das regras previstas para o
engajamento. No entanto as armas-base devem
estar preparadas para realizar as missões
inseridas nesse contexto operacional.
Em situações de combate, a condução de
operações de reconhecimento é fundamental
para o prosseguimento das ações. Hoje, não
somente é necessária a condução de
reconhecimentos, mas também se torna primordial
que as operações de inteligência sejam
conduzidas no nível tático. Quem, no passado,
conduzia reconhecimento, na Era da tecnologia
deve estar apto à condução de operações mais
abrangentes, mais incisivas e capazes de
preencherem o vazio de conhecimento dos
difusos e complexos cenários atuais. As clássicas
missões de reconhecer, prover segurança e
combater transformar-se-ão em capacidade de
realizar inteligência, prover segurança e
combater.
Revista Pedagógica 2011
que ser dado sem retardo, e na direção correta,
a fim de continuar a transformação do Exército
em uma Força mais eficaz, mobiliada por
guerreiros do conhecimento, que operam e
entendem o cenário tecnológico no qual estamos
envolvidos.
Confirmando a necessidade de adequação
à guerra do conhecimento, em 1993 o professor
visitante da Academia Militar de West Point, Paul
Strassmann, afirma:
“A história da guerra é a história da doutrina.(...)
Temos uma doutrina para desembarques em
praias, uma doutrina para bombardeios, uma
doutrina para a batalha ar-terra, uma doutrina para
o combate na selva, contudo não temos uma
doutrina para a informação”.
Com esse enfoque, para que ocorra esse
ajuste, é necessária a preparação específica do
homem. O combatente moderno deve receber
instruções abrangentes. Deve possuir
conhecimento do campo de batalha tradicional
e do complexo ambiente assimétrico. Deve
possuir, sobretudo, conhecimentos do combate
irregular, porque muito provavelmente será
empregado em ambientes irregulares,
assimétricos. Esse direcionamento é sensível,
pois o combate moderno demanda conhecimentos,
inclusive, de ordem psicológica, além da essência
técnica, para que o guerreiro do conhecimento
possa operar com propriedade nesse difuso teatro
O emprego combinado pressupõe quais de operações.
armas-base tenham condições de operar em
Não é com a simples aquisição de modernos
estreita ligação. As funções combativas acabam
equipamentos que se modifica a maneira de
se mesclando. Hoje, há necessidade de que o
combater. Somente a incorporação de novos e
infante saiba, reconheça, oriente o esforço de
modernos meios não capacita nenhum exército
inteligência, e de que o cavalariano combata,
ao ingresso na Era da informação. A mudança e
dure na ação, opere sensores que ampliem sua
a adaptação a esse novo tipo de combate é um
capacidade de atualizar a situação tática
trabalho longo, que deve ser desenvolvido por
continuamente, enfim, esteja apto a realizar
gerações que acompanham a evolução da arte
operações de inteligência, não ficando preso
da guerra, o que inevitavelmente contribui para
somente à missão de reconhecimento, que limita
que se fique familiarizado com o hiato técnicoseu emprego, e não possibilita ao escalão de
operacional que se há de ser superado. Cada
comando todas as informações necessárias à
vez mais, o combatente deve possuir educação
correta tomada de decisão ou ao perfeito
integral, ajustada à sociedade, balanceada com
acompanhamento da situação.
conhecimentos técnicos e culturais, favorecendo
Logicamente, a adequação de novos sua percepção do contexto humanístico em que
sistemas faz parte de um longo processo de esteja inserido. A transformação requer mudança
evolução e adequação do “modus faciendi”. Esse de processos, de hábitos e até mesmo de
passo, por mais difícil que possa parecer, tem crenças, sem romper com o que vem dando certo
EsPCEx, onde tudo começa
10
Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
ao longo da história. A qualidade passa a ser propriedade, a já existente capacidade de
valorizada em vez da quantidade desqualificada. combater e de realizar todo tipo de operações,
inclusive incorporando a capacidade de realizar
Além de se visualizarem alterações
operações de inteligência, fato que tende a
doutrinárias pela incorporação de novos meios,
tornar o combatente moderno mais flexível, mais
que demandam preparação diferenciada, faz-se
especializado e mais instruído.
necessário estimular o desenvolvimento e a
tecnologia bélica para que conhecimentos
A exemplo das brigadas Striker (EUA), que
sensíveis sejam dominados, da pesquisa à combatem, reconhecem e executam operações
produção, evitando-se a exclusiva e indesejável de inteligência em um variado repertório, as
dependência do exterior. Acredita-se que o tropas
mecanizadas,
com
pequenas
combatente com tempo limitado de aprendizagem, incorporações de material, e algumas
o que serve à Força por curto espaço de tempo, modificações organizacionais, estarão em
possua profundas dificuldades de efetivamente condições mais favoráveis para operar no
compreender o ambiente operacional do terceiro complexo ambiente operacional do início desse
milênio.
século, inclusive se tornando aptas a conduzir
com sucesso as operações de paz que constam
Do escopo, ressalta-se a importância do
do compromisso do Exército, segundo orientação
conhecimento para que qualquer ação possua
prevista pela Carta das Nações Unidas.
as mínimas chances de ser bem-sucedida. Na
citação de Sun Tzu, que afirmava a necessidade
É lícito afirmar, no entanto, que as
do autoconhecimento e do conhecimento do modificações tornam-se mandatórias, a fim de
inimigo para que a vitória fosse alcançada, aproximar a tropa responsável por alimentar o
verifica-se a necessidade de os exércitos Comando de informações necessárias e
possuem condições de realizar operações de fundamentais à decisão da Era do conhecimento.
inteligência que venham a fornecer condições à As frações de tropas táticas não podem continuar
transição para as operações de combate, com se adestrando e treinando como se fossem
maior ou menor intensidade.
combater em um cenário pertencente à II Grande
Guerra.
Gradativamente, a velocidade do combate
sofre um significativo incremento, e os setores
Por tudo isso e com base na história,
de decisão necessitam de informações adequadas ponderar sobre doutrina, possibilidades e futuras
a fim decidir com suficiente oportunidade. A modificações fazem importante parte do processo
incorporação de sensores do tipo radares e evolutivo. Somente assim, pode-se almejar, de
veículos não tripulados às tropas responsáveis maneira construtiva, o aperfeiçoamento gradativo
pelo combate combinado por excelência de estruturas e procedimentos que são baseados
poderão alimentar o Comando com o em experiências passadas, em um cenário que,
conhecimento adequado à tomada de decisões. dada a tendência, não mais será válido ou
A instrução e a especialização de frações de repetido.
tropa capazes de maximizarem o emprego de
Sabe-se, contudo, que o próximo combate
nova tecnologia não é de simples execução. Há
da próxima guerra não será combatido da mesma
uma carência a ser respeitada.
forma como foi o último combate do último
Além disso, a tropa mecanizada carece de conflito. Para tanto, adaptações primordiais são
um maior número de fuzileiros a fim capacitá-la urgentes. Quem permanece inerte corre o risco
para o combate, reorientando seu emprego, o de tornar-se o próximo alvo. Ver
que fatalmente há de se refletir em sua primeiro, identificar primeiro, entender primeiro
estrutura. Sendo assim, é factível pensar que, a situação são tarefas que essencialmente
em função de todos os avanços técnicos, podem conduzir à vitória.
doutrinários, organizacionais e históricos, as
Atrelando-se às tradições, é imprescindível
frações elementares, particularmente
apoiar-se na sabedoria de quem em combate
de cavalaria, tenham que vir a ser reorganizadas,
defendeu o Brasil, inspirando lições de liderança
a fim de se tornarem mais eficientes no moderno
por meio do exemplo, como o general Osório,
campo de batalha, sendo mais ágeis, mais letais,
que costumava afirmar que não se deve descurar
mais combativas, incorporando, com maior
da capacidade de reconhecimento do Exército,
EsPCEx, onde tudo começa
11
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
nem mesmo enfraquecer a sua Cavalaria. A
capacidade de reconhecimento associa-se, hoje,
à necessidade de as tropas operacionais
realizarem e conduzirem operações táticas de
inteligência, sendo dotadas de sensores que lhes
confiram essa possibilidade, facultando-lhes o
emprego em qualquer ambiente operacional, sob
quaisquer condições de visibilidade. Tudo isso
nos leva a acreditar que a operacionalidade de
um exército é um estado d’alma a ser alcançado.
Essa operacionalidade somente pode ser atingida
com adequada preparação do homem e a inserção
de meios dotados de tecnologia. O início de
milênio impõe que o guerreiro do futuro combate
– o guerreiro do conhecimento, seja mais flexível,
mais audaz, mais bem preparado, técnica e
psicologicamente, e saiba, sobretudo, operar em
ambientes não convencionais, uma realidade de
hoje e do porvir.
O difuso ambiente experimentado após o
declínio da bipolaridade mundial, seja na paz,
seja na guerra, demanda pela implementação de
combatentes do conhecimento, para que o
Exército continue a garantir, com sua vocação
institucional-democrática, os destinos da Pátria
Brasil.
***
Aquarela do Artista Plástico Duduch, vencedor da
3ª Gincana de Pintura da EsPCEx
(*) O Coronel Fábio Benvenutti Castro ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre em
1981. Graduou-se na AMAN em 1985. Possui, também, os seguintes cursos: Escola
de Aperfeiçoamento de Oficiais (nível mestrado) em 1993; Comando e Estado-Maior do
Exército Brasileiro (nível doutorado) em 2001; Piloto de Helicóptero de Combate; Cavalaria
e Avançado de Blindados nos Estados Unidos da América (EUA). No exterior, foi
observador militar na Bósnia Herzegóvina e no Chipre; e assessor militar da Academia
Militar de West Point-EUA. De 2008 a 2010, comandou o Centro de Aviação do Exército.
Atualmente é o Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx.
EsPCEx, onde tudo começa
12
Revista Pedagógica 2011
Contextualização e
Competência
Guaraci Alexandre Vieira Collares (*)
Professor de Língua Portuguesa e Literatura
Em clima de modernização do ensino no
Exército Brasileiro, visando à formação do
profissional combatente e, principalmente, do
condutor de homens do século XXI, ganha força
surpreendente a necessidade de buscar razões
para o aprendizado desta ou daquela disciplina,
com o intuito de atrelá-la a uma demanda futura,
específica, direcionada, como se isso fosse
crucial para o desempenho do futuro oficial, ou
como se fosse possível imaginar que um
conhecimento do agora represente um resultado
direto lá adiante, ou um fracasso anunciado, uma
equivocada associação ao ensino por
competência, em fase de implantação.
EsPCEx
“Não basta ensinar ao homem uma especialidade.
Porque se tornará assim uma máquina utilizável,
mas não uma personalidade.
Albert Eistein”
tradicional, por objetivos, a interdisciplinaridade,
entre outros, sendo estes temas merecedores
não de um artigo despretensioso como este, mas
de um estudo bem mais profundo, o que não é
objeto deste trabalho.
O ser humano de hoje, mais bem informado
e questionador, transforma-se o tempo todo, fica
mais crítico e busca direcionar o estudo para
esta ou para aquela área, à mercê dos inúmeros
cursos que são criados diariamente. É curioso
que isso aconteça num mundo global, em que o
conhecimento geral se sobrepõe ao conhecimento
específico. Quanto mais perseguida a
especialização, mais ganha espaço o profissional
Acredito que a ideia veio a reboque, eclético, que desempenha inúmeras tarefas,
alicerçada às opiniões de alguns profissionais que domina várias áreas e, por isso, desenvolve uma
tentam responder a questionamentos do tipo visão global da empresa ou do ramo em que atua.
“Para que eu estudei isso se nunca utilizei na
Se ela quer um profissional em uma área
prática?”. Pelo pouco que aprendi e que me foi
específica, busca-o no mercado e encontra-o
passado sobre o processo de ensino por
sem muita dificuldade, desde que pague bem.
competência, até agora, acredito que muda
Mas, se busca um líder, um administrador de
apenas a forma da abordagem dos conteúdos e
conflitos, especialmente humanos, fica bem mais
as técnicas utilizadas em sala de aula, o que,
difícil encontrá-lo num ambiente tão
salvo melhor juízo, nada tem a ver com a
sistematizado e especializado.
necessidade quase que impositiva de justificar a
A profissão militar aparece como
permanência desta ou daquela disciplina.
abrangente por excelência, porque desenvolve
É importante refletir sobre tal
em seus integrantes não só o aspecto cognitivo,
condicionante, antevendo o perigo que uma
mas também o psicomotor e, principalmente, o
postura radical poderá trazer em relação ao
afetivo. Por isso, o Exército mantém uma gama
ensino, cuja amplitude ultrapassa em muito a
diversa de atividades que, perfeitamente
sistematização desejada pelos teóricos de
alinhadas com o terceiro milênio, formam o
plantão. Estes parecem deixar de lado, inclusive,
profissional visionário, o futuro líder e condutor
num primeiro momento, até mesmo as
de homens, aquele que vai ter que ser capaz de
peculiaridades de cada disciplina, colocando
gerenciar com eficácia situações de crise. E, na
indevidamente, num mesmo espaço, o ensino
maior parte do tempo útil na ativa, vai administrar
técnico e o acadêmico.
conflitos humanos.
Encontrar respaldo para a manutenção ou
No caso das Escolas Militares Preparatórias
retirada de uma disciplina é apenas uma das
ou de Formação, é comum vermos alunos
demandas da chamada modernização, pois o
colocando em xeque a necessidade de estudar
contexto é mais abrangente e contempla uma
esta ou aquela matéria, matemática, por exemplo,
série de outras medidas, necessárias e adequadas
se pretendem ir para uma arma combatente.
ao momento, na justa medida, como o
Alguns responsáveis pelo planejamento do
estabelecimento de um novo perfil
profissiográfico, matriz curricular, mapa funcional, ensino não desestimulam essa prática, uma vez
ensino por competência, em substituição ao que também buscam respostas para as mesmas
EsPCEx, onde tudo começa
13
EsPCEx
perguntas, tentando sistematizar o que, na minha
opinião, não pode ser sistematizado. Para
comprovar essa tentativa, é só contar o número
de competências selecionadas pelos estudiosos,
necessárias para o futuro oficial e o número de
vezes em que essa relação sofreu alterações ou
acréscimos: jamais se chegará a uma quantidade
ideal, porque ela simplesmente não existe. Não
se conseguirá obtê-la, pois isso engessaria o
próprio cérebro, definindo que, para uma ação
qualquer no presente, um conhecimento anterior,
específico, deveria ter sido adquirido ou
trabalhado.
Revista Pedagógica 2011
missão e dada como concluída, poder-se-á avaliar
se ela foi eficaz, correta, se houve falha, se foi
cumprida adequadamente, enfim. As situações
vividas, em tempo de paz e de guerra, foram,
são e sempre serão inéditas. Julgar que se poderá,
em algum momento, prever todas as situações
possíveis é simplesmente ignorar a capacidade
da mente humana.
Um engenheiro formado pelo ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica), um dos cursos de
engenharia mais respeitados, disse-me que, no
curso, aprendeu desde cedo a vencer desafios,
pois lá jamais se estuda algo, pensando no que
Na ponta da linha, vejo educadores do mais o conteúdo vai ajudar nesta ou naquela tarefa
alto nível e experiência defendendo o próprio no futuro. Se assim for, estará decretado o fim
peixe e tendo que dar explicações razoáveis e da capacidade de criar.
convincentes a respeito da manutenção desta
A formação militar deve buscar, ou continuar
ou daquela matéria, justificando a permanência
buscando, uma competência global, que não tem
deste ou daquele conteúdo. Num verdadeiro
a ver com o processo: a capacidade para vencer
interrogatório, estudiosos de lá e professores de
desafios, e ponto. É ela que vai proporcionar ao
cá tentam chegar ao ápice de oferecer ao aluno,
oficial uma diversidade de situações nas quais
no presente, condições para que ele esteja
deverá formar um juízo de valor e tomar uma
capacitado para uma competência exigida lá no
decisão, atitude que não será consequência do
futuro. Exageros à parte, esse seria, na visão
aprendizado desta ou daquela matéria, e sim de
dos estudiosos, o ponto ideal, o máximo a ser
um conjunto harmônico de conhecimentos.
atingido. Como foi dito, competência é um
Num sentido mais amplo, raciocinando como
caminho, não o fim; o ensino é por competência
cidadão, vejo o quanto é fundamental para o
não para a competência.
País a diversidade de conhecimentos. A principal
É lógico que jamais se deverá abrir mão do
preocupação do educador é a de formar a pessoa,
conhecimento técnico necessário ao profissional
o cidadão. É só olhar o mapa e verificar o sem
militar. Meu foco central são os outros, que
número de culturas, de conteúdos orientados
englobam o acervo intelectual de qualquer
pela região, pelo ambiente, clima, vegetação,
profissional de nível superior, que sedimentarão
orografia. A beleza do povo brasileiro está
nele capacidades que não serão medidas ou
justamente na diversidade; foi ela que o brindou
avaliadas segundo necessidades que poderão
com essa imensa capacidade de improvisação,
ocorrer ou não, lá na frente. São matérias que,
que o fez extremamente criativo, adaptável a
em sentido mais amplo, permitem, inclusive, que
qualquer terreno ou situação.
o curso de Bacharel em Ciências Militares seja
Já se comprovou isso em inúmeras
reconhecido pelo MEC como de nível superior, o
participações
do Exército Brasileiro no exterior,
que tem influência até mesmo no salário do
na
Segunda
Guerra
Mundial, nas missões de paz,
servidor. Não imagino como isso possa se
por
exemplo,
em
que,
muitas vezes, somente o
concretizar apenas no Nível Técnico-Militar,
nosso
soldado
ou
o
nosso
oficial foram capazes
descartando, na parte supostamente sem
de
adaptar-se
ao
povo
local
e ser bem aceitos,
utilidade prática, o Nível Acadêmico, ou
diferente
de
qualquer
outro
do mundo, desde
simplesmente tentando mesclá-lo com o ensino
exércitos
mais
modernos
até
aqueles menos
dito profissional.
dotados.
Os resultados de uma formação não podem
Desprezar o que temos de mais caro, que
ser mensurados de forma tangível. Pode-se, no
máximo, tentar que os erros cometidos no é a nossa ecleticidade, o nosso autodidatismo,
presente não se repitam no futuro. Somente a nossa capacidade de lidar com o desconhecido,
depois de tomada a decisão, desencadeada a a nossa capacidade de decidir e de conduzir
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
homens, sob quaisquer condições, em qualquer
terreno, seja selva, montanha, caatinga,
pantanal ou área urbana, é, salvo melhor juízo,
andar na contramão.
***
(*)O Coronel Professor R/1, da Arma de Cavalaria, Guaraci Alexandre Vieira Collares cursou
o Colégio Militar de Porto Alegre, de 1964 a 1970. Graduou-se na Academia Militar das
Agulhas Negras em 1974. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (nível mestrado)
em 1984 e a Escola de Comando e Estado-Maior (nível doutorado) em 1994. Como funções
principais na ativa, foi Professor em Comissão da Cadeira de Redação e Estilística da AMAN
de 1988 a 1992; comandou o 2º Regimento de Carros de Combate e foi Chefe de EstadoMaior da 11ª Brigada de Infantaria Leve. Atualmente é Professor de Português da EsPCEx.
EsPCEx, onde tudo começa
15
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Considerações sobre
Geopolítica
Oscar Medeiros Filho (*)
Chefe da Cadeira de Relações Internacionais da AMAN
Introdução
Nas linhas que se seguem, pretendemos
apresentar alguns argumentos sobre o significado
do estudo de Geopolítica para a formação do
futuro oficial do Exército Brasileiro. Para tanto,
serão apresentadas algumas ideias sobre a origem
e o significado desse campo do saber, o processo
de desenvolvimento e a contribuição de militares
que figuram entre os mais importantes nomes da
Geopolítica brasileira. O presente texto defende
o argumento de que o pensamento geopolítico
está intimamente ligado à própria história do
pensamento militar brasileiro.
De certo modo, para o desenvolvimento
das competências supracitadas, concorrem
disciplinas como Geografia, História e Relações
Internacionais. Os estudos “Grandes Potências
Mundiais” e “Áreas Críticas do Mundo Atual” já
foram temas estudados pela Cadeira de História
Militar da AMAN nos anos 1990. Recentemente,
optou-se por estudar mais especificamente o
tema “História Militar”. Com essa mudança, coube
à Cadeira de Geografia da AMAN buscar suprir o
estudo das potências regionais, aplicando, em
algumas áreas de interesse, o método de
Levantamento Geográfico de Área (LGA).
Formação militar e análise de conjuntura
O mundo vive um momento de grandes
transformações em todas as áreas,
especialmente em termos geopolíticos. Diante
desse quadro, torna-se necessário o
desenvolvimento de disciplinas que forneçam aos
futuros oficiais ferramentas conceituais para a
compreensão da conjuntura internacional. A
inclusão da disciplina Geopolítica no início da
formação do futuro oficial visa ocupar esse
espaço: desenvolver no aluno competências que
os capacitem a responder de forma eficaz às
incertezas de um mundo em transformação.
A busca por disciplinas que introduzam os
nossos alunos em questões de estratégia e
geopolítica, gerando gosto pelo tema, está
registrada na primeira diretriz geral do
Comandante do Exército, 3 de fevereiro de 2003):
“O futuro chefe militar deverá iniciar o estudo de
Política e Estratégia na AMAN, sendo exigido
nesse mister ao longo da carreira, mesmo quando
não estiver cursando algum EE (um programa de
leituras, por exemplo), a fim de criar o hábito de
pensar estrategicamente. Atualmente, isto só vai
ocorrer depois que ele ingressa na ECEME, ou
seja, tardiamente”.
EsPCEx, onde tudo começa
Geopolítica: origem e primeiros passos
A Geopolítica surge, no final do século XIX,
como uma simbiose entre estudos da Geografia
Política e da Ciência Política. O interesse principal
desse campo do conhecimento é a disputa de
poder entre os “organismos territoriais”, entendida
principalmente como a luta de poder entre
Estados Nacionais em processo de consolidação.
Percebam que a expressão “organismo” denota
a importância que a abordagem das ciências
naturais tinha, naquele momento histórico, sobre
as ciências sociais ou humanas. O geopolítico
enxergava o Estado (e seu território) como uma
espécie de organismo que poderia crescer, se
desenvolver e até morrer. Essa perspectiva,
compartilhada por autores clássicos, como
Friedrich Ratzel (1844 – 1904), gerou ideias como
a de “espaço vital”, que serviram de inspiração
para projetos hegemônicos, como o da Alemanha
Nazista. Outra ideia muito conhecida e adotada
pelos geopolíticos do início do século XX foi a de
“heartland”, ou a busca pelos “corações” dos
“organismos” territoriais. O autor da ideia foi o
geógrafo inglês Halford MacKinder (1861–1947),
que estabeleceu a famosa frase:
16
Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
discutir temas como desenvolvimento e
“quem domina a Europa Oriental controla o
segurança nacional.
coração continental; quem domina o coração
Nesse período, o grande nome da
continental controla a Ilha Mundial; quem domina
geopolítica no Brasil foi o General Golbery do
a Ilha Mundial controla o mundo”1.
No Brasil, o mais conhecido dos seus Couto e Silva (1911–1987). Sua principal obra
“discípulos” foi o então Capitão do Exército escrita na década de 1950 foi “Geopolítica do
Brasileiro Mário Travassos (1891 – 1973) – por Brasil”. Para Golbery, a segurança do Brasil em
sinal o primeiro comandante da Academia Militar um mundo bipolar dependia do Ocidente e, em
de Resende. Em sua obra “Projeção Continental particular dos EUA (COUTO E SILVA, 1981, p.
do Brasil”, escrita em 1931, defendia a tese de 247). Para ele:
que, assim como a Europa Oriental correspondia
ao coração continental da Eurásia, a Bolívia
correspondia ao heartland da América do Sul. A
explicação disso, segundo Travassos, residia no
fato de a Bolívia ser o único país do
subcontinente que possuia território nas três
vertentes sul-americanas: Andes, Amazônia e
Prata. O coração estaria entre as seguintes
cidades: Cochabamba (altiplano andino); Sucre
(Bacia do Prata) e Santa Cruz (Bacia do
Amazonas).
Geopolítica: uma pseudociência?
“É preciso, sobretudo, testemunhar, à evidência,
que somos, não só por origem, mas ainda mais
por convicção, povos deste mundo livre do
Ocidente que estaremos prontos a defender”
(Ibidem, p. 250).
Apesar da dependência do “Ocidente”, a
geopolítica de Golbery sugere uma visão
“brasilcêntrica”. Para ele, “Não haverá geopolítica
brasileira, que tal nome mereça, sem que se
considere, de fato, o Brasil como centro do
universo.” (Ibidem, p. 177 ). Nela é clara a ideia
Os anos posteriores à Segunda Guerra de uma projeção mais ativa do Brasil no cenário
Mundial registraram certa decadência da “ciência mundial, voltada especialmente para o Atlântico
geopolítica”. Entre os acadêmicos, havia uma Sul.
percepção de que a Geopolítica não constituía
Por fim, deve-se destacar o fato de que,
uma área da ciência, mas era parte de discursos
como geopolítico, Golbery teve em sua vida uma
(geralmente autoritários/totalitários) dos agentes
oportunidade rara: ele não ficou só no campo
dos Estados. A utilização da Geopolítica para
das ideias como a maioria dos geopolíticos. Como
legitimar o projeto Nazista na Alemanha, por
homem de Estado e de Governo, Golbery teve a
exemplo, contribuiu muito para essa percepção.
oportunidade de tentar pôr em prática sua própria
O caráter engajado dos geopolíticos e sua
agenda geopolítica.
abordagem organicista, considerada ultrapassada
para a época, levaram ao descrédito certos
Carlos de Meira Mattos e a Geopolítica “panestudos geopolíticos. Isso não significa, porém,
amazônica”
que eles tenham perdido o seu valor, como
veremos mais adiante.
A década de 1970 marca um novo rumo no
pensamento
geopolítico brasileiro. De uma visão
Geopolítica como Ferramenta de Segurança
muito
dependente
do “Ocidente”, o Brasil começa
e Desenvolvimento Nacional
a ensaiar os primeiros passos rumo a uma política
Após a Segunda Guerra Mundial, a externa mais independente. À medida que se
Geopolítica toma distância de abordagem afasta do alinhamento automático com os EUA,
organicista e se aproxima da chamada “Grande o Brasil dá sinais de aproximação com os países
Estratégia”. Ao invés de focar na “luta de vida sul-americanos. É nesse contexto que começa
ou morte dos organismos estatais pelo espaço a ganhar destaque a obra do Ex-Comandante da
vital”1, nesse novo contexto, profundamente AMAN, General Carlos de Meira Matos (1913 –
marcado pela Guerra Fria, a Geopolítica passa 2007).
1
Trecho da célebre conferência intitulada “O Pivô Geográfico da História” ministrada em 1904 por Halford Mackinder, então professor
da Universidade de Londres, na Real Sociedade Geográfica.
2
Frase com a qual o general alemão Karl Haushofer (1869 – 1946) definia Geopolítica.
EsPCEx, onde tudo começa
17
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Uma das principais ideias defendidas por
Meira Mattos era a possibilidade de intercâmbio
dos espaços fronteiriços do País por meio da
articulação com o sistema de transportes sulamericano (mapa a seguir). A visão prospectiva
do General Meira Mattos lhe possibilitava chegar
a conclusões que hoje nos parecem claras, como
o fato de que a integração sul-americana traria
vantagens para o Brasil (MATTOS, 1977, p. 18).
Interessante observar que o General Meira
Mattos escreve no momento em que o Brasil
apresenta a seus vizinhos o seu primeiro passo
para a cooperação regional: o Tratado de
Cooperação Amazônico (TCA), de 1978. Mais
recentemente, e até o final de sua vida, o General
Meira Mattos defendeu de forma incisiva a
integração sul-americana:
“a América do Sul integrada num mercado
solidário terá um peso político e econômico
respeitável no comércio internacional, gerando
benefícios para todos os seus países” (MATTOS,
2002, p.102).
Da Globalização a uma Geopolítica
Multidimensional
Dentre essas possibilidades de intercâmbio
fronteiriço, Meira Mattos destacava a região
amazônica, inaugurando o que para ele
representava uma geopolítica pan-amazônica.
Para o autor, a integração da Amazônia seria o
primeiro passo para a integração sul-americana:
“Com tal estratégia, integraremos a PanAmazônia. Em termos de política sul-americana,
será a integração do continente, pois a PanAmazônia sairá da situação de vazio inerme e
passará a desempenhar, também, o papel de área
de trânsito entre as costas do Atlântico e do
Pacifico” (MATTOS, 1980, p. 174/5).
EsPCEx, onde tudo começa
Até os anos 1980, falar de geopolítica era
falar em conflitos territoriais entre Estados, ou
de segurança e desenvolvimento desses Estados.
A referência era por excelência estatocêntrica
e, consequentemente, a escala dos entes
territoriais era a do Estado-Nacional. Com o
advento do chamado processo de Globalização
nos anos 1990, o termo geopolítica passou a
ocupar a mídia e ganhar novas conotações.
Desde então, é comum se ouvir falar de
geopolítica das drogas, geopolítica empresarial,
geopolítica da moda etc. Em termos de análise
de cenários de relações de poder especificamente
entre entes territoriais, as escalas passaram a
variar de supranacional (formação de blocos
regionais) até escalas locais (disputa pelo controle
territorial entre facções criminosas, por
exemplo).
18
Revista Pedagógica 2011
Além da escala, mudou-se também a
substância. Em vez de uma geopolítica
preocupada com elementos fixos (forma do
território, tamanho, relevo etc.) a geopolítica
passou a discutir os fluxos (redes de toda ordem).
EsPCEx
a Amazônia e a reconfiguração do quadro
geopolítico internacional com a ascensão de
novas potências, com destaque para os
chamados BRICS, bloco de países constituído pelo
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Para a formação militar, entretanto, a
***
ampliação do conceito de Geopolítica não pode,
de forma alguma, resultar em perda do foco. Ao
militar, como agente de Estado, o nível desejável,
como não poderia deixar de ser, continua a ser o
estatocêntrico. Em última instância, o objeto da
Bibliografia
profissão militar é político. É a possibilidade de
conflito armado entre as nações que dá sentido
COUTO E SILVA, Golbery. Conjuntura Política Nacional, O Poder
à existência de uma instituição permanente, Executivo & Geopolítica do Brasil. Livraria José Olympio Editora.
voltada à defesa dos interesses nacionais. Nesse Rio de Janeiro, 1981.
sentido, vale a pena retomar a frase do General MATTOS, Carlos de Meira. A geopolítica e as projeções de poder. Rio
de Janeiro: Bibliex, 1977.
Golbery:
“Não haverá geopolítica brasileira, que tal nome
mereça, sem que considere, de fato, o Brasil
como centro do universo.” (COUTO E SILVA,
1981, p. 177).
______. Uma geopolítica pan-amazônica. Rio de Janeiro: Biblioteca
do Exército, 1980.
______. Geopolítica e modernidade: a geopolítica brasileira. Rio de
Janeiro: Bibliex, 2002.
TRAVASSOS, Mário. Projeção Continental do Brasil. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1935.
Considerações Finais
A Geopolítica é um campo do saber que
trata de temas intimamente ligados à profissão
militar. Fazer com que o futuro oficial – porque
não dizer, futuro general – tome conhecimento e
crie gosto pelo tema é papel fundamental das
nossas escolas militares. No caso específico do
Exército Brasileiro, nota-se claramente, ao longo
de nossa história, a relação de proximidade entre
oficiais e Geopolítica. Pode-se dizer: a fim de se
criar o hábito de pensar estrategicamente, o trato
com temas como a Geopolítica deve ocorrer
desde o início da formação militar e não somente
nas escolas de Comando e Estado-Maior, como
comumente tem ocorrido.
O atual momento em que o Brasil se
encontra no concerto das nações é um convite
à reflexão estratégica e geopolítica. Aos novos
cadetes devem ser apresentados temas caros
ao futuro da Nação, dentre os quais podemos
destacar: o cenário geopolítico sul-americano,
(*) O Major QCO Oscar Medeiros Filho é Graduado em Geografia pela UFMS (1995);
Especialista em Informática aplicada à Educação (Unicamp, 1997); Mestre em Geografia
Humana (USP, 2005) e Doutor em Ciência Política (USP, 2010). Foi professor de Geografia e
Sociologia da EsPCEx entre os anos de 1996 e 2010. Atualmente é Chefe da Cadeira de
Relações Internacionais da AMAN.
E-mail: [email protected]
EsPCEx, onde tudo começa
19
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Exposição de Pinturas
(27 de setembro de 2011)
Na semana de comemoração do 71° aniversário da EsPCEx, foi realizada uma Exposição de
Pinturas, no Salão Carlos Gomes – Salão Nobre, tendo a Escola e suas atividades internas como
tema das obras realizadas por diversos artistas plásticos de Campinas e região. Nesta edição,
estão reproduzidas algumas das obras que homenageiam a EsPCEx.
Classificação: 1º Lugar
Tema: Centro de Tradições da EsPCEx
Modalidade: óleo-acrílico
Artista Profissional: Vera Lúcia Bernardes Pereira
EsPCEx, onde tudo começa
20
Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Liderança Emocional e
Ação Docente
Aline Marques Martins (*)
Professora de Desenho Plano e Descritivo
Este trabalho foi desenvolvido com o
objetivo de abordar o tema educação e liderança,
com ênfase nas relações possíveis entre a ação
educacional e a liderança emocional, em
contextos educacionais diversos.
A sociedade atual necessita de conceitos
diferenciados de liderança, mais adequados a uma
contemporaneidade que passa por uma crise de
valores morais e de horizontes de vida. Esperase, então, que líderes sejam estratégicos,
assertivos e colaboradores, mas, acima de tudo,
humanos, que tomem decisões justas e que
respeitem seus liderados. O mundo vive a era da
informação e do conhecimento, portanto o foco
principal para a obtenção dos resultados
acadêmicos não é mais tecnologia, mas sim a
formação das pessoas. Neste trabalho, são
apresentados dois contextos diferentes – o de
um combatente na missão de paz e o de um
professor em sala de aula. Em ambas as
situações, a liderança faz-se necessária. E isso
conduz a uma maior reflexão sobre o verdadeiro
papel do professor.
É correto pressupor que haja uma forte
relação entre liderança e aprendizagem, pois boa
parte da motivação dos sujeitos para aprender
vem das ocasiões em que devem assumir
responsabilidades e ações, que afetam também
a vida daqueles com quem convivem e trabalham.
Correlacionadamente, acredita-se que o educador
tenha uma função de liderança a desempenhar
junto aos sujeitos e grupos sociais com que
trabalha, favorecendo o desenvolvimento da
autonomia organizacional, as perspectivas de
compreensão da realidade e sua problematizção,
além de incentivo à preparação de novos líderes.
O educador pode influenciar estilos de vida e
colaborar para a humanização ou desumanização
EsPCEx, onde tudo começa
dos sujeitos e dos grupos das práticas
pedagógicas. Os discursos atuais de promoção
da liderança entre os educandos, porém, quase
não existem, assim como são poucas as ações
de ensinar os sujeitos a se organizarem
socialmente, de forma a encaminhar suas
necessidades e desejos. Por outro lado, a
questão da liderança se volta para o próprio
educador e dele será cobrada uma nova postura,
a de conduzir, de apontar caminhos, gerar
confiança e, ainda, a de favorecer um feedback
positivo, ou seja, o ensino atual exige um
professor que lidere, que cative seus alunos,
para que esses, pouco a pouco, tornem-se donos
de seu próprio processo de aprendizagem.
Mas para isso, o professor, como qualquer
outro líder, precisa se pautar por uma Liderança
Emocional – aquela que se caracteriza pela
presença de um líder motivador, que se
compromete com aquilo que faz, preocupa-se
com aqueles com quem está envolvido, pratica
a escuta e compartilha com o grupo as decisões
quanto ao que será feito e discute os porquês.
A liderança emocional tem como suporte
quatro componentes: a autoconsciência, a
autogestão, a consciência social e a gestão das
relações. O domínio desses significa entender
suficientemente bem sua própria constituição
emocional e a de outras pessoas, para movê-las
na direção da realização dos objetivos.
Na autoconsciência – primeiro componente
da inteligência emocional – temos um profundo
entendimento das próprias emoções, forças,
fraquezas e necessidades. A partir desse
entendimento, surge um controle dos próprios
sentimentos e impulsos, a autogestão. Já a
consciência social traz, com ponderação, a
consideração dos sentimentos dos liderados para
21
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
a tomada de decisões inteligentes, existindo uma uma pancada na cabeça. Tornam-se liderados
interligação a partir da motivação – um dos estritamente transacionais, relutantes em dar
pontos fortes da Gestão de Relações.
mais de si mesmos, porque o contexto social
fica em seu caminho.
Líderes que compreendem essa dinâmica
podem extrair as melhores habilidades de seus
Assim, a liderança dos educadores é
funcionários.
fundamental para que ações educacionais
objetivem o desenvolvimento de comunidades que
Daí a necessidade em saber administrar
aprendam e se organizem como agentes de sua
sentimentos, e não somente possuir o
própria trajetória, na formação de líderes éticos
conhecimento técnico. É preciso conhecer
e comprometidos com o bem-estar. E reforça-se
intimamente a nós mesmos, lidar com nossas
a ideia de que o conceito de liderança emocional
emoções e nos colocarmos no lugar do outro
é importante para que o educador seja aquele
para pensar e sentir o que ele sente. É saber
que impulsiona o desenvolvimento pessoal e
lidar com as diferenças individuais. O psicólogo
grupal, que motiva, que critica, sem
e célebre autor Daniel Goleman descobriu que
constrangimento; que se preocupa com valores
líderes eficazes possuem em comum um alto grau
de justiça e honestidade e demonstra claramente
de Inteligência Emocional.
essa preocupação. Compreender a inteligência
A prova de que uma liderança emocional emocional é fundamental para uma liderança
traz bons resultados, ou até mesmo que pode eficiente.
prevenir problemas, foi o experimento feito por
***
Naomi Eisenberger pesquisador-chefe de
neurociência social da University of California em
Los Angeles (Ucla) na qual voluntários jogavam
um jogo eletrônico chamado Cyberball, enquanto
seu cérebro era examinado por um aparelho de
ressonância magnética funcional (FMRI). Os
participantes expressaram sentimentos de raiva
por terem sido esnobados ou julgados (...) A
reação pôde ser rastreada diretamente das
respostas do cérebro. E a conclusão foi que dor
social e dor física produzem respostas similares.
As reações fisiológicas e neurológicas são direta
e profundamente moldadas pela interação social.
“a maioria dos processos que operam em segundo
plano, quando o cérebro está em descanso, se
relaciona ao pensamento sobre outras pessoas
e sobre si mesmo”. Mathew Lieberman
A reportagem em que consta tal
experimento cita ainda que, assim como no jogo,
pessoas que se sentem traídas ou que não são
reconhecidas em suas tarefas experimentam um
impulso neural tão poderoso e doloroso quanto
(*)1ºTen Aline Marques Martins é Licenciada e Bacharelada em Matemática
pela Universidade do Grande ABC em 2004, possui curso de pós-graduação
Lato Sensu em Psicopedagogia pela Universidade Salesiana de São Paulo
e cursa Mestrado em Educação Matemática pela Universidade Bandeirantes
de São Paulo. Atualmente exerce a função de Professora de Desenho
Plano e Descritivo na EsPCEx.
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Ser Educador/Mediador:
o grande desafio
Ana Claudia Rocha Barbosa (*)
Pedagoga da Seção de Acompanhamento
Pedagógico da EsPCEx
Introdução
As ideias aqui presentes são fruto de estudo
sobre a mediação da aprendizagem,
apresentadas no VIII EPEMM (Encontro
Pedagógico do Ensino Médio Militar), ocorrido em
setembro de 2011, na Escola Preparatória de
Cadetes do Ar (EPCAr) na cidade de Barbacena
– MG.
mais dinâmica no processo e, ao discente, um
desenvolvimento cognitivo eficaz em que,
efetivamente, ocorre a construção de novos
conhecimentos.
A mediação da aprendizagem faz parte de
meus estudos desde 2006, ano em que tive a
oportunidade de fazer os cursos de formação no
Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI),
níveis I e II no Colégio Militar de Fortaleza (CMF),
quando trabalhava como Orientadora Educacional
da Seção Psicopedagógica daquela renomada
Instituição de Ensino. Durante os períodos de
2006 a 2009, tive a grata satisfação de aplicar
esses conhecimentos com os alunos do CMF, o
que me trouxe muita alegria, à medida que
percebi o aumento da capacidade cognitiva e a
superação de dificuldades cognitivas
preexistentes nesses alunos.
A educação é fundamental na construção
da vida humana. Ela leva o sujeito a descobrir o
conhecimento, incorporando-o e transformandoo em sabedoria. Conhecimento que lhe será útil
para toda a vida. Educa-se por meio do ensino/
instrução e da formação.
Este artigo inicia-se com uma visão geral
sobre Educação, apresenta a Aprendizagem
Significativa, a Mediação Como um Princípio
Educacional e finaliza com o grande desafio de
ser Professor Educador/Mediador.
A formação é vista como algo que dá forma
à ação de ensinar e aprender, em que o sujeito
se depara com situações-problema, procurando
agir de acordo com suas experiências e
orientações recebidas. A Educação leva o
indivíduo para além da informação, construindo
significados às ações e dando sentido às
realizações. Fala-se aqui de conteúdos, matérias,
assuntos que têm significado para o sujeito que
aprende, tornando sua aprendizagem
significativa.
Este trabalho é fundamentado nas teorias
cognitivas (Piaget, Vygotysk, Ausubel), tendo
como principal foco os estudos do Prof. Dr.
Reuven Feuerstein (psicólogo e educador
romeno, especialista em desenvolvimento infantil
e rendimento cognitivo intelectual).
O principal objetivo deste estudo é refletir
acerca do grande desafio de ser um professor
educador/mediador e analisar o processo
educativo (ensinar e aprender) que acontece
na escola, lugar privilegiado da ação docente,
ação esta que impõe ao docente uma atuação
EsPCEx, onde tudo começa
Educação
É no ensino e na instrução que se
transmitem os conhecimentos pontuais
importantes para a vida em sociedade. O ensino
e a instrução ajudam na formação do indivíduo
que recebe esses sinais de fora para dentro, ou
seja, os estímulos vêm de fora e são lançados
sobre o indivíduo que aprende.
O educador, um dos agentes do processo
educativo, coadjuvante na construção do
conhecimento, faz com que o aprendiz consiga
ir além da informação, instrução e ensino, colabora
com o desenvolvimento de competências e
habilidades,propicia o desenvolvimento do
potencial individual e grupal uma vez que permite
23
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
a construção de novos caminhos por meio do quais possibilitam a verdadeira aprendizagem.
pensamento reflexivo, o que leva o indivíduo a
Celso Antunes diz que o educador ajuda o
uma aquisição permanente de conhecimentos.
aluno a construir sua própria aprendizagem,
Isso se chama APRENDIZAGEM.
quando trabalha em sala de aula com alguns
Aprender significa apresentar novos atributos essenciais. Fazendo um acróstico desse
comportamentos. O indivíduo que aprende na atributos, ele chega à palavra “PLACA” que,
interação com o mundo muda sua conduta. curiosamente, serve como aplauso a um ato
Aprendizagem não é acúmulo de conteúdos e de esportivo magnífico. Usa-se essa palavra para
conhecimentos. Para isso existe o computador. sinalizar a ideia de que esse ato esportivo foi
Salvam-se no computador os conhecimentos genial e singular, por isso merece uma Placa. Ex:
necessários e, em qualquer momento, pode-se gol de placa, cortada de placa, etc.
dirigir a ele para que sejam devolvidos os dados.
Os atributos são:
Só o ser humano aprende, muda, se modifica e
Protagonismo – o aluno é o ator principal
se adapta, resolvendo problemas segundo suas
necessidades e as necessidades do meio em que do processo;
está inserido. Isso significa que, para poder
Linguagem – falar, perguntar, questionar,
adaptar-se ao mundo, é preciso estar participar efetivamente da aula;
constantemente aprendendo.
Administração – de competências
Simão de Miranda diz que a educação leva essenciais à aprendizagem, tais como pensar,
à construção de um mundo mais humano, no refletir,saber perguntar, pesquisar, argumentar,
qual o educador atua como um maestro que rege relacionar-se com os outros;
uma orquestra heterogênea e rica em diversidade
Construção – de conhecimentos
com um olhar mais humano, sensível, afetivo e
específicos
(assuntos e matérias) ligando o que
altruísta. Ser educador exige atitudes proativas
se
aprende
com o que já se sabe;
e olhares ávidos em possibilidades. Valorizar
potencialidades e potencializar valores, abusando
Autoavaliação – descoberta da
da criatividade, leva o aluno à autonomia. Isto é aprendizagem (o que eu sabia antes e o que sei
função primordial do processo educativo. O agora)
educador tanto colabora com o processo de
É muito importante para o processo
mudança de seus alunos como, também, está
educacional
que o docente acredite na
em processo de mudança, transformando-se a
capacidade
e
potencial
de seus alunos, sabendo
cada dia. O educador que acompanha o tempo
adaptá-los
à
sua
realidade.
Esses atributos
de seus educandos, com reflexão crítica e
preconizados
pelo
prof.
Celso
Antunes
poderão
consciente sobre sua prática, revisa suas
ser
uma
linha
pedagógica
de
ação
do
professor/
posturas e posicionamentos, leva seu trabalho a
um resultado positivo, o que favorece a melhoria educador, que deve atuar como maestro, regendo
sua orquestra em direção a uma aprendizagem
do ser humano.
significativa.
O
educador
estuda
e
reflete
constantemente em seu cotidiano, para
fundamentar sua prática. É por meio dessa Aprendizagem Significativa
dinâmica que acontece o movimento de
construção e reconstrução do conhecimento.
David Ausubel (1918-2008), psicólogo e
Madalena Freire afirma que a ação pedagogo norte-americano, defensor das teorias
educativa tem que ser pensada, refletida, para cognitivistas e criador da teoria da aprendizagem
que não caia no praticismos e tampouco no significativa, pressupõe que essa aprendizagem
“bombeirismo” pedagógico. O processo está relacionada e interligada a aprendizagens
educativo é movido pela ação, interação e troca, já adquiridas e a conteúdos preexistentes no
permanentemente entre os partícipes do sujeito, sendo um processo que ocorre por meio
processo. O Educador ensina e, enquanto ensina, de uma nova informação que é relacionada de
aprende,
fazendo
intervenções, maneira substantiva e não arbitrária a um
encaminhamentos e devoluções adequadas, as aspecto relevante da estrutura cognitiva.
EsPCEx, onde tudo começa
24
Revista Pedagógica 2011
O educador em sua ação docente deve
procurar trabalhar com a aprendizagem
significativa, relacionando o conhecimento prévio
do aprendiz a sua capacidade e a sua curiosidade
criativa, favorecendo, assim, a aquisição de um
novo conceito, um novo significado ao
conhecimento que ora foi transmitido.
Mas o que é conhecimento?
EsPCEx
o educador faz por meio de perguntas e
questionamentos.
Uma educação é dita de qualidade quando
há manifestação e equilíbrio entre preservar
saberes essenciais, transmitir o legado cultural
para novas gerações e inovar, criar, construir o
novo, baseado naquilo que já existe.
Os quatro pilares da educação tratados
pela Comissão Internacional sobre Educação para
o século XXI, desenvolvidos pela UNESCO em
1996, continuam muito vivos e atuais, o que
“Conhecimento é o resultado da interação entre leva a uma transformação pessoal e social,
o indivíduo, a informação que lhe é exterior e o fazendo com que se efetive uma aprendizagem
significado que este lhe atribui”.
realmente significativa. Esse processo
educacional deve estar imbuído de
intencionalidade, a qual deve levar o aluno a:
Segundo Celso Antunes (2009, p. 46):
O conhecimento é resultado de um
– aprender a CONHECER (compreender os
processo de construção, sendo o aprendiz o assuntos apresentados, dominar competências
protagonista dessa obra.
e adquirir autonomia intelectual);
Para Ausubel, a aprendizagem está
– aprender a FAZER (desenvolver
intimamente ligada à estrutura cognitiva . Aquilo habilidades específicas e essenciais);
que o sujeito aprende deve integrar-se ao que o
– aprende a VIVER JUNTO/conviver
sujeito já conhece. A aprendizagem significativa
(conhecer
e respeitar integralmente a si e aos
relaciona-se a conhecimentos prévios, já
outros,
valorizando
a diversidade) e
incorporados à estrutura cognitiva do aprendiz.
– aprender a SER (através do
A aprendizagem significativa parte da ideia
autoconhecimento
e da aquisição de pensamento
de ajudar o aluno a confrontar uma informação
crítico
e
autônomo).
significativa e relevante, relacionando-a com uma
determinada realidade.
Dar sentido e significado à informação pode
levar o sujeito a ter uma aprendizagem
significativa. Essa informação pode ser usada
como ferramenta para pensar, refletir, aprender,
como nos fala a professora Isabel Parolin:
“Pensar é o eixo da aprendizagem”.
A aprendizagem sofre influência de fatores
externos, como aula, recursos, metodologias,
currículos, cronogramas etc., e de fatores
internos, como os cognitivos e afetivos, os quais
surgem sempre na disposição do sujeito para
aprender, que é um processo ativo, e surge,
também, na motivação intrínseca. A aprendizagem
não acontece passivamente. Só há efetiva
aprendizagem, se o aprendiz estiver envolvido
no processo como protagonista, na construção
de sua própria aprendizagem.
Não existe construção de novos
conhecimentos sem um saber preexistente
adquirido com a vivência e as experiências de
cada indivíduo em particular. É esta cultura
pessoal que leva o sujeito à aquisição de novas
aprendizagens, principalmente quando se usa a
mediação como um princípio educacional.
A Mediação como Princípio Educacional
A mediação está fundamentada na
transmissão de um mundo de significados aos
mediados, consistindo numa interação
interpessoal com características próprias,
específicas e especiais.
A mediação deve ser uma ação consciente,
intencional, significativa, recíproca e
transcendente, levando o mediado a perpetuar
Para a professora Madalena Freire, o que a mudança estrutural de seu sistema cognitivo,
forma o alicerce da aprendizagem significativa e isto é, levando esse indivíduo a uma aprendizagem
a construção do novo são as intervenções que efetiva e permanente (uma vez aprendido, jamais
esquecido).
EsPCEx, onde tudo começa
25
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
de reflexão, permitindo que a mente do mediado
fique mais quieta e tranquila para receber as
informações, decodificá-las e transformá-las,
além de ser um momento fundamental para a
reflexão por parte do mediador, para que ele
pense, constante e continuamente, sobre as
concepções que embasam a educação, os
conteúdos e/ou estímulos apresentados, bem
É papel do mediador selecionar os estímulos
como buscar o melhor caminho para a mediação
mais apropriados, filtrá-los, elaborar esquemas,
que ora é trabalhada.
ampliar uns e ignorar outros.
A Modificabilidade Cognitiva Estrutural é
De acordo com os estudos e as teorias
uma das teorias do Prof. Reuven Feuerstein e é
desenvolvidas pelo Prof. Dr. Reuven Feuerstein,
parte principal do processo de mediação, pois
a aprendizagem vai além da exposição direta ao
trabalha a inteligência e o processo de
estímulo (modelo piagetiano: S-O-R), pois o
construção cognitiva do sujeito. A inteligência,
mediador se interpõe entre o estímulo, o
por sua vez, está diretamente ligada à
organismo e a resposta, trabalhando
construção ativa do pensamento, sendo dinâmica
fundamentalmente com a interação.
e modificável, construída a partir de vários
O processo ensino/aprendizagem na teoria fatores que se relacionam com a cognição, a
de Feuerstein está representado de acordo com qual está intimamente ligada à afetividade. As
o seguinte modelo:
dimensões cognitiva e afetiva são fundamentais
ao desenvolvimento do ser humano, sendo
fatores de interferência direta no processo de
mediação.
O mediador deve selecionar, assinalar,
organizar e planejar o aparecimento do estímulo,
ou seja, trabalhar um conteúdo específico de
acordo com situações preestabelecidas e com
objetivos voltados para a interação,
caracterizando a mediação como um processo
planejado e intencional.
Por que o prof. Reuven Feuerstein usa a
palavra modificabilidade e não modificação?
Legenda: S- estímulo; H-mediador;
O-organismo; e R- resposta.
Modificação é produto resultante dos
processos de desenvolvimento e maturação do
indivíduo, referindo-se a uma mudança estrutural
específica que se processou na mente do
mediado. Já a modificabilidade refere-se à
mudança estrutural que se processa
constantemente, de forma contínua e
permanente na mente humana. Modificabilidade
diz respeito à capacidade do indivíduo de mudar
um caminho que estaria predeterminado, devido
a deficiências genéticas, neurológicas ou outros
fatores que são independentes da interferência
humana. Essa modificabilidade, que é sempre
positiva, nunca regride.
Observa-se que o mediador (H)
intermedeia e sofre influência do estímulo (S)
recebido pelo organismo (O), assimila esse
estímulo e elabora respostas que são lançadas e
voltam ao mediador (H), que já está diferente,
pois também sofre o processo de construção
O trabalho com a Modificabilidade Cognitiva
da aprendizagem. De forma cíclica, o mediador
Estrutural do prof. Reuven Feuerstein está muito
recebe as respostas como um novo estímulo, o
bem exposto nesta frase do próprio autor:
processo
gera
novas
respostas
e,
consequentemente, novos conhecimentos. É
“Não me aceite como sou, posso crescer,
dessa forma que se entende a aprendizagem
melhorar, avançar, desenvolver e evoluir”.
mediada.
“Um momento, deixe-me pensar” é uma
O prof. Reuven Feuerstein defende a ideia
máxima do prof. Reven Feuerstein, a qual sugere de inteligência como algo dinâmico que sempre
que a mediação deva ter um momento de parada, pode ser desenvolvido, independentemente de
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Revista Pedagógica 2011
idade, condição social, etnia ou outro fator. Daí
sua hipótese de “Educabilidade Cognitiva”.
Educabilidade é o processo de aprendizagem em
que qualquer pessoa, em qualquer idade pode
aumentar sua capacidade cognitiva e
consequentemente sua inteligência. Cognição,
por sua vez, refere-se ao conhecimento
aprendido.
Com base em seu sistema de crenças e na
capacidade de adaptação do ser humano para
sobreviver, o prof. Reuven Feuerstein foi
construindo e reforçando suas teorias
(Experiência da Aprendizagem Mediada e
Modificabilidade Cognitiva Estrutural), que se
embasam em uma concepção dinâmica de vida
humana.
Quanto mais cuidadoso e apropriado for o
trabalho do educador, mais efetiva será a
aprendizagem e a modificabilidade cognitiva
estrutural do sujeito, levando o professor ao
grande desafio de ser um educador/mediador.
EsPCEx
e sim cuidar para que ele aprenda e desenvolva
toda sua capacidade cognitiva.
O mediador é o educador que enriquece a
interação, que disponibiliza subsídios que preparam
a estrutura cognitiva do mediado para ir além
dos estímulos recebidos, transcendendo-os para
qualquer situação da vida cotidiana, construindo
princípios. Essas transcendências só ocorrem
quando a mediação é positiva, clara, objetiva e
quando o processo de mediar for contínuo e
permanente. Não adianta o professor usar uma
única vez do processo de mediação, pois este
não atingirá os objetivos desejados.
O mediador é sempre parceiro do aprendiz.
O mediador deve estar sempre atento à
privação cultural de seus mediados, para que
possa, junto com o grupo, ampliar o campo de
experiências vividas de seus alunos para além
do imediato, saindo de situações episódicas e
aumentando o potencial para o “Aprender a
Aprender”.
Quando se fala de privação cultural,dentro
do pensamento de Feuerstein, quer dizer que há
uma total ausência de mediação. Ele não se
refere à falta de cultura de uma maneira geral,
O professor/educador não acredita que seu mas ao indivíduo que dela foi privado por não ter
trabalho seja levar meramente informações e vivido a experiência da mediação.
conteúdos para seu aluno, mas, sim, fazer com
O professor educador/mediador estimula
que esses estímulos atinjam a aprendizagem de
seus alunos, situando-os historicamente nos
forma significativa, na qual o aluno use desse
conteúdos trabalhados em sala de aula, fomenta
conhecimento, transformando-o em sabedoria,
discussões e reflexões, faz perguntas
ou seja, leva esse novo conhecimento como parte
constantemente, traz situações-problemas para
permanente de sua estrutura cognitiva.
que o aluno levante hipóteses e busque soluções
O educador/mediador busca contextualizar adequadas, não transmite meros conteúdos, mas
de forma mediada as aprendizagens e vivências estratégias de análise, síntese, comparação,
do educando, propiciando, diariamente, situações classificação e estabelece relações. A ação
que desafiem o potencial criativo do aprendiz, mediadora deve propiciar a curiosidade e faz
as quais devem ter utilidade em sua vida. Esse ligação direta da realidade com sua importância
educador deve estar sempre aberto a novas e significado para cada um dos mediados.
aprendizagens e disposto a aprender com seu
Quando há experiência de aprendizagem
aluno.
mediada, existe aprendizagem real tanto para o
Quando o educador/mediador provoca aluno/mediado quanto para o professor/mediador
desequilíbrio entre os saberes do grupo, .
alimentando-o diariamente, as aprendizagens e
As professoras Elizabeth Schenker e Tereza
as transformações acontecem naturalmente de
Pereira (2008, p. 6), em seu curso de Didática
acordo com a necessidade e interesse do grupo
Centrada nos Processos de Aprendizagem,
em questão.
fizeram uma comparação dos papéis
O professor educador/mediador não deve desenvolvidos no ensino tradicional e na
ter preocupação sobre o que seu aluno não sabe, aprendizagem mediada, descritos na tabela 1:
O Professor/Educador/Mediador
EsPCEx, onde tudo começa
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Tabela 1 – Comparação entre o Ensino Tradicional e a
Aprendizagem Mediada
Fonte: SCHENKER, Elizabete; PEREIRA, Teresa. Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem. Rio de Janeiro:[S.n],
2008. (Apostila de curso Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem, Núcleo de Desenvolvimento do Potencial
Cognitivo – NDPC)
Considerações Finais
A quebra de paradigmas pedagógicos que
levam à transformação e a mudanças é um fato
inevitável. A atitude do docente diante de sua
missão é algo que vai transformar o ensino, tendo
como consequência uma mudança social positiva.
o tesouro escondido em cada uma... a realização
pessoal; que ela inteiramente aprenda a ser (…),
aprenda a conhecer, aprenda a fazer e aprenda a
viver com os demais. ( DELLORS; apud TÉBAR,
2011, p.43)”
O professor educador/mediador é agente
imprescindível no processo educativo, o qual tem,
na educação, uma ciência multidisciplinar que
exige mudanças contínuas, permanentes
reflexões e revisões de princípios e métodos.
Dessa forma, entende-se que o grande
desafio de ser um educador/mediador é perceber
a importância de trabalhar com a mediação como
um princípio educacional, o que faz dela um
processo modificador e construtor de homens e
A teoria cognitiva do Prof. Dr. Reuven mulheres mais inteligentes, criativos e,
Feuerstein é uma luz nesse caminho educacional. consequentemente, mais humanos.
Ambientes modificadores devem ser criados, a
***
formação de professores educadores/mediadores
e o autoaperfeiçoamento devem ser uma
constante na vida dos educadores/mediadores. Bibliografia
“Para enfrentar os desafios do século XXI, seria
indispensável atribuir novos objetivos para a
educação e, por conseguinte, modificar a ideia
que fazemos de sua utilidade. Uma nova
concepção mais ampla de educação deveria levar
cada pessoa a descobrir, despertar e incrementar
suas possibilidades criativas, atualizando assim
EsPCEx, onde tudo começa
ANTUNES, Celso. Professores e Professauros: uma reflexão sobre
a aula e práticas pedagógicas diversas. 3.ed. Petrópolis, RJ. Vozes,2009.
FREIRE, Madalena. Educador, educa a dor. São Paulo: Paz e Terra,
2008.
MEIER Marcos; GARCIA Sandra. Mediação da Aprendizagem:
Contribuição de Feuerstein e de Vygotsky. Edição do autor. Curitiba,
2007.
28
Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
MIRANDA, Simão de. Como Tornar-se um Educador de Sucesso:
dicas, conselhos, propostas e ideias para potencializar a aprendizagem.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
SCHENKER, Elizabete; PEREIRA, Teresa. Didática Centrada nos
Processos de Aprendizagem. Rio de Janeiro: [S.n], 2008. ( Apostila
de curso Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem, Núcleo de
Desenvolvimento do Potencial Cognitivo – NDPC)
SOUZA, Ana Maria de; DEPRESBITERIS, Léa; MACHADO, Osny
Telles Marcondes. A Mediação Como Princípio Educacional: Bases
teóricas das abordagens de Reuven Feuerstein. São Paulo: Editora Senac
São Paulo, 2004.
TÉBAR, Lorenzo. O Perfil do Professor Mediador: pedagogia da
mediação. São Paulo: ed. Senac São Paulo, 2011.
(*) A professora Ana Claudia Rocha Barbosa é pedagoga, formada pela Universidade Federal
do Ceará (UFC); Especialista em Educação Infantil pela Universidade Estadual do Ceará
(UECE), em Psicopedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em Docência do
Ensino Superior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem formação em PEI
( Programa de Enriquecimento Instrumental) nos níveis I e II, reconhecidos pelo ICELP (The
International Center for the Enhancement of Learning Potential – Centro Internacional para o
Melhoramento do Potencial de Aprendizagem). Foi Orientadora Educacional do Colégio Militar
de Fortaleza de 1995 a 2009. Atualmente exerce a função de pedagoga da Seção de
Acompanhamento Pedagógico da EsPCEx.
EsPCEx, onde tudo começa
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Exposição de Pinturas
(27 de setembro de 2011)
Classificação: 2º Lugar
Tema: Entrada Principal da EsPCEx
Modalidade: óleo sobre tela
Artista Profissional: Roberto Ansil
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
A Ansiedade Cognitiva e Somática no
Esporte: efeitos psicológicos no
período pré-competição
Márcia Maria Carvalho Luz Fornari (*)
Psicóloga
A relação entre os efeitos benéficos dos
exercícios físicos contra a ansiedade e a
depressão e os estados negativos de humor é
apontada em diversos estudos que abordam os
benefícios psicológicos da prática regular de
atividades físicas. Segundo Araújo et al (2007),
em situações emocionais, o ser humano pode
experimentar basicamente três emoções
principais em resposta a uma situação
ameaçadora: raiva dirigida para fora (o
equivalente à cólera), raiva dirigida contra si
mesmo (depressão) e ansiedade ou medo.
Portanto, em estado de alerta, o indivíduo reage
com um comportamento de fuga ou de ataque
ao agente estressor. Após essa descarga de
excitação, o organismo retorna ao estado de
equilíbrio.
No entanto essa fase de desequilíbrio pode
perdurar em determinadas pessoas, envolvendo
outros processos internos até a exaustão. Nesse
caso, desenvolve-se uma psicopatologia. Para
melhor entendimento desse processo, faz-se
necessário distinguir ansiedade-traço e
ansiedade-estado. A ansiedade-traço estaria
relacionada a uma condição relativamente
estável de propensão à ansiedade e trata-se de
uma predisposição de perceber certas situações
como sendo ameaçadoras e a elas responder
com níveis variados de ansiedade-estado. Já o
segundo tipo de ansiedade é considerado um
estado emocional transitório e que representa
uma resposta à percepção da situação
ameaçadora, estando ou não presente um perigo
real (Araújo et al, 2007).
diarreia, insônia, cefaleia dentre outros. A
ansiedade não é de todo prejudicial, pois sua
função primeira é proteger o ser humano e
resguardar sua sobrevivência. Pode, porém,
adquirir contornos psicopatológicos e variar em
frequência e duração de pessoa para pessoa.
Fatores genéticos, ambientais e experiências
vividas podem associar-se à ansiedade.
Situações de avaliação podem gerar
sentimentos de rivalidade, de expectativa e de
ansiedade, além de outros fatores, tais como
prestígio,
autoestima,
admiração
e
reconhecimento. Essas vivências esportivas
também podem ocasionar estados afetivos e
somáticos inerentes às particularidades de cada
modalidade esportiva e de cada personalidade,
bem como a carga afetiva que o indivíduo coloca
na competição. Essa carga afetiva provoca
reações emocionais no momento da competição
ou antecipatória no período pré-competição, tais
como o medo, a ansiedade, a depressão e a
angústia.
A ansiedade, portanto, relaciona-se com
o rendimento esportivo e com a necessidade de
superar obstáculos e conquistar objetivos. Ela é
responsável pela adaptação do organismo às
situações novas, porém, a partir de certo ponto,
a ansiedade excedente, ao invés de contribuir
para a adaptação, concorrerá para o seu
esgotamento. Considerando as reações nervosas
no esforço emocional durante competição ou
antes dela, esses estados psicofisiológicos são
desencadeados diante da necessidade de se
enfrentar algum desafio. Então temos uma tripla
De acordo com os autores, no aspecto ação: a ativação fisiológica, a resposta
cognitivo, as reações e/ou sintomas podem ser comportamental e a resposta emocional.
caracterizados por sentimentos subjetivos, como
apreensão, tensão, medo, tremores, impaciência
etc, no aspecto somático, taquicardia, vômitos,
EsPCEx, onde tudo começa
31
EsPCEx
A ansiedade no esporte relaciona-se às
expectativas de êxito por parte do esportista e
dos demais colegas sobre sua vitória. É
importante diferenciar a ansiedade cognitiva da
ansiedade somática. A ansiedade somática
envolve a participação do organismo como um
todo, colocando-o em estado de alerta (aumenta
os níveis de adrenalina e cortisol), e é essencial
para atividades globais que requerem rapidez,
resistência física e força, como, por exemplo,
natação, jogos de futebol, corridas, lutas
corporais etc. Todavia um nível elevado de
ansiedade somática é negativo para habilidades
complexas, que exigem movimentos musculares
finos, coordenação, concentração e equilíbrio.
Revista Pedagógica 2011
desejado, não estando necessariamente ligadas
ao acúmulo de ansiedade cognitiva, mas estão
relacionadas ao aumento da motivação. Por outro
lado, a derrota, pode levar ao aumento da
ansiedade cognitiva e à diminuição da motivação
e do rendimento. O domínio da disciplina no
treinamento pode diminuir a ansiedade cognitiva
e aumentar a motivação, fazendo o esportista
ter a sensação de estar preparado, diminuindo
assim a ansiedade frente a novos desafios.
As características de personalidade
colaboram para o sucesso do esportista, como,
por exemplo, as atitudes dirigidas para se
conseguir evitar momentos de neurose,
depressão, fadiga, confusão e ira. Alguns
esportistas mantêm excelente nível de
autoconfiança e são orientados para a vitória. O
segredo da vitória parece residir na
autoconfiança, pois esta faz com que o esportista
experimente menos ansiedade do que aqueles
que duvidam de suas aptidões. Além do mais, o
nível de treinamento, habilidade e histórico de
vitórias anteriores aumentam a autoconfiança,
diminuindo a ansiedade cognitiva e somática.
A ansiedade cognitiva envolve uma
sensação emocional de apreensão. Esse tipo de
ansiedade aumentada produz efeitos negativos
nas atividades esportivas que necessitam de
maior concentração, estratégia e agilidade
psicomotora fina, como no xadrez, tiro etc.
Ambos os tipos de ansiedade podem estar
presentes em um mesmo atleta, predominando
um tipo ou outro, dependendo da modalidade
esportiva e/ou do tipo de personalidade. A
De modo geral, parece não haver uma lei
consequência mais direta é na autoconfiança.
sobre o caráter inibidor ou estimulante da
Essa, por sua vez, pode estar ligada ao
ansiedade sobre o esporte de acordo com o perfil
rendimento, opondo-se à ansiedade cognitiva.
afetivo e ansioso de cada personalidade. A
Os estados afetivos do esportista quantidade ótima de ansiedade necessária para
(sentimentos e emoções) determinam a atitude um bom desempenho depende de cada
geral da pessoa diante de qualquer experiência esportista, parecendo haver uma concordância
vivencial, promovem os impulsos motivadores e no que se refere ao fato de a ansiedade não ter
inibidores, fazendo-a perceber os fatos de o mesmo efeito em todos os esportes e em todas
maneira agradável ou sofrível, conferindo-lhe uma as pessoas. Assim, para se compreender o efeito
disposição indiferente ou entusiasta. Assim, a da ansiedade, não podemos simplesmente avaliar
afetividade modela o modo de relação da pessoa sua intensidade, nem se seu tipo é cognitiva
com a vida e será através desse estado de ânimo (afetiva) ou somática, mas sim avaliar a
que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. capacidade de enfrentamento do atleta.
Há estados afetivos momentâneos e
constitucionais. Os momentâneos são
determinados por circunstâncias vivenciais e os
constitucionais, pela tonalidade afetiva ou humor
básico (introvertido ou extrovertido). Vale
salientar que as influências do meio atuam sobre
o rendimento do esportista, assim como as
condições de treinamento, a autoconfiança e o
sentimento de se sentir pressionado ou
preparado.
***
As motivações do esportista podem
relacionar-se com a busca por um rendimento
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Bibliografia
ARAÚJO, S. R. C. et al (2007). Transtornos de ansiedade e exercício
físico. Revista Brasileira de Psiquiatria 29 (2) 164-171.
BALLONE, G. J. Ansiedade e Esporte. Disponível no sítio eletrônico:
www.virtualpsy.org/temas/esporte.html. Acessado em 13/07/2011.
(*) A 1º Ten Marcia Maria Carvalho Luz Fornari é graduada em Psicologia com Habilitação em
Psicologia como Psicólogo Pesquisador pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Especialista em Desenvolvimento do Potencial Humano nas Organizações e Mestre em
Psicologia como Profissão e Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Psicopedagoga pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ). Extensão na UNICAMP (Faculdade
de Educação e Gerontologia). Formação complementar na área de Gestão Empresarial pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). Graduanda em Administração na Universidade Paulista.
Atualmente é Psicóloga Adjunta da Seção Psicopedagógica da EsPCEx.
EsPCEx, onde tudo começa
33
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Sudão
Helcio Miranda Duque Botelho (*)
Observador Militar da Missão das Nações Unidas no Sudão,
de setembro de 2010 a julho de 2011
Das origens do conflito aos dias atuais, o que resume a controversa e
sangrenta história recente de um dos países mais ricos em petróleo do
continente africano
Fig 1 – Sudão antes da secessão
Um País Continente
O Sudão foi o maior país do continente africano e o décimo do mundo em extensão territorial,
desde sua independência do jugo egípcio-britânico, em 1956, até 9 de julho de 2011, quando a
inevitável separação fez nascer a mais jovem Nação do Planeta, o Sudão do Sul.
Banhado a nordeste pelas águas do Mar Vermelho e bordeado pelo Egito, Líbia, Chade,
República Centro-Africana, Congo, Uganda, Kênia, Etiópia e Eritreia, o país se estendia da África
Saariana, ao norte, até as entranhas da selva equatorial no coração africano, cobrindo uma
extensão de mais de 2.500.000 Km2, que abrigava uma população de 41 milhões de habitantes. Ao
centro do território, cortando o país de sul a norte, debruça suas águas caudalosas o imponente
Nilo, fonte de vida e único oásis de civilização em vastas extensões de terra árida e inóspita.
EsPCEx, onde tudo começa
34
Revista Pedagógica 2011
Origens do Conflito
O Sudão do século XX sempre foi marcado
pelos contrastes religiosos (70% de muçulmanos,
25% animistas e 5% cristãos), étnicos (africano
e árabe), tribais e econômicos (atividade nômade
e sedentária). Desde a sua independência, em
1956, o país vem sendo caracterizado por
contínuas tensões centro-periféricas. Como
resultado, a guerra quase constante tem
assolado a população por décadas intermináveis
de violência, abandono, migrações forçadas e
genocídio indiscriminado, tendo sido mais
sangrentos os conflitos entre norte e sul, de
1956-1972 e 1983-2005 e, mais recentemente,
o conflito em Darfur.
Durante os anos de dominação, sob a
estratégia britânica de “dividir e governar”, o
país foi separado administrativamente em Norte
e Sul. Em 1947, o poder político foi transferido à
elite nortista árabe-muçulmana, que o reteve
após a independência em 1º janeiro de 1956 (data
que dá nome à linha limítrofe norte-sul 1-1-56).
Antecipando a marginalização pelo Norte, oficiais
sulistas do exército amotinaram-se em 1955 e
formaram o movimento de guerrilha Anya-Nya
(veneno de cobra), que passou a desferir ataques
às tropas do governo central. A partir de então,
o povo sudanês jamais voltaria a conhecer a
Paz.
Fig 2 – Sudão: três décadas de
guerra civil
A sucessão de governos árabe-orientados
(seguidores da cultura árabe) nas décadas de
50, 60 e 70, mediante alternância de golpes de
estado, caracterizou-se pelas recorrentes
políticas de islamização do país, por meio da
implementação da “Sharia” (lei islâmica) pela
força. No início dos anos 80, após descoberta
EsPCEx, onde tudo começa
EsPCEx
de ricas reservas de petróleo nas regiões ao sul,
a Sharia substituiu a lei tradicional sudanesa. A
revogação das garantias constitucionais do Sul,
a adoção do árabe como língua oficial e o
desrespeito aos acordos previamente
estabelecidos terminaram por cristalizar as forças
oponentes de guerrilha ao redor do Movimento
Exército de Libertação do Povo do Sudão (em
inglês South People Liberation Moviment Army –
SPLMA), liderados por John Garang. O ano de
1983 marcou o início de uma guerra civil, que
contou mais de dois milhões de mortes, desalojou
4 milhões de habitantes e criou aproximadamente
600 mil refugiados fora do país.
Fig 2a – Sudão: três décadas de
guerra civil
Todas as tentativas de alcançar a paz
entre o SPLMA e o governo de Khartoum foram
suspensas quando a Frente Islâmica Nacional
(NIF) desferiu um golpe sem derramamento de
sangue em junho de 1989. Liderada pelo General
Omar Al-Bashir, a NIF, mais tarde transformada
em Partido do Congresso Nacional (NCP), revogou
a constituição, extinguiu os partidos de oposição,
iniciou a islamização do sistema judiciário e
escalou a guerra entre o Norte e o Sul, declarando
“jihad” contra o Sul não muçulmano.
Com o enfraquecimento do SPLMA no início
dos anos 90, os conflitos tribais acirraram-se
no Sul do país. O acolhimento de Osama Bin Laden
e outros grupos fundamentalistas islâmicos em
Khartoum levaram ao isolamento internacional.
Em 1998, após atentados à bomba às suas
embaixadas em Nairobi e Dares-Salaam, os
Estados Unidos chegaram a responder com
pesados ataques de mísseis.
35
EsPCEx
Acordos e Protocolos de Paz
Revista Pedagógica 2011
A UNMIS
Frágeis negociações entre o governo
O Conselho de Segurança da ONU, por meio
central e o SPLMA, sob a Autoridade para o da Resolução 1590, de 24 de março de 2005,
Desenvolvimento Intergovernamental (IGAD), decidiu estabelecer a Missão das Nações Unidas
fizeram pequenos progressos entre 1994 e 2001. para o Sudão (United Nations Mission in Sudan –
UNMIS) a fim de dar suporte à implementação
O Protocolo Machakos de julho de 2002,
do Acordo de Paz Compreensiva (CPA) assinado
estipulou um referendo sobre a autodeterminação
pelo Governo do Sudão (GoS) e o Movimento
do Sul, que seria declarada após um prazo de 6
Exército de Libertação do Povo do Sudão
anos, enquanto a Sharia era mantida no Norte.
(SPLMA), em 9 de janeiro de 2005. O Conselho
As negociações de Naivasha, finalizadas em
decidiu que as tarefas da UNMIS, entre outras,
janeiro de 2005, puseram, oficialmente, um fim a
seriam: apoiar a implementação do CPA; facilitar
décadas de guerra, com a assinatura do Acordo
e coordenar, dentro de suas possibilidades e em
de Paz Compreensiva (CPA, como ficou conhecido
suas áreas de desdobramento, o retorno
pela sigla em inglês). O acordo incorporou o
voluntário de refugiados e migrantes e a
SPLMA ao Governo da Unidade Nacional (GNU) e
assistência humanitária; apoiar as partes
programou as eleições gerais para 2009, mais
beligerantes no campo das ações de desminagem
tarde postergadas para 2010.
e contribuir com os esforços internacionais para
Com a implementação dos acordos proteger e promover os Direitos Humanos no
estagnada, principalmente devido à ausência de Sudão.
vontade política dentro do partido do governo
Dando suporte às instituições e apoio
(NCP), uma nova constituição foi sancionada e
político às partes, a UNMIS permaneceu em
um novo governo empossado em outubro de
campo por mais de seis anos, abrangendo todo
2006. Contudo tensões entre Khartoum e áreas
o período de implementação do CPA, para
périféricas do Sudão persistiram e, em alguns
monitorar e verificar os acordos de segurança e
locais, alimentaram um novo ciclo de violência.
oferecer ajuda em muitos setores de atividade,
A implementação prática dos maiores incluindo governabilidade, reconstrução e
mecanismos destinados a extinguir o conflito, desenvolvimento. Para tanto, a UNMIS se
com destaque para o CPA, foi lenta e organizou em cinco setores territoriais ao longo
insatisfatória desde sua concepção, basicamente e ao sul da linha 1-1-56, onde desdobrou suas
devido à resistência do NCP, partido do governo próprias agências justapostas às tropas dos
de Al-Bashir.
países contribuintes.
Em abril de 2010, conforme previsto pelo
CPA, eleições gerais pluripartidárias foram
conduzidas e confirmaram o governo islâmico,
tendo sido marcadas pelo boicote da maioria dos
partidos de oposição. Apesar das tensões e de
alguns episódios locais de violência, a realização
das eleições foi considerada um avanço
substancial.
Da mesma forma, o Referendo de
Autodeterminação, agendado pelo CPA para 9
de
janeiro
de
2001,
transcorreu
surpreendentemente em paz e confirmou o desejo
de separação do povo sul-sudanês. Em seguida,
iniciou-se o período de transição até a declaração
da independência do Sudão do Sul, em 9 de julho
de 2011.
Fig 3 – Divisão Setorial da UNMIS
EsPCEx, onde tudo começa
36
Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
No ápice de sua força de trabalho, a UNMIS
contou com o aporte de 67 países, representados
por 10.519 pessoas, incluindo 9.304 militares do
corpo de tropa, 513 observadores militares, 702
policiais, 966 civis estrangeiros contratados e
477 voluntários das Nações Unidas, além de os
2.837 civis sudaneses contratados.
Após a oficialização da decisão popular
expressa nas urnas, iniciou-se uma nova fase
de transição. Por seis meses, de 9 de janeiro a 9
de julho, o Sudão do Sul deveria consolidar suas
instituições de estado e todas as questões
decorrentes da separação deveriam ser
resolvidas como preparo para a independência a
Ao término do mandato, a UNMIS ser declarada de direito e de fato.
contabilizava cifras em torno de 5,76 bilhões de
No campo militar, a desconfiança prédólares americanos dispendidos pelos cofres da existente entre as partes aumentou ainda mais
ONU. Incomensuravelmente maior, o consumo de e as tensões agravaram-se progressivamente,
vidas humanas alcançou 23 militares de corpo começando pelos escalões mais inferiores nos
de tropa, 3 policiais, 3 observadores militares, 8 comandos locais. Mais de 37% do SPLMA
civis estrangeiros e 22 civis sudaneses encontrava-se ainda ao norte da provável nova
contratados.
linha de fronteira após o Referendo e nada
indicava que havia intenção de sua retirada para
O Referendo, a Transição e a Independência
o sul.
O tão esperado Referendo pela
A crise escalou ao longo do período e
Autodeterminação do Sudão do Sul, antecipado agravou-se no mês de maio com a ocupação
por muitos com incerteza, desconfiança e medo militar de Abyei pelas SAF. No dia 1º de maio de
da violência, transcorreu pacificamente e dentro 2011, como amostra de um ensaio para os
dos limites estabelecidos pelo CPA. No dia 9 de embates que seriam travados no mês, tropas
janeiro de 2011, mais de 6 milhões de sul- das SAF, que, segundo o NCP (partido do governo
sudaneses compareceram às urnas para votar. central) estariam realizando uma entrega
A esmagadora maioria de 98,83% decidiu pela autorizada de armamento a uma unidade militar
secessão do Sudão, resultado também já mista, foram detidas ao norte da cidade de Abyei
esperado por muitos.
por policiais locais alinhados com o SPLMA; 14
O governo de Al-Bashir e o NCP, seu partido, morreram no tiroteio.
foram fiéis às suas promessas de respeitar os
resultados do Referendo. As pressões políticas,
entretanto, não deixaram de existir. Durante as
semanas que antecederam o 9 de janeiro de
2011, representantes do partido e do governo
davam declarações isoladas, diariamente na
mídia, acerca dos atrasos no cumprimento das
cláusulas do CPA, da impossibilidade de realização
do Referendo dentro do prazo programado e de
sua provável ilegalidade e imediata rejeição.
Havia ainda os impasses e atrasos nas
regiões controversas como Abyei, e nos estados
de Blue Nile e Kadugli, onde o Referendo não
fora contemplado pelo CPA. Nessas regiões, uma
Consulta Popular seria conduzida em um processo
paralelo às fases do Referendo, para que as
populações locais expressassem, ainda
preliminarmente, seu desejo de se submeterem
ou não à jurisprudência do governo de Khartoum
e, por consequência, a todas as provisões do
CPA, assinado por aquele governo e o SPLMA.
EsPCEx, onde tudo começa
No dia 11 de maio, uma patrulha regular da
UNMIS foi atacada por militantes da tribo
Missiriya (pró-NCP), deixando 4 observadores
militares feridos. A mesma milícia desferiu outros
pesados ataques a postos policiais em Abyei.
Fig 4 – Referendo pela
Independência do Sudão do Sul
37
EsPCEx
A situação atingiu o ápice em 19 de maio.
As versões ainda são divergentes. O que ficou
claro foi que, enquanto a UNMIS escoltava um
comboio de 200 soldados das SAF, oriundos de
uma unidade mista, para suas posições de
ocupação, forças alinhadas com o SPLMA abriram
fogo 10 Km ao norte da cidade de Abyei.
A reação de ambos os lados foi imediata.
No dia 21 de maio, o Chefe do Estado-Maior das
SAF enviou, por escrito, um ultimato ao Chefe
do Estado-Maior do SPLMA, exigindo que a
desocupação militar das regiões ao norte da
fronteira (CBL – Comprehensive Border Line) fosse
concluída até 31 de maio, a partir de quando, as
SAF estariam autorizadas a marchar sobre as
regiões de Abyei, Kadugli e Blue Nile State e
assumir seu controle à força, empurrando o
SPLMA para o sul. Este, por sua vez, emitiu ordem
unilateralmente aos seus comandos locais,
cessando todo e qualquer apoio às ações de
monitoramento e verificação por parte da UNMIS,
em represália às declarações do Force
Commander da UNMIS em visita à Abyei, que
teria atribuído a escalada da violência ao SPLMA.
No dia 27 de maio, colunas enormes de
tropas das SAF, pesadamente armadas, foram
monitoradas movimentando-se em direção ao
estado de Kadugli, deixando bem claro que o
ultimato não tinha sido uma ameaça. Após os
bombardeios iniciados em 30 de maio e a
ocupação do estado pelas SAF, as tensões na
UNMIS elevaram-se a níveis inéditos até então.
O estado vizinho de Blue Nile, há décadas
ocupado pelas duas forças, seria o próximo passo,
inevitavelmente. A movimentação logística das
SAF foi monitorada por mais de 4 semanas, mas
a retirada da ONU estava próxima.
Em 9 de julho de 2011, o mandato da UNMIS
expirou, completando o prazo de seis anos e
meio de período interino do CPA, assinado pelas
partes em 9 de janeiro de 2005. No dia 17 de
maio, o Secretário-Geral concitara as partes e o
Conselho de Segurança a considerar a
possibilidade de estender a UNMIS por três
meses, devido a questões de segurança ainda
pendentes no Sudão do Sul, que estavam
diretamente relacionadas a problemas que o Norte
e o Sul ainda teriam que dirimir juntos. Em 31 de
maio, Ban Ki Moon encaminha ao Conselho de
Segurança da ONU uma carta do Governo do
Sudão
(GoS)
anunciando
tácita
e
EsPCEx, onde tudo começa
Revista Pedagógica 2011
irrevogavelmente a decisão de encerrar a
presença da UNMIS em 9 de julho de 2011.
A abrupta e desorganizada retirada das
tropas da UNMIS e de todas as suas agências
do Sudão do Norte, incluindo seu Quartel-General
em Khartoum, contribuiu ainda mais para o
agravamento das relações entre Al-Bashir e a
ONU. O aproveitamento de pessoal remanescente
da UNMIS, tanto nas futuras missões da ONU no
Sudão do Sul e em Abyei como na já existente
em Darfur, foi planejado às pressas e reajustado
várias vezes, tendo sido marcado pelo improviso,
pela desinformação e pelo desperdício de
recursos.
A transferência de pessoal para a UNAMID
em Darfur esbarrou no protocolo dos processos
de consulta aos países contribuintes e atrasou
o
desencadeamento
das
medidas
administrativas. Por fim, após grande número de
observadores militares terem sido redesdobrados
naquela missão, Al-Bashir volta atrás e declara
não aceitar em Darfur contingentes oriundos da
extinta UNMIS.
Com o Sudão do Sul independente após 9
de julho de 2011, o balanço das relações políticas
internacionais foi completamente reestabelecido
na região do Chifre Africano. As tensões internas
que levaram o Sudão à guerra civil e à secessão
deram lugar a uma zona de fortes atritos
internacionais, onde questões limítrofes,
impasses na exploração e partilha de recursos
naturais e de utilização de oleodutos
transnacionais, problemas étnicos e migratórios
e até mesmo o compartilhamento de recursos
hídricos do rio Nilo ainda permanecem sem
solução. A mais nova nação do planeta também
enfrenta ainda sérios desafios internos,
decorrentes dos conflitos tribais e da disputa
pelo poder central, sem considerar a profunda
gravidade das carências sociais que assolam o
país.
A nova Missão da ONU no Sudão do Sul
A Resolução 1996 do Conselho de
Segurança da ONU, de 9 de julho de 2011,
estabeleceu a Missão das Nações Unidas para o
Sudão do Sul (UNMISS) por um período inicial de
um ano.
38
Revista Pedagógica 2011
O mandato da UNMISS concebeu, como Bibliografia
tarefas primordiais, a consolidação da paz e da
www.smallarmssurveysudan.org (Dez 2011).
segurança, bem como a ação de suporte para a www.un.org (Set 2011).
criação das condições para o desenvolvimento, www.unmis.un.org (Nov 2010 a Jun 2011).
como o fortalecimento da capacidade do Governo International Crisis Group (Dez 2010).
da República do Sudão do Sul de governar efetiva United Nations, UNMIS, GoS e GoSS –
Agreement, 9 Jan 2005.
e democraticamente e consolidar boas relações
com seus vizinhos.
EsPCEx
Comprehensive Peace
A nova Missão da ONU na disputada Abyei
Um Referendo à parte, com a finalidade de
determinar se a região de Abyei, rica em petróleo,
permaneceria como parte do Sudão de norte ou
seria anexada ao novo país não foi levado a efeito
em janeiro de 2011, conforme originalmente
planejado. Tal insucesso deu-se devido à falha
em estabelecer uma comissão de referendo e à
falta de consenso acerca de quem poderia votar,
principalmente no caso da tribo nômade Missiryia.
Sucessivos
surtos
de
violência
reacenderam-se no começo de março de 2011,
deslocando mais de 20.000 civis de suas
residências. O Conselho de Segurança da ONU
respondeu à situação de Abyei por meio da
Resolução 1990, de 27 de junho, estabelecendo
a Força de Segurança Interina das Nações Unidas
em Abyei (UNISFA), como resultado de profunda
preocupação da comunidade internacional acerca
da violência, da escalada das tensões e do
elevado número de civis desalojados. A operação
vai monitorar a faixa crítica de fronteira entre
Norte e Sul e está autorizada a fazer o uso da
força para a proteção de civis e da ajuda
humanitária em Abyei.
***
TC Cav Helcio Miranda Duque Botelho graduou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras
(AMAN), em 1991, cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) em 1999, (nível
mestrado) e concluiu o Curso de Comando e Estado Maior (ECEME) em 2007 (nível doutorado).
Possui os curso de Educação Física pela EsEFEx (1994) e de especialização em musculação
pela Faculdade de Educação Física de Muzambinho/MG (1998). Foi instrutor na Academia
Militar da Venezuela em 2001, da EsEFEx, de 1996 a 1998, da AMAN, de 2003 a 2005, e da
EsAO, de 2009 e 2010. É credenciado nos idiomas inglês e francês pela Canadian Forces
Language School (2010). Foi Observador Militar da Missão das Nações Unidas no Sudão, de
setembro de 2010 a julho de 2011. Atualmente, é o Comandante do Corpo de Alunos da
Escola Preparatória de Cadetes do Exército.
EsPCEx, onde tudo começa
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Exposição de Pinturas
(27 de setembro de 2011)
Classificação: 3º Lugar
Tema: A Torre Duque de Caxias
Modalidade: óleo-acrílico
Artista Profissional: Beth Schons
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Alfabetização, Leitura e Letramento: estratégias possíveis de
norte a sul do Brasil
Célia Cristina de Almeida Gauté (*)
Professora de Língua Portuguesa e Literatura
Aspectos Teóricos
Desde metade da década de 1980,
pesquisa-se sobre o conceito de letramento.
O termo, recente na literatura acadêmica, suscita
uma série de questionamentos. Uma das grandes
estudiosas do assunto, a professora Magda
Becker Soares, da UFMG, ressalta que “o
significado do termo letramento refere-se ao
estado ou condição de quem não apenas sabe
ler e escrever, mas cultiva e exerce práticas
sociais que usam a escrita” (2006, p. 47). Para
a autora, “letrar é mais que alfabetizar, é ensinar
a ler e escrever dentro de um contexto onde a
escrita e a leitura tenham sentido e façam parte
da vida do aluno” (2003a). Por isso, a palavra
letramentos, no plural, vem sendo bastante
utilizada, por ser mais abrangente.
Já o vocábulo alfabetização é empregado
com o sentido mais restritivo de ação de ensinar
a ler e escrever as primeiras letras. Alfabetizarse faz parte de um processo individual de
aquisição do código escrito. Continua a autora:
Dissociar alfabetização e letramento é um
equívoco porque, no quadro das atuais
concepções psicológicas, linguísticas e
psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada
da criança no mundo da escrita ocorre
simultaneamente por esses dois processos: pela
aquisição do sistema convencional de escrita –
a alfabetização – e pelo desenvolvimento de
habilidades de uso desse sistema em atividades
de leitura e escrita, nas práticas sociais que
envolvem a língua escrita – o letramento. Não
são processos independentes, mas
interdependentes, e indissociáveis: a
alfabetização desenvolve-se no contexto de e por
meio de práticas sociais de leitura e escrita, isto
é, através de atividades de letramento, e este,
por sua vez, só se pode desenvolver no contexto
da e por meio da aprendizagem das relações
fonema-grafema, isto é, em dependência da
alfabetização (SOARES, 2003b, p. 9):
EsPCEx, onde tudo começa
Portanto deve-se alfabetizar letrando e
letrar alfabetizando. Soares acredita que o nome
‘letramento’ ganhou “estatuto de termo técnico
no léxico do campo da Educação e das Ciências
Linguísticas” (2006, p. 15). Palavras como
alfabeto, analfabeto, analfabetismo,
alfabetizar, alfabetização, bem como letrado
e iletrado, são de domínio comum há bastante
tempo. Mas letramento foi cunhada como
palavra “antiquada” no Dicionário de Caldas
Aulete, na terceira edição brasileira, de 1974.
Porém, trinta anos depois, o mesmo dicionário
não só reconhece o termo, mas também o define:
Letramento. A condição que se tem, uma vez
alfabetizado, de se usar a leitura e a escrita como
meios de adquirir conhecimentos, cultura etc.,
estas como instrumento de aperfeiçoamento
individual e social. O termo ‘letramento’, de uso
recente no campo da pedagogia e da educação,
deriva do inglês “literacy”, (referência não à
acepção de ‘condição de quem sabe ler e escrever’
(ao que corresponde o termo ‘alfabetismo’ ou
‘alfabetização’), mas a condição, capacidade de
e disposição para, uma vez dominada a técnica
de ler e escrever, usá-la para assimilar e transmitir
informação, conhecimento etc. Assim, o
letramento é uma continuação possível e
desejável da alfabetização, e é através dele que
o potencial do alfabetismo pode se transformar
em conhecimento e cultura (AULETE, 2004).
Desse modo, ‘letramento’ surgiu de uma
versão feita da palavra inglesa literacy, com
a representação etimológica de ‘estado,
condição, ou qualidade de ser literate’; e literate
é o mesmo que ‘educado’, especialmente, para
ler e escrever. No dicionário Aurélio (2009),
‘alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever.
Já ‘letrado’ é o versado em letras, erudito; e
‘iletrado’ é o que não tem conhecimentos literários
e é, também, o analfabeto ou quase analfabeto.
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EsPCEx
Para tornar-se estudante, profissional e
cidadão competente, não basta ter acesso à
aprendizagem da língua escrita (estar
alfabetizado). É preciso ir além, entendendo e
interpretando o que leu, escrevendo com
desenvoltura e fazendo uso adequado dos
diversos gêneros encontrados na sociedade do
novo século. Seja uma criança ou um jovem,
seja um adulto, todos precisam da leitura e da
escrita como instrumentos para viver com
autonomia na sociedade. Todos precisam saber
ler o mundo. Ler os livros literários, as revistas,
as histórias em quadrinhos, os dicionários, os
periódicos, os jornais impressos, os livros
didáticos, as bulas de remédio, as receitas, os
sinais de trânsito. Ler os manuais técnicos e as
linguagens da propaganda – que invadem as casas
pela televisão, rádio e Internet. Ler os cartazes,
os panfletos, os outdoors. Ler o teatro, o
cinema, o museu, a música e toda a cultura
armazenada ao longo dos séculos. Por isso, Mário
Quintana afirmou que “o pior analfabeto é o que
aprendeu a ler e não lê”, isto é, não faz uso da
leitura em seu cotidiano.
Revista Pedagógica 2011
circulam socialmente? Como conquistar o leitor
com um cardápio variado de leitura – livros de
imagens, de narrativas, de poesia – a fim de
transformar a leitura em uma espécie de
passaporte para o mundo da cultura e do
desenvolvimento?
Sem
dúvida,
são
questionamentos difíceis de responder, porque
são problemas da base do processo educacional
e social brasileiro.
Uma Experiência de Letramento na
Amazônia Ocidental Brasileira
Qualquer ser humano lê o mundo antes de
ler a palavra. Não é preciso ir à escola para
aprender qual ônibus tomar para ir de um local a
outro. Basta decorar o número, a cor e as imagens
que as letras representam. Ou pode-se pedir a
alguém no ponto de espera que indique qual o
coletivo desejado. Uma criança, antes de
aprender o código escrito, reconhece uma lata
de coca-cola pela cor, desenho das letras e estilo
do objeto. Em consequência, ela “lê” as coisas,
mas não lê as palavras. Soares (2006, p. 24)
Com a expansão da tecnologia, fala-se em afirma que
letramento digital, em que é preciso saber ler
Um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto
e escrever em um hipertexto (texto associado
é, ser alfabetizado, mas ser, de certa forma,
aos suportes eletrônicos); saber enviar um eletrado (atribuindo a este adjetivo sentido
mail e uma mensagem pelo celular; saber usar
vinculado a letramento). Assim, um adulto pode
um smartphone ou um blackberry; aprender a
ser analfabeto porque marginalizado social e
participar das redes sociais, das comunidades
economicamente, mas, se vive em um meio em
virtuais e das redes de aprendizagem on line. O
que a leitura e a escrita têm presença forte, se
ensino a distância (EAD) ganhou espaço nesse
se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por
novo mercado, levando a educação a lugares
um alfabetizado, se recebe cartas que outros
onde seria impossível nos séculos anteriores.
leem para ele, se dita cartas para que um
Mas, para ter sucesso na aprendizagem, o aluno
alfabetizado as escreva, se pede a alguém que
precisa saber trabalhar o autoaperfeiçoamento
lhe leia avisos ou indicações afixados em algum
e, ao mesmo tempo, estar apto a ler em
lugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado,
diferentes suportes e a dominar o mundo virtual.
porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas
Como tudo isso pode ser possível em um
sociais de escrita.
País com tantas desigualdades socioeconômicas,
educacionais e culturais? Como formar um leitor
crítico e em processo contínuo de letramentos
Ao entender que a alfabetização é uma
em uma sociedade cuja mortalidade infantil é experiência de cunho social e que o livro é o
alta; na qual nem todas as crianças estão na espaço da aprendizagem por excelência, há
escola; em que o ensino público não tem alguns anos venho me dedicando ao trabalho
qualidade e o número de adultos analfabetos (ou com o letramento em instituições beneficentes
com baixo nível de letramento, ou que não do Rio de Janeiro. Ao ser transferida da Diretoria
concluiu o primeiro ciclo do ensino fundamental) de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA) para
ainda é alarmante? Como fazer para que esse a 16ª Brigada de Infantaria de Selva, em Tefé,
público amadureça sua capacidade leitora ao interior do Amazonas, em janeiro de 2009,
interagir com textos literários e com escritos que procurei levar esse trabalho àquela região. Tão
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
logo cheguei, percebi a carência em atividades
de fomento à leitura, bem como a ausência de
bibliotecas. Constatei que, em Tefé, havia
somente uma livraria pertencente à Igreja
Católica, com literatura de cunho religioso.
escritos, a contação de histórias,
positivamente no processo de
escrita e as brincadeiras levam
leitura. Mas como fazer isso em
não privilegia a tal prática?
A cidade localiza-se a 575 km de Manaus.
Por não existirem estradas que liguem a capital
ao interior do Estado, só se chega aos municípios
do Amazonas de barco ou avião. Com isso, o
isolamento, por si só, já é um fator determinante
para o baixo nível de letramento dos moradores.
O interessante é que, embora não haja
bibliotecas e livrarias, e as pessoas não tenham
o hábito de comprar livros para o acervo pessoal,
essa carência não impede que os moradores
adquiram celular e laptop; que tenham acesso à
Internet e que, praticamente, cada adulto tenha
uma motocicleta, devido à quase total
inexistência de transporte público. Logo, compra-se o que é oferecido: tecnologia e bens
materiais, em detrimento da educação e cultura.
Diante desse panorama, busquei levar meu
trabalho de incentivo à leitura ao maior número
de pessoas durante os dois anos em que servi
em Tefé. Contudo, para transformar o sonho em
realidade, precisava de material, pois sabia da
falta de estrutura, mesmo nas escolas públicas,
algumas, inclusive, sem nenhum livro paradidático
em suas acanhadas bibliotecas. Minha estreia
aconteceu na conclusão do Estágio de
Adaptação à Selva, quando aconteceu uma Ação
Cívico-Social (ACISO) na comunidade ribeirinha
“Catuiri de Cima”, pertencente ao município de
Nogueira/AM.
Por trabalhar na Seção de Comunicação
Social, pude travar contato com inúmeras
comunidades, escolas e estabelecimentos da
cidade e da região, o que permitiu ter informações
sobre o andamento da educação e da leitura.
Descobri que existe a ação do Grupo Vaga-Lume,
uma ONG financiada pelas Casas Bahia, que
capacita contadores de histórias da própria região
para serem multiplicadores de leitura, além de
doar livros de excelente qualidade para a
montagem de acervos. Esse trabalho acontece
em vários Estados e localidades da Amazônia
legal, nos quais não há bibliotecas.
que influencia
aquisição da
ao mundo da
um lugar que
A única escola existente era uma espécie
de palafita e não possuía carteiras ou livros de
leitura. Tinha, apenas, um quadro negro, uma
mesa e um armário de madeira com poucos
objetos didáticos. Naquele espaço único da
escola, sentei-me, dispus os livros em roda no
chão e contei histórias para as crianças, que
ficaram encantadas com a atividade. Ao final,
doei os livros (cerca de 30 paradidáticos) para
aquele educandário. Constatei que a professora,
que atendia ao ensino fundamental e médio, vinha
de Tefé para lecionar somente duas horas por
dia, pois também trabalhava em outras
comunidades.
Pude observar que o isolamento é enorme.
Os moradores só saem do local de voadeira
(barco com motor), cujo diesel é fornecido pela
Prefeitura. A diversão das crianças é nadar no
Rio Solimões. As casas possuem televisão, mas
nenhuma tem livros. Os únicos materiais de leitura
são os poucos livros didáticos da escola e a
Bíblia. Essa situação foi constatada nas demais
comunidades ribeirinhas visitadas.
Observei, também, que há iniciativas da
Universidade do Estado do Amazonas (UEA), mas
que não atende à demanda de leitores. Se Tefé,
que é uma cidade-polo para outros municípios
menores (Codajás, Uarini, Coari, Alvarães,
Nogueira), não possui estrutura para promover
a leitura, o que dizer das comunidades ribeirinhas,
que são inúmeras e extremamente carentes e
Em todas as ocasiões em que realizei o
isoladas? Notei, ainda, que, com exceção da
trabalho com o letramento, verifiquei que as
Capital, em nenhum outro lugar da Amazônia
crianças eram altamente receptivas e se
Ocidental Brasileira existem teatros, cinemas,
deslumbravam com o cenário, a variedade dos
museus e outras instituições culturais.
livros e das atividades proporcionadas. Interagiam
De acordo com a professora Rocco (1996), bastante e algumas participavam mais de uma
sabe-se que, aos seis anos, a criança já pode vez quando o evento ocorria o dia inteiro. Era
ser alfabetizada por meio do contato com livros maravilhoso ver os olhos delas brilhando quando
e situações práticas de leitura e escrita, eu contava uma história; quando abria um livro
escolares ou não. A aproximação com materiais bem bonito, cheio de pop-ups; quando
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
manuseava um fantoche e cantava uma música;
enfim, quando interatuava colocando-as no meio
da roda de leitura. Elas queriam, ao mesmo tempo,
ouvir as histórias, manusear os livros, brincar
com os fantoches e, claro, com as outras
crianças. Para elas, tudo era mágico, era
novidade. Em muitos momentos, os próprios pais
levavam os filhos e ficavam para assistir, tendo
a chance de voltar à infância. Realizei oficina de
leitura para professores e constatei a carência
desses docentes, tanto de material quanto de
cursos com profissionais qualificados. Mas a sede
de saber, por parte de todos, era enorme.
Registro meu reconhecimento a todos os
que ofertaram materiais: à Academia Brasileira
de Letras e à FNLIJ, que me apoiaram com as
doações. Agradeço aos comandantes da 16ª Bda
Inf Sl, dos biênios 2008/2009 e 2010/2011, e ao
Grupo Beneficente das Missões, por apoiarem meu
trabalho. Agradeço, ainda, aos moradores de Tefé
e municípios da região; às comunidades ribeirinhas
e aos Pelotões Especiais de Fronteira, os quais
tive o privilégio de conhecer e de levar um pouco
de leitura a esses rincões tão esquecidos. Na
maioria deles, o único representante do Governo
é o Exército Brasileiro, que acolhe, protege e
cuida dos ribeirinhos com muita dedicação e
Destaco que meu trabalho só foi possível
amor.
porque contei com a ajuda de familiares, amigos
e colegas da DEPA e dos Colégios Militares, que
não mediram esforços para angariar livros e enviar
a Tefé. Muito do acervo utilizado eu já havia
levado do Rio de Janeiro e fui adquirindo outros
materiais em viagens a Manaus e ao Rio. Por fim,
uma empreitada, que me rendeu 300
paradidáticos novos e altamente recomendáveis,
foi a segunda colocação no concurso da
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
(FNLIJ), que elege os melhores projetos de
incentivo à leitura em todo o Brasil. Recebi o
prêmio no dia 25 de agosto de 2010,
coincidentemente, Dia do Soldado, em cerimônia
na Casa Austregésilo de Athayde – sede da FNLIJ
– no Cosme Velho/RJ. No início de setembro, com
a visita do Comandante do Exército a Tefé e
Tabatinga, os livros puderam ser levados por
APAE : Contador de Histórias
aeronave militar, tendo sido todos doados até o
fim de 2010.
Espero que outros militares e familiares,
ao serem transferidos para esses locais, possam
realizar trabalhos semelhantes, pois a Amazônia
(e o Nordeste) necessita sair do atraso cultural
e social. O desenvolvimento do Brasil jamais
acontecerá plenamente enquanto houver
brasileiros em condições desiguais. É preciso olhar
o próximo como a nós mesmos, uma vez que não
é possível ser feliz sabendo que em diversos
lugares há crianças, jovens e adultos
marginalizados e excluídos, carentes não só de
recursos materiais, mas também de informação,
leitura e educação.
ACISO: Contador de Histórias
(Nogueira/AM)
EsPCEx, onde tudo começa
A seguir, faz-se um resumo dos meus
principais trabalhos com o letramento na
Amazônia:
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Crianças
Atendidas
Data
Local
Eventos e Atividades
09ABR09
Comunidade
Ribeirinha Catuiri
de Cima
(Nogueira/AM)
ACISO – leitura de livros e contação de histórias.
Doação de brinquedos, brindes e 30 livros
paradidáticos para Escola. Entrega da revista “O
Recrutinha”.
18ABR09
Escola Municipal
Tereza Praia
Tavares
(Tefé/AM)
Páscoa – leitura de livros e contação de histórias.
Doação de coleções didáticas, materias educativos
e 250 livros paradidáticos para Escola. Entrega da
revista “O Recrutinha”.
240
08AGO09
Escola Municipal
de Nogueira
(Nogueira/AM)
ACISO – leitura de livros e contação de histórias
durante a escovação dentária. Doação de 50 livros
e 50 revistas para Escola. Entrega da revista “O
Recrutinha”. Roda de histórias e dramatização.
300
04/05
DEZ09
Escola Municipal
de Tefé
(Tefé/AM)
ACISO – leitura de livros e contação de histórias
durante a escovação dentária. Doação de 100 livros
e 50 revistas para Escola. Roda de histórias e
reprodução de histórias em DVD.
200
ACISO: Contador de Histórias
(Tefé/AM)
ACISO: Contador de Histórias.
Pelotão Especial de Fronteira
(Estirão do Equador/AM)
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80
ACISO: Contador de Histórias.
Pelotão Especial de Fronteira
(Palmeira do Javari/AM)
Contador de Histórias.
Pelotão Especial de Fronteira
(Pastoral do Menor/AM)
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EsPCEx
Data
Revista Pedagógica 2011
Local
Eventos e Atividades
Crianças
Atendidas
03DEZ10
Pelotão Especial Natal – Contação de Histórias. Doação de livros e
de Fronteira
materiais didáticos ao cantinho da leitura e entrega
(Estirão do
de gibis e brindes às crianças.
Equador/AM)
150
04DEZ10
Pelotão Especial
de Fronteira
Palmeira do
(Javari/AM)
Natal – Contação de Histórias. Doação de livros e
materiais didáticos ao cantinho da leitura e entrega
de gibis e brindes às crianças.
120
17º B Inf Selva
(Tefé/AM)
Programa Força no Esporte – Oficina de Leitura
e Redação, Contação de Histórias, dramatização. 200 a
Apresentação teatral para os pais. Doação de gibis, cada ano
revistas p/ colorir e material escolar
Ao longo de
2000/2010
Ao longo de
2000/2010
16ª Bda de Inf de Programa de Leitura para Cabos e Soldados –
Palestras, dinâmicas, leituras e contação de 200 a
Selva
histórias. Doação de livros didáticos e paradidáticos cada ano
(Tefé/AM)
e textos a cada participante.
Programa de Leitura para Cabos e Soldados da Guarnição de Tefé/AM
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
O Programa de Leitura para os Alunos da literários, pois essa é tarefa dos pais e do sistema
Escola Preparatória de Cadetes do Exército escolar, instituição que, infelizmente, apresenta
Machado de Assis do 6º ao 9º ano do ensino
Até 2011, os alunos cursavam, na EsPCEx,
fundamental, repete o autor no ensino médio e,
o terceiro ano do ensino médio. Além das
ainda assim, não consegue fazer com que os
disciplinas comuns a esse último ano da educação
alunos gostem de ler e conheçam o maior escritor
básica, esses jovens frequentavam, ainda, aulas
brasileiro. Preocupei-me não só com os gêneros
de Informática, Instrução Militar, Treinamento
escritos, mas também com os orais, pois contei
Físico Militar, além de realizarem atividades típicas
histórias populares, usei músicas folclóricas, fiz
da vida na caserna, como tiro, acampamento,
leitura de livros de autores conhecidos e, também,
marchas, competições esportivas, dentre outras.
dos estreantes, propus debates e dinâmicas,
Devido à extensa carga didática e à quantidade
realizei dramatizações e expus meus materiais
de avaliações, os discentes tinham pouco tempo
como um “banquete” a ser saboreado pela
na grade curricular para as atividades extraclasse.
assistência. Procurei, ainda, incentivar os pais a
Em minhas aulas de Literatura, pude estimularem os filhos, já que aqueles são os
perceber o interesse dos alunos pela leitura primeiros e melhores modelos para a juventude.
desvinculada do estudo e das provas, a chamada
Na Amazônia, busquei inserir novos
‘leitura prazerosa’. Porém muitos diziam não ter
protocolos de leitura, que foram novas maneiras
tempo para ler, uma vez que a intensa rotina da
de ler para as crianças, jovens e adultos com
Escola não lhes possibilitava nem momentos livres,
quem travei contato durante os dois anos em
nem disposição para tal prática. Ao perguntarque tive o privilégio de morar e trabalhar na
lhes se conseguiam encontrar tempo e interesse
região. Se a função básica da escritura é
para navegar na Internet e para utilizar o
comunicar, da leitura também é. Por conseguinte,
Facebook, o Orkut, o Twitter ou o e-mail, a
esse foi meu objetivo: levar a leitura e a escrita
grande maioria acenou que sim. Por essa razão,
para poder compartilhar, com o povo amazonense,
decidi realizar uma atividade de incentivo à leitura
o que uma pessoa da região centro-sul brasileira
para mostrar a essa mocidade verde-oliva que a
conhece muito bem – o acesso à cultura. Mostrar
leitura, as artes e o senso estético não podem
que há um mundo maravilhoso à espera de todos
ser desvinculados da carreira, mas que, do
e que, apesar da distância e do isolamento, é
contrário, ao estarem presentes, tornam o militar
possível ser alfabetizado e letrado.
não só mais bem preparado para a profissão,
Aos alunos da EsPCEx, procurei mostrar que
mas também para a vida. Os 522 discentes,
divididos por companhia de alunos, assistiram a o dia a dia do profissional não serve de desculpa
uma palestra sobre a importância da prática da à inércia e à alienação intelectual, e que a
leitura, atividade seguida de dinâmicas, contação tecnologia não substitui a leitura e a feitura do
de histórias, leitura de textos, sorteio de livros e texto escrito, ferramentas indispensáveis em uma
entrega de brindes aos alunos mais participativos. sociedade letrada. Enfatizei que o aprendizado
da autoria na escrita requer tempo, paciência e
O resultado foi surpreendente, uma vez que
maturidade e que o exercício da leitura deve
os jovens se interessaram pelo tema, interagiram
servir para estimular o crescimento e o
bastante e me procuraram em outros momentos
amadurecimento, para transformar a mentalidade,
para pedir livros emprestados. Tudo isso mostrou
para formar cidadãos críticos e para realizar
que, ao contrário do que se pensa, essa geração,
sonhos possíveis. Ler, enfim, deve ser uma
de fato, gosta de ler, mas, uma vez imersa na
experiência feliz.
tecnologia e na maciça propaganda da mídia, e
***
devido à falta de exemplos de leitores, acaba
por sucumbir à pressão da sociedade por um
consumo desenfreado de parafernálias digitais
na busca por informações excessivas,
desnecessárias e alienantes.
Considerações Finais
Em nenhum momento das atividades com
a leitura, preocupei-me em formar leitores
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Bibliografia
AULETE, Caldas. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
_____ Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1974.
HOLANDA, Aurélio Buarque Ferreira de. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 4. ed. Curitiba: Positivo, 2009.
ROCCO, Maria Thereza Fraga. Viagens da leitura (Cadernos da TV Escola). Brasília, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de
Educação a Distância, 1996.
SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
____O que é letramento? Jornal Diário do Grande ABC, Santo André, 29 ago., 2003a.
____ Alfabetização: a ressignificação do conceito. Jornal Alfabetização e cidadania. Nº 16, p. 9-17, jul. 2003b.
(*) A Major Célia Cristina de Almeida Gauté pertence ao Quadro Complementar de Oficiais,
formando-se pela EsFCEx (antiga EsAEx) na turma de 1995. Especializou-se em Linguística
Textual pela Universidade de Cruz Alta/RS, em 1997; e em Supervisão Escolar, pela UFRJ, no
mesmo ano. É Mestre em Letras/Linguística pela Universidade Federal de Santa Maria, RS,
em 2000. Cursou a EsAO em 2004. Co-autora do Projeto “Práticas Docentes em Diálogo: pela
emergência de novos letramentos na escola”, que deu origem a um curso de capacitação de
professores promovido pelo Departamento de Educação e Cultura do Exército. Atualmente é
a Bibliotecária e a Coordenadora do Programa de Leitura da EsPCEx.
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Uma Visão da Importância da
Informação e da Segurança da
Informação para a Sociedade,
para o País e para as Forças
Armadas
Sergio da Costa Ferreira (*)
Chefe da Divisão de Tecnologia da Informação
da EsPCEx
“Ao longo da história, desde a mais remota
antiguidade, o ser humano vem buscando
controlar as informações que julga
importantes.”
(CASANAS e MACHADO, 2006)
Esta é, e sempre foi, a realidade no mundo
nas relações humanas. Desde os mais primitivos
tempos, o ser humano busca proteger
determinadas informações que julgue poder lhe
trazer vantagens ou prejudicá-lo caso não
recebam o devido tratamento sigiloso.
Ainda de acordo com Casanas e Machado
(2006, p. 4), o modo como a informação circula
evoluiu muito rapidamente depois que as
organizações e pessoas passaram a estabelecer
contato com sistemas externos aos seus,
contatos esses proporcionados pela evolução das
redes de computadores e sistemas
computacionais. Antigamente a segurança das
informações e dos sistemas de computação de
uma instituição não era muito preocupante
devido ao limitado acesso que se tinha a esses
recursos, que eram praticamente confinados ao
ambiente interno da organização. Mas, com a
evolução da informática e das redes de
computadores, tornou-se possível uma
integração dessas estruturas, globalizando o
compartilhamento das informações.
Com o passar dos tempos, essa
problemática vem se agravando, devido ao
crescimento da quantidade de informações
circulantes e da diversificação dos meios de
comunicação por onde elas tramitam. Segundo
Casanas e Machado (2006, p. 4), o mundo está
atravessando a era da informação – um período
jamais visto desde a criação da escrita por nossos
ancestrais. Todo esse cenário se deve
principalmente ao surgimento da Tecnologia da
Informação e Comunicações (TIC), que vem
impondo ao homem moderno atitudes muito mais
Um claro exemplo disso é que hoje em dia
bem elaboradas para controlar a informação do é comum um indivíduo qualquer, sem sequer sair
que as rudimentares práticas existentes nos da sua casa, adquirir qualquer tipo de produto;
tempos antigos.
ou ter acesso as principais notícias do mundo;
ou movimentar sua conta no banco; ou realizar
Em anos recentes a informação assumiu pesquisas a conteúdos didáticos; ou ainda
importância vital para manutenção dos negócios, participar de redes de relacionamento e trocar
marcados pela dinamicidade da economia mensagens com amigos distantes no tempo ou
globalizada e permanentemente conectada, de no espaço. Além de tudo isso, existe ainda uma
tal forma que não há organização humana não imensa gama de operações transacionais
dependente da tecnologia da informação, de executadas por empresas, governos e os mais
forma que o comprometimento do sistema de variados tipos de organização. Enfim, as
informações por problemas de segurança pode informações estão em toda parte e fazendo o
causar grandes prejuízos ou mesmo levar a mundo acontecer. Assim, a informação passa a
organização ao fim. (CARUSO,1999, apud constituir-se em um importante ativo que deve
CASANAS e MACHADO, 2006, p. 1).
ser protegido de maneira adequada e compatível
EsPCEx, onde tudo começa
49
EsPCEx
com o valor que representa para o seu detentor.
(MONTEIRO, 2009, p. 23)
Revista Pedagógica 2011
“Segurança da Informação e Comunicações:
ações que objetivam viabilizar e assegurar a
disponibilidade, a integridade, a confidencialidade
e a autenticidade das informações.” (GSIPR,
2008, p. 2).
Todo esse avanço tecnológico motivou a
evolução também daquela antiga necessidade
de se manter segura a informação. Daí o
surgimento de modernas técnicas de segurança,
Ou, ainda, segundo as Instruções Gerais
que atualmente são definidas simplesmente pelo
de Segurança da Informação para o Exército
conceito de “segurança da informação” e que
Brasileiro (IG 20-19):
assumiu um papel fundamental no contexto
mundial da informação e comunicação.
“Segurança da Informação compreende um
O conceito de segurança da informação é
conjunto de medidas, normas e procedimentos
explicado de diversas formas e sob vários pontos
destinados a garantir a integridade, a
de vista. Para a ABNT (2005, p. ix), “segurança
disponibilidade, a confidencialidade, a
da informação é a proteção da informação contra
autenticidade, a irretratabilidade e a atualidade
vários tipos de ameaças para garantir a
da informação em todo o seu ciclo de vida.”
continuidade do negócio, minimizar o risco ao
(BRASIL, 2001, p. 3).
negócio, maximizar o retorno sobre os
investimentos e as oportunidades de negócio.”
Sintetizando o que foi apresentado, têmÉ necessário acrescentar que devem ser
se, segundo Freitas e Lauro (2009, p. 2), que a
preservadas a confidencialidade, a integridade e
segurança de informações visa garantir a
a disponibilidade da informação; e, ainda, a
integridade, confidencialidade, autenticidade e
autenticidade, a responsabilidade, o não repúdio
disponibilidade das informações processadas por
e a confiabilidade. (ABNT, 2005, p. 1)
uma organização.
A esse respeito, o Decreto nº 3.505, no
Dessa forma, a grande massa das
inciso II do seu artigo 2º, traz o seguinte
organizações existentes no mundo atual está
conceito:
preocupada com a segurança de suas informações
“Segurança da Informação: proteção dos sistemas e, por causa disso, vem investindo uma grande
de informação contra a negação de serviço a quantidade de recursos nesse objetivo. Nesse
usuários autorizados, assim como contra a contexto, praticamente, todas as empresas
intrusão, e a modificação desautorizada de dados possuem em seus quadros pessoas destinadas a
ou
informações,
armazenados,
em cuidar dessa questão.
processamento ou em trânsito, abrangendo,
Normalmente os profissionais de Tecnologia
inclusive, a segurança dos recursos humanos,
da
Informação
são os responsáveis pela
da documentação e do material, das áreas e
segurança
da
informação
nas organizações.
instalações das comunicações e computacional,
Esses
profissionais
estão
sempre
buscando novos
assim como as destinadas a prevenir, detectar,
meios
para
manter
disponibilidade,
integridade e
deter e documentar eventuais ameaças a seu
confidencialidade
das
informações
de suas
desenvolvimento” (BRASIL, 2000, p. 2).
organizações, lançando mão de todas as
Esses
conceitos
trazem
ideias tecnologias e procedimentos disponíveis.
complementares, uma vez que o primeiro Normalmente, esses recursos são regulados por
permanece focado na proteção da informação normas e padrões internacionais, criados para
propriamente dita e no seu impacto nos negócios; estabelecer diretrizes e princípios para melhorar
e o segundo, de uma forma mais abrangente, a gestão de segurança da informação nas
inclui, na perspectiva de segurança, os sistemas organizações, como é o caso da família de normas
de informação, os recursos humanos, a ABNT NBR ISO/IEC 27000.
documentação, o material, enfim, quase que a
Nota-se que, segundo aponta Holanda
organização como um todo. Mas, para entender
(2006,
p. 1), atualmente existe uma tendência
melhor o conceito de segurança da informação,
muito
forte de adoção dessas normas no
faz-se necessário verificar outras definições,
mercado,
sensibilizado pela importância de se
como a apresentada na Instrução Normativa nº
proteger
as
informações, que se constituem em
01 do GSIPR, a seguir:
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
ativo essencial para os negócios de qualquer
Visto dessa forma, esse conjunto de
empresa, e devido a uma grande aceitação dos informações manipulado pela Marinha, Exército
padrões ISO como referencial, conforme observa e Aeronáutica constitui-se em ativo que merece
Caubit (2006, p. 2).
especial atenção com relação à segurança da
informação.
Dentro desse cenário, é fácil deduzir que,
de forma generalizada, são implementadas
Certo, portanto, que a questão de
medidas de segurança da informação nas diversas segurança da informação para as organizações
organizações dos mais variados setores da militares possui um peso diferenciado de
sociedade e dos negócios.
importância, devendo, então, ser tratada com
extrema seriedade e responsabilidade; mesmo
“As medidas de segurança são um conjunto de porque as unidades militares, por sua condição
práticas que, quando integradas, constituem uma constitucional, deveriam ser exemplos nas
solução global e eficaz da segurança da questões relacionadas à segurança, sejam elas
de qualquer ordem.
informação.” (ALASI, 2006, p. 60).
A norma ABNT NBR ISO/IEC 27002 traz esse
conjunto de práticas, definido através de
controles, dentre os quais figuram o documento
da política de segurança da informação; a
atribuição de responsabilidades para a segurança
da informação; a conscientização, a educação
e treinamento em segurança da informação; o
processamento correto nas aplicações; a gestão
de vulnerabilidades técnicas; a gestão da
continuidade do negócio; a gestão de incidentes
de segurança da informação e as melhorias.
Souza Neto (2009, p. 19) destacou a
importância da segurança da informação efetiva
nos órgãos e entidades da Administração Pública
Federal (APF), uma vez que a Constituição Federal
(1988) vincula a Administração Pública aos
princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência. As Forças
Armadas, que também integram a APF, possuem
responsabilidade ainda maior nessa questão,
porque, segundo o previsto no artigo 142 da
Constituição Federal (1988), as Forças Armadas
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e da lei e da ordem, isto
é, são responsáveis pela defesa nacional em
várias vertentes.
Portanto, por uma questão de concepção
e vocação inata das Forças Armadas, as unidades
que compõem cada força manipulam informações
que, além de serem vitais para a existência das
próprias organizações militares, analogamente a
qualquer outra organização, são, muitas das
vezes, vitais para o Estado Brasileiro e para a
defesa da Pátria.
EsPCEx, onde tudo começa
O Exército Brasileiro como Força Armada
é, portanto, corresponsável pela segurança
dessas informações do Estado Brasileiro, além
de ser o responsável direto por essa questão no
âmbito nacional, como prevê a Estratégia
Nacional de Defesa.
***
Bibliografia
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
Tecnologia da informação – Técnicas de segurança – Código de
prática para a gestão da segurança da informação: ABNT NBR ISO/
IEC 27002:2005. 2a. ed. Rio de Janeiro, 2005.
ALASI – ACADEMIA LATINO-AMERICANA DE SEGURANÇA
DA INFORMAÇÃO. Curso Básico de Segurança da Informação.
Módulo 1. Brasil: 2006, 65p.
BRASIL. Constituição Federal, 1988.
BRASIL. Decreto n° 3.505-PR, de 13 de junho de 2000. Institui a
Política de Segurança da Informação e Comunicações nos órgãos e
entidades da Administração Pública Federal. Diário Oficial da União.
Brasília, DF, 14 jun. 2000, Seção 1, p. 2.
BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Portaria n° 483Cmt EB, de 20 de setembro de 2001. Aprova as Instruções Gerais de
Segurança da Informação para o Exército Brasileiro (IG 20-19).
CASANAS, Alex Delgado Gonçalves, MACHADO, Cesar de Souza. O
impacto da implementação da norma NBR ISO/IEC 17799. Módulo
Security Magazine: 2006, 8p. Disponível em: <http://
www.abepro.org.br>. Acessado em: 30 maio 2010.
CAUBIT, Rosângela. O que é a ISO 27001, afinal? Módulo: 2006, 2p.
Disponível em: <http://www.modulo.com.br>. Acessado em: 30 maio
2010.
FREITAS, Marcus Vinicius Maia de. LAURO, José. Políticas de
Segurança da Informação. Rio de Janeiro: Universidade Estácio de
Sá, 2009. 22p. Pós- Graduação em Segurança da Informação. Disponível
em: <http://www.viniciusmaia.com.br>. Acessado em: 30 maio 2010.
GSIPR – GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL DA
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Instrução Normativa GSI nº 1, de
13 de junho de 2008: Disciplina a gestão de segurança da informação
e comunicações na administração pública federal, direta e indireta, e
dá outras providências. Brasília, junho 2008. Publicada no DOU nº
115, de 18 Jun 2008 – Seção 1. Disponível em: <http://
dsic.planalto.gov.br>. Acesso em: Maio de 2011.
51
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
HOLANDA, Roosevelt de. O estado da arte em sistemas de gestão da
segurança da Informação: Norma ISO/IEC 27001:2005. Módulo
Security Magazine: 2006, 3p. Disponível em: <http://
www.modulo.com.br>. Acessado em: 30 maio 2010.
MONTEIRO, Iná Lúcia Cipriano De Oliveira. Proposta de um Guia
para Elaboração de Políticas de Segurança da Informação e
Comunicações em Órgãos da Administração Pública Federal. 2009.
67 f. Monografia de Conclusão de Curso (Especialização) –
Departamento de Ciência da Computação, Instituto de Ciências Exatas,
Universidade de Brasília.
SOUZA NETO, João. Política e Cultura de Segurança: GSIC051
(Notas de Aula). Curso de Especialização em Gestão da Segurança da
Informação e Comunicações: 2009/2011. Departamento de Ciências
da Computação da Universidade de Brasília. 2010. 33 p.
(*) O Major Inf Sergio da Costa Ferreira foi aluno da EsPCEx, formando-se em 1988, é Bacharel
em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN – 1992), Mestre em
Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO – 2000), graduado em
Tecnologia de Sistemas de Informação pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC
– 2005) e está concluindo uma pós-graduação Lato Sensu em Gestão de Segurança da
Informação e Comunicações pela Universidade de Brasília (UnB). Exerceu a função de
Comandante de Pelotão de Alunos no período de 1996 a 1999 e atualmente é o Chefe da
Divisão de Tecnologia da Informação da EsPCEx.
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Exposição de Pinturas
(27 de setembro de 2011)
Tema: A Torre Duque de Caxias e o Pátio Agulhas Negras
Modalidade: óleo-acrílico
Artista Profissional: Joel Gonçalves
EsPCEx, onde tudo começa
53
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
O Projeto Arquitetônico da Escola Preparatória de
Cadetes do Exército
Davi Horr (*)
Auxiliar da Seção de Licitações e Contratos
Para a concretização do ideal de possuir
em seu território uma escola preparatória do
Exército Brasileiro (EB), o Governo e a Sociedade
paulista passaram por longa e difícil negociação
para esse projeto. Haviam sido analisadas várias
propostas sobre a aquisição do terreno e também
do financiamento da construção do prédio. Por
fim, ficou acordado, numa primeira fase, que o
Estado de São Paulo arcaria com todos os custos
da compra do terreno, conforme fica determinado
no Decreto-Lei nº 13.906, de março de 1944,
que assim dispõe sobre a aquisição de imóveis
do então Interventor o Senhor Fernando de Souza
Costa.1
Também restou a responsabilidade pela
idealização do projeto, a condução e a
concretização do empreendimento, considerado
épico, ao Governo paulista. Depois de autorizado
pelo responsável administrativo do Estado-Membro, foi determinado à Secretaria de Obras
Públicas (DOP) o início dos procedimentos
administrativos para a construção da Escola
Preparatória de Campinas (EPC), como pode ser
extraído do Diário Oficial do Estado de São Paulo:
“(...)
II) – Projetos:
O Projeto arquitetônico e a Fiscalização das
Obras da Escola Preparatória de Cadetes de
Campinas estão a cargo da Diretoria de Obras
Públicas do Estado de São Paulo. A execução
do referido projeto e desenvolvimento do mesmo
está sendo efetuada pela Sociedade Construtora
Brasileira Ltda, e parte relativa às instalações
elétricas está a cargo da Sociedade Técnica de
Instalações Gerais S. A., conforme contrato em
anexo”. 2
porte e destaque nacional, em face da
complexidade do projeto. Para as obras de
construção da EPC foi contratada a Sociedade
Construtora Brasileira (SCB), 3 herdeira da
Companhia Construtora de Santos (CCS), de
propriedade de Empresário da Construção Civil
de grande destaque, o Dr. Roberto Simonsen,4
figura de extraordinário poliformismo, projetandose no vasto cenário da vida nacional. Na década
de 1920, mercê de sua reconhecida inteligência
e pelo seu criterioso e dinâmico trabalho como
Diretor-Presidente da CCS, apresentava obras
monumentais em várias cidades pelo Brasil afora
e, dessa forma, é vencedor em disputadas
concorrências para contratos de construção de
quartéis destinados ao Exército Nacional, assim
como para outras obras de vulto.5 E para as
instalações elétricas e de força, foi contratada
a Sociedade Técnica de Instalações Elétricas
S.A. (STI).6
Eram dois os contratos para a construção
da Escola Preparatória de Campinas: um cujo
objeto era a execução de todas as obras da
construção, firmado junto à SCB, datado de 25
de julho de 1944; o outro, tendo como objeto a
instalação de luz e força, ficou sob a
responsabilidade da STI, datado de 26 de agosto
de 1946. Os contratos foram firmados com a
Administração do Estado de São Paulo, na
ocasião representado pela Secretaria da Viação
e Obras Públicas – Diretoria de Obras Públicas.7
Herdeira de todo esse prestígio, a SCB tinha
como administradores responsáveis para o
desenvolvimento de projetos os seguintes
profissionais de destaque nacional na área de
engenharia e arquitetura: Dr Roberto Simonsen,
Para cumprimento da ordem do Governador, Dr Mário Freire, Dr Oscar Egídio de Araújo, Dr
ratificada pela Assembleia do Estado de São Francisco Teixeira da Silva Telles, Dr Pérsio P.
Paulo, foram contratadas empresas de grande Mendes e Dr Mário Freire Filho.8
1 CAPPELLANO, Jorge Luiz Pavan. Memorial da Escola Preparatória de Cadetes do Exército: da rua da Fonte à Fazenda
Chapadão, 65 anos de história, 1940 a 2005. Campinas: Brasil, 2007.
2 SÃO PAULO. Secretaria da Viação e Obras Públicas. Diretoria de Obras Públicas. Diário oficial do Estado de São Paulo dos
Estados Unidos do Brasil. Diário da Assembleia Legislativa. Ano LXV – nº 72. 31 Mar 55. p 44 e 45.
3 Ibidem
4 RODRIGUES, Olao. Veja Santos. 2º Ed. São Paulo: Santos, 1975.
5 Ibidem
6 Cf nota 2
7 Cf nota 2
8 RODRIGUES, Olao. Veja Santos. 2º Ed. São Paulo: Santos, 1975.
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
O profissional designado para projetar a
Escola Preparatória de Campinas foi o EngenheiroArquiteto Hernani do Val Penteado, que pertencia
aos quadros funcionais da Diretoria de Obras
Públicas de São Paulo, apresentando sua intenção
plástica decorrente de um ideário estético
aprimorado e vasto conhecimento histórico, como
poderemos acompanhar nas maquete, desenhos
e plantas. Outra obra de magnífica projeção do
Dr Val Penteado, que evidencia seu valor
profissional e artístico, é o prédio do Aeroporto
de Congonhas em São Paulo, onde ele atuou
também como artista plástico com suas aquarelas
em paredes do prédio.9
Fazendo parte do projeto para a
construção da EPC, o Dr Hernani confeccionou
em torno de 550 plantas10 e uma maquete, com
uma riqueza de detalhes que surpreende até o
mais familiarizado com projetos arquitetônicos
de grandes engenheiros e arquitetos.
Nas plantas do projeto e fiscalização da
Diretoria de Obras Públicas, que apresentam todo
o programa, verifica-se a visão do Engenheiro-Arquiteto, que planeja toda a estrutura
necessária para a vida administrativa e de ensino
preparatório de uma escola militar, demonstrando
seu alargado conhecimento das necessidades
militares e acadêmico-militares da época, como
também sua sustentação no futuro, tanto para
o prédio, quanto para o ensino.
Na maquete, nos desenhos e nas plantas
podemos ver meticulosos detalhes, inclusive das
áreas internas, com destaque para as portas,
vitrais e tetos ornamentados, demonstrando
como o autor vislumbrava a Escola Preparatória
de Campinas e, também, como determinava os
traços arquitetônicos, os elementos decorativos
a serem aplicados na construção da Escola. Ainda
pode ser destacado que fazia parte do projeto o
paisagismo, com ruas, jardins, chafarizes,
bosques, praças, vislumbrando a configuração
final.
EsPCEx
que se daria ao prédio principal e a todas as
demais obras necessárias para se concretizar o
projeto da Escola. Para resolver esse problema,
o Governo paulista adquiriu mais uma faixa de
terra, destinada à ampliação da construção
proposta pelo arquiteto. Os procedimentos legais
para esse fim, bem como a autorização para a
aquisição da nova gleba de terra destinadas à
ampliação do terreno da EPC encontram-se no
corpo do Decreto-Lei nº 14.259, de 27 de outubro
de 1944.11
Temos no seu projeto bem identificado qual
foi o seu objetivo. Pode-se ver claramente que
se trata de uma escola, já demonstrando sua
preocupação com a conservação e preservação
do prédio, pois
“o uso do edifício nas condições previstas pelo
projeto é, já de início, o primeiro fator de sua
conservação garantida. Realmente, a satisfação
integral do programa é condição básica de
preservação da integridade de uma obra
arquitetônica.”12
No projeto, pode-se identificar uma série
de símbolos que remete à arquitetura militar
aplicada em quartéis e fortes, tais como: a torre
como observatório e demonstração de
segurança, as guaritas de vigia e o Corpo da
Guarda como acesso principal, demonstrando ser
uma perfeita conjectura de escola-quartel. Chama
a atenção o pórtico de entrada, de inspiração
neocolonial, formando um belíssimo conjunto com
a fachada da Escola e com o programa do prédio.
Logo no início dos projetos, verificou-se
que o terreno seria pequeno para a dimensão
9 REIS FILHO, Nestor Goulart. Aspectos da história da engenharia civil em São Paulo de 1860-1960. São Paulo: Livraria
Kosmos Ed., 1989. p. 230.
10 Cf nota 7
11 SÃO PAULO. Decreto-Lei nº 14.259, de 27 de outubro 1944. Diário Oficial do Estado de São Paulo dos Estados Unidos do Brasil.
Disponível em em <www.al.sp.gov.br/repositorio/legislativo/decreto%20lei/1944/decreto-lei%20n.14259,%20de%2027.10.1944.htm
>. Acesso em 11 Ago 11.
12 LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 67-68.
EsPCEx, onde tudo começa
55
EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Como observava John Ruskin, teórico da
preservação do século XIX, em relação à
importância de construir prédios duráveis, pois
assim:
“com a passagem do tempo, que a arquitetura
vai se impregnando de vida e dos valores
humanos”.11
Hoje a Escola Preparatória de Campinas,
atual Escola Preparatória de Cadetes do Exército,
faz parte incontestável da história de Campinas
e Estado de São Paulo, em conjunto com o Ensino
Militar do Exército Brasileiro e, em especial, para
a historicidade da arquitetura.
***
(*) 2º Sgt Músico Davi Horr. Possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do ItajaíUNIVALI (2002). Pós-Gradução Lato Sensu em Direito Administrativo Aplicado pelo Complexo
de Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC) e Pós-Graduação em História Militar pela
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). É aluno de Mestrado do Programa de
Arquitetura, Tecnologia e Cidades da UNICAMP. Atualmente, é Auxiliar da Seção de Licitações
e Contratos da EsPCEx.
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Arcos Romanos
Foto: TF De Souza
Um dos mais belos detalhes arquitetônicos
do prédio da EsPCEx é a existência de inúmeras
passagens e ornamentos em forma de arcos
romanos. As fotografias do canteiro de obras do
início da construção do prédio nos revelam uma
tecnologia que hoje já não se usa mais, a não
ser para atribuir um valor arquitetônico e artístico
muito além da simples aparência do edifício.
Mesmo para o início da década de 1940,
essa técnica de construção de arcos romanos
poderia ser interpretada como uma forma de
valorizar, ainda mais, essa belíssima construção
em estilo colonial espanhol. É preciso ressaltar,
ainda, que o arquiteto Hernani do Val Penteado
era uma das maiores autoridades de sua época,
quando o assunto era arquitetura colonial e,
possivelmente, empregou essa tecnologia para
melhor identificar sua obra com um período da
história.
a descrita. As pedras e a massa foram
substituídas por tijolos e reboco. Na construção
da curva dos arcos, não foram empregadas
armações de ferro, mas, sim, modelos de madeira.
A estabilidade dos arcos foi obtida pela oposição
de forças estabelecida pela colocação dos tijolos
somadas ao reboco, técnica muito semelhante à
utilizada na antiguidade, diferenciando-se apenas
pelo tipo e qualidade dos materiais utilizados.
O Primeiro Desenho da Escola data de 30
de agosto de 1944, ano em que teve início a
construção desse histórico edifício, que haveria
de abrigar inúmeras gerações de alunos e
tradições de formação do ensino preparatório
do EB.
O magnífico edifício da EsPCEx não guarda
apenas os grandes momentos da formação de
nossos alunos, mas é, também, depositário da
memória de um momento especial das técnicas
Na antiguidade, a construção de passagens de construção de uma época.
em forma de arcos nas edificações era a mais
***
utilizada, principalmente pelos romanos, que
Jorge Luiz Pavan Cappellano-Cel R1
aperfeiçoaram e dominaram essa tecnologia.
Nesse período, já se conhecia uma massa para
Professor de Português e Adm Memorial da
assentamento de pedra, obtida a partir da cal e
EsPCEx
do barro (sedimento vulcânico), que tinha alguma
resistência, mas que sozinha era insuficiente para
garantir a segurança de formas sofisticadas, como
a dos arcos romanos. Para tornar possível esse
tipo de construção, eram fabricadas caixas de
madeira em forma de arco junto às bases das
passagens da edificação. As pedras eram
cortadas, uma a uma, em forma de curva, e
assentadas a partir das bases do arco. A última
pedra a ser colocada era a do centro do arco.
Com a retirada da armação, a pressão exercida
pelas pedras garantia a estabilidade da
construção.
Na construção dos diversos arcos que
integram o conjunto arquitetônico da EsPCEx,
foi empregada uma técnica muito parecida com
EsPCEx, onde tudo começa
Foto: Registro do Histórico-Acervo do Memorial da EsPCEx
Caixas de Madeira em Forma de Arco
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Exposição de Pinturas
(27 de setembro de 2011)
Classificação: 1º Lugar
Tema: Praça Cidade de Campinas - EsPCEx
Modalidade: óleo sobre tela
Artista Amador: Leonardo Ávila Campana
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Criação do Brasão da Turma
General Pitaluga
(registro)
No dia 12 de dezembro 2011, em formatura no Pátio Agulhas Negras, presidida pelo General
de Exército Adhemar da Costa Machado Filho, Comandante Militar do Sudeste, foi lançado o
Brasão da Turma General Pitaluga.
O aluno Winston, melhor classificado no curso da Escola no corrente ano, fez a leitura de um
texto alusivo ao brasão da turma:
“O brasão da turma foi criado para tornar-se um dos emblemas mais perpetuadores e
significativos da passagem da Turma General Pitaluga pela EsPCEx e de sua incorporação ao
Exército Brasileiro. O brasão representa a força juvenil de uma nova turma de futuros cadetes e
oficiais de Caxias, amalgamada e forjada pelos mais caros valores e tradições da Força Terrestre.
No canto superior esquerdo, o brasão da EsPCEx, Onde Tudo Começa, simboliza o berço da sólida
formação militar. No canto superior direito, a inscrição numérica representa os 532 alunos que
foram matriculados no dia 12 de fevereiro de 2011 no curso da EsPCEx, iniciando juntos e em sã
camaradagem a jornada rumo ao oficialato. No centro do brasão, as lanças da nobre arma de
cavalaria, sustentadas ao fundo pelo escudo da Força Expedicionária Brasileira, fazem alusão ao
patrono da turma e que a batiza com seu nome, General Plínio Pitaluga. Estando entre os mais
destacados heróis brasileiros, o Gen Pitaluga comandou o 1º esquadrão de reconhecimento da FEB
no teatro de operações da Itália. Oficial possuidor de elevado espírito de decisão e coragem,
liderou de maneira singular seus homens rumo à vitória e serve de inspiração e exemplo aos alunos
de 2011. O emblemático brasão da turma Gen Pitaluga, além de manter acesa a chama dos inabaláveis
valores do passado, incendeia os corações dos alunos de hoje e descortina-lhes um horizonte de
sonhos e virtudes.”
EsPCEx, onde tudo começa
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EsPCEx
Revista Pedagógica 2011
Juramento à Bandeira
(registro referente a 2012)
No dia 18 de agosto, no tradicional Pátio Agulhas Negras da EsPCEx, foi realizada a cerimônia
de Juramento à Bandeira da turma de alunos incorporada no corrente ano. A Formatura foi presidida
pelo Exmo Sr. Gen Div Fernando Vasconcellos Pereira, Diretor de Formação e Aperfeiçoamento.
Nesta data, também foi consagrado o nome de batismo da turma de 2012, que passou a se
chamar “Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti”.
De acordo com o Regimento Interno da EsPCEx, o Al Felipe Araújo de Sousa, do 5º Pel da 1ª
Companhia de Alunos, por ter conquistado, até a presente data, os melhores resultados no Ensino
Acadêmico e na Instrução Militar, recebeu o Estandarte-Distintivo da Escola que será conduzido
por ele em todas as formaturas em que a Guarda-Bandeira estiver incorporada.
Para selar os compromissos que os militares assumem nesse sagrado cerimonial, os alunos,
perante à Bandeira do Brasil, à Pátria e ao Exército Brasileiro, realizaram o solene juramento:
“Incorporando-me ao Exército Brasileiro, prometo cumprir
rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado,
respeitar os superiores hierárquicos, tratar com bondade os
subordinados e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cuja honra,
integridade e instituições defenderei com o sacrifício da própria vida”
O Comandante da Escola, Cel Fábio Benvenutti Castro, assinalou esse momento histórico
para a Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti com vibrante discurso dirigido aos
compromitentes, a seguir transcrito:
“Senhoras e Senhores que com suas presenças abrilhantam essa cerimônia, hoje
experimentamos uma jornada memorável. Uma jornada em que jovens, brasileiros, imbuídos dos
mais nobres sentimentos cívicos se apresentam perante Bandeira do Brasil, a nossa bandeira, e
prestam o solene juramento à Pátria. Reconhecemos essa missão de grandeza.
Nesse ponto, compartilhando a emoção e os sentimentos dos alunos da Turma
Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti, na qual feitos heroicos foram realizados pelos nossos
patronos em defesa da nossa Pátria, gostaria de expressar os verdadeiros sentimentos desses
nossos jovens soldados – sei que eles individualmente gostariam de assim se expressar. Incorporo
seus pensamentos e cumpre-me traduzi-los. Repito, passo a traduzir os pensamentos dos alunos:
Inicialmente, pai, mãe, parentes e amigos gostaria de agradecer a confiança que depositaram
em mim. Em todos os momentos nessas jornadas, senti seus estímulos, suas preces, que
venceram as barreiras físicas e fortificaram minha vocação – a vocação de um soldado, de um
soldado de Caxias.
Hoje, pai, mãe, parentes e amigos, posso lhes afiançar que ingressei em uma das mais
respeitadas instituições da Nação. Uma instituição, correta, justa, que valoriza o mérito, a
disciplina e que se mantém alinhada com seu passado, garantindo os poderes constituintes do
nosso Brasil.
Aqui aprendi, aprendi a ser soldado. Amadureci, cresci como homem, como aluno, como
cidadão, que tem o dever de amar a Pátria. Sei que dedico a seiva da minha juventude a esse
Exército que tanto amo e me sinto reconfortado, particularmente porque o que faço é minha
vocação.
Ainda, como aluno, gostaria de agradecer a meus instrutores, professores, aos praças e
ao pessoal civil que aqui serve. Sei que vocês trabalham diuturnamente, sem medir esforços, na
maioria das vezes relegando o descanso e o lazer, para que eu seja um militar capaz de
corresponder às demandas inerentes à Força Armada – Exército no Século XXI. Meu muito
obrigado. Eu não os decepcionarei. Eu não decepcionarei vocês – pai, mãe e parentes. Eu não
decepcionarei minha Pátria, meu país, meu Brasil.
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagógica 2011
EsPCEx
Após irradiar o pensamento dos alunos – Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti,
sinto-me confortável para nesse momento dirigir-me aos meus instruendos. Vocês são a razão
de ser dessa Escola. Vocês são o futuro do Exército. O que aprendem aqui são atributos, valores,
procedimentos inerentes à vocação que livremente escolheram. Alinhem-se e incorporem sempre
os exemplos que lhes são passados, desenvolvam camaradagem, tenham sensibilidade para
trabalhar ao lado da justiça, confiem... confiem em vocês, como nós confiamos... exijam de
vocês sempre as melhores performances pessoais e profissionais. Sejam sempre bons filhos,
bons esposos, bons pais... assim serão bons soldados... os soldados que esperamos que vocês
sejam...garantindo nossas tradições hoje, como soldados do amanhã. Que o Senhor Deus dos
Exércitos lhes ilumine nas fantásticas jornadas castrenses. Aqui se aprende a amar a Pátria.
Assina: Fábio Benvenutti Castro. Comandante da EsPCEx.”
Pais, parentes e amigos dos compromitentes, visivelmente emocionados, assistiram a esse
momento inesquecível, que haverá de permanecer vivo, para sempre, no coração e na memória de
cada um desses alunos.
Também prestigiaram com suas presenças, ao solene compromisso, as seguintes autoridades:
General de Brigada Mario Antonio Ramos Antunes – Comandante da 12ª Brigada de Infantaria
Leve Aeromóvel; General de Brigada Samuel da Silva Ricordi – Chefe do Estado-Maior do Comando
Militar do Oeste; General de Brigada Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva – Comandante da 11ª
Brigada de Infantaria Leve e Comandante da EsPCEx no período de 2010 a 2011; General de
Brigada Alberi Silveira DIAS; General de Brigada Benedito Lajóia Garcia; General de Brigada Mario
de Oliveira Seixas – Comandante da EsPCEx no período de abril de 1996 a janeiro de 1998; Cel
Edson Bellini Chiavegatto – Chefe do Estado-Maior da 11ª Brigada de Infantaria Leve; Cel Mauro
Sinott Lopes – Comandante do Corpo de Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras; Cel
Francisco Ronald Silva Nogueira – Comandante da EsPCEx no período de janeiro de 1992 a janeiro
de 1994; Desembargador do TRT DR. Manoel Carlos Toledo, e Ten Cel Aviador Marco Antonio
Gonçalves – Comandante do Corpo de Alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar.
***
EsPCEx, onde tudo começa
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Revista Pedagogica 2011