Revista Pedagógica 2011 EsPCEx REVISTA PEDAGÓGICA 2011 – 14ª Edição – Escola Preparatória de Cadetes do Exército Comando da Escola Fábio Benvenutti Castro – Coronel Comandante e Diretor de Ensino Comando da Comando daEscola Escola Publicada pela Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Campinas,SP. Fone: (0xx19)37442000,Fax:(0xx19) 32411373 www.espcex.ensino.eb.br, ISSN 1677- 8359. Nossa Capa Pedro Paulo de Araújo Alves – Coronel Décio Luis Schons ––Tenente-Coronel Décio Luis Schons Tenente-Coronel Subcomandante e Subdiretor de Ensino Comandante e Diretor de Comandante e Diretor deEnsino Ensino Fernando Bartholomeu Fernandes Luciano LucianoPuchalski Puchalski––Tenente-Coronel Tenente-Coronel – Tenente-Coronel – de Subcomandante e Subdiretor Subcomandante e Subdiretor deEnsino Ensino Comandante do Corpo de Alunos ********************************* ********************************* Divisão dede Ensino Divisão Divisão deEnsino Ensino Claúdio Magni Rodrigues––Coronel Jorge Luiz Cappellano Jorge LuizPavan Pavan Cappellano Coronel – Coronel R1de –deEnsino Chefe da Divisão Chefe da Divisão Ensino Chefe da Divisão de Ensino João JoãoAlves Alvesde dePaiva PaivaNeto Neto––Coronel Coronel Wilson Roberto Rodrigues Chefe da Seção de Ciências Chefe da Seção de CiênciasNaturais Naturais – Coronel R1 – Chefe da Seção de Ciências Matemáticas José Francisco Martinez –– Coronel José Francisco Martinez Coronel Chefe da Seção de Ciências Chefe da Seção de CiênciasMatemáticas Matemáticas Hajime Kiyota – – Gil Hermínio Rocha ––Tenente-Coronel Gil HermínioCoronel Rocha R1 Tenente-Coronel Chefe da Seção de Ciências Sociais Comandante do Corpo Alunos Comandante do Corpode de Alunos Criação: Eduardo Tramonte Cappellano Guaraci Alexandre Vieira Collares Paulo Roberto Loyolla Kuhlmann ––Major Paulo Roberto Loyolla Kuhlmann Major – Coronel R1 – Chefe da Seção de Ciências Sociais Chefe da Seção de Ciências Sociais Chefe da Seção de Comunicação e Expressão Edson Edsonde deCampos CamposSouza Souza––Capitão Capitão José Francisco Martinez Chefe da Seção de Comunicação Chefe da Seção de ComunicaçãoeeExpressão Expressão – Coronel R1 – Chefe da Seção de Idiomas ********************************* ********************************* João Alves de Paiva Neto Direção da Revista: – Coronel R1 – - Coronel Jorge Luiz Pavan Cappellano Chefe da Seção de Ciências Naturais Revisão: Edson de********************************* Campos Souza – Capitão Direção da Revista e Diagramação: Jorge Luiz Pavan Cappellano – Coronel R1 Diagramação: Wallace Fauth – 1º Tenente Arte Final: Eduardo Tramonte Cappellano – Publicitário Fotografia: Revisão: Edison CaldeiraSouza– Faustino e Edis Faustino Edson de Campos Major Fotolito e Impressão: EGGCF Fotolito e Impressão: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo EsPCEx, onde tudo começa A Nossa Capa reproduz imagens da fachada da EPSP (1940), da EPC (1959) e da atual EsPCEx. Na parte superior, à esquerda, vê-se a imagem que ilustrou a capa da primeira Revista Pedagógica, editada no ano do Jubileu de Ouro da EsPCEx e, à direita, o Brasão da EsPCEx. A capa assinala o ano de implantação do Ensino Superior na EsPCEx. **************************** Tiragem da Revista: 1000 exemplares Os conteúdos dos textos apresentados são de responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, as opiniões da direção da EsPCEx. - Distribuição Gratuita - 1 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Sumário Editorial Fábio Benvenutti Castro – Cel Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx......................05 A Escola de Ontem, de Hoje e a Visão de Futuro Jorge Luiz Pavan Cappellano – Cel R1 Professor de Português e Adm Memorial da EsPCEx............................................................................................................06 As Demandas Doutrinárias em Face da Evolução dos Combates Fábio Benvenutti Castro – Cel Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx......................08 Contextualização e Competência Guaraci Alexandre Vieira Collares – Cel R1 Professor de Português ................................13 Considerações sobre Geopolítica Oscar Medeiros Filho – Maj Professor de Relações Internacionais da AMAN .....................16 Liderança Emocional e Ação Docente Aline Marques Martins – 1º Ten Professora de Desenho Plano e Descritivo .......................21 Ser Educador/Mediador: o grande desafio Ana Claudia Rocha Barbosa – Pedagoga ..................................................................23 A Ansiedade Cognitiva e Somática no Esporte: efeitos psicológicos no período précompetição Márcia Maria Carvalho Luz Fornari – 1º Ten Psicóloga ................................................31 Sudão Helcio Miranda Duque Botelho – Ten Cel Comandante do Corpo de Alunos da EsPCEx .............34 Alfabetização, Leitura e Letramento: estratégias possíveis de norte a sul do Brasil Célia Cristina de Almeida Gauté – Maj Professora de Português .....................................41 Uma Visão da Importância da Informação e da Segurança da Informação para a Sociedade, para o País e para as Forças Armadas Sérgio da Costa Ferreira – Maj Chefe da Divisão de Tecnologia da Informação da EsPCEx .....................................................................................................................49 O Projeto Arquitetônico da Escola Preparatória de Cadetes do Exército Davi Hoor – 3º Sgt Auxiliar da Seção de Licitações e Contratos ...................................54 EsPCEx, onde tudo começa 2 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Arcos Romanos Jorge Luiz Pavan Cappellano – Cel R1 Professor de Português e Adm Memorial da EsPCEx..............................................................................................................57 A Criação do Brasão da Turma General Pitaluga (registro) ....................................59 Juramento à Bandeira (registro)...........................................................................60 EsPCEx, onde tudo começa 3 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Nossos Comandantes General de Exército Enzo Martins Peri Comandante do Exército General de Exército General de Divisão Ueliton José Montezano Vaz Fernando Vasconcellos Pereira Chefe do Departamento de Ensino e Cultura do Exército Diretor de Formação e Aperfeiçoamento EsPCEx, onde tudo começa 4 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx EDITORIAL EsPCEx – Onde se Aprende a Amar a Pátria Se existe algo com poder suficiente para transformar uma sociedade, esse poder está solidamente fundamentado na Educação. A Escola Preparatória de Cadetes do Exército é um estabelecimento de ensino vocacionado para receber jovens destinados à carreira militar, jovens que, no futuro, serão os oficiais do Exército Brasileiro. O Exército Brasileiro é uma instituição moderna, dinâmica, que frequentemente se adapta às novas tendências administrativas e, sobretudo, operacionais, alinhando-se, ao longo da sua exitosa história, com o que de mais moderno existe no concerto da arte militar. As diferentes tecnologias impactam, em maior ou menor grau, os atores responsáveis pela execução da defesa. Destarte, a tecnologia impacta, também, o Exército Brasileiro, o que lhe impõe necessárias transformações. Essas transformações, mandatórias para as Forças que pretendem se manter no estado da arte quanto ao emprego militar, tendem a balizar novas condutas, a desenvolver novas habilidades e a incorporar novos procedimentos, fruto de novos conceitos presentes pela nova dinâmica proporcionada pela tecnologia crescente. Em face desse cenário fluido e dinâmico, sobressai a importância e a responsabilidade de uma educação capaz de tornar o homem o agente protagonista das transformações ínsitas às Forças Armadas. Nesse escopo se insere a EsPCEx, estabelecimento de ensino que, há mais de 70 anos, vem iniciando a formação de jovens e educando-os de acordo com os preceitos seculares estabelecidos pelo Exército Brasileiro. Tendo como alicerce a necessária transformação do Exército, a EsPCEx, como Escola de Formação, adapta-se e implementa o ensino por competências a fim de Educar o material humano – os futuros oficiais, para que efetivamente deem as respostas esperadas pelo Exército, o Exército de Caxias, conhecido pelo Braço Forte e pela Mão Amiga, fatores de garantia e de integração nacional. Fábio Benvenutti Castro – Coronel Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx EsPCEx, onde tudo começa 5 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 EsPCEx, ONDE TUDO COMEÇA A Escola de Ontem, de Hoje e a Visão de Futuro Jorge Luiz Pavan Cappellano(*) Professor de Língua Portuguesa e Literatura O valor histórico da Escola poderia ser explicado, de uma forma simples, apenas pela sua magnífica arquitetura em estilo colonial espanhol. Trata-se de uma construção única, iniciada em 1944, que, além dos traços coloniais, preserva a tecnologia de engenharia e arquitetura de uma época, quando as grandes obras eram precedidas por detalhados desenhos, feitos de próprio punho, em papel vegetal. Outra característica interessante da metade do século XX, predominante nessa obra, foi o emprego de grande quantidade de operários, e de poucas máquinas, pois a maioria dos serviços de alvenaria era realizado manualmente. O arquiteto Hernani do Val Penteado, autor do Projeto Original da EsPCEx, criou uma fortaleza com paredes largas e estrutura muito forte, utilizando tijolos de barro, de tonalidade vermelha, assentados em paralelo, dois a dois, o que explica a resistência e a generosa espessura das paredes. Não há nada igual na cidade de Campinas e no Estado de São Paulo. de conquistas e vitórias, que, no decorrer dos anos, foi responsável pela formação de 71 turmas e de um valioso acervo histórico e cultural. Dos primeiros dias de 1941 até hoje, muitas coisas foram se modificando, quer pela própria evolução da sociedade, quer motivadas pelos constantes avanços tecnológicos. A Escola, sempre atenta, foi-se adaptando às novidades, impondo intenso ritmo de ensino e aprendizagem, o que lhe garantiu uma posição de vanguarda na área do Ensino Médio e uma excelência na preparação dos futuros cadetes da AMAN. Nesses mais de 70 anos, as grandes conquistas foram também entremeadas por grandes transformações no ensino, como a adoção do curso científico completo (atual Ensino Médio) em 1948, o funcionamento da Escola com apenas o 3º ano do Ensino Médio a partir de 1990, modelo que já havia sido adotado de 1940 a 1947. Em todas essas transformações, seus profissionais, civis ou militares, permaneceram firmes e determinados na missão de selecionar e preparar futuros cadetes, confirmando, em cada momento, o compromisso sagrado de despertar vocações e priorizar todos os meios disponíveis para melhor preparar os recursos humanos de que necessitam a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e o Exército Brasileiro (EB). A existência de um acervo composto por significativa coleção de peças históricas, reunidas nesses 71 anos – tais como monumentos, estátuas, pinturas, documentos, fotografias e tantos outros objetos – acrescentam – por seus referenciais artísticos, históricos e anímicos – inestimável valor ao magnífico conjunto No ano de 2010, o Departamento de Ensino arquitetônico e conferem especial notoriedade à e Cultura do Exército (DECEx) começou a belíssima edificação. desenvolver estudos para promover as Em cada recanto desse conjunto necessárias mudanças de atitude de seu público arquitetônico, há sempre um fato ou interno, sobretudo de professores e instrutores, acontecimento que merece ser lembrado e e a atualização curricular de todos os seus admirado. estabelecimentos de ensino, visando à modernização do Sistema de Ensino Bélico. Essa Essa septuagenária Escola Militar, criada iniciativa foi registrada no documento intitulado no início dos anos quarenta, no bairro da Bela Nova Sistemática para a Modernização do Ensino Vista, na cidade de São Paulo, e transferida para do Exército. Campinas nos primeiros dias de 1959, surpreende-nos não só pela beleza de seus traços Para proporcionar esse salto de qualidade, arquitetônicos, mas, também, pelo seu passado a EsPCEx, a partir de 2012, incluirá em seu EsPCEx, onde tudo começa 6 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx currículo os conteúdos do 1º ano do Curso Básico da AMAN de ensino superior, passando a se constituir o primeiro dos cinco anos de formação do oficial do EB. Nesse novo modelo, continuará, de forma integrada com o ensino acadêmico superior, a exercer sua vocação selecionadora e formadora dos futuros cadetes de Caxias. Para responder a esses desafios, a EsPCEx desenvolveu, de forma simultânea ao funcionamento do último ano de Ensino Médio, os novos currículos das disciplinas que irão compor a grade de disciplinas a partir de 2012. As transformações decorrentes da implantação desse novo modelo de ensino não se limitam aos campos materiais e técnicos, mas, sobretudo, buscam um novo profissional, preocupado com o seu autoaperfeiçoamento, consciente de que o que sabe hoje não será suficiente para responder às necessidades de uma sociedade dinâmica, em constante evolução, sintonizada com os avanços tecnológicos e a informação. Com a adoção da Nova Sistemática para a Modernização do Ensino do Exército, a EsPCEx continuará a desenvolver sua vocação vanguardista de ensino, em constante busca por novas formas de ensinar e aprender, proporcionando ao aluno experiências que favoreçam a aquisição de uma estrutura dinâmica de aprendizado e de aprimoramento cognitivo, afetivo e físico. *** (*) O Coronel R1 de Intendência e do Magistério Militar Jorge Luiz Pavan Cappellano foi aluno da EsPCEx, formando-se em 1972. Graduou-se na Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN em 1976. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais – EsAO (nível mestrado) em 1986. Especializou-se em Informática Aplicada à Educação Construtivista (pós-graduação) pela UNICAMP em 1997. É autor dos livros: “Memorial da EsPCEx, da Rua da Fonte à Fazenda Chapadão, 65 Anos de História” (2007) e do “Diário da Escola Preparatória de Cadetes de São Paulo” (2011). Atualmente é Professor de Português e Administrador do Memorial da EsPCEx. E-mail:[email protected] EsPCEx, onde tudo começa 7 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 As Demandas Doutrinárias em Face da Evolução dos Combates Fábio Benvenutti Castro (*) Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx A necessidade de mudança na doutrina vigente não pode apoiar-se somente em experiências passadas, com base em lições aprendidas, que, muitas vezes, não foram ratificadas pela prática sistemática. O acervo do conhecimento técnico-doutrinário deve ser coerentemente discutido, reavaliado e ponderado, sem que isso signifique dizer que haja qualquer tipo de crítica às orientações expedidas ou diretivas correntes. As discussões doutrinárias devem ser entendidas como contribuições válidas, não trazendo arranhões à hierarquia e à disciplina. Muito pelo contrário, o levantamento de novas ideias devem ressaltar, sobretudo, posicionamentos que utilizam outro enfoque, um ponto de vista diferente, que visam unicamente aos mesmos objetivos pretendidos pelo Comando – a ampliação da capacidade de defesa e de proteção da Pátria. Essas discussões, que visam à maturação doutrinária ou ao desenvolvimento de outra forma de conhecimento, estimulam o aperfeiçoamento do alicerce doutrinário que rege as forças em operação. Vale ressaltar que não há como evoluir se as modificações seguem a concordância hegemônica, se as experimentações são limitadas por fatores externos ou se os possíveis debates abordam temas superficiais. A linha contraditória de pensamento deve revelar ideias e conceitos ainda não colocados em prática ou ainda totalmente não revelados. A constante aplicação do conhecimento em exercícios ou em operações, bem como as revelações proporcionadas pela história militar recente, servem de ferramentas básicas para nortear o processo de revisão dos princípios que orientam a doutrina. O desapego ao préestabelecido, à rotina, às soluções previamente concebidas constituem-se em condições essenciais para a formulação de novos procedimentos doutrinários com vistas a ampliar a eficiência operacional e a maximizar condutas, de modo a contemplar a componente estratégica, EsPCEx, onde tudo começa em sentido amplo, e, em nível restrito, valorizar os aspectos eminentemente táticos e seus reflexos para a execução de tarefas específicas dos escalões mais elementares da Força. Necessariamente, a evolução doutrinária carece de um aperfeiçoamento cíclico e ininterrupto. De tempos em tempos, sob influência dinâmica de fatores que alteram as relações mundiais em todos os campos do conhecimento, as soluções doutrinárias de outrora e talvez as de hoje mereçam sofrer cuidadoso reestudo, visando provocar um redirecionamento de procedimentos ou mesmo para ratificar condutas e orientações até então creditadas como verdadeiras. “... cada Era tem tido suas formas peculiares de guerra.(...)Cada qual, portanto, tinha sua própria teoria de guerra e quem quiser compreender a guerra e suas manifestações deve lançar um olhar arguto às principais características (...) em cada Era determinada”. (Clausewitz, On War) O tempo é Senhor das transformações. As organizações concebidas para obter sucesso nos combates previstos para serem realizados no Século XXI carecem constantemente de reavaliações, a fim de se verificar sua contínua adequabilidade para as futuras missões ou mesmo para superar as crises que porventura poderão emergir num mundo cada vez mais complexo e multifacetado. Tais crises vão desde contendas internas, como as operações de garantia da lei e da ordem, como também missões internacionais, respeitada a carta das Nações Unidas. O espectro de missões atribuídas a forças militares que envolvem aspectos humanitários vem crescendo exponencialmente, fato que não pode ser descaracterizado no estudo das condicionantes doutrinárias do porvir. 8 Revista Pedagógica 2011 A Era da indústria de série, da produção em massa, deixou de ser decisiva na determinação das ilhas de modernidade. Com a inundação do conhecimento, provocada pelo enorme avanço da eletrônica e da informática, quem domina a tecnologia, o conhecimento, passou à vanguarda e tem maiores possibilidades de enfrentar com sucesso os cenários previstos para o milênio que se descortina. Os exércitos que sabem mais, que conhecem com mais profundidade, que dominam a tecnologia e suas ramificações, que se comunicam ininterruptamente e em segurança, que se deslocam mais rápido e de modo coordenado têm maiores chances de alcançar vitórias, impor sua vontade ao oponente, com menor desgaste e com o mínimo de baixas. Enfim, têm melhores condições de dominar a situação tática e influenciar o combate, mantendo a iniciativa. A partir da “Pax de Westphalia”, os exércitos passaram a definir as funções e as características das frações que os integravam. Cada arma possuía sua missão particular, que compunha um todo harmônico, indivisível. Todas elas, operando coordenadamente, proporcionavam condições para que as batalhas fossem vencidas. Existia um sincronismo implícito, desejável, de modo que as armas-base comandavam as ações principais e, via de regra, definiam a sorte dos enfrentamentos. Essa prática foi dominante na organização e na estruturação dos exércitos que se enfrentaram nos maiores combates bélicos do século passado. EsPCEx de certo modo restritivas, direcionavam o emprego tático das forças oponentes. As campanhas de ar, terra e mar eram planejadas, em sua maioria, com relativa antecedência a fim de possibilitar as coordenações mandatórias. A partir do momento em que a velocidade do combate foi considerada essencial para que a vitória fosse alcançada, novos meios, oriundos da revolução industrial, foram incorporados aos exércitos, o que provocou uma verdadeira mudança de paradigmas nos escalões responsáveis pela manutenção do comando e controle. Os procedimentos mecanizados em vigor foram, rapidamente, substituídos pelas ramificações eletrônicas, característica da informatização dos processos. Considerando esses novos meios, os sistemas de comando e controle, bem como o pessoal envolvido na rotina de trabalho, até então acostumados a operar em ritmo industrial, tiveram que rapidamente se estruturar a fim de acompanhar o avanço da tecnologia da informação, adaptando-se à rapidez dos processos comandados pela Era digital. O binômio velocidade-informação veio a proporcionar condições para que as frações táticas responsáveis pelos engajamentos tivessem possibilidade de impactar precisamente os adversários. Quem encontrasse e entendesse a situação primeiro, poderia se movimentar com mais precisão e, assim, orientar o combate de modo a conduzi-lo em vantagem. As informações processadas em tempo real passaram a fundamentar os procedimentos táticos em todos Os conflitos posteriores à II Grande Guerra os escalões. se sucederam e demonstraram a tendência determinante de que o emprego combinado das As decisões, gradativamente, ficaram armas-base, infantaria e cavalaria, apoiados pelas dependentes de informações precisas e ações da força aérea e por apoio de fogo preciso, oportunas, que passaram a fluir pelos novos cerrado ou não, seriam fundamentais aos novos sistemas em tempo real. A coleta dos dados conflitos. Tal aspecto foi ressaltado nos conflitos táticos, a busca de inteligência de combate nada árabe-israelenses, nos quais a velocidade, a mais é do que implementar conhecimento sobre a audácia, a liderança em todos os níveis de situação enfrentada, suas ramificações e comando e a flexibilidade foram essenciais à tendências. No Exército, a cavalaria, conquista da iniciativa das ações bélicas e, em particularmente a mecanizada, é a fração de síntese, responsáveis pela decisão dos conflitos. tropa responsável por nutrir o comando com as informações necessárias à tomada de decisão. Embora a letalidade dos armamentos tenha Em síntese, ela é, na essência, a fração de tropa sido implementada, sofrendo grande incremento portadora do conhecimento – fator fundamental na segunda metade do século XX, a técnica de para as operações de combate em todos os execução das batalhas permaneceu inalterada. cenários. O combate permaneceu atrelado a linhas definidoras de responsabilidade. Essas medidas, EsPCEx, onde tudo começa 9 EsPCEx O conhecimento, entre outros fatores, depende da capacidade de ver além do limite definido pelo campo visual, habilidade permitida quando há incorporação de sensores específicos que proporcionam essa ampliação do poder de combate da fração, retirando-a do contexto tradicional. As operações de inteligência, de levantamento de dados e por sua vez de reconhecimento tornam-se fundamentais a qualquer escalão de tropa encarregado de realizar operações táticas. A transição dessas operações para missões de combate dependem, em muito, das regras previstas para o engajamento. No entanto as armas-base devem estar preparadas para realizar as missões inseridas nesse contexto operacional. Em situações de combate, a condução de operações de reconhecimento é fundamental para o prosseguimento das ações. Hoje, não somente é necessária a condução de reconhecimentos, mas também se torna primordial que as operações de inteligência sejam conduzidas no nível tático. Quem, no passado, conduzia reconhecimento, na Era da tecnologia deve estar apto à condução de operações mais abrangentes, mais incisivas e capazes de preencherem o vazio de conhecimento dos difusos e complexos cenários atuais. As clássicas missões de reconhecer, prover segurança e combater transformar-se-ão em capacidade de realizar inteligência, prover segurança e combater. Revista Pedagógica 2011 que ser dado sem retardo, e na direção correta, a fim de continuar a transformação do Exército em uma Força mais eficaz, mobiliada por guerreiros do conhecimento, que operam e entendem o cenário tecnológico no qual estamos envolvidos. Confirmando a necessidade de adequação à guerra do conhecimento, em 1993 o professor visitante da Academia Militar de West Point, Paul Strassmann, afirma: “A história da guerra é a história da doutrina.(...) Temos uma doutrina para desembarques em praias, uma doutrina para bombardeios, uma doutrina para a batalha ar-terra, uma doutrina para o combate na selva, contudo não temos uma doutrina para a informação”. Com esse enfoque, para que ocorra esse ajuste, é necessária a preparação específica do homem. O combatente moderno deve receber instruções abrangentes. Deve possuir conhecimento do campo de batalha tradicional e do complexo ambiente assimétrico. Deve possuir, sobretudo, conhecimentos do combate irregular, porque muito provavelmente será empregado em ambientes irregulares, assimétricos. Esse direcionamento é sensível, pois o combate moderno demanda conhecimentos, inclusive, de ordem psicológica, além da essência técnica, para que o guerreiro do conhecimento possa operar com propriedade nesse difuso teatro O emprego combinado pressupõe quais de operações. armas-base tenham condições de operar em Não é com a simples aquisição de modernos estreita ligação. As funções combativas acabam equipamentos que se modifica a maneira de se mesclando. Hoje, há necessidade de que o combater. Somente a incorporação de novos e infante saiba, reconheça, oriente o esforço de modernos meios não capacita nenhum exército inteligência, e de que o cavalariano combata, ao ingresso na Era da informação. A mudança e dure na ação, opere sensores que ampliem sua a adaptação a esse novo tipo de combate é um capacidade de atualizar a situação tática trabalho longo, que deve ser desenvolvido por continuamente, enfim, esteja apto a realizar gerações que acompanham a evolução da arte operações de inteligência, não ficando preso da guerra, o que inevitavelmente contribui para somente à missão de reconhecimento, que limita que se fique familiarizado com o hiato técnicoseu emprego, e não possibilita ao escalão de operacional que se há de ser superado. Cada comando todas as informações necessárias à vez mais, o combatente deve possuir educação correta tomada de decisão ou ao perfeito integral, ajustada à sociedade, balanceada com acompanhamento da situação. conhecimentos técnicos e culturais, favorecendo Logicamente, a adequação de novos sua percepção do contexto humanístico em que sistemas faz parte de um longo processo de esteja inserido. A transformação requer mudança evolução e adequação do “modus faciendi”. Esse de processos, de hábitos e até mesmo de passo, por mais difícil que possa parecer, tem crenças, sem romper com o que vem dando certo EsPCEx, onde tudo começa 10 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx ao longo da história. A qualidade passa a ser propriedade, a já existente capacidade de valorizada em vez da quantidade desqualificada. combater e de realizar todo tipo de operações, inclusive incorporando a capacidade de realizar Além de se visualizarem alterações operações de inteligência, fato que tende a doutrinárias pela incorporação de novos meios, tornar o combatente moderno mais flexível, mais que demandam preparação diferenciada, faz-se especializado e mais instruído. necessário estimular o desenvolvimento e a tecnologia bélica para que conhecimentos A exemplo das brigadas Striker (EUA), que sensíveis sejam dominados, da pesquisa à combatem, reconhecem e executam operações produção, evitando-se a exclusiva e indesejável de inteligência em um variado repertório, as dependência do exterior. Acredita-se que o tropas mecanizadas, com pequenas combatente com tempo limitado de aprendizagem, incorporações de material, e algumas o que serve à Força por curto espaço de tempo, modificações organizacionais, estarão em possua profundas dificuldades de efetivamente condições mais favoráveis para operar no compreender o ambiente operacional do terceiro complexo ambiente operacional do início desse milênio. século, inclusive se tornando aptas a conduzir com sucesso as operações de paz que constam Do escopo, ressalta-se a importância do do compromisso do Exército, segundo orientação conhecimento para que qualquer ação possua prevista pela Carta das Nações Unidas. as mínimas chances de ser bem-sucedida. Na citação de Sun Tzu, que afirmava a necessidade É lícito afirmar, no entanto, que as do autoconhecimento e do conhecimento do modificações tornam-se mandatórias, a fim de inimigo para que a vitória fosse alcançada, aproximar a tropa responsável por alimentar o verifica-se a necessidade de os exércitos Comando de informações necessárias e possuem condições de realizar operações de fundamentais à decisão da Era do conhecimento. inteligência que venham a fornecer condições à As frações de tropas táticas não podem continuar transição para as operações de combate, com se adestrando e treinando como se fossem maior ou menor intensidade. combater em um cenário pertencente à II Grande Guerra. Gradativamente, a velocidade do combate sofre um significativo incremento, e os setores Por tudo isso e com base na história, de decisão necessitam de informações adequadas ponderar sobre doutrina, possibilidades e futuras a fim decidir com suficiente oportunidade. A modificações fazem importante parte do processo incorporação de sensores do tipo radares e evolutivo. Somente assim, pode-se almejar, de veículos não tripulados às tropas responsáveis maneira construtiva, o aperfeiçoamento gradativo pelo combate combinado por excelência de estruturas e procedimentos que são baseados poderão alimentar o Comando com o em experiências passadas, em um cenário que, conhecimento adequado à tomada de decisões. dada a tendência, não mais será válido ou A instrução e a especialização de frações de repetido. tropa capazes de maximizarem o emprego de Sabe-se, contudo, que o próximo combate nova tecnologia não é de simples execução. Há da próxima guerra não será combatido da mesma uma carência a ser respeitada. forma como foi o último combate do último Além disso, a tropa mecanizada carece de conflito. Para tanto, adaptações primordiais são um maior número de fuzileiros a fim capacitá-la urgentes. Quem permanece inerte corre o risco para o combate, reorientando seu emprego, o de tornar-se o próximo alvo. Ver que fatalmente há de se refletir em sua primeiro, identificar primeiro, entender primeiro estrutura. Sendo assim, é factível pensar que, a situação são tarefas que essencialmente em função de todos os avanços técnicos, podem conduzir à vitória. doutrinários, organizacionais e históricos, as Atrelando-se às tradições, é imprescindível frações elementares, particularmente apoiar-se na sabedoria de quem em combate de cavalaria, tenham que vir a ser reorganizadas, defendeu o Brasil, inspirando lições de liderança a fim de se tornarem mais eficientes no moderno por meio do exemplo, como o general Osório, campo de batalha, sendo mais ágeis, mais letais, que costumava afirmar que não se deve descurar mais combativas, incorporando, com maior da capacidade de reconhecimento do Exército, EsPCEx, onde tudo começa 11 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 nem mesmo enfraquecer a sua Cavalaria. A capacidade de reconhecimento associa-se, hoje, à necessidade de as tropas operacionais realizarem e conduzirem operações táticas de inteligência, sendo dotadas de sensores que lhes confiram essa possibilidade, facultando-lhes o emprego em qualquer ambiente operacional, sob quaisquer condições de visibilidade. Tudo isso nos leva a acreditar que a operacionalidade de um exército é um estado d’alma a ser alcançado. Essa operacionalidade somente pode ser atingida com adequada preparação do homem e a inserção de meios dotados de tecnologia. O início de milênio impõe que o guerreiro do futuro combate – o guerreiro do conhecimento, seja mais flexível, mais audaz, mais bem preparado, técnica e psicologicamente, e saiba, sobretudo, operar em ambientes não convencionais, uma realidade de hoje e do porvir. O difuso ambiente experimentado após o declínio da bipolaridade mundial, seja na paz, seja na guerra, demanda pela implementação de combatentes do conhecimento, para que o Exército continue a garantir, com sua vocação institucional-democrática, os destinos da Pátria Brasil. *** Aquarela do Artista Plástico Duduch, vencedor da 3ª Gincana de Pintura da EsPCEx (*) O Coronel Fábio Benvenutti Castro ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre em 1981. Graduou-se na AMAN em 1985. Possui, também, os seguintes cursos: Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (nível mestrado) em 1993; Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro (nível doutorado) em 2001; Piloto de Helicóptero de Combate; Cavalaria e Avançado de Blindados nos Estados Unidos da América (EUA). No exterior, foi observador militar na Bósnia Herzegóvina e no Chipre; e assessor militar da Academia Militar de West Point-EUA. De 2008 a 2010, comandou o Centro de Aviação do Exército. Atualmente é o Comandante e Diretor de Ensino da EsPCEx. EsPCEx, onde tudo começa 12 Revista Pedagógica 2011 Contextualização e Competência Guaraci Alexandre Vieira Collares (*) Professor de Língua Portuguesa e Literatura Em clima de modernização do ensino no Exército Brasileiro, visando à formação do profissional combatente e, principalmente, do condutor de homens do século XXI, ganha força surpreendente a necessidade de buscar razões para o aprendizado desta ou daquela disciplina, com o intuito de atrelá-la a uma demanda futura, específica, direcionada, como se isso fosse crucial para o desempenho do futuro oficial, ou como se fosse possível imaginar que um conhecimento do agora represente um resultado direto lá adiante, ou um fracasso anunciado, uma equivocada associação ao ensino por competência, em fase de implantação. EsPCEx “Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. Albert Eistein” tradicional, por objetivos, a interdisciplinaridade, entre outros, sendo estes temas merecedores não de um artigo despretensioso como este, mas de um estudo bem mais profundo, o que não é objeto deste trabalho. O ser humano de hoje, mais bem informado e questionador, transforma-se o tempo todo, fica mais crítico e busca direcionar o estudo para esta ou para aquela área, à mercê dos inúmeros cursos que são criados diariamente. É curioso que isso aconteça num mundo global, em que o conhecimento geral se sobrepõe ao conhecimento específico. Quanto mais perseguida a especialização, mais ganha espaço o profissional Acredito que a ideia veio a reboque, eclético, que desempenha inúmeras tarefas, alicerçada às opiniões de alguns profissionais que domina várias áreas e, por isso, desenvolve uma tentam responder a questionamentos do tipo visão global da empresa ou do ramo em que atua. “Para que eu estudei isso se nunca utilizei na Se ela quer um profissional em uma área prática?”. Pelo pouco que aprendi e que me foi específica, busca-o no mercado e encontra-o passado sobre o processo de ensino por sem muita dificuldade, desde que pague bem. competência, até agora, acredito que muda Mas, se busca um líder, um administrador de apenas a forma da abordagem dos conteúdos e conflitos, especialmente humanos, fica bem mais as técnicas utilizadas em sala de aula, o que, difícil encontrá-lo num ambiente tão salvo melhor juízo, nada tem a ver com a sistematizado e especializado. necessidade quase que impositiva de justificar a A profissão militar aparece como permanência desta ou daquela disciplina. abrangente por excelência, porque desenvolve É importante refletir sobre tal em seus integrantes não só o aspecto cognitivo, condicionante, antevendo o perigo que uma mas também o psicomotor e, principalmente, o postura radical poderá trazer em relação ao afetivo. Por isso, o Exército mantém uma gama ensino, cuja amplitude ultrapassa em muito a diversa de atividades que, perfeitamente sistematização desejada pelos teóricos de alinhadas com o terceiro milênio, formam o plantão. Estes parecem deixar de lado, inclusive, profissional visionário, o futuro líder e condutor num primeiro momento, até mesmo as de homens, aquele que vai ter que ser capaz de peculiaridades de cada disciplina, colocando gerenciar com eficácia situações de crise. E, na indevidamente, num mesmo espaço, o ensino maior parte do tempo útil na ativa, vai administrar técnico e o acadêmico. conflitos humanos. Encontrar respaldo para a manutenção ou No caso das Escolas Militares Preparatórias retirada de uma disciplina é apenas uma das ou de Formação, é comum vermos alunos demandas da chamada modernização, pois o colocando em xeque a necessidade de estudar contexto é mais abrangente e contempla uma esta ou aquela matéria, matemática, por exemplo, série de outras medidas, necessárias e adequadas se pretendem ir para uma arma combatente. ao momento, na justa medida, como o Alguns responsáveis pelo planejamento do estabelecimento de um novo perfil profissiográfico, matriz curricular, mapa funcional, ensino não desestimulam essa prática, uma vez ensino por competência, em substituição ao que também buscam respostas para as mesmas EsPCEx, onde tudo começa 13 EsPCEx perguntas, tentando sistematizar o que, na minha opinião, não pode ser sistematizado. Para comprovar essa tentativa, é só contar o número de competências selecionadas pelos estudiosos, necessárias para o futuro oficial e o número de vezes em que essa relação sofreu alterações ou acréscimos: jamais se chegará a uma quantidade ideal, porque ela simplesmente não existe. Não se conseguirá obtê-la, pois isso engessaria o próprio cérebro, definindo que, para uma ação qualquer no presente, um conhecimento anterior, específico, deveria ter sido adquirido ou trabalhado. Revista Pedagógica 2011 missão e dada como concluída, poder-se-á avaliar se ela foi eficaz, correta, se houve falha, se foi cumprida adequadamente, enfim. As situações vividas, em tempo de paz e de guerra, foram, são e sempre serão inéditas. Julgar que se poderá, em algum momento, prever todas as situações possíveis é simplesmente ignorar a capacidade da mente humana. Um engenheiro formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), um dos cursos de engenharia mais respeitados, disse-me que, no curso, aprendeu desde cedo a vencer desafios, pois lá jamais se estuda algo, pensando no que Na ponta da linha, vejo educadores do mais o conteúdo vai ajudar nesta ou naquela tarefa alto nível e experiência defendendo o próprio no futuro. Se assim for, estará decretado o fim peixe e tendo que dar explicações razoáveis e da capacidade de criar. convincentes a respeito da manutenção desta A formação militar deve buscar, ou continuar ou daquela matéria, justificando a permanência buscando, uma competência global, que não tem deste ou daquele conteúdo. Num verdadeiro a ver com o processo: a capacidade para vencer interrogatório, estudiosos de lá e professores de desafios, e ponto. É ela que vai proporcionar ao cá tentam chegar ao ápice de oferecer ao aluno, oficial uma diversidade de situações nas quais no presente, condições para que ele esteja deverá formar um juízo de valor e tomar uma capacitado para uma competência exigida lá no decisão, atitude que não será consequência do futuro. Exageros à parte, esse seria, na visão aprendizado desta ou daquela matéria, e sim de dos estudiosos, o ponto ideal, o máximo a ser um conjunto harmônico de conhecimentos. atingido. Como foi dito, competência é um Num sentido mais amplo, raciocinando como caminho, não o fim; o ensino é por competência cidadão, vejo o quanto é fundamental para o não para a competência. País a diversidade de conhecimentos. A principal É lógico que jamais se deverá abrir mão do preocupação do educador é a de formar a pessoa, conhecimento técnico necessário ao profissional o cidadão. É só olhar o mapa e verificar o sem militar. Meu foco central são os outros, que número de culturas, de conteúdos orientados englobam o acervo intelectual de qualquer pela região, pelo ambiente, clima, vegetação, profissional de nível superior, que sedimentarão orografia. A beleza do povo brasileiro está nele capacidades que não serão medidas ou justamente na diversidade; foi ela que o brindou avaliadas segundo necessidades que poderão com essa imensa capacidade de improvisação, ocorrer ou não, lá na frente. São matérias que, que o fez extremamente criativo, adaptável a em sentido mais amplo, permitem, inclusive, que qualquer terreno ou situação. o curso de Bacharel em Ciências Militares seja Já se comprovou isso em inúmeras reconhecido pelo MEC como de nível superior, o participações do Exército Brasileiro no exterior, que tem influência até mesmo no salário do na Segunda Guerra Mundial, nas missões de paz, servidor. Não imagino como isso possa se por exemplo, em que, muitas vezes, somente o concretizar apenas no Nível Técnico-Militar, nosso soldado ou o nosso oficial foram capazes descartando, na parte supostamente sem de adaptar-se ao povo local e ser bem aceitos, utilidade prática, o Nível Acadêmico, ou diferente de qualquer outro do mundo, desde simplesmente tentando mesclá-lo com o ensino exércitos mais modernos até aqueles menos dito profissional. dotados. Os resultados de uma formação não podem Desprezar o que temos de mais caro, que ser mensurados de forma tangível. Pode-se, no máximo, tentar que os erros cometidos no é a nossa ecleticidade, o nosso autodidatismo, presente não se repitam no futuro. Somente a nossa capacidade de lidar com o desconhecido, depois de tomada a decisão, desencadeada a a nossa capacidade de decidir e de conduzir EsPCEx, onde tudo começa 14 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx homens, sob quaisquer condições, em qualquer terreno, seja selva, montanha, caatinga, pantanal ou área urbana, é, salvo melhor juízo, andar na contramão. *** (*)O Coronel Professor R/1, da Arma de Cavalaria, Guaraci Alexandre Vieira Collares cursou o Colégio Militar de Porto Alegre, de 1964 a 1970. Graduou-se na Academia Militar das Agulhas Negras em 1974. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (nível mestrado) em 1984 e a Escola de Comando e Estado-Maior (nível doutorado) em 1994. Como funções principais na ativa, foi Professor em Comissão da Cadeira de Redação e Estilística da AMAN de 1988 a 1992; comandou o 2º Regimento de Carros de Combate e foi Chefe de EstadoMaior da 11ª Brigada de Infantaria Leve. Atualmente é Professor de Português da EsPCEx. EsPCEx, onde tudo começa 15 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Considerações sobre Geopolítica Oscar Medeiros Filho (*) Chefe da Cadeira de Relações Internacionais da AMAN Introdução Nas linhas que se seguem, pretendemos apresentar alguns argumentos sobre o significado do estudo de Geopolítica para a formação do futuro oficial do Exército Brasileiro. Para tanto, serão apresentadas algumas ideias sobre a origem e o significado desse campo do saber, o processo de desenvolvimento e a contribuição de militares que figuram entre os mais importantes nomes da Geopolítica brasileira. O presente texto defende o argumento de que o pensamento geopolítico está intimamente ligado à própria história do pensamento militar brasileiro. De certo modo, para o desenvolvimento das competências supracitadas, concorrem disciplinas como Geografia, História e Relações Internacionais. Os estudos “Grandes Potências Mundiais” e “Áreas Críticas do Mundo Atual” já foram temas estudados pela Cadeira de História Militar da AMAN nos anos 1990. Recentemente, optou-se por estudar mais especificamente o tema “História Militar”. Com essa mudança, coube à Cadeira de Geografia da AMAN buscar suprir o estudo das potências regionais, aplicando, em algumas áreas de interesse, o método de Levantamento Geográfico de Área (LGA). Formação militar e análise de conjuntura O mundo vive um momento de grandes transformações em todas as áreas, especialmente em termos geopolíticos. Diante desse quadro, torna-se necessário o desenvolvimento de disciplinas que forneçam aos futuros oficiais ferramentas conceituais para a compreensão da conjuntura internacional. A inclusão da disciplina Geopolítica no início da formação do futuro oficial visa ocupar esse espaço: desenvolver no aluno competências que os capacitem a responder de forma eficaz às incertezas de um mundo em transformação. A busca por disciplinas que introduzam os nossos alunos em questões de estratégia e geopolítica, gerando gosto pelo tema, está registrada na primeira diretriz geral do Comandante do Exército, 3 de fevereiro de 2003): “O futuro chefe militar deverá iniciar o estudo de Política e Estratégia na AMAN, sendo exigido nesse mister ao longo da carreira, mesmo quando não estiver cursando algum EE (um programa de leituras, por exemplo), a fim de criar o hábito de pensar estrategicamente. Atualmente, isto só vai ocorrer depois que ele ingressa na ECEME, ou seja, tardiamente”. EsPCEx, onde tudo começa Geopolítica: origem e primeiros passos A Geopolítica surge, no final do século XIX, como uma simbiose entre estudos da Geografia Política e da Ciência Política. O interesse principal desse campo do conhecimento é a disputa de poder entre os “organismos territoriais”, entendida principalmente como a luta de poder entre Estados Nacionais em processo de consolidação. Percebam que a expressão “organismo” denota a importância que a abordagem das ciências naturais tinha, naquele momento histórico, sobre as ciências sociais ou humanas. O geopolítico enxergava o Estado (e seu território) como uma espécie de organismo que poderia crescer, se desenvolver e até morrer. Essa perspectiva, compartilhada por autores clássicos, como Friedrich Ratzel (1844 – 1904), gerou ideias como a de “espaço vital”, que serviram de inspiração para projetos hegemônicos, como o da Alemanha Nazista. Outra ideia muito conhecida e adotada pelos geopolíticos do início do século XX foi a de “heartland”, ou a busca pelos “corações” dos “organismos” territoriais. O autor da ideia foi o geógrafo inglês Halford MacKinder (1861–1947), que estabeleceu a famosa frase: 16 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx discutir temas como desenvolvimento e “quem domina a Europa Oriental controla o segurança nacional. coração continental; quem domina o coração Nesse período, o grande nome da continental controla a Ilha Mundial; quem domina geopolítica no Brasil foi o General Golbery do a Ilha Mundial controla o mundo”1. No Brasil, o mais conhecido dos seus Couto e Silva (1911–1987). Sua principal obra “discípulos” foi o então Capitão do Exército escrita na década de 1950 foi “Geopolítica do Brasileiro Mário Travassos (1891 – 1973) – por Brasil”. Para Golbery, a segurança do Brasil em sinal o primeiro comandante da Academia Militar um mundo bipolar dependia do Ocidente e, em de Resende. Em sua obra “Projeção Continental particular dos EUA (COUTO E SILVA, 1981, p. do Brasil”, escrita em 1931, defendia a tese de 247). Para ele: que, assim como a Europa Oriental correspondia ao coração continental da Eurásia, a Bolívia correspondia ao heartland da América do Sul. A explicação disso, segundo Travassos, residia no fato de a Bolívia ser o único país do subcontinente que possuia território nas três vertentes sul-americanas: Andes, Amazônia e Prata. O coração estaria entre as seguintes cidades: Cochabamba (altiplano andino); Sucre (Bacia do Prata) e Santa Cruz (Bacia do Amazonas). Geopolítica: uma pseudociência? “É preciso, sobretudo, testemunhar, à evidência, que somos, não só por origem, mas ainda mais por convicção, povos deste mundo livre do Ocidente que estaremos prontos a defender” (Ibidem, p. 250). Apesar da dependência do “Ocidente”, a geopolítica de Golbery sugere uma visão “brasilcêntrica”. Para ele, “Não haverá geopolítica brasileira, que tal nome mereça, sem que se considere, de fato, o Brasil como centro do universo.” (Ibidem, p. 177 ). Nela é clara a ideia Os anos posteriores à Segunda Guerra de uma projeção mais ativa do Brasil no cenário Mundial registraram certa decadência da “ciência mundial, voltada especialmente para o Atlântico geopolítica”. Entre os acadêmicos, havia uma Sul. percepção de que a Geopolítica não constituía Por fim, deve-se destacar o fato de que, uma área da ciência, mas era parte de discursos como geopolítico, Golbery teve em sua vida uma (geralmente autoritários/totalitários) dos agentes oportunidade rara: ele não ficou só no campo dos Estados. A utilização da Geopolítica para das ideias como a maioria dos geopolíticos. Como legitimar o projeto Nazista na Alemanha, por homem de Estado e de Governo, Golbery teve a exemplo, contribuiu muito para essa percepção. oportunidade de tentar pôr em prática sua própria O caráter engajado dos geopolíticos e sua agenda geopolítica. abordagem organicista, considerada ultrapassada para a época, levaram ao descrédito certos Carlos de Meira Mattos e a Geopolítica “panestudos geopolíticos. Isso não significa, porém, amazônica” que eles tenham perdido o seu valor, como veremos mais adiante. A década de 1970 marca um novo rumo no pensamento geopolítico brasileiro. De uma visão Geopolítica como Ferramenta de Segurança muito dependente do “Ocidente”, o Brasil começa e Desenvolvimento Nacional a ensaiar os primeiros passos rumo a uma política Após a Segunda Guerra Mundial, a externa mais independente. À medida que se Geopolítica toma distância de abordagem afasta do alinhamento automático com os EUA, organicista e se aproxima da chamada “Grande o Brasil dá sinais de aproximação com os países Estratégia”. Ao invés de focar na “luta de vida sul-americanos. É nesse contexto que começa ou morte dos organismos estatais pelo espaço a ganhar destaque a obra do Ex-Comandante da vital”1, nesse novo contexto, profundamente AMAN, General Carlos de Meira Matos (1913 – marcado pela Guerra Fria, a Geopolítica passa 2007). 1 Trecho da célebre conferência intitulada “O Pivô Geográfico da História” ministrada em 1904 por Halford Mackinder, então professor da Universidade de Londres, na Real Sociedade Geográfica. 2 Frase com a qual o general alemão Karl Haushofer (1869 – 1946) definia Geopolítica. EsPCEx, onde tudo começa 17 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Uma das principais ideias defendidas por Meira Mattos era a possibilidade de intercâmbio dos espaços fronteiriços do País por meio da articulação com o sistema de transportes sulamericano (mapa a seguir). A visão prospectiva do General Meira Mattos lhe possibilitava chegar a conclusões que hoje nos parecem claras, como o fato de que a integração sul-americana traria vantagens para o Brasil (MATTOS, 1977, p. 18). Interessante observar que o General Meira Mattos escreve no momento em que o Brasil apresenta a seus vizinhos o seu primeiro passo para a cooperação regional: o Tratado de Cooperação Amazônico (TCA), de 1978. Mais recentemente, e até o final de sua vida, o General Meira Mattos defendeu de forma incisiva a integração sul-americana: “a América do Sul integrada num mercado solidário terá um peso político e econômico respeitável no comércio internacional, gerando benefícios para todos os seus países” (MATTOS, 2002, p.102). Da Globalização a uma Geopolítica Multidimensional Dentre essas possibilidades de intercâmbio fronteiriço, Meira Mattos destacava a região amazônica, inaugurando o que para ele representava uma geopolítica pan-amazônica. Para o autor, a integração da Amazônia seria o primeiro passo para a integração sul-americana: “Com tal estratégia, integraremos a PanAmazônia. Em termos de política sul-americana, será a integração do continente, pois a PanAmazônia sairá da situação de vazio inerme e passará a desempenhar, também, o papel de área de trânsito entre as costas do Atlântico e do Pacifico” (MATTOS, 1980, p. 174/5). EsPCEx, onde tudo começa Até os anos 1980, falar de geopolítica era falar em conflitos territoriais entre Estados, ou de segurança e desenvolvimento desses Estados. A referência era por excelência estatocêntrica e, consequentemente, a escala dos entes territoriais era a do Estado-Nacional. Com o advento do chamado processo de Globalização nos anos 1990, o termo geopolítica passou a ocupar a mídia e ganhar novas conotações. Desde então, é comum se ouvir falar de geopolítica das drogas, geopolítica empresarial, geopolítica da moda etc. Em termos de análise de cenários de relações de poder especificamente entre entes territoriais, as escalas passaram a variar de supranacional (formação de blocos regionais) até escalas locais (disputa pelo controle territorial entre facções criminosas, por exemplo). 18 Revista Pedagógica 2011 Além da escala, mudou-se também a substância. Em vez de uma geopolítica preocupada com elementos fixos (forma do território, tamanho, relevo etc.) a geopolítica passou a discutir os fluxos (redes de toda ordem). EsPCEx a Amazônia e a reconfiguração do quadro geopolítico internacional com a ascensão de novas potências, com destaque para os chamados BRICS, bloco de países constituído pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Para a formação militar, entretanto, a *** ampliação do conceito de Geopolítica não pode, de forma alguma, resultar em perda do foco. Ao militar, como agente de Estado, o nível desejável, como não poderia deixar de ser, continua a ser o estatocêntrico. Em última instância, o objeto da Bibliografia profissão militar é político. É a possibilidade de conflito armado entre as nações que dá sentido COUTO E SILVA, Golbery. Conjuntura Política Nacional, O Poder à existência de uma instituição permanente, Executivo & Geopolítica do Brasil. Livraria José Olympio Editora. voltada à defesa dos interesses nacionais. Nesse Rio de Janeiro, 1981. sentido, vale a pena retomar a frase do General MATTOS, Carlos de Meira. A geopolítica e as projeções de poder. Rio de Janeiro: Bibliex, 1977. Golbery: “Não haverá geopolítica brasileira, que tal nome mereça, sem que considere, de fato, o Brasil como centro do universo.” (COUTO E SILVA, 1981, p. 177). ______. Uma geopolítica pan-amazônica. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1980. ______. Geopolítica e modernidade: a geopolítica brasileira. Rio de Janeiro: Bibliex, 2002. TRAVASSOS, Mário. Projeção Continental do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935. Considerações Finais A Geopolítica é um campo do saber que trata de temas intimamente ligados à profissão militar. Fazer com que o futuro oficial – porque não dizer, futuro general – tome conhecimento e crie gosto pelo tema é papel fundamental das nossas escolas militares. No caso específico do Exército Brasileiro, nota-se claramente, ao longo de nossa história, a relação de proximidade entre oficiais e Geopolítica. Pode-se dizer: a fim de se criar o hábito de pensar estrategicamente, o trato com temas como a Geopolítica deve ocorrer desde o início da formação militar e não somente nas escolas de Comando e Estado-Maior, como comumente tem ocorrido. O atual momento em que o Brasil se encontra no concerto das nações é um convite à reflexão estratégica e geopolítica. Aos novos cadetes devem ser apresentados temas caros ao futuro da Nação, dentre os quais podemos destacar: o cenário geopolítico sul-americano, (*) O Major QCO Oscar Medeiros Filho é Graduado em Geografia pela UFMS (1995); Especialista em Informática aplicada à Educação (Unicamp, 1997); Mestre em Geografia Humana (USP, 2005) e Doutor em Ciência Política (USP, 2010). Foi professor de Geografia e Sociologia da EsPCEx entre os anos de 1996 e 2010. Atualmente é Chefe da Cadeira de Relações Internacionais da AMAN. E-mail: [email protected] EsPCEx, onde tudo começa 19 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Exposição de Pinturas (27 de setembro de 2011) Na semana de comemoração do 71° aniversário da EsPCEx, foi realizada uma Exposição de Pinturas, no Salão Carlos Gomes – Salão Nobre, tendo a Escola e suas atividades internas como tema das obras realizadas por diversos artistas plásticos de Campinas e região. Nesta edição, estão reproduzidas algumas das obras que homenageiam a EsPCEx. Classificação: 1º Lugar Tema: Centro de Tradições da EsPCEx Modalidade: óleo-acrílico Artista Profissional: Vera Lúcia Bernardes Pereira EsPCEx, onde tudo começa 20 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Liderança Emocional e Ação Docente Aline Marques Martins (*) Professora de Desenho Plano e Descritivo Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de abordar o tema educação e liderança, com ênfase nas relações possíveis entre a ação educacional e a liderança emocional, em contextos educacionais diversos. A sociedade atual necessita de conceitos diferenciados de liderança, mais adequados a uma contemporaneidade que passa por uma crise de valores morais e de horizontes de vida. Esperase, então, que líderes sejam estratégicos, assertivos e colaboradores, mas, acima de tudo, humanos, que tomem decisões justas e que respeitem seus liderados. O mundo vive a era da informação e do conhecimento, portanto o foco principal para a obtenção dos resultados acadêmicos não é mais tecnologia, mas sim a formação das pessoas. Neste trabalho, são apresentados dois contextos diferentes – o de um combatente na missão de paz e o de um professor em sala de aula. Em ambas as situações, a liderança faz-se necessária. E isso conduz a uma maior reflexão sobre o verdadeiro papel do professor. É correto pressupor que haja uma forte relação entre liderança e aprendizagem, pois boa parte da motivação dos sujeitos para aprender vem das ocasiões em que devem assumir responsabilidades e ações, que afetam também a vida daqueles com quem convivem e trabalham. Correlacionadamente, acredita-se que o educador tenha uma função de liderança a desempenhar junto aos sujeitos e grupos sociais com que trabalha, favorecendo o desenvolvimento da autonomia organizacional, as perspectivas de compreensão da realidade e sua problematizção, além de incentivo à preparação de novos líderes. O educador pode influenciar estilos de vida e colaborar para a humanização ou desumanização EsPCEx, onde tudo começa dos sujeitos e dos grupos das práticas pedagógicas. Os discursos atuais de promoção da liderança entre os educandos, porém, quase não existem, assim como são poucas as ações de ensinar os sujeitos a se organizarem socialmente, de forma a encaminhar suas necessidades e desejos. Por outro lado, a questão da liderança se volta para o próprio educador e dele será cobrada uma nova postura, a de conduzir, de apontar caminhos, gerar confiança e, ainda, a de favorecer um feedback positivo, ou seja, o ensino atual exige um professor que lidere, que cative seus alunos, para que esses, pouco a pouco, tornem-se donos de seu próprio processo de aprendizagem. Mas para isso, o professor, como qualquer outro líder, precisa se pautar por uma Liderança Emocional – aquela que se caracteriza pela presença de um líder motivador, que se compromete com aquilo que faz, preocupa-se com aqueles com quem está envolvido, pratica a escuta e compartilha com o grupo as decisões quanto ao que será feito e discute os porquês. A liderança emocional tem como suporte quatro componentes: a autoconsciência, a autogestão, a consciência social e a gestão das relações. O domínio desses significa entender suficientemente bem sua própria constituição emocional e a de outras pessoas, para movê-las na direção da realização dos objetivos. Na autoconsciência – primeiro componente da inteligência emocional – temos um profundo entendimento das próprias emoções, forças, fraquezas e necessidades. A partir desse entendimento, surge um controle dos próprios sentimentos e impulsos, a autogestão. Já a consciência social traz, com ponderação, a consideração dos sentimentos dos liderados para 21 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 a tomada de decisões inteligentes, existindo uma uma pancada na cabeça. Tornam-se liderados interligação a partir da motivação – um dos estritamente transacionais, relutantes em dar pontos fortes da Gestão de Relações. mais de si mesmos, porque o contexto social fica em seu caminho. Líderes que compreendem essa dinâmica podem extrair as melhores habilidades de seus Assim, a liderança dos educadores é funcionários. fundamental para que ações educacionais objetivem o desenvolvimento de comunidades que Daí a necessidade em saber administrar aprendam e se organizem como agentes de sua sentimentos, e não somente possuir o própria trajetória, na formação de líderes éticos conhecimento técnico. É preciso conhecer e comprometidos com o bem-estar. E reforça-se intimamente a nós mesmos, lidar com nossas a ideia de que o conceito de liderança emocional emoções e nos colocarmos no lugar do outro é importante para que o educador seja aquele para pensar e sentir o que ele sente. É saber que impulsiona o desenvolvimento pessoal e lidar com as diferenças individuais. O psicólogo grupal, que motiva, que critica, sem e célebre autor Daniel Goleman descobriu que constrangimento; que se preocupa com valores líderes eficazes possuem em comum um alto grau de justiça e honestidade e demonstra claramente de Inteligência Emocional. essa preocupação. Compreender a inteligência A prova de que uma liderança emocional emocional é fundamental para uma liderança traz bons resultados, ou até mesmo que pode eficiente. prevenir problemas, foi o experimento feito por *** Naomi Eisenberger pesquisador-chefe de neurociência social da University of California em Los Angeles (Ucla) na qual voluntários jogavam um jogo eletrônico chamado Cyberball, enquanto seu cérebro era examinado por um aparelho de ressonância magnética funcional (FMRI). Os participantes expressaram sentimentos de raiva por terem sido esnobados ou julgados (...) A reação pôde ser rastreada diretamente das respostas do cérebro. E a conclusão foi que dor social e dor física produzem respostas similares. As reações fisiológicas e neurológicas são direta e profundamente moldadas pela interação social. “a maioria dos processos que operam em segundo plano, quando o cérebro está em descanso, se relaciona ao pensamento sobre outras pessoas e sobre si mesmo”. Mathew Lieberman A reportagem em que consta tal experimento cita ainda que, assim como no jogo, pessoas que se sentem traídas ou que não são reconhecidas em suas tarefas experimentam um impulso neural tão poderoso e doloroso quanto (*)1ºTen Aline Marques Martins é Licenciada e Bacharelada em Matemática pela Universidade do Grande ABC em 2004, possui curso de pós-graduação Lato Sensu em Psicopedagogia pela Universidade Salesiana de São Paulo e cursa Mestrado em Educação Matemática pela Universidade Bandeirantes de São Paulo. Atualmente exerce a função de Professora de Desenho Plano e Descritivo na EsPCEx. EsPCEx, onde tudo começa 22 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Ser Educador/Mediador: o grande desafio Ana Claudia Rocha Barbosa (*) Pedagoga da Seção de Acompanhamento Pedagógico da EsPCEx Introdução As ideias aqui presentes são fruto de estudo sobre a mediação da aprendizagem, apresentadas no VIII EPEMM (Encontro Pedagógico do Ensino Médio Militar), ocorrido em setembro de 2011, na Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAr) na cidade de Barbacena – MG. mais dinâmica no processo e, ao discente, um desenvolvimento cognitivo eficaz em que, efetivamente, ocorre a construção de novos conhecimentos. A mediação da aprendizagem faz parte de meus estudos desde 2006, ano em que tive a oportunidade de fazer os cursos de formação no Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), níveis I e II no Colégio Militar de Fortaleza (CMF), quando trabalhava como Orientadora Educacional da Seção Psicopedagógica daquela renomada Instituição de Ensino. Durante os períodos de 2006 a 2009, tive a grata satisfação de aplicar esses conhecimentos com os alunos do CMF, o que me trouxe muita alegria, à medida que percebi o aumento da capacidade cognitiva e a superação de dificuldades cognitivas preexistentes nesses alunos. A educação é fundamental na construção da vida humana. Ela leva o sujeito a descobrir o conhecimento, incorporando-o e transformandoo em sabedoria. Conhecimento que lhe será útil para toda a vida. Educa-se por meio do ensino/ instrução e da formação. Este artigo inicia-se com uma visão geral sobre Educação, apresenta a Aprendizagem Significativa, a Mediação Como um Princípio Educacional e finaliza com o grande desafio de ser Professor Educador/Mediador. A formação é vista como algo que dá forma à ação de ensinar e aprender, em que o sujeito se depara com situações-problema, procurando agir de acordo com suas experiências e orientações recebidas. A Educação leva o indivíduo para além da informação, construindo significados às ações e dando sentido às realizações. Fala-se aqui de conteúdos, matérias, assuntos que têm significado para o sujeito que aprende, tornando sua aprendizagem significativa. Este trabalho é fundamentado nas teorias cognitivas (Piaget, Vygotysk, Ausubel), tendo como principal foco os estudos do Prof. Dr. Reuven Feuerstein (psicólogo e educador romeno, especialista em desenvolvimento infantil e rendimento cognitivo intelectual). O principal objetivo deste estudo é refletir acerca do grande desafio de ser um professor educador/mediador e analisar o processo educativo (ensinar e aprender) que acontece na escola, lugar privilegiado da ação docente, ação esta que impõe ao docente uma atuação EsPCEx, onde tudo começa Educação É no ensino e na instrução que se transmitem os conhecimentos pontuais importantes para a vida em sociedade. O ensino e a instrução ajudam na formação do indivíduo que recebe esses sinais de fora para dentro, ou seja, os estímulos vêm de fora e são lançados sobre o indivíduo que aprende. O educador, um dos agentes do processo educativo, coadjuvante na construção do conhecimento, faz com que o aprendiz consiga ir além da informação, instrução e ensino, colabora com o desenvolvimento de competências e habilidades,propicia o desenvolvimento do potencial individual e grupal uma vez que permite 23 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 a construção de novos caminhos por meio do quais possibilitam a verdadeira aprendizagem. pensamento reflexivo, o que leva o indivíduo a Celso Antunes diz que o educador ajuda o uma aquisição permanente de conhecimentos. aluno a construir sua própria aprendizagem, Isso se chama APRENDIZAGEM. quando trabalha em sala de aula com alguns Aprender significa apresentar novos atributos essenciais. Fazendo um acróstico desse comportamentos. O indivíduo que aprende na atributos, ele chega à palavra “PLACA” que, interação com o mundo muda sua conduta. curiosamente, serve como aplauso a um ato Aprendizagem não é acúmulo de conteúdos e de esportivo magnífico. Usa-se essa palavra para conhecimentos. Para isso existe o computador. sinalizar a ideia de que esse ato esportivo foi Salvam-se no computador os conhecimentos genial e singular, por isso merece uma Placa. Ex: necessários e, em qualquer momento, pode-se gol de placa, cortada de placa, etc. dirigir a ele para que sejam devolvidos os dados. Os atributos são: Só o ser humano aprende, muda, se modifica e Protagonismo – o aluno é o ator principal se adapta, resolvendo problemas segundo suas necessidades e as necessidades do meio em que do processo; está inserido. Isso significa que, para poder Linguagem – falar, perguntar, questionar, adaptar-se ao mundo, é preciso estar participar efetivamente da aula; constantemente aprendendo. Administração – de competências Simão de Miranda diz que a educação leva essenciais à aprendizagem, tais como pensar, à construção de um mundo mais humano, no refletir,saber perguntar, pesquisar, argumentar, qual o educador atua como um maestro que rege relacionar-se com os outros; uma orquestra heterogênea e rica em diversidade Construção – de conhecimentos com um olhar mais humano, sensível, afetivo e específicos (assuntos e matérias) ligando o que altruísta. Ser educador exige atitudes proativas se aprende com o que já se sabe; e olhares ávidos em possibilidades. Valorizar potencialidades e potencializar valores, abusando Autoavaliação – descoberta da da criatividade, leva o aluno à autonomia. Isto é aprendizagem (o que eu sabia antes e o que sei função primordial do processo educativo. O agora) educador tanto colabora com o processo de É muito importante para o processo mudança de seus alunos como, também, está educacional que o docente acredite na em processo de mudança, transformando-se a capacidade e potencial de seus alunos, sabendo cada dia. O educador que acompanha o tempo adaptá-los à sua realidade. Esses atributos de seus educandos, com reflexão crítica e preconizados pelo prof. Celso Antunes poderão consciente sobre sua prática, revisa suas ser uma linha pedagógica de ação do professor/ posturas e posicionamentos, leva seu trabalho a um resultado positivo, o que favorece a melhoria educador, que deve atuar como maestro, regendo sua orquestra em direção a uma aprendizagem do ser humano. significativa. O educador estuda e reflete constantemente em seu cotidiano, para fundamentar sua prática. É por meio dessa Aprendizagem Significativa dinâmica que acontece o movimento de construção e reconstrução do conhecimento. David Ausubel (1918-2008), psicólogo e Madalena Freire afirma que a ação pedagogo norte-americano, defensor das teorias educativa tem que ser pensada, refletida, para cognitivistas e criador da teoria da aprendizagem que não caia no praticismos e tampouco no significativa, pressupõe que essa aprendizagem “bombeirismo” pedagógico. O processo está relacionada e interligada a aprendizagens educativo é movido pela ação, interação e troca, já adquiridas e a conteúdos preexistentes no permanentemente entre os partícipes do sujeito, sendo um processo que ocorre por meio processo. O Educador ensina e, enquanto ensina, de uma nova informação que é relacionada de aprende, fazendo intervenções, maneira substantiva e não arbitrária a um encaminhamentos e devoluções adequadas, as aspecto relevante da estrutura cognitiva. EsPCEx, onde tudo começa 24 Revista Pedagógica 2011 O educador em sua ação docente deve procurar trabalhar com a aprendizagem significativa, relacionando o conhecimento prévio do aprendiz a sua capacidade e a sua curiosidade criativa, favorecendo, assim, a aquisição de um novo conceito, um novo significado ao conhecimento que ora foi transmitido. Mas o que é conhecimento? EsPCEx o educador faz por meio de perguntas e questionamentos. Uma educação é dita de qualidade quando há manifestação e equilíbrio entre preservar saberes essenciais, transmitir o legado cultural para novas gerações e inovar, criar, construir o novo, baseado naquilo que já existe. Os quatro pilares da educação tratados pela Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, desenvolvidos pela UNESCO em 1996, continuam muito vivos e atuais, o que “Conhecimento é o resultado da interação entre leva a uma transformação pessoal e social, o indivíduo, a informação que lhe é exterior e o fazendo com que se efetive uma aprendizagem significado que este lhe atribui”. realmente significativa. Esse processo educacional deve estar imbuído de intencionalidade, a qual deve levar o aluno a: Segundo Celso Antunes (2009, p. 46): O conhecimento é resultado de um – aprender a CONHECER (compreender os processo de construção, sendo o aprendiz o assuntos apresentados, dominar competências protagonista dessa obra. e adquirir autonomia intelectual); Para Ausubel, a aprendizagem está – aprender a FAZER (desenvolver intimamente ligada à estrutura cognitiva . Aquilo habilidades específicas e essenciais); que o sujeito aprende deve integrar-se ao que o – aprende a VIVER JUNTO/conviver sujeito já conhece. A aprendizagem significativa (conhecer e respeitar integralmente a si e aos relaciona-se a conhecimentos prévios, já outros, valorizando a diversidade) e incorporados à estrutura cognitiva do aprendiz. – aprender a SER (através do A aprendizagem significativa parte da ideia autoconhecimento e da aquisição de pensamento de ajudar o aluno a confrontar uma informação crítico e autônomo). significativa e relevante, relacionando-a com uma determinada realidade. Dar sentido e significado à informação pode levar o sujeito a ter uma aprendizagem significativa. Essa informação pode ser usada como ferramenta para pensar, refletir, aprender, como nos fala a professora Isabel Parolin: “Pensar é o eixo da aprendizagem”. A aprendizagem sofre influência de fatores externos, como aula, recursos, metodologias, currículos, cronogramas etc., e de fatores internos, como os cognitivos e afetivos, os quais surgem sempre na disposição do sujeito para aprender, que é um processo ativo, e surge, também, na motivação intrínseca. A aprendizagem não acontece passivamente. Só há efetiva aprendizagem, se o aprendiz estiver envolvido no processo como protagonista, na construção de sua própria aprendizagem. Não existe construção de novos conhecimentos sem um saber preexistente adquirido com a vivência e as experiências de cada indivíduo em particular. É esta cultura pessoal que leva o sujeito à aquisição de novas aprendizagens, principalmente quando se usa a mediação como um princípio educacional. A Mediação como Princípio Educacional A mediação está fundamentada na transmissão de um mundo de significados aos mediados, consistindo numa interação interpessoal com características próprias, específicas e especiais. A mediação deve ser uma ação consciente, intencional, significativa, recíproca e transcendente, levando o mediado a perpetuar Para a professora Madalena Freire, o que a mudança estrutural de seu sistema cognitivo, forma o alicerce da aprendizagem significativa e isto é, levando esse indivíduo a uma aprendizagem a construção do novo são as intervenções que efetiva e permanente (uma vez aprendido, jamais esquecido). EsPCEx, onde tudo começa 25 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 de reflexão, permitindo que a mente do mediado fique mais quieta e tranquila para receber as informações, decodificá-las e transformá-las, além de ser um momento fundamental para a reflexão por parte do mediador, para que ele pense, constante e continuamente, sobre as concepções que embasam a educação, os conteúdos e/ou estímulos apresentados, bem É papel do mediador selecionar os estímulos como buscar o melhor caminho para a mediação mais apropriados, filtrá-los, elaborar esquemas, que ora é trabalhada. ampliar uns e ignorar outros. A Modificabilidade Cognitiva Estrutural é De acordo com os estudos e as teorias uma das teorias do Prof. Reuven Feuerstein e é desenvolvidas pelo Prof. Dr. Reuven Feuerstein, parte principal do processo de mediação, pois a aprendizagem vai além da exposição direta ao trabalha a inteligência e o processo de estímulo (modelo piagetiano: S-O-R), pois o construção cognitiva do sujeito. A inteligência, mediador se interpõe entre o estímulo, o por sua vez, está diretamente ligada à organismo e a resposta, trabalhando construção ativa do pensamento, sendo dinâmica fundamentalmente com a interação. e modificável, construída a partir de vários O processo ensino/aprendizagem na teoria fatores que se relacionam com a cognição, a de Feuerstein está representado de acordo com qual está intimamente ligada à afetividade. As o seguinte modelo: dimensões cognitiva e afetiva são fundamentais ao desenvolvimento do ser humano, sendo fatores de interferência direta no processo de mediação. O mediador deve selecionar, assinalar, organizar e planejar o aparecimento do estímulo, ou seja, trabalhar um conteúdo específico de acordo com situações preestabelecidas e com objetivos voltados para a interação, caracterizando a mediação como um processo planejado e intencional. Por que o prof. Reuven Feuerstein usa a palavra modificabilidade e não modificação? Legenda: S- estímulo; H-mediador; O-organismo; e R- resposta. Modificação é produto resultante dos processos de desenvolvimento e maturação do indivíduo, referindo-se a uma mudança estrutural específica que se processou na mente do mediado. Já a modificabilidade refere-se à mudança estrutural que se processa constantemente, de forma contínua e permanente na mente humana. Modificabilidade diz respeito à capacidade do indivíduo de mudar um caminho que estaria predeterminado, devido a deficiências genéticas, neurológicas ou outros fatores que são independentes da interferência humana. Essa modificabilidade, que é sempre positiva, nunca regride. Observa-se que o mediador (H) intermedeia e sofre influência do estímulo (S) recebido pelo organismo (O), assimila esse estímulo e elabora respostas que são lançadas e voltam ao mediador (H), que já está diferente, pois também sofre o processo de construção O trabalho com a Modificabilidade Cognitiva da aprendizagem. De forma cíclica, o mediador Estrutural do prof. Reuven Feuerstein está muito recebe as respostas como um novo estímulo, o bem exposto nesta frase do próprio autor: processo gera novas respostas e, consequentemente, novos conhecimentos. É “Não me aceite como sou, posso crescer, dessa forma que se entende a aprendizagem melhorar, avançar, desenvolver e evoluir”. mediada. “Um momento, deixe-me pensar” é uma O prof. Reuven Feuerstein defende a ideia máxima do prof. Reven Feuerstein, a qual sugere de inteligência como algo dinâmico que sempre que a mediação deva ter um momento de parada, pode ser desenvolvido, independentemente de EsPCEx, onde tudo começa 26 Revista Pedagógica 2011 idade, condição social, etnia ou outro fator. Daí sua hipótese de “Educabilidade Cognitiva”. Educabilidade é o processo de aprendizagem em que qualquer pessoa, em qualquer idade pode aumentar sua capacidade cognitiva e consequentemente sua inteligência. Cognição, por sua vez, refere-se ao conhecimento aprendido. Com base em seu sistema de crenças e na capacidade de adaptação do ser humano para sobreviver, o prof. Reuven Feuerstein foi construindo e reforçando suas teorias (Experiência da Aprendizagem Mediada e Modificabilidade Cognitiva Estrutural), que se embasam em uma concepção dinâmica de vida humana. Quanto mais cuidadoso e apropriado for o trabalho do educador, mais efetiva será a aprendizagem e a modificabilidade cognitiva estrutural do sujeito, levando o professor ao grande desafio de ser um educador/mediador. EsPCEx e sim cuidar para que ele aprenda e desenvolva toda sua capacidade cognitiva. O mediador é o educador que enriquece a interação, que disponibiliza subsídios que preparam a estrutura cognitiva do mediado para ir além dos estímulos recebidos, transcendendo-os para qualquer situação da vida cotidiana, construindo princípios. Essas transcendências só ocorrem quando a mediação é positiva, clara, objetiva e quando o processo de mediar for contínuo e permanente. Não adianta o professor usar uma única vez do processo de mediação, pois este não atingirá os objetivos desejados. O mediador é sempre parceiro do aprendiz. O mediador deve estar sempre atento à privação cultural de seus mediados, para que possa, junto com o grupo, ampliar o campo de experiências vividas de seus alunos para além do imediato, saindo de situações episódicas e aumentando o potencial para o “Aprender a Aprender”. Quando se fala de privação cultural,dentro do pensamento de Feuerstein, quer dizer que há uma total ausência de mediação. Ele não se refere à falta de cultura de uma maneira geral, O professor/educador não acredita que seu mas ao indivíduo que dela foi privado por não ter trabalho seja levar meramente informações e vivido a experiência da mediação. conteúdos para seu aluno, mas, sim, fazer com O professor educador/mediador estimula que esses estímulos atinjam a aprendizagem de seus alunos, situando-os historicamente nos forma significativa, na qual o aluno use desse conteúdos trabalhados em sala de aula, fomenta conhecimento, transformando-o em sabedoria, discussões e reflexões, faz perguntas ou seja, leva esse novo conhecimento como parte constantemente, traz situações-problemas para permanente de sua estrutura cognitiva. que o aluno levante hipóteses e busque soluções O educador/mediador busca contextualizar adequadas, não transmite meros conteúdos, mas de forma mediada as aprendizagens e vivências estratégias de análise, síntese, comparação, do educando, propiciando, diariamente, situações classificação e estabelece relações. A ação que desafiem o potencial criativo do aprendiz, mediadora deve propiciar a curiosidade e faz as quais devem ter utilidade em sua vida. Esse ligação direta da realidade com sua importância educador deve estar sempre aberto a novas e significado para cada um dos mediados. aprendizagens e disposto a aprender com seu Quando há experiência de aprendizagem aluno. mediada, existe aprendizagem real tanto para o Quando o educador/mediador provoca aluno/mediado quanto para o professor/mediador desequilíbrio entre os saberes do grupo, . alimentando-o diariamente, as aprendizagens e As professoras Elizabeth Schenker e Tereza as transformações acontecem naturalmente de Pereira (2008, p. 6), em seu curso de Didática acordo com a necessidade e interesse do grupo Centrada nos Processos de Aprendizagem, em questão. fizeram uma comparação dos papéis O professor educador/mediador não deve desenvolvidos no ensino tradicional e na ter preocupação sobre o que seu aluno não sabe, aprendizagem mediada, descritos na tabela 1: O Professor/Educador/Mediador EsPCEx, onde tudo começa 27 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Tabela 1 – Comparação entre o Ensino Tradicional e a Aprendizagem Mediada Fonte: SCHENKER, Elizabete; PEREIRA, Teresa. Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem. Rio de Janeiro:[S.n], 2008. (Apostila de curso Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem, Núcleo de Desenvolvimento do Potencial Cognitivo – NDPC) Considerações Finais A quebra de paradigmas pedagógicos que levam à transformação e a mudanças é um fato inevitável. A atitude do docente diante de sua missão é algo que vai transformar o ensino, tendo como consequência uma mudança social positiva. o tesouro escondido em cada uma... a realização pessoal; que ela inteiramente aprenda a ser (…), aprenda a conhecer, aprenda a fazer e aprenda a viver com os demais. ( DELLORS; apud TÉBAR, 2011, p.43)” O professor educador/mediador é agente imprescindível no processo educativo, o qual tem, na educação, uma ciência multidisciplinar que exige mudanças contínuas, permanentes reflexões e revisões de princípios e métodos. Dessa forma, entende-se que o grande desafio de ser um educador/mediador é perceber a importância de trabalhar com a mediação como um princípio educacional, o que faz dela um processo modificador e construtor de homens e A teoria cognitiva do Prof. Dr. Reuven mulheres mais inteligentes, criativos e, Feuerstein é uma luz nesse caminho educacional. consequentemente, mais humanos. Ambientes modificadores devem ser criados, a *** formação de professores educadores/mediadores e o autoaperfeiçoamento devem ser uma constante na vida dos educadores/mediadores. Bibliografia “Para enfrentar os desafios do século XXI, seria indispensável atribuir novos objetivos para a educação e, por conseguinte, modificar a ideia que fazemos de sua utilidade. Uma nova concepção mais ampla de educação deveria levar cada pessoa a descobrir, despertar e incrementar suas possibilidades criativas, atualizando assim EsPCEx, onde tudo começa ANTUNES, Celso. Professores e Professauros: uma reflexão sobre a aula e práticas pedagógicas diversas. 3.ed. Petrópolis, RJ. Vozes,2009. FREIRE, Madalena. Educador, educa a dor. São Paulo: Paz e Terra, 2008. MEIER Marcos; GARCIA Sandra. Mediação da Aprendizagem: Contribuição de Feuerstein e de Vygotsky. Edição do autor. Curitiba, 2007. 28 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx MIRANDA, Simão de. Como Tornar-se um Educador de Sucesso: dicas, conselhos, propostas e ideias para potencializar a aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. SCHENKER, Elizabete; PEREIRA, Teresa. Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem. Rio de Janeiro: [S.n], 2008. ( Apostila de curso Didática Centrada nos Processos de Aprendizagem, Núcleo de Desenvolvimento do Potencial Cognitivo – NDPC) SOUZA, Ana Maria de; DEPRESBITERIS, Léa; MACHADO, Osny Telles Marcondes. A Mediação Como Princípio Educacional: Bases teóricas das abordagens de Reuven Feuerstein. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004. TÉBAR, Lorenzo. O Perfil do Professor Mediador: pedagogia da mediação. São Paulo: ed. Senac São Paulo, 2011. (*) A professora Ana Claudia Rocha Barbosa é pedagoga, formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Especialista em Educação Infantil pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), em Psicopedagogia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em Docência do Ensino Superior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem formação em PEI ( Programa de Enriquecimento Instrumental) nos níveis I e II, reconhecidos pelo ICELP (The International Center for the Enhancement of Learning Potential – Centro Internacional para o Melhoramento do Potencial de Aprendizagem). Foi Orientadora Educacional do Colégio Militar de Fortaleza de 1995 a 2009. Atualmente exerce a função de pedagoga da Seção de Acompanhamento Pedagógico da EsPCEx. EsPCEx, onde tudo começa 29 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Exposição de Pinturas (27 de setembro de 2011) Classificação: 2º Lugar Tema: Entrada Principal da EsPCEx Modalidade: óleo sobre tela Artista Profissional: Roberto Ansil EsPCEx, onde tudo começa 30 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx A Ansiedade Cognitiva e Somática no Esporte: efeitos psicológicos no período pré-competição Márcia Maria Carvalho Luz Fornari (*) Psicóloga A relação entre os efeitos benéficos dos exercícios físicos contra a ansiedade e a depressão e os estados negativos de humor é apontada em diversos estudos que abordam os benefícios psicológicos da prática regular de atividades físicas. Segundo Araújo et al (2007), em situações emocionais, o ser humano pode experimentar basicamente três emoções principais em resposta a uma situação ameaçadora: raiva dirigida para fora (o equivalente à cólera), raiva dirigida contra si mesmo (depressão) e ansiedade ou medo. Portanto, em estado de alerta, o indivíduo reage com um comportamento de fuga ou de ataque ao agente estressor. Após essa descarga de excitação, o organismo retorna ao estado de equilíbrio. No entanto essa fase de desequilíbrio pode perdurar em determinadas pessoas, envolvendo outros processos internos até a exaustão. Nesse caso, desenvolve-se uma psicopatologia. Para melhor entendimento desse processo, faz-se necessário distinguir ansiedade-traço e ansiedade-estado. A ansiedade-traço estaria relacionada a uma condição relativamente estável de propensão à ansiedade e trata-se de uma predisposição de perceber certas situações como sendo ameaçadoras e a elas responder com níveis variados de ansiedade-estado. Já o segundo tipo de ansiedade é considerado um estado emocional transitório e que representa uma resposta à percepção da situação ameaçadora, estando ou não presente um perigo real (Araújo et al, 2007). diarreia, insônia, cefaleia dentre outros. A ansiedade não é de todo prejudicial, pois sua função primeira é proteger o ser humano e resguardar sua sobrevivência. Pode, porém, adquirir contornos psicopatológicos e variar em frequência e duração de pessoa para pessoa. Fatores genéticos, ambientais e experiências vividas podem associar-se à ansiedade. Situações de avaliação podem gerar sentimentos de rivalidade, de expectativa e de ansiedade, além de outros fatores, tais como prestígio, autoestima, admiração e reconhecimento. Essas vivências esportivas também podem ocasionar estados afetivos e somáticos inerentes às particularidades de cada modalidade esportiva e de cada personalidade, bem como a carga afetiva que o indivíduo coloca na competição. Essa carga afetiva provoca reações emocionais no momento da competição ou antecipatória no período pré-competição, tais como o medo, a ansiedade, a depressão e a angústia. A ansiedade, portanto, relaciona-se com o rendimento esportivo e com a necessidade de superar obstáculos e conquistar objetivos. Ela é responsável pela adaptação do organismo às situações novas, porém, a partir de certo ponto, a ansiedade excedente, ao invés de contribuir para a adaptação, concorrerá para o seu esgotamento. Considerando as reações nervosas no esforço emocional durante competição ou antes dela, esses estados psicofisiológicos são desencadeados diante da necessidade de se enfrentar algum desafio. Então temos uma tripla De acordo com os autores, no aspecto ação: a ativação fisiológica, a resposta cognitivo, as reações e/ou sintomas podem ser comportamental e a resposta emocional. caracterizados por sentimentos subjetivos, como apreensão, tensão, medo, tremores, impaciência etc, no aspecto somático, taquicardia, vômitos, EsPCEx, onde tudo começa 31 EsPCEx A ansiedade no esporte relaciona-se às expectativas de êxito por parte do esportista e dos demais colegas sobre sua vitória. É importante diferenciar a ansiedade cognitiva da ansiedade somática. A ansiedade somática envolve a participação do organismo como um todo, colocando-o em estado de alerta (aumenta os níveis de adrenalina e cortisol), e é essencial para atividades globais que requerem rapidez, resistência física e força, como, por exemplo, natação, jogos de futebol, corridas, lutas corporais etc. Todavia um nível elevado de ansiedade somática é negativo para habilidades complexas, que exigem movimentos musculares finos, coordenação, concentração e equilíbrio. Revista Pedagógica 2011 desejado, não estando necessariamente ligadas ao acúmulo de ansiedade cognitiva, mas estão relacionadas ao aumento da motivação. Por outro lado, a derrota, pode levar ao aumento da ansiedade cognitiva e à diminuição da motivação e do rendimento. O domínio da disciplina no treinamento pode diminuir a ansiedade cognitiva e aumentar a motivação, fazendo o esportista ter a sensação de estar preparado, diminuindo assim a ansiedade frente a novos desafios. As características de personalidade colaboram para o sucesso do esportista, como, por exemplo, as atitudes dirigidas para se conseguir evitar momentos de neurose, depressão, fadiga, confusão e ira. Alguns esportistas mantêm excelente nível de autoconfiança e são orientados para a vitória. O segredo da vitória parece residir na autoconfiança, pois esta faz com que o esportista experimente menos ansiedade do que aqueles que duvidam de suas aptidões. Além do mais, o nível de treinamento, habilidade e histórico de vitórias anteriores aumentam a autoconfiança, diminuindo a ansiedade cognitiva e somática. A ansiedade cognitiva envolve uma sensação emocional de apreensão. Esse tipo de ansiedade aumentada produz efeitos negativos nas atividades esportivas que necessitam de maior concentração, estratégia e agilidade psicomotora fina, como no xadrez, tiro etc. Ambos os tipos de ansiedade podem estar presentes em um mesmo atleta, predominando um tipo ou outro, dependendo da modalidade esportiva e/ou do tipo de personalidade. A De modo geral, parece não haver uma lei consequência mais direta é na autoconfiança. sobre o caráter inibidor ou estimulante da Essa, por sua vez, pode estar ligada ao ansiedade sobre o esporte de acordo com o perfil rendimento, opondo-se à ansiedade cognitiva. afetivo e ansioso de cada personalidade. A Os estados afetivos do esportista quantidade ótima de ansiedade necessária para (sentimentos e emoções) determinam a atitude um bom desempenho depende de cada geral da pessoa diante de qualquer experiência esportista, parecendo haver uma concordância vivencial, promovem os impulsos motivadores e no que se refere ao fato de a ansiedade não ter inibidores, fazendo-a perceber os fatos de o mesmo efeito em todos os esportes e em todas maneira agradável ou sofrível, conferindo-lhe uma as pessoas. Assim, para se compreender o efeito disposição indiferente ou entusiasta. Assim, a da ansiedade, não podemos simplesmente avaliar afetividade modela o modo de relação da pessoa sua intensidade, nem se seu tipo é cognitiva com a vida e será através desse estado de ânimo (afetiva) ou somática, mas sim avaliar a que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. capacidade de enfrentamento do atleta. Há estados afetivos momentâneos e constitucionais. Os momentâneos são determinados por circunstâncias vivenciais e os constitucionais, pela tonalidade afetiva ou humor básico (introvertido ou extrovertido). Vale salientar que as influências do meio atuam sobre o rendimento do esportista, assim como as condições de treinamento, a autoconfiança e o sentimento de se sentir pressionado ou preparado. *** As motivações do esportista podem relacionar-se com a busca por um rendimento EsPCEx, onde tudo começa 32 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Bibliografia ARAÚJO, S. R. C. et al (2007). Transtornos de ansiedade e exercício físico. Revista Brasileira de Psiquiatria 29 (2) 164-171. BALLONE, G. J. Ansiedade e Esporte. Disponível no sítio eletrônico: www.virtualpsy.org/temas/esporte.html. Acessado em 13/07/2011. (*) A 1º Ten Marcia Maria Carvalho Luz Fornari é graduada em Psicologia com Habilitação em Psicologia como Psicólogo Pesquisador pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Especialista em Desenvolvimento do Potencial Humano nas Organizações e Mestre em Psicologia como Profissão e Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Psicopedagoga pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ). Extensão na UNICAMP (Faculdade de Educação e Gerontologia). Formação complementar na área de Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). Graduanda em Administração na Universidade Paulista. Atualmente é Psicóloga Adjunta da Seção Psicopedagógica da EsPCEx. EsPCEx, onde tudo começa 33 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Sudão Helcio Miranda Duque Botelho (*) Observador Militar da Missão das Nações Unidas no Sudão, de setembro de 2010 a julho de 2011 Das origens do conflito aos dias atuais, o que resume a controversa e sangrenta história recente de um dos países mais ricos em petróleo do continente africano Fig 1 – Sudão antes da secessão Um País Continente O Sudão foi o maior país do continente africano e o décimo do mundo em extensão territorial, desde sua independência do jugo egípcio-britânico, em 1956, até 9 de julho de 2011, quando a inevitável separação fez nascer a mais jovem Nação do Planeta, o Sudão do Sul. Banhado a nordeste pelas águas do Mar Vermelho e bordeado pelo Egito, Líbia, Chade, República Centro-Africana, Congo, Uganda, Kênia, Etiópia e Eritreia, o país se estendia da África Saariana, ao norte, até as entranhas da selva equatorial no coração africano, cobrindo uma extensão de mais de 2.500.000 Km2, que abrigava uma população de 41 milhões de habitantes. Ao centro do território, cortando o país de sul a norte, debruça suas águas caudalosas o imponente Nilo, fonte de vida e único oásis de civilização em vastas extensões de terra árida e inóspita. EsPCEx, onde tudo começa 34 Revista Pedagógica 2011 Origens do Conflito O Sudão do século XX sempre foi marcado pelos contrastes religiosos (70% de muçulmanos, 25% animistas e 5% cristãos), étnicos (africano e árabe), tribais e econômicos (atividade nômade e sedentária). Desde a sua independência, em 1956, o país vem sendo caracterizado por contínuas tensões centro-periféricas. Como resultado, a guerra quase constante tem assolado a população por décadas intermináveis de violência, abandono, migrações forçadas e genocídio indiscriminado, tendo sido mais sangrentos os conflitos entre norte e sul, de 1956-1972 e 1983-2005 e, mais recentemente, o conflito em Darfur. Durante os anos de dominação, sob a estratégia britânica de “dividir e governar”, o país foi separado administrativamente em Norte e Sul. Em 1947, o poder político foi transferido à elite nortista árabe-muçulmana, que o reteve após a independência em 1º janeiro de 1956 (data que dá nome à linha limítrofe norte-sul 1-1-56). Antecipando a marginalização pelo Norte, oficiais sulistas do exército amotinaram-se em 1955 e formaram o movimento de guerrilha Anya-Nya (veneno de cobra), que passou a desferir ataques às tropas do governo central. A partir de então, o povo sudanês jamais voltaria a conhecer a Paz. Fig 2 – Sudão: três décadas de guerra civil A sucessão de governos árabe-orientados (seguidores da cultura árabe) nas décadas de 50, 60 e 70, mediante alternância de golpes de estado, caracterizou-se pelas recorrentes políticas de islamização do país, por meio da implementação da “Sharia” (lei islâmica) pela força. No início dos anos 80, após descoberta EsPCEx, onde tudo começa EsPCEx de ricas reservas de petróleo nas regiões ao sul, a Sharia substituiu a lei tradicional sudanesa. A revogação das garantias constitucionais do Sul, a adoção do árabe como língua oficial e o desrespeito aos acordos previamente estabelecidos terminaram por cristalizar as forças oponentes de guerrilha ao redor do Movimento Exército de Libertação do Povo do Sudão (em inglês South People Liberation Moviment Army – SPLMA), liderados por John Garang. O ano de 1983 marcou o início de uma guerra civil, que contou mais de dois milhões de mortes, desalojou 4 milhões de habitantes e criou aproximadamente 600 mil refugiados fora do país. Fig 2a – Sudão: três décadas de guerra civil Todas as tentativas de alcançar a paz entre o SPLMA e o governo de Khartoum foram suspensas quando a Frente Islâmica Nacional (NIF) desferiu um golpe sem derramamento de sangue em junho de 1989. Liderada pelo General Omar Al-Bashir, a NIF, mais tarde transformada em Partido do Congresso Nacional (NCP), revogou a constituição, extinguiu os partidos de oposição, iniciou a islamização do sistema judiciário e escalou a guerra entre o Norte e o Sul, declarando “jihad” contra o Sul não muçulmano. Com o enfraquecimento do SPLMA no início dos anos 90, os conflitos tribais acirraram-se no Sul do país. O acolhimento de Osama Bin Laden e outros grupos fundamentalistas islâmicos em Khartoum levaram ao isolamento internacional. Em 1998, após atentados à bomba às suas embaixadas em Nairobi e Dares-Salaam, os Estados Unidos chegaram a responder com pesados ataques de mísseis. 35 EsPCEx Acordos e Protocolos de Paz Revista Pedagógica 2011 A UNMIS Frágeis negociações entre o governo O Conselho de Segurança da ONU, por meio central e o SPLMA, sob a Autoridade para o da Resolução 1590, de 24 de março de 2005, Desenvolvimento Intergovernamental (IGAD), decidiu estabelecer a Missão das Nações Unidas fizeram pequenos progressos entre 1994 e 2001. para o Sudão (United Nations Mission in Sudan – UNMIS) a fim de dar suporte à implementação O Protocolo Machakos de julho de 2002, do Acordo de Paz Compreensiva (CPA) assinado estipulou um referendo sobre a autodeterminação pelo Governo do Sudão (GoS) e o Movimento do Sul, que seria declarada após um prazo de 6 Exército de Libertação do Povo do Sudão anos, enquanto a Sharia era mantida no Norte. (SPLMA), em 9 de janeiro de 2005. O Conselho As negociações de Naivasha, finalizadas em decidiu que as tarefas da UNMIS, entre outras, janeiro de 2005, puseram, oficialmente, um fim a seriam: apoiar a implementação do CPA; facilitar décadas de guerra, com a assinatura do Acordo e coordenar, dentro de suas possibilidades e em de Paz Compreensiva (CPA, como ficou conhecido suas áreas de desdobramento, o retorno pela sigla em inglês). O acordo incorporou o voluntário de refugiados e migrantes e a SPLMA ao Governo da Unidade Nacional (GNU) e assistência humanitária; apoiar as partes programou as eleições gerais para 2009, mais beligerantes no campo das ações de desminagem tarde postergadas para 2010. e contribuir com os esforços internacionais para Com a implementação dos acordos proteger e promover os Direitos Humanos no estagnada, principalmente devido à ausência de Sudão. vontade política dentro do partido do governo Dando suporte às instituições e apoio (NCP), uma nova constituição foi sancionada e político às partes, a UNMIS permaneceu em um novo governo empossado em outubro de campo por mais de seis anos, abrangendo todo 2006. Contudo tensões entre Khartoum e áreas o período de implementação do CPA, para périféricas do Sudão persistiram e, em alguns monitorar e verificar os acordos de segurança e locais, alimentaram um novo ciclo de violência. oferecer ajuda em muitos setores de atividade, A implementação prática dos maiores incluindo governabilidade, reconstrução e mecanismos destinados a extinguir o conflito, desenvolvimento. Para tanto, a UNMIS se com destaque para o CPA, foi lenta e organizou em cinco setores territoriais ao longo insatisfatória desde sua concepção, basicamente e ao sul da linha 1-1-56, onde desdobrou suas devido à resistência do NCP, partido do governo próprias agências justapostas às tropas dos de Al-Bashir. países contribuintes. Em abril de 2010, conforme previsto pelo CPA, eleições gerais pluripartidárias foram conduzidas e confirmaram o governo islâmico, tendo sido marcadas pelo boicote da maioria dos partidos de oposição. Apesar das tensões e de alguns episódios locais de violência, a realização das eleições foi considerada um avanço substancial. Da mesma forma, o Referendo de Autodeterminação, agendado pelo CPA para 9 de janeiro de 2001, transcorreu surpreendentemente em paz e confirmou o desejo de separação do povo sul-sudanês. Em seguida, iniciou-se o período de transição até a declaração da independência do Sudão do Sul, em 9 de julho de 2011. Fig 3 – Divisão Setorial da UNMIS EsPCEx, onde tudo começa 36 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx No ápice de sua força de trabalho, a UNMIS contou com o aporte de 67 países, representados por 10.519 pessoas, incluindo 9.304 militares do corpo de tropa, 513 observadores militares, 702 policiais, 966 civis estrangeiros contratados e 477 voluntários das Nações Unidas, além de os 2.837 civis sudaneses contratados. Após a oficialização da decisão popular expressa nas urnas, iniciou-se uma nova fase de transição. Por seis meses, de 9 de janeiro a 9 de julho, o Sudão do Sul deveria consolidar suas instituições de estado e todas as questões decorrentes da separação deveriam ser resolvidas como preparo para a independência a Ao término do mandato, a UNMIS ser declarada de direito e de fato. contabilizava cifras em torno de 5,76 bilhões de No campo militar, a desconfiança prédólares americanos dispendidos pelos cofres da existente entre as partes aumentou ainda mais ONU. Incomensuravelmente maior, o consumo de e as tensões agravaram-se progressivamente, vidas humanas alcançou 23 militares de corpo começando pelos escalões mais inferiores nos de tropa, 3 policiais, 3 observadores militares, 8 comandos locais. Mais de 37% do SPLMA civis estrangeiros e 22 civis sudaneses encontrava-se ainda ao norte da provável nova contratados. linha de fronteira após o Referendo e nada indicava que havia intenção de sua retirada para O Referendo, a Transição e a Independência o sul. O tão esperado Referendo pela A crise escalou ao longo do período e Autodeterminação do Sudão do Sul, antecipado agravou-se no mês de maio com a ocupação por muitos com incerteza, desconfiança e medo militar de Abyei pelas SAF. No dia 1º de maio de da violência, transcorreu pacificamente e dentro 2011, como amostra de um ensaio para os dos limites estabelecidos pelo CPA. No dia 9 de embates que seriam travados no mês, tropas janeiro de 2011, mais de 6 milhões de sul- das SAF, que, segundo o NCP (partido do governo sudaneses compareceram às urnas para votar. central) estariam realizando uma entrega A esmagadora maioria de 98,83% decidiu pela autorizada de armamento a uma unidade militar secessão do Sudão, resultado também já mista, foram detidas ao norte da cidade de Abyei esperado por muitos. por policiais locais alinhados com o SPLMA; 14 O governo de Al-Bashir e o NCP, seu partido, morreram no tiroteio. foram fiéis às suas promessas de respeitar os resultados do Referendo. As pressões políticas, entretanto, não deixaram de existir. Durante as semanas que antecederam o 9 de janeiro de 2011, representantes do partido e do governo davam declarações isoladas, diariamente na mídia, acerca dos atrasos no cumprimento das cláusulas do CPA, da impossibilidade de realização do Referendo dentro do prazo programado e de sua provável ilegalidade e imediata rejeição. Havia ainda os impasses e atrasos nas regiões controversas como Abyei, e nos estados de Blue Nile e Kadugli, onde o Referendo não fora contemplado pelo CPA. Nessas regiões, uma Consulta Popular seria conduzida em um processo paralelo às fases do Referendo, para que as populações locais expressassem, ainda preliminarmente, seu desejo de se submeterem ou não à jurisprudência do governo de Khartoum e, por consequência, a todas as provisões do CPA, assinado por aquele governo e o SPLMA. EsPCEx, onde tudo começa No dia 11 de maio, uma patrulha regular da UNMIS foi atacada por militantes da tribo Missiriya (pró-NCP), deixando 4 observadores militares feridos. A mesma milícia desferiu outros pesados ataques a postos policiais em Abyei. Fig 4 – Referendo pela Independência do Sudão do Sul 37 EsPCEx A situação atingiu o ápice em 19 de maio. As versões ainda são divergentes. O que ficou claro foi que, enquanto a UNMIS escoltava um comboio de 200 soldados das SAF, oriundos de uma unidade mista, para suas posições de ocupação, forças alinhadas com o SPLMA abriram fogo 10 Km ao norte da cidade de Abyei. A reação de ambos os lados foi imediata. No dia 21 de maio, o Chefe do Estado-Maior das SAF enviou, por escrito, um ultimato ao Chefe do Estado-Maior do SPLMA, exigindo que a desocupação militar das regiões ao norte da fronteira (CBL – Comprehensive Border Line) fosse concluída até 31 de maio, a partir de quando, as SAF estariam autorizadas a marchar sobre as regiões de Abyei, Kadugli e Blue Nile State e assumir seu controle à força, empurrando o SPLMA para o sul. Este, por sua vez, emitiu ordem unilateralmente aos seus comandos locais, cessando todo e qualquer apoio às ações de monitoramento e verificação por parte da UNMIS, em represália às declarações do Force Commander da UNMIS em visita à Abyei, que teria atribuído a escalada da violência ao SPLMA. No dia 27 de maio, colunas enormes de tropas das SAF, pesadamente armadas, foram monitoradas movimentando-se em direção ao estado de Kadugli, deixando bem claro que o ultimato não tinha sido uma ameaça. Após os bombardeios iniciados em 30 de maio e a ocupação do estado pelas SAF, as tensões na UNMIS elevaram-se a níveis inéditos até então. O estado vizinho de Blue Nile, há décadas ocupado pelas duas forças, seria o próximo passo, inevitavelmente. A movimentação logística das SAF foi monitorada por mais de 4 semanas, mas a retirada da ONU estava próxima. Em 9 de julho de 2011, o mandato da UNMIS expirou, completando o prazo de seis anos e meio de período interino do CPA, assinado pelas partes em 9 de janeiro de 2005. No dia 17 de maio, o Secretário-Geral concitara as partes e o Conselho de Segurança a considerar a possibilidade de estender a UNMIS por três meses, devido a questões de segurança ainda pendentes no Sudão do Sul, que estavam diretamente relacionadas a problemas que o Norte e o Sul ainda teriam que dirimir juntos. Em 31 de maio, Ban Ki Moon encaminha ao Conselho de Segurança da ONU uma carta do Governo do Sudão (GoS) anunciando tácita e EsPCEx, onde tudo começa Revista Pedagógica 2011 irrevogavelmente a decisão de encerrar a presença da UNMIS em 9 de julho de 2011. A abrupta e desorganizada retirada das tropas da UNMIS e de todas as suas agências do Sudão do Norte, incluindo seu Quartel-General em Khartoum, contribuiu ainda mais para o agravamento das relações entre Al-Bashir e a ONU. O aproveitamento de pessoal remanescente da UNMIS, tanto nas futuras missões da ONU no Sudão do Sul e em Abyei como na já existente em Darfur, foi planejado às pressas e reajustado várias vezes, tendo sido marcado pelo improviso, pela desinformação e pelo desperdício de recursos. A transferência de pessoal para a UNAMID em Darfur esbarrou no protocolo dos processos de consulta aos países contribuintes e atrasou o desencadeamento das medidas administrativas. Por fim, após grande número de observadores militares terem sido redesdobrados naquela missão, Al-Bashir volta atrás e declara não aceitar em Darfur contingentes oriundos da extinta UNMIS. Com o Sudão do Sul independente após 9 de julho de 2011, o balanço das relações políticas internacionais foi completamente reestabelecido na região do Chifre Africano. As tensões internas que levaram o Sudão à guerra civil e à secessão deram lugar a uma zona de fortes atritos internacionais, onde questões limítrofes, impasses na exploração e partilha de recursos naturais e de utilização de oleodutos transnacionais, problemas étnicos e migratórios e até mesmo o compartilhamento de recursos hídricos do rio Nilo ainda permanecem sem solução. A mais nova nação do planeta também enfrenta ainda sérios desafios internos, decorrentes dos conflitos tribais e da disputa pelo poder central, sem considerar a profunda gravidade das carências sociais que assolam o país. A nova Missão da ONU no Sudão do Sul A Resolução 1996 do Conselho de Segurança da ONU, de 9 de julho de 2011, estabeleceu a Missão das Nações Unidas para o Sudão do Sul (UNMISS) por um período inicial de um ano. 38 Revista Pedagógica 2011 O mandato da UNMISS concebeu, como Bibliografia tarefas primordiais, a consolidação da paz e da www.smallarmssurveysudan.org (Dez 2011). segurança, bem como a ação de suporte para a www.un.org (Set 2011). criação das condições para o desenvolvimento, www.unmis.un.org (Nov 2010 a Jun 2011). como o fortalecimento da capacidade do Governo International Crisis Group (Dez 2010). da República do Sudão do Sul de governar efetiva United Nations, UNMIS, GoS e GoSS – Agreement, 9 Jan 2005. e democraticamente e consolidar boas relações com seus vizinhos. EsPCEx Comprehensive Peace A nova Missão da ONU na disputada Abyei Um Referendo à parte, com a finalidade de determinar se a região de Abyei, rica em petróleo, permaneceria como parte do Sudão de norte ou seria anexada ao novo país não foi levado a efeito em janeiro de 2011, conforme originalmente planejado. Tal insucesso deu-se devido à falha em estabelecer uma comissão de referendo e à falta de consenso acerca de quem poderia votar, principalmente no caso da tribo nômade Missiryia. Sucessivos surtos de violência reacenderam-se no começo de março de 2011, deslocando mais de 20.000 civis de suas residências. O Conselho de Segurança da ONU respondeu à situação de Abyei por meio da Resolução 1990, de 27 de junho, estabelecendo a Força de Segurança Interina das Nações Unidas em Abyei (UNISFA), como resultado de profunda preocupação da comunidade internacional acerca da violência, da escalada das tensões e do elevado número de civis desalojados. A operação vai monitorar a faixa crítica de fronteira entre Norte e Sul e está autorizada a fazer o uso da força para a proteção de civis e da ajuda humanitária em Abyei. *** TC Cav Helcio Miranda Duque Botelho graduou-se pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em 1991, cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) em 1999, (nível mestrado) e concluiu o Curso de Comando e Estado Maior (ECEME) em 2007 (nível doutorado). Possui os curso de Educação Física pela EsEFEx (1994) e de especialização em musculação pela Faculdade de Educação Física de Muzambinho/MG (1998). Foi instrutor na Academia Militar da Venezuela em 2001, da EsEFEx, de 1996 a 1998, da AMAN, de 2003 a 2005, e da EsAO, de 2009 e 2010. É credenciado nos idiomas inglês e francês pela Canadian Forces Language School (2010). Foi Observador Militar da Missão das Nações Unidas no Sudão, de setembro de 2010 a julho de 2011. Atualmente, é o Comandante do Corpo de Alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. EsPCEx, onde tudo começa 39 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Exposição de Pinturas (27 de setembro de 2011) Classificação: 3º Lugar Tema: A Torre Duque de Caxias Modalidade: óleo-acrílico Artista Profissional: Beth Schons EsPCEx, onde tudo começa 40 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Alfabetização, Leitura e Letramento: estratégias possíveis de norte a sul do Brasil Célia Cristina de Almeida Gauté (*) Professora de Língua Portuguesa e Literatura Aspectos Teóricos Desde metade da década de 1980, pesquisa-se sobre o conceito de letramento. O termo, recente na literatura acadêmica, suscita uma série de questionamentos. Uma das grandes estudiosas do assunto, a professora Magda Becker Soares, da UFMG, ressalta que “o significado do termo letramento refere-se ao estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce práticas sociais que usam a escrita” (2006, p. 47). Para a autora, “letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno” (2003a). Por isso, a palavra letramentos, no plural, vem sendo bastante utilizada, por ser mais abrangente. Já o vocábulo alfabetização é empregado com o sentido mais restritivo de ação de ensinar a ler e escrever as primeiras letras. Alfabetizarse faz parte de um processo individual de aquisição do código escrito. Continua a autora: Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização (SOARES, 2003b, p. 9): EsPCEx, onde tudo começa Portanto deve-se alfabetizar letrando e letrar alfabetizando. Soares acredita que o nome ‘letramento’ ganhou “estatuto de termo técnico no léxico do campo da Educação e das Ciências Linguísticas” (2006, p. 15). Palavras como alfabeto, analfabeto, analfabetismo, alfabetizar, alfabetização, bem como letrado e iletrado, são de domínio comum há bastante tempo. Mas letramento foi cunhada como palavra “antiquada” no Dicionário de Caldas Aulete, na terceira edição brasileira, de 1974. Porém, trinta anos depois, o mesmo dicionário não só reconhece o termo, mas também o define: Letramento. A condição que se tem, uma vez alfabetizado, de se usar a leitura e a escrita como meios de adquirir conhecimentos, cultura etc., estas como instrumento de aperfeiçoamento individual e social. O termo ‘letramento’, de uso recente no campo da pedagogia e da educação, deriva do inglês “literacy”, (referência não à acepção de ‘condição de quem sabe ler e escrever’ (ao que corresponde o termo ‘alfabetismo’ ou ‘alfabetização’), mas a condição, capacidade de e disposição para, uma vez dominada a técnica de ler e escrever, usá-la para assimilar e transmitir informação, conhecimento etc. Assim, o letramento é uma continuação possível e desejável da alfabetização, e é através dele que o potencial do alfabetismo pode se transformar em conhecimento e cultura (AULETE, 2004). Desse modo, ‘letramento’ surgiu de uma versão feita da palavra inglesa literacy, com a representação etimológica de ‘estado, condição, ou qualidade de ser literate’; e literate é o mesmo que ‘educado’, especialmente, para ler e escrever. No dicionário Aurélio (2009), ‘alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever. Já ‘letrado’ é o versado em letras, erudito; e ‘iletrado’ é o que não tem conhecimentos literários e é, também, o analfabeto ou quase analfabeto. 41 EsPCEx Para tornar-se estudante, profissional e cidadão competente, não basta ter acesso à aprendizagem da língua escrita (estar alfabetizado). É preciso ir além, entendendo e interpretando o que leu, escrevendo com desenvoltura e fazendo uso adequado dos diversos gêneros encontrados na sociedade do novo século. Seja uma criança ou um jovem, seja um adulto, todos precisam da leitura e da escrita como instrumentos para viver com autonomia na sociedade. Todos precisam saber ler o mundo. Ler os livros literários, as revistas, as histórias em quadrinhos, os dicionários, os periódicos, os jornais impressos, os livros didáticos, as bulas de remédio, as receitas, os sinais de trânsito. Ler os manuais técnicos e as linguagens da propaganda – que invadem as casas pela televisão, rádio e Internet. Ler os cartazes, os panfletos, os outdoors. Ler o teatro, o cinema, o museu, a música e toda a cultura armazenada ao longo dos séculos. Por isso, Mário Quintana afirmou que “o pior analfabeto é o que aprendeu a ler e não lê”, isto é, não faz uso da leitura em seu cotidiano. Revista Pedagógica 2011 circulam socialmente? Como conquistar o leitor com um cardápio variado de leitura – livros de imagens, de narrativas, de poesia – a fim de transformar a leitura em uma espécie de passaporte para o mundo da cultura e do desenvolvimento? Sem dúvida, são questionamentos difíceis de responder, porque são problemas da base do processo educacional e social brasileiro. Uma Experiência de Letramento na Amazônia Ocidental Brasileira Qualquer ser humano lê o mundo antes de ler a palavra. Não é preciso ir à escola para aprender qual ônibus tomar para ir de um local a outro. Basta decorar o número, a cor e as imagens que as letras representam. Ou pode-se pedir a alguém no ponto de espera que indique qual o coletivo desejado. Uma criança, antes de aprender o código escrito, reconhece uma lata de coca-cola pela cor, desenho das letras e estilo do objeto. Em consequência, ela “lê” as coisas, mas não lê as palavras. Soares (2006, p. 24) Com a expansão da tecnologia, fala-se em afirma que letramento digital, em que é preciso saber ler Um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto e escrever em um hipertexto (texto associado é, ser alfabetizado, mas ser, de certa forma, aos suportes eletrônicos); saber enviar um eletrado (atribuindo a este adjetivo sentido mail e uma mensagem pelo celular; saber usar vinculado a letramento). Assim, um adulto pode um smartphone ou um blackberry; aprender a ser analfabeto porque marginalizado social e participar das redes sociais, das comunidades economicamente, mas, se vive em um meio em virtuais e das redes de aprendizagem on line. O que a leitura e a escrita têm presença forte, se ensino a distância (EAD) ganhou espaço nesse se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por novo mercado, levando a educação a lugares um alfabetizado, se recebe cartas que outros onde seria impossível nos séculos anteriores. leem para ele, se dita cartas para que um Mas, para ter sucesso na aprendizagem, o aluno alfabetizado as escreva, se pede a alguém que precisa saber trabalhar o autoaperfeiçoamento lhe leia avisos ou indicações afixados em algum e, ao mesmo tempo, estar apto a ler em lugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado, diferentes suportes e a dominar o mundo virtual. porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas Como tudo isso pode ser possível em um sociais de escrita. País com tantas desigualdades socioeconômicas, educacionais e culturais? Como formar um leitor crítico e em processo contínuo de letramentos Ao entender que a alfabetização é uma em uma sociedade cuja mortalidade infantil é experiência de cunho social e que o livro é o alta; na qual nem todas as crianças estão na espaço da aprendizagem por excelência, há escola; em que o ensino público não tem alguns anos venho me dedicando ao trabalho qualidade e o número de adultos analfabetos (ou com o letramento em instituições beneficentes com baixo nível de letramento, ou que não do Rio de Janeiro. Ao ser transferida da Diretoria concluiu o primeiro ciclo do ensino fundamental) de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA) para ainda é alarmante? Como fazer para que esse a 16ª Brigada de Infantaria de Selva, em Tefé, público amadureça sua capacidade leitora ao interior do Amazonas, em janeiro de 2009, interagir com textos literários e com escritos que procurei levar esse trabalho àquela região. Tão EsPCEx, onde tudo começa 42 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx logo cheguei, percebi a carência em atividades de fomento à leitura, bem como a ausência de bibliotecas. Constatei que, em Tefé, havia somente uma livraria pertencente à Igreja Católica, com literatura de cunho religioso. escritos, a contação de histórias, positivamente no processo de escrita e as brincadeiras levam leitura. Mas como fazer isso em não privilegia a tal prática? A cidade localiza-se a 575 km de Manaus. Por não existirem estradas que liguem a capital ao interior do Estado, só se chega aos municípios do Amazonas de barco ou avião. Com isso, o isolamento, por si só, já é um fator determinante para o baixo nível de letramento dos moradores. O interessante é que, embora não haja bibliotecas e livrarias, e as pessoas não tenham o hábito de comprar livros para o acervo pessoal, essa carência não impede que os moradores adquiram celular e laptop; que tenham acesso à Internet e que, praticamente, cada adulto tenha uma motocicleta, devido à quase total inexistência de transporte público. Logo, compra-se o que é oferecido: tecnologia e bens materiais, em detrimento da educação e cultura. Diante desse panorama, busquei levar meu trabalho de incentivo à leitura ao maior número de pessoas durante os dois anos em que servi em Tefé. Contudo, para transformar o sonho em realidade, precisava de material, pois sabia da falta de estrutura, mesmo nas escolas públicas, algumas, inclusive, sem nenhum livro paradidático em suas acanhadas bibliotecas. Minha estreia aconteceu na conclusão do Estágio de Adaptação à Selva, quando aconteceu uma Ação Cívico-Social (ACISO) na comunidade ribeirinha “Catuiri de Cima”, pertencente ao município de Nogueira/AM. Por trabalhar na Seção de Comunicação Social, pude travar contato com inúmeras comunidades, escolas e estabelecimentos da cidade e da região, o que permitiu ter informações sobre o andamento da educação e da leitura. Descobri que existe a ação do Grupo Vaga-Lume, uma ONG financiada pelas Casas Bahia, que capacita contadores de histórias da própria região para serem multiplicadores de leitura, além de doar livros de excelente qualidade para a montagem de acervos. Esse trabalho acontece em vários Estados e localidades da Amazônia legal, nos quais não há bibliotecas. que influencia aquisição da ao mundo da um lugar que A única escola existente era uma espécie de palafita e não possuía carteiras ou livros de leitura. Tinha, apenas, um quadro negro, uma mesa e um armário de madeira com poucos objetos didáticos. Naquele espaço único da escola, sentei-me, dispus os livros em roda no chão e contei histórias para as crianças, que ficaram encantadas com a atividade. Ao final, doei os livros (cerca de 30 paradidáticos) para aquele educandário. Constatei que a professora, que atendia ao ensino fundamental e médio, vinha de Tefé para lecionar somente duas horas por dia, pois também trabalhava em outras comunidades. Pude observar que o isolamento é enorme. Os moradores só saem do local de voadeira (barco com motor), cujo diesel é fornecido pela Prefeitura. A diversão das crianças é nadar no Rio Solimões. As casas possuem televisão, mas nenhuma tem livros. Os únicos materiais de leitura são os poucos livros didáticos da escola e a Bíblia. Essa situação foi constatada nas demais comunidades ribeirinhas visitadas. Observei, também, que há iniciativas da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), mas que não atende à demanda de leitores. Se Tefé, que é uma cidade-polo para outros municípios menores (Codajás, Uarini, Coari, Alvarães, Nogueira), não possui estrutura para promover a leitura, o que dizer das comunidades ribeirinhas, que são inúmeras e extremamente carentes e Em todas as ocasiões em que realizei o isoladas? Notei, ainda, que, com exceção da trabalho com o letramento, verifiquei que as Capital, em nenhum outro lugar da Amazônia crianças eram altamente receptivas e se Ocidental Brasileira existem teatros, cinemas, deslumbravam com o cenário, a variedade dos museus e outras instituições culturais. livros e das atividades proporcionadas. Interagiam De acordo com a professora Rocco (1996), bastante e algumas participavam mais de uma sabe-se que, aos seis anos, a criança já pode vez quando o evento ocorria o dia inteiro. Era ser alfabetizada por meio do contato com livros maravilhoso ver os olhos delas brilhando quando e situações práticas de leitura e escrita, eu contava uma história; quando abria um livro escolares ou não. A aproximação com materiais bem bonito, cheio de pop-ups; quando EsPCEx, onde tudo começa 43 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 manuseava um fantoche e cantava uma música; enfim, quando interatuava colocando-as no meio da roda de leitura. Elas queriam, ao mesmo tempo, ouvir as histórias, manusear os livros, brincar com os fantoches e, claro, com as outras crianças. Para elas, tudo era mágico, era novidade. Em muitos momentos, os próprios pais levavam os filhos e ficavam para assistir, tendo a chance de voltar à infância. Realizei oficina de leitura para professores e constatei a carência desses docentes, tanto de material quanto de cursos com profissionais qualificados. Mas a sede de saber, por parte de todos, era enorme. Registro meu reconhecimento a todos os que ofertaram materiais: à Academia Brasileira de Letras e à FNLIJ, que me apoiaram com as doações. Agradeço aos comandantes da 16ª Bda Inf Sl, dos biênios 2008/2009 e 2010/2011, e ao Grupo Beneficente das Missões, por apoiarem meu trabalho. Agradeço, ainda, aos moradores de Tefé e municípios da região; às comunidades ribeirinhas e aos Pelotões Especiais de Fronteira, os quais tive o privilégio de conhecer e de levar um pouco de leitura a esses rincões tão esquecidos. Na maioria deles, o único representante do Governo é o Exército Brasileiro, que acolhe, protege e cuida dos ribeirinhos com muita dedicação e Destaco que meu trabalho só foi possível amor. porque contei com a ajuda de familiares, amigos e colegas da DEPA e dos Colégios Militares, que não mediram esforços para angariar livros e enviar a Tefé. Muito do acervo utilizado eu já havia levado do Rio de Janeiro e fui adquirindo outros materiais em viagens a Manaus e ao Rio. Por fim, uma empreitada, que me rendeu 300 paradidáticos novos e altamente recomendáveis, foi a segunda colocação no concurso da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que elege os melhores projetos de incentivo à leitura em todo o Brasil. Recebi o prêmio no dia 25 de agosto de 2010, coincidentemente, Dia do Soldado, em cerimônia na Casa Austregésilo de Athayde – sede da FNLIJ – no Cosme Velho/RJ. No início de setembro, com a visita do Comandante do Exército a Tefé e Tabatinga, os livros puderam ser levados por APAE : Contador de Histórias aeronave militar, tendo sido todos doados até o fim de 2010. Espero que outros militares e familiares, ao serem transferidos para esses locais, possam realizar trabalhos semelhantes, pois a Amazônia (e o Nordeste) necessita sair do atraso cultural e social. O desenvolvimento do Brasil jamais acontecerá plenamente enquanto houver brasileiros em condições desiguais. É preciso olhar o próximo como a nós mesmos, uma vez que não é possível ser feliz sabendo que em diversos lugares há crianças, jovens e adultos marginalizados e excluídos, carentes não só de recursos materiais, mas também de informação, leitura e educação. ACISO: Contador de Histórias (Nogueira/AM) EsPCEx, onde tudo começa A seguir, faz-se um resumo dos meus principais trabalhos com o letramento na Amazônia: 44 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Crianças Atendidas Data Local Eventos e Atividades 09ABR09 Comunidade Ribeirinha Catuiri de Cima (Nogueira/AM) ACISO – leitura de livros e contação de histórias. Doação de brinquedos, brindes e 30 livros paradidáticos para Escola. Entrega da revista “O Recrutinha”. 18ABR09 Escola Municipal Tereza Praia Tavares (Tefé/AM) Páscoa – leitura de livros e contação de histórias. Doação de coleções didáticas, materias educativos e 250 livros paradidáticos para Escola. Entrega da revista “O Recrutinha”. 240 08AGO09 Escola Municipal de Nogueira (Nogueira/AM) ACISO – leitura de livros e contação de histórias durante a escovação dentária. Doação de 50 livros e 50 revistas para Escola. Entrega da revista “O Recrutinha”. Roda de histórias e dramatização. 300 04/05 DEZ09 Escola Municipal de Tefé (Tefé/AM) ACISO – leitura de livros e contação de histórias durante a escovação dentária. Doação de 100 livros e 50 revistas para Escola. Roda de histórias e reprodução de histórias em DVD. 200 ACISO: Contador de Histórias (Tefé/AM) ACISO: Contador de Histórias. Pelotão Especial de Fronteira (Estirão do Equador/AM) EsPCEx, onde tudo começa 80 ACISO: Contador de Histórias. Pelotão Especial de Fronteira (Palmeira do Javari/AM) Contador de Histórias. Pelotão Especial de Fronteira (Pastoral do Menor/AM) 45 EsPCEx Data Revista Pedagógica 2011 Local Eventos e Atividades Crianças Atendidas 03DEZ10 Pelotão Especial Natal – Contação de Histórias. Doação de livros e de Fronteira materiais didáticos ao cantinho da leitura e entrega (Estirão do de gibis e brindes às crianças. Equador/AM) 150 04DEZ10 Pelotão Especial de Fronteira Palmeira do (Javari/AM) Natal – Contação de Histórias. Doação de livros e materiais didáticos ao cantinho da leitura e entrega de gibis e brindes às crianças. 120 17º B Inf Selva (Tefé/AM) Programa Força no Esporte – Oficina de Leitura e Redação, Contação de Histórias, dramatização. 200 a Apresentação teatral para os pais. Doação de gibis, cada ano revistas p/ colorir e material escolar Ao longo de 2000/2010 Ao longo de 2000/2010 16ª Bda de Inf de Programa de Leitura para Cabos e Soldados – Palestras, dinâmicas, leituras e contação de 200 a Selva histórias. Doação de livros didáticos e paradidáticos cada ano (Tefé/AM) e textos a cada participante. Programa de Leitura para Cabos e Soldados da Guarnição de Tefé/AM EsPCEx, onde tudo começa 46 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx O Programa de Leitura para os Alunos da literários, pois essa é tarefa dos pais e do sistema Escola Preparatória de Cadetes do Exército escolar, instituição que, infelizmente, apresenta Machado de Assis do 6º ao 9º ano do ensino Até 2011, os alunos cursavam, na EsPCEx, fundamental, repete o autor no ensino médio e, o terceiro ano do ensino médio. Além das ainda assim, não consegue fazer com que os disciplinas comuns a esse último ano da educação alunos gostem de ler e conheçam o maior escritor básica, esses jovens frequentavam, ainda, aulas brasileiro. Preocupei-me não só com os gêneros de Informática, Instrução Militar, Treinamento escritos, mas também com os orais, pois contei Físico Militar, além de realizarem atividades típicas histórias populares, usei músicas folclóricas, fiz da vida na caserna, como tiro, acampamento, leitura de livros de autores conhecidos e, também, marchas, competições esportivas, dentre outras. dos estreantes, propus debates e dinâmicas, Devido à extensa carga didática e à quantidade realizei dramatizações e expus meus materiais de avaliações, os discentes tinham pouco tempo como um “banquete” a ser saboreado pela na grade curricular para as atividades extraclasse. assistência. Procurei, ainda, incentivar os pais a Em minhas aulas de Literatura, pude estimularem os filhos, já que aqueles são os perceber o interesse dos alunos pela leitura primeiros e melhores modelos para a juventude. desvinculada do estudo e das provas, a chamada Na Amazônia, busquei inserir novos ‘leitura prazerosa’. Porém muitos diziam não ter protocolos de leitura, que foram novas maneiras tempo para ler, uma vez que a intensa rotina da de ler para as crianças, jovens e adultos com Escola não lhes possibilitava nem momentos livres, quem travei contato durante os dois anos em nem disposição para tal prática. Ao perguntarque tive o privilégio de morar e trabalhar na lhes se conseguiam encontrar tempo e interesse região. Se a função básica da escritura é para navegar na Internet e para utilizar o comunicar, da leitura também é. Por conseguinte, Facebook, o Orkut, o Twitter ou o e-mail, a esse foi meu objetivo: levar a leitura e a escrita grande maioria acenou que sim. Por essa razão, para poder compartilhar, com o povo amazonense, decidi realizar uma atividade de incentivo à leitura o que uma pessoa da região centro-sul brasileira para mostrar a essa mocidade verde-oliva que a conhece muito bem – o acesso à cultura. Mostrar leitura, as artes e o senso estético não podem que há um mundo maravilhoso à espera de todos ser desvinculados da carreira, mas que, do e que, apesar da distância e do isolamento, é contrário, ao estarem presentes, tornam o militar possível ser alfabetizado e letrado. não só mais bem preparado para a profissão, Aos alunos da EsPCEx, procurei mostrar que mas também para a vida. Os 522 discentes, divididos por companhia de alunos, assistiram a o dia a dia do profissional não serve de desculpa uma palestra sobre a importância da prática da à inércia e à alienação intelectual, e que a leitura, atividade seguida de dinâmicas, contação tecnologia não substitui a leitura e a feitura do de histórias, leitura de textos, sorteio de livros e texto escrito, ferramentas indispensáveis em uma entrega de brindes aos alunos mais participativos. sociedade letrada. Enfatizei que o aprendizado da autoria na escrita requer tempo, paciência e O resultado foi surpreendente, uma vez que maturidade e que o exercício da leitura deve os jovens se interessaram pelo tema, interagiram servir para estimular o crescimento e o bastante e me procuraram em outros momentos amadurecimento, para transformar a mentalidade, para pedir livros emprestados. Tudo isso mostrou para formar cidadãos críticos e para realizar que, ao contrário do que se pensa, essa geração, sonhos possíveis. Ler, enfim, deve ser uma de fato, gosta de ler, mas, uma vez imersa na experiência feliz. tecnologia e na maciça propaganda da mídia, e *** devido à falta de exemplos de leitores, acaba por sucumbir à pressão da sociedade por um consumo desenfreado de parafernálias digitais na busca por informações excessivas, desnecessárias e alienantes. Considerações Finais Em nenhum momento das atividades com a leitura, preocupei-me em formar leitores EsPCEx, onde tudo começa 47 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Bibliografia AULETE, Caldas. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004. _____ Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1974. HOLANDA, Aurélio Buarque Ferreira de. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 4. ed. Curitiba: Positivo, 2009. ROCCO, Maria Thereza Fraga. Viagens da leitura (Cadernos da TV Escola). Brasília, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação a Distância, 1996. SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. ____O que é letramento? Jornal Diário do Grande ABC, Santo André, 29 ago., 2003a. ____ Alfabetização: a ressignificação do conceito. Jornal Alfabetização e cidadania. Nº 16, p. 9-17, jul. 2003b. (*) A Major Célia Cristina de Almeida Gauté pertence ao Quadro Complementar de Oficiais, formando-se pela EsFCEx (antiga EsAEx) na turma de 1995. Especializou-se em Linguística Textual pela Universidade de Cruz Alta/RS, em 1997; e em Supervisão Escolar, pela UFRJ, no mesmo ano. É Mestre em Letras/Linguística pela Universidade Federal de Santa Maria, RS, em 2000. Cursou a EsAO em 2004. Co-autora do Projeto “Práticas Docentes em Diálogo: pela emergência de novos letramentos na escola”, que deu origem a um curso de capacitação de professores promovido pelo Departamento de Educação e Cultura do Exército. Atualmente é a Bibliotecária e a Coordenadora do Programa de Leitura da EsPCEx. EsPCEx, onde tudo começa 48 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Uma Visão da Importância da Informação e da Segurança da Informação para a Sociedade, para o País e para as Forças Armadas Sergio da Costa Ferreira (*) Chefe da Divisão de Tecnologia da Informação da EsPCEx “Ao longo da história, desde a mais remota antiguidade, o ser humano vem buscando controlar as informações que julga importantes.” (CASANAS e MACHADO, 2006) Esta é, e sempre foi, a realidade no mundo nas relações humanas. Desde os mais primitivos tempos, o ser humano busca proteger determinadas informações que julgue poder lhe trazer vantagens ou prejudicá-lo caso não recebam o devido tratamento sigiloso. Ainda de acordo com Casanas e Machado (2006, p. 4), o modo como a informação circula evoluiu muito rapidamente depois que as organizações e pessoas passaram a estabelecer contato com sistemas externos aos seus, contatos esses proporcionados pela evolução das redes de computadores e sistemas computacionais. Antigamente a segurança das informações e dos sistemas de computação de uma instituição não era muito preocupante devido ao limitado acesso que se tinha a esses recursos, que eram praticamente confinados ao ambiente interno da organização. Mas, com a evolução da informática e das redes de computadores, tornou-se possível uma integração dessas estruturas, globalizando o compartilhamento das informações. Com o passar dos tempos, essa problemática vem se agravando, devido ao crescimento da quantidade de informações circulantes e da diversificação dos meios de comunicação por onde elas tramitam. Segundo Casanas e Machado (2006, p. 4), o mundo está atravessando a era da informação – um período jamais visto desde a criação da escrita por nossos ancestrais. Todo esse cenário se deve principalmente ao surgimento da Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC), que vem impondo ao homem moderno atitudes muito mais Um claro exemplo disso é que hoje em dia bem elaboradas para controlar a informação do é comum um indivíduo qualquer, sem sequer sair que as rudimentares práticas existentes nos da sua casa, adquirir qualquer tipo de produto; tempos antigos. ou ter acesso as principais notícias do mundo; ou movimentar sua conta no banco; ou realizar Em anos recentes a informação assumiu pesquisas a conteúdos didáticos; ou ainda importância vital para manutenção dos negócios, participar de redes de relacionamento e trocar marcados pela dinamicidade da economia mensagens com amigos distantes no tempo ou globalizada e permanentemente conectada, de no espaço. Além de tudo isso, existe ainda uma tal forma que não há organização humana não imensa gama de operações transacionais dependente da tecnologia da informação, de executadas por empresas, governos e os mais forma que o comprometimento do sistema de variados tipos de organização. Enfim, as informações por problemas de segurança pode informações estão em toda parte e fazendo o causar grandes prejuízos ou mesmo levar a mundo acontecer. Assim, a informação passa a organização ao fim. (CARUSO,1999, apud constituir-se em um importante ativo que deve CASANAS e MACHADO, 2006, p. 1). ser protegido de maneira adequada e compatível EsPCEx, onde tudo começa 49 EsPCEx com o valor que representa para o seu detentor. (MONTEIRO, 2009, p. 23) Revista Pedagógica 2011 “Segurança da Informação e Comunicações: ações que objetivam viabilizar e assegurar a disponibilidade, a integridade, a confidencialidade e a autenticidade das informações.” (GSIPR, 2008, p. 2). Todo esse avanço tecnológico motivou a evolução também daquela antiga necessidade de se manter segura a informação. Daí o surgimento de modernas técnicas de segurança, Ou, ainda, segundo as Instruções Gerais que atualmente são definidas simplesmente pelo de Segurança da Informação para o Exército conceito de “segurança da informação” e que Brasileiro (IG 20-19): assumiu um papel fundamental no contexto mundial da informação e comunicação. “Segurança da Informação compreende um O conceito de segurança da informação é conjunto de medidas, normas e procedimentos explicado de diversas formas e sob vários pontos destinados a garantir a integridade, a de vista. Para a ABNT (2005, p. ix), “segurança disponibilidade, a confidencialidade, a da informação é a proteção da informação contra autenticidade, a irretratabilidade e a atualidade vários tipos de ameaças para garantir a da informação em todo o seu ciclo de vida.” continuidade do negócio, minimizar o risco ao (BRASIL, 2001, p. 3). negócio, maximizar o retorno sobre os investimentos e as oportunidades de negócio.” Sintetizando o que foi apresentado, têmÉ necessário acrescentar que devem ser se, segundo Freitas e Lauro (2009, p. 2), que a preservadas a confidencialidade, a integridade e segurança de informações visa garantir a a disponibilidade da informação; e, ainda, a integridade, confidencialidade, autenticidade e autenticidade, a responsabilidade, o não repúdio disponibilidade das informações processadas por e a confiabilidade. (ABNT, 2005, p. 1) uma organização. A esse respeito, o Decreto nº 3.505, no Dessa forma, a grande massa das inciso II do seu artigo 2º, traz o seguinte organizações existentes no mundo atual está conceito: preocupada com a segurança de suas informações “Segurança da Informação: proteção dos sistemas e, por causa disso, vem investindo uma grande de informação contra a negação de serviço a quantidade de recursos nesse objetivo. Nesse usuários autorizados, assim como contra a contexto, praticamente, todas as empresas intrusão, e a modificação desautorizada de dados possuem em seus quadros pessoas destinadas a ou informações, armazenados, em cuidar dessa questão. processamento ou em trânsito, abrangendo, Normalmente os profissionais de Tecnologia inclusive, a segurança dos recursos humanos, da Informação são os responsáveis pela da documentação e do material, das áreas e segurança da informação nas organizações. instalações das comunicações e computacional, Esses profissionais estão sempre buscando novos assim como as destinadas a prevenir, detectar, meios para manter disponibilidade, integridade e deter e documentar eventuais ameaças a seu confidencialidade das informações de suas desenvolvimento” (BRASIL, 2000, p. 2). organizações, lançando mão de todas as Esses conceitos trazem ideias tecnologias e procedimentos disponíveis. complementares, uma vez que o primeiro Normalmente, esses recursos são regulados por permanece focado na proteção da informação normas e padrões internacionais, criados para propriamente dita e no seu impacto nos negócios; estabelecer diretrizes e princípios para melhorar e o segundo, de uma forma mais abrangente, a gestão de segurança da informação nas inclui, na perspectiva de segurança, os sistemas organizações, como é o caso da família de normas de informação, os recursos humanos, a ABNT NBR ISO/IEC 27000. documentação, o material, enfim, quase que a Nota-se que, segundo aponta Holanda organização como um todo. Mas, para entender (2006, p. 1), atualmente existe uma tendência melhor o conceito de segurança da informação, muito forte de adoção dessas normas no faz-se necessário verificar outras definições, mercado, sensibilizado pela importância de se como a apresentada na Instrução Normativa nº proteger as informações, que se constituem em 01 do GSIPR, a seguir: EsPCEx, onde tudo começa 50 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx ativo essencial para os negócios de qualquer Visto dessa forma, esse conjunto de empresa, e devido a uma grande aceitação dos informações manipulado pela Marinha, Exército padrões ISO como referencial, conforme observa e Aeronáutica constitui-se em ativo que merece Caubit (2006, p. 2). especial atenção com relação à segurança da informação. Dentro desse cenário, é fácil deduzir que, de forma generalizada, são implementadas Certo, portanto, que a questão de medidas de segurança da informação nas diversas segurança da informação para as organizações organizações dos mais variados setores da militares possui um peso diferenciado de sociedade e dos negócios. importância, devendo, então, ser tratada com extrema seriedade e responsabilidade; mesmo “As medidas de segurança são um conjunto de porque as unidades militares, por sua condição práticas que, quando integradas, constituem uma constitucional, deveriam ser exemplos nas solução global e eficaz da segurança da questões relacionadas à segurança, sejam elas de qualquer ordem. informação.” (ALASI, 2006, p. 60). A norma ABNT NBR ISO/IEC 27002 traz esse conjunto de práticas, definido através de controles, dentre os quais figuram o documento da política de segurança da informação; a atribuição de responsabilidades para a segurança da informação; a conscientização, a educação e treinamento em segurança da informação; o processamento correto nas aplicações; a gestão de vulnerabilidades técnicas; a gestão da continuidade do negócio; a gestão de incidentes de segurança da informação e as melhorias. Souza Neto (2009, p. 19) destacou a importância da segurança da informação efetiva nos órgãos e entidades da Administração Pública Federal (APF), uma vez que a Constituição Federal (1988) vincula a Administração Pública aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. As Forças Armadas, que também integram a APF, possuem responsabilidade ainda maior nessa questão, porque, segundo o previsto no artigo 142 da Constituição Federal (1988), as Forças Armadas destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem, isto é, são responsáveis pela defesa nacional em várias vertentes. Portanto, por uma questão de concepção e vocação inata das Forças Armadas, as unidades que compõem cada força manipulam informações que, além de serem vitais para a existência das próprias organizações militares, analogamente a qualquer outra organização, são, muitas das vezes, vitais para o Estado Brasileiro e para a defesa da Pátria. EsPCEx, onde tudo começa O Exército Brasileiro como Força Armada é, portanto, corresponsável pela segurança dessas informações do Estado Brasileiro, além de ser o responsável direto por essa questão no âmbito nacional, como prevê a Estratégia Nacional de Defesa. *** Bibliografia ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Tecnologia da informação – Técnicas de segurança – Código de prática para a gestão da segurança da informação: ABNT NBR ISO/ IEC 27002:2005. 2a. ed. Rio de Janeiro, 2005. ALASI – ACADEMIA LATINO-AMERICANA DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO. Curso Básico de Segurança da Informação. Módulo 1. Brasil: 2006, 65p. BRASIL. Constituição Federal, 1988. BRASIL. Decreto n° 3.505-PR, de 13 de junho de 2000. Institui a Política de Segurança da Informação e Comunicações nos órgãos e entidades da Administração Pública Federal. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 14 jun. 2000, Seção 1, p. 2. BRASIL. Ministério da Defesa. Exército Brasileiro. Portaria n° 483Cmt EB, de 20 de setembro de 2001. Aprova as Instruções Gerais de Segurança da Informação para o Exército Brasileiro (IG 20-19). CASANAS, Alex Delgado Gonçalves, MACHADO, Cesar de Souza. O impacto da implementação da norma NBR ISO/IEC 17799. Módulo Security Magazine: 2006, 8p. Disponível em: <http:// www.abepro.org.br>. Acessado em: 30 maio 2010. CAUBIT, Rosângela. O que é a ISO 27001, afinal? Módulo: 2006, 2p. Disponível em: <http://www.modulo.com.br>. Acessado em: 30 maio 2010. FREITAS, Marcus Vinicius Maia de. LAURO, José. Políticas de Segurança da Informação. Rio de Janeiro: Universidade Estácio de Sá, 2009. 22p. Pós- Graduação em Segurança da Informação. Disponível em: <http://www.viniciusmaia.com.br>. Acessado em: 30 maio 2010. GSIPR – GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Instrução Normativa GSI nº 1, de 13 de junho de 2008: Disciplina a gestão de segurança da informação e comunicações na administração pública federal, direta e indireta, e dá outras providências. Brasília, junho 2008. Publicada no DOU nº 115, de 18 Jun 2008 – Seção 1. Disponível em: <http:// dsic.planalto.gov.br>. Acesso em: Maio de 2011. 51 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 HOLANDA, Roosevelt de. O estado da arte em sistemas de gestão da segurança da Informação: Norma ISO/IEC 27001:2005. Módulo Security Magazine: 2006, 3p. Disponível em: <http:// www.modulo.com.br>. Acessado em: 30 maio 2010. MONTEIRO, Iná Lúcia Cipriano De Oliveira. Proposta de um Guia para Elaboração de Políticas de Segurança da Informação e Comunicações em Órgãos da Administração Pública Federal. 2009. 67 f. Monografia de Conclusão de Curso (Especialização) – Departamento de Ciência da Computação, Instituto de Ciências Exatas, Universidade de Brasília. SOUZA NETO, João. Política e Cultura de Segurança: GSIC051 (Notas de Aula). Curso de Especialização em Gestão da Segurança da Informação e Comunicações: 2009/2011. Departamento de Ciências da Computação da Universidade de Brasília. 2010. 33 p. (*) O Major Inf Sergio da Costa Ferreira foi aluno da EsPCEx, formando-se em 1988, é Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN – 1992), Mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO – 2000), graduado em Tecnologia de Sistemas de Informação pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC – 2005) e está concluindo uma pós-graduação Lato Sensu em Gestão de Segurança da Informação e Comunicações pela Universidade de Brasília (UnB). Exerceu a função de Comandante de Pelotão de Alunos no período de 1996 a 1999 e atualmente é o Chefe da Divisão de Tecnologia da Informação da EsPCEx. EsPCEx, onde tudo começa 52 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Exposição de Pinturas (27 de setembro de 2011) Tema: A Torre Duque de Caxias e o Pátio Agulhas Negras Modalidade: óleo-acrílico Artista Profissional: Joel Gonçalves EsPCEx, onde tudo começa 53 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 O Projeto Arquitetônico da Escola Preparatória de Cadetes do Exército Davi Horr (*) Auxiliar da Seção de Licitações e Contratos Para a concretização do ideal de possuir em seu território uma escola preparatória do Exército Brasileiro (EB), o Governo e a Sociedade paulista passaram por longa e difícil negociação para esse projeto. Haviam sido analisadas várias propostas sobre a aquisição do terreno e também do financiamento da construção do prédio. Por fim, ficou acordado, numa primeira fase, que o Estado de São Paulo arcaria com todos os custos da compra do terreno, conforme fica determinado no Decreto-Lei nº 13.906, de março de 1944, que assim dispõe sobre a aquisição de imóveis do então Interventor o Senhor Fernando de Souza Costa.1 Também restou a responsabilidade pela idealização do projeto, a condução e a concretização do empreendimento, considerado épico, ao Governo paulista. Depois de autorizado pelo responsável administrativo do Estado-Membro, foi determinado à Secretaria de Obras Públicas (DOP) o início dos procedimentos administrativos para a construção da Escola Preparatória de Campinas (EPC), como pode ser extraído do Diário Oficial do Estado de São Paulo: “(...) II) – Projetos: O Projeto arquitetônico e a Fiscalização das Obras da Escola Preparatória de Cadetes de Campinas estão a cargo da Diretoria de Obras Públicas do Estado de São Paulo. A execução do referido projeto e desenvolvimento do mesmo está sendo efetuada pela Sociedade Construtora Brasileira Ltda, e parte relativa às instalações elétricas está a cargo da Sociedade Técnica de Instalações Gerais S. A., conforme contrato em anexo”. 2 porte e destaque nacional, em face da complexidade do projeto. Para as obras de construção da EPC foi contratada a Sociedade Construtora Brasileira (SCB), 3 herdeira da Companhia Construtora de Santos (CCS), de propriedade de Empresário da Construção Civil de grande destaque, o Dr. Roberto Simonsen,4 figura de extraordinário poliformismo, projetandose no vasto cenário da vida nacional. Na década de 1920, mercê de sua reconhecida inteligência e pelo seu criterioso e dinâmico trabalho como Diretor-Presidente da CCS, apresentava obras monumentais em várias cidades pelo Brasil afora e, dessa forma, é vencedor em disputadas concorrências para contratos de construção de quartéis destinados ao Exército Nacional, assim como para outras obras de vulto.5 E para as instalações elétricas e de força, foi contratada a Sociedade Técnica de Instalações Elétricas S.A. (STI).6 Eram dois os contratos para a construção da Escola Preparatória de Campinas: um cujo objeto era a execução de todas as obras da construção, firmado junto à SCB, datado de 25 de julho de 1944; o outro, tendo como objeto a instalação de luz e força, ficou sob a responsabilidade da STI, datado de 26 de agosto de 1946. Os contratos foram firmados com a Administração do Estado de São Paulo, na ocasião representado pela Secretaria da Viação e Obras Públicas – Diretoria de Obras Públicas.7 Herdeira de todo esse prestígio, a SCB tinha como administradores responsáveis para o desenvolvimento de projetos os seguintes profissionais de destaque nacional na área de engenharia e arquitetura: Dr Roberto Simonsen, Para cumprimento da ordem do Governador, Dr Mário Freire, Dr Oscar Egídio de Araújo, Dr ratificada pela Assembleia do Estado de São Francisco Teixeira da Silva Telles, Dr Pérsio P. Paulo, foram contratadas empresas de grande Mendes e Dr Mário Freire Filho.8 1 CAPPELLANO, Jorge Luiz Pavan. Memorial da Escola Preparatória de Cadetes do Exército: da rua da Fonte à Fazenda Chapadão, 65 anos de história, 1940 a 2005. Campinas: Brasil, 2007. 2 SÃO PAULO. Secretaria da Viação e Obras Públicas. Diretoria de Obras Públicas. Diário oficial do Estado de São Paulo dos Estados Unidos do Brasil. Diário da Assembleia Legislativa. Ano LXV – nº 72. 31 Mar 55. p 44 e 45. 3 Ibidem 4 RODRIGUES, Olao. Veja Santos. 2º Ed. São Paulo: Santos, 1975. 5 Ibidem 6 Cf nota 2 7 Cf nota 2 8 RODRIGUES, Olao. Veja Santos. 2º Ed. São Paulo: Santos, 1975. EsPCEx, onde tudo começa 54 Revista Pedagógica 2011 O profissional designado para projetar a Escola Preparatória de Campinas foi o EngenheiroArquiteto Hernani do Val Penteado, que pertencia aos quadros funcionais da Diretoria de Obras Públicas de São Paulo, apresentando sua intenção plástica decorrente de um ideário estético aprimorado e vasto conhecimento histórico, como poderemos acompanhar nas maquete, desenhos e plantas. Outra obra de magnífica projeção do Dr Val Penteado, que evidencia seu valor profissional e artístico, é o prédio do Aeroporto de Congonhas em São Paulo, onde ele atuou também como artista plástico com suas aquarelas em paredes do prédio.9 Fazendo parte do projeto para a construção da EPC, o Dr Hernani confeccionou em torno de 550 plantas10 e uma maquete, com uma riqueza de detalhes que surpreende até o mais familiarizado com projetos arquitetônicos de grandes engenheiros e arquitetos. Nas plantas do projeto e fiscalização da Diretoria de Obras Públicas, que apresentam todo o programa, verifica-se a visão do Engenheiro-Arquiteto, que planeja toda a estrutura necessária para a vida administrativa e de ensino preparatório de uma escola militar, demonstrando seu alargado conhecimento das necessidades militares e acadêmico-militares da época, como também sua sustentação no futuro, tanto para o prédio, quanto para o ensino. Na maquete, nos desenhos e nas plantas podemos ver meticulosos detalhes, inclusive das áreas internas, com destaque para as portas, vitrais e tetos ornamentados, demonstrando como o autor vislumbrava a Escola Preparatória de Campinas e, também, como determinava os traços arquitetônicos, os elementos decorativos a serem aplicados na construção da Escola. Ainda pode ser destacado que fazia parte do projeto o paisagismo, com ruas, jardins, chafarizes, bosques, praças, vislumbrando a configuração final. EsPCEx que se daria ao prédio principal e a todas as demais obras necessárias para se concretizar o projeto da Escola. Para resolver esse problema, o Governo paulista adquiriu mais uma faixa de terra, destinada à ampliação da construção proposta pelo arquiteto. Os procedimentos legais para esse fim, bem como a autorização para a aquisição da nova gleba de terra destinadas à ampliação do terreno da EPC encontram-se no corpo do Decreto-Lei nº 14.259, de 27 de outubro de 1944.11 Temos no seu projeto bem identificado qual foi o seu objetivo. Pode-se ver claramente que se trata de uma escola, já demonstrando sua preocupação com a conservação e preservação do prédio, pois “o uso do edifício nas condições previstas pelo projeto é, já de início, o primeiro fator de sua conservação garantida. Realmente, a satisfação integral do programa é condição básica de preservação da integridade de uma obra arquitetônica.”12 No projeto, pode-se identificar uma série de símbolos que remete à arquitetura militar aplicada em quartéis e fortes, tais como: a torre como observatório e demonstração de segurança, as guaritas de vigia e o Corpo da Guarda como acesso principal, demonstrando ser uma perfeita conjectura de escola-quartel. Chama a atenção o pórtico de entrada, de inspiração neocolonial, formando um belíssimo conjunto com a fachada da Escola e com o programa do prédio. Logo no início dos projetos, verificou-se que o terreno seria pequeno para a dimensão 9 REIS FILHO, Nestor Goulart. Aspectos da história da engenharia civil em São Paulo de 1860-1960. São Paulo: Livraria Kosmos Ed., 1989. p. 230. 10 Cf nota 7 11 SÃO PAULO. Decreto-Lei nº 14.259, de 27 de outubro 1944. Diário Oficial do Estado de São Paulo dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em em <www.al.sp.gov.br/repositorio/legislativo/decreto%20lei/1944/decreto-lei%20n.14259,%20de%2027.10.1944.htm >. Acesso em 11 Ago 11. 12 LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 67-68. EsPCEx, onde tudo começa 55 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Como observava John Ruskin, teórico da preservação do século XIX, em relação à importância de construir prédios duráveis, pois assim: “com a passagem do tempo, que a arquitetura vai se impregnando de vida e dos valores humanos”.11 Hoje a Escola Preparatória de Campinas, atual Escola Preparatória de Cadetes do Exército, faz parte incontestável da história de Campinas e Estado de São Paulo, em conjunto com o Ensino Militar do Exército Brasileiro e, em especial, para a historicidade da arquitetura. *** (*) 2º Sgt Músico Davi Horr. Possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do ItajaíUNIVALI (2002). Pós-Gradução Lato Sensu em Direito Administrativo Aplicado pelo Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina (CESUSC) e Pós-Graduação em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). É aluno de Mestrado do Programa de Arquitetura, Tecnologia e Cidades da UNICAMP. Atualmente, é Auxiliar da Seção de Licitações e Contratos da EsPCEx. EsPCEx, onde tudo começa 56 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Arcos Romanos Foto: TF De Souza Um dos mais belos detalhes arquitetônicos do prédio da EsPCEx é a existência de inúmeras passagens e ornamentos em forma de arcos romanos. As fotografias do canteiro de obras do início da construção do prédio nos revelam uma tecnologia que hoje já não se usa mais, a não ser para atribuir um valor arquitetônico e artístico muito além da simples aparência do edifício. Mesmo para o início da década de 1940, essa técnica de construção de arcos romanos poderia ser interpretada como uma forma de valorizar, ainda mais, essa belíssima construção em estilo colonial espanhol. É preciso ressaltar, ainda, que o arquiteto Hernani do Val Penteado era uma das maiores autoridades de sua época, quando o assunto era arquitetura colonial e, possivelmente, empregou essa tecnologia para melhor identificar sua obra com um período da história. a descrita. As pedras e a massa foram substituídas por tijolos e reboco. Na construção da curva dos arcos, não foram empregadas armações de ferro, mas, sim, modelos de madeira. A estabilidade dos arcos foi obtida pela oposição de forças estabelecida pela colocação dos tijolos somadas ao reboco, técnica muito semelhante à utilizada na antiguidade, diferenciando-se apenas pelo tipo e qualidade dos materiais utilizados. O Primeiro Desenho da Escola data de 30 de agosto de 1944, ano em que teve início a construção desse histórico edifício, que haveria de abrigar inúmeras gerações de alunos e tradições de formação do ensino preparatório do EB. O magnífico edifício da EsPCEx não guarda apenas os grandes momentos da formação de nossos alunos, mas é, também, depositário da memória de um momento especial das técnicas Na antiguidade, a construção de passagens de construção de uma época. em forma de arcos nas edificações era a mais *** utilizada, principalmente pelos romanos, que Jorge Luiz Pavan Cappellano-Cel R1 aperfeiçoaram e dominaram essa tecnologia. Nesse período, já se conhecia uma massa para Professor de Português e Adm Memorial da assentamento de pedra, obtida a partir da cal e EsPCEx do barro (sedimento vulcânico), que tinha alguma resistência, mas que sozinha era insuficiente para garantir a segurança de formas sofisticadas, como a dos arcos romanos. Para tornar possível esse tipo de construção, eram fabricadas caixas de madeira em forma de arco junto às bases das passagens da edificação. As pedras eram cortadas, uma a uma, em forma de curva, e assentadas a partir das bases do arco. A última pedra a ser colocada era a do centro do arco. Com a retirada da armação, a pressão exercida pelas pedras garantia a estabilidade da construção. Na construção dos diversos arcos que integram o conjunto arquitetônico da EsPCEx, foi empregada uma técnica muito parecida com EsPCEx, onde tudo começa Foto: Registro do Histórico-Acervo do Memorial da EsPCEx Caixas de Madeira em Forma de Arco 57 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Exposição de Pinturas (27 de setembro de 2011) Classificação: 1º Lugar Tema: Praça Cidade de Campinas - EsPCEx Modalidade: óleo sobre tela Artista Amador: Leonardo Ávila Campana EsPCEx, onde tudo começa 58 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Criação do Brasão da Turma General Pitaluga (registro) No dia 12 de dezembro 2011, em formatura no Pátio Agulhas Negras, presidida pelo General de Exército Adhemar da Costa Machado Filho, Comandante Militar do Sudeste, foi lançado o Brasão da Turma General Pitaluga. O aluno Winston, melhor classificado no curso da Escola no corrente ano, fez a leitura de um texto alusivo ao brasão da turma: “O brasão da turma foi criado para tornar-se um dos emblemas mais perpetuadores e significativos da passagem da Turma General Pitaluga pela EsPCEx e de sua incorporação ao Exército Brasileiro. O brasão representa a força juvenil de uma nova turma de futuros cadetes e oficiais de Caxias, amalgamada e forjada pelos mais caros valores e tradições da Força Terrestre. No canto superior esquerdo, o brasão da EsPCEx, Onde Tudo Começa, simboliza o berço da sólida formação militar. No canto superior direito, a inscrição numérica representa os 532 alunos que foram matriculados no dia 12 de fevereiro de 2011 no curso da EsPCEx, iniciando juntos e em sã camaradagem a jornada rumo ao oficialato. No centro do brasão, as lanças da nobre arma de cavalaria, sustentadas ao fundo pelo escudo da Força Expedicionária Brasileira, fazem alusão ao patrono da turma e que a batiza com seu nome, General Plínio Pitaluga. Estando entre os mais destacados heróis brasileiros, o Gen Pitaluga comandou o 1º esquadrão de reconhecimento da FEB no teatro de operações da Itália. Oficial possuidor de elevado espírito de decisão e coragem, liderou de maneira singular seus homens rumo à vitória e serve de inspiração e exemplo aos alunos de 2011. O emblemático brasão da turma Gen Pitaluga, além de manter acesa a chama dos inabaláveis valores do passado, incendeia os corações dos alunos de hoje e descortina-lhes um horizonte de sonhos e virtudes.” EsPCEx, onde tudo começa 59 EsPCEx Revista Pedagógica 2011 Juramento à Bandeira (registro referente a 2012) No dia 18 de agosto, no tradicional Pátio Agulhas Negras da EsPCEx, foi realizada a cerimônia de Juramento à Bandeira da turma de alunos incorporada no corrente ano. A Formatura foi presidida pelo Exmo Sr. Gen Div Fernando Vasconcellos Pereira, Diretor de Formação e Aperfeiçoamento. Nesta data, também foi consagrado o nome de batismo da turma de 2012, que passou a se chamar “Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti”. De acordo com o Regimento Interno da EsPCEx, o Al Felipe Araújo de Sousa, do 5º Pel da 1ª Companhia de Alunos, por ter conquistado, até a presente data, os melhores resultados no Ensino Acadêmico e na Instrução Militar, recebeu o Estandarte-Distintivo da Escola que será conduzido por ele em todas as formaturas em que a Guarda-Bandeira estiver incorporada. Para selar os compromissos que os militares assumem nesse sagrado cerimonial, os alunos, perante à Bandeira do Brasil, à Pátria e ao Exército Brasileiro, realizaram o solene juramento: “Incorporando-me ao Exército Brasileiro, prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado, respeitar os superiores hierárquicos, tratar com bondade os subordinados e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cuja honra, integridade e instituições defenderei com o sacrifício da própria vida” O Comandante da Escola, Cel Fábio Benvenutti Castro, assinalou esse momento histórico para a Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti com vibrante discurso dirigido aos compromitentes, a seguir transcrito: “Senhoras e Senhores que com suas presenças abrilhantam essa cerimônia, hoje experimentamos uma jornada memorável. Uma jornada em que jovens, brasileiros, imbuídos dos mais nobres sentimentos cívicos se apresentam perante Bandeira do Brasil, a nossa bandeira, e prestam o solene juramento à Pátria. Reconhecemos essa missão de grandeza. Nesse ponto, compartilhando a emoção e os sentimentos dos alunos da Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti, na qual feitos heroicos foram realizados pelos nossos patronos em defesa da nossa Pátria, gostaria de expressar os verdadeiros sentimentos desses nossos jovens soldados – sei que eles individualmente gostariam de assim se expressar. Incorporo seus pensamentos e cumpre-me traduzi-los. Repito, passo a traduzir os pensamentos dos alunos: Inicialmente, pai, mãe, parentes e amigos gostaria de agradecer a confiança que depositaram em mim. Em todos os momentos nessas jornadas, senti seus estímulos, suas preces, que venceram as barreiras físicas e fortificaram minha vocação – a vocação de um soldado, de um soldado de Caxias. Hoje, pai, mãe, parentes e amigos, posso lhes afiançar que ingressei em uma das mais respeitadas instituições da Nação. Uma instituição, correta, justa, que valoriza o mérito, a disciplina e que se mantém alinhada com seu passado, garantindo os poderes constituintes do nosso Brasil. Aqui aprendi, aprendi a ser soldado. Amadureci, cresci como homem, como aluno, como cidadão, que tem o dever de amar a Pátria. Sei que dedico a seiva da minha juventude a esse Exército que tanto amo e me sinto reconfortado, particularmente porque o que faço é minha vocação. Ainda, como aluno, gostaria de agradecer a meus instrutores, professores, aos praças e ao pessoal civil que aqui serve. Sei que vocês trabalham diuturnamente, sem medir esforços, na maioria das vezes relegando o descanso e o lazer, para que eu seja um militar capaz de corresponder às demandas inerentes à Força Armada – Exército no Século XXI. Meu muito obrigado. Eu não os decepcionarei. Eu não decepcionarei vocês – pai, mãe e parentes. Eu não decepcionarei minha Pátria, meu país, meu Brasil. EsPCEx, onde tudo começa 60 Revista Pedagógica 2011 EsPCEx Após irradiar o pensamento dos alunos – Turma Sesquicentenário da Batalha de Tuiuti, sinto-me confortável para nesse momento dirigir-me aos meus instruendos. Vocês são a razão de ser dessa Escola. Vocês são o futuro do Exército. O que aprendem aqui são atributos, valores, procedimentos inerentes à vocação que livremente escolheram. Alinhem-se e incorporem sempre os exemplos que lhes são passados, desenvolvam camaradagem, tenham sensibilidade para trabalhar ao lado da justiça, confiem... confiem em vocês, como nós confiamos... exijam de vocês sempre as melhores performances pessoais e profissionais. Sejam sempre bons filhos, bons esposos, bons pais... assim serão bons soldados... os soldados que esperamos que vocês sejam...garantindo nossas tradições hoje, como soldados do amanhã. Que o Senhor Deus dos Exércitos lhes ilumine nas fantásticas jornadas castrenses. Aqui se aprende a amar a Pátria. Assina: Fábio Benvenutti Castro. Comandante da EsPCEx.” Pais, parentes e amigos dos compromitentes, visivelmente emocionados, assistiram a esse momento inesquecível, que haverá de permanecer vivo, para sempre, no coração e na memória de cada um desses alunos. Também prestigiaram com suas presenças, ao solene compromisso, as seguintes autoridades: General de Brigada Mario Antonio Ramos Antunes – Comandante da 12ª Brigada de Infantaria Leve Aeromóvel; General de Brigada Samuel da Silva Ricordi – Chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Oeste; General de Brigada Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva – Comandante da 11ª Brigada de Infantaria Leve e Comandante da EsPCEx no período de 2010 a 2011; General de Brigada Alberi Silveira DIAS; General de Brigada Benedito Lajóia Garcia; General de Brigada Mario de Oliveira Seixas – Comandante da EsPCEx no período de abril de 1996 a janeiro de 1998; Cel Edson Bellini Chiavegatto – Chefe do Estado-Maior da 11ª Brigada de Infantaria Leve; Cel Mauro Sinott Lopes – Comandante do Corpo de Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras; Cel Francisco Ronald Silva Nogueira – Comandante da EsPCEx no período de janeiro de 1992 a janeiro de 1994; Desembargador do TRT DR. Manoel Carlos Toledo, e Ten Cel Aviador Marco Antonio Gonçalves – Comandante do Corpo de Alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar. *** EsPCEx, onde tudo começa 61