PROJETO DE INTERVENÇÃO A ESCRITA E A LEITURA NO ESPAÇO ESCOLAR: LETRAR É PRECISO BRASÍLIA DEZEMBRO 2013 1. Apresentação da situação-problema A escola tem habilitado seus alunos através do uso da leitura e escrita para desempenho de um papel critico no ambiente social ou simplesmente tem repassado os conteúdos de maneira quantitativa e mecanizada? Os alunos, especificamente do 9º ano do ensino fundamental, se sentem desmotivados em relação a metodologia aplicada em sala de aula. Por que esses indivíduos se mostram tão ineficientes quanto à leitura e interpretação de textos? A situação é recorrente no âmbito escolar, sujeitos que sabem ler e escrever , porém a sua “leitura de mundo” não se ajusta muito a “leitura da palavra”, indivíduos que não conseguem ler , interpretar e se colocar diante dessa leitura como cidadão ativo e crítico. De acordo com Antunes (2008) os conhecimentos escolares repassados como um aglomerado de informações induz o aluno a memorização e prática mecânica, sem reflexão. O ensino pode e deve ser contextualizado, fazer a junção do conteúdo escolar às experiências do cotidiano torna o processo mais atraente ao aluno. E essa afirmação de Antunes atesta a realidade que percebo muito nitidamente na escola. A partir disso, procuro usar minha prática em sala de aula pra investigar como a escola tem proporcionado o ensino da leitura e escrita, além de ouvir os próprios alunos, expressando sua visão sobre a escola. Objetivos Objetivo geral Investigar como a escola tem desenvolvido as habilidades de leitura e escrita visando a criticidade através dessas habilidades no ambiente social Objetivos específicos Analisar a percepção dos alunos sobre a escola o ensino da leitura/ escrita Identificar a presença ou não do analfabetismo funcional em alunos de ensino fundamental séries finais. 3. Metodologia Parte 1 Aplicação de questionário ( 15/10 a 13/11) Para desenvolvimento do projeto será aplicado um questionário com perguntas fechadas sobre leitura,escrita e escola para 60 alunos do 9º ano do ensino fundamental. 3.2 Parte 2- Atividade Oral ( 14 e 21/11) Observação de duas semanas do público do 9º do ensino fundamental, suas atitudes em sala de aula e suas dificuldades (ou não) em relação a leitura e escrita escolar, utilizar também minha prática em sala para promover debates entre os alunos a respeito da própria escola. Relatar em meu texto falas dos próprios alunos á respeito da escola, leitura e escrita. 3.3 Parte 3- Dados (15 a 31/12/2013) Análise dos dados coletados. 4. Referencial teórico O referencial teórico terá como base Colello(2012) e Antunes (2008) e Alves (2000) que ressaltam as práticas de leitura e escrita no âmbito escola, enfatizando como as práticas pedagógicas influenciam no modo como os sujeitos estão sendo preparados para atender as demandas sociais através dessas habilidades que são responsabilidade também da agência de letramento que é a escola. Também serão utilizados textos apresentados aqui no curso de Letramento, Ensino e Discurso em especial Freire; serão utilizadas as sábias palavras de Rubens Alves entre outros autores. O objetivo é fazer referência precisa, que realmente mostre a escrita e leitura na escola. É preciso repensar as formas de ensinar e o ideal é ensinar letrando. PROJETO DE INTERVENÇÃO Trabalho em uma escola de apoio pedagógico em Brasília- DF, auxiliamos alunos de três escolas particulares, que são renomadas por obterem melhores notas no ENEM por muitos anos consecutivos em Brasília. Esses alunos têm aulas regularmente na escola e no horário contrário vão ficar no apoio pedagógico, revisando conteúdos. A escola recebe alunos de ensino fundamental e médio que enfrentam dificuldades em matérias humanas e exatas, a faixa etária é doze a dezessete anos de classe alta. Como já citado, as escolas estão entre as melhores do Distrito Federal, esses adolescentes recebem desta muitos “estímulos” que por eles são ditos inúteis, ou usados de forma maçante para o processo de aprendizagem. Fiquei muito curiosa ao ver que esses alunos estavam com notas baixas em muitas matérias, eu imaginava que por eles serem de escola particular, teriam mais interesse pelo que é oferecido pela instituição de ensino. Feiras culturais, biblioteca repleta de livros, uso da tecnologia em sala de aula( os alunos de ensino médio utilizam como livro didático o tablet ou iPad). A dificuldade de leitura e escrita é um problema extremamente presente, uma parte considerável dos meus alunos infelizmente não consegue interpretar satisfatoriamente um texto; observo que muitos textos são poucos atrativos e eles reclamam que lê-los não acrescenta muito coisa em suas vidas. Adolescentes que encontram dentro da leitura e escrita escolar um mundo que não faz parte da vida social deles. Por que a escola tem formado indivíduos que muitas vezes se veem incapazes de se colocar como leitor/ escritor crítico dentro do contexto? Como a prática de leitura e escrita tem sido desenvolvida no âmbito escolar e porque o aluno não se reconhece nesse processo? Uma situação muito marcante para mim como educadora aconteceu em uma terçafeira de setembro, estava dando aula a uma turma de 9º ano de ensino fundamental de uma renomada escola, organizei os conteúdos, trovadorismo (literatura), gramática (morfologia) e redação, visto que ficaríamos todo o dia estudando para a prova que seria na sexta-feira da mesma semana. A turma estava muito aflita, percebi que eles estavam temerosos em relação à literatura e redação. Iniciamos a aula,deixei que expusessem suas dúvidas e após ouvir o que falaram,comecei com Trovadorismo. Uma aluna levanta a mão e diz: “Camila, pra quê eu quero saber de cantigas de escárnio, maldizer e de amor?” E como eu já havia preparado a aula pensando em contextualizar, mostrei aos alunos como essas cantigas ainda se fazem presente no nosso cotidiano, apresentei duas músicas (Mina do condomínio – Seu Jorge ), eles acharam bastante interessante e disseram ”Nossa, que legal! Não sabia que esse Trovadorismo existia até hoje”. Continuamos a ver o conteúdo e aos poucos fomos revisando, me propus a fazer tudo de forma bem contextualizada, pois não vejo sentido em uma prática isolada da vida secular do aluno. E Freire mostra bem isso quando assevera: [...] a escola está aumentando a distância entre as palavras que lemos e o mundo que vivemos nessa dicotomia, o mundo da leitura é só o mundo de processo de escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos experiência sobre o qual não lemos. Ao ler as palavras, a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as “palavras da escola” e não as “palavras da realidade” (Freire, 1999 apud Colello 2012) Através desse pensamento fica perceptível que a mudança no modo de ensinar é uma atitude que precisa ser tomada urgentemente, visando às melhorias no espaço escolar. Ensinar, entretanto ensinar para a vida no âmbito social. O ENSINO DA ESCRITA NO ESPAÇO ESCOLAR A escrita [...] é um sistema que tem um papel mediador na relação entre sujeito e objeto de conhecimento, é um artefato cultural que funciona como suporte para certas ações psicológicas , isto é, como instrumento que possibilita a ampliação da capacidade humana de registro,transmissão e recuperação de ideias,conceitos e informações. A escrita seria uma espécie de ferramenta externa, que estende a potencialidade do ser humano para fora do seu corpo: da mesma forma que ampliamos nossa capacidade de registro, de memória e de comunicação. (Oliveira, 1995 apud Colello 2012) Geraldi (apud Colello, 2012) O desempenho linguístico revela um processo de desaparecimento da “autoria à medida que a escolaridade avança.” No momento que a escola passa a declarar que só existe uma leitura e escrita, aquele ato mecanizado de decifrar e transcrever as informações supostamente aprendidas, a forma do aprender para essa escola é avaliada pelo treinamento excessivo, entretanto sem enaltecer o verdadeiro sentido da escrita. O autor ainda critica severamente os métodos de ensino da escrita que tem se fundado na “linguagem artificial” e destituída de valor significativo, visto que o aluno não tem voz, não pode opinar e escreve o que a escola quer, somente o que ela quer. Isso porque na escola não se produzem texto em que um sujeito diz a sua palavra, mas simula-se o uso o uso da modalidade escrito, para que o aluno se exercite no uso da escrita, preparando-se para de fato usá-la no futuro. É a velha história da preparação para a vida, encarando-se o hoje como não vida. É o exercício. (Geraldi,1984 apud Colello 2012) As formas do aprendizado da escrita que tornaram homens capazes de elaborar a própria história, trocar informações e expor seus pensamentos, no recinto escolar são desconsideradas e o foco passa a ser o bom desempenho em uma tarefa que em muitas situações se faz descontextualizada e sem sentido, tirar uma nota alta ou avançar de série. Alunos que escrevem o agora sem considerar sua criticidade no âmbito social . Miniac,Cross e Ruiz (apud Colello (2012) pronunciam que no sistema escolar o educando geralmente só transcreve a informação dada,sem efetivamente emitir sua própria visão sobre o assunto, o cenário educacional oculta em muitas ocasiões o verdadeiro significado do escrever. Desta maneira, redigir um texto é apenas uma repetição escolar, mostrar ao professor que é capaz de traçar um pensamento de acordo com a proposta exigida a fim de receber um número que indique uma alta nota, neste momento se constata o fracasso. “Onde se percebe, pois o fracasso, senão pelas notas obtidas com base com base nos trabalhos escritos”? Percebe-se assim, que há o menosprezo pelas variadas formas da escrita, a escola se distancia e se mostra “alienada do processo de construção da língua”, criar passa não ser prioridade, primeiramente o aluno deve aprender a escrever na norma padrão. Muitos anos, sem dar oportunidade para o pensamento do sujeito, calando-o, e deixando toda a produção escrita em terceira pessoa, espera-se que este mesmo indivíduo se torne um ser crítico e criativo na redação ou qualquer outra forma de escrita. O ESCREVER ALÉM DO ESTIPULADO PELA ESCOLA A forma restrita de ensinar a escrita no ambiente escolar se limita a uma só forma do dizer, por isso a língua se torna “monológica”. Se escrever se constituísse apenas como o saber acabado, não faria sentido e muito menos a evolução da língua. A escola deve então fazer necessário à escrita real e contextualizada, sempre buscando a transformação do sujeito em um ser pensante e que tenha senso critico. Ler e escrever são construções sociais. Cada época e cada circunstância histórica dão novos sentidos a esses verbos. [...] Mas a escola [...] continua tentando ensinar uma técnica. [...] Técnica dos traçados das letras, por um lado, e técnica da correta oralização do texto, por outro. Só depois de dominada a técnica é que surgiriam como num passe de mágica, a leitura expressiva (resultado da compreensão) e a escrita eficaz (resultado de uma técnica posta a serviço das intenções do professor).(Ferreiro 2002 apud Colello 2012 p 82) A leitura realmente precisa ter um objetivo e não ser somente copista, um ciclo de “codificar e decodificar fonemas”. Esse conceito se mira nos costumes da escola que liga o desenhar letras e depois decodificá-las. A linguagem na escola, infelizmente tem criado vícios, formas sem nexos de escrita, frases artificiais que muitas vezes faz remitência aos desatualizados modelos escolares como “Vovô viu a uva” (p 83)! LETRANDO ATRAVÉS DO ENSINO CONTEXTUALIZADO. Segundo Antunes (2008), nossa sociedade tem a veiculação de informações muito rápida, muitas destas são necessárias para o receptor e outras não, por essa razão são descartadas, Antunes traz esse conceito para dentro da sala de aula e faz a reflexão sobre informação e conhecimento no contexto escolar: (...) o aluno pode transformar a informação em conhecimento e, dessa forma, contextualizá-la em sua vida e nos desafios que enfrentará para conviver. [...] o conhecimento em uma visão atual resultada interação entre o indivíduo, informação que lhe lê exterior e o significado que atribui. É, pois resultado de um processo de construção que implica o sujeito que o constrói coo principal protagonista desse processo (ANTUNES, 2008, p. 26) Desde muitos tempos, cabe também à escola a função de ensinar, dar apoio a construção do conhecimento de seus alunos e esse processo construtor do saber deve estabelecer uma relação com a realidade do aluno fazendo com que este reconstrua seu aprendizado nas suas interações no meio social. Outrora era falado que a escola ‘era a mola’ para a ascensão social, de fato ela faz parte desse processo, porém não pode sozinha transformar a sociedade, e,obviamente, essa construção é feita por diversos grupos, a instituição escolar só faz parte desse processo construtivo. A escola tem função importantíssima quando se faz referencia ao futuro educacional dos alunos frente aos desafios dos tempos atuais. Libâneo (2002) reforça essa ideia reafirmando que a escola tem, pois o compromisso de diminuir a distância entre a ciência cada vez mais complexa e a cultura produzida no dia a dia e provida pela escolarização. Além disso, também deve-se oferecer auxílio para formação de sujeitos racionais e compreensivos diante das questões presentes na sociedade. Novamente, o autor traz reflexão sobre o papel da escola, declarando que os desafios exigem uma escola qualitativa, local onde os alunos, ao saírem dela, sejam cidadãos conscientes da sua atuação crítica, diante da situação política, econômica e cultural da sociedade contemporânea. Este é um dos maiores desafios da escola do século XXI. Vaz e Soligo, (apud Collelo. 2012 p.237), afirmam que a escola é uma organização que tem sobre si uma imensa responsabilidade, pois ao mesmo tempo em que pode e deve construir a sabedoria e ensinar ao aluno o gosto pela instrução, pode também ter o poder de formar cidadãos ignorantes e alienados em relação ao conhecimento. ANÁLISE DOS DADOS. A pesquisa foi realizada em uma instituição de ensino, situada na W3 Norte, em Brasília, com alunos de séries finais do ensino fundamental 9º ano. Indiferente ao gênero, o público teve como perfil estudantes entre treze a quinze anos, que se encontram matriculados em três conceituadas escolas particulares de Brasília. O processo de pesquisa ocorreu no período de um mês e meio, observando-se os comportamentos dos alunos, registrando suas falas e avaliando seu desempenho, ao longo do tempo na escola pesquisada, sendo esta responsável por oferecer reforço ao conteúdo que os estudantes receberam em suas escolas regulares. Trabalho há três anos na escola onde fiz a pesquisa. Conheço a maioria dos alunos e tenho com eles, além da relação professor-aluno, uma grande amizade. O objetivo é avaliar a visão do aluno a respeito das práticas pedagógicas no ambiente escolar, buscando investigar por que esses alunos se mostram tão desmotivados em relação à leitura e à escrita. Executou-se a aplicação de um questionário com sete perguntas fechadas a respeito do tema proposto nessa pesquisa, as respostas dos alunos também se mostraram de extrema importância para esse trabalho, pois os relatos foram dados com muita sinceridade e veracidade e ,por essa razão, serão detalhados neste capítulo. Iniciei minha coleta de dados, sempre pesquisando individualmente cada aluno, a fim de ouvi-los, escutar a voz que muitos ignoram, visto que é bem mais fácil dizer que “os alunos não se interessam em estudar”, “vocês não querem saber de nada”, entre outras falas do tipo que se referem a esse público. Saber o que eles pensavam foi uma difícil missão, que requeria muita paciência e perseverança. Muitos não quiseram falar, pois pensavam que eu ia comunicar a direção da escola, entretanto quando se sentiam mais seguros, eles me procuravam para dar sua opinião. Percebia que os estudantes queriam se expressar, porém não estavam acostumados a encontrar alguém que acreditassem neles a respeito do que dizem sobre a escola. Tia Mila, pra quê a senhora quer saber da gente todas essas perguntas? Ninguém quer saber o que acho da escola, simplesmente eu tenho que ir pra escola. Acho chato, mas sei que tenho que passar na UNB. (Aluno do 9º ano.) A primeira pergunta feita aos alunos era sobre a quantidade de livros que eles tinham lido durante o ano. A maioria leu um a três livros por vontade própria, pedi que eles colocassem na pesquisa somente a leitura feita por prazer e não por obrigação. As escolas onde esses alunos estudam recomendam durante todo o ano,vários livros para leitura, uma atitude muito louvável, se essa leitura não fosse forçada e tão odiada pela maioria dos alunos. Segundo o que pude perceber os livros não são escolhidos por eles e sim pela própria instituição (a escola poderia apreciar a opinião do corpo discente a respeito do livro, assim haveria até mesmo o incentivo à leitura). Um aluno do nono ano do ensino fundamental revela: Sou obrigado a ler os livros que a escola impõe, odeio os livros que leio porque ninguém nos pergunta que tipo de livros queremos. Isso mata o mínimo de gosto que eu tenho pela leitura, eu até gosto de ler,mas quando vejo esses livros “nada a ver” que sou obrigado a ler... Desanimo . (Aluno de 9º ano de escola particular) Outro aluno também declarou com muita segurança: Vou admitir que quando eu era pequena eu gostava de ler... Era legal ler sem obrigação de saber tudo que lia para colocar em uma prova que me pergunta coisas que não são interessantes. Odeio ler os livros da escola .(Aluno de 9ºano) A seguir, será apresentado o primeiro gráfico, que espelha numericamente a quantidade de livros lidos por ano, considerando o publico estudantil pesquisado: Fonte: pesquisa de campo; OLIVEIRA SOBRINHO, Camila-DF, 2013 A maioria dos estudantes leu um a três livros e outra parte considerável não leu nenhuma obra literária. Como já discutimos o uso da leitura e escrita não tem sido algo prazeroso, isso é notável ao ver os números desse item, predominam, no cenário pesquisado, alunos que não se sentem aptos a lerem e afirmam que não conseguem fazer boa interpretação daquilo que está sendo lido. Ao perguntar a esses alunos se eles gostavam de ler, quando não estão na escola, a resposta era imediata: “não”. A declaração abaixo expõe muito bem essa realidade: Não gosto de ler, pra quê vou ler fora da escola? Lá na escola já leio demais e não vejo nenhuma graça nos textos que leio então não me interesso em ler... Quando saio da escola quero ser livre de qualquer obrigação de ler e escrever. Só leio quando necessário. (Aluno 9º ano) É preocupante identificar a coincidência entre o mencionado relato estudantil e a importante reflexão de Romain Rollan: [...] Afinal de contas, não entender nada já é um hábito. Três quartas partes do eu se diz e do me fazem escrever na escola: a gramática, ciências, a moral e mais um terço das palavras que leio que me ditam , que eu mesmo emprego e não sei o que elas querem dizer. Já observei que em minhas redações, as que eu menos compreendo são as que levam mais chances de ser classificadas em primeiro lugar. ( Rolland apud Alves, 2000 p.17) Infelizmente essa citação traduz o sentimento predominante. Os alunos não conseguem decifrar a linguagem utilizada na escola, pois esta realmente não faz parte do cotidiano deles. O gráfico 2 demonstra: Fonte: pesquisa de campo; OLIVEIRA SOBRINHO, Camila-DF, 2013 Perguntando aos estudantes se eles achavam que todo o conteúdo estudado na escola seria utilizado no seu dia a dia quando se tornassem adultos, a resposta obtida foi: não; novamente. Sou obrigada a decorar um monte de coisas para a prova, somente para prova porque a maioria dessas coisas que estudo não farão muito sentido quando eu estiver adulto, é importante saber ler e escrever, fazer contas e outras coisas, mas pra quê quero saber fazer metrificação de versos? Deveriam me ensinar coisas realmente úteis como ler e escrever bem. Ando cansada de tanta coisa pra estudar e não entender nem o que estou fazendo. (Aluna do 9º ano) Os estudantes acharam o conteúdo irrelevante, não vendo sentido para estudar tantas coisas que como eles próprios diziam não serem úteis para seu futuro. Eles têm consciência de que é preciso estudar, entretanto pensam que a escola deveria trazer conteúdos que eles entendessem a respeito, para que esses conhecimentos os ajudassem em suas vidas. Realmente, na sala de aula, o aluno deve sentir-se atraído pelo conteúdo. Distanciar a linguagem e a escrita do aluno não faz com que ele entenda e faça parte efetivamente desse ambiente. A escola deve ser mediadora entre o aluno e o conhecimento, tornando esse processo de construção do saber uma missão importante. Alves (2000 p.17) traz uma afirmação que cabe muito bem ao contexto desses alunos, “não me espanto, portanto, que tenha aprendido tão pouco na escola. O que aprendi foi fora dela e contra ela.” O ambiente escolar precisa ter um conteúdo programático próximo da realidade dos seus alunos, por que distanciá-los com uma linguagem descontextualizada quando deveríamos mantê-los perto? Fonte: pesquisa de campo; OLIVEIRA SOBRINHO, Camila-DF, 2013 Há a necessidade de repensar o trabalho de escrita na escola. Percebo no cotidiano a dificuldade exorbitante de escrita, indivíduos que não conseguem usar s, ss, z ,x ,ch entre outros e quem pode responder por isso? Não é possível que escrevam errado, simplesmente porque querem escrever assim, Colello (2012) consolida essa situação quando assevera que os índices de analfabetismo funcional salientam os descaminhos da “não (ou pouca) aprendizagem no âmbito escolar”. É no mínimo curioso que muitos saiam da escola sem autossuficiência para exercer a leitura e escrita socialmente, há um longo discurso para explicar um sujeito que passa boa parte da vida cercado pelos muros da escola e quando saem dela,não são realmente qualificados para exercer com autonomia o que deveriam saber, visto que a escola teria-os preparados (supostamente). Se a escola, como a principal agência de letramento, não garante a efetiva possibilidade de ler e escrever, importa questionar: quais as dimensões envolvidas na produção da escrita? Como são elas compreendidas e tratadas pelo professor? De que modo o ensino da escrita pode comportar mecanismo do não escrever? Por que as práticas de alfabetização podem trair a formação do sujeito autor. (Colello,2012.p 141) A escola tem que reavaliar como a escrita tem sido construída, é visível a incapacidade do escrever em muitos alunos, essa pesquisa teve como alvo alunos de três séries, justamente para mostrar que tanto no ensino fundamental quanto no médio os alunos veem a leitura, a escola e a escrita como cansativa e sem atratividade. A escola, mudando sua forma de ensinar, irá pouco a pouco erradicar a maior prova de que a instituição escolar dever rever suas práticas, o Analfabetismo Funcional, não é admissível que indivíduos concluam o ciclo escolar e se percebam não aptas a leitura e escrita nas atividades sociais. Geraldi (apud Colello (2012) mostra que a escola supostamente teria como propósito a metodizarão dos conhecimentos que advém da “reflexão assistemática” , todavia ao sistema educacional não está pronto para resistir os contratempos , pois é adepta de única maneira de formular conhecimentos como um processo certo e armazenador . Não é necessário aqui colocar as regras de como mudar a escola, regras já existem muitas, o caminho é longo. O letramento para prática social ainda não é o referencial para o sistema educacional, que tem feito esmaecer a vontade de muitos alunos de estudar, que com práticas cansativas reprimem do educando qualquer ação criativa. Diante das situações aqui mencionadas, vê-se a necessidade de realmente ensinar tendo como meio o letramento, visando à erradicação do Analfabetismo funcional. Ferreiro (apud Colello, 2012p. 23) assevera que “se a escola não ensina para a vida e para o trabalho [...] para que e para quem alfabetiza? Todos sabem que a escola já teve avanços significativos e que hoje há a preocupação por parte dos educadores em utilizar o letramento no âmbito educacional. A partir da fala de Alves (2012) podemos ver um norte para a realidade da educação: “Ah!”, recrutarão os professores, “a felicidade não é a disciplina que ensino. Ensino ciências, ensino literatura, ensino história, ensino matemática...” Mas será que vocês não percebem que essas coisas se chamam “disciplinas” e que vocês devem ensinar, nada mais são que taças multiformes coloridas, que devem estar cheias de alegria? Pois o que vocês ensinam não é um deleite para a alma? Se não fosse, vocês não deveriam ensinar. E, se é, então é preciso que aqueles que recebem, os seus alunos, sintam prazer igual ao que vocês sentem. Se isso não acontecer, vocês terão fracassado na sua missão, como a cozinheira que queria oferecer prazer ,mas a comida saiu salgada e queimada. (Alves, 2000 p.12) Compartilho da mesma reflexão que Rubens Alves, a escola deve ensinar a alegria, sim a alegria. Qual a serventia de um ensino contextualizado, desenvolver leitura e escrita e ensinar para a prática social, se tudo isso não for construído com alegria? Nossos alunos pesquisados não demonstram alegria em estudar e isso entulha o caminho até a aprendizagem, temos que alcançar o dia em que a escola não será enfadonha e repetitiva. O dia em que vejamos sorrisos e prazer no aprender, como Rubens Alves assevera a escola não pode focar nas “disciplinas” e sim no ensinar através dessas disciplinas a alegria. A sala de aula necessita ser um ambiente de descobertas, o aluno tem acesso a internet, conhecem variadas formas de saber das coisas e diante desses fatos a escola passa a ser apenas um lugar onde não há mistérios e isso traz desmotivação. A partir das experiências vividas ao decorrer desse projeto, implantamos em sala de aula(eu e as outras professora de Português) a leitura do aluno, eles trazem textos de seu interesse e compartilha com a turma, cada estudante traz um dia da semana, são elaboradas questões sobre o texto e a turma dividida em grupos interage de forma dinâmica. Os estudantes gostaram de utilizar os textos que eles escolheram, assim viam que é possível aprender a gostar de ler sem ser uma tarefa maçante e sem atratividade como várias vezes é apresentada pela escola. O letramento se faz de forma contínua, são anos e anos para construção de um método eficaz de ensino e o primeiro passo já foi dado. “Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Rubem Alves REFERÊNCIAS ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. 6. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam – 39. ed. São Paulo: Cortez, 2000. Colello, Silvia M. Gasparian. A escola que( não) ensina a escrever.Colello.-2.ed-São Paulo: Summus,2012. ZACCUR, Edwiges(org). A magia da linguagem. Rio de janeiro, DP&A: SEPE, 2001. LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? : novas exigências educativas e profissão docente / José Carlos Libâneo. – 6. ed.- São Paulo : Cortez, 2002. Rubem Alves Gaiolas ou Asas – A arte do voo ou a busca da alegria de aprender. Porto, Edições Asa, 2004 Disponível em http://pagina-de-vida.blogspot.com.br/2007/05/o-prazer-daleitura-ruben alves.html. Acesso em 10/11/2013 ás 00h45min