EFEITO DO ÓLEO DIESEL E DA SUA FRAÇÃO SOLÚVEL EM
ÁGUA (FSA) SOBRE ASPECTOS FISIOLÓGICOS DE Tisbe biminiensis
(COPEPODA, HARPACTICOIDA)
Francisco José Bezerra – [email protected]
Departamento de Biologia - Universidade Federal Rural de Pernambuco
Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois irmãos
52171-900 – Recife – PE
Heitor Spinelli Montenegro – [email protected]
Departamento de Biologia - Universidade Federal Rural de Pernambuco
Daniella Kelly de Melo – [email protected]
Departamento de Biologia - Universidade Federal Rural de Pernambuco
Cristiane Maria Varela de Araújo de Castro – [email protected]
Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal - Universidade Federal Rural de Pernambuco
Resumo: O petróleo e seus derivados são uma das principais fontes energéticas mundiais e os riscos
da sua escassez bem como seupotencial tóxico alertam quanto ao seu uso. Com base nisso, é
importante verificar os níveis noviços, bem como efeitos subletais. Diante disto, foram realizados
bioensaios, usandoo óleo diesel bruto e sua Fração Solúvel em Água (FSA), para analisar efeitos na
reprodução, desenvolvimento, e mortalidadedeTisbe biminiensis. Para avaliar o efeito do óleo diesel
bruto, 10 fêmeas ovadas foram exposta aquatro concentrações (0, 200, 400 e 600 μL L-1), por um
período de 7 dias.Cada grupo consistiu de 3 réplicas.Com relação a FSA, quatro diferentes
concentrações (0, 25, 50. 75 e 100%) foram utilizadas para avaliar os efeitos em T. biminiensis em um
período de 96h. Com relação ao óleo bruto, não foram observadas diferenças significativas quanto
aos parâmetros avaliados, porém é possível observar uma tendência de hormese. Já com relação a
FSA, foram observadas diferenças significativas na reprodução, fecundidadee desenvolvimento. Esses
resultados sugerem que a FSA interfere em aspectos fisiológicos de T. biminiensis, porém mais
estudos precisam ser realizados a fim de contribuir para a classificação dos limites de contaminantes
no meio.
Palavras-chave: Tisbe, Ecotoxicologia, Fração solúvel em água, Diesel.
EFFECTS OF OIL DIESEL AND YOUR WATER SOLUBLE FRACTION
(WSF) IN PHYSIOLOGICAL ASPECTS OF Tisbe biminiensis
(HARPACTICOID, COPEPOD)
Abstract: Oil and its derivatives are a major global energy sources and the risks of their scarcity and
their toxic potential warn against its use. Therefore, it is important to check the levels novices as well
as sublethal effects. Thus, the experiments were conducted using crude diesel oil and its Water Soluble
Fraction (WSF), to analyze the effects on reproduction,development, and mortality of Tisbe
biminiensis. To evaluate the effect of crude oil diesel, 10 gravid females were exposed at four
concentrations (0, 200, 400 and 600 µL L-1) for 96h. Each group consisted of 3 replicates. In relation
to WSF, four different concentrations (0, 25, 50, 75 and 100%) were used to evaluate the effects on T.
biminiensis over a period of 96 hours. With respect to crude oil, no significant differences in the
evaluated parameters was observe, but the hormese effectwas observe. In relation to WSF, significant
differences in reproduction, fertility and development were observe. These results suggest that the
WSF interfere with physiological aspects of T. biminiensis, but more studies are needed in order to
contribute to the classification of limits of contaminants in the environment
Keywords: Tisbe, Diesel oil, Water-accommodated fraction, Ecotoxicology.
1. INTRODUÇÃO
A contaminação hídrica está diretamente ligada à expansão urbana e industrial, afetando a
qualidade do ecossistema e causando riscos aos organismos e a população que utiliza os recursos
pesqueiros como fonte de renda e de subsistência. Dentre os contaminantes que atingem o ambiente
aquático, podemos citar como bastante representativo o petróleo, que com o aumento no seu consumo
mundial e de seus derivados têm favorecido a expansão na produção marinha do óleo, do transporte
marítimo destes produtos e da transferência e estocagem em zonas costeiras. Consequentemente, os
níveis de contaminação no ambiente marinho também aumentam, resultado esse da contaminação
crônica juntos aos centros urbanos e industriais somada as ações antrópicas, como, derrame do óleo,
prejudicando a biota marinha (BROEDEL, 2004).
O petróleo é obtido a partir da matéria orgânica de plantas e animais, que sedimentados
em lamas argilosas passaram por processos químicos geológicos e geoquímicos decorrente da baixa
pressão e alta temperatura. É um liquido oleoso, pouco denso (d= 0,65 a 0.9 g.cm-3) e imiscível em
água, com uma coloração variando de preto ao avermelhado de acordo com a região, formado de
vários compostos orgânicos, com predominância de hidrocarbonetos (97%). Em casos de
derramamentos, os componentes polares e de baixo peso molecular tendem a volatizar ou solubilizar
com a água, sendo lixiviados para a região externa à mancha de óleo, formando a Fração solúvel em
Água (FSA), de modo que a magnitude desse impacto sofre influencias das condições intrínsecas de
cada ambiente e do tipo de petróleo, dificultando o monitoramento da toxicidade. (CARIELO, 2012).
Com o aumento da frota de veículos no Brasil e consequentemente o aumento no
consumo do petróleo e seus derivados (DENATRAN), onde segundo dados da Secretaria de Energia
de São Paulo (GESP-SE) no ano de 2013 foram produzidos 116.725.956 m3de petróleo, e o óleo diesel
corresponde a 49% dessa produção, considerando os riscos desse poluente e sua presença em
ecossistemas aquáticos, o petróleo é tido como o contaminante de maior freqüência nos corpos
hídricos (GANDRA et al, 2005; CARIELO, 2012).
A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP) é responsável por
acompanhar e fiscalizar as atividades industriais envolvendo petróleo, firmando a importância nas
analises físico-químicas para o processo de medição de fluidos produzidos, desenvolvendo boletins e
relatórios com os dados dessas análises (ANP, 2013).
Diversos estudos retratam os riscos do petróleo e seus derivados, afirmando sua natureza
tóxica, mutagênica, carcinogênica, apresentando substancias de baixa degradabilidade (SOLÉ, 2007;
PETTRI, 2007; COUCEIRO, 2001; LOYOLA, 2001 &COSTA, 2013).
Partindo da premissa de contaminação dos recursos hídricos é necessária a realização de
análises ecotoxicológicas, com o intuito de avaliar e prever os riscos ambientais, utilizando
organismos representativos da coluna d’água ou do sedimento. Os bioensaios ecotoxicológicos
fundamentam analises e compreensão dos efeitos de impactos sobre os compartimentos bióticos, a
partir de organismos vivos como biosensores. Estes estudos são necessários para avaliar a toxicidade
de diversas substancias químicas em determinadas espécies, além de determinar a sensibilidade de
alguma espécie sobre um agente tóxico, catalogando assim concentrações segura de agentes químicos
para preservação da vida aquática e para a qualidade da água e sedimentos (LIMA, 2010).Atualmente
os estudos ecotoxicológicos buscam padronizar e/ou oficializar os testes com organismos marinhos no
Brasil, como também, desenvolver políticas públicas claras e imediatas de recuperação do ambiente
marinho, como um sistema eficaz no tratamento dos efluentes (RESGALLA JR & LAITANO, 2002;
MENDONÇA, 2010; FERREIRA, HORTA & CUNHA, 2010).
Ensaios ecotoxicológicos podem ser definidos como aquele em que os efeitos adversos
manifestam-se em curto espaço de tempo, além de considerar as respostas de populações com
organismos da mesma espécie e do ecossistema. Com base nesses estudos será possível estabelecer
limites permissíveis de várias substâncias químicas para proteção da vida aquática e avaliar os
impactos que esses poluentes podem causar à biota dos corpos hídricos (SÄMY, TORRENS &
MEDEIROS, 2010).
Para avaliação do impacto, deve ser avaliado: o tipo de impacto, podendo ser direto ou
indireto; a categoria, classificando como adverso ou benéfico; área de abrangência, podendo ser local
(efeitos do impacto ocorre na área de influência direta), regional (efeitos do impacto ocorre na área de
influência indireta) ou estratégico (efeitos do impacto extrapolam a área de influência); duração,
demonstrando se os efeitos são temporários ou permanentes; reversibilidade e magnitude que é a
relação da intensidade com que as características ambientais podem ser alteradas (CEPEMAR, 2004).
O impacto do óleo em invertebrados bentônicos tem sido bastante estudado, uma vez que
esses organismos possuem vantagens no monitoramento da qualidade ambiental, tais como:
mobilidade reduzida, ciclo de vida curto e diversidade de resposta ao estresse ambiental, sendo
facilmente interpretados os resultados dos estudos (BROEDEL, 2004).
Os copépodes marinhos harpacticoides bentônicos apresentam os pré-requisitos
necessários para realização de testes ecotoxicologicos, como, o tamanho reduzido, facilitando a
realização dos estudos e diminuindo os gastos; o habito epibentônico, possibilitando tanto avaliar
poluentes na fase aquosa, como também associado ao sedimento. O gênero Tisbe é um representante
da meiofauna e vem sendo cada vez mais usados em testes de toxicidade, devido a sua abundancia em
sedimentos, ampla distribuição geográfica, facilidade de cultivo e manipulação em laboratório. O
copépodo Tisbe biminiensis possui uma das maiores taxas de crescimento populacional no meio
bentônico, apresentando um curto tempo de vida e uma alta taxa reprodutiva, e é facilmente cultivado
em laboratório, pois não necessita de um grande local para seu cultivo. (ARAÚJO-CASTRO et al,
2009).
O petróleo e seus derivados, assim como o diesel e sua Fração Solúvel em Água (FSA)
são vistos como um dos agentes poluentes mais importantes causando impacto à biota epibentonica,
situação essa que vai ocasionar o desequilíbrio no meio alterando diretamente a cadeia trófica, como
também, pode desencadear impactos diretos na meiofauna marinha através de efeitossubletais, como
alterações na reprodução e desenvolvimento e efeitos letais, ocasionando mortalidade dos organismos
expostos a esse contaminante (BROEDEL, 2004; CEPEMAR, 2004; GANDRA, 2005; SOLÉ, 2007 &
MÜLLER, 2011;).
Com base nessas informações, o presente estudo avaliou os efeitos da exposição aguda do
óleo diesel e da Fração Solúvel em Água em parâmetros fisiológicos e reprodutivos do copépodo
harpacticoide Tisbe biminiensis.
2. MATÉRIAIS E MÉTODOS
Foram realizados dois experimentos no período de outubro de 2013 a fevereiro de 2014.
O primeiro expondo fêmeas ovadas de T. biminiensis a diferentes concentrações em de óleo diesel por
um período de oito dias; e o segundo expondo fêmeas ovadas de T. biminiensis a diferentes Frações
Solúveis em água (FSA) por um período de quatro dias. Em ambos os experimentos os animais
receberam alimentação, sendo o primeiro alimentado com Ração Básica ® para peixes ornamentais e o
segundo com fermento (10 µL).
2.1. Cultivo do animal
O microcrustáceoT. biminiensis foi coletado na Praia do Fortim (Olinda-PE) em maio de
2013 e desde então vem sendo cultivado no Laboratório de Ecofisiologia e Comportamento Animal
(LECA) situado na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Esses animais são
cultivados em recipientes de polietileno contendo água do mar natural filtrada com salinidade de 33,
com troca total uma vez por semana,a alimentação consiste em Ração Básica® para peixes ornamentais
(Fig. 01).
Fig. 01 - Copépode Tisbe biminiensis e recipiente de cultivo e armazenamento desta espécie no
LECA. Fonte: Costa et al, 2012.
2.2. Experimento 1 - Efeitos da contaminação aguda de óleo diesel bruto em aspectos fisiológicos
e reprodutivos de Tisbe biminiensis
Buscando avaliar os efeitos do óleo diesel comercializados em postos de gasolina da
cidade do Recife, foram realizados bioensaios que consistiram na exposição de fêmeas ovadas de T.
biminiensis por um período de oito dias, com adição de alimentado, Ração Básica Alcon® para peixes
ornamentais. Foram utilizadas 4 diferentes concentrações de óleo diesel: 0, 200, 400 e 600μL L-1, cada
grupo consistiu de 3 réplicas e, em cada réplica, eram adicionadas 10 fêmeas ovígeras.
Para o preparo das soluções com as concentrações de exposição, foram adicionados 50,
100 e 150 de óleo diesel em três béqueres diferentes contendo 250 mL de água do mar e
homogeneizados manualmente. Cada replica recebeu 50 ml da solução e dez fêmeas ovadas, obtendo
assim um “n” final de 40 fêmeas ovadas por concentração. O grupo controle consistiu de água do mar
filtrada sem adição de óleo diesel
Ao final do período de exposição, foi determinada a mortalidade de cada recipiente teste
através da observação em esteriomicroscópios e, posteriormente, todos os recipientes foram fixados
com formol a 4% e corados com Rosa de Bengala para posterior contagem e determinação do número
de náuplios, copepoditos e fecundidade (náuplios + copepoditos).
2.3. Experimento 2 - Efeitos da contaminação aguda da Fração Solúvel em água (FSA) do óleo
diesel em aspectos fisiológicos e reprodutivos de Tisbe biminiensis
Segundo a norma ABNT 15469 (2007), a Fração solúvel em água é vista como “solução
aquosa de uma amostra de baixa miscibilidade em água, obtida após procedimento de extração com
água”. Seguindo essa metodologia, para o preparo da FSA foram misturadas, com o auxilio de
agitador magnético, uma parte do óleo diesel (300 ml) em quatro partes de água do mar (1200ml) com
salinidade de 33% em uma relação volume/volume (V/V). Essa mistura permaneceu sob agitação
constante em uma velocidade de agitação de modo que o vórtex formado não ultrapasse 25% do
conteúdo total do liquido do recipiente durante um período de 20h e na ausência de luminosidade. Ao
termino desse prazo da mistura o conteúdo permaneceu em repouso por 2h e posteriormente foi
retirada a fase aquosa para realização dos ensaios ecotoxicológicos.
As fêmeas utilizadas neste experimento apresentavam idade controlada e para isso foi
seguido a metodologia descrita em Araújo-Castro et al. (2013). Neste bioensaio, foram utilizadas
quatro diferentes concentrações da FSA de óleo diesel (25, 50, 75 e 50%) e controle. Cada grupo
consistiu de 3 réplicas, e em cada réplica eram adicionadas 10 fêmeas ovadas. O período de exposição
foi de 96 horas, a o alimento adicionado consistiu de fermento biológicos (Saccharomyces cerevisae).
Durante o período de exposição foram acompanhadas as concentrações de oxigênio
dissolvido e temperatura da água em todos os grupos (Tabela 1) usando o pHmetro portátil da marca
Instrutherm® modelo PH-1500 e termômetro digital.
Ao final do período de exposição, foi observada a mortalidade em cada recipiente teste
através da observação em esteriomicroscópios e, posteriormente, todos os recipientes foram fixados
com formol a 10% e corados com Rosa de Bengala para posterior contagem e determinação do
número de náuplios, copepoditos e fecundidade (náuplios + copepoditos).
TABELA 1 – Quantidade de oxigênio dissolvido e temperatura nas diferentes porcentagens da FSA e
do grupo controle.
CONCENTRAÇÃO O2 (Dissolvido) TEMPERATURA
CONTROLE
4,3
27,2
25%
4,2
28,3
50%
3,9
28,7
75%
3,8
29,4
100%
3,5
30,0
3. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para comparação das médias dos parâmetros avaliados nas diferentes concentrações
testadas foi utilizado o teste de Análise de Variância (ANOVA) unifatorial. Antes da execução da
ANOVA foi testada a normalidade dos dados, através do teste de Kolmogorov-Smirnof, e
homocedasticidade das variâncias, com o teste de Bartlett. O teste de Dunnett foi utilizado para
identificar diferenças significativas entre as concentrações e o controle. O nível de significância foi de
0,05.
4. RESULTADOS
4.1. Experimento 1
Os organismos expostos as concentrações do óleo diesel bruto, não apresentaram
mortalidade significativamente diferente do controle (Kruskal-Wallis, H = 6,581; p = 0,087). O maior
percentual de mortalidade observado ocorreu na concentração de 200 μL/L, com uma mortalidade
média de 20% (Fig. 02).
Fig. 02 – Mortalidade (%) de fêmeas de Tisbe biminiensis expostas a diferentes concentrações de óleo
diesel.
Com relação à fecundidade, a menor taxa ocorreu na concentração de 400 μL L -1 e a
maior na de 200 μL L-1 (Fig. 03), porém não houve diferença significativa (ANOVA, F = 2,158 e
p=0,146). Os grupos submetidos à concentração de 200 μL L-1 apresentaram o maior número médio de
náuplios, enquanto que aqueles submetidos à concentração de 400 μL L -1, a menor (Fig. 03), porém
tais diferenças não foram significativas (ANOVA F = 1,907e p=0,182).
Fig. 03 – Número médio (± desvio padrão) de náuplios e fecundidade de Tisbe biminiensis expostos a
diferentes concentrações de óleo diesel ao final de oito dias de exposição.
O número de copepoditos fornece informação a respeito de efeitos no desenvolvimento
da espécie com relação a esse parâmetro, foi possível observar (Fig. 04), que houve um melhor
desenvolvimento na maior concentração de diesel (600 μL L -1), porém não foram identificadas
diferenças significativas (Kruskal-Wallis, H = 1,508, p = 0,680). A fecundidade por fêmea tira o efeito
da mortalidade e analisa somente o número de descendentes produzidos por cada fêmea. Por isso, é
um importante parâmetro a ser avaliado. No presente estudo, é possível observar uma maior
fecundidade na concentração de 200 μL L-1 (Fig. 04), porém não é significativamente diferente do
controle (Teste-t: t = -1,165; p = 0,288).
Fig. 04 – Número médio (± desvio padrão) de copepoditos e fecundidade por fêmeas de Tisbe
biminiensis expostas a diferentes concentrações de óleo diesel ao final de oito dias de exposição.
4.2. Experimento 2
Os organismos expostos a FSA do óleo diesel produziram um número de náuplios
significativamente diferente do controle (Kruskal-Wallis, H = 11,303;p = 0,023), principalmente na
menor porcentagem (Fig. 05) da FSA (25%).
Fig. 05 – Número (± desvio padrão) de náuplios produzidos por fêmeas de Tisbe biminiensis em
diferentes porcentagens da Fração Solúvel em água
Os resultados de fecundidade (Fig. 06) demonstraram uma diferença significativa
(Kruskal-Wallis, H = 12,453 e P = 0,014), principalmente na menor concentração, havendo um
aumento no número de organismos na menor concentração e que quando aumentado as doses, esses
organismos tendem a diminuí sua taxa de fecundidade, fato esse explicado pelo o período curto de
exposição, como também a relação dessa com os padrões do controle.
Fig. 06 – Fecundidade de Tisbe biminiensis exposto a diferentes porcentagens da Fração Solúvel em
Água do óleo diesel
As fêmeas de Tisbe expostas ao FSA do diesel não apresentaram mortalidade
significativamente diferente do controle (ANOVA, F = 1,797 e P = 0,182). As diferentes
concentrações não demonstraram uma elevação na mortalidade, embora haja uma tendência ao
aumento dessa mortalidade quando expostos a uma concentração maior, porém a concentração
máxima (100%) manteve-se estabelecida ao padrão do controle (Fig. 07).
Fig. 07 – Mortalidade média (± desvio padrão) de Tisbe biminiensis em diferentes concentrações da
Fração Solúvel em Água do óleo diesel
5. DISCUSSÃO
Rodrigues (2009) estudando o efeito da Fração Solúvel em Água (FSA) do Diesel em
larvas do peixe-rei marinho Odontesthes argentinensis observou uma CL50-96h (concentração letal
para os organismos expostos por um período de 96h) de 13,46%. Levando em consideração esses
valores chegamos a uma concentração de 26,92 mL de diesel por L de água do mar, como suficiente
para causar letalidade a 50% das larvas de O. argentinensis no estudo de Rodrigues (2009). Pont
(2012) estudou o efeito agudo e crônico da contaminação por diesel (FSA e contaminação direta) em
Astyanax altiparanae, e encontrou uma CL50-96h de 1,35% para o óleo diesel bruto, enquanto que
para a Fração Solúvel do Diesel (FSD), de 25,21%. Como visto a concentração a qual os copépodos T.
biminiensis foram expostos, no primeiro estudo, foi muito inferior ao encontrado nos estudos
anteriormente citados, por isso não foi possível determinar a CL50. Lotufo (1997) estudando o efeito de
HPA associado ao sedimento na espécie Schizopera knabeni (Copepoda), encontrou uma CL50-96h
para o óleo diesel de 194 μg/g (peso seco). Este valor observado por Lotufo (1997) foi compreendida
no presente estudo, porém, deve-se ressaltar que, a forma de exposição é completamente diferente,
pois o diesel estava associado ao sedimento, compreendendo uma rota de exposição bem mais
significativa do que a qual o T. biminienses foi exposto no presente estudo, na coluna d’água.
Os resultados do presente estudo utilizando o óleo diesel bruto mostram que as
concentrações utilizadas estiveram abaixo das necessárias para causar efeitos, sejam eles letais e/ou
subletais. Pode-se observar também, que os grupos submetidos à concentração de 200μL L-1,
apresentaram uma elevação no número de náuplios e na fecundidade. Esse resultado vem contribuir
para uma observação que há muito se falava, mas que não se tem muitos adeptos no meio científico,
que é a hormese. Este termo é uma tradução da palavra inglesa “hormesis”, cuja definição está ligada a
ideia de que doses mínimas de substâncias tóxicas fazem bem ao organismo, e foi descrito pela
primeira vez em 1888.
O princípio geral da hormese é o de que, ao entrarem em contato com poucas quantidades
de veneno, as células reagem a esse estímulo negativo tornando-se mais resistentes (Colavitti, 2007).
Foi observada, no presente estudo, uma alteração benéfica na concentração de 200 μL L -1, pois os
organismos demonstraram aumento na taxa reprodutiva, fator esse que ajuda na proteção e
proliferação da espécie, caracterizando uma condição de “hormese”. Vários estudos vêm
demonstrando hormese em vários grupos, tais como: humanos, em eventos de infarto (SERRA, 2011),
saúde pública (COOK & CALABRESE, 2007) e atividade física (GARCIA JÚNIOR, 2013); feijoeiro
(SILVAet al, 2012); Sitophilus zeamais (VELOSO, 2012).
Saco-Álvarez (2008), estudando o efeito do diesel no copépodo Acartia tonsa em
diferentes períodos de exposição, não observou correlação positiva entre tempo e toxicidade, ou seja,
aumentando o tempo de exposição não há um aumento de toxicidade, fato este já relatado pela
CETESB (2007). Lee (2013), usando o copépodo Tigriopus japonicus observou que o tempo de
desenvolvimento e a fecundidade sofreram alterações de acordo com as concentrações em cada
geração, pois a geração f0 não teve nenhum resultado significativo quando exposta a FSA, porém, a
geração f1 quando exposta a 50% do contaminante sofreu um aumento significativo no seu período de
desenvolvimento.
Botelho (2003), analisando os sedimentos estuarinos contaminados por petróleo,
observou que nos organismos expostos a esse sedimento, ocorre uma série de alterações bioquímicas e
fisiológicas. Brendolan (2004) testando a FSA em Kalliapseudes schubartii não obteve um CL50-96h,
uma vez que à mortalidade dos organismos não ultrapassou os 17,50%. Müller (2011), avaliando a
toxicidade da FSA do diesel, usando o microcrustáceo Daphnia magna, obteve uma CL50-96h de
39,56%. Loyola (2001) analisando o sedimento de áreas estuarinas percebeu um efeito imediato na
macrofauna por ação do óleo diesel derramado.
Os resultados observados no presente estudo não demonstraram efeito tóxico da FSA do
óleo diesel nos parâmetros analisados (número de náuplios, fecundidade e mortalidade). Na
concentração de 25% é possível observar um aumento no número de náuplios e na fecundidade,
sugerindo com isto, que o copépodo Tisbe biminiensis apresenta resistência a este tipo de
contaminante ou reforça o efeito hormético.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados obtidos, podemos concluir que, as concentrações testadas não foram
tóxicas ao copépodo Tisbe biminiensis, pois não foi possível detectar efeitos fisiológicos ao copépodo
bentônico Tisbe biminiensis. A elevação no número de náuplios e na fecundidade, sugere que tenha
ocorrido um fenômeno que já foi observado em outros grupos que é a hormese. A hormese consiste
numa adaptação do organismo em concentrações subletais do contaminante, esta adaptação consiste
em uma estratégia do organismo para voltar ao estado de homeostase.
Mais estudos são necessários para confirmar os resultados observados no presente estudo,
e tentar identificar os efeitos da contaminação por hidrocarbonetos em outros aspectos, sejam eles
fisiológicos e/ou microbiológicos, bem como, identificar a dose na qual esses efeitos ocorrem, além de
utilizar a associação do óleo-água com o sedimento, visto que o habito alimentar dos organismos
analisados são de raspagem do substrato, dessa forma ingerindo a substancia contaminante. Com isso
será possível traçar políticas ambientais para a preservação dos ecossistemas aquáticos.
Agradecimentos
Ao Programa de Iniciação Cientifica da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(PIC/UFRPE) pelo apoio na pesquisa e a Professora Doutora Cristiane Maria Varela de Araújo de
Castro pelo tempo dedicado e apoio integral no desenvolvimento do estudo.
REFERÊNCIAIS
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP.
RESOLUÇÃO ANP Nº 52, DE 26.12.2013 - DOU 27.12.2013
ARAÚJO-CASTRO, C. M. V., et al. Sensitivity of the marine benthic copepod Tisbe biminiensis
(copepoda, harpacticoida) to potassium dichromate and sediment particle size.Brazilian Journal
of Oceanography,57(1):33-41, 2009
ARAÚJO-CASTRO, C.M.V., et al.Avaliação da toxicidade de sendimentos do estuário do rio São
Paulo (Bahia) utilizando o copépodo Tisbe biminiensis e a pós-larva do camarão Litopeneaus
vannamei.In: KATO, M. T. (Org.). Gestão e tratamento de resíduos líquidos gerados na cadeia
produtiva do petróleo – 2ª coletânea de trabalhos técnicos. Olinda: Livro rápido, 2013. P. 33-56.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15469: Ecotoxicologia Aquática –
Preservação e Preparo de amostras. Rio de Janeiro: ABNT, 2007.
BOTELHO, A. L. M. Análise da contaminação por óleo na APA de Guapimirim – RJ: Aspectos
geoquímicos e socioambientais. Niterói, 101 p., 2003. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal
Fluminense.
BRENDOLAN, R. A. & GOMES, A. S. Uso do psamobentos em estudos de ecotoxicologia Marinha
no brasil: revisão bibliográfica com ênfase em Substâncias de petróleo. In: Congresso Brasileiro de
P&D em Petróleo e Gás, 2., Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, 2004. 6p.
BROEDEL, H. A. Análise Experimental dos Efeitos do Petróleo sobre os Macroinvertebrados
Bentônicos de uma Marisma do Estuário da Lagoa dos Patos – RS. Rio Grande, 53 p., 2004.
Dissertação (Mestrado) - Fundação Universidade Federal do Rio Grande.
CARIELLO, M. S. Efeito do naftaleno na microalga marinha Dunaliella tertiolecta, ouriço-domar Lytechinus variegatus e nos microcrustáceos estuarinos Nitokra sp e Leptocheirus
plumulosus. São Paulo, 135 p., 2012. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo.
CEPEMAR. Identificação e avaliação dos impactos ambientais. Estudo do Impacto Ambiental do
Campo de Jubarte – Análises dos impactos. PETROBRAS. 104 p., Março, 2004
CETESB. Ambientes costeiros contaminados por óleo: procedimentos de limpeza – manual de
orientação. Poffo.- São Paulo : Secretaria de Estado do Meio Ambiente, 2007, 120 p.
COLAVITTI, F. O que não mata cura? Revista Galileu. Edição 187. Fev. 2007.
<http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT638985-1940,00.html> 2013.
COOK, R., CALABRESE, E.J. A importância da hormese para a saúde pública. Ciênc. saúde coletiva,
v. 12, n. 4, 955-963p. 2007. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232007000400017.
COSTA, B. M. V et al.Estratégias de biorremediação em manguezal sob o crivo da toxicologia:
eficientes? - Boletim Informativo da Associação Brasileira de Biologia Marinha. Volume 5, número 2,
ano 2012, ISSN 1983-1889.
COSTA, B. V. M. Toxicidade do tributilestanho (TBT) para o copépodomarinho Tisbe
biminiensis. Recife, 121 p., 2013. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco.
COUCEIRO, S. M. et al. Avaliação do impacto do vazamento de óleo sobre a entomofauna do igarapé
cururu, Amazônia central, Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE LIMNOLOGIA, 8., João
Pessoa. Anais... João Pessoa – Paraíba. 2001.
FERREIRA, A.P., HORTA, M. A. P. & CUNHA, C. L. N. (2010) Avaliação das concentrações de
metais pesados no sedimento, na água e nos órgãos de Nycticorax nycticorax (Garça-da-noite) na Baía
de Sepetiba, RJ, Brasil.Revista da Gestão Costeira Integrada, UNIVALI 10(2):229-241, 2010.
GANDRA, M. S. et al. Efeitos do petróleo sobre a associação de macroinvertebrados bentônicos na
raia do cassino, extremo sul do Brasil. In: Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, 3.,
Salvador. Anais... Salvador – Bahia, 2005. 6p.
GARCIA JÚNIOR, J.R. Qual a relação entre hormese, exercício e longevidade?
<http://nutricaoeexercicioonline.blogspot.com.br/2009/11/qual-relacao-entre-hormese-exercicioe.html> 2013.
Governo do Estado de São Paulo, Secretária de Energia – GESP-SE. Resumo executivo – Energia:
Petróleo e Gás. Nº 1/2013. 25p.
LEE, K. et al.Acute and chronic toxicity study of the water accommodated fraction (WAF),
chemically enhanced WAF (CEWAF) of crude oil and dispersant in the rock pool copepod Tigriopus
japonicas.Chemosphere (2013), http://dx.doi.org/10.1016/j.chemosphere.2013.01.080.
LIMA, P. C. G. Estudos dos mecanismos de detoxificação e tolerância aos metais cormo e cobre
em Pseudokirchneriella subcapitata e Pistia stratiotes e o uso das macrófitas Typha sp e
Phragmites sp na remoção de nutrientes em wetlands construídos. 2010. 283p. Tese (Doutorado) –
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos. 2010.
LOTUFO, G.R., 1997. Toxicity of sediment-associated PAHs to an estuarine copepod: Effects on
survival, feeding, reproduction and behavior. Mar. Environ. Res. 44: 149-166.
LOYOLA, R. G. N. macroinvertebrados bentônicos na avaliação de dano ambiental sobre a qualidade
da água do rio do Pinto (bacia litorânea, pr), em decorrência de acidente com carga tóxica (óleo). In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE LIMNOLOGIA, 8., João Pessoa. Anais... João Pessoa – Paraíba.
2001.
MENDONÇA, J. M. S. Avaliação da ecotoxicidade de percolados em áreas de disposição de
resíduos na região metropolitana de Natal/RN. 2010. 73p. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Natal. 2010.
Ministério das Cidades, Departamento Nacional de Trânsito - DENATRAN, Sistema Nacional de
Registro de Veículos/RENAVAM. 2013.
MÜLLER, J. B. Avaliação da toxicidade da fração solúvel em água do biodiesel, diesel e da
mistura binária diesel/biodiesel de 5% (b5). Florianópolis, 112 p., 2011. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Federal de Santa Catarina.
PETTRI, E. et al Ensaio do cometa e indução de anormalidades eritrocíticas nucleares para detecção
de genotoxicidade e mutagenicidade no peixe neotropical prochilodus lineatus expostos à fração
solúvel da gasolina. In: Congresso de Ecologia do Brasil, 8., Caxambu. Anais... Minas Gerais. 2007.
2p.
RESGALLA Jr., C., LAITANO, K.S. 2002. Sensibilidade dos organismos marinhos utilizados em
testes de toxicidade no Brasil. Notas Técnicas FACIMAR. 6: 153-163.
SACO-ÁLVAREZ, L. et al. Toxicity and phototoxicity of water-accommodated fraction obtained
from Prestige fuel oil and Marine fuel oil evaluated by marine bioassays. Science of the total
environment 394 (2008) 275–282.
SÄMY, C. H., TORRENS, B. M. O. & MEDEIROS, S. H. W. Estudo do impacto ambiental na bacia
do rio do braço através de análises ecotoxicológicas. Revista de Ciências Ambientais, Canoas, v.4, n.2,
p. 45 a 55, 2010 / ISSN 1981-8858.
SERRA,
S.
Hormese.
Revista
do
DERC,
v.17,
n.1,
p.8-9,
2011.
<http://www.departamentos.cardiol.br/sbc-derc/revista/2011/17-1/pdf/Rev17-1-pag08.pdf>
2011.
ISSN 2177-3564
SILVA, J.C., ARF, O., GERLACH, G.A.X., KURYIAMA, C.S., RODRIGUES, R.A.F. Efeito
hormese de glyphosate em feijoeiro. Pesq. Agropec. Trop., Goiânia, v. 42, n. 3, p. 295-302, jul/set.
2012. e-ISSN 1983-4063.
SOLÉ, M. et al Bioaccumulation and biochemical responses in mussels exposed to the wateraccommodated fraction of the Prestige fuel oil. Scientia Marina, Barcelona, 71(2), June 2007, 373382. ISSN: 0214-8358.
VELOSO, R.V.S. Proteoma diferencial da resposta à hormese induzida por deltamentrina em
populações de caruncho-do-milho (Sitophilus zeamais). Universidade Federal de Viçosa. Viçosa
(MG). Tese de doutorado. 66p. 2012.
Download

EFEITO DO ÓLEO DIESEL E DA SUA FRAÇÃO SOLÚVEL EM ÁGUA