Desempenho e indicadores de estresse térmico em bezerras alimentadas
com sucedâneo lácteo com ou sem probiótico
no semi-árido Brasileiro
P. O. Lima1, A. A. Moura, D.A. Façanha, M. M. Guilhermino2
Universidade Federal do Ceará, Departamento de Zootecnia, Campus do Pici, Fortaleza, CE, Brasil
Performance and indicators of thermal stress in heifer calves fed a
milk replacer with or without a probiotic in a
semi-arid region of Brazil
ABSTRACT. An experiment was conducted to study the effects of feeding a milk replacer with or without addition of
an acidifying probiotic until weaning at 6 weeks of age, and of climatic conditions in a semi-arid region during four dry
summer months on the performance of female crossbred (Holstein x Guzera) calves from 7 to 60 days of age. In a factorial
arrangement of two principal treatment factors in complete protection against solar radiation in individual hutches,
versus supplemental tree shade for the hutches, and use or not of the probiotic (four treatments), the effects on liveweight
gain, intake of water and of dry matter, heart rate, respiration rate, and rectal temperature were determined. The results
showed that provision of supplementary shade was unnecessary since its small effect on the environmental temperature
did not improve animal performance; neither did use of the probiotic during the dry season benefit health and performance of the calves, probably because of little animal exposure to infectious agents, unlike what commonly occurs in the rainy
season. The climatic conditions recorded of high maximum daily ambient temperature in the morning (34ºC) and afternoon
(36.2ºC) but low relative humidity (46 to 67%) did not produce signs of thermal discomfort as indicated by the physiological
indicators recorded.
Key word: Crossbreed Calves, Feed Intake, Milk Replacer, Shelters
Arch. Latinoam. Prod. Anim. 2006. Vol. 14 (2): 49-55
© 2006 ALPA. Todos los derechos reservados
RESUMO. Um experimento foi conduzido para estudar os efeitos do uso de substituto do leite, com e sem a adição de
probióticos acidificantes, até a desmama com 6 semanas de idade e das condições climáticas na região semi-árida durante
4 meses de verão seco sobre ao desempenho de bezerras mestiças (Holstein x Guzerá) de 7 a 60 dias de idade. Num
experimento fatorial com dois tratamentos: abrigos individuais com completa proteção solar e abrigos individuais com
sombra suplementar de árvores e o uso ou não de probióticos (4 tratamentos), o efeito no ganho de peso, ingestão de água
e de matéria seca, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e temperatura retal foram determinados. Os resultados
mostraram que a provisão suplementar de sombra foi desnecessária uma vez que seu pequeno efeito sobre a temperatura
ambiente não afetou o desempenho animal; nem o uso de probióticos durante a estação seca beneficiou a saúde e o
desempenho das bezerras provavelmente devido a pouca exposição dos animais à agentes infecciosos ao contrário do que
normalmente ocorria na estação das águas. As condições climáticas observadas, da mais alta temperatura máxima diária
de ambiente pela manhã (34ºC) e da tarde (36,2ºC) e a baixa umidade relativa do ar (46 a 67%) não produziu sinais de
desconforto térmico como indicado pelos parâmetros fisiológicos observados.
Palavras-chave: Bezerras Mestiças, Consumo de alimentos, Abrigos, Substituto do Leite
Introdução
idade ao desaleitamento e reduzir a quantidade de leite
fornecida ou pela substituição parcial ou total do leite integral por um substituto de leite (sucedâneo), em geral
subprodutos da indústria de laticínios. Os bezerros
apresentam limitações com as enzimas presentes no trato
intestinal nas primeiras semanas de vida, daí a importância
do acidificante (probiótico) junto aos nutrientes adiciona-
Em sistemas de produção de bovinos leiteiros, a
comercialização do leite apresenta a principal fonte de renda, mas parte do leite é destinada à alimentação dos
bezerros. Uma das maneiras de se reduzir o custo do
aleitamento em sistema de produção de leite é antecipar a
Recibido Febrero 09, 2005. Aceptado Marzo 01, 2006.
1
Bolsista CNPq
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Agropecuária, Campus Universitário, Natal, RN. Email: [email protected]
49
50
Lima et al.
dos ao sucedâneo visando melhorar a conversão alimentar (Jenkins et al., 1985). Esses acidificantes são compostos
por microrganismos que alteram beneficamente o pH,
promovendo o estabelecimento da flora ruminal e
conseqüentemente reduzindo a ocorrência de distúrbios
gastrintestinais (Heirinchs et al., 1995). Os animais alimentados com sucedâneo consomem maior quantidade de
matéria seca da dieta sólida em comparação aos alimentados com leite. Isto se deve possivelmente ao menor aporte
de matéria seca do sucedâneo, que pode induzir os animais
a consumir mais concentrado e volumoso na tentativa de
suprirem suas necessidades (Façanha et al., 2000).
Muitas pesquisas relatam que condições ambientais
adversas causam prejuízos à produção, especialmente em
vacas leiteiras, porém pouco se tem estudado sobre os efeitos
do clima sobre o desempenho de animais jovens. Muller
(1989) cita temperatura, umidade, vento e radiação solar,
como fatores climáticos que podem induzir estresse calórico e afetar o ritmo de crescimento fetal e ao nascer, antes e
após a desmama. Os danos causados pelo estresse calórico dependem da intensidade e duração do calor. No
primeiro momento o animal utiliza-se de meios como
vasodilatação periférica, acamamento dos pêlos, sudorese,
taquipnéia, entre outros mecanismos de defesa, para tentar dissipar o calor sem gasto de energia (Baccari Jr., 1998).
Entretanto, após ultrapassar uma faixa limite de adaptação,
têm início os efeitos negativos do estresse, dos quais
Encarnação (1991) cita a inibição do crescimento, redução
na resistência orgânica contra infecções e diminuição do
consumo de matéria seca. Este trabalho objetivou avaliar o
desempenho de bezerras mestiças Holandês x Guzerá
aleitadas com um substituto do leite, adicionado de
probiótico ou não, bem como a influência dos aspectos
climáticos (semi-árido) sobre o consumo de alimentos e
desenvolvimento ponderal das mesmas.
Material e Métodos
Local e período
O trabalho foi conduzido no período de novembro/2000
a março/2001, na Fazenda Canhotinho, localizada no
município de Quixeramobim, semi-árido do Ceará, situado a uma altitude de 191,74m, latitude e longitude de
5°11’57" sul e 39°17’34" oeste, respectivamente. A temperatura anual média é de 28,5°C, sendo as médias, máxima
de 32°C e mínima de 25°C, com precipitação anual média
de 707,7 mm. A fazenda possui um rebanho mestiço
Holandês x Guzerá de, aproximadamente, 1.200 cabeças
(monitorado pelo Projeto Infoleite, com controle zootécnico
sistemático), das quais 310 são vacas em lactação
produzindo cerca de 4.300 litros por dia (14 litros/animal). As bezerras permanecem com as matrizes apenas 24
horas e após esse período, são criadas em abrigos
individuais até os 60 dias de idade, recebendo 4 litros de
leite integral divididos em dois fornecimentos diários.
Delineamento experimental
Foram utilizadas 24 bezerras distribuídas em quatro
tratamentos com seis repetições. Os tratamentos foram: T1=
abrigos locados ao sol e aleitamento com sucedâneo;
T2=abrigos locados ao sol e aleitamento com sucedâneo
adicionado de probiótico; T3= abrigos com sombra suplementar e aleitamento com sucedâneo; T4= abrigos com sombra suplementar e aleitamento sucedâneo adicionado de
probiótico (Quadro 1).
Quadro 1. Composição bromatológica: matéria seca (MS),
proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro
(FDN) e extrato etéreo (EE) dos alimentos utilizados na dieta dos animais durante o período
experimental.
Alimentos
Sucedâneo
Concentrado
Feno
Composição
MS
PB
FDN
EE
91,05
90,15
95,8
22,47
22,27
14,69
3,84
25,4
71,09
7,25
3,02
2,37
Manejo dos animais
Os abrigos individuais foram distribuídos de forma que
12 deles recebessem sombreamento natural suplementar
proveniente de algarobeiras, e outros 12 restantes ficaram
permanentemente ao sol. No segundo e terceiro dia, após o
nascimento, as bezerras receberam 4 litros de colostro integral no balde, divididos em dois fornecimentos: 7:30 e 15:30
horas. O sucedâneo foi introduzido de maneira gradativa,
nas proporções de: 25, 50, 75 e 100% no 4º, 5º, 6º e 7 º dias,
respectivamente. A partir do 7º dia receberam apenas o
sucedâneo, adicionado ou não de probiótico, conforme os
tratamentos. O probiótico (ACID-MOS) foi dissolvido no
substituto do leite na quantidade de 3g/litro, desde o
nascimento até o desmame, o qual foi realizado aos 42 dias
de idade. Os animais tiveram acesso a um concentrado
(com 20% de proteína bruta e 75% de nutrientes digestíveis
totais) e feno (Cynodon dactylon) até o desmame. A água foi
fornecida ad libitum desde o nascimento.
Coleta de dados
O desempenho ponderal das bezerras foi mensurado
através de pesagens no horário entre 14 e 15 horas, sempre
antes do aleitamento. Tais medições foram iniciadas ao
nascer e realizadas semanalmente até o desaleitamento.
Para determinação de consumo de matéria seca (MS) e
conversão alimentar fizeram-se medições de consumo de
feno e concentrado, a cada dois dias, pela manhã e à noite,
pelo método da oferta/sobra. A aferição feita pela manhã
representou o consumo no intervalo compreendido entre
16h às 08h da manhã do dia seguinte, enquanto que a da
tarde representa o intervalo entre 08 e 16 horas do mesmo
dia. Estes alimentos foram analisados quanto aos teores de
MS, proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) e fibra em detergente neutro (FDN) (Silva, 1999) (Quadro 1). A estimativa
do consumo de água foi feita descontando-se a taxa de
evaporação em dois baldes padrão graduados (localizados ao sol e à sombra) aos quais os animais não tiveram
51
Desempenho e indicadores de estresse térmico em bezerras
acesso, nos mesmos dias de medida do consumo de alimentos. O experimento desenvolvido, durante a época de
estiagem caracterizada basicamente por ausência de chuvas
e temperatura ambiente elevada e pouco variável entre dias,
restringindo-se as variações àquelas ocorridas ao longo do
dia. Devido a isto, a temperatura ambiente e umidade foram
coletadas uma única vez por semana, em dois horários
(08:00 e 15:00 horas), sendo os termômetros de máxima e
mínima e os termohigrômetros locados ao sol e à sombra.
No mesmo dia, os parâmetros fisiológicos relacionados a
termoregulação usados foram: temperatura retal (TR),
freqüência respiratória (FR) e freqüência cardíaca (FC),
medidos semanalmente pela manhã e à tarde (9:00 e 15:00
h). A TR foi medida com o auxílio de um termômetro clínico (escala em °C), durante cerca de 5 minutos e a FR foi
expressa em movimentos por minuto (mov./min.), controlados pela observação direta do flanco durante 60 segundos. A FC foi auscultada com o auxílio de estetoscópio,
posicionado entre as patas dianteiras durante 30 segundos e expressa em batimentos por minuto (bat./min.).
Análise estatística
Os efeitos dos tratamentos (sol e sombra/dieta) sobre as variáveis dependentes (ganho de peso, consumo de
água e MS, FC, FR e TR) foram avaliados através da análise
de variância pelos procedimentos disponíveis no SAS, 2000.
Modelo estatístico:
Yijk = µ + Ti + Aj + Pk + Eijk
Onde:
Yijk = ganho de peso, consumo de água e MS, FC, FR e TR;
µ = média geral;
Ti = efeito tratamento (probiótico/sombra);
A j = efeito da fase de aleitamento (pré e pósdesaleitamento);
Pk = efeito do período do dia (manhã e tarde);
Eijk = erro associado a cada observação, assumindo uma
distribuição normal dos dados.
Resultados e Discussão
Durante o período experimental a temperatura ambiente, ao sol e à sombra, não apresentaram grandes variações,
tanto pela manhã quanto à tarde (Quadro 2). As médias de
temperatura máxima e mínima ao sol foram, respectivamente, pela manhã 35,5 e 23,4ºC e à tarde 37,9 e 27,9ºC, e na
área de sombra 34,6 e 24,4°C pela manhã, 36,4 e 27,9ºC à
tarde. A umidade relativa do ar manteve-se baixa, com
médias pela manhã de 61,7% (sol) e 63,9% (sombra) e à
tarde, de 40,7% (sol) e 41,7% (sombra), que resultou em
ambiente sempre seco, geralmente favorável ao conforto
dos animais e higiene do local. As temperaturas mais amenas registradas pela manhã possivelmente decorreram do
resfriamento noturno e elevaram-se gradativamente com o
aumento da radiação solar durante o dia, apresentando à
tarde, médias mais elevadas com umidade relativa do ar
mais baixa.
Estudos conduzidos por Spain e Spiers (1996), em
Missouri/EUA, verificaram em experimento com e sem
sombra adicional em abrigos individuais, que o aumento
da média da temperatura ambiente (amplitude) da sombra
para o sol foi de 1,8°C no período da manhã e de 7,8°C à
tarde, sendo superiores às temperaturas encontradas no
presente experimento (durante os períodos de pré e pósdesaleitamento), cujas diferenças de temperatura entre os
ambientes com ou sem sombra foram de 1,2°C e 1,6°C para
os períodos da manhã e tarde, respectivamente. Os dados
obtidos mostraram que a variação de temperatura nos ambientes estudados foi mínima em função, provavelmente,
do uso dos abrigos individuais e/ou incidência de ventos
na área experimental, embora este parâmetro não tenha
sido avaliado com precisão.
A temperatura retal das bezerras praticamente não foi
influenciada pela disposição dos abrigos em áreas com sol
(38,5 e 39,6ºC; 38,6 e 39,4ºC manhã e tarde, nas fases de
aleitamento e pós, respectivamente) ou com sombra suplementar (38,5 e 39,4ºC; 38,5 e 39,5ºC manhã e tarde, nas
fases de aleitamento e pós, respectivamente). No período
da tarde, a TR das bezerras apresentou médias sempre mais
elevadas, em torno de 1°C, em relação àquelas registradas
para o período da manhã.
Também não foi observado efeito do probiótico sobre
nenhum parâmetro fisiológico das bezerras, assim como a
análise de variância não detectou interação significativa
entre a condição ambiental e o tipo de dieta. Entre o período de aleitamento e pós-desaleitamento não houve diferença
para este parâmetro, tanto pela manhã quanto à tarde, quer
os abrigos estivessem ao sol ou sob sombreamento natural.
Após o desaleitamento, as médias verificadas para TR foram
semelhantes àquelas do período em que as bezerras recebem
o sucedâneo lácteo.
Quadro 2. Médias mensais de temperatura máxima (TMA;°C), temperatura mínima (TMI;°C) e umidade relativa do ar (UR;
%), no período da manhã e tarde (M / T), ao sol e à sombra, em região semi-árida do Nordeste (Quixeramobim - CE).
TMAT
TMAM
Meses
Sol Sombra
Sol
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Período
35,8
35,4
35,7
34,0
35,2
37,7
38,0
38,3
37,0
37,8
35,6
33,8
34,7
32,0
34,0
Sombra
36,3
36,4
37,0
35,0
36,2
TMIM
Sol
24,0
22,8
23,3
23,0
23,3
Sombra
23,7
25,0
25,3
24,0
24,5
TMIT
URM
URT
Sol Sombra
Sol Sombra
Sol
Sombra
27,2
34,8
28,0
28,0
29,5
57,5
61,0
65,7
77,0
65,3
38,2
42,4
40,0
51,0
42,9
39,2
38,4
49,0
56,0
45,7
28,3
26,8
29,0
28,0
28,0
60,0
63,0
67,3
77,0
66,8
52
Lima et al.
As temperaturas ambientes encontradas no estudo de
Spain e Spiers (1996) durante os períodos da manhã e da
tarde não foram suficientes para produzir diferenças significativas na TR entre os bezerros mantidos à sombra e ao
sol. Mudanças, porém, foram significativas entre os períodos da manhã e da tarde, com variações de 38,0 a 38,8°C
para o ambiente à sombra e de 38,6 a 39,3°C para os animais
mantidos ao sol. No presente estudo, a baixa umidade relativa do ar e a sombra promovida pelos abrigos, reduzindo
a radiação solar, podem ter concorrido para dissipar os
efeitos das elevadas temperaturas ambientes.
A FR medida à tarde, durante o aleitamento, não
apresentou variações significativas em função do local dos
abrigos ou dieta fornecida às bezerras. Embora os valores
registrados tenham sido maiores ao sol (45,6 mov./min.)
que na sombra (44,4 mov./min.) no períodos da manhã e
da tarde (57,2 e 56,4 mov./min., respectivamente). A razão
destas variações não é clara, mas é possível que outros
fatores, além dos tratamentos em estudo, tenham
influenciado as mudanças nas FR e FC durante o experimento, dado que estes parâmetros são susceptíveis aos mais
variados agentes externos. Após o desaleitamento, bezerras
mantidas à sombra tiveram menor FR (43,7 mov./min.) do
que as mantidas ao sol (51,4 mov./min.). Porém este
comportamento não foi sempre verificado, tendo havido
aumento ou redução, embora de reduzida magnitude neste
último caso. A suspensão da dieta líquida aos animais na
6a semana de vida foi acompanhada por aumentos na FR e
esta elevação foi maior nos animais mantidos ao sol (aumentos de 7 e 7,7% nos períodos da manhã e tarde, respectivamente) do que naqueles mantidos à sombra (aumentos
de 0,5 e 5,6% pela manhã e à tarde, respectivamente). Durante a fase de aleitamento, verificou-se que no período da
manhã, animais mantidos à sombra tiveram maior FC (71,9
batimentos/minuto) do que aqueles mantidos em abrigos
sem sombra adicional (67,5 batimentos/minuto); e após a
fase de aleitamento, a FC mostrou ser semelhante para os
animais mantidos tanto à sombra como ao sol (72,3 e 72,2
batimentos/minuto). Já no período da tarde, tanto para a
fase de aleitamento e de pós-aleitamento, as médias de FC
dos animais nos abrigos à sombra foram maiores (76,2 e
80,5 batimentos/minuto, respectivamente) do que nos
animais mantidos ao sol (73,6 e 78,0 batimentos/minuto,
respectivamente).
A freqüência respiratória dos animais sempre foi maior
à tarde do que pela manhã resultado também observado
para os valores de freqüência cardíaca, conseqüência
provável da elevação da temperatura ambiente, da maior
movimentação do animal ou aumento dos processos químicos originados pela ingestão de alimentos.
No estudo de Spain e Spiers (1996) a instalação de sombra adicional sobre os abrigos individuais reduziu a taxa
de respiração de bezerros da raça holandesa no período da
tarde de 57,7 ciclos/min. para 47,3, a magnitude desta
melhora foi diretamente relacionada com o aumento da
temperatura ambiente, especialmente para o período da
tarde, reduzindo efetivamente o estresse térmico dos
animais criados ao sol tornando-os mais refrescados e
saudáveis do aqueles criados sem a sombra.
As diferenças observadas nas FR e FC aparentemente
não causaram desconforto aos animais indicando que as
condições ambientais, especialmente a baixa umidade relativa do ar, favoreceram a utilização de mecanismos fisiológicos que visam à manutenção da homeotermia dos
mesmos. Além disso, as diferenças de temperatura observadas entre os ambientes com ou sem sombra (1,2°C manhã
e 1,6°C tarde) não foram suficientemente elevadas para
promover tais reações.
Houve tendência de maior consumo de matéria seca do
concentrado (Figura 1a) e feno (Figura 1b) pelas bezerras
aleitadas com sucedâneo + probiótico em relação ao grupo
controle, independente do ambiente (sol ou sombra). As
médias para o consumo de matéria seca do concentrado no
período da manhã, na fase de aleitamento, foram 291,5 e
272,9 g/animal e após o desaleitamento de 788,4 e 787,7g,
para os ambientes de sol ou com sombra suplementar, respectivamente. No período da tarde, na fase de aleitamento,
foram 234,4 e 231,0 g e após o desaleitamento de 699,8 e
598,9 g, para os ambientes de sol ou com sombra suplementar, respectivamente. Os valores encontrados para o
período da manhã (superiores ao da tarde) foram,
provavelmente, devidos ao fato da aferição da manhã referir-se ao das temperaturas ambientes mais amenas (final
Figura 1. Consumo de matéria seca do concentrado (CMSC;
kg/dia) médio semanal de bezerras mestiças
(Holandês x Guzerá) criadas em abrigos expostos
ao sol e sombra (Fig. 1a), aleitadas com substituto
de leite, adicionado ou não de probiótico (Fig. 1b),
em região semi-árida do Nordeste (Quixeramobim
- CE).
53
Desempenho e indicadores de estresse térmico em bezerras
da tarde, noite e início da manhã seguinte) e, por
conseguinte, maior consumo de alimentos.
Bezerros com peso vivo entre 40 e 50 kg, alimentados
com leite ou substituto de leite e concentrado, necessitam
consumir de 0,66 a 0,76 kg de MS (de 148 a 154 g de PB)
para atingirem ganho de peso diário de 400 g (NRC, 2001).
Na semana do desaleitamento, as bezerras utilizadas neste
estudo pesaram de 41,5 a 49,0 kg, consumiram de 1,26 a
1,48 kg de MS total (267,8 a 317,2 g de PB) e ganharam de
360 (sombra/probiótico) a 600 g (sol/controle) nos
tratamentos que apresentaram menor e maior consumo, o
que atendeu às exigências nutricionais das bezerras.
Para todos os tratamentos, o consumo médio de MS do
concentrado verificado na semana do desaleitamento das
bezerras foi de 0,950 kg (1,057 kg de matéria natural) e o de
feno, de 0,171 kg (0,180 kg de matéria natural). Estes valores assemelham-se aos encontrados por Susin et al. (1988)
em experimento conduzido com bezerros Holandês x
Guzerá, aleitados com substituto de leite (1,109 kg), sendo,
entretanto inferiores aos relatados por Silva et al. (1987)
com bezerros da raça holandesa (1,29 kg).
Não foram verificadas tendências de maior consumo de
água em favor de nenhum dos tratamentos aplicados aos
animais do presente experimento, cujas diferenças foram
mínimas e não significativas. Na fase de aleitamento:
manhã 0,20 e 0,21L/ tarde 0,28 e 0,29L, sol e sombra, respectivamente; e após o desaleitamento: manhã 0,42 e 0,45L/
tarde 0,40 e 0,44L, sol e sombra, respectivamente. Observouse, porém, que o consumo elevou-se gradativamente com o
aumento da idade e substancialmente (66%) após a
suspensão do fornecimento da dieta líquida. Os aumentos
verificados neste período de transição, embora não significativos, foram maiores para a aferição da manhã do que
para a da tarde e para a adição de sombra do que para o
sol, acompanhando diretamente o aumento também verifi-
cado no consumo de MS. Também foi verificado por
Façanha et al. (2000) elevado consumo de água após a
suspensão da dieta líquida, ambos justificaram-no como
devido à eliminação da água proveniente do sucedâneo e
ao aumento no consumo de MS.
Confrontando-se a última semana de aleitamento com o
período seguinte, verificou-se um aumento do consumo de
MS total (incluindo a matéria seca do sucedâneo) de 17%
em relação à primeira semana após o desaleitamento, e de
41% quando relacionada à segunda semana, independente
dos tratamentos aplicados aos animais. Este consumo
representou de 2,9 e 3,4% do peso vivo para as fases de pré
e pós-desaleitamento. Façanha et al. (2000) encontraram
consumo de matéria seca total, na fase de aleitamento de
bezerros holandeses de apenas 0,85% do peso vivo.
Os animais que receberam o probiótico adicionado ao
sucedâneo obtiveram melhores médias para a conversão
alimentar que os animais do controle, no sol ou na sombra
(Quadro 3). As médias para o período de aleitamento (3,38)
e pós-desaleitamento (2,57), independente dos tratamentos
aplicados, encontradas no presente estudo estão em
concordância com os resultados encontrados por Silva et
al. (1987) e Meyer et al. (2000) para as médias de 2,46; 3,18 e
2,62, respectivamente, e são superiores aos registrados por
Zanetti (1999) de 1,22.
A maioria dos estudos cita melhoria da conversão alimentar e do ganho de peso como conseqüência da melhoria
das condições sanitárias dos animais e, embora alguns
autores tenham encontrado resultados positivos com o uso
de acidificantes em substitutos de leite. A suplementação
com ACID-MOS, no presente estudo, não interferiu com o
consumo nem com os dados de desempenho dele
decorrentes. Isto pode ter sido devido à condução do experimento durante o verão, onde a incidência de diarréias e
outros problemas relacionados ao ambiente não tenham
Quadro 3. Consumo de matéria seca total, conversão alimentar e relações de consumo de bezerras mestiças (Holandês x
Guzerá) criadas em abrigos expostos ao sol e sombra, recebendo ou não probiótico, durante as fases de pré e
pós- desaleitamento, em região semi-árida do Nordeste (Quixeramobim - CE).
Sol
Probiótico
Médias
CMST
CvA
CMS/PV
CA/PV
CA/CMS
Prédesmame*
1,08
2,16
2,50
1,19
0,48
Sombra
Controle
Pósdesmame
1,7
3,24
3,50
1,66
0,50
Prédesmame
1,30
2,30
2,80
1,06
0,38
Probiótico
Pósdesmame
2,05
2,05
3,40
1,49
0,44
Prédesmame
1,21
4,16
3,00
1,01
0,33
Controle
Pósdesmame
1,51
1,97
3,10
1,48
0,48
CMST: Consumo de matéria seca total
CvA: Conversão alimentar (Consumo de MS/ganho de peso)
CMS/PV: Consumo de matéria seca (MS)/kg de peso vivo (PV)
CA/PV: Consumo de água (CA)/kg de peso vivo (PV)
CA/CMS: Consumo de água (CA)/kg de MS
*Para o cálculo do desmame foram utilizadas as médias das duas últimas semanas de aleitamento.
Prédesmame
1,27
4,94
3,20
1,69
0,53
Pósdesmame
1,79
3,02
3,78
2,14
0,58
54
Lima et al.
sido verificados e a própria radiação solar e baixa umidade
evitem seu aparecimento.
A relação entre o consumo de água e consumo de MS
apresentou um acréscimo no período pós-desaleitamento
de 15,7%, provavelmente devido ao aumento substancial
no consumo de alimentos também verificado nesta fase. Já
o consumo de água relativo ao peso vivo (CA/kg de PV)
mostrou aumento de 41,7% após o desaleitamento dos
animais (Quadro 3). Embora as informações sobre o consumo de água de bezerras sejam escassas, especialmente no
semi-árido, sabe-se que essa variável depende da
quantidade de matéria seca ingerida, da temperatura ambiente e dos teores de sal e proteína da dieta oferecida (Lucci,
1989). Como mostrado anteriormente, não houve diferenças
no consumo de MS, além de não ter sido observado
influência tanto do probiótico quanto da temperatura ambiente sobre os tratamentos, capazes de promover
diferenças significativas de consumo de água.
As variações do peso corporal não foram influenciadas
pelo tipo de dieta ou pela adição de sombra suplementar
aos abrigos. Embora a média para este parâmetro tenha se
mostrado um pouco maior nos animais que receberam
sucedâneo sem a adição de probiótico e tiveram os abrigos
ao sol, esta diferença (também verificada nos consumos de
MS do feno e do concentrado) não foi estatisticamente significativa. Assim como não foi evidenciada diferença significativa no consumo de MS e o ganho de peso, diretamente
relacionados ao consumo, também mostraram resultados
semelhantes entre os tratamentos. Os animais mestiços,
Figura 2. Consumo de matéria seca do feno (CMSF; kg/dia)
médio semanal de bezerras mestiças (Holandês x
Guzerá) criadas em abrigos expostos ao sol e sombra (Fig. 2a), aleitadas com substituto de leite, adicionado ou não de probiótico (Fig. 2b), em região
semi-árida do Nordeste (Quixeramobim - CE).
alimentados com substituto comercial de leite e
desaleitados aos 42 dias de idade, apresentaram ganho de
peso de 0,34 e 0,42 kg/dia, para os ambientes com e sem
sombra adicional até o desaleitamento, superiores aos encontrados por Banys et al. (2000) 0,32 kg/dia, em estudos
com bezerros da raça holandesa. Independente da fase,
considerando-se os ambientes, o sombreamento natural
promoveu sempre melhores ganhos de peso para as
bezerras do estudo.
Conclusão
A adição de sombra suplementar aos abrigos
individuais, no ambiente em que se desenvolveu a pesquisa, pode ser dispensada uma vez que variação de temperatura ambiente observada não foi suficiente para interferir
negativamente sobre o desempenho dos animais. O uso de
probiótico, especialmente durante a época seca, não tem
expressão sobre a saúde dos animais, provavelmente
devido ao pouco contato dos mesmos com os agentes
causadores de doenças, principalmente parasitárias, como
acontece nos períodos chuvosos. As características
climáticas observadas na região, durante o experimento,
promoveram as condições necessárias ao bom desempenho
dos animais, já que os mesmos não apresentaram sinais de
desconforto térmico de acordo com os parâmetros
avaliados.
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