O Uso de CAD na Avaliação e no Suporte Técnico à Auto-Construção
Doris C.C.K. Kowaltowski, Prof. PhD.
Regina C. Ruschel, Prof. MSc.
Faculdade de Engenharia Civil - UNICAMP
(doris,regina)@fec.unicamp.br
Resumo
Este trabalho descreve resultados de uma pesquisa de campo sobre casas autoconstruídas e conjuntos habitacionais (com alterações) na região de Campinas, SP. Os
dados específicos mostrados aqui foram obtidos através de avaliações de representações
gráficas das casas pesquisadas, usando ferramentas de CAD (Computer Aided Design)
como meio de organização e extração de informações.
Os resultados mostram além de uma grande padronização do uso de elementos
arquitetônicos, como disposição funcional e tamanho dos ambientes, falta de
preocupações bioclimáticas e índices elevados de inadequações dos projetos às
necessidades básicas dos usuários. A partir das avaliações são elaborados as diretrizes
de uma metodoloia de projeto arquitetônico de suporte técnico à auto-construção.
Palavras Chave
Casas Auto-construídas, Metodologia de Projeto Arquitetônico, Projeto Assistido por
Computador, CAD.
1. Introdução
Este trabalho descreve resultados parciais do projeto de pesquisa: "Elementos sociais e
culturais da casa popular na metodologia de projeto", que teve apoio da FAPESP1. Esta
pesquisa segue a linha das investigações apresentadas no estudo de caracterização da
habitação auto-construída nos anos 70 na cidade de São Paulo (Motta, 1975; Lemos,
1976; Lemos e Sampaio, 1984) e trabalhos mais recentes de vários autores (Faggin,
1984; IPT, 1986; Ornstein, 1988; Lemos, 1989 e Pina, 1991). Estes estudos permitem a
verificação e o traçado detalhado da evolução dessa tipologia habitacional em São Paulo
e suas características regionais e culturais. Os parâmetros comuns dessa tipologia, que
se sobressaem, são marcados pela pobreza e homogeneidade de "soluções arquitetônicas
simplistas" (Lemos, 1969), pela falta de critérios maiores no agenciamento,
dimensionamento e circulação interna, disposição no lote, emprego de materiais de
construção tradicionais e a quase sempre presente espera por futuras ampliações.
Neste trabalho uma pesquisa de campo procurou identificar os elemento arquitetônicos
de casas auto-construídas relacionados aos seus significados sociais e culturais da
população de baixa renda na região de Campinas. As casas pesquisadas incluíram casas
de conjuntos habitacionais da mesma região que apresentaram desejo de modificação ou
1Processo
92/4525-2
alterações auto-executadas após a ocupação. Os resultados desta pesquisa de campo
foram tabulados (em sistema de banco de dados e planilha eletrônica) e representados
graficamente através do uso de ferramentas de CAD (Computer Aided Design) AutoCad R.12 e Geocad (Autocad, 1992; Geocad, 1993). A organização dos desenhos
permitiu a extração de dados específicos dos elementos arquitetônicos encontrados. As
diretrizes de uma metodologia de projeto arquitetônico para as habitações de baixa
renda se baseiam na analise destes dados. A otimização dos elementos arquitetônicos é
visada e deve evitar desconfortos e insatisfações nas casas criadas através da aplicação
desta metodologia. O objetivo maior desta metodologia de projeto arquitetônico é o
desenvolvimento de uma ferramenta de apoio técnico para a Construção de
Comunidades (Hamdi,1991) através da auto-construção.
2. Pesquisa de Campo
Para a pesquisa de campo foi escolhida a região sudoeste de Campinas, que apresenta as
características objetivadas de homogeniedade de população e presença de várias
manifestações das tipologias a serem pesquisadas. Os dados disponíveis, do censo de
1991 (Prefeitura Municipal de Campinas, 1993), apontam para uma população total no
setor de 254.300 habitantes, que representa 30,1% da população total do município. A
mesma fonte coloca esta população na faixa de um a dez salários mínimos de renda
familiar, portanto, na sua maioria uma população de baixa renda. Além de apresentar as
tipologias de bairros desta pesquisa, a região ainda contém grandes vazios urbanos e
algumas áreas industriais intercalados entre bairros, sítios, granjas e fazendas
remanescentes na área.
Dados relativos aos Conjuntos Habitacionais da região são mais precisos, disponíveis
nos agentes de construção (COHAB, INOCOOP, CDHU, Prefeitura Municipal de
Campinas e o setor privado BHM e Shaim Cury). Estes dados mostram que 13.074
unidades residências foram construídas em Conjuntos Habitacionais nesta região, entre
casas de vários tipos de projeto e apartamentos.
2.1 Dimensionamento da Amostra
Existem 97 bairros com características de auto-construção e 33 Conjuntos Habitacionais
na região pesquisada. A verificação "in loco" da região assegurou sua homogeneidade
na representação de predominância de classe média baixa de interesse desta pesquisa.
Assim, não foi necessário estratificar a amostra de bairros. Cinco bairros foram
selecionados aleatoriamente da lista numerada dos bairros. Nestes bairros foram
aplicados um total de 524 questionários (120 questionários extensos e 404 questionários
direcionados).
Dos 33 Conjuntos Habitacionais existentes na região estudada, foram selecionados 3
bairros aleatoriamente da listagem disponível. Nestes três bairros foram aplicados 150
questionários extensos específicos.2
2
Para o dimensionamento estatístico a equipe desta pesquisa contou com o apoio do Laboratório de
Estatística do Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação (IMECC) da UNICAMP. Em
particular tivemos a colaboração dos professores Dr. Jonathan Biele e Dra. Clarice Azevedo de Luna
Freire. O dimensionamento estatístico da pesquisa de campo deu-se principalmente em função do número
de variáveis incluídas nos questionários usados.
2.2 Dados Levantados
Foram elaborados três tipos de questionários, cada um para aplicação e objetivo
específico:
•
Questionário extenso.
Este questionário foi elaborado para a aplicação nos bairros de auto-construção. O
questionário incluiu o levantamento de dados sobre: propriedade e modo de construção
das casas implantadas no lote, a pretensão de permanência do ocupante no lote, a
tipologia e satisfação com o bairro, o número de pessoas que habitam a casa e a
existência de inquilinos morando junto a família proprietária da residência.
As preferências em relação à fachadas e plantas de casa foram apuradas através de
painéis montados com desenhos e fotografias. (ver réplica reduzida na Figura 1 das
variações de plantas de casas). Os painéis contem seis plantas e dez fachadas de casas de
tamanho compatíveis com as casas populares e variações de: implantação (frente, fundo
e lateral), recuos, inclinação de telhado, cores, materiais de acabamento e composição
de cheios e vazios das fachadas bem como inclusão de abrigo de carro.
Levantou-se as necessidades dos moradores não atendidas, as falhas técnicas
construtivas e as condições de ocupação dos compartimentos. Os elementos sociais e
culturais levantados foram incluídos nas questões dos temas: hábitos, moradia de
referência e detalhes gerais, com questões de conhecimentos sobre a relação confortodetalhes construtivos. Foram ainda anexados, aos questinários, fotografias da fachada e
um croqui de planta da casa com sua implantação no lote.
•
Questionário Direcionado
Este questionário restringe-se basicamente às questões iniciais do questionário extenso
anterior. Esse questionário foi elaborado devido às necessidades de um número maior de
amostras em relação às preferências de fachada e planta para assegurar uma
representatividade consistente na análise deste item.
•
Questionário Extenso Específico.
Este questionário se destina a aplicação em Conjuntos Habitacionais. Os dados
levantados neste questionário se referem principalmente à satisfação com os projetos
executados pelos órgãos públicos envolvidos na construção desses conjuntos. O
segundo objetivo na elaboração deste questionário foi a apuração da vitalidade com que
os proprietários alteram e reconstrõem suas moradias. A riqueza dos elementos
presentes nas alterações e os significados destas é registrado através dos croquis de
planta baixa e fotografias das fachadas modificadas das casas.
Figura 1 - Tipologia de plantas baixas.
3. CAD na Avaliação da Auto-Construção
Os croquis da planta, mobiliário, implantação no lote e orientação solar das casas
visitadas, obtidos com a aplicação dos questionários extenso e direcionado, foram todos
documentados em forma de desenhos com a ferramenta AutoCad R.12 e GeoCad (veja
exemplos na Figura 2). Nos desenhos das casas de conjuntos habitacionais manteve-se a
informação, em camadas diferenciadas, do projeto padrão e das modificações
introduzidas pelo usuário.
Figura 2 - Exemplos de desenho de casa auto-construídas.
Tendo em vista que é possível extrair informações como áreas, distâncias, perímetros e
volumes de desenhos feitos no AutoCad (arquivos *.dwg) foram acrescentados sobre as
plantas baixas camadas de informações como eixos para paredes e polígonos para
cômodos. A partir dos polígonos diferenciados por cores obteve-se a área de cada
cômodo das casas pesquisadas. Estas áreas foram acrescentadas a tabulação dos dados
para uma análise numérica sobre áreas padrões para cada tipo de ambiente e tamanho de
família.
Para analisar a disposição funcional dos ambientes foi utilizado o aplicativo ADE
(Advanced Data Extraction) sobre o AutoCad R.12 (Data Extension, 1993). Este
aplicativo permite consultar vários desenhos em conjunto a partir de prerrogativas de
localização, propriedades ou características independentes do desenho (e.g. EED Extended Entity Data). Este tipo de consulta sobre vários desenhos em conjunto se faz
através do sobreposicionamento destes com um ponto de intersecção em comum. Neste
trabalho foram adotadas duas possibilidades para ponto de sobreposição: o canto
superior direito para casas de fundo e o canto inferior esquerdo para o restante dos
projetos.
Em seguida os desenhos foram categorizados de acordo com a tipologia de planta
mostrada na Figura 1. Esta categorização foi acrescida aos desenhos como informação
do tipo EED. Foi necessário a introdução de mais dois tipos de plantas de casa para
atender ao universo da amostragem3.
Como o universo de projeto é simplificado as consulta limitaram-se a destacar
relacionamentos, dentro das tipologias encontradas, entre os ambientes: sala-cozinha,
sala-quartos, cozinha-área-de-serviço e a orientação deste em relação ao norte.
4. Elementos Arquitetônicos
Existe uma complexidade na leitura das causas e efeitos em pesquisas do ambiente
físico em relação ao comportamento dos usuários e seu bem estar. Apesar das
informações levantadas serem extensas cujas análises podem levar a conclusões sócio
culturais, os resultados aqui apresentados não incluem estes aspectos. Este texto relata
resultados de caráter físico e de conforto ambiental dos projetos de casas autoconstruídas que são os elementos arquitetônicos importantes.
Os resultados encontrados destacam-se nos seguintes pontos:
•
Predominância de Tipologia.
Na análise da categorização de tipologia das casas auto-construídas destacaram-se três
tipos de plantas: a planta do tipo-1 (42%), planta do tipo-3 e tipo-4 (32%) e planta do
tipo-7 (14%). Nota-se pouca variedade de plantas. Essa padronização também é
encontrada na preferência de escolha de planta em termos de desejo. Veja a Figura 3 que
mostra preferência para as tipologias 1 e 6.
3O
tipo 7 de planta é uma variação do tipo 1 com acréscimo de uma copa na localização central da casa,
criado para permitir a categorização de casas maiores encontradas no universo pesquisado; o tipo 8 que
engloba plantas de casas sem tipologia definida e com pouca freqüência de ocorrência (6%).
150
100
50
0
1
2
3
4
TIPO DE PLANTA
5
6
Figura 3 - Histograma de preferências de tipo de planta de casa.
A casa do tipo-6 (sobrado) destaca-se como desejo de construção possivelmente por
estar relacionada aos aspectos estéticos como: aparência destacada da fachada em lotes
de frente reduzida e maior facilidade de dividir a casa em zonas sociais e privadas.
Entretanto a planta do tipo-6 corresponde somente a 3% do universo construído
pesquisado. As casas do tipo-3 e tipo-4 tem representatividade expressiva no universo
construído pesquisado (32%) entretanto é a menos desejada, como mostra a Figura 3. O
bem estar dos moradores é bastante prejudicado nas construções do tipo edícula,
principalmente agravado pelas construções posteriores (alterações e aumentos) muito
frequentes4. Estes dados, associados a uma avaliação técnica relacionada a ventilação,
orientação e impermeabilização levam a exclusão desta tipologia na metodologia
proposta.
Nas casas dos conjuntos habitacionais a categorização da tipologia é eminentemente
ligada a planta original. Entretanto a porcentagem de modificações no projeto, mesmo
em bairros jovens, atinge o nível próximo a 90%. O resultado das modificações destaca
também o tipo-1 de planta.
Pode-se concluir que a planta do tipo-1 e sua variação no tipo-7 deve ser a tipologia
priorizada.
Resultados comparativos de fachadas existentes e desejadas mostram conservadorismo.
A fachada desejada recai predominantemente sobre a mesma escolha. As fachadas
existentes apresentam poucos elementos estéticos e são geralmente inacabadas.
Pode-se concluir que a proposta de fachadas não deve fugir o padrão desejado.
•
Influência do tamanho da família sobre o projeto.
A análise de áreas nos projetos demonstra uma clara divisão associada ao tamanho da
família e áreas de ambientes e da casa como um todo (veja Tabelas 1 e 2). Famílias com
4100%
de casas do tipo edícula apresentam alterações.
cinco membros ou menos formam um grupo de auto-construtures com caracteríticas
próprias. As casas deste grupo tem cômodos com áreas convergentes. Notou-se também
que quanto menor a família maior os cômodos, portanto os parâmetros tamanho de
família e áreas de ambientes possuem uma relação inversa. Famílias com mais de cinco
membros apresentam cômodos com médias de áreas menores, faltam ambientes (e.g.
copa, varanda, área de serviço) e optam por tipos de plantas não recomendadas (tipo-3 e
tipo-4) com maior freqüência que o primeiro grupo.
Pode-se concluir que a proposta de projeto para estes dois grupos de famílias deve ser
diferenciada.
num
moradores
na casa
principal
2
3
4
5
6
7
8
9
10
quart 1
menor
10,00
7,50
6,20
4,12
7,45
6,44
média
13,00
11,60
10,70
10,30
10,40
10,20
11,70
ban 1
maior
19,20
17,60
19,75
15,20
18,00
14,00
menor
2,60
1,87
1,62
1,78
1,20
3,20
16,00
média
4,90
4,20
4,90
3,60
3,60
5,20
4,27
ban 2
maior
7,77
10,75
7,70
7,15
7,50
6,40
menor
4,00
5,09
3,25
4,00
média
7,50
7,83
6,30
4,70
sala 1
maior
8,96
8,10
6,40
menor
5,85
10,20
10,20
6,00
8,55
10,00
7,00
média
17,70
14,40
14,30
13,00
11,80
12,90
16,05
maior
32,40
26,90
25,40
19,97
19,10
16,10
12,50
Tabela 1 - Áreas de quarto, banheiro e sala versus número de moradores.
num
moradores
na casa
principal
2
3
4
5
6
7
8
9
10
cozin
menor
7,00
8,55
6,45
6,00
7,60
7,20
média
14,00
12,50
11,50
13,20
12,70
12,80
14,00
copa
maior
20,00
18,70
15,75
23,50
17,00
16,00
20,35
menor
9,70
10,40
8,55
média
15,00
12,90
11,60
8,10
área de serviço
maior
24,50
18,25
16,00
menor
6,00
3,60
5,00
4,00
2,60
4,60
média
11,50
11,50
12,90
12,80
5,80
12,00
6,00
área total casa
maior
29,20
24,10
44,30
31,50
8,90
19,60
menor
48,71
21,82
30,68
50,00
29,55
56,80
média
96,40
82,70
86,20
87,20
76,40
76,50
69,54
maior
221,98
186,08
119,07
214,02
157,00
97,03
84,35
Tabela 2 - Áreas de cozinha, copa, área de serviço e totais versus número de moradores.
•
Convergência em áreas.
O item acima mostra que conclusões sobre padrões em termos de áreas so devem ser
levantadas para famílias menores. Um resultado claro é a metragem total da casa que
converge para 85 m2 (Figura 4). Este valor também é válido para conjuntos
habitacionais com alterações. Isto mostra que propostas de projeto com áreas menores
devem ser planejadas para ampliações futuras ordenadas.
Ambientes com sobreposicionamento de funções, como a cozinha (Figura 5), mostram
grande distribuição em tamanho, enquanto que sala, quarto e banheiro convergem para
áreas específicas respectivamente.
Um dado importante encontrado é a economia em área nos projetos através da
minimização da circulação (Figura 6) e do perímetro total otimizado.
Freqüência
Histograma
área construída da casa principal
30
20
Freqüência
10
0
22
50
79
108
136
165
193
metros quadrados
Figura 4 - Histograma de metragens totais.
Freqüência
Histograma
cozinha
15
10
5
0
6,00
8,49
10,99
13,48
15,97
18,46
20,96
Freqüência
metros quadrados
Freqüência
Figura 5 - Histograma de áreas de cozinha.
Histograma
área de circulação
30
20
Freqüência
10
0
1,09
3,27
5,46
7,64
9,82
12,00
14,19
metros quadrados
Figura 6 - Histograma de áreas de circulação.
•
Padronização de disposição de ambientes.
As consultas feitas sobre os desenhos com o aplicativo ADE-AutoCad, mostram a
existência de padrões na disposição de ambientes. Os exemplos da Figura 7 mostram
duas consultas que extraem entre casas do tipo-1 os polígonos que representam: (A) sala
e cozinha e (B) sala e quartos. Nesta figura o ambiente sala é identificado pelo polígono
com hachuras.
•
Falta de orientação solar.
Outro resultado obtidos destas consultas é a constatação de ausência de preocupação nos
projetos com a orientação solar5 (veja Figura 7).
5. Diretrizes de Metodologia de Projeto
Na busca pela qualidade e satisfação do usuário de edificações e na racionalidade do
trabalho do projetista a metodologia de projeto arquitetônico tem sido nos últimos 30
anos uma área de pesquisa importante. As primeiras gerações de métodos formais
tentam equacionar as funções do projeto em fórmulas matemáticas e otimizações de
espaços, materiais e detalhes (Broadbent, 1973). Na segunda geração com a
compreensão da complexidade da arte de projetar, foram criados os processos
participativos de planejamento (Rittel, 1972) e as regras de projeto do tipo Patterns que
visam um convívio físico-ambiental sadio e humano (Alexander, 1977). Com a
introdução das ferramentas CAD, surgiram novas metodologias de projeto arquitetônico
que procuram a automatização da otimização qualitativa em projeto.
As metodologias mais apropriadas para este projeto de pesquisa envolvem
principalmente o estudo da gramática de formas e da própria teoria da arquitetura.
Métodos que apoiam a alocação de espaços (Whitehead, 1964 e Cross, 1984) resultam
em sistemas de apoio para projetos específicos como hospitais e escolas (Andreoli e
Guelpa, 1993) e estimularam a criação de software de Facility Management com rotinas
de otimização de relacionamento de ambientes e perímetro em problemas de layout
complexo.
Estudos do relacionamento ambiental de componentes arquitetônicos demonstram
eficácia na aplicação de métodos matemáticos na abordagem da busca da forma ou
"Floor Plan Development" (Grant, 1992). Investigações gramaticais arquitetônicas
revelam a possibilidade do enquadramento computacional de preferências morfológicas
e protótipos. A inclusão de fatores quantitativos no processo de decisão em projeto
também é capaz de transformar novos projetos. Esta transformação ocorre aplicando-se
estudos de freqüência de regras estéticas ou preferenciais de morfologias (Liou, 1993).
As gramáticas de formas são estudadas em relação a estilos arquitetônicos específicos.
Estes estudos demonstram a possibilidade da geração de plantas arquitetônicas e da
articulação destas em três dimensões (Flemming, 1987).
5A
orientação solar correta é o fator mais importante relacionado ao conforto térmico em projetos
bioclimáticos com implantação em lote pequeno.
Figura 7 - Exemplos de disposição de ambientes e orientação solar:
(A) sala-cozinha e (B) sala-quartos.
Existe também um grande número de trabalhos, na metodologia de projeto, que visam o
enriquecimento do projeto e o aumento de índice de satisfação através da inclusão de
conhecimentos científicos no processo criativo. O bem estar dos usuários na área do
projeto habitacional está intimamente relacionado a fatores bioclimático em clima
tropical, presente na região de Campinas. Existe um grande número de ferramentas
informatizadas com intenções de apoiar e melhorar o projeto bioclimático. No entanto, a
maioria demonstra pouca aplicabilidade e eficácia no projeto de casas de populações de
baixa renda (Eberhardt, 1990).
A grande maioria das metodologias existentes não se aplica ao universo da autoconstrução. Os parâmetros encontrados como área, circulação e perímetro otimizados
bem como o padrão de planta limitam a possibilidade de alternativas de projeto. A
rigidez resultante destes parâmetros direcionam para alternativas específicas e pobres de
projeto, entretanto com espaço para melhorias. Estas melhorias devem corrigir os dados
negativos encontrados como: falta de preocupação com o conforto térmico, ampliações
desordenadas, áreas de cômodos inapropriadas e deveriam atender desejos específicos
externados.
A metodologia proposta deve ser dividida em três etapas: a primeira de categoriazação
da família e do lote, a segunda de escolha de projeto entre alternativas específicas e a
terceira de configuração final do projeto através da participação do usuário; descritas a
seguir:
•
Na etapa de categorização os seguintes dados devem ser levantados: tamanho da
família e do lote, metragem de frente do lote, orientação solar do lote, desejos de
incluir no projeto abrigo ou área para comércio e de construção em etapas, bem
como alguns desejos específicos, individuais de conforto acústico e térmico.
•
A partir destes dados e dos parâmetros limitantes e padrões encontrados é feita uma
escolha de projeto entre alternativas prefixadas. Isto deve ser feito dentro da própria
ferramenta de CAD programando-se um preprocessador formado por um conjunto
de regras (e.g. no caso do AutoCad uma rotina em AutoLisp ou C++).
•
A partir do projeto selecionado será feita uma aprimoração através da participação
do usuário específico. O ambiente de CAD propicia modificações no projeto
permitindo alterações ágeis e alternadas.
O resultado final desta metodologia é um projeto individual para cada auto-construtor
(que demonstrou nos dados levantados nesta pesquisa grande potencial de leitura de
plantas arquitetônicas), baseado principalmente em desenhos de planta baixa. O projeto
resultante além da sua individualidade inclui parâmetros técnicos adequados para o
contexto.
A partir do desenvolvimento desta metodologia é necessário criar meios para que
chegue até seu público alvo. Isto pode ser feito através de convênios que envolvem a
universidade e prefeituras ou universidade e comunidades específicas. A confirmação da
utilidade e o aprimoramento da metodologia proposta dependerá deste esforço extra.
6. Conclusão
A pesquisa de manifestações de auto-construções na região de Campinas mostram
parâmetros bastante padronizados em relação a elementos arquitetônicos mas também
mostram a necessidade de assistência técnica. Uma metodologia que usa como fonte os
dados levantados e o ambiente de CAD é um meio racional de suporte individualizado
para o auto-construtor. O ambiente de CAD também se mostrou indispensável na
avaliação de dados e confirmações de resultados numéricos. A aplicação da metodologia
junto a população alvo deve ser observada principalmente em relação as alterações das
casa auto-construídas. A grande manifestação de modificações de casas observada, fator
negativo economicamente e no atendimento a necessidades básicas do usuário, pretende
ser atenuada com a aplicação da metodologia proposta.
Agradecimentos
Agradecemos a contribuição dos alunos de iniciação científica Sandra H. Ichicava e
Ulisses T. Gonçalves, membros do grupo de pesquisa, que elaboraram os desenhos,
gráficos e tabelas.
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O Uso de CAD na Avaliação e no Suporte Técnico à Auto