17 1.10 Sistemas de coordenadas cartesianas Definição 1: Um sistema de coordenadas cartesianas no espaço é um r r r conjunto formado por um ponto O e uma base {v1 , v 2 , v 3 }. Indicamos um sistema de coordenadas cartesianas no espaço por {O, vr 1 , vr 2 , vr 3 } . O ponto O é chamado origem do sistema e os eixos que passam por O e r r r tem as direções de v 1 , v 2 e v 3 , respectivamente, são chamados de eixo das abscissas, eixo das ordenadas e eixo das cotas. r r r Consideremos um sistema de coordenadas cartesianas {O, v1 , v 2 , v 3 } e seja P um ponto arbitrário do espaço. Chamamos coordenadas do ponto → r r r P em relação ao sistema {O, v 1 , v 2 , v 3 } , as coordenadas do vetor OP , → ou seja, se OP = (a 1 , a 2 , a 3 ) , então P(a 1 , a 2 , a 3 ) . Os números a 1 , a 2 , a 3 são denominados abscissa, ordenada e cota do ponto P, respectivamente. Exemplo 1: Eixo das cotas Na figura ao lado, temos: → 1r r r 1. OP = v1 + 2v 2 + v 3 , 2 → 1 1 ou seja, OP = , 2 , 1 e daí, P , 2 , 1 . 2 2 → 1 1 2. OQ = , 2 , 0 , daí, Q , 2 , 0 . 2 2 → 2 2 3. OR = 0, 0, − , daí, R = 0, 0, − . 3 3 → 4. OO = (0,0,0 ), daí O(0,0,0) . P r v3 r v2 O R r v1 Eixo das abscissas Q Eixo das ordenadas 18 Propriedades: r r r r Fixado um sistema de coordenadas {O, v1 , v 2 , v 3 } e dados v = (a , b, c) , P( x 1 , y1 , z 1 ) e Q(x 2 , y 2 , z 2 ) , temos as seguintes propriedades: → 1. QP = ( x 1 − x 2 , y1 − y 2 , z1 − z 2 ) . r 2. P + v = A ( x 1 + a , y1 + b, z1 + c) . x + x 2 y1 + y 2 z 1 + z 2 3. O ponto médio de PQ é o ponto M 1 , , . 2 2 2 Prova: 1. O Para demonstrarmos esta → propriedade, escrevemos o vetor QP como combinação → Q → P linear dos vetores OQ e OP , ou seja, → → → QP = − OQ+ OP = (− x 2 ,− y 2 ,− z 2 ) + ( x 1 , y1 , z1 ) = ( x 1 − x 2 , y1 − y 2 , z1 − z 2 ) 2. Utilizando a definição de soma de um ponto → r com um vetor, temos que PA = v . Assim, o → → O → vetor OA = OP + PA = ( x 1 + a , y1 + b, z1 + c) . Logo, A( x 1 + a , y1 + b, z1 + c) . 3. Podemos demonstrar propriedade → → → → 1 → escrevendo OM = OQ + QM = OQ + QP . 2 → a P 3 A Q M P → Representando os vetores OQ e QP através de suas coordenadas, obtemos: → 1 OM = ( x 1 , y1 , z1 ) + ( x 1 − x 2 , y1 − y 2 , z1 − z 2 ) . 2 x + x 2 y1 + y 2 z 1 + z 2 Logo, M 1 , , . 2 2 2 r v O 19 Exemplo 2: Consideremos o paralelogramo ABCD, onde A(1,0,2) , B(1,−1,2) , C(0,2,−2) . Desejamos determinar as coordenadas dos vetores → → AB e BC , do vértice D e do ponto médio de AB. C Aplicando temos: as propriedades anteriores D → AB = (1 − 1, − 1 − 0, 2 − 2) = (0,−1,0) , B → BC = (−1,3,−4) , → M → D = A + AD = A + BC = (0,3,−2) e o ponto médio de AB é M(1, − 1 / 2, 2) . A 20 CAPÍTULO II – PRODUTOS 2.1 Produto escalar r r Definição 1: Dados dois vetores u e v não nulos, e escolhido um ponto O qualquer, r r podemos escrever: A = O + u e B = O + v . r r Chamamos ângulo de u e v a medida do B r v r u ∧ ângulo A O B determinado pelas semi-retas OA e OB. A O ∧ r r r r Indicamos A O B = (u, v ) , onde 0 ≤ (u, v ) ≤ π . r r r r Observemos que se (u, v) = 0 , os vetores u e v têm mesmo sentido e se r r (u, v) = π , estes vetores têm sentidos contrários. r r Definição 2: Sejam u e v vetores não nulos. O produto escalar de r r r r r r r r r r u por v , indicado por u ⋅ v , é o número real u ⋅ v = | u | | v | cos(u, v ) . r r Se um dos vetores for nulo temos u ⋅ v = 0 . Exemplo 1 Considerando o quadrado seguinte, cujo lado mede 2u, temos: → → → → → → → → → → → → D C A B 1) AB ⋅ BC = | AB | | BC | cos 90º = 0. 2) AB ⋅ AC = | AB | | AC | cos 45º = 2.2 2 3) AB ⋅ CD = | AB | | CD | cos 180º = −4. 2 = 4. 2 21 r r Definição 3: Sejam u um vetor não nulo e v um vetor qualquer. r u r v r r r r r O vetor v se exprime de maneira única na forma v = v1 + v 2 , onde v1 é r r r paralelo a u e v 2 é ortogonal a u . r v 1 , de Chamamos o vetor r r r projeção de v na direção de u . r v v2 r r r u Indicamos projur v = v1 . r v1 Interpretação geométrica do produto escalar r r Se v é um vetor qualquer e u um vetor unitário, então r r r r r r r r r v1 = proj ur v = ( v ⋅ u )u . De fato, como v1 // u , temos v1 = t u . Basta r r mostra que v ⋅ u = t . Para isso, consideremos os casos a seguir: r r r u (1) Em (1) o ângulo θ = (u, v) é agudo. Nesse B r r r caso, temos t > 0, e daí | v1 | = | t | | u | = t . v Por outro lado, como o triâmgulo ABC é θ retângulo em A, podemos escrever: C A r v1 r r r r r r t = | v1 | = | v | cosθ =| v | | u | cos θ = v ⋅ u . r r Em (2) o ângulo θ = (u, v) é obtuso. Nesse caso, temos t < 0, e daí r r | v1 | = | t | | u | = − t . Além disso, o ângulo r r (u, v) = π − θ . Considerando então o triângulo retângulo EFG, temos: (2) r u r v θr E v1 r r r r r r r r t = − | v1 | = − | v | cosθ = − | v | | u | cos θ =| v || u | cos( π − θ) = v ⋅ u . G F 22 r r r r r r r r Se 0 ≠| u |, temos projur v = proj r o v = ( v ⋅ u o )u o . Chamamos v ⋅ u o , a u r r medida algébrica da projeção de v na direção de u e indicamos r med alg projur v . Exemplo 2: r r r r r Dados u ≠ o , | v | = 6 e (u , v) = 60º , temos que : 1 r r r r r med alg projur v = v ⋅ u o =| v || u o | cos 60º = 6.1. = 3 . 2 r r Daí, projur v = 3u o . Exemplo 3: r r r r r Dados a ≠ o , | b | = 8 e ( a , b ) =120 ° , temos que : r r r r r 1 med alg projar b = b ⋅ a ° =| b | | a ° | cos 120° = 8 ⋅ 1 ⋅ − = −4 2 r r Daí, projar b = −4a ° Propriedades do produto escalar rr rr 1. v.u = u.v . rr 2. u.v = 0 ⇔ rr r 3. u.u = | u |2. rr 4. t ( v.u ) = (t r r r 5. u .( v + w ) = r r u ⊥ v. r r r r v ). u = v (t u ). rr r r u.v + u.w . r r r Nas propriedades acima, u , v e w são vetores quaisquer, e t é um número real. As quatro primeiras propriedades decorrem diretamente da definição do produto escalar. Faremos a seguir a prova da propriedade 5. 23 A Se um dos vetores for nulo, a r r r v verificação é imediata. v+w Consideremos, na figura ao O r r r lado, os vetores u , v e w não nulos e os pontos O, A, B e C tais que: r r r A = O + v, B = A + w e C = O + u. r w B r u C Inicialmente observamos que: r r r r med alg proj ur ( v + w ) = med alg proj ur v + med alg proj ur w . r r r rr r r Ou seja, ( v + w ). u° = v.u° + w.u° . r r r r r r r r r r Daí, ( v + w ).(| u | u° ) = v .(| u | u° ) + w .(| u | u° ). r r r rr r r Então, ( v + w ). u = v.u + w.u . r r r rr r r Pela propriedade 1, temos: u .( v + w ) = u.v + u.w . Expressão cartesiana do produto escalar r r r r Fixada uma base ortonormal { i , j, k } e dados os vetores u = ( x 1 , y1 , z1 ) e v v = ( x 2 , y 2 , z 2 ) , temos: r r r r r r r r u ⋅ v = ( x 1 i + y1 j + z 1 k ) . ( x 2 i + y 2 j + z 2 k ) = r r r r r r r r r r r r = ( x 1 x 2 ) i ⋅ i + ( x 1 y 2 ) i ⋅ j + ( x 1 z 2 ) i ⋅ k + ( y1 x 2 ) j ⋅ i + ( y1 y 2 ) j ⋅ j + ( y1 z 2 ) j ⋅ k + r r r r r r + ( z 1 x 2 ) k ⋅ i + ( z 1 y 2 ) k ⋅ j + ( z1 z 2 ) k ⋅ k r r r Como { i , j, k } é uma base ortonormal, seus vetores satisfazem às relações: r r r r r r i ⋅ j = j⋅k = k⋅ i = 0 e r r r r r r i ⋅ i = j ⋅ j = k ⋅ k = 1. Assim, a expressão acima se reduz a: r r u ⋅ v = x1 x 2 + y 1 y 2 + z 1 z 2 24 Observamos então que: r r r r 1) | u | 2 = u ⋅ u = x 12 + y12 + z12 . Daí, | u |= x 1 2 + y 1 2 + z 1 2 r r r r 2) u ⊥ v ⇔ u ⋅ v = x 1 x 2 + y1 y 2 + z1z 2 = 0 , ou seja, r r u ⊥ v ⇔ x1 x 2 + y 1 y 2 + z 1 z 2 = 0 Daqui em diante, o sistema considerado será o ortonormal, exceto quando se explicitar o contrário. Exemplo 4: r r Dados os vetores u = (1,2,2) e v = (2,0,2) , temos: r r 1) u ⋅ v = 2 + 0 + 4 = 6. r 2) | u |= 1 + 4 + 4 = 9 = 3. r u 1 r 1 2 2 3) u° = r = (1,2,2) = , , . |u| 3 3 3 3 r r u⋅v 6 2 r r r r = 4) cos(u, v) = r r = , logo, (u, v) = 45°. | u || v | 3.2 2 2 r r r r r 5) u ⊥ w , sendo w = (0,2,−2), pois u ⋅ w = 0. r r r r 1 2 2 1 2 2 6) projur v = ( v ⋅ u°)u° = (2,02) ⋅ , , , , = 3 3 3 3 3 3 1 2 2 2 4 4 = 2 , , = , , 3 3 3 3 3 3 r 7) med alg proj ur v = 2 . 25 Cossenos diretores de um vetor r r r Fixada uma base ortonormal { i , j, k }, chamamos cossenos diretores de r r r um vetor v ≠ o , os cossenos dos ângulos que v forma com os vetores desta base. r r r r r r r Considerando v = ( x, y, z), α = ( v, i ), β = ( v, j ), e γ = ( v, k ), temos: r r r r r r v⋅ j y v⋅ i x v⋅k z cos α = r r = r , cos β = r r = r e cos γ = r r = r . | v || i | | v | | v || j | | v | | v || k | | v | r v r r Como v° = r , segue daí que , v° = (cos α , cos β, cos γ ) . |v| Daí, cos 2 α + cos 2 β + cos 2 γ = 1 . r Chamamos α , β e γ ângulo diretores de v . Exemplo 5: 2 r r r r r r Dados cos(v, i ) = cos α = , cos(v, j) = cos β = 0 , ( v, k) 2 r | v | = 5 , temos: 1) cos 2 γ = 1 − cos 2 α − cos 2 β = 1 − obtuso 1 1 2 − 0 = . Logo, cos γ = − . 2 2 2 2 2 5 2 5 2 r r r = . − 2) v =| v | v° = 5 , 0 ,− , 0 , 2 2 2 2 e