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Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775
UTILIZAÇÃO DO LASER DE BAIXA POTENCIA NA CICATRIZAÇÃO DE
FERIDAS
USE OF LOW-POWER LASER THERAPY IN WOUNDS HEALING
FELICE, Thais Duarte1; PINHEIRO, Alessandra Rigo 2; MENCHIK, Elis Daiane Sartori 3;
SILVA, Ana Carolina Dantas3; SOUZA, Leidiany Spessotto De 3; CAIRES, Cynthia
Suzyellen Albuquerque 3; ABEL, Aline 3; BARTMEYER, Carolina Grattão 3; OLIVEIRA,
Juliana Gonçalves De 3; ASSIS, Talita Brandão De 3; SILVA, Leide Aparecida Da 3;
LOPES, Thyago Ferreira 3; FELIPPE, Lilian Assunção 3; PINHEIRO, Alessandra Rigo 3
Resumo
O laser baixa potência vem sendo utilizado no tratamento de feridas por acelerar o processo cicatricial, mediante
o aumento do metabolismo celular. O objetivo deste estudo foi analisar o efeito do laser de baixa potência na
cicatrização de úlceras venosas e de pressão. Participaram da pesquisa três sujeitos, sendo dois portadores da
seqüela de trauma raquimedular e um com insuficiência vascular periférica, totalizando 8 feridas. Todos foram
submetidos a sessões de laserterapia, em dias intercalados, após a assepsia da ferida. Utilizou-se caneta 658nm
(AsGaAlInP), dose 4 Joules/cm² na forma pontual e varredura. Após o tratamento a maioria das feridas
apresentou melhora significativa da cicatrização, sendo que apenas uma apresentou piora. Com isso constatou-se
que a laserterapia de baixa potência favoreceu o processo cicatricial das úlceras de pressão e venosa, entretanto
cuidados interdisciplinares devem ser associados ao tratamento.
Palavras-chave: Modalidades de Fisioterapia; Terapia a Laser de Baixa Intensidade; Cicatrização de Feridas;
Úlcera de Pressão; Úlcera Varicosa.
Abstract
The low-power laser has been used in the treatment of wounds accelerating the healing process, increasing the
cellular metabolism. The objective of this study was to analyze the effect of low-power laser on the healing of
venous and pressure ulcers. Three subjects participated of the study, two tetraplegics pacients and one with
peripheral vascular insufficiency, totalizing 8 ulcers. All were submitted to sessions of laser in intercalated days
after the asepsis of the wound. There was used a 658nm pen (AsGaAlInP), 4 Joules/cm ² dosis in the pointing
and wiping form. After treatment most of the wounds showed significant improvement in healing, and only one
showed worsening. Therefore it was found that the low-power laser helped the healing process of pressure and
venous ulcers, however care must be involved in the interdisciplinary treatment.
Key-words: Physical Therapy Modalities; Low-Level Laser Therapy; Wound Healing; Pressure Ulcer; Varicose
Ulcer.
1
Fisioterapeuta; Especialista em Fisioterapia Neurofuncional; Docente do Curso de Fisioterapia do Centro
Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, Dourados - MS. E-mail: [email protected]
2Fisioterapeuta; Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN,
Dourados - MS.
3Fisioterapeutas Graduados pela UNIGRAN – Dourados - MS
FELICE, T.D. et al.
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Introdução
A utilização do laser de baixa
freqüência como recurso terapêutico pode
acelerar a cicatrização da ferida, e
minimizar os prejuízos secundários a sua
presença (DEMIR; BALAY; KIRNAP,
2004). As úlceras causam significante
impacto social e econômico devido à
natureza recorrente e ao longo tempo
decorrido entre sua abertura e cicatrização
(ABBADE; LASTORIA, 2006).
A radiação laser apresenta efeitos
primários (bioquímico, bioelétrico e
bioenergético), que atuam a nível celular
promovendo aumento do metabolismo,
podendo aumentar a proliferação, maturação
e locomoção de fibroblastos e linfócitos,
intensificar a reabsorção de fibrina,
aumentar a quantidade de tecido de
granulação e diminuir a liberação de
mediadores inflamatórios, acelerando assim
o
processo
de
cicatrização
(BOURGUIGNON-FILHO et al., 2005;
SILVA; HAIDAR; MUSSKOPF, 1998).
A interrupção na continuidade da pele
representa uma ferida, que constitui um
problema bastante eclético e difundido, que
afeta pessoas de todas as idades, classes
sociais e raças (MARCOM; ANDRE, 2005;
CULLEY, 1998).
Dependendo do nível de profundidade
da lesão tecidual, a úlcera pode trazer sérias
complicações
como
a
osteomielite,
septicemia, ou até mesmo levar o paciente a
óbito. Além de perdas financeiras
ocasionadas ao paciente e familiares, o
problema
traz
também,
transtornos
psicológicos e impedem ou dificultam a
participação do indivíduo em programas de
reabilitação. Assim a prevenção e
tratamento no estágio inicial devem ser a
meta da assistência que vise à qualidade
(NOGUEIRA; CALIRI; SANTOS, 2002).
A patogênese da úlcera venosa ainda é
obscura, porém existe um consenso de que a
hipertensão venosa é a condição mais
comum para o aparecimento dessa lesão. A
formação desta pode estar associada ao
acúmulo de líquido e o depósito de fibrina
no interstício interferindo negativamente na
nutrição dos tecidos superficiais. A
deficiência no suprimento de oxigênio e
nutrientes pode acarretar, nas regiões
acometidas dos membros inferiores, em
ulcerações e necroses. Outro mecanismo que
elucida a úlcera venosa refere-se à reação
entre os leucócitos e moléculas de adesão do
endotélio havendo, conseqüentemente,
liberação de citocina e radicais livres. Esse
processo desencadeia inflamação que pode
causar danos às válvulas venosas e ao tecido
adjacente, aumentando a susceptibilidade a
ulcerações (CARMO et al., 2007).
As úlceras de pressão têm como
principal causa, a compressão do tecido
mole entre uma proeminência óssea e uma
superfície externa por um longo período,
que ocorre frequentemente em indivíduos
com
a
mobilidade
reduzida
(CAMPEDELLI; GAIDZINSKI, 1987 apud
SIQUEIRA; BERTOLINI, 2004; HESS;
SANTOS; SOUZA, 2002).
O processo de reparo tecidual envolve
várias fases e sofre influência de diversos
fatores, que podem o retardar ou acelerar.
Dentre as fases do processo cicatricial estão:
a fase de reação imediata, que compreende a
resposta inflamatória, acompanhada de
sinais como calor, rubor, tumor e perda da
função, durante a qual acontece uma reação
vascular de vasoconstrição na tentativa de
manutenção da homeostase; a fase de
proliferação, que compreende a granulação e
reepitelização do tecido; e a fase de
maturação e remodelagem, que é marcada
pela reorganização das fibras de colágeno e
fibrina, e aumento da força de tração dos
tecidos formados na fase anterior (IRON,
2005; SIQUEIRA; BERTOLINI, 2004;
BRASIL, 2002).
Quanto aos fatores que podem
influenciar negativamente o reparo das
feridas encontram-se a pressão contínua ou
excessiva no local, que provoca a
diminuição do fluxo sanguíneo aos tecidos
vizinhos; o ambiente seco, que leva a
desidratação e morte celular; a incontinência
urinária e fecal que pode alterar a
integridade cutânea e levar às infecções; os
FELICE, T.D. et al.
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traumatismos locais que levam a perda do
tecido de granulação já adquirido; o edema e
diabetes mellito que interferem na irrigação
sanguínea local diminuindo o transporte de
oxigênio e nutrição celular; e a insuficiência
vascular que pode afetar os membros
inferiores reduzindo a oxigenação tecidual
(HESS; SANTOS; SOUZA, 2002).
O processo infeccioso constitui outro
fator de influência negativa a cicatrização,
uma vez que provoca a lise excessiva de
colágeno ao estimular a liberação de
lisozimas
pelos
leucócitos.
Os
microorganismos ainda prolongam a fase
inflamatória, por ativarem a via alternativa
do complemento, liberando toxinas e
enzimas danosas às células, como os
neutrófilos e fibroblastos, provocando
hipóxia tecidual (CARVALHO; GOMES,
2005).
O laser é um instrumento foto
estimulante, ou seja, de princípio
determinado por produção de energia, e que
segundo Lima et al (2004) emite uma
radiação eletromagnética não-ionizante que
se difere das demais fontes luminosas.
Para Bagnato (2005) “o princípio
básico de funcionamento do laser está
baseado nas leis fundamentais da interação
da radiação luminosa com a matéria”.
Assim, o fator que determina em que tipo de
matéria e com qual objetivo o laser é
utilizado, é a sua potência.
De acordo com Veçoso (1993) apud
Siqueira e Bertolini (2004) os laseres podem
ser classificados de três formas de acordo
com sua potência: Power laser, Mid laser e
Soft laser. O Power laser emite radiações de
“alta potência”, sendo assim utilizados em
procedimentos industriais e cirúrgicos, por
seu potencial destrutivo. O Mid laser emite
radiações
de
“média
potencia”,
apresentando
efeito
não-destrutivo
semelhante ao do Soft laser, com a diferença
que o último emite radiações de “baixa
potência”.
A partir dessa classificação utilizamse os laseres dos tipos Mid e Soft para fins
terapêuticos, devido a sua característica nãodestrutiva. Estes laseres (terapêuticos)
podem ainda apresentar características
diferentes de acordo com seu comprimento
de onda (SIQUEIRA; BERTOLINI, 2004).
Com o objetivo de acelerar esse
processo cicatricial, a fisioterapia tem em
mãos o laser terapêutico (de baixa
intensidade), que atualmente vem sendo
utilizado em associação ao tratamento
convencional de feridas, que segundo
Siqueira e Bertolini (2004) consiste em
adequada assepsia local, curativos, uso de
colchões e almofadas especiais, associadas a
abordagem sistêmica da patologia e
nutrição, e principalmente a remoção de sua
causa.
Os primeiros tratamentos de úlceras
crônicas, com laser de baixa intensidade em
humanos foram realizados durante o final da
década de 60 e início dos anos 70, onde
foram utilizadas fontes HeNe e doses de até
4 J/cm², obtendo-se êxito nesses resultados
em termos de velocidades mais rápidas de
cicatrização e de redução da dor. Nas
décadas seguintes, a laserterapia foi avaliada
no tratamento de vários tipos de feridas e
lesões ulceradas, com resultados positivos,
principalmente nos casos mais crônicos e
intratáveis (BAXTER, 1998).
Para Lima, Garcia e Okamoto (2004)
o laser de baixa intensidade estimula as
membranas celulares e mitocôndrias,
induzindo uma biomodulação celular, sendo
indicado desta forma em quadros
patológicos para acelerar o processo de
reparo tecidual, e diminuir quadros
edematosos e álgicos, agudos ou crônicos.
Para Souza et al. (1999) apud Correa e
Bertolini (2003), o laser tem efeitos
primários e secundários quando absorvido
pelos tecidos. Os primários são bioquímico,
que consiste na liberação de substâncias préformadas
(histamina,
serotonina,
bradicinina) que estimulam a produção de
ATP
e
inibem
a
produção
de
prostaglandinas;
bioelétrico,
que
compreende a melhora do funcionamento da
Bomba Sódio e Potássio (responsável pela
manutenção do potencial de membrana
celular) pelo aumento da produção de ATP;
FELICE, T.D. et al.
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e bioenergético, que é a normalização
energética do bioplasma.
Os efeitos secundários decorrentes
consistem primeiramente na circulação local
através do efeito bioquímico de liberação de
histamina, e aumento do trofismo celular,
devido ao efeito bioelétrico de aumento da
produção de ATP, velocidade mitótica e de
reparo tecidual.
Para Tararunas et al. (1998) apud
Correa e Bertolini (2003) o laser apresenta,
a partir dos efeitos primários e secundários,
efeitos terapêuticos como analgésico,
antiinflamatório,
antiedematoso
e
cicatrizante.
Frente ao exposto, o presente estudo
teve como objetivo analisar o efeito do laser
de baixa potência na cicatrização de úlceras
venosas e de pressão.
Materiais e Métodos
Tipo de estudo e local da pesquisa
Foi realizado um estudo do tipo
descritivo (Estudo de caso). A pesquisa foi
realizada na clínica-escola de fisioterapia da
UNIGRAN na cidade de Dourados-MS no
período de Outubro a Novembro de 2007. A
presente pesquisa só foi iniciada após
aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa
com Seres Humanos - UNIGRAN, aceitação
e assinatura do termo de consentimento livre
e esclarecido pelos sujeitos da pesquisa.
Características da amostra
Os indivíduos foram selecionados por
conveniência, ou seja, aqueles indivíduos
que apresentavam lesão cutânea (úlcera),
que
estavam
em
atendimento
fisioterapêutico ou que buscaram tratamento
na Clínica Escola de Fisioterapia da
UNIGRAN. Para participarem da pesquisa
os sujeitos deveriam atender a alguns
critérios como, apresentar úlceras arteriais,
venosas, diabéticas ou de pressão,
independente do sexo, cor, raça ou idade.
Sujeitos que apresentassem carcinomas,
hemorragia, tecido desvitalizado, útero
gravídico, inflamação, tecidos necróticos,
áreas fotossensíveis e desnutrição foram
excluídos da pesquisa, por ser contraindicado a utilização do laser sob tais
circunstâncias. Os indivíduos que tiveram
três faltas consecutivas também foram
excluídos.
Foram selecionados três sujeitos
descritos abaixo:
Caso A: paciente R. L. M., 25 anos,
sexo masculino, apresenta seqüela de trauma
raquimedular (tetraplegia) e infecção
urinária, possui três úlceras de pressão,
localizadas na região de trocânter direito,
trocânter esquerdo e sacro, sendo que as
duas primeiras há 3 anos, e a terceira há 3,5
anos.
Caso B: paciente E. F. S., 24 anos,
sexo feminino, apresenta seqüela de trauma
raquimedular (tetraplegia), possui duas
úlceras de pressão, localizadas na região de
espinha ilíaca ântero-superior direita e sacro,
sendo que a primeira há 3 anos e 3 meses, e
a segunda há 5 meses.
Caso C: paciente R. L. S., 58 anos,
sexo masculino, hipertenso, apresenta
seqüela de Acidente Vascular Encefálico
(hemiparesia à direita) e insuficiência
vascular periférica, apresentando três
úlceras venosas, sendo uma localizada na
região de tornozelo esquerdo há 9 anos, e
duas em tornozelo direito, região de maléolo
medial e outra em maléolo lateral há 2 anos.
Inicialmente foi realizada uma
avaliação que consiste de itens como sexo,
idade, escolaridade, tempo de lesão cutânea,
uso de medicamentos e doenças associadas.
Também foi feita uma inspeção da ferida e,
a partir daí foram selecionados a participar
da amostra.
Delineamento experimental
Estabelecidos
os
indivíduos
a
receberem a terapêutica, o mesmo foi
submetido à limpeza da ferida, com soro
fisiológico e gaze estéril. Em seguida o
paciente teve sua ferida coberta por filme de
PVC multiuso e, com o papel vegetal, foi
feito o decalque da ferida. Retirado filme de
FELICE, T.D. et al.
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PVC multiuso da ferida, fora avaliado o
grau de profundidade em relação à extensão
da parede tissular da úlcera. De acordo com
Potter e Perry (2004) e Brasil (2002) pode
ser estabelecida em graus I, II, III e IV.
O decalque foi aplicado ao papel
milimetrado, e a partir daí fora obtido as
medidas de comprimento e largura, e assim
a área de abrangência. A mensuração da
área fora estabelecida a partir a área do
retângulo, ou seja, mensura-se o maior
comprimento e multiplica-se pela maior
largura, uma vez que normalmente a ferida
apresenta borda e dimensões irregulares.
Os sujeitos da amostra foram
submetidos, então, à aplicação do laser de
baixa intensidade, sendo o aparelho gerador
de raios Endofhoton da marca KLD
Biosistemas; caneta 658nm - Gálio
Alumínio Índio Fósforo (GaAlInP), radiação
laser vermelho continua. A dose escolhida
de 4 joules / cm², pois de acordo com
esquema orientativo descrito por Colls
(1984) apud Tavares e Mazzer (2002), a
dose de 3 a 6 J/cm² possui efeito
cicatrizante.
Após modulada a dose no aparelho
dava-se início a aplicação da radiação laser
na ferida, realizada de forma pontual, com
espaço de 1 a 2 cm² de distância entre um
ponto de aplicação e outro, e varredura, com
o deslocamento da caneta sobre a ferida de
uma borda a outra, em toda sua extensão.
Durante a aplicação, de forma pontual
e varredura, a caneta permaneceu num
ângulo de 90° com o tecido (a fim de
diminuir
o
índice
de
dispersão
eletromagnética), e a uma distância de
aproximadamente 5 a 10 mm deste.
A ferida foi reavaliada a cada 5
(cinco) sessões seguindo os mesmos
procedimentos da avaliação inicial.
Resultados
A amostra constituiu-se de três casos
clínicos, nos quais se avaliou o estágio
inicial e final de cada úlcera apresentada
pelos sujeitos.
O caso A apresentava úlceras na
região trocantérica direita, esquerda e sacral.
Foram realizadas cinco sessões de
laserterapia nas úlceras trocantéricas direita
e esquerda, e quatro sessões na úlcera sacral.
Os valores encontrados da avaliação inicial,
antes da terapêutica empregada, e ao final
das cinco sessões estão dispostos na tabela
1.
Tabela 1 – Dados das avaliações nas úlceras do Caso A
Úlcera Trocantérica
Úlcera Trocantérica
Direita (mm)
Esquerda (mm)
Avaliação Avaliação Avaliação Avaliação
Inicial
Final
Inicial
Final
Maior
45
37
73
57
Comprimento
Maior
43
56
53
64
Largura
1935
2072
3869
3648
Área (mm²)
Grau de
3
3
3
3
profundidade
A área inicial da úlcera trocantérica
direita foi de 1935mm² e final 2072mm². Na
trocantérica esquerda, de 3869mm² inicial, e
final 3648mm². Na sacral a área inicial foi
980mm², e final 572mm². Foi observada
evolução de 0,57% da úlcera trocantérica
Úlcera Sacral (mm)
Avaliação
Inicial
Avaliação
Final
28
26
35
22
980
572
3
3
esquerda e 41,63% em relação à área da
úlcera sacral. Já a ferida trocantérica direita
apresentou piora de 7,08% entre as
avaliações.
No caso B, foram avaliadas úlceras da
espinha ilíaca ântero-superior direita
FELICE, T.D. et al.
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(EIASD) e sacral. Foram realizadas 10
sessões de laserterapia nas duas úlceras. Os
valores encontrados da avaliação inicial, na
5ª sessão e ao final do tratamento, estão
dispostos na tabela 2.
Tabela 2 – Dados das avaliações nas úlceras do Caso B
Úlcera da espinha ilíaca ânteroÚlcera Sacral (mm)
superior direita (mm)
Avaliação
Avaliação
Avaliação
Avaliação Avaliação
Avaliação
na 5ª
na 5ª
Inicial
Final
Inicial
Final
sessão
sessão
Maior
15
10
15
25
21
16
Comprimento
Maior
17
10
12
20
18
14
Largura
225
100
180
500
378
224
Área (mm²)
Grau de
2
2
2
3
3
3
profundidade
A área inicial na úlcera da espinha
ilíaca ântero-superior direita foi de 225mm²,
na 5ª sessão de 100mm², e final de 180mm².
Já na úlcera sacral, inicial de foi de 500mm²,
na 5ª sessão de 378mm², e final de 224mm².
A evolução obtida entre a avaliação inicial e
5ª sessão foi de 60,78% da úlcera da EIASD
e 24,4% em relação à área da úlcera sacral.
Entre a 5ª sessão e a avaliação final foi de
40,74% em relação à área da úlcera sacral e
a úlcera da espinha ilíaca ântero-superior
direita apresentou piora de 80% em sua área
total. Considerado somente a avaliação
inicial e final, a evolução obtida fora de
29,41% da EIASD e 55,2% da sacral.
Referente ao caso C, foram realizadas
cinco sessões de laserterapia nas três úlceras
venosas, localizadas uma na região de
tornozelo esquerdo e duas em tornozelo
direito, sendo estas dispostas em região
maleolar medial e lateral. Os valores
encontrados da avaliação inicial, antes da
terapêutica empregada, e ao final estão
dispostos na tabela 3.
Tabela 3 – Dados das avaliações nas úlceras do Caso C
Úlcera tornozelo direito
- região de maléolo
lateral (mm)
Avaliação Avaliação Avaliação Avaliação Avaliação
Avaliação
Inicial
Final
Inicial
Final
Inicial
Final
Úlcera de Tornozelo
Esquerdo (mm)
Maior
Comprimento
Maior
Largura
Área (mm²)
Grau de
profundidade
Úlcera Trocantérica
Esquerda (mm)
52
35
31
0
45
30
27
39
21
24
0
58
25
14
2028
735
744
0
2610
750
378
2
2
2
0
2
2
2
A área inicial na úlcera de tornozelo
esquerdo foi de 2028mm², e final de
735mm²; em maléolo medial de tornozelo
direito inicial de 744mm², e final de 0mm²;
FELICE, T.D. et al.
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e maléolo lateral de tornozelo direito inicial
de 2610mm², e final de 1128mm². Na úlcera
de tornozelo direito – região de maléolo
lateral houve a cicatrização da região central
da ferida de forma que fora subdividida em
duas feridas menores. A avaliação destas
fora individuais, porém seus dados foram
somados para comparar a área inicial.
A evolução obtida foi de 63,75% da
úlcera de tornozelo esquerdo, 100% do
tornozelo direito (maléolo medial) e
56,78%, do tornozelo direito (maléolo
lateral).
Discussão
Diagnóstico e doenças associadas
Dos três indivíduos que compõe a
amostra, dois (caso A e B) sofreram trauma
raquimedular, com lesão completa e a
seqüela de tetraplegia. Segundo Niazi et al.
(1997) apud Nogueira, Caliri e Santos
(2002)
85%
dos
indivíduos
com
traumatismo
raquimedular
apresentam
úlceras de pressão em algum momento de
suas vidas, sendo que de 5 a 91%
apresentam recidivas.
O terceiro sujeito (caso C) apresenta
insuficiência
vascular
periférica
e
hipertensão arterial, fatores que, segundo a
literatura, comprometem a cicatrização.
Confirmando os achados, Nogueira,
Caliri e Haas (2006) e Bispo et al. (2002),
afirmam que a diminuição da mobilidade e
da percepção sensorial aumenta o risco para
o desenvolvimento da úlcera de pressão,
bem como doenças caracterizadas pela
dificuldade de cicatrização, fazem parte
deste grupo pacientes portadores da seqüela
de
trauma
raquimedular,
alterações
vasculares, entre outros.
A infecção urinária se fez presente em
dois dos três sujeitos da amostra. Greve,
Casalis
e
Barros
Filho
(2001)
complementam que infecções respiratórias e
urinárias são importantes fatores no
desencadeamento de úlceras, uma vez que
há uma diminuição na resistência global
deste indivíduo.
Ambiente de aquisição da ferida
Em relação ao ambiente de aquisição
das feridas, das oito apresentadas pelos três
sujeitos da amostra, quatro (50%) foram
adquiridas ainda no período hospitalar,
possivelmente pela imobilidade e umidade.
As outras quatro fora adquiridas no
domicílio, por pressão ou fricção.
Bispo et al. (2002) evidenciaram que
doze pacientes (60%) adquiriram as úlceras
de pressão durante o período de
hospitalização, seis (30%) em casa e dois
(10%) no asilo. Os mesmos autores
sugeriram razões para explicar o número
elevado de pacientes que adquiriram as
úlceras de pressão no hospital sendo maior o
tempo restrito ao leito, debilidade pelo
estado agudo das doenças e a falta de
programas de prevenção.
A carência de orientações ou medidas
preventivas pode ter contribuído para o
aparecimento das feridas. Em estudo
realizado pelo o autor supra citado foi
encontrado número expressivo de indivíduos
que adquiriu úlceras no domicílio, o que
ressalta a idéia do desconhecimento da
família e/ou cuidadores em relação aos
cuidados de saúde na prevenção de úlceras
de pressão.
Idade e diagnóstico
Na presente pesquisa fora observado
que um dos três sujeitos da amostra
apresenta 58 anos. Bispo et al. (2002)
afirma que com o avanço da idade, a pele, o
subcutâneo e o sistema muscular também
sofrem
modificações,
ficando
mais
susceptíveis a injúria mecânica.
Em pesquisa realizada por Rojas e
Phillips (1999) com indivíduos idosos com
úlceras crônicas em membros inferiores
evidenciou-se baixos níveis de vitamina A e
E, Carotenos e Zinco, mostrando que
deficiências nutricionais ou consumo
aumentado destes elementos podem
influenciar a cicatrização.
Os outros dois sujeitos apresentam 24
e 25 anos. Em estudo realizado, Carcinoni,
FELICE, T.D. et al.
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Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775
Caliri e Nascimento (2005) apud Nogueira,
Caliri e Haas (2006), observaram que dos 54
pacientes
hospitalizados
com
lesão
traumática da medula espinhal, 75% tinham
idade inferior a 38 anos; concordando com
estudo de Nogueira, Caliri e Haas (2006) no
qual se observou que 65,7% dos 47
pacientes tinham menos de 40 anos. Tal
ocorrência pode ser justificada pelo fato da
lesão medular acometer com maior
freqüência indivíduos adultos jovens
envolvidos em acidentes automobilísticos,
quedas, mergulhos em água rasa e a
violência com ferimentos por arma de fogo
(UMPHRED, 2004).
Número de feridas
Na presente pesquisa fora observado
que um indivíduo apresenta duas feridas e
os outros dois, três feridas cada, perfazendo
uma média de 2,6 úlceras por paciente,
concordando com Nogueira, Caliri e Haas
(2006) que observaram que 42,5% da sua
amostra tiveram úlcera de pressão, sendo 2,3
úlceras por paciente. Em estudo realizado
por Bispo et al. (2002) fora observado que,
dos residentes de uma instituição de longa
permanência, metade apresentou mais de
uma úlcera, sendo que 30% tinha duas
úlceras, 5% três e 10% com quatro.
Úlceras e região do corpo afetada
Quanto à região anatômica, a presente
pesquisa observou que das 08 úlceras
tratadas, 03 (37,5%) situavam-se na região
distal de tornozelo, 02 (25%) na região
sacral, 02 (25%) na região trocantérica e 01
(12,5%) na região de espinha ilíaca ânterosuperior direita.
Discordando dos achados, Nogueira,
Caliri e Haas (2006) encontraram que o
local de maior freqüência foi a região sacral,
sendo este o local de acometimento em 37%
dos casos. Bispo et al. (2002) em sua
pesquisa encontrou número semelhante ao
autor citado anteriormente, sendo a região
sacral acometida em 31,7%, seguido por
trocânter maior, em 14,6%. Nos dois
estudos
os
autores
justificam
o
desenvolvimento de feridas com maior
freqüência
em região
sacral
pela
manutenção em decúbito dorsal por longo
período de tempo, que pode ainda ser
agravada pela elevação da cabeceira acima
de 30°, permanência prolongada numa só
posição, troca inadequada de decúbitos e
uso de colchões não adequados ou rígidos.
Apesar dos dados acima citados, tais
autores pesquisaram somente indivíduos
vítimas de trauma raquimedular na fase
hospitalar, caracterizando assim somente
úlceras de pressão. Em nossa pesquisa,
considerando somente úlceras de pressão
temos a ocorrência de 40% (02 feridas)
localizadas na região sacral e mesmo
número localizada na região de trocânter
maior.
Outras regiões também apresentam
úlcera de pressão com freqüência, como
trocânteres e maléolos possivelmente devido
à permanência prolongada em decúbito
lateral (NOGUEIRA; CALIRI; HAAS,
2006).
Localização e profundidade das úlceras
Em relação a localização e
profundidade das úlceras, encontramos neste
estudo que as de pressão apresentaram em
sua maioria (80%) maior profundidade
quando comparadas às úlceras venosas. As
úlceras de pressão apresentaram grau III em
80% das feridas e grau II, em 20%. Nas
úlceras venosas fora encontrado somente
grau II de profundidade. Sendo assim, nas
úlceras de pressão, a ocorrência do grau III
foi semelhante nas regiões sacral e
trocantéricas (40%).
Em estudo realizado por Nogueira,
Caliri e Haas (2006) as úlceras de pressão
mais profundas foram identificadas na
região sacral (36,9%). Os autores ainda
relatam que a classificação da profundidade
não constava em 52,2% dos prontuários
analisados. Dos que continham tal
informação, 6,5% estavam em grau III,
10,9% em grau I e 13% em grau IV.
FELICE, T.D. et al.
50
Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775
De um modo geral podemos observar
que de forma igualitária metade da amostra
apresentava graus II e III.
Uso tópico de medicamentos
Na presente pesquisa, dos três
pacientes tratados com a laserterapia, dois
faziam tratamento por via tópica.
Muitos
autores
discutem
tal
tratamento, uma vez que embora utilizados
com intuído de reduzir o crescimento
bacteriano e conseqüentemente combater a
infecção, anti-sépticos são utilizados.
Contudo tais substâncias são tóxicas não
somente às bactérias, mas também às células
humanas. Na literatura há afirmações que
estas soluções podem potencializar o
processo infeccioso e não reduzir o efeito de
outros
fatores
favoráveis
ao
desenvolvimento de infecção na ferida
(CARVALHO; GOMES, 2005).
Estes autores ainda afirmam que a
utilização de pomadas contendo antibióticos
no tratamento de feridas colonizadas tem
sido contra-indicada, uma vez que sua
eficácia não fora comprovada e a absorção é
insuficiente, pois não atinge níveis séricos
adequados para reprimir tal infecção.
Efeitos terapêuticos, dose e comprimento
de onda
A terapêutica que emprega o laser
apresenta efeitos notáveis sobre a
remodelação
de
tecidos
cicatriciais
ocasionando redução do edema, do processo
inflamatório, aumento da fagocitose, da
síntese de colágeno e da epitelização. A
radiação ainda estimula a proliferação de
fibroblastos,
sua
modificação
a
miofibroblastos, a produção de colágeno, a
produção de ATP, acréscimo na atividade
dos linfócitos com conseqüente efeito
antibacteriano, e melhora na vascularização
(MARCOM; ANDRÉ, 2005; BUERGER et
al., 2004).
Rigau (1996) e Al-Watban e Zhang
(1995) apud Marcom e André (2005)
afirmam que os efeitos da laserterapia são
dependentes das doses e da freqüência do
tratamento.
Segundo Anneroth et al. (1988) e
Colls (1984) apud Siqueira e Bertolini
(2004) a dose recomendada para promover o
aumento no número de fibroblastos, da
vascularização, da reepitelização e da
quantidade de fibras colágenas deve situarse entre 1 a 5J/cm².
Rigau (1996) apud Marcom e André
(2005) sugere a dose de 4J/cm² para feridas
abertas e doses mais altas para tecidos
subcutâneos.
Marcom e André (2005) em sua
pesquisa
identificaram
após
análise
macroscópica das lesões, ausência de sinais
de infecção ou inflamação acentuada após
aplicação com diodo GaAlInP nas doses de
3, 6 e 9J/cm², confirmando os efeitos
antiinflamatórios e bactericidas. Já Albertini
et al. (2002) e Honmura et al. (1999) apud
Marcom e André (2005) observaram efeitos
idênticos na dose de 3J/cm².
Siqueira
e
Bertolini
(2004)
verificaram importante redução na área das
úlceras de pressão tratadas com laser
AsGaAl (830nm) quando comparadas ao
grupo controle, assim como constatado no
presente estudo.
A presente pesquisa observou, após
terapêutica
empregando
laser
Gálio
Alumínio Índio Fósforo (GaAlInP) de
comprimento de onda 658nm e dose de
4J/cm² duas ou três vezes por semana,
evolução média da área da ferida obtida
entre a avaliação inicial e 5ª sessão, de
42,6%.
No caso B, em que o número de
sessões foi superior, a evolução média
obtida entre a 5ª e a 10 sessão foi de 39,26%, ou seja, houve uma piora na média
da área das feridas.
As úlceras trazem transtornos
psicológicos e impedem ou dificultam a
participação do indivíduo em programas de
reabilitação, além de provocar prejuízo na
reintegração comunitária, em redução da
qualidade de vida e perda da auto-estima
(NOGUEIRA; CALIRI; HAAS, 2006;
FELICE, T.D. et al.
51
Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775
FARO, 1999 apud NOGUEIRA; CALIRI;
HAAS, 2006).
Conclusões
As úlceras debilitam e comprometem
a vida do indivíduo em vários aspectos,
tanto biológicos por facilitarem a ocorrência
de infecções, quanto psicossociais, por o
limitarem à realização de certas atividades.
No caso das úlceras de pressão, que
correspondem à maioria das úlceras tratadas
no estudo, estas geralmente acometem
pacientes
com
lesão
medular,
comprometendo e retardando seu tratamento
global.
São inúmeros os efeitos do laser no
processo de reparação tecidual e, portanto
vem sendo muito utilizado para tais
tratamentos, sendo que proporcionam
resultados
satisfatórios
quanto
à
cicatrização.
No presente estudo todos os casos
apresentaram melhora significativa dos
processos de reparo tecidual, tendo em um
deles ocorrido total cicatrização da úlcera, o
que condiz com dados da literatura, que
afirmam os efeitos positivos do laser na
cicatrização tecidual, concluído que o
tratamento com o laser para úlceras foi
efetivo.
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