871 As máscaras da morte : a ficcionalização da morte em três romances contemporâeos V Mostra de Pesquisa da PósGraduação Apresentador Gabriela Farias da Silva, Nome do Orientador Luiz Antonio de Assis Brasil Faculdade de Letras, PUCRs, Resumo Em nossa dissertação de mestrado, intitulada A representação do mal na literatura: a laranja mecânica, trabalhamos a partir do enfoque centrado na significação do mal, e os modos de definição da vontade maligna, a representação da maldade através da personagem. Com vistas ao desenvolvimento da tese de doutorado, selecionamos um tópico de nossa dissertação para aprofundamento a ficcionalização da morte dado que a morte é um dos modos de se dizer o mal 1. Para a efetivação da análise de tal tópico retomamos e aperfeiçoamos a sistemática que elaboramos na dissertação, a saber, a conjugação da definição mítica e filosófica da morte e da personagem, elemento ficcional escolhido para análise no corpus, composto pelas seguintes obras: O triunfo da morte (1981) de Augusto Abelaira, As intermitências da morte (2005) de José Saramago e A menina que roubava livros (2007) de Marcus Suzak. Introdução O tema da morte instiga a curiosidade humana e promove, na filosofia e na arte, o desejo de entendimento de seu próprio conceito. O problema de conviver com a morte inserese de forma cada vez mais significativa em nosso cotidiano, daí a pertinência do seu estudo em diversos aspectos sociais e culturais, nomeadamente o literário. A fundamentação teórica da tese divide-se em duas partes: a primeira trata do significado de morte, elaborado a partir de enunciados míticos e filosóficos, pertinentes à V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 872 justificativa e proposta do projeto. A segunda parte trata da personagem de ficção, elemento ficcional escolhido para ser norteador de nossa pesquisa. Entender a morte é uma tarefa que percorre a evolução humana desde os tempos mais primitivos. A filosofia, a biologia, a antropologia, a história e a sociologia discutiram a morte no decorrer dos tempos, definindo primordialmente que ela é uma questão que perpassa a história, constituindo-se numa questão essencialmente humana. A morte como fenômeno físico, que tem sido exaustivamente estudada ao longo dos avanços da ciência, se torna, contudo, impenetrável, quando nos remetemos a sua aceitação. Essa consciência tem levado o homem a ficcionalizar a morte, dando-lhe traços humanos, capacidade de sentimentos e de convivência física entre os homens. A morte é sem dúvida elemento da ficção humana, que tenta sob diversos aspectos imitar a vida. Ela é personagem presente na arte literária e plástica, criada a partir do que o homem concebe como significado de morte. Lembremo-nos que a valorização de uma obra literária depende, entre outros fatores, da coerência da visão do mundo manifesta no texto em relação ao seu tempo e espaço históricos, bem como em relação à consciência coletiva dominante. O conteúdo filosófico não é o critério de julgamento de uma obra artística, mas realça seu conteúdo estético, uma vez que contribui para à complexidade e coerência do que é proposto no texto, por isso faz-se necessário que tenhamos elaborado nossa perspectiva de morte para o desenvolvimento de uma análise do conceito enquanto personagem em narrativas da literatura contemporânea. Uma narrativa é composta de diversos elementos: tempo, espaço, narrador e personagem. A personagem é o elemento que dá movimento à narrativa. Ela ocupa lugar de destaque no universo mimético. É por suas ações que o leitor se interessa em percorrer a ficção. Existem diversas tipologias, nascidas de uma variada gama de formalismos que enunciam critérios e classificações analógicas de vida e literatura. Dão à personagem o efeito de pessoa, tendo em conta a referencialidade com o mundo real. Conjuguemos agora, o conceito de morte, oriundo do mito, logo antropomórfico e a personagem, representação do humano no universo mimético. É o que nos interessa aqui, não 1 Denis Rosenfield em Retratos do Mal (2003) enumera as formas de se dizer o mal, ou ainda suas manifestações. A morte aparece como uma das principais acepções do mal. (p.39) V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 873 o estímulo pelas coisas nefastas, mortais ou necrologias sádicas. Interessa-nos a ficcionalização da morte, a personificação do mito, que primitivamente era representado por um menino, séculos mais tarde sua representação assume a forma de uma caveira. A figura nefasta é coberta agora por um capuz negro, e carrega uma ceifa. Suas formas de aparecimento são diversas. Quando humana, por trabalho ou desejo, ela assume as capacidades físicas e emocionais dos humanos. Percebendo essa recorrência na literatura estabelecemos nosso corpus: As intermitências da morte de José Saramago, O triunfo da Morte de Augusto Abelaira e a Menina de Roubava livros de Markus Suzak. Praticamente todas as teorias clássicas sobre a personagem se deparam com o problema de diferenciar a personagem e a pessoa, criando para o leitor um favorável limite, que promove a tão difícil separação da literatura e da vida. Retomamos aqui um ponto que aparece no inicio dessa abordagem sobre as teorias da personagem: que atribuições podemos dar a uma personagem que figura o imaginário dos homens? Que teoria irá nos auxiliar a entender como dentro da ficção se projeta sobre uma personagem, um outro ser o qual pretende conviver e co-habitar o mundo dos homens reais ou fictícios ℵ a morte, por exemplo? Metodologia Para o desenvolvimento da presente tese, procederemos a pesquisa bibliográfica de cunho teórico que auxiliará na análise do corpus selecionado e a partir disso apresentaremos teoria própria. Resultados (ou Resultados e Discussão) V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 874 A pesquisa se encontra em andamento quanto à bibliografia teórica a respeito da morte. Estamos estabelecendo a Conceituação da morte enquanto elemento mítico e filosófico; e a investigação da importância do conceito de morte na história humana Referências ABELAIRA, Augusto. O triunfo da morte. 2ed. 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