XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, UMA ANÁLISE CRÍTICA SOBRE A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL lisandra regina ponçoni kurtz (unisinos) [email protected] O objetivo deste artigo foi apresentar uma análise conceitual sobre a sustentabilidade, fazendo uma revisão teórica, referenciando os principais elementos chaves que compõem o desenvolvimento sustentável, abordando aspectos importantes aos conceitos de sustentabilidade econômica, social e ambiental. O método utilizado foi pesquisa bibliográfica seguida de análise crítica. Os resultados demonstram a importância das tendências dos conceitos de sustentabilidade para sociedade e organizações como uma abordagem a ser dimensionada de forma a contemporizar a questões sustentáveis. Estes conceitos demonstraram a busca de um modelo de sustentabilidade que incorpore a idéia da urgência da transformação da capacidade ambiental, associada à capacidade humana de se autosustentar, sem degredar a natureza, revertendo os recursos não renováveis para renováveis. Palavras-chaves: Desenvolvimento Sustentável, Sustentabilidade, Recurso Natural e Meio Ambiente 1. Introdução Nas últimas décadas, a abordagem sobre sustentabilidade vem assumindo um novo papel, na tentativa da evolução da sociedade rumo a um mundo mais justo e rico, em que o meio ambiente e as realizações culturais sejam preservadas para as gerações vindouras. A conscientização a cerca da exploração excessiva dos recursos naturais, socialmente perverso com geração de pobreza e extrema desigualdade social, difunde uma diversidade de pesquisas onde surgem conceitos e causas a favor do comprometimento com as gerações futuras. Neste contexto, desenvolvimento sustentável pode ser definido como “aquele que permite satisfazer suas necessidades sem comprometer a capacidade das futuras gerações” (BRUNDTLAND, 1987, p46). Segundo Sikdar (2003), desenvolvimento sustentável pode ser visto como um balanço entre desenvolvimento econômico, gestão ambiental e igualdade social. Assim a sustentabilidade somente ocorrerá quando as condições econômicas e sociais forem melhoradas ao longo do tempo sem exceder a capacidade ambiental. O tema sustentabilidade tem ampliado sua presença na literatura, onde surgem dimensões relevantes a sua definição: Sachs (1997) afirma que devem ser consideradas cinco dimensões principais: social, econômica, ecológica, geográfica/espacial e ambiental; Buarque (2002) considera também a existência da dimensão tecnológica; Bossel (1999), por sua vez, entende que a sustentabilidade deve abordar as dimensões material, ambiental, social, ecológica, econômica, legal, cultural, política e psicológica; Boff (1999) acrescenta a dimensão espiritual; Guimarães (1997) apud AGENDA 21 BRASILEIRA (2002) diferencia a dimensão ecológica (uso racional do estoque de recursos naturais) da dimensão ambiental (capacidade de suporte da natureza de absorver e superar as intervenções humanas), e adiciona a dimensão demográfica e institucional. Considerando esta diversidade de dimensões ligadas a sustentabilidade, pode-se dizer que os elementos-chave para identificação da sustentabilidade são: sustentabilidade econômica, social e ambiental. Essa visão é conhecida como abordagem Triple Bottom Line. A idéia definida é: “acima a economia e a qualidade de vida, abaixo a utilização de recursos e poluição” (WBCSD, 2000, p.23; Elkington, 1997). Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi analisar, através de pesquisa bibliográfica, os diferentes conceitos sobre as dimensões de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, com perspectivas econômica, social e ambiental fazendo uma comparação entre os autores, de forma a identificar aspectos remanescentes às tendências relacionadas à sustentabilidade. As análises adotadas foram obtidas através de pesquisa a diferentes referenciais bibliográficos seguidas de análise critica dos conceitos estudados. 2. Referencial teórico 2.1 Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade A evolução da população, juntamente com o crescimento das cidades e indústrias, vem causando impactos negativos ao meio ambiente. Estas mudanças trouxeram uma nova relação da sociedade com o planeta. Surge, assim, um movimento ligado à conscientização das questões relacionadas à sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável. 2 O termo “desenvolvimento sustentável” foi discutido pela primeira vez no documento World’s Conservation Strategy (IUCN, 1980) elaborado pela International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN). Centrado na questão da integridade ambiental, este documento ressalta a importância das dimensões social, ecológica e econômica para o alcance da sustentabilidade, considerando-se os recursos vivos e não vivos e as vantagens de curto e longo prazo de ações alternativas (STROBEL, 2005). Apenas com a definição do Relatório Brundtland, elaborado pela World Commission on Environment and Development - WCED, a ênfase passa a ser o elemento humano: desenvolvimento sustentável é aquele que “atende às necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (WCED, 1987). Esta definição tornou-se o conceito mais difundido internacionalmente (CMMAD, 1988). No decorrer dos últimos trinta anos, o tema desenvolvimento sustentável se alastrou pelo globo e, apesar de haver diferentes pontos de vista quanto ao que é exatamente a sustentabilidade, há uma convergência quanto à necessidade de reduzir a poluição ambiental, eliminar os desperdícios e diminuir o índice de pobreza mundial (BARONI, 1992). Dahl (1997) comenta que o termo “desenvolvimento sustentável” é claramente carregado de valores, existindo uma forte relação entre os princípios, a ética, as crenças e os valores que fundamentam uma comunidade e sua concepção de sustentabilidade. Já a sustentabilidade corporativa trata do compromisso empresarial com o desenvolvimento sustentável, de acordo com as diretrizes preconizadas pelo World Business Council For Sustainable Development – WBCSD, para que sejam sustentáveis, as organizações devem possuir um equilibro entre as dimensões: social, ambiental e econômica (JAPPUR, 2004). A organização sustentável, para Holliday, Schmidheiny e Watts (2002), deve ir além do modelo de retorno sobre os ativos financeiros e de criação de valor para os acionistas e clientes. Também envolve o sucesso da comunidade e dos stakeholders. Ela reforça os seus ambientes tecnológicos e as habilidades de seus empregados. A busca de um novo modelo de desenvolvimento sustentável no decorrer do tempo é necessária e a “questão não é quanto irá custar para se realizar esta transformação, e sim quanto custará se falharmos” (Brown, 2003, p.25). Para isso é necessário o conhecimento das dimensões que compõem a sustentabilidade e os múltiplos objetivos da humanidade para a atuação responsável. 2.2 Dimensões da Sustentabilidade Ao considerar a diversidade de conceitos dinâmicos sobre sustentabilidade, Sachs (1997) afirma que devem ser avaliadas cinco dimensões principais: social, econômica, ecológica, geográfica/espacial e ambiental, conforme apresentado resumidamente no Quadro 1. Apesar da visão de Sachs ser conhecida, o número de dimensões varia de cada autor. Desta forma, observa-se a relação sintetizada numa versão tridimensional de três principais pilares da sustentabilidade: econômica, social e ambiental, cabendo a sociedade e empresas, uma mudança de atitude para a construção de um mundo melhor para todos. Essa visão é conhecida como abordagem Triple Bottom Line. A idéia definida é: “acima a economia e a qualidade de vida, abaixo a utilização de recursos e poluição” (WBCSD, 2000, p.23 e ELKINGTON, 1997). A mesma é ilustrada na figura 01. 3 Quadro 1 – Dimensões do desenvolvimento sustentável Dimensão Sustentabilidade Social Sustentabilidade Econômica Sustentabilidade Ecológica Sustentabilidade Espacial Sustentabilidade Cultural Componentes - criação de postos de trabalho que permitam a obtenção de renda individual adequada; - produção de bens dirigida prioritariamente às necessidades básicas sociais - fluxo permanente de investimentos públicos e privados; - manejo eficiente dos recursos; - absorção pela empresa, dos custos ambientais; - endogeneização: contar com suas próprias forças. - produzir respeitando os ciclos ecológicos dos ecossistemas; - prudência no uso dos recursos naturais; - prioridade à produção de biomassa e à industrialização de insumos naturais renováveis; - redução de intensidade energética e aumento de conservação de energia; - tecnologias e processos produtivos de baixo índice de resíduos; - cuidados ambientais. - desconcentração espacial (de atividades e de população); - desconcentração/democratização de poder local e regional; - relação cidade/campo equilibrada (benefícios centrípetos) - soluções adaptadas a cada ecossistema. - respeito à formação cultural comunitária Objetivos Redução das desigualdades Aumento da produção e da riqueza social, sem dependência externa. Melhoria da qualidade de meio ambiente e preservação das fontes de recursos energéticos naturas para as próximas gerações Evitar excesso de aglomerações Evitar conflitos culturais com potencial regressivo Fonte: Sachs (1993) adaptado por Montibeller (2001). Sustentabilidade Econômica Sustentabilidade Ambiental Sustentabilidade Social Figura 01 – Três dimensões para sustentabilidade Com base nestas três perspectivas (econômica, social e ambiental) segue abaixo o detalhamento do enfoque deste estudo. 4 2.2.1 Perspectiva econômica A dimensão econômica deve levar em conta que existem outros aspectos importantes a serem considerados, não apenas a manutenção do capital e as transações econômicas (Silva e Mendes, 2005). A sustentabilidade econômica, para Sachs (1993), é possibilitada por uma alocação e gestão mais eficiente dos recursos, e por um fluxo regular do investimento público e privado. Segundo o autor, a eficiência econômica deve ser avaliada mais em termos macrosociais do que apenas por critérios de lucratividade micro-empresariais. Assim, consideramse o impacto do fluxo monetário existente entre empresas, governo e população. Empresas economicamente sustentável conseguem fluxo de caixa, em qualquer tempo suficiente para garantir liquidez e produzir uma perspectiva acima de rendimento médio para os seus acionistas (DYLLICK e HOCKERTS, 2002). Para GRI (Global Reporting Initiative, 2002), a sustentabilidade econômica é como um ''impacto da organização sobre a situação econômica dos seus stakeholders e sobre os sistemas econômicos a nível local, nacional e global''. Para Goodland (1995), a sustentabilidade econômica incide sobre a parcela da base de recursos naturais que fornece insumos físicos, tanto renováveis (por exemplo, florestas) e esgotáveis (minerais, por exemplo), no processo de produção. Segundo Hicks (1946), a economia raramente tem se preocupado com o capital natural (por exemplo, as florestas intactas, ar saudável), porque até relativamente pouco tempo não tinha sido escassos. Esta escassez de novo, o de capital natural, surgiu porque a escala do subsistema econômico humana já superou grandes considerações em relação ao seu ecossistema de suporte (DALY e COBB, 1989). Para os critérios da economia tradicional de alocação e eficiência deve agora ser acrescentado um terceiro o de escala (Daly, 1990). O critério de escala que limitaria o crescimento do fluxo de transferência de material e energia (capital natural) a partir de fontes ambientais de sumidouros, através do subsistema humano econômica. 2.2.3 Perspectiva social As empresas estão cada vez mais voltando sua atenção à dimensão social do desenvolvimento sustentável, principalmente devido a uma mudança com experiência em ambiente de pressões das partes interessadas para as questões sociais relacionadas (HOLLIDAY, 2002). Uma sociedade sustentável pode ser considerada como uma sociedade que consiste em um sistema de produção sustentável, uma comunidade sustentável, um ecossistema sustentável, e um governo sustentável (SHIN et al., 2008). De acordo com os dados do Social Investment Forum´s 24 January 2006 Trends Reports, investimentos em empresas com responsabilidade social cresceram 258% desde 1995, variação maior do que dos ativos administrados nos Estados Unidos. Os dados de 2006 do Mercer Investment Consulting reportam que de todos os investimentos do Reino Unido cerca de 47% são investimentos comprometidos com o Environmental, Social and Governance Analysis (ESG). A avaliação desses fatores, também chamados de análise de sustentabilidade, tem garantido melhores investimentos e melhor rentabilidade. Neste sentido, a sustentabilidade empresarial tem sido vista como fator importante para geração de retornos excepcionais ajustados a riscos (alpha) (WRIGHT, 2006, p. 42). A responsabilidade social é uma forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona, e pelo 5 estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (Instituto Ethos, 2009). No âmbito da sustentabilidade empresarial, Dyllick e Hockerts (2002) dizem que empresas socialmente sustentável agregam valor às comunidades em que operam através do aumento do capital humano de cada parceiro, bem como promovem o capital social dessas comunidades. Eles gerenciam capital social de modo que os interessados possam compreender suas motivações e de maneira geral, concordam com o sistema de valor da empresa. Para Ferrell et al. (2000), a adoção da responsabilidade social corporativa harmoniza-se com a percepção de que a empresa é responsável pelas conseqüências sociais de suas ações. Complementando, Melo e Froes (2001) acreditam que as ações socialmente responsáveis da empresa aumentam a produtividade no trabalho, criam maior motivação, auto-estima e orgulho entre os funcionários. Segundo a Bovespa (2006), os investimentos SRI (Investimentos Socialmente Responsável) consideram que empresas sustentáveis geram valor para o acionista em longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais. Para Sachs (1997), a sustentabilidade social refere-se a um processo de desenvolvimento que leva a um crescimento estável com distribuição igualitária da renda. Desta forma, haverá a diminuição das atuais diferenças entre os diversos níveis da sociedade e a melhoria das condições de vida das populações. Já a sustentabilidade social do negócio pode ser definida como: interna e externa. A interna diz respeito ao foco da saúde e o bem-estar dos funcionários, práticas disciplinares e de capital e os aspectos dos direitos humanos dos trabalhadores. Treinamento e oportunidades de desenvolvimento para os funcionários também estão incluídos. O foco externo refere-se a preocupações com os impactos das iniciativas operacionais em três diferentes níveis da sociedade: a comunidade local, regional e nacional. Em certos casos, esses impactos incluem aqueles em ou contribuição para uma comunidade, região ou as atividades econômicas da nação (LABUSCHAGNE et al., 2005). Outra abordagem diz que sustentabilidade ou manutenção de sistemas de apoio à vida é um pré-requisito para a sustentabilidade social. Redciift (1987 e 1994) afirma que a redução da pobreza é o principal objetivo do desenvolvimento sustentável, antes mesmo da qualidade ambiental poder ser totalmente resolvida. 2.2.4 Perspectiva Ambiental A sustentabilidade ambiental ou ecológica deve refletir na inclusão de um novo capital, para o sistema capitalista, o capital natural (SILVA e MENDES, 2005). Sachs (2002) afirma que esse tipo de sustentabilidade deve ampliar a capacidade de o planeta fornecer recursos naturais, minimizando os impactos causados. Portanto, continua o autor, deve-se diminuir a utilização de combustíveis fósseis e a emissão de poluentes, aumentarem a eficiência dos recursos explorados, substituir o uso de recursos não renováveis por renováveis e prometer políticas que visem à conservação de matéria e energia, investindo em pesquisa de tecnologias limpas. 6 Bendavid-Val e Perine (2003) destacam que para melhorar a competitividade de empresas, é fundamental incorporar o conceito de competitividade ambiental, podendo ser considerado o paradigma da sustentabilidade. Eles argumentam que as empresas interagem de quatro maneiras com o meio ambiente: pelo consumo de recursos (entradas); no consumo de energia (consumo indireto de recursos); no gerenciamento de resíduos (coleta, tratamento, reaproveitamento, transporte e descarte apropriado); e poluição (não gerenciamento de resíduos). Cada um desses pontos é importantes centros de custos. Outro ponto de contribuição relevante se refere à redução de risco da empresa em relação a acidentes e passivos ambientais. Neste sentido, é importante destacar que desenvolvimento sustentável está associado aos conceitos de produto seguro, qualidade de produto e segurança no trabalho. Os investimentos nessa área podem também atrair novos consumidores em função de uma boa imagem corporativa. A humanidade precisa aprender a conviver, dentro dos limites do ambiente biofísico. Isto significa que o capital natural deve ser mantido, tanto como fornecedor de insumos ("fontes"), como um "sumidouro" de resíduos (DALY, 1977 e 1973; PEARCE et al., 1989; PEARCE e REDDIFT, 1988; SERAGELDIN e STEER, 1994; SIMON e KAHN 1984; WORLD BANK, 1993). Isto significa que exerce a escala do subsistema econômico humano dentro dos limites biofísicos do ecossistema global de que depende, ou seja, a sustentabilidade ambiental tem a necessidade de ter uma produção sustentável e consumo sustentável. Para Goodland (1995), sustentabilidade ambiental acrescenta consideração dos insumos para a produção física, enfatizando sistemas ambientais de suporte a sistemas de vida, sem o qual nem a produção nem a humanidade poderiam existir. Este apoio de sistemas de vida inclui atmosfera, água e solo, todas estas precisam ser saudáveis, o que significa que sua capacidade de serviços ambientais deve ser mantida. 3. Síntese do referencia teórico Sintetizando a literatura pesquisada, vários conceitos se encaixam nas perspectivas de tendências ligadas à sustentabilidade. Os mesmos são sintetizados no quadro 2. Quadro 2 – Conceitos e perspectivas relacionadas à sustentabilidade Conceito e perspectiva Principais itens pesquisados Desenvolvimento Sustentável e sustentabilidade Atender as necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades. Perspectivas econômicas Leva-se em consideração uma gestão mais eficiente dos recursos, não apenas a manutenção e capital e transações econômicas. Perspectivas sociais Uma sociedade sustentável pode ser considerada como uma sociedade que consiste em um sistema de produção sustentável, uma comunidade sustentável, um ecossistema sustentável, e um governo sustentável. Perspectivas ambientais Refere-se à inclusão de um novo capital, o capital natural, onde deve ampliar a capacidade do planeta fornecer recursos naturais, minimizando os impactos causados, substituindo recursos não renováveis por renováveis. 7 4. Análise e discussão Este estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica, onde foram abordados diferentes conceitos sobre as dimensões da sustentabilidade, que engloba as perspectivas econômica, social e ambiental, fazendo uma comparação entre os autores, seguida de uma análise critica. Desta forma, a análise se segmenta: (i) compreensão dos conceitos sobre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade seguida de análise sobre o atendimento das necessidades das gerações presentes e futuras; (ii) compreensão e analise crítica dos conceitos de perspectiva econômica considerando a gestão de recursos (iii) compreensão e analise crítica dos conceitos de perspectiva social considerando a responsabilidade social interna e externa as organizações e (iv) compreensão e analise crítica dos conceitos de perspectiva ambiental considerando a inclusão do capital natural, com recurso de fontes renováveis. 4.1 Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade O termo desenvolvimento sustentável vem sendo discutido desde a década de 80, porém sua definição mais utilizada internacionalmente foi difundida pela comissão mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento (WCED, 1987 e CMMAD, 1988): “atender às necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. Neste contexto, pode-se avaliar que o desenvolvimento sustentável é traduzido pela necessidade da sociedade se relacionar com o meio ambiente de forma a garantir sua própria continuidade. Vale ressaltar a importância das dimensões social, ambiental e econômica dentro da concepção de sustentabilidade com uma vantagem competitiva de curto e longo prazo (STROBEL, 2005). Segundo o autor, o desenvolvimento sustentável preconiza que para que sejam sustentáveis, as organizações deve possuir um equilíbrio entre as dimensões: (Jappur, 2004). A idéia central é de que o surgimento da sustentabilidade venha dos conceitos de desenvolvimento sustentável, porém com a dimensão de organizações, tornando as empresas peças fundamentais para a geração da sustentabilidade corporativa. Holliday et al (2002) descrevem um modelo além de retorno sobre ativos financeiros, eles acreditam que a comunidade contribui para o sucesso de uma organização sustentável, esta idéia e ampliada por Brown, (2003) que fala sobre a necessidade da transformação que deverá ocorrer em função do desenvolvimento sustentável. Para tal, as definições são coerentes com o tema, demonstrando o movimento que ligado à conscientização poderá ajudar a deixar recursos disponíveis para as gerações futuras. 4.2 Perspectiva econômica As perspectivas econômicas não consideram somente a manutenção de capital e as transações econômicas (SILVA E MENDES, 2005), mas sim a possibilidade de gestão de eficiência de recursos. Sachs (1993) avalia sustentabilidade em termos macro-sociais não priorizando os critérios de lucratividade micro-empresariais. Esta perspectiva estimula a geração de recursos em um capital natural que há pouco tempo não era considerado escasso, ou seja, segundo Daly (1990) deveria ser incluir um critério de escala limitada de transferência de material e energia, fazendo com que através da subsistência econômica, haja um melhor aproveitamento deste capital natural, aumentando sua eficiência e renovando seus processos, deixando de incidir no fornecimento de insumos físicos, tanto renováveis como esgotáveis. 8 Assim, esta perspectiva conduz para uma nova concepção de sustentabilidade econômica, deixando uma pouco de lado a questão de liquidez garantida para participar ativamente nas questões envolvendo capital natural tanto a nível local como nacional e global. Estas referências apontam uma forte tendência de união entre as dimensões da sustentabilidade, transformando as organizações auto-suficientes para se manter, gerando riqueza de lucratividade de desenvolvimento ambiental sustentável. 4.3 Perspectiva Social Responsabilidade social é um campo abordado com freqüência nos dias de hoje, que abrange conceitos interessantes aos preceitos da sustentabilidade. Principalmente devido a uma mudança com experiência em ambiente de pressões das partes interessadas para as questões sociais relacionadas (HOLLIDAY, 2002). Abordagem esta que vem gerando uma garantia de melhores investimentos e melhor rentabilidade com geração de retorno excepcional ajustado a riscos (alpha) (WRIGHT, 2006, p. 42). Esta perspectiva é uma das mais utilizadas pelas instituições, pois impulsiona o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturas para as gerações futuras e promover a redução de desigualdade social (INSTITUTO ETHOS, 2009). Como conseqüência proporcionando uma melhor produtividade no trabalho e maior motivação (MELO e FROES, 2001). Uma sociedade sustentável pode ser considerada como uma sociedade que consiste em um sistema de produção sustentável, uma comunidade sustentável, um ecossistema sustentável, e um governo sustentável (SHIN et al., 2008). Os demais autores pesquisados, de uma forma ou de outra, abordam a questão sobre a melhoria das condições de vida da população, seja ela local, regional ou nacional. Uma abordagem pouco comentada e de fundamental importância para a formação de conceitos sobre sustentabilidade social mencionado Redciift (1987 e 1994) é a relação da sustentabilidade com a redução da pobreza, antes mesmo que a qualidade ambiental possa ser totalmente resolvida. 4.4 Perspectiva Ambiental A escassez de recursos naturais, aliada as pressões legais e públicas, fomenta o interesse e a busca de alternativas por parte de todos os setores da sociedade, incluindo as empresas, para tentar minimizar os impactos já estabelecidos e desacelerar o ritmo de mudanças impostas ao meio ambiente (KURTZ, 2009). A humanidade precisa aprender a conviver, dentro dos limites do ambiente biofísico. Isto significa que o capital natural deve ser mantido, tanto como fornecedor de insumos ("fontes"), como um "sumidouro" de resíduos (DALY, 1977 e 1973; PEARCEet al., 1989; PEARCE e REDDIFT, 1988; SERAGELDIN e STEER 1994; SIMON e KAHN, 1984; WORLD BANK. 1993). Dentro desta concepção a perspectiva ambiental tem um foco interessante, pois é ela quem harmoniza as demais, que conduz o paradigma da sustentabilidade, incorporado conceito de produto seguro, qualidade de produto e segurança no trabalho Bendavid-Val e Perine (2003). Uma sociedade sustentável pode ser considerada como uma sociedade que consiste em um sistema de produção sustentável, uma comunidade sustentável, um ecossistema sustentável e um governo sustentável. 9 Esta preceptiva busca um vinculo da sociedade com o meio ambiente onde a compreensão e respeitos aos recursos naturais e os ciclos renováveis é de fundamental importância enfatizando que s sistemas ambientais de suporte a sistemas de vida, sem o qual nem a produção nem a humanidade poderiam existir. 5. Considerações finais O objetivo deste artigo foi analisar diferentes referencias bibliográficos sobre o tema desenvolvimento sustentável, relacionando suas dimensões e perspectivas com os três pilares da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Foi feita uma comparação entre os autores seguida de análise. Entre linhas, as citações falam sobre a busca de um modelo de desenvolvimento sustentável, de uma transformação que se preocupar não com o custo e sim com a falha do não envolvimento das organizações e sociedades com a causa a favor da sustentabilidade. Onde há a necessidade do conhecimento das dimensões que compões os objetivos da atuação responsável. Se tratando da perspectiva econômica, a abordagem foi focada na atribuição da necessidade de uma gestão mais eficientes dos recursos, este tema demonstra que a sustentabilidade econômica não apenas discute a garantia da liquidez e rendimentos médios e sim a incidência sobre a base de recurso naturais, tanto renováveis como esgotáveis nos processo de produção, atribuindo um critério de escala que limita o crescimento do fluxo de subsistemas humano. Já a perspectiva social abordou um tema considerado pelos autores uma fonte de referência à responsabilidade social, onde empresas sustentáveis agregam valor às comunidades em que operam através do aumento do capita humano, trazendo benefícios local, regional e nacional. Em perspectiva ambiental o fator de maior relevância citado pelos autores foi a respeito da importância da diminuição dos impactos causados ao meio ambiente, e pela capacidade da humanidade ampliar a eficiências dos recursos naturais, substituindo os não renováveis por renováveis. Pode-se afirmar que questões ligadas ao meio ambiente vêm tomando um espaço considerável entre as nações, sociedades e organizações. O tema sustentabilidade adquiriu um patamar de grande importância dentro dos conceitos corporativos, onde existe um movimento de conscientização quanto à responsabilidade de se incorporar ao tema desenvolvimento sustentável. Neste contexto, notou-se uma abordagem significativa entre os autores em “atender as necessidades das gerações presentes sem comprometer as gerações futuras”. Este conceito relata a base de valores que se espera da humanidade. Referências: AGENDA 21 BRASILEIRA. Agenda 21 Brasileira: Ações Prioritárias. 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