Desenvolvimento Sustentável ­ Capítulo III As Dimensões Ecológica, Espacial e Cultural do Desenvolvimento Sustentável “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a Humanidade deve escolher o seu futuro... ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida”. (Leonardo Boff) A Dimensão Ecológica do Desenvolvimento Sustentável O capital natural é a fonte primaria de recursos utilizados em processos de produção de bens e serviços, que deve ser usado minimizando e anulando os danos ocasionados na natureza, porque é a base sobre a qual está assentada a espécie humana. Os âmbitos que ocupam os recursos naturais estão em solo, mar e ar. Então, como principais poluídos nos processos industriais, são três elementos armazenando todos os resíduos tóxicos que afetaram a todos os seres vivos: homens, animais e plantas. Segundo Sachs (1993), esta dimensão se maximiza com o uso dos recursos potenciais dos ecossistemas, para propósitos socialmente válidos, ocasionando um mínimo de dano e limitação do consumo de combustíveis fósseis e produtos facilmente esgotáveis substituindo­os por recursos renováveis. A emissão de agentes poluentes e mudanças no ecossistema ocasionadas pela geração de energia elétrica, por exemplo, são altas. Neste tipo de geração, os principais causadores são as usinas termoelétricas que precisam da combustão de um hidrocarboneto, os mais utilizados são os derivados do petróleo e gás, também utilizando­se do carvão mineral; todos liberam gases que impactam negativamente o meio ambiente. Usinas hidrelétricas também ocasionam danos nos ecossistemas porque elas são causadoras de grandes mudanças nos lugares em que são construídas as barragens e reservatórios; usinas nucleares não poluem o meio ambiente durante seu funcionamento, porém, depois da vida de utilidade do material radioativo, se não é descartado sob proteção adequada, pode gerar um grande impacto à natureza. Todo e qualquer risco de um impacto negativo ao meio ambiente deverá ser cuidadosamente analisado e eliminado antes que qualquer tipo de exploração de recursos naturais seja iniciada, ainda que se trate de um tipo de recurso renovável. O ambiente precisa ser priorizado independente do volume econômico que esteja em jogo.
A Dimensão Espacial do Desenvolvimento Sustentável Todo processo produtivo precisa de um espaço físico para poder desenvolver­ se, posicionando­se sobre a terra ou mar. Então, quando se tem uma boa distribuição desses espaços para atividades produtivas e econômicas com as atividades dos homens, animais e plantas sem alterar suas condições de vida, pode­se dizer que o equilíbrio espacial existe. Normalmente, quando se tem uma concentração de atividades econômicas dentro de um centro urbano é quando se quebra a passividade e a qualidade de vida dos seres vivos que o habitam. Esta deve equilibrar uma melhor distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas (SACHS, 1993). Nos diferentes tipos de geração de eletricidade, observam­se alterações do espaço onde estão localizadas as máquinas e recursos em geral que permitam o funcionamento das usinas. O tipo de geração que mais altera o ecossistema é a hidrelétrica, por depender das barragens construídas para reservatórios de água que permitirão dar energia necessária para sua operação. Estas barragens e reservatórios ocupam grandes áreas que muitas vezes pertencem a habitat de pessoas, animais ou plantas. A Dimensão Cultural do Desenvolvimento Sustentável A dimensão cultural, segundo Sachs (1993), está dada por um processo de modernização, sem quebrar a entidade cultural dentro do contexto do ambiente em que se desenvolvem as atividades econômicas. Busca raízes endógenas dos modelos de modernização, mantendo a diversidade local, capacitando a sociedade na base dos valores de uma sociedade na tradição e ética, para que sejam transmitidos para todas as gerações. Pode­se dizer que as dimensões são as variáveis que medem a sustentabilidade de todo processo produtivo e assegurar que o significado de desenvolvimento sustentável seja abordado em sua totalidade. Podemos relacionar também a dimensão social do desenvolvimento sustentável que consiste em propiciar um relacionamento mais íntimo com as populações influenciadas por uma determinada produção ou exploração. Isso evita que se gere ou amplie as disparidades sociais oriundas dessas atividades. Também é possível identificar as ameaças existentes para tal desenvolvimento, bem como as possíveis oportunidades das quais as empresas envolvidas podem se beneficiar e estender esse benefício às comunidades que estão inseridas. Observamos que qualquer que seja a dimensão, mesmo as mais antagônicas, que tente explicar a possibilidade de um desenvolvimento sustentável em termos ambientais, todas concordam com o fato de que somente será possível tal desenvolvimento quando tivermos um ambiente ecologicamente equilibrado capaz de garantir uma vida de qualidade para as atuais e futuras populações. Considerando tudo isto, é necessário fazer uma análise dos riscos para ponderar a existência de fontes de recursos renováveis que, ao serem
exploradas pelo homem e transformadas em energias, sejam inofensivas ao meio ambiente ou que pelo menos impactem insignificativamente. Estes recursos renováveis são utilizados pelo homem desde há muitos séculos. Bons exemplos são os ventos, que geram energia eólica utilizada nas embarcações a vela ou nos moinhos verticais para bombear água ou moer grãos de milho. O aproveitamento das fontes naturais renováveis ao serem transformadas em energias, é necessário um conjunto de condições que devem ser tomadas em consideração e assim não gerar impactos negativos contra o meio ambiente. A água é um dos recursos que corre mais perigo de escassez nas próximas décadas, apesar de ser um recurso renovável, por muitos fenômenos originados pelo ser humano. Por causa da poluição, este recurso está se esgotando no mundo. Particularmente é o caso do Ceará e de todo o litoral nordestino do Brasil, que sofre pela escassez, afetando a agricultura, geração de energia e consumo da água potável. A seca é uma tragédia anunciada: sabe­se que deve ocorrer sem se saber ao certo quando, onde e com que intensidade virá. As grandes centrais hidrelétricas e térmicas são grandes consumidoras deste recurso, sem o qual a geração de energia pára, o que não acontece na geração eólica e fotovoltaica, já que, para o caso das centrais fotovoltaicas, o consumo de água é vinte vezes menor do que das centrais térmicas convencionais, que corresponde à água utilizada no lavado dos módulos para que a transmissão da coberta protetora seja maior; as centrais eólicas não precisam de água (MORAGUES, 1992). A Responsabilidade Ambiental das Empresas O estado há algum tempo já vem se preocupando com as questões relacionadas a preservação e conservação ao meio ambiente, porém essa preocupação sofreu notável significância nas três últimas décadas, quando passou a ser pauta constante nas agendas de governantes, autoridades, bem como da sociedade civil organizada como um todo. Na esfera das empresas, a preocupação com o meio ambiente é um assunto mais recente ainda na maioria das organizações, apesar de muitos organismos particulares terem esse comprometimento mesmo antes que os órgãos da esfera pública se manifestassem. Hoje, a questão ambiental é um assunto que saiu dos muros das organizações e ganhou espaço nas ruas das cidades, nas escolas, nas mídias, nos sindicatos e com muita ênfase nas empresas particulares, ainda mais nesse momento em que tanto se fala em responsabilidade social. As empresas passaram a se perceber como parte integrante de um ambiente que vem sendo há muito tempo degradado e que essa degradação brevemente poderá afetá­ la, caso não sejam tomadas iniciativas para tentar reverter essa situação.
De quem é a culpa? A maioria dos problemas que estão hoje, instalados no meio ambiente, são decorrentes do uso indevido dos recursos naturais disponíveis na natureza. Por isso é necessário o envolvimento das empresas para a solução desses problemas, independente da estratégia escolhida, já que essas empresas além de produzirem bens e serviços, também os comercializam. As empresas hoje, passam a praticar uma gestão ambiental que pode ser notada de forma global. A Globalização Muito antes de a palavra globalização adquirir a força que tem hoje, já se falava numa globalização de problemas como o buraco na camada de ozônio ou o aquecimento global. As empresas já haviam percebido que uma atitude por parte delas seria a solução ou mesmo a minimização de muitos dos problemas ambientais que já estavam instalados e já começavam a ameaçar a tranqüilidade de muitas espécies. As empresas passavam da posição de geradoras de problemas ambientais, a assumir o papel de “salvadoras do meio ambiente”. Observem que além de uma mudança comportamental, estamos diante de uma mudança de atitude, feito não muito simples de ser realizado, principalmente se a empresa possuir um histórico de pouca relação com questões ambientais. Porém, uma mudança dessa ordem raramente acontece de forma espontânea, ou seja, na maioria dos casos influências da sociedade, do governo ou ainda do mercado financeiro, ajudam nesse processo de mudança de comportamento. Essa pressão pode ser vista como o “empurrão” que algumas empresas necessitam para aceitar sua responsabilidade frente à quantidade de problemas que nosso planeta enfrenta. A preocupação ambiental é também da classe política e uma prova disso é a quantidade de leis ambientais aprovadas, atualmente, isso sem contar com a força das organizações da sociedade civil. Segundo Barbieri (2004), “as organizações da sociedade civil que atuam nas áreas ambientais e sociais têm­se tornado uma influência poderosa que se manifesta por meio de denúncias, da formação de opiniões perante o grande público, de pressões políticas nas instâncias legislativas e executivas e de cooperação com as empresas”. As Organizações Não­Governamentais ­ ONG´s As Organizações não­Governamentais representam entidades organizadas da sociedade civil que atuam de forma bastante dinâmica na busca para a solução de variados problemas sociais. Essas organizações possuem um papel muito importante frente à causa que representam. A crescente preocupação das ONG´s nos problemas ambientais globais podem garantir que haverá sempre uma busca para a solução desses problemas. Elas podem garantir que não serão engavetados e esquecidos antes que uma iniciativa seja tomada. Observe sistemicamente, como funciona a influência na gestão ambiental das empresas:
GOVERNO EMPRESA SOCIEDADE MERCADO
Muitas e eficazes são as iniciativas privadas de luta por questões ambientais administradas por organizações não­governamentais. Em algumas áreas a atuação das ONG´s é a única ação existente. Segundo, Kirschner “a crise econômica e o crescimento do desemprego que atingiram a Europa na década de 80 contribuíram para que a empresa começasse a ser valorizada pela sua capacidade de salvaguardar o emprego – valor essencial da socialização na sociedade contemporânea. O papel da empresa vai além do econômico: ademais de provedora de emprego, é também agente de estabilização social”. A preocupação ambiental hoje, tem impactos até mesmo na competitividade comercial. Países, cidades ou empresas que possuem em seu histórico um leque de ações voltado para questões ambientais possuem muito mais chances de fecharem bons negócios, enquanto que aquelas que preferem não contribuir para a causa ambiental são vistas de forma pouco positiva pela maioria dos investidores. Percebemos assim, que a questão ambiental não se trata de simples modismo, ao contrário, ela representa uma tendência mundial com a capacidade de mobilizar e unir pessoas e organizações dos mais diferentes tipos ou culturas. A Responsabilidade Social Corporativa Para que possamos entender como funciona a atuação social das empresas, bem como seu papel efetivo na sociedade contemporânea precisamos nos remeter ao final do século XX, quando os discursos liberais e democráticos versavam sobre direitos iguais para todos. Os liberais­democratas defendiam a garantia de todas as pessoas no desenvolvimento de suas potencialidades. Mas apesar de muitos autores concordarem que as idéias liberais­democratas realmente tiveram forte influência na mudança das empresas em relação às suas responsabilidades sociais, somente nos anos 40, temos relatos concretos de uma empresa européia preocupada em não somente obter lucros, mas ciente de sua necessidade em promover a seu empregado um bem­estar que tinha início no próprio ambiente de trabalho e que o acompanhava até as suas residências. A preocupação das empresas agora, não era o fato do trabalhador não levar problemas de casa para o trabalho e sim não deixar que o trabalhador levasse problemas do trabalho para casa. Por isso as empresas passaram a investir numa qualidade de vida no trabalho, cujo objetivo principal era o de propiciar um ambiente de trabalho leve e harmônico, cujos benefícios pudessem ser sentidos até as casas de seus colaboradores. Segundo Guerreiro Ramos, 1981, “funcionários com qualidade de vida no trabalho são mais felizes e produzem mais”. Quando os problemas ambientais saíram das esferas públicas e passaram a ser de responsabilidade da sociedade como um todo, as empresas precisaram mostrar aos seus empregados que também se sentiam co­responsáveis por tentar diminuir os impactos das ações degradativas do homem sobre a natureza. Os empregados como membros da sociedade também sentiam essa mesma responsabilidade, porém, como não podiam isoladamente realizar grandes feitos, passaram a cobrar de seus patrões uma posição capaz de torná­los, juntamente com suas empresas, agentes efetivos de mudança. Observem que se trata de um grande sistema, cujas partes estão intimamente lidadas. Se um degrada, todo o restante será afetado. Esse pensamento passa a modificar o dia­a­dia das empresas que empenhadas em contribuir positivamente para a melhoria do planeta inclui no elenco de documentos produzidos por essas empresas, balanços, e relatórios que dão conta de sua atuação perante aos problemas sociais. Eles explicitam a intensidade com que as empresas vêm contribuindo para a melhoria da sociedade.
Download

Desenvolvimento Sustentável Capítulo III As Dimensões Ecológica