Insper Instituto de Ensino e Pesquisa
Programa de Mestrado Profissional em Administração
Wilson de Souza
O mercado de bens de capital e a combinação das estratégias
genéricas
São Paulo
2010
Wilson de Souza
O mercado de bens de capital e a combinação das estratégias
genéricas
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
Profissional em Administração do Insper Instituto de
Ensino e Pesquisa, como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Administração.
Área de concentração: Estratégia
Orientadora: Profª. Dra. Andrea Maria Accioly Fonseca
Minardi – Insper
São Paulo
2010
Souza, Wilson de
O mercado de bens de capital e a combinação das estratégias
genéricas / Wilson de Souza; orientadora Profª. Dra. Andrea Maria Accioly
Fonseca Minardi – São Paulo: Insper, 2010. 66 f.
Dissertação (Mestrado – Programa de Mestrado Profissional em
Administração. Área de concentração: Estratégia – Insper Instituto de Ensino
e Pesquisa.
1. Estratégia genérica 2. Estratégia híbrida 3. Bens de capital
FOLHA DE APROVAÇÃO
Wilson de Souza
O Mercado de bens de capital e a combinação das estratégias genéricas.
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
Profissional em Administração do Insper Intituto de
Ensino e Pesquisa, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Administração.
Área de concentração: Estratégia
Aprovado em: Março/2010
Banca Examinadora
Profª. Dra. Andrea Maria Accioly Fonseca Minardi
Orientadora
Instituição: Insper Instituto de ensino e pesquisa
Assinatura: _________________________
Prof. Dr. Henrique Machado Barros
Instituição: Insper Instituto de ensino e pesquisa
Assinatura: _________________________
Prof.Dr. Mário Aquino Alves
Instituição: EAESP - Fundação Getúlio Vargas
Assinatura: _________________________
DEDICATÓRIA
À minha mulher Silvia que me deu o apoio necessário para que este estudo ocorresse e à minha filha Beatriz
que um dia compreenderá as noites e finais de semana que não pude estar com ela.
À meus pais João e Walkiria que me passaram valores valiosos que sempre me guiam .
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Profª. Dra. Andrea Minardi, orientadora desta dissertação, pelo apoio e
estímulo para o desenvolvimento deste estudo.
Um agradecimento especial ao Prof. Dr. Henrique Barros Machado pela decisiva
contribuição e indicação de caminhos para esta dissertação.
Aos entrevistados e profissionais da empresa estudada que se prestaram a fornecer
informações valiosas para este estudo, apesar dos seus inúmeros afazeres.
Aos amigos da primeira turma de mestrado profissional em administração que além
de enriquecerem os debates nas aulas tornaram se grandes amigos.
RESUMO
Souza, Wilson. O mercado de bens de capital e a combinação das genéricas. 2010. 66 f. Dissertação
(Mestrado) – Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, São Paulo, 2006.
Este estudo aborda o tema das estratégias genéricas difundidas por Porter o qual tem sido objeto de
pesquisas tanto no mundo acadêmico quanto utilizadas no meio empresarial por sua abrangência e pela
sua facilidade de compreensão.
As estratégias genéricas são liderança em custo, liderança em
diferenciação de produto e foco. Porter inferiu que uma empresa precisa escolher uma das estratégias para
ter vantagem competitiva no mercado. As pesquisas sobre o tema têm resultados contraditórios quanto à
inferência de Porter, sendo que algumas sustentam que empresas só são bem sucedidas quando adotam
estratégias puras e outras que encontram evidências de que empresas que adotam estratégias híbridas
podem também ter um desempenho superior. A discussão acadêmica sugere que esta inferência pode ser
demasiadamente simplista e sugere contingências que podem obrigar empresas, em certos mercados, a
utilizarem a estratégia híbrida. Por meio de um estudo de caso na indústria de bens de capital,
especificamente no setor de automação industrial brasileiro, foi desenvolvida uma pesquisa exploratória
para identificar e propor novas contingências que propiciam a utilização da estratégia híbrida. O setor
utilizado no estudo apresenta características de um mercado oligopolista, sendo que as três principais
empresa que atuam nesse setor possuem, em conjunto, 70% de participação do mercado. Nesse setor
verificou-se que as empresas líderes utilizam a estratégia híbrida para que possam atender tanto os clientes
fabricantes de máquinas, que enfatizam o preço, quanto os clientes usuários finais que valorizam mais a
diferenciação de produto. A pesquisa também sugere possíveis ações que empresas desenvolveram ou
desenvolvem para consolidar seu posicionamento em tais circunstâncias.
Palavras-chave: Estratégias genéricas; Estratégia híbrida; Bens de capital; Estratégia competitiva
ABSTRACT
Souza, Wilson. The Capital Goods Market and the combination of generic strategies. 2010. 66 f..
Dissertation (Mastership) – Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, São Paulo, 2010.
This study deals about the topic of the generic strategies disseminated by Porter, which has been topic of
researches as much in the academic world as used in the business world due to its extension and easiness
of comprehension. The generic strategies are cost leadership, leadership in product differentiation and
focus. Porter inferred that a company must choose one of the strategies in order to have success. The
research regarding this subject have conflicting results on the inference of Porter, and some argue that
companies are only successful when they adopt pure strategies and others find evidence that firms that
adopt hybrid strategies can also achieve a better performance. The academic show that this inference can
be excessively simplistic and suggests contingences that can oblige companies, in certain markets, to use
the hybrid strategy. Through a case study, in the capital goods industry, specifically in the branch of the
Brazilian industrial automation, an exploratory research was developed in order to identify and propose new
contingences that benefit the use of the hybrid strategy. The branch referred in this study has characteristics
of oligopolistic market and the three main companies have, together, 70% of market share. In this branch
was found that the leader companies use the hybrid strategy in order to attend as much the machine
manufacturer clients, which emphasizes the price, as the end user clients, which emphasizes more the
product differentiation. The research also suggests possible actions that the leader companies had
developed or develop in order to have a privileged strategic positioning in its market.
Keywords : Generic strategies; Hybrid strategy; Capital goods; Competitive strategy
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Características das estratégias genéricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Tabela 2 – Relações entre pré-condições externas e viabilidade das estratégias genéricas . . . . . . . 20
Tabela 3 – Preços médios praticados de alguns produtos nos mercados de fabricantes de
máquinas e usuários finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Tabela 4 – Análise Manova dos atributos de qualidade e preço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Tabela 5 – Características das demandas em cada tipo de cliente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . 41
Tabela 6 – Preços praticados pelas três principais empresas nos fabricantes
de máquinas (OEM) e usuários finais (end user). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Tabela 7 – Qualidade percebida pelos clientes dos três principais fornecedores
de produtos de automação industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Tabela 8 – Grau de importância conferido aos atributos de qualidade pelos fabricantes
de máquinas (OEM) e usuários finais (end user). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Tabela 9 – Atributos de qualidade percebidos dos produtos comprados pelos usuários finais . . . . . 45
Tabela 10 – Atributos de qualidade percebidos dos produtos comprados pelos fabricantes
de máquinas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Tabela 11 – Análise com regressão logística para avaliação da significância das diferenças
das médias dos atributos nos dois mercados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Matriz da natureza dos conflitos x similaridade dos mercados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 2 – Excedente do consumidor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 3 – Participação de mercado das três principais empresas do setor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 4 – Qualidade percebida pelos clientes dos três principais fornecedores
de produtos de automação industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
SUMÁRIO
1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
2 Revisão da literatura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1 A estratégia competitiva e o desempenho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2 As estratégias competitivas genéricas de Porter. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3 A estratégia competitiva híbrida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
3 Metodologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .25
3.1 Tipo e Método da pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2 Critérios para a escolha do caso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.3 Coleta de dados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.3.1 Entrevistas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.3.2 Fontes documentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4 Resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
4.1 Informações do setor de automação industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.2 Características dos mercados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
4.3 Resultados relacionados à questão de pesquisa “Porque empresas na indústria de
bens capital atuam com a estratégia híbrida para terem um desempenho superior?”.. . . . . . . . .41
4.4 Resultados relacionados à questão de pesquisa “Como a estratégia híbrida pode ser
executada de forma a gerar desempenho superior?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.5 Proposições no campo das estratégias genéricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5 Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .54
Apêndices. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Apêndice A - Guia para entrevista focada com os executivos da empresa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Apêndice B - Questionário para coleta de dados referente ao grau de importância
dos requisitos aos clientes.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Apêndice C - Análise Manova dos atributos do produto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60
Apêndice D - Regressão Logística dos atributos do produto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Apêndice E - Tabelas para análise dos atributos de qualidade percebidos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Anexo A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Anexo B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
12
1- Introdução
As três estratégias genéricas de Porter, liderança em custo, liderança em
diferenciação e foco, tornaram-se uma referência nos estudos de estratégia e um
paradigma no mundo dos negócios. De acordo com Porter, uma empresa precisa
escolher uma das estratégias ou, caso contrário, ficará “stuck in the middle” e não
terá uma vantagem competitiva sustentável. Conforme colocado por Porter (1996),
uma empresa pode suplantar os seus rivais somente se puder estabelecer um
diferencial que pode ser preservado. Ela precisa entregar um grande valor para os
clientes ou criar valor comparável a um baixo custo.
Uma das estratégias genéricas de Porter é a alternativa de baixo custo que
envolve menores esforços em termos de qualidade, atualidade ou até mesmo
inovação do produto para manter custos baixos, ou seja, o mais baixo da indústria.
Já a estratégia de diferenciação é quando se oferece uma grande variedade de
produtos com alta qualidade para clientes e quando muitas vezes são adicionados
serviços tais como logística diferenciada, consultoria técnica, dentre outros.
Existe uma discussão em torno desta formulação, pois há estudos empíricos,
tais como, os realizados por Hambrick (1983), Dess e Davis (1984), Herbert e
Deresky (1987), Kim e Lim (1988), Devaraj et al. (2004) e Thornhill e White (2007),
que evidenciam a necessidade de as empresas adotarem uma das estratégicas
genéricas claras para que tenham um desempenho superior. Já outros estudos, os
realizados por Karnani (1984), Miller e Friesen (1986), Hill (1988), Murray (1988) e
Charitou e Markides (2004), sugerem que a proposição de Porter pode ser
demasiadamente simplista e deveria ser analisada de uma maneira mais
circunstancial.
Quanto à indústria de bens de capitais, Hambrick (1983) inferiu que a adoção
de estratégias genéricas puras é a melhor alternativa para empresas que atuam
nessa indústria. Miller e Friesen (1986) evidenciaram contingências que possibilitam
a utilização de estratégias genéricas combinadas na indústria de bens de consumo,
mas sugerem que as mesmas não se aplicam na indústria de bens de capital.
O propósito principal desta pesquisa é identificar contingências que fazem
empresas que trabalhem com estratégias híbridas na indústria de bens de capital,
especificamente no setor de automação industrial, terem desempenho superior. Para
13
isso será analisado tanto características do setor quanto ações que empresas
desenvolveram ou desenvolvem para consolidar seu posicionamento.
O Método utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa foi o estudo de
caso do setor de automação industrial, analisando as características das principais
empresas que atuam nesse setor bem como os seus desempenhos relativos.
O restante do trabalho está estruturado como descrito a seguir. O capítulo 2
contém uma revisão da literatura referente a artigos teóricos e empíricos
relacionados às estratégias genéricas propostas por Porter e outras teorias que
abordam as motivações para a escolha das estratégias. O capítulo 3 descreve e
discute a metodologia de coleta e análise dos dados referente ao caso. O capítulo 4
apresenta e discute os resultados. O capítulo 5 conclui o trabalho.
14
2- Revisão da Literatura
2.1 - A estratégia competitiva e o desempenho
De acordo com Rumelt (1991), a grande heterogeneidade do desempenho
entre as empresas foi implicitamente assumida por muito tempo como proveniente
de circunstâncias e comportamentos coletivos, ou seja, a indústria em que a
empresa estava inserida determinava o seu desempenho. Todavia as pesquisas
sobre estratégia competitiva indicam outra direção, ou seja, essas diferenças de
desempenho são provenientes de características internas, indicando a importância
das estratégias tanto corporativas como das unidades de negócios individuais.
Barney (2002) conceitua as estratégias corporativas como ações que a empresa
realiza para ganhar vantagens por meio de operações em múltiplos mercados ou
indústrias simultaneamente, sendo estratégias de unidades de negócios ações que
as empresas implementam para obter vantagens em um único mercado ou indústria.
O estudo seminal neste campo foi realizado por Rumelt (1991), que avaliou os
efeitos da indústria e as estratégias tanto em termos corporativos quanto das
unidades de negócios na variação do desempenho das empresas. Analisando a
indústria de manufatura americana de 1974 a 1977, ele verificou empiricamente que
a decomposição da variância do retorno sobre ativos das empresas mostrou que o
efeito da indústria, de fatores temporários e de corporação e unidades de negócios
representavam 4%, 2% e 44%, respectivamente.
McGahan e Porter (1997) aprofundaram e ampliaram o estudo de Rumelt
(1991). Eles analisaram praticamente todos os setores da economia americana
(exceto financeiro) por um período mais extenso, de 1981 a 1994. Nessa pesquisa
também chegaram à conclusão de que a heterogeneidade no desempenho das
firmas é decorrente em grande parte das estratégias adotadas pelas unidades de
negócios, ou seja, a pesquisa mostrou que os efeitos da unidade de negócios, da
indústria e da corporação representavam 32%, 19% e 4%, respectivamente. Ainda
em outra pesquisa, Brush et al. (1999), utilizando uma metodologia distinta das
anteriores, verificaram que os efeitos das estratégias em termos das unidades de
negócio explicavam de 25% a 48% da variância do desempenho. Seus resultados
somente divergiram de Rumelt (1991) e de McGahan e Porter (1997) quanto à
15
importância das estratégias corporativas que apresentaram um efeito de 5% a 15%
na variância do desempenho.
Em termos de pesquisas em empresas brasileiras com esta abordagem,
podem ser citadas as realizadas por Brito e Vasconcelos (2003) e Marcon e Mello
(2005). Os primeiros analisaram, com dados de empresas brasileiras, os efeitos
acima mencionados para compará-los com os dados obtidos em estudos elaborados
no mercado americano. A proposição da pesquisa era que o efeito ano, pela
turbulência do mercado no período de 1998 a 2002, deveria ter uma grande
influência na variância do desempenho. No entanto, os pesquisadores identificaram
que esse fator representava somente 0,3% da mesma, e os fatores indústria e
unidade de negócio representavam 8% e 60%, respectivamente. Tais resultados
corroboram com estudos internacionais sobre a importância da estratégia no nível
da unidade de negócio. O estudo de Marcon e Mello (2005), realizado em 15 setores
econômicos brasileiros com 177 firmas, também confirmou a importância da
estratégia competitiva para o desempenho das firmas. Segundo os autores, o efeito
da unidade de negócio explica aproximadamente 42% da variância no desempenho
e os efeitos da indústria e ano foram 5% e 0,6%, respectivamente.
É possível observar, portanto, que os atributos peculiares às unidades de
negócios são críticos para o desempenho. Mais do que isso, as evidências sugerem
que o efeito indústria, apesar de relevante, não é equiparável ao potencial impacto
que as particularidades das unidades de negócios podem ter em seus respectivos
desempenhos. Os resultados dos trabalhos empíricos, portanto, corroboram a
relevância que a estratégia pode ter para as firmas. Dessa forma, entender como as
firmas se posicionam para explorar as oportunidades existentes e o impacto desse
posicionamento em seu desempenho é de vital importância para a área de
estratégia.
2.2- As estratégias competitivas genéricas de Porter
O conceito de estratégia genérica foi introduzido por Porter (1980) para
descrever, de forma ampla, como uma empresa se posiciona para atender ao
mercado ao qual ela se propõe a oferecer seus bens e/ou serviços. Esta tipologia
tem se mostrado bastante útil, pois é bastante ampla sem ser vaga e tem se tornado
um paradigma dominante na literatura de gerenciamento estratégico.
16
Segundo a tipologia de Porter (1980), existem três estratégias genéricas que
podem levar uma empresa ao sucesso: (1) Liderança em custos – significa que a
firma busca usar de forma eficiente os seus equipamentos, maximizando a sua
produtividade e priorizando a redução de custos; (2) Liderança em diferenciação –
envolve o processo de criar valor de forma que o cliente perceba esse valor como
único, podendo este ser de várias formas, tal como imagem da marca, serviço
agregado, distribuição, qualidade e atributos do produto. Esta estratégia não ignora
os custos, mas eles não são os ingredientes principais; e (3) Foco – envolve
competir em um segmento específico que pode ser baseado no tipo do cliente, no
tipo de produto, na geografia ou em outro fator, e essa estratégia ainda se subdivide
entre liderança de custo ou diferenciação.
Esta última estratégia genérica, de foco ou nicho, conforme Gopalakrishna e
Subramanian (2001), é somente uma variação das estratégias de liderança de custo
e de diferenciação bem como um modo de direcionar a empresa para um objetivo
estratégico mais especifico.
Na Tabela 1 abaixo encontramos as principais características das estratégias
genéricas de liderança em custo e de liderança em diferenciação de produtos.
17
Tabela 1 – Características das estratégias genéricas
Liderança em Custo
Liderança em Diferenciação
Entradas
Matéria-prima de baixo custo
Mão de obra produtiva
Investimento em equipamentos
Tecnologia nos produtos
Criatividade e inovação
Processos
Eficiência de escala
Habilidade em engenharia de
processo
Mínima perda
Produtividade dos funcionários
Logística eficiente
Flexibilidade
Manufatura simples
Serviço técnico
Intensidade de capital
Estilo
Único
Opção
Qualidade/ confiável
Imagem
Variações de produto
Sem serviço agregado
Disponibilidade
Financeiro
Garantias
Pesquisa de Mercado
Produto ou
serviço
Serviço agregado
Distribuição
Clientes de escala eficiente
Linha de produtos simples
Discriminação de preço
Fonte: Adaptado de Porter (1980).
Qualidade
Crédito
Suporte de vendas
Serviço de pós-venda
O posicionamento estratégico competitivo se refere a desempenhar atividades
diferentes das dos concorrentes ou desempenhar atividades similares de uma forma
diferente, ou seja, recai sobre escolher um conjunto diferente de atividades para
entregar um mix único de valor. Mas a escolha dessa posição única não representa
garantia de vantagem competitiva sustentável. Uma posição vantajosa vai atrair
empresas incumbentes e novos entrantes, que tentarão imitá-la (Porter,1996).
Segundo Porter (1996), para que uma posição estratégica seja sustentável,
existe a necessidade de “trade-offs” com outras posições. Os “trade-offs” vão forçar
escolhas e proporcionar uma proteção em relação aos concorrentes. Os “trade-offs”
surgem por três motivos: 1- Inconsistência na imagem ou reputação – uma empresa
pode confundir os seus clientes ou até mesmo destruir a sua reputação se tentar
entregar outro tipo de valor ou dois inconsistentes ao mesmo tempo; 2- Naturezas
18
das
atividades:
diferentes
posições
requerem
configurações
de
produtos,
equipamentos, comportamentos dos funcionários, habilidades e sistemas gerenciais
distintos. O valor pode ser destruído se tivermos atividades estruturadas
inadequadamente; 3- Limites da coordenação e controle internos: quando se opta
por uma estratégia para se competir e não por outra, os gestores podem colocar
prioridades organizacionais muito claramente. Empresas que tentam atender todos
os clientes com diferentes tipos de valores se arriscam a confundir os funcionários
no seu dia a dia.
Porter (1996) sugere que para uma empresa ter vantagem competitiva
sustentável, ela terá de fazer uma escolha entre as estratégias de liderança em
custo e liderança em diferenciação e não uma combinação dessas estratégias
genéricas.
O argumento do autor é pautado no entendimento de que, ao atuar no
mercado com uma estratégia híbrida, ou seja, com as duas estratégias genéricas
simultaneamente, a empresa não conseguirá ser excepcional em nenhuma delas em
virtude dos “trade-offs” mencionados acima. O resultado será um desempenho
inferior à média dos concorrentes, situação essa que Porter (1996) denomina de
“stuck in the middle”.
Hambrick (1983), Dess e Davis (1984), Herbert e Deresky (1987), Kim e Lim
(1988), Devaraj et al. (2004)
e Thornhill e White (2007) validaram a tipologia
proposta por Porter (1996). Esses trabalhos também encontraram evidências de que
o melhor desempenho é alcançado quando as firmas escolhem uma, e somente
uma, estratégia genérica. Dentre eles, merece destaque o trabalho de Hambrick
(1983), o qual foi realizado na indústria de bens de capital dos Estados Unidos, ou
seja, no mesmo setor da pesquisa desenvolvida nesta dissertação. Apesar de vários
estudos corroborarem a proposição de Porter sobre o fenômeno “stuck in the
middle”, tantos outros apresentaram evidências de que a estratégia híbrida pode
gerar desempenho superior. Campbell-Hunt (2000), em um estudo utilizando a
técnica de meta análise, condensou várias pesquisas empíricas relacionadas às
estratégias genéricas de Porter. O autor constatou que o paradigma em termos de
discriminar as estratégias de liderança em custo e diferenciação é válido, mas não
conseguiu suportar a hipótese de que a empresa terá um melhor desempenho caso
adote apenas uma das estratégicas genéricas.
19
2.3- A estratégia competitiva híbrida
A proposição de Porter (1980), quanto a não possibilidade de se utilizar as
estratégias genéricas combinadas e obter uma posição competitiva sustentável, foi
contestada tanto teórica quanto empiricamente.
Karnani (1984), utilizando a teoria dos jogos em um modelo de competição
oligopolista, constatou que, segundo seu modelo, a estratégia híbrida não é
incompatível com o desempenho acima da média. No entanto, Karnani (1984)
observa que a utilização da teoria dos jogos é mais apropriada para a análise de
competições em mercados oligopolistas maduros do que em mercados que
experimentam expansão, ou seja, os resultados do seu modelo podem ser mais
adequados para mercados já desenvolvidos do que para mercados em
desenvolvimento.
Marks (1992), também em um estudo teórico em mercados de competição de
preços oligopolistas, com o uso da teoria dos jogos, sugeriu que a utilização de
estratégias híbridas é a mais indicada para empresas que atuam nele.
Hill (1988), por sua vez, analisou as contingências que poderiam afetar tanto
a estratégia de liderança em custo quanto a estratégia de liderança em diferenciação
de produto. O autor concluiu que é possível que as firmas tenham as duas
estratégias genéricas combinadas e mesmo assim possuam vantagens competitivas
sustentáveis. As contingências utilizadas por Hill (1988) quanto à diferenciação de
produtos foram: (1) As habilidades da empresa para diferenciar os seus produtos; (2)
A natureza competitiva do ambiente do mercado do produto; e (3) O compromisso
dos clientes com os produtos dos concorrentes. Quanto às contingências de redução
de custo, foram: (1) A economia de aprendizado; (2) A economia de escala; e (3) A
economia de escopo. Segundo o autor, as variações destas contingências podem
possibilitar a utilização de estratégias genéricas combinadas. Em particular, ele
sugere que: (1) A diferenciação pode ser um meio para atingir uma posição de baixo
custo; e (2) Em mercados mais maduros, existe a possibilidade de várias empresas
terem atingido uma posição de mínimo custo e a utilização concomitante da
estratégia de diferenciação pode ser o meio de se atingir uma vantagem competitiva
sustentável. Contudo, o próprio autor salienta a necessidade de trabalhos empíricos
para aprofundar o entendimento sobre esse fenômeno.
20
Murray (1988) também pesquisou as relações entre possíveis precondições e
as estratégias genéricas, conforme tabela 2 abaixo:
Tabela 2 – Relações entre precondições externas e viabilidade das estratégias
genéricas
Estratégias
Fatores Externos
A estratégia de liderança
em custo será viável
somente:
Se existem altos custos de transação ou diferenciais no
custo de produção na obtenção de insumos
Se o estágio de desenvolvimento das tecnologias de
processo empregadas na cadeia de valor indica que
significantes inovações podem ainda ser realizadas
Se as tecnologias de processo empregadas na cadeia
de valor são suficientemente complexas que permita
melhorias significantes de custo por meio do efeito de
aprendizagem
Se a escala ótima para alguma parte significante da
cadeia de valor excede metade do tamanho do mercado
A estratégia de liderança
em diferenciação será
viável somente:
Se os consumidores colocam peso em atributos do
produto além do preço quando fazem as suas decisões
de compra
Se o estágio de desenvolvimento das tecnologias de
produto indica que significantes inovações de produto
podem ainda ser realizadas
Se os processos de tecnologias empregados na cadeia
de valor são suficientemente complexos que permitam
significantes diferenciais de qualidade e serviço entre os
produtos dos competidores.
Fonte: Murray (1988).
Murray (1988) conclui, da mesma maneira que Hill (1988), que existe a
possibilidade de utilização da estratégia híbrida em vez das estratégias puras com
vantagens em algumas situações, pois as precondições para cada estratégia pura
não são excludentes entre si.
Tanto o argumento de Hill (1988) como o de Murray (1988) sugerem possíveis
ambientes em que a utilização da estratégia híbrida é possível ou até mesmo
desejável, mas não aprofundam o estudo no campo de como as empresas podem
atingir um posicionamento estratégico no mercado de maneira que consigam uma
vantagem competitiva sustentável e, consequentemente, desempenhos superiores.
21
Em relação aos estudos empíricos, Miller e Friesen (1986) pesquisaram a
proposição de Porter (1980) na indústria de bens de consumo e concluíram que as
empresas que apresentavam os melhores desempenhos eram justamente aquelas
que utilizavam elementos tanto da estratégia de liderança em custo quanto da
estratégia de liderança em diferenciação. Eles inferiram que isso decorre do fato de
que nesse tipo de indústria as despesas de Marketing (e.g. propaganda, valorização
da marca) podem estar presentes conjuntamente fazendo com que a liderança em
custo, a liderança em diferenciação de marketing e até mesmo a liderança em
diferenciação de qualidade e inovação sejam compatíveis. Quanto à indústria de
bens de capital, eles sugerem que isso não é possível, pois os compradores nessa
indústria não são influenciáveis pela intensidade de marketing utilizada e compram
somente produtos que apresentam o melhor custo benefício para os seus negócios.
Outro estudo empírico realizado por Wright et al. (1991) na indústria de bens de
capital diverge desta inferência de Miller e Friesen (1986), pois as empresas que
apresentaram o melhor desempenho foram justamente aquelas que tinham a
estratégia híbrida, mas sugere mais pesquisas para determinar como as empresas
utilizam a estratégia de diferenciação nessa indústria.
Como é possível observar, não há consenso sobre a necessidade das
empresas terem estratégias puras para alcançarem vantagem competitiva. Mais do
que isso, quando a estratégia híbrida é defendida como alternativa para se chegar a
um desempenho superior, os trabalhos questionam sua eficácia na indústria de bens
de capital.
Charitou e Markides (2004) realizaram uma pesquisa com empresas que
atuavam com um modelo de negócio e, devido à entrada de novos concorrentes ou
até mesmo por uma estratégia própria de crescimento, precisaram introduzir um
novo modelo para que mantivessem ou mesmo aumentassem a sua participação no
mercado. As duas variáveis que determinaram a utilização de uma estratégia híbrida
ou unidades de negócios separadas eram as seguintes: (1) A seriedade do conflito
entre os dois negócios determina se a estratégia de separação é benéfica ou não;
(2) A percepção de similaridade estratégica do novo mercado em relação ao negócio
atual determina a importância da exploração de sinergias entre eles. Quando essas
duas variáveis são relacionadas, obtém-se quatro possíveis estratégias para
competir com dois modelos de negócios diferentes, conforme apresentado na figura
1.
22
B
A
Séria
Estratégia de separação
Natureza do
Estratégia de integração
em fases
conflito
E
entre os dois
D
negócios
Estratégia de separação
Estratégia de integração
em fases
Menor
Baixa relação
estratégica
Alta relação
estratégica
(mercados diferentes)
(mercados similares)
Similaridade dos mercados
Figura 1: Matriz da natureza dos conflitos x similaridade dos mercados
Fonte: Charitou e Markides (2004).
Como podemos verificar na figura 1, a separação deve ser a estratégia
escolhida quando o novo mercado não é somente estrategicamente diferente do
negócio atual, mas também quando o mercado tem sérios conflitos e trade-offs. Já
quando o novo mercado é muito similar ao negócio atual e apresenta poucos
conflitos a serem gerenciados, a separação não é necessária. Na pesquisa, por
meio de análise de regressões, foi constatado que, quanto menores os conflitos e
mais sinergia entre os dois modelos de negócios, a estratégia híbrida apresentava
melhor desempenho. Mas a decisão de integrar os negócios é somente parte do
problema. Charitou e Markides (2004) verificaram que mesmo as empresas que
apresentavam as condições necessárias para a utilização da estratégia híbrida,
segundo a abordagem das duas variáveis conforme mencionado acima, obtiveram
ou não um desempenho superior ao de seus concorrentes.
Quanto às pesquisas relacionadas às estratégias genéricas em países em
desenvolvimento, existem poucos estudos nesses mercados, mas pode-se citar os
de Gopolakrishna e Subramanian (2001) e de Spanos et al. (2003), realizados na
Índia e na Grécia, respectivamente. Os primeiros concluíram que as empresas que
utilizaram ambas as estratégias de liderança em custo e diferenciação tiveram o
melhor desempenho em termos de crescimento de faturamento, habilidade para
23
reter os clientes, sucesso no lançamento de novos produtos ou serviços, retorno do
capital e sucesso no controle das despesas operacionais. A pesquisa realizada na
Grécia por Spanos et al. (2003) também conclui que a estratégia híbrida é a mais
indicada para atingir um desempenho superior à média da indústria e sugere mais
estudos que envolvam o exame de quais capacidades são necessárias para que as
empresas utilizem estratégias híbridas.
Observam-se vários estudos analíticos e empíricos que denotam a
necessidade de repensar o paradigma de Porter (1980), que sugeriu às empresas a
não combinação das estratégias genéricas, evitando assim a adoção da estratégia
híbrida. As pesquisas revelam não apenas que a estratégia híbrida é possível em
determinadas situações, mas mostram também que ela pode representar um melhor
desempenho.
Este trabalho buscou detalhar aspectos da estratégia competitiva na indústria
de bens de capital, verificando as possíveis contingências que podem motivar as
empresas dessa indústria a atuarem com a estratégia híbrida. Além disso, buscou
analisar fatores críticos que influem no sucesso ou insucesso de empresas que
atuam com esta estratégia nessa indústria.
A pesquisa analisará características do setor de automação industrial, bem
como ações que as empresas nele inserido desenvolveram ou desenvolvem para
que possam ter uma posição privilegiada em relação aos seus concorrentes e com
isto ter vantagens competitivas sobre eles. Cool et al. (2002) relata que a vantagem
competitiva também pode ser sustentada por meio de uma posição privilegiada da
empresa no mercado, de tal forma que os seus concorrentes não terão incentivo de
imitá-la.
As empresas que são bem sucedidas em criar mais valor para seus clientes
do que seus concorrentes ocupam uma posição de vantagem competitiva em
relação aos mesmos. A concorrência entre as empresas se dá por meio da
combinação do preço e qualidade que é oferecida aos clientes nos diferentes
mercados. Cabe destacar que a dimensão qualidade não representa somente
atributos relacionados ao produto, ela diz respeito também a outros fatores, tais
como suporte técnico, prazo de entrega e confiabilidade do prazo proposto, canais
de venda, disponibilidade de peças sobressalentes e profundidade da relação com o
cliente, que têm seu valor relativo de acordo com a percepção de cada cliente.
Resumindo, os clientes escolhem as empresas que lhes oferecem o maior
24
excedente do consumidor, ou seja, a escolha do fornecedor será determinada pelo
aumento do lucro econômico gerado aos consumidores, como pode ser observado
na figura 2.
Fig 2: Excedente do consumidor.
Fonte: Besamko et al (2006)
Kenyon (1992) infere que as posições de mercado são determinadas pelas
ofertas que são realizadas aos clientes nos mercados, ou seja, as decisões de
compras dos clientes baseiam-se inteiramente nelas e é por decisões de compra
favoráveis que as empresas competem. Portanto, a identificação de como uma
empresa atinge um posicionamento estratégico privilegiado de mercado atuando
com a estratégia híbrida e que tenha desempenho superior pode ser realizada pela
análise de como ela consegue realizar ofertas distintas e ao mesmo tempo criar
mais valor do que seus concorrentes, nos mercados que valorizam mais o preço
quanto os de diferenciação de produto.
25
3- Metodologia
Segundo Bouchard (1976), o ponto fundamental para uma boa pesquisa não
recai somente sobre a escolha do método certo, mas sim em fazer a pergunta certa
e utilizar o melhor método para respondê-la. Para que o método de pesquisa e os
seus procedimentos sejam mais bem entendidos, as seguintes questões foram
formuladas:
Por que empresas na indústria de bens de capital atuam com a estratégia
híbrida para terem um desempenho superior?
Como a estratégia híbrida pode ser executada de forma a gerar desempenho
superior?
3.1 Tipo e Método da pesquisa
A literatura relacionada às estratégias genéricas é relativamente vasta, mas
ainda apresenta muitos pontos divergentes quanto à possibilidade de as empresas
atuarem com a estratégia híbrida e apresentarem um desempenho superior, como
mencionado na revisão de literatura.
Mas não existem muitos estudos específicos que detalham as possíveis
contingências que possam levar empresas a adotar essa estratégia na indústria de
bens de capital e como elas podem atuar desta forma e sustentar desempenhos
superiores. Portanto, o método mais indicado para essa situação é o qualitativo.
Esse método possibilitará o exame de aspectos mais detalhados e subjetivos do
tema da pesquisa. Creswell (2007) sugere que, quando um conceito ou fenômeno
precisa ser entendido e pouca pesquisa foi feita sobre ele, então é melhor utilizar o
método qualitativo. Edmondson e McManus (2007) também inferem que, quando
pouco é conhecido sobre o fenômeno, rica, detalhada e evocativa informação é
necessária para colocar luz sobre o fenômeno e que o método qualitativo é o mais
indicado para isso.
Segundo Creswell (2007), existem cinco estratégias de investigação
associadas ao método qualitativo: etnografia, teoria embasada (grounded theory),
estudo de caso, pesquisa fenomenológica e pesquisa narrativa. Para esta pesquisa,
26
a estratégia adotada foi a de estudo de caso. Yin (2005) propõe que essa estratégia
de pesquisa deve ser utilizada quando o limite entre o fenômeno e o contexto não
está claramente definido, ou seja, ambientes complexos. A estratégia de pesquisa
histórica
poderia
lidar
com
tal
situação,
mas
não
com
acontecimentos
contemporâneos que são o objeto desta pesquisa.
Yin (2005) apresenta ainda cinco aplicações diferentes para o estudo de
casos: (1) Explicar ligações causais em intervenções da vida real que são muito
complexas para serem abordadas por estratégias experimentais; (2) Descrever uma
intervenção e o contexto na vida real em que ela ocorre; (3) Ilustrar certos tópicos
dentro de uma avaliação; (4) Explorar as situações nas quais a intervenção que está
sendo avaliada não apresenta um conjunto simples e claro de resultados; (5) Ser
uma meta-avaliação.
Deste modo, para o propósito desta pesquisa, a estratégia de estudo de caso é a
mais adequada, pois:
(1) A questão de pesquisa busca a ampliação do entendimento do fenômeno, ou
seja, a pesquisa faz perguntas do tipo “por que” e “como”. Em particular,
existem poucas pesquisas científicas relacionadas a possíveis contingências
que corroboram para as empresas adotarem a estratégia híbrida na indústria
de bens de capital.
(2) A técnica de levantamento histórico não se aplica, pois a pesquisa busca
explicar um evento contemporâneo.
A estratégia de estudo de caso pode ser tanto de caso único como de casos
múltiplos.
Este estudo analisou três empresas, mas não se caracteriza por um estudo de
casos múltiplos, pois buscou detalhar um setor específico da indústria de bens de
capital, o setor de automação industrial, ou seja, se caracteriza por um estudo de
caso único.
Segundo Yin (2005), o estudo de caso único é um projeto apropriado em certas
condições e coloca cinco fundamentos lógicos para seu uso, conforme a seguir:
(1) Quando ele representa o caso decisivo ao testar uma teoria, ou seja, o caso
único pode representar uma importante contribuição à construção de uma
teoria.
(2) Quando o caso único é aquele em que representa um caso raro ou extremo.
(3) Quando ele é um caso típico ou representativo.
27
(4) Quando ele é um caso em que o pesquisador tem a oportunidade de observar
e analisar um fenômeno previamente inacessível à investigação científica.
(5) Quando ele é um caso longitudinal em que é possível observar dois ou mais
pontos diferentes no tempo.
Esta pesquisa utilizou o caso único devido a dois desses fatores, sendo o caso
escolhido um caso típico e representativo de um setor da indústria de bens de
capital. O segundo fator foi quanto à disponibilidade de acesso às informações
necessárias para o desenvolvimento deste estudo.
3.2 Critérios para a escolha do caso
Sendo o propósito deste estudo a análise de contingências que tornam
possível a utilização da estratégia híbrida na indústria de bens de capital, foi
escolhido um setor no qual as empresas que estão inseridas nele atuem, em sua
maioria, com a combinação das estratégias genéricas.
Além dessa característica, a facilidade de acesso e a disponibilidade de
informações organizadas foram consideradas como condições fundamentais para a
escolha deste caso, sem as quais não se poderia viabilizar o estudo.
O setor de automação industrial mostrou-se o mais adequado para este
estudo, pois, como pode ser observado no capitulo 4, referente aos resultados da
pesquisa, as principais empresas que atuam nele adotaram a estratégia híbrida.
Quanto à disponibilidade de informações, foram consultadas as três principais
empresas que atuam neste setor, sendo que duas delas não consentiram o acesso à
suas informações e uma delas, a líder do setor, disponibilizou amplo acesso, tanto
de informações relativas ao setor bem como da sua estratégia de atuação. Foi
também possível obter junto a essa última empresa dados relativos à atuação dos
seus concorrentes, por meio de dados documentais, provenientes de estudos
mercadológicos realizados por ela.
28
3.3 Coleta de dados
O estudo de caso pode se basear em várias fontes de evidência, segundo Yin
(2005), e as seis fontes mais importantes são: documentação, registros em arquivos,
entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos. As fontes
de evidências muitas vezes são complementares e Yin (2005) sugere que mais de
uma fonte seja utilizada para que se consiga a convergência das evidências.
Entretanto, o autor coloca que não existe a necessidade de utilizá-las na sua
totalidade em todos os estudos de casos. Nesta pesquisa serão utilizadas as
entrevistas focadas e estruturadas como fontes essenciais de evidências para
abordarmos a questão de pesquisa, pois, como sugerem Eisenhardt e Graebner
(2007), quando o pesquisador se afasta de fenômenos que ocorrem com freqüência,
tais como decisões estratégicas que são o propósito desta pesquisa, as entrevistas
tornam-se a fonte principal de informações. Serão utilizadas também fontes
documentais que servirão para a complementação, valorização e aumento da
precisão das informações dos dados já coletados.
Portanto, a combinação de
ambas as fontes atende de forma satisfatória às necessidades desta pesquisa.
3.3.1 Entrevistas
As entrevistas são a fonte principal de informação desta pesquisa e foram
conduzidas durante o mês de fevereiro de 2010. Yin (2005) definiu a entrevista como
uma das mais importantes fontes de informação para um estudo de caso e distingue
três tipos de entrevistas:
(1) Entrevista de forma espontânea, ou seja, informal, em que o entrevistador
pode indagar os respondentes-chave tanto quanto aos fatos relacionados a
um determinado assunto quanto pedir a opinião e interpretação sobre esses
eventos. Esse tipo de entrevista se caracteriza por perguntas menos
estruturadas e mais abertas para instigar o respondente a expressar
percepções e interpretações do fenômeno estudado.
(2) Entrevista focada, na qual o respondente é entrevistado por um curto período
de tempo. Essa entrevista é realizada de uma forma informal, mas as
perguntas são realizadas em uma sequência com o intuito de focar o assunto
que é o objeto da pesquisa.
29
(3) Entrevista estruturada, na qual é feito o levantamento formal e até mesmo
pode produzir dados quantitativos como parte das evidências do estudo de
caso.
Nesta pesquisa foram utilizados os dois últimos tipos de entrevistas, com
respondentes em diferentes funções e posições hierárquicas, conforme detalhado
mais adiante. Eisenhardt e Graebner (2007) relatam que o desafio de uma entrevista
é evitar que ela seja tendenciosa, o que pode ser evitado pela utilização de
informantes de diferentes áreas funcionais e níveis hierárquicos.
As entrevistas focadas foram realizadas com 6 executivos da empresa que se
dispôs a fornecer informações para este estudo.
O estudo buscou executivos que fossem responsáveis tanto por várias áreas
funcionais, bem como de diferentes níveis hierárquicos. O estudo certificou-se
também de que eles fossem responsáveis tanto no auxílio da elaboração da
estratégia, quanto na execução das ações provenientes da mesma. As entrevistas
seguiram o modelo semiestruturado com um conjunto de perguntas, conforme
mostrado no apêndice A, no qual foram abordadas questões sobre como são
implementadas as estratégias específicas em cada mercado, comprometimentos
estratégicos da empresa e sobre como eram identificadas as necessidades em
termos de combinação de preço e qualidade em cada mercado. Os executivos
entrevistados foram: (1) Diretor comercial – Trabalha na empresa há 38 anos,
inicialmente como consultor de vendas, e já está na função de diretor comercial há
27 anos.
Até pelo seu tempo de experiência, tem um amplo conhecimento da
empresa e do mercado em que a mesma atua; (2) Coordenador de vendas da região
SP e RJ – Trabalha na empresa há 20 anos e coordena as equipes de vendas da
região metropolitana da cidade de São Paulo e do estado do Rio de Janeiro, que
representam o maior percentual de vendas em relação às demais regiões. Nessas
regiões temos tanto o mercado de fabricantes de máquinas como clientes usuários
finais; (3) Gerente de marketing – Trabalha na empresa há 17 anos, sendo
responsável por esta função há aproximadamente 10 anos. É responsável pelas
políticas de preço e por reconhecer as necessidades dos diferentes mercados; (4)
Coordenador de marketing – Trabalha na empresa há 10 anos e coordena as
funções de marketing; (5) Gerente de engenharia de produtos – Trabalha na
empresa há 21 anos e é responsável pelo desenvolvimento de novos produtos
regionais, bem como de produtos específicos para clientes; (6) Gerente de
30
administração de vendas – Trabalha há 18 anos na empresa e tem a função de
gerenciar as atividades de vendas.
A entrevista estruturada (apêndice B) teve a finalidade de confirmar as
características dos diferentes mercados, as quais também foram levantadas nas
entrevistas com os executivos da empresa, bem como de auxiliar na quantificação
de como ela compete eficazmente tanto no mercado que valoriza principalmente o
preço como no de produtos diferenciados.
A quantificação foi realizada por meio da comparação entre os possíveis
excedentes proporcionados aos clientes das três principais empresas que atuam
nesse setor, com base em suas combinações de preço praticado e de qualidade
percebida pelo cliente.
O preço praticado por cada empresa foi obtido por meio de fontes documentais e
será mais bem detalhado na seção seguinte. Em relação à variável qualidade
percebida pelo cliente, primeiramente foram utilizadas informações obtidas em uma
pesquisa disponibilizada pela empresa que se dispôs a auxiliar o estudo, a qual foi
realizada por um instituto independente, que também será mais bem detalhada na
seção seguinte. Para que houvesse uma proporcionalidade na mensuração do grau
de importância que é conferido a cada um dos atributos de qualidade em relação
aos dois tipos de clientes, foi utilizada como constructo a percepção da força de
vendas desta mesma empresa. Essa percepção foi coletada por meio da entrevistas
estruturadas com 57 consultores de vendas que atendiam esses dois mercados,
para que indicassem o grau de importância em uma escala Likert de 5 pontos, sendo
o menor deles indicando “Nenhuma importância” (1) e o mais alto, “Muito importante”
(5). Com o grau de importância conferido aos atributos de qualidade de cada
mercado e com a pontuação obtida junto à pesquisa de percepção dos clientes, foi
obtida a variável da qualidade percebida por tipo de cliente das três principais
empresas do setor.
Os respondentes desta pesquisa são na sua totalidade
formados em engenharia e recebem um intensivo treinamento de produtos e
aplicações de automação industrial antes de atuarem junto ao mercado. Em média,
os consultores de vendas têm aproximadamente 15 anos de trabalho na empresa e
atuam com clientes de todas as regiões do Brasil.
31
3.3.2 Fontes documentais
Yin (2005) relata que o uso mais importante de documentos é suportar e
valorizar as evidências provenientes de outras fontes. Nesta pesquisa os
documentos que foram obtidos terão exatamente este propósito, ou seja, suportar e
valorizar as entrevistas realizadas com os executivos da empresa.
As principais variáveis obtidas por meio desta fonte foram os preços praticados nos
dois tipos de clientes e a qualidade percebida pelo cliente.
Os preços praticados no mercado pelas principais empresas do setor foram
obtidos junto à empresa líder do setor, que realiza frequentes pesquisas por meio do
seu departamento de marketing. Nesta pesquisa foram utilizados os preços
praticados médios de cinco produtos. Esses produtos representam os maiores
faturamentos das três principais empresas no mercado que enfatiza preço, bem
como os preços destes mesmos produtos no mercado que valoriza a diferenciação
de produto. Os dados de preço foram mascarados por solicitação da empresa que
forneceu os dados, contudo não foi um limitador nesse estudo especifico.
Para a mensuração da qualidade percebida pelo cliente foi utilizada uma
pesquisa realizada por um instituto independente. Esta pesquisa não foi contratada
pela filial brasileira, mas sim pela matriz da empresa líder do setor, com uma
periodicidade bianual. Estas pesquisas são contratadas pela matriz somente em
países que têm mercados relevantes. A matriz solicita este serviço com o objetivo de
conhecer melhor os mercados mais relevantes e consequentemente servir de
subsídio para a formulação das estratégias da empresa. Outro objetivo é ter uma
forma de controle da atuação das filiais em seus respectivos mercados. Por ser
realizada pela Matriz da empresa e ter também uma função de controle, a
possibilidade de um viés favorável à empresa é reduzido. Esta pesquisa
independente verificou como os clientes dos dois mercados classificavam os três
principais fornecedores, a empresa estudada e seus dois principais concorrentes,
utilizando uma escala de Likert de 6 pontos, sendo (1) insatisfatório; (2) ruim ; (3)
adequado; (4) satisfatório; (5) bom; (6) excelente. Os atributos de qualidade medidos
foram os seguintes: (1) Inovação em termos de produtos e processos; (2) Tempo
entre o início de desenvolvimento de um novo produto e disponibilidade para o
mercado; (3) Prazo de entrega e confiabilidade do prazo proposto; (4) Qualidade do
produto em termos da especificação fornecida versus real desempenho; (5) Canal
32
de venda via Internet; (6) Profundidade da relação com o cliente; (7) Serviços em
geral (“hotline”, disponibilidade de peças sobressalentes etc); (8) Ferramentas para a
seleção de produtos; (9) Disponibilidade de produtos customizados/especiais.
Os dados relativos às empresas concorrentes foram obtidos de documentos
secundários de estudos da concorrência realizados pela empresa que se dispôs a
fornecer informações do setor para este estudo.
33
4- Resultados
Yin (2002) sugere que uma das formas de relatar os resultados encontrados
em um estudo de caso único é utilizar uma narrativa simples para descrever e
analisar o caso e as informações podem ser realçadas com tabelas, gráficos ou
imagens.
Os resultados desta pesquisa foram relatados dessa maneira, ou seja, com
uma narrativa simples e com os dados documentais coletados junto à empresa
abordada no estudo de caso. A apresentação dos resultados está estruturada
conforme a seguir. Primeiro foram relatadas as características dos mercados de
fabricantes de máquinas e usuários finais, conforme informado pelos entrevistados,
bem como provenientes dos dados documentais. Em seguida, os resultados foram
apresentados de uma maneira que auxiliem a responder, de uma forma exploratória,
às questões de pesquisa explicitadas no capítulo 3.
4.1 Informações do setor de automação industrial
O setor de automação industrial apresenta características de um mercado
oligopolista sendo que as três principais empresas do setor apresentam uma
participação conjunta de 70% do mercado total. A evolução da participação no
mercado dos três principais fornecedores desse mercado pode ser observada na
figura 3.
34
45%
40%
35%
Empresa 1
30%
Empresa 2
25%
Empresa 3
20%
15%
10%
5%
0%
2005
2006
2007
2008
2009
Fig. 3: Participação de mercado das três principais empresas do setor
Fonte: Dados da empresa líder do setor
Os mercados atendidos por essas empresas são divididos em dois grupos
principais, com características distintas:
(1) Mercado dos fabricantes de máquinas – Os clientes desse mercado utilizam
os produtos fornecidos pelas empresas do setor de automação industrial nos
seus produtos finais. Esses clientes buscam constantes reduções de custo na
sua cadeia produtiva com o intuito de aumentar as suas margens de venda,
bem como, em alguns casos, buscam ter um posicionamento de baixo custo
em seus mercados de atuação. Por isso, esse mercado valoriza alguns
fatores de qualidade, mas tem uma forte ênfase no preço dos componentes.
(2) Mercado de usuários finais – Esses clientes utilizam os produtos
comercializados pelas empresas do setor de automação industrial para a
manutenção e reposição de equipamentos já existentes ou até mesmo para
construção de equipamentos para o seu próprio uso. Esses clientes buscam
fornecedores que possam atuar como consultores técnicos, bem como
apresentem facilidades logísticas em termos de rapidez de fornecimento, ou
seja, diferenciação de produto, principalmente em termos de serviços.
Em termos de faturamento, os mercados de fabricante de máquinas e usuários
finais representam, respectivamente, 30% e 70% do total do faturamento.
A empresa 1, como pode ser observado na figura 3, tem uma ampla liderança no
mercado brasileiro de automação industrial. Quanto à rentabilidade dessa empresa,
não foi possível a divulgação dos valores da sua rentabilidade devido à exigência de
35
confidencialidade desta informação por parte da mesma, sendo possível divulgar
somente que ela apresenta um retorno sobre vendas (ROS) 30% acima da média do
seu setor.
A empresa 3 tem apresentado um alto e contínuo crescimento de participação no
mercado nos últimos cinco anos, ganhando principalmente porções de mercado que
eram atendidos pela empresa 2. A empresa 3 está utilizando uma estratégia de
penetração no mercado brasileiro, conforme informações coletadas junto ao
presidente da câmara dos fabricantes de produtos para a automação industrial
(vinculada à ABIMAQ – Associação brasileira da indústria de máquinas). A
estratégia competitiva desta empresa tem sido de aumentar a sua participação no
mercado em detrimento da rentabilidade da empresa no mercado brasileiro, o que
não é uma posição sustentável no médio e longo prazo.
Quanto a forma de atuação no mercado, as empresas 1 e 3 utilizam somente
força de vendas direta, sendo que a empresa 1 tem um contingente de vendedores
mais experiente e treinada do que a empresa 3. Por outro lado, a empresa 3 tem
uma quantidade proporcionalmente maior, com base no faturamento de cada
empresa, de vendedores do que a empresa 1. Já a empresa 2 utiliza tanto força
direta de vendas quanto distribuidores independentes, sendo respectivamente 60%
e 40% respectivamente a participação do faturamento da empresa com estes canais
de vendas, sendo que a maioria dos distribuidores atuam somente no mercado de
usuários finais. A força de vendas direta da empresa 2 apresenta um grau de
experiência intermediário entre os vendedores das empresas 1 e 3. Quanto aos
distribuidores da empresa 2, eles distribuem somente produtos dessa empresa, mas
atuam com outros linhas de produtos fabricados pela mesma em outros mercados
não relacionados com o setor de automação industrial.
4.2 Características dos mercados de fabricantes de máquinas e usuários finais.
A pesquisa buscou informações relativas às características em termos de
necessidades e atributos mais valorizados dos mercados representados pelos
fabricantes de máquinas e usuários finais para a tomada de decisão na compra de
produtos de automação industrial por meio das entrevistas e dados documentais.
Quanto ao mercado de fabricantes de máquinas, as entrevistas com todos os
executivos mostraram a importância que é dada por esse mercado ao preço, sendo
36
um dos principais atributos levados em consideração para a seleção dos
fornecedores.
As entrevistas realizadas colocaram que os principais motivos que levam os
fabricantes de máquinas a valorizarem esse atributo são que os produtos comprados
por eles se tornam insumos de seus produtos finais, bem como a menor
dependência técnica dos mesmos em relação aos seus fornecedores. Esses motivos
foram apresentados em todas as entrevistas, como na realizada com o gerente de
marketing:
“A característica mais marcante do mercado de OEM é a questão de demandar
preços mais baixos até porque o nosso produto vira insumo do produto final dele e,
por eles terem uma independência técnica maior, eles têm uma capacidade de
engenharia que dá a eles uma independência e por isso aumenta o poder deles de
barganha comercial.”
A independência técnica dos fabricantes de máquinas também foi relatada
pelo diretor comercial da empresa, conforme a seguir:
“Normalmente o fabricante de máquinas tem maior facilidade em termos de preparo
técnico, pois ele transfere tecnologia de sua matriz do exterior, sendo que muitas
vezes os produtos de automação industrial já vêm especificados nos projetos e
também por ter uma engenharia especialista no desenvolvimento deste tipo de
produto.”
A comercialização de produtos de automação industrial por preços mais
baixos no mercado de fabricantes de máquinas do que no de usuários finais foi
constatada também por meio de dados fornecidos pela empresa 1, os quais
mostram uma diferença significativa dos preços nos dois mercados, conforme tabela
abaixo:
37
Tabela 3: Preços médios praticados de alguns produtos nos mercados de
fabricantes de máquinas e usuários finais praticados pela empresa 1.
A
B
Produtos
C
Fabricante de
Máquinas
102
158
97
82
66
Usuário Final
163
169
234
109
92
Diferença
60%
7%
141%
34%
40%
D
E
Fonte: Pesquisa realizada pelo departamento de marketing da empresa 1.
A pesquisa constatou também que os fabricantes de máquinas têm um maior
incentivo em quantificar os benefícios provenientes de eventuais serviços agregados
aos produtos do que os usuários finais. Isto decorre novamente do fato de que o
controle de custos agregados ou evitados tem uma grande influência no custo total
de seu produto final e, consequentemente, na sua margem de contribuição. Os
usuários finais têm um menor incentivo em quantificar os benefícios, pois os custos
da aquisição dos produtos de automação industrial se tornarão despesas de
depreciação para o cliente, tendo um impacto relativamente menor no seu custo total
e, portanto, exercendo uma necessidade menor de controle. Essas características
foram explicitadas nas entrevistas e podem ser exemplificadas na entrevista com o
gerente da engenharia de produtos, conforme a seguir:
“Os OEMs têm necessidade de redução de custo, ou seja, a pressão de custo
devido à concorrência em seus mercados é maior, pois os produtos comprados
influenciam diretamente no negócio deles. No processo de desenvolvimento de uma
máquina eles já levam em conta isto. Já o end user está mais concentrado na
redução de custo que a solução irá gerar no seu processo em termos de aumento de
eficiência.”
Conforme mencionado anteriormente, a pesquisa verificou que os fabricantes
de máquinas possuem um alto conhecimento técnico para a seleção dos produtos
que são adquiridos no mercado, o que já não ocorre com os usuários finais, que
apresentam uma alta dependência técnica dos fornecedores de automação industrial
38
por não representar uma atividade principal na sua cadeia produtiva. A entrevista
com o gerente de marketing relatou essa característica, como a seguir:
“Os usuários finais têm uma dependência técnica maior e eles fazem até um
movimento contrário ao dos fabricantes de máquinas. Alguns anos atrás os usuários
finais tinham uma capacidade de engenharia maior, que eles foram descarregando
com o passar do tempo em função da necessidade de focar no que é seu negócio
principal.”
Outra característica marcante verificada na pesquisa foi a valorização de
aspectos relacionais, e nos usuários finais isto é ainda mais acentuado devido,
principalmente, à sua dependência técnica e ao maior número de contatos nesse
tipo de cliente. Praticamente em todas as entrevistas com os executivos, foi
evidenciada a necessidade do desenvolvimento do fator relacionamento com os
usuários finais em um maior grau do que com os fabricantes de máquinas. Além da
dependência técnica como motivador da acentuação do fator relacionamento nos
usuários finais, foi mencionada também a existência de um número maior de
contatos nesse tipo de cliente. Nos usuários finais a força de vendas tem interface
não somente com as áreas de engenharia de produto e compras, como ocorre nos
fabricantes de máquinas, mas também com as áreas de manutenção e engenharia
de manufatura. Os contatos podem ainda ser multiplicados devido a alguns clientes
terem diferentes unidades independentes pertencentes ao mesmo grupo. Essa
característica foi relatada com um maior detalhamento na entrevista com o diretor
comercial, conforme a seguir:
“Os contatos no fabricante de máquinas se resumem a dois públicos, projetos e
compras. Nos usuários finais há três públicos diferentes ou até mais, pois muitas
vezes você tem várias unidades distintas e, portanto, a cadeia de relacionamento é
muito maior nesse tipo de cliente.”
Outra característica mencionada nas entrevistas foi quanto ao produto e seu
desempenho, e, neste caso, ambos os tipos de clientes demandam praticamente os
mesmos produtos e preocupam-se igualmente com o seu desempenho. O
desempenho dos produtos tem alta importância nos fabricantes de máquinas, pois
39
vai influenciar diretamente a sua reputação no mercado e seus custos de assistência
técnica no período de garantia. Já nos clientes finais, o desempenho do produto é
um fator decisivo na produtividade e confiabilidade de seus processos produtivos.
Todas as entrevistas relataram esta característica, como a do gerente de produtos,
como a seguir:
“Os fabricantes de máquinas buscam fornecedores que tenham produtos que
tenham desempenho conforme o especificado e de uma forma constante, pois o seu
mercado é altamente influenciado por isto.”
“Os usuários finais, principalmente a indústria de processo, não podem interromper
os seus processos produtivos e a confiabilidade dos produtos utilizados é de vital
importância.”
Para a validação dos dados obtidos com as entrevistas semi-estruturadas
junto aos executivos foi realizada uma análise Manova (Tabela 4 e Apêndice C) e
Regressão Logística (Anexo A- Tabela 11 e Apêndice D) com os resultados obtidos
por meio das entrevistas estruturadas com a força de vendas da empresa.
Tabela 4: Análise Manova dos atributos de qualidade e preço.
Atributos de Qualidade
Diferença estimada
da média do usuário
Desvio
final em relação ao
Padrão
fabricante de
máquina
Mínimo
Máximo
Inovação
0.000
0.214
-0.628
0.628
Time-to-market
0.010
0.285
-0.825
0.844
Disponibilidade / confiabilidade
-0.133
0.130
-0.514
0.248
Preço
-0.749
0.191
-1.310
-0.188 ****
Qualidade do produto
0.014
0.158
-0.449
0.476
E-Commerce
0.615
0.255
-0.132
1.360
Relacionamento com o cliente
0.198
0.177
-0.319
0.716
Serviços em geral
0.564
0.245
-0.155
1.280
(Hotline, peças de reposição, ...)
Ferramentas p/ seleção de
-0.644
0.234
-1.330
0.043
produtos
Produtos especiais
-0.084
0.219
-0.724
0.557
Intervalos que não contenham 0 são marcados com '****', ou seja, o preço é
maior no mercado de usuários finais do que no mercado de fabricantes de
máquinas com um intervalo de confiança de 5%.
40
A Manova foi utilizada para analisar as diferenças entre as médias dos
atributos e a regressão logística para verificar, com 10% de significância, quais são
os atributos que apresentam realmente diferença entre as médias.
Os dados obtidos na entrevista estruturada e a análise estatística confirmaram que o
preço tem maior importância para os fabricantes de máquinas, como foi relatado nas
entrevistas com os executivos e nos dados de preços médios dos produtos
comercializados.
Em relação aos atributos que são relacionados aos produtos físicos, ou seja,
inovação, tempo para desenvolvimento de novos produtos e qualidade dos produtos,
foi verificado praticamente o mesmo grau de importância para os dois mercados,
confirmando as informações obtidas nas entrevistas.
O atributo relacionado aos serviços em geral mostrou um grau de importância
maior para os clientes que são usuários finais, o que também corrobora as
informações obtidas nas entrevistas.
O atributo que relaciona a possibilidade de os clientes selecionarem sozinhos
os seus produtos tem uma maior importância para os fabricantes de máquinas. Isso
já era esperado devido ao maior grau de preparo desses clientes em termos
técnicos e à possibilidade de eles selecionarem os produtos sem o suporte técnico
direto da força de vendas.
Na Tabela 5 estão apresentadas, resumidamente, as principais características
das demandas em cada tipo de cliente.
41
Tabela 5: Características das demandas em cada tipo de cliente.
Tipo de Cliente
Atributos
Fabricantes de
Máquinas
Usuários Finais
Preço
Alta ênfase em preço
Pouca ênfase no preço
Suporte técnico
Pouca necessidade
Alta necessidade
Desempenho do produto
Alta ênfase
Alta ênfase
Capacidade de
quantificação dos
Baixa
Alta
serviços agregados
Relacionamento
(Percepção é mais
importante)
Regular importância
Alta importância
4.3 Resultados relacionados à questão de pesquisa “Por que empresas na
indústria de bens de capital atuam com a estratégia híbrida para terem um
desempenho superior?”
Nas entrevistas realizadas com todos os executivos da empresa 1, houve a
confirmação de que a empresa atua tanto no mercado de fabricante de máquinas
quanto no mercado de usuários finais, sendo relatado que as participações desses
mercados no faturamento da empresa são de 30% e 70%, respectivamente.
O motivo principal mencionado nas entrevistas com os executivos da empresa
para atuar nos dois mercados foi que existe uma alta relação entre eles, ou seja, a
empresa só consegue atuar em um mercado se também atuar no outro. A alta
relação estratégica entre os dois mercados para a empresa estudada decorre do
fato de uma grande parte do mercado das empresas de usuários finais ser somente
acessível aos que tiverem uma forte atuação no mercado de fabricantes de
máquinas. Isso decorre pelo fato dos usuários finais buscarem reposição e
manutenção de seus equipamentos com componentes originais, conforme
especificação dos fabricantes dos equipamentos. A atuação no mercado de usuários
finais também se mostrou importante porque estes clientes têm poder de especificar
qual produto deverá ser utilizado pelos fabricantes de máquinas nos equipamentos
42
em que eles estão adquirindo. Esta dependência entre os mercados é ainda mais
acentuada pelo fato de a maioria dos componentes de automação industrial não
seguir padrões estabelecidos mundialmente em termos de desempenho e
dimensionais e, consequentemente, a substituição por um componente de outro
fabricante é bastante complexa.
A dependência entre os dois mercados ficou evidente em todas as entrevistas
realizadas, como podemos verificar em alguns relatos a seguir:
Gerente de produto:
“Existem dois motivos para a empresa atuar nos dois mercados. O primeiro é a
própria necessidade do mercado, já que uma vez que você fornece para o fabricante
de máquina, você precisa fornecer para o usuário final para a reposição e então
obriga você a ter contato ou ter uma estrutura de venda para atender o usuário final.
O outro fator, aí sim estratégico da empresa, porque, se ela não atender o usuário
final, ele não gera especificações no fabricante de máquina e, consequentemente,
você perde o mercado de fabricante de máquina.”
Diretor comercial:
“O importante é buscar fazer com que o usuário final seja o homologador ou o
especificador realmente da marca para o fabricante de máquina. Esta é a grande
missão, porque muitas vezes o fabricante de máquinas trabalha com o aspecto do
custo da máquina e aí muitos deles tentam argumentar junto aos usuários finais a
compra de produtos mais baratos.”
Outro fator que facilita a adoção da estratégia híbrida é a utilização de
produtos físicos iguais nos dois mercados. Isto foi relatado pelo gerente de
marketing, como a seguir:
“A atuação nos dois mercados é uma conveniência porque o tipo de produto e as
necessidades do mercado em termos de produto são muito similares. Então o
desenvolvimento de produtos para o fabricante de máquinas lhe dá condições
plenas de atuar também no usuário final.”
43
4.4 Resultados relacionados à questão de pesquisa “Como a estratégia híbrida
pode ser executada de forma a gerar desempenho superior?”
Para detalhar essa questão foram utilizados tanto dados quantitativos obtidos
de fontes documentais e entrevista estruturada, como informações qualitativas
provenientes das entrevistas semiestruturadas realizadas com os executivos da
empresa 1.
Os dados quantitativos estão relacionados à combinação de preço praticado e
qualidade percebida pelo cliente, ofertada aos dois tipos de clientes pelos três
principais fornecedores do mercado.
Os dados levantados quanto a preços praticados pelos três principais
fornecedores, nos mercados de fabricante de máquinas (OEM) e usuários finais (end
user) são apresentados na tabela 6.
Tabela 6: Preços praticados pelas três principais empresas nos fabricantes de
máquinas (OEM) e usuários finais (end user)
Porduto A
End
OEM
user
Produto B
End
OEM
user
Empresa 1
102
163
158
169
97
234
82
109
66
92
Empresa 2
98
152
145
172
85
223
90
111
63
85
Empresa 3
53
132
128
128
78
196
60
104
61
84
25%
20%
36%
5%
8%
10%
Diferença
máxima
93% 24%
23% 34%
Produto C
End
OEM
user
Produto D
End
OEM
user
Produto E
End
OEM
user
Fonte: Dados documentais da empresa 1
A tabela 6 revela que a empresa 1 consegue um preço de mercado acima do
preço dos seus concorrentes em quase todos os produtos, bem como nos dois tipos
de clientes, com uma única exceção, sendo que o produto B no mercado de usuário
final é fornecido pela empresa 2 com um preço acima do que o preço da empresa 1.
A qualidade percebida pelo cliente foi obtida, como mencionado no capítulo
referente à coleta de dados, por meio de uma fonte documental da empresa 1, bem
como pela entrevista estruturada realizada na força de vendas da mesma. A
44
informação quanto aos atributos de qualidade percebida pelos clientes dos três
principais fornecedores é mostrada graficamente no anexo (A) e na tabela 7.
Tabela 7: Qualidade percebida pelos clientes dos três principais fornecedores de
produtos de automação industrial
Atributos de qualidade
Disponibi
Qualida
Inova Time-to- lidade /
de do
ção
market confiabili
produto
dade
ECommerce
Relacion
amento
com o
cliente
Serviços Ferramentas
Produtos
em
p/ seleção de
especiais
geral
produtos
Empresa 1
5,58
4,50
4,99
5,57
4,57
5,43
5,09
5,56
4,50
Empresa 2
3,33
3,21
3,34
4,30
2,71
3,23
3,21
3,28
2,84
Empresa 3
5,03
4,67
4,34
5,23
2,78
4,47
4,11
4,39
4,54
Fonte: Instituto de pesquisa independente contratado pela empresa estudada
A mensuração do grau de importância que é conferido a cada um dos
atributos de qualidade pelos dois tipos de clientes foi obtida pelas entrevistas
estruturadas com a força de vendas da empresa estudada, conforme a tabela 8.
Tabela 8: Grau de importância conferido aos atributos de qualidade pelos fabricantes
de máquinas (OEM) e usuários finais (end user)
Atributos de qualidade
Disponibi
Qualida
Inova Time-to- lidade /
de do
ção
market confiabili
produto
dade
ECommerce
Relacion
amento
com o
cliente
Serviços Ferramentas
Produtos
em
p/ seleção de
especiais
geral
produtos
End user
4,00
3,72
4,72
4,62
2,79
4,45
4,21
3,03
3,34
OEM
4,00
3,71
4,86
4,61
2,18
4,25
3,64
3,68
3,43
Fonte: Entrevistas estruturadas realizadas com a força de vendas.
Para a obtenção do construto que representa a qualidade percebida dos
produtos distribuídos pelos três fornecedores nos dois diferentes tipos de clientes,
fabricantes de máquinas e usuários finais, foi feita a interação entre a pesquisa
45
realizada pelo instituto independente quanto aos atributos de qualidade percebida
pelos clientes dos produtos distribuídos pelos três principais fornecedores do
mercado (Tabela 7) e o grau de importância que é dado para cada atributo pelos
dois tipos de clientes, a qual foi obtida junto à força de vendas (Tabela 8).
O resultado da interação entre esses dados está nas tabelas 9 e 10.
Tabela 9: Atributos de qualidade percebidos dos produtos comprados pelos usuários
finais.
Inovação
Time-to-market
Disponibilidade
/ confiabilidade
Qualidade do
produto
E-Commerce
Relacionamento
com o cliente
Serviços em
geral
(Hotline, peças
de reposição, ...)
Ferramentas p/
seleção de
produtos
Produtos
especiais
Atributos de qualidade- Usuários finais
Média
Empresa 1
22,34
16,74
23,53
25,73
12,74
24,17
21,45
16,85
15,03
19,84
Empresa 2
13,30
11,92
15,76
19,87
7,56
14,36
13,52
9,95
9,50
12,86
Empresa 3
20,13
17,35
20,50
24,16
7,75
19,89
17,31
13,31
15,17
17,29
Fonte: Instituto independente e entrevistas estruturadas com a força de vendas da empresa
estudada.
Tabela 10: Atributos de qualidade percebidos dos produtos comprados pelos
fabricantes de máquinas.
Inovação
Time-to-market
Disponibilidade
/ confiabilidade
Qualidade do
produto
E-Commerce
Relacionamento
com o cliente
Serviços em
geral
(Hotline, peças
de reposição, ...)
Ferramentas p/
seleção de
produtos
Produtos
especiais
Atributos de qualidade- Fabricantes de Máquinas
Média
Empresa 1
22,34
16,69
24,23
25,68
9,95
23,09
18,54
20,46
15,44
19,60
Empresa 2
13,30
11,89
16,23
19,83
5,90
13,71
11,69
12,09
9,75
12,71
Empresa 3
20,13
17,31
21,10
24,11
6,06
19,00
14,97
16,16
15,58
17,16
Fonte: Instituto independente e entrevistas estruturadas com a força de vendas da empresa
estudada.
Observou-se, com os dados obtidos nas tabelas 9 e 10, que a empresa 1
apresentou uma média superior em termos de qualidade percebida pelo cliente tanto
no mercado de usuários finais quanto no de fabricantes de máquinas. O inverso
46
ocorre com a empresa 2, a qual apresenta a menor média entre as empresas
atuantes quanto ao atributo de qualidade percebida pelo cliente.
A análise das informações quanto à combinação de preço (tabela 6) e a
qualidade percebida pelo cliente (tabelas 9 e 10) indica que a empresa 1 consegue
posicionar um preço acima do preço dos seus concorrentes diretos, devido
principalmente à percepção de que a oferta dela proporciona uma qualidade superior
em relação aos seus concorrentes. Como pode ser constatado pela participação da
empresa 1 no mercado, a combinação de preço e qualidade ofertado por ela
proporciona um lucro econômico superior à uma parcela significativa dos clientes
desse mercado, em relação às ofertas dos seus concorrentes.
Já a empresa 2 pratica preços intermediários em relação às empresas 1 e 3
(tabela 6), sendo que eles estão muito mais próximos ao da empresa 1do que os
praticados pela empresa 3. Contudo os clientes percebem a sua qualidade como
sendo a pior entre as três empresas e esse fato pode explicar a constante perda de
participação de mercado dessa empresa nos últimos cinco anos, conforme mostrado
na figura 3.
Conforme Kenyon (1992), a empresa que consegue ter ofertas que levam a
decisões de compras em seu favor pode determinar uma posição de mercado
privilegiada para a mesma. O que pode ser constatado pela sua participação no
mercado e, rentabilidade superior proveniente, principalmente, do posicionamento
de preço superior ao dos concorrentes.
Os resultados relativos às características dos diferentes tipos de clientes
indicaram diferenças significativas em termos de demandas e necessidades, o que
mostra a importância no reconhecimento e adequação, por parte das empresas
fornecedoras, das suas ofertas para os diferentes tipos de mercados. Nas
entrevistas com os executivos, foi verificado que a empresa 1 constituiu equipes de
vendas distintas para atender esses dois mercados, devido às diferenças das
competências específicas necessárias dos profissionais de vendas para cada
mercado em conseqüência das características distintas deles.
No caso dos clientes fabricantes de máquinas, o vendedor tem de apresentar
um perfil mais negociador, pela maior ênfase no preço que é dada por esse tipo de
cliente e por menor necessidade de conhecimentos técnicos, pois esses clientes têm
um melhor preparo técnico para a escolha dos produtos mais adequados para as
suas aplicações. Já no caso dos clientes usuários finais, os vendedores precisam ter
47
um perfil mais técnico para suportar os clientes nas escolhas de produtos e
facilidade para estabelecer relacionamentos de confiança, bem como obter uma
rede maior de contatos entre esses clientes, o que não é tão necessário em clientes
que são fabricantes de máquinas. Essas características foram relatadas em todas as
entrevistas, como nas do diretor comercial e do supervisor de vendas, conforme a
seguir:
Diretor comercial:
“As características dos vendedores são diferentes. O trabalho em um OEM é um
pouco mais agressivo devido à questão das negociações, ou seja, precisa
profissionais mais negociadores, enquanto no end user é mais técnico. Não que não
seja necessário de conhecimentos negociais nos end users, mas precisa em uma
menor escala do que em relação ao OEM. Outra coisa é quanto à frequência de
visitas. Normalmente em um OEM é muito mais rápida do que em um end user,
porque, uma vez que você definiu o projeto, o processo torna-se repetitivo. Ainda
nos OEMs o contato muitas vezes acontece com os donos das empresas
diretamente nas menores e no máximo com dois públicos nas maiores. Já no end
user há três ou mais públicos de contato, pois você precisa conversar com a
engenharia, manutenção e compras, e às vezes com várias unidades, o que exige
um vendedor com mais conhecimento
técnico e
apto a
manter vários
relacionamentos no cliente.”
Supervisor de vendas:
“O vendedor que atende fabricantes de máquinas tem de ser ágil e esperto para não
perder negócio, brigar internamente para atender prazos de entrega diferenciados e
sempre brigar no centavo. Porque se ele perder uma conta, não é fácil repor. O
vendedor do usuário final é o contrário, ele tem de oferecer serviço, novos produtos,
mostrar tendências para os clientes e fazer reuniões de produtos. Com isto ele vai
criando os pequenos projetos, ou seja, soluções dentro dos clientes. Se ele para,
não tem projeto e então ele tem que o tempo todo se relacionar para alimentar isto.”
Devido à interdependência que existe entre os dois mercados, a empresa 1
implantou um sistema de incentivo para estimular as distintas equipes de venda a se
comunicarem e até mesmo prepararem estratégias conjuntas nos segmentos de
48
negócios dos clientes. A porção variável do salário dos vendedores é dividida em
duas partes, sendo 70% dependente do desempenho individual do vendedor e os
30% restantes relacionados aos resultados das vendas nos segmentos de negócios
em que ele está inserido. Na força de vendas que atendem os segmentos de
negócios (por exemplo, segmento alimentício) encontram-se tanto vendedores da
equipe de fabricantes de máquinas quanto da de usuários finais e este incentivo irá
promover a cooperação e troca de informações nas vendas que estão interligadas
nos seus segmentos específicos. Esse sistema foi detalhado pelo diretor comercial,
como a seguir:
“Existe um incentivo para a equipe. O bônus mensal se compõe por 70% em função
dos resultados das vendas individual e os 30% restantes são relacionados aos
resultados atingidos nos segmentos em que atuam.”
O treinamento da força de vendas e o tamanho dela foram mencionados em
todas as entrevistas como um diferencial da empresa. A entrevista com o
coordenador de vendas da região SP e RJ exemplifica esse ponto, como a seguir:
“A força de vendas direta que nós temos em termos de quantidade de vendedores e
bem treinada é o nosso grande diferencial em relação aos concorrentes. Isto leva
tempo para se formar.”
A força de vendas direta mostrou-se como um ativo da empresa 1 em que a
imitação por parte dos concorrentes se torna extremamente custosa, o que diminui
muito o incentivo para isto. A empresa que quiser desenvolver uma força de vendas
semelhante terá de investir em um grande número de vendedores e treiná-los por
um longo período de tempo sem que haja um retorno substancial nesse período.
Portanto, conforme Cool et al. (2002), a vantagem competitiva pode ser sustentada
por um ativo em que não haja incentivo para imitá-lo por parte dos concorrentes e
com isto ter uma posição privilegiada em seu mercado, o que ocorre com a empresa
1.
49
4.5 Proposições no campo das estratégias genéricas
Nesta seção, discutem-se as principais implicações que este estudo pode ter
para a teoria relativa às estratégias genéricas e suas contingências.
Estudos prévios sobre este tema inferiram algumas contingências que podem
incentivar empresas a adotarem a estratégia híbrida. Miller e Friesen (1986)
sugeriram que mercados que precisam altos investimentos em marketing favorecem
a utilização de estratégias híbridas. Hill (1988) e Murray (1988) inferiram que as précondições para a utilização das estratégias genéricas puras não são completamente
excludentes entre si e a utilização em conjunta delas é possível em determinadas
condições.
Charitou e Markides (2004) relataram que a similaridade entre os mercados é
um fator que pode favorecer a atuação com a estratégia híbrida. Contudo, como se
pode observar neste estudo realizado no setor de automação industrial, as
características dos mercados de fabricantes de máquinas são bastante distintas em
relação ao de usuários finais e, portanto essa contingência não é decisiva para esse
setor.
O que este estudo traz de novo é mostrar que a interdependência entre o
mercado que enfatiza o preço e o mercado que valoriza a diferenciação de produto
pode ser um fator decisivo para a adoção da estratégia híbrida. Nesta pesquisa foi
verificado que este fator pode ser determinante para a escolha da combinação das
estratégias genéricas para se obter um desempenho superior.
Os dados da pesquisa mostraram evidências de que a atuação da empresa
no mercado que valoriza a diferenciação de produtos tem interferência direta na
tomada de decisão dos clientes que pertencem ao mercado que enfatiza preço, bem
como o inverso também é verdadeiro. No setor estudado, as empresas participantes
dele precisam atuar nos dois mercados, para que os usuários finais os especifiquem
junto aos fabricantes de máquinas, bem como para que seus produtos sejam
selecionados nos fabricantes de máquinas a fim de que possam atuar no futuro nos
usuários finais, mostrando a alta interdependência entre eles. A estratégia de
atuação nos dois mercados também mostrou que as empresas apresentam um
maior poder de barganha de preços nos fabricantes de máquinas quando elas são
especificadas ou homologadas pelos usuários finais, o que pode aumentar a sua
50
rentabilidade. Com base nas evidências encontradas coloca-se a seguinte
proposição:
Proposição 1 - Em setores que tenham uma alta interdependência entre os clientes
que enfatizam preço e os que priorizam a diferenciação de produto, a estratégia
híbrida é a mais adequada para se obter um desempenho superior.
A força de vendas direta e distinta para os dois diferentes tipos de clientes, os
que enfatizam preço e os que valorizam a diferenciação de produtos, mostrou-se a
forma mais adequada de atuação em empresas que atuam com a estratégia híbrida
em setores com alta interdependência em seus distintos mercados.
Pelas diferentes características entre os dois tipos de clientes, conforme
mostrado na tabela 5, as habilidades e os conhecimentos necessários dos
vendedores para atender cada tipo de cliente são diferentes, o que inviabiliza a
utilização de uma força de vendas única para todos os clientes.
Outro fator que o estudo evidência é quanto à conveniência de utilizar força
de vendas direta nos dois diferentes mercados desse setor da indústria de bens de
capital. No mercado que enfatiza o preço, ou seja, os fabricantes de máquinas, a
barganha de preços na negociação é intensa e diferentes condições de preços
muitas vezes são necessárias para que ocorram os negócios. A utilização de força
de vendas direta pode propiciar uma maior facilidade na negociação interna dessas
condições comerciais para esses clientes.
Quanto ao mercado que valoriza a diferenciação de produtos, uma das
características identificada nele foi uma menor preocupação com o preço, mas o
grande valor que é reconhecido por ele quanto à assessoria técnica que o
fornecedor oferece.
A avaliação do atributo de qualidade percebida pelos clientes da empresa 2
(tabela 9 e 10) evidencia a dificuldade de não se utilizar força de vendas direta
nesse setor da indústria de bens de capital, ou seja, a empresa 2 tem perdido
participação de mercado para a empresa 3 e conseqüentemente está posicionada,
conforme Porter(1980), em “Stuck in the Middle”. A empresa 3 não apresenta
vantagem de preço em relação à empresa 3, bem como vantagem em diferenciação
de produto em relação à empresa 1.
51
O incentivo aos vendedores, por meio da parcela do bônus relacionado ao
desempenho da equipe, para estimular a comunicação e até mesmo a preparação
de estratégias conjuntas nos segmentos de negócios onde atuam em conjunto é
outro fator que foi enfatizado neste estudo. Este incentivo torna-se, principalmente,
necessário em mercados que apresentam interdependência entre seus clientes.
Portanto o estudo apresenta a seguinte proposição:
Proposição 2 - A utilização de força de vendas direta e distinta, mas com incentivos
para a cooperação constante entre elas, é a forma mais adequada de organização
comercial em empresas que utilizem a estratégia híbrida, para atender mercados
com interdependência entre seus clientes.
52
5- Conclusão
A pesquisa no campo das estratégias genéricas tem sido de grande interesse
para os pesquisadores e utilizada no meio empresarial devido a sua abrangência e
facilidade de entendimento para a prática gerencial.
As inferências de Porter de que empresas que adotassem mais de uma
estratégia genérica pura estariam determinadas a terem desempenho inferior
levaram vários pesquisadores a concordarem e discordarem desta proposição por
meio de trabalhos teóricos e empíricos.
Mas este assunto ainda não está definitivamente detalhado e várias pesquisas têm
sido realizadas abordando aspectos contingenciais para a adoção da estratégia
genérica híbrida.
Esta pesquisa se propôs a analisar, por meio de estudo de caso de um setor
na indústria de bens de capital do mercado brasileiro, aspectos contingenciais que
podem incentivar empresas a adotarem a estratégia híbrida. A pesquisa analisou
também a forma como elas conseguem com essa estratégia obter desempenhos
superiores.
O estudo sugere uma contingência a qual ainda não tinha sido evidenciada
em trabalhos anteriores, ou seja, a importância da influência que os mercados que
enfatizam preço e os mercados que valorizam a diferenciação de produtos podem
exercer entre si para a tomada de decisão na seleção de fornecedores. Esta
contingência, ou seja, o grau de interdependência entre esses dois mercados, pode
exercer uma grande influência para que fornecedores desses mercados adotem ou
não a estratégia híbrida para atuar neles.
Este trabalho infere que quanto maior o grau de interdependência entre esses
mercados, maior é a necessidade que seus fornecedores adotem a estratégia
híbrida.
Outra contribuição deste estudo, para o detalhamento das estratégias
competitivas, é quanto ao melhor modelo de organização da força de vendas, em
empresas com estratégia híbrida, para atender mercados que apresentem alta
interdependência entre seus clientes. O estudo sugere que a utilização de força de
vendas direta e distinta é a melhor forma de atuar quando temos tais condições e
mostrou que deve ser incentivada a cooperação entre as diferentes equipes. O
53
estudo de caso no setor de automação industrial mostrou, com a análise das
empresas 1 e 2, que este fator é crítico para se evitar uma posição de “stuck in the
middle”, quando não se tem uma vantagem em termos de preço.
No campo gerencial, este estudo contribui para o melhor entendimento do
mercado de bens de capital, bem como sugere que executivos que estão envolvidos
em mercados com uma alta interdependência entre os seus atores devem
questionar a proposição de Porter de que a única maneira de obter desempenho
superior seja a adoção de uma das estratégias genéricas puras como única
alternativa. Eles devem considerar a possibilidade de adoção da estratégia híbrida.
E caso optem por ela, devem dar particular atenção à como irá atuar nos distintos
mercados em termos da estruturação da força de vendas e modo de incentivo para
que exista cooperação entre os vendedores nos diferentes clientes .
Como limitação deste estudo, pode-se citar a utilização da força de vendas
direta da empresa estudada para a medição da importância conferida pelos
diferentes tipos de clientes aos atributos de qualidade dos produtos, porém pela
formação e experiência da força de vendas da empresa estudada, a utilização
dessas informações mostrou-se viável.
Por fim, este estudo, como é característico em pesquisas qualitativas,
apresenta
limitações
quanto
a
estabelecer
ou
até
mesmo
esclarecer,
definitivamente, quais são as relações de influência entre os fatores contingenciais e
a adoção da estratégia híbrida.
Portanto, as considerações colocadas neste estudo de caso único, como
pesquisa exploratória, devem ser entendidas como contribuições preliminares sobre
as contingências que influenciam a adoção da estratégia híbrida e como fatores que
levam a um desempenho superior em empresas que adotam esse tipo de estratégia.
A partir disso, alguns estudos podem ser propostos com base nas evidências
constatadas neste trabalho, tal como um maior detalhamento dos fatores que
determinam a interdependência entre empresas que atuam em uma mesma cadeia
de negócio e quais deles influenciam mais a adoção da estratégia híbrida.
Por fim, outro estudo proposto é com relação aos tamanhos dos mercados
que valorizam mais a diferenciação de produto e os que enfatizam preço, e sua
influência na adoção da estratégia híbrida.
54
REFERÊNCIAS
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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi. – 3. ed. Porto
Alegre: Bookman, 2005. 212 p.
56
Apêndice A
Guia para entrevista focada com os executivos da empresa
A.1. Mercado de atuação da empresa
Quais mercados a empresa atua em termos de tipos de cliente, OEM e/ou Enduser?
Porque ela atua nos dois mercados? Porque não foca em um único mercado? O
setor de automação industrial apresenta alguma caracteristica que a atuação nos
dois mercados seja necessária ou a mais indicada?
A.2. Caracteristicas dos Mercados
Quais são as principais características do mercado representado pelos fabricantes
de máquinas? (Preços, serviço agregado e valorização do mesmo)
Quais são as principais características do mercado representado pelos usuários
finais? (Preços, serviço agregado e valorização do mesmo)
Os fabricantes de máquinas conseguem quantificar as vantagens dos diferentes
fornecedores em termos de serviços agregados e produtos na tomada de decisão de
realizar o negócio?
Os usuários finais conseguem quantificar as vantagens dos diferentes fornecedores
em termos de serviços agregados e produto na tomada de decisão de realizar o
negócio?
Qual deles tem uma maior capacidade para quantificar estas vantagens?
Qual dos clientes tem mais conhecimentos técnicos e precisa menos suporte técnico
para decidir a compra de equipamentos de automação industrial?
57
Qual o tipo de cliente, fabricante de máquina ou usuário final, que usa mais os
produtos desenhados especialmente para as suas aplicações de automação
industrial?
A.3. Formas de atuação nos Mercados
Existem estratégias diferenciadas para o atendimento dos dois diferentes tipos de
mercados?
Existem diferenças nas ofertas para os dois distintos mercados?
Quanta liberdade é delegada aos consultores de vendas para ajustar as suas
propostas em relação ao preço ofertado ou serviços a serem agregados?
Existe maior ou menor liberdade de ação aos consultores em algum destes
mercados?
A.4 Esforço de Marketing
Existem esforços de propaganda e promoção direcionados de forma distinta para os
dois tipos de mercados?
Qual dos dois mercados exige um maior investimento de Marketing?
Em qual dos dois mercados a Marca tem maior importância na tomada de decisão
de compra?
58
Apêndice B
Questionário para coleta de dados referente ao grau de importancia dos requisitos
aos clientes.
Este questionário se destina a coleta de dados para uma pesquisa acadêmica
relacionada as estratégias de atuação junto aos mercados de OEM e End user.
Tipo de clientes atendidos:
( ) OEM
( ) End User
De acordo com a sua percepção, classifique o quanto os seus clientes conferem
importancia aos seguintes requisitos na realização da compra, sendo que para
realizar a classificação considere a seguinte pontuação:
( ) 1 – Nenhuma importância
( ) 2 – Pouca importância
( ) 3 – Regular importância
( ) 4 – Importância
( ) 5 – Muita importância
Requisitos a serem analisados:
1- Inovação de produtos
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
2 - Tempo entre o inicio de desenvolvimento de um novo produto e disponibilidade
para o mercado
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
3 - Prazo de entrega e confiabilidade do prazo proposto
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
59
4- Preço dos produtos
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
5 - Qualidade do produto em termos da especificação fornecida versus real
desempenho
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
6 - Canal de venda via Internet
7 - Profundidade da relação com o cliente
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
8 - Serviços em geral (“hotline” , disponibilidade de peças sobressalentes e etc)
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
9 - Ferramentas para a seleção de produtos
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
10 - Disponibilidade de produtos customizados/especiais
( )
( )
( )
( )
( )
1
2
3
4
5
60
Apêndice C - Análise Manova dos atributos do produto junto aos mercados de fabricantes de máquinas e usuários finais
*** Discriminant Analysis ***
Call:
discrim(structure(.Data = Y ~ X1 + X2 + X3 + X4 + X5 + X6 + X7 + X8 + X9 + X10, class = "formula"), data =
Consolida..o.das.pesquisas, family =
Classical(cov.structure = "homoscedastic"), na.action = na.omit, prior = "none")
Group means:
X1
X2
X3
X4
X5
X6
X7
X8
X9
X10 N
0 4 3.724138 4.724138 3.965517 4.620690 2.793103 4.448276 4.206897 3.034483 3.344828 29
1 4 3.714286 4.857143 4.714286 4.607143 2.178571 4.250000 3.642857 3.678571 3.428571 28
Covariance Structure: homoscedastic
X1
X2
X3
X4
X5
X6
X7
X8
X9
X10
X1 0.6545455 0.036364 0.0363636 -0.0181818 0.1454545 0.1818182 0.2363636 0.1272727 0.1090909 0.2000000
X2
1.154680 0.1027318 -0.1011196 -0.0214062 0.0140618 -0.0984326 0.0690551 -0.0962830 0.3670399
X3
0.2403941 0.0651142 0.0435289 -0.0534707 0.0652038 0.1132109 -0.0183609 -0.0095835
X4
0.5214510 0.0086879 -0.0505150 -0.0827586 0.0790864 0.1356919 -0.0586655
X5
0.3546574 0.1216077 0.0305643 0.2063144 0.1062472 0.1001343
X6
0.9248321 0.1716301 0.3277653 0.2693462 -0.0740708
X7
0.4440439 0.1056426 0.1054859 0.0639498
X8
0.8579489 0.1741603 0.0948500
X9
0.7831393 0.1547694
X10
0.6801612
Constants:
0
1
-101.7514 -109.3366
Linear Coefficients:
X0
X1
X1 -1.58324 -1.37504
X2
3.09346
3.34918
X3 13.44980 13.86220
X4
8.97081 10.15933
X5 11.22622 11.51542
X6
2.62538
1.97529
X7
9.82525
9.69973
X8 -2.85283 -3.72599
X9 -0.44881
0.61263
X10
2.88650
2.69740
61
Tests for Homogeneity of Covariances:
Statistic df
Pr
Box.M 46.22087 55 0.7943932
adj.M 37.46943 55 0.9660969
Tests for the Equality of Means:
Group Variable: Y
Statistics
F df1 df2
Pr
Wilks Lambda
0.60478 3.0061 10 46 0.0053072
Pillai Trace
0.39522 3.0061 10 46 0.0053072
Hotelling-Lawley Trace
0.65350 3.0061 10 46 0.0053072
Roy Greatest Root
0.65350 3.0061 10 46 0.0053072
* Tests assume covariance homoscedasticity.
F Statistic for Wilks' Lambda is exact.
F Statistic for Roy's Greatest Root is an upper bound.
Hotelling's T Squared for Differences in Means Between Each Group:
F df1 df2
Pr
0-1 3.006087 10 46 0.005307194
95% Simultaneous Confidence Intervals Using the Sidak Method:
Estimate Std.Error Lower Bound Upper Bound
0.X1-1.X1 0.00000
0.214
-0.628
0.6280
0.X2-1.X2 0.00985
0.285
-0.825
0.8440
0.X3-1.X3 -0.13300
0.130
-0.514
0.2480
0.X4-1.X4 -0.74900
0.191
-1.310
-0.1880 ****
0.X5-1.X5 0.01350
0.158
-0.449
0.4760
0.X6-1.X6 0.61500
0.255
-0.132
1.3600
0.X7-1.X7 0.19800
0.177
-0.319
0.7160
0.X8-1.X8 0.56400
0.245
-0.155
1.2800
0.X9-1.X9 -0.64400
0.234
-1.330
0.0433
0.X10-1.X10 -0.08370
0.219
-0.724
0.5570
(critical point: 2.9316 )
* Intervals excluding 0 are flagged by '****'
Mahalanobis Distance:
X0
X1
0 0.000000 2.523046
1
0.000000
62
Kolmogorov-Smirnov Test for Normality:
Statistic Probability
X1 0.0769709
0.8882546
X2 0.1154857
0.4326777
X3 0.1088782
0.5087787
X4 0.0940267
0.6947217
X5 0.0600591
0.9863022
X6 0.1063355
0.5395694
X7 0.0761849
0.8953402
X8 0.0737148
0.9161037
X9 0.0701420
0.9418425
X10 0.0804737
0.8541130
Plug-in classification table:
X0 X1
Error Posterior.Error
0 23 6 0.2068966
0.2332456
1 5 23 0.1785714
0.1704810
Overall
0.3854680
0.2024139
(from=rows,to=columns)
Optimal Error Rate:
0
1
overall
0.1473901 0.1473901 0.1473901
Rule Mean Square Error: 0.2938721
(conditioned on the training data)
Cross-validation table:
X0 X1
Error Posterior.Error
0 18 11 0.3793103
0.3030045
1 7 21 0.2500000
0.1172702
Overall
0.6293103
0.2117666
(from=rows,to=columns)
63
Apêndice D - Regressão Logística dos atributos do produto junto aos mercados de
fabricantes de máquinas e usuários finais
Dependent Variable: Y
Method: ML - Binary Logit (Quadratic hill climbing)
Date: 03/10/10 Time: 15:27
Sample: 1 57
Included observations: 57
Convergence achieved after 5 iterations
Covariance matrix computed using second derivatives
Coefficient
Std. Error
z-Statistic
Prob.
C
X1
X2
X3
X4
X5
X6
X7
X8
X9
X10
-8.266706
0.299816
0.265063
0.344878
1.112306
0.523318
-0.729598
-0.049739
-0.963879
1.041677
-0.186986
5.720670
0.576267
0.453309
0.931049
0.530352
0.777226
0.524445
0.714239
0.525843
0.503494
0.555395
-1.445059
0.520272
0.584730
0.370419
2.097299
0.673315
-1.391181
-0.069639
-1.833017
2.068899
-0.336673
0.1484
0.6029
0.5587
0.7111
0.0360
0.5007
0.1642
0.9445
0.0668
0.0386
0.7364
McFadden R-squared
S.D. dependent var
Akaike info criterion
Schwarz criterion
Hannan-Quinn criter.
LR statistic
Prob(LR statistic)
0.351410
0.504367
1.284902
1.679175
1.438130
27.76183
0.001971
Mean dependent var
S.E. of regression
Sum squared resid
Log likelihood
Restr. log likelihood
Avg. log likelihood
0.491228
0.428477
8.445266
-25.61970
-39.50062
-0.449468
Obs with Dep=0
Obs with Dep=1
29
28
Total obs
57
64
Apêndice E - Tabelas para análise dos atributos de qualidade percebidos pelos
clientes das três principais empresas do setor. Utilizados nesta tabela somente
atributos que, com uma significância de 10%, são diferentes nos dois clientes.
Atributos de qualidade - End user
Serviços
em geral
Ferramentas
(Hotline,
p/ seleção
peças de
de produtos
reposição,
...)
Média
Empresa 1
21,45
16,85
19,15
Empresa 2
13,52
9,95
11,74
Empresa 3
17,31
13,31
15,31
Atributos de qualidade- OEM
Serviços
em geral
Ferramentas
(Hotline,
p/ seleção
peças de
de produtos
reposição,
...)
Média
Empresa 1
18,54
20,46
19,50
Empresa 2
11,69
12,09
11,89
Empresa 3
14,97
16,16
15,56
65
Anexo A
Tabela 11: Análise com regressão logística para avaliação da significância das
diferenças das médias dos atributos nos dois mercados.
Atributos de Qualidade
Coeficiente
Desvio
Padrão
Inovação
Time-to-market
Disponibilidade/
confiabilidade
Preço
Qualidade do produto
E-Commerce
Relacionamento com o cliente
Serviços em geral
(Hotline, peças de reposição
etc)
Ferramentas p/ seleção de
produtos
Produtos especiais
0.299
0.265
0.576
0.453
0.520
0.585
0.603
0.559
0.345
0.931
0.370
0.711
1.112
0.523
-0.730
-0.050
0.530
0.777
0.524
0.714
2.097
0.673
-1.391
-0.070
0.036
0.501
0.164
0.944
-0.964
0.526
-1.833
0.067
1.042
0.503
2.068
0.039
-0.187
0.555
-0.337
0.736
z-Estatístico Probabilidade
66
Anexo B
Classificação:
1 =Insatisfatória
2 = Ruim
3 = Adequada
4 = Satisfatória
5 = Boa
6 = Excelente
Figura 4 Qualidade percebida pelos clientes dos três principais fornecedores de
produtos de automação industrial
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