UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O ESTUDO DE PRÁTICAS PSICOMOTORAS NA APRENDIZAGEM ESCOLAR Por: Ana Márcia da Silva Vieira Orientador Prof. Maria Esther de Araújo Rio de Janeiro 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O ESTUDO DE PRÁTICAS PSICOMOTORAS NA APRENDIZAGEM ESCOLAR Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em.Psicomotricidade. Por: Ana Márcia da Silva Vieira 3 AGRADECIMENTO a Deus em primeiro lugar e a minha irmã Kátia pela força que sempre me deu obrigada pela ajuda. 4 DEDICATÓRIA dedico as minhas filhas Beatriz e Ludmila e a meu marido Edson com carinho. 5 RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo trazer a tona o quanto as atividades psicomotoras podem contribuir de forma positiva para a aprendizagem dentro de sala de aula, desmistificando a ideia de que atividades motoras devem ser realizadas fora de sala de aula e pelos professores de Educação Física. Tendo como base a teoria de Wallon que a todo tempo procura olhar a criança de forma integrada. Dentro desta perspectiva Wallon vai delinear quatro campos funcionais; o movimento, as emoções, a inteligência e a pessoa. Além de olhar a criança de forma integrada ele procura olhá-la de forma contextualizada, não olhando a criança apenas como alguém que “virá a ser” (futuro), mas valorizando o que ela é “hoje”, sem abrir mão do que ela traz consigo. Dentro deste contexto os educadores não podem ignorar os benefícios da utilização da psicomotricidade na sala de aula. Muitas vezes por desconhecimento idealizamos como boa aquela turma que é quieta e silenciosa. O professor precisa ter consciência de que o movimento (ordenado e organizado) é de fundamental importância no desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança. É o corpo quem coloca a criança em contato com o mundo que a cerca, por isso é fundamental que ele não seja ignorado. A base fundamental para o processo intelectivo e de aprendizagem da criança está na estrutura da Educação Psicomotora. Durante o processo de aprendizagem os elementos básicos da psicomotricidade são utilizados com frequência, tais como o Esquema corporal, Lateralidade, Estruturação Espacial, Orientação Temporal e Pré-escrita, são fundamentais na aprendizagem. A Psicomotricidade vê o indivíduo como um todo procurando auxiliar se o problema está no corpo, na área da inteligência ou na afetividade. O ideal seria que todos os educadores tivessem como respaldo para as suas atividades a psicomotricidade, pois fariam com que nossas crianças realizassem experiências com o corpo, sendo indispensável no desenvolvimento das funções mentais e sociais. Não podemos esquecer que o grande agente do processo educacional é o professor. A alma de qualquer instituição de ensino é o professor. Pensando na importância do papel do professor realizamos uma pesquisa com professores do ensino fundamental de escolas no Rio de Janeiro para que pudéssemos ter uma visão de como os professores tem encarado as atividades motoras em suas salas de aula. Quase na sua totalidade os professores reconhecem que as atividades motoras podem contribuir para a aprendizagem em sala de aula, mas este reconhecimento não leva os professores utilizar com frequência este tipo de atividade. Dentro desta perspectiva é preciso que trabalhemos com o objetivo de que a psicomotricidade mostre o seu valor, conscientizando responsáveis, pais, coordenadores, mas quem conscientizará os professores? 6 METODOLOGIA O desenvolvimento deste trabalho será através de um estudo bibliográfico, tendo como base a teoria de Wallon dentre outros autores. Neste trabalho também utilizaremos uma pesquisa de campo através de questionários distribuídos entre professores do primeiro segmento do ensino fundamental (1º ano ao 5º ano), estes questionários conterão dez questões objetivas que servirão como base da nossa coleta de dados, haverá também uma questão discursiva que terá como objetivo nos colocar em contato com experiências vividas pelos professores em suas salas de aula. Utilizaremos uma média de 52 questionários que serão entregues aos professores e recolhidos alguns dias depois, num período de dois meses. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - A Teoria de Wallon 10 CAPÍTULO II - Os Benefícios de usar a Psicomotricidade na sala de aula 14 CAPÍTULO III – A Psicomotricidade, a aprendizagem e o professor 18 CONCLUSÃO 27 BIBLIOGRAFIA 29 ANEXO 30 ÍNDICE 32 FOLHA DE AVALIAÇÃO 33 8 INTRODUÇÃO O Tema de estudo desta pesquisa é o movimento e a aprendizagem. Através do estudo de Práticas Psicomotoras na Aprendizagem Escolar. A questão central deste trabalho é: Como os professores encaram as práticas psicomotoras em sala de aula? O Tema sugerido é de vital relevância, pois é comum pensarmos em uma sala de aula silenciosa como um lugar onde a aprendizagem ocorre de forma mais fácil é limitar o potencial que existe dentro daquela sala de aula. Mas até que ponto a movimentação dentro da sala de aula poderia facilitar a aprendizagem? Estes questionamentos pairam sobre a cabeça dos educadores atualmente. Isso porque por muitos anos aprendemos que quanto mais paradas e silenciosas estivessem nossas turmas melhor seria a aprendizagem, depois com o contato com novas teorias começamos a encarar que a movimentação orientada pelo professor também pode servir de forma útil para a aprendizagem e o educador se vê agora entre estas duas correntes, por este motivo nos propusemos a estudar como os professores do século XXI tem conseguido lidar com esta dualidade de pensamentos e a luz dos estudos de Henri Wallon que na tentativa de olhar a criança de modo integrado vai delinear quatro campos que são chamados campos funcionais: O Movimento, As Emoções, A Inteligência e a formação do Eu como Pessoa. Através desta pesquisa procuraremos entender como manter um equilíbrio diante desta realidade atual. Os objetivos desta pesquisa são portanto, Identificar qual tem sido a posição dos professores de ensino fundamental em relação as atividades psicomotoras dentro da sala de aula, identificar a posição dos professores quanto a utilização de atividades psicomotoras na sala de aula, analisar as concepções dos educadores sobre a utilização ou não de atividades psicomotoras na sala de aula, propor um novo olhar sobre a movimentação na sala de aula De um lado os professores por medo do novo, por medo de perderem o controle optam por não mudarem de postura, por outro lado diante de uma geração inquieta onde tudo acontece de forma muito rápida ou acelerada já não querem mais esta quietude, aí está o conflito criado cuja solução pode estar no equilíbrio. No primeiro capítulo deste trabalho será analisado a Teoria de Wallon. O segundo capítulo tem como tema os benefícios de se utilizar a psicomotricidade dentro 9 da sala de aula. Por fim, no terceiro capítulo, será abordada a relação entre psicomotricidade, aprendizagem e o papel do professor através de uma pesquisa realizada em escolas Municipais. 10 O ESTUDO DE PRÁTICAS PSICOMOTORAS NA APRENDIZAGEM ESCOLAR CAPÍTULO 1- A TEORIA DE WALLON. A Teoria de Wallon traz à tona a tentativa de ver a criança de um modo mais integrado e de fato parece que hoje em dia, a complexidade dos processos educativos e os vários estudos da criança apontam pra necessidade de não dissociar campos que são indissociáveis como, por exemplo, afetividade e inteligência. (WALLON, P.9,2007) O projeto teórico da teoria de Wallon na sua vertente de psicólogo é a psicogênese da pessoa. Na tentativa de olhar a criança de modo integrado ele vai delinear quatro campos que são chamados de campos funcionais, sobre os quais a teoria vai fornecer mais elementos. O Movimento que é o primeiro sinal de vida psíquica que a criança dá ao nascer é uma dimensão que vai permear todas as idades e todos os campos, e é interessante destacar que no estudo do movimento Wallon discrimina duas dimensões do movimento. Uma que é a dimensão mais expressiva que não significa deslocamento necessariamente, mas que é a expressão que está na base das emoções, e a outra dimensão do movimento que ele vai estudar é sim a dimensão instrumental, é o movimento mais comumente estudado que é a ação direta sobre o meio físico, o meio concreto. Na dimensão expressiva do movimento nós encontramos elementos interessantes no sentido de poder se atentar mais como educador para concretude da criança, isto é, as suas posturas corporais, os seus gestos, sinalizam para um todo, muitas vezes nós consideramos como algo que atrapalha, algo que é comum em sala de aula, é achar que para a criança aprender ela tem que estar imóvel, ela tem que estar paradinha sentada, e se nós formos integrar estas questões mais teóricas acerca do movimento e mesmo se nós começarmos a afinar o nosso olhar sobre o movimento, nós vamos ver que é ao contrário, muitas vezes é graças a essa dimensão mais expressiva do movimento, pequenos gestos ou interações com os colegas, que a criança consegue aprender, nesse sentido muitas vezes impedir a criança de se movimentar ao invés de favorecer que ela aprenda pode impedir que ela aprenda, porque o pensamento da criança no primeiro momento é muito sustentado no movimento, então ela precisa se mexer, de vários modos para construir um fluxo de pensamento. Wallon vai destrinchar o complexo processo pelo qual vai se construindo na criança a capacidade de controlar o 11 seu próprio movimento vai mostrar como isso é difícil, como isso é custoso, como isso é gradual, alguns aspectos tem que ficar bem claros. Segundo WALLON (p.127, 2007), o primeiro aspecto é a dimensão mais expressiva do movimento como algo a ser olhado pelo educador. O educador não compreende a criança só por meio da sua produção escrita, compreende a criança também por meio de sua mobilidade, da sua postura corporal, dos seus gestos, das suas instabilidades ou da sua apatia. Um outro aspecto fundamental a ser compreendido é a complexidade do processo pelo qual se constituem capacidades fortemente exigidas pela escola, basicamente as questões ligadas a contenção motora e a focalização da atenção que são processos ligados ao que Wallon chama de auto-disciplina mental e que tem uma construção muito complexa e muito ligada ao processo de aprendizagem, o discurso e as práticas escolares normalmente tratam estas capacidades como pré-requisitos para a aprendizagem, só que essa relação está mal compreendida porque elas não são só prérequisitos para a aprendizagem, elas são também resultados da aprendizagem, então é preciso refinar o olhar para saber quando de fato, o movimento tem que ser coibido, contido e quando ele tem que ser favorecido, talvez em condições diferentes das que são oferecidas normalmente na sala de aula por exemplo, mas o primeiro passo é afinar o olhar acerca dessa dimensão. Para WALLON (p.121,2007), as emoções são um tipo de manifestação afetiva estudada mais a fundo por Wallon. Por que estudar as emoções? Justamente por serem as emoções as primeiras manifestações afetivas, que compõem, que estão presentes e que constituem a criança, ele vai mostrar como as emoções são um fator fundamental de interação da criança com o meio na qual ela está inserida. São várias as peculiaridades das emoções dentre elas se inserem manifestações afetivas que se expressam, isto é, que são visíveis pelo próprio sujeito e que tem uma variabilidade intensa e que com frequência vem acompanhada de modificações no próprio funcionamento orgânico do corpo. As emoções tem uma característica importante, a sua contagiosidade entre os indivíduos, esse traço que fica muito claro na situação de dinâmica de grupo por exemplo, quantas situações em sala de aula não podem ser melhor compreendida se nós olharmos este fator. 12 Algumas situações de turbulência e alvoroço parecem não ter motivo concreto, mas ligado na organização da atividade e aí nós podemos entendê-la melhor recorrendo a essa ideia das emoções, isto é, então muitas vezes é a excitação de uma criança ou do próprio professor que acaba criando algumas situações, as vezes de muito descontrole, mas esta mesma contagiosidade das emoções também está presente na dinâmica de grupo de um modo positivo que é por exemplo aquilo que permite que um professor quando está entusiasmado com sua atividade, entusiasmado com aquele conhecimento que ele quer compartilhar com as crianças sendo possível que ele consiga por meio do seu entusiasmo, que vai se refletir no tom da voz, na expressão dos olhos, na postura do corpo, é possível que consiga contagiar positivamente as crianças que tenderão a ficar igualmente contagiadas por este conhecimento. A teoria de WALLON (p. 156, 2007), vai nos fornecer elementos interessantes também para compreender o desenvolvimento da inteligência que também é um campo abrangente, ele vai destacar aquilo que chama de inteligência discursiva, a inteligência que se expressa, que se constitui por meio da linguagem, por meio da fala inclusive. A Pessoa para WALLON ( p.188, 2007), é um quarto campo, é o campo que ele nomeia pessoa justamente, que é ao mesmo tempo aquilo que articula todos os demais, mas também é um campo independente, isto é, ele vai mostrar, portanto que ao longo do desenvolvimento vai se construindo a noção do eu ou consciência de si, como ele fala. A relação entre esses quatro campos funcionais nem sempre é de harmonia, isto é, uma relação que também é marcada pelos conflitos, pelo antagonismo, embora cada um destes campos sejam inseparáveis uns dos outros. Além de tentar ver a criança de forma integrada, esse olhar teórico vai buscar enfocá-la de modo contextualizado, isto é, a pessoa inserida nos seus meios, nos seus contextos de atuação, portanto a atitude teórica de Wallon vai sempre procurar compreender o sentido de uma função dos contextos nos quais esta conduta está inserida. A perspectiva de Wallon vai olhar a infância ao mesmo tempo como um estado provisório, como um estado de preparação para a vida adulta e como uma fase que tem um sentido em si próprio. É difícil na verdade articular essas dimensões, o mais comum é, ou olharmos somente como uma fase de preparação que não tem um valor em si, quando olho assim a infância tenho muita dificuldade de compreender as capacidades 13 das crianças, porque nós vamos sempre ver a criança como um ser inacabado, ou ver a criança no seu estado atual e que a tendência dela é se tornar um adulto. Nós vamos perceber que só justificar as práticas e conteúdos pelo futuro não se sustenta, porque nós temos que olhar a criança também no que ela é hoje, nas suas demandas atuais e articular em termos de oportunidade essa dupla dimensão. Não podemos apenas olhar para o futuro dela sem se preocupar com o que ela quer hoje, com o que ela sente hoje, com o que ela pensa hoje. Esta tarefa não é fácil porque é preciso manter o equilíbrio, pois não podemos nos esquecer de prepará-las para o amanhã. É evidente que a escola não pode anular uma terceira dimensão temporal que é a história da criança, isto é, trabalhar a criança como o que ela é hoje, com perspectivas de vir a ser, mas ao mesmo tempo sabendo que cada criança tem uma história peculiar e única, nenhuma criança chega na escola vazia, cada uma chega com uma bagagem, um repertório que é o ponto de partida, que é algo que a escola tem que buscar se articular, então é um desafio enorme esse de tentar articular estes três tempos, a história da criança, suas demandas atuais e as perspectivas. 14 CAPÍTULO 2- OS BENEFÍCIOS DE UTILIZAR A PSICOMOTRICIDADE NA SALA DE AULA. Muitas vezes nós professores idealizamos como turma “boa” aquela que é parada, quieta, silenciosa, não levando em consideração que nem sempre o barulho e o movimento na sala de aula são indícios de indisciplina ou bagunça. É necessário que o professor saiba identificar e administrar esta movimentação em sala de aula, para isso é necessário que o professor conheça mais sobre o movimento. É importante que a criança viva o concreto e o movimento vai permitir que a criança explore o mundo exterior através de experiências concretas sobre as quais são construídas as noções básicas para o desenvolvimento intelectual. O professor precisa ter consciência de que o movimento (ordenado e organizado) é de fundamental importância no desenvolvimento físico, intelectual e emocional da criança. Na sala de aula, o aluno busca um espaço para o seu corpo, vivendo intensamente cada momento. Se inibido de imediato haverá bloqueio psicomotor, levando ao isolamento, ele passa a se tornar “observador do mundo ...” (ALVES, p. 16, 2003) Há vários riscos ao limitar a criatividade corporal da criança dentro da sala de aula, esta limitação poderá se refletir negativamente em outras áreas da aprendizagem, mas se for coordenada pelo professor poderá trazer grandes benefícios em várias áreas do conhecimento. É muito importante criar um ambiente favorável para que a criança tenha maturação normal fazendo com que sua inteligência seja desenvolvida, mas mesmo com este ambiente é preciso respeitar as particularidades de cada aprendiz. Como afirma ALVES, (p.17, 2003), cada criança é única. O esquema do desenvolvimento é comum a todas as crianças, mas as diferenças de caráter, as possibilidades físicas, o meio e o ambiente familiar explicam que com a mesma idade crianças perfeitamente ‘normais’ possam comportar-se de maneiras diferentes. A criança que progrediu inicialmente muito rápido pode reduzir o seu ritmo e ser alcançada por aquela criança que parecia atrasada alguns meses antes. 15 Ao fazer com uma turma de 2º ano a experiência de plantar grãos de feijão na sala de aula usamos o mesmo tipo de copo para todos, a mesma terra, a mesma quantidade de água, a mesma quantidade de grãos e todos foram colocados na mesma janela pelo mesmo período de tempo. Ao fazermos a observação do desenvolvimento dos grãos, alguns haviam rachado e já saíam raízes, outros pareciam indiferentes. Na observação seguinte alguns que até então estavam intactos racharam e passaram a frente daqueles que pareciam mais desenvolvidos outros continuavam sem reação alguma aparente e assim foi acontecendo durante todo o período de observação. Com esta experiência podemos perceber que o mesmo acontece com as crianças que estão dentro de nossas salas de aula que apesar da semelhança exterior cada uma tem seu ritmo próprio de desenvolvimento, cada uma tem dentro de si peculiaridades que devem ser respeitadas e nunca descartadas. Segundo COSTA (p. 29, 2001), fazer um julgamento do desenvolvimento de uma criança é muito mais complexo do que parece: não é suficiente apreciar, baseado num manual, é preciso ter em vista o conjunto da criança e de suas condições de vida familiar e não se preocupar com apenas um déficit. É o corpo que coloca a criança em contato com o mundo que a cerca, por isso é fundamental que ele não seja ignorado. É através dele que a criança vai descobrir o mundo, experimentar sensações e situações, expressar-se, perceber-se e perceber as coisas que a cercam. À medida que a criança se desenvolve, quanto mais o meio permitir, ela vai ampliando suas percepções e controlando seu corpo através da interiorização das sensações. Com isso ela vai conhecendo seu corpo e ampliando suas possibilidades de ação. O corpo servirá de base para o desenvolvimento cognitivo, para a aquisição de conceitos referentes ao espaço e ao tempo, para um maior domínio de seus gestos e harmonia de movimento. O desenvolvimento da criança só será progressivo a partir do momento que ela realizar por si mesma as suas ações, exercitando seus músculos, aperfeiçoando seus movimentos, tomando decisões, treinando a coordenação e a concentração, exercendo, assim, todas as atividades psicomotoras que necessitem de repetição e de conscientização para se aperfeiçoarem. 16 O convívio com o outro é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança, é preciso que ela se relacione com o outro. A ação da criança e a ação do outro são como atitudes que se interpenetram e interjustificam simultaneamente estímulo e resposta. Na criança, a imagem do corpo depende, compreende e completa-se na imagem do corpo do outro e dos outros que a rodeiam e a envolvem. O outro é para a criança o centro de suas atenções e motivações. É para ele que a criança canaliza toda sua afetividade. O ser humano é um ser social, ele vive em sociedade, diante disto a escola, precisa caminhar sem perder o seu foco. É preciso que a escola saiba onde quer chegar, o que quer atingir, que tipo de aluno quer formar. Alguns questionamentos são necessários. Como educar sem saber que tipo de aluno se pretende formar? Como educar sem saber o alcance do vôo que o educando pode dar? O conteúdo vale mais do que o equilíbrio? e as questões emocionais? E a dimensão social? É preciso preparar o aluno para que ele tenha capacidade de trabalhar em grupo, como líder ou colaborador, mas em grupo. Só assim ele saberá atuar na família e na comunidade. Deve haver uma reflexão inicial dos professores nos dias de planejamento. O que queremos de nosso aluno e o que ele quer de nós? O que queremos para o presente e para o futuro deste país com o tipo de educação que estamos dando? É importante dar uma oportunidade para que as crianças pensem, significa partir de suas ideias, reconhecer sua lógica, mostrar-lhes suas limitações, trazer-lhes informações novas que as ajude a pensar mais e melhor. Aprender é ampliar as fronteiras do pensamento. Ensinar não é apenas transmitir informações a um ouvinte. É ajudá-lo a transformar suas ideias. Para isso, é preciso conhecê-lo, escutá-lo atentamente, compreender seu ponto de vista e escolher a ajuda certa de que necessita para avançar: nem mais, nem menos. Nós seres humanos, somos diferentes uns dos outros em todos os pontos de vista. A escola foi criada para homogeneizar, transmitir modelos sociais definidos, para adaptar as crianças a um modelo social dominante, para selecionar a população. Não é de se entranhar que a diversidade seja vivida como um problema, como um obstáculo, e que se busquem mil e uma fórmulas para segregar e homogeneizar. Mas hoje se exige da escola que avance para a integração e para uma cultura da diversidade, que viva as diferenças como riqueza, e não como um obstáculo. (CURTO, p.73,2000) 17 O objetivo não é que todos aprendam igualmente, isso seria impossível. O objetivo é que todos possam trabalhar reflexivamente e construir o pensamento coletivamente Que ninguém se chateie, que ninguém se sinta fracassado nem marginalizado. O primeiro passo certeiro é o de trabalhar a partir do pensamento de cada um, considerando com clareza o que cada um pode aprender em cada caso. 18 CAPÍTULO 3PROFESSOR. A PSICOMOTRICIDADE, A APRENDIZAGEM E O Podemos nos perguntar qual a relação que pode haver entre a psicomotricidade e a aprendizagem na sala de aula, principalmente na alfabetização e nos anos seguintes? Mas a resposta é clara, a psicomotricidade está diretamente ligada a aprendizagem. A psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo. Para ALVES, p.69, 2003), a estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo intelectivo e de aprendizagem da criança. O desenvolvimento evolui do geral para o específico; quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, o fundo do problema, em geral, está no nível das bases de desenvolvimento psicomotor. Durante o processo de aprendizagem os elementos básicos da Psicomotricidade são utilizados com frequência. O desenvolvimento do Esquema Corporal, Lateralidade, Estruturação Espacial, Orientação Temporal e Pré-escrita são fundamentais na aprendizagem; um problema em um destes elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem. Como vimos a fase inicial da criança é muito importante e deve ser encarada como tal e não ser “atropelada” por situações que acontecerão futuramente no seu devido momento, devido a esta ansiedade muitas vezes nos precipitamos pulando fases que trarão conseqüências para o futuro. Nos anos iniciais de escolarização, entre 3 e 8 anos, que é o período de aprendizagem essenciais e de integração progressiva do plano social. Trata-se do período escolar, onde a psicomotricidade deve ser desenvolvida em atividades enriquecedoras e onde a criança de aprendizagem lenta terá que ter, ao seu lado, adultos que interpretem o significado de seus movimentos e expressões, auxiliando-a na satisfação de suas necessidades. Em algumas escolas ainda se mantêm o caráter mecanicista instalado na Educação Infantil, ignorando a psicomotricidade nas séries iniciais do ensino fundamental. Os professores, preocupados com a leitura e a escrita, muitas vezes não sabem como resolver as dificuldades apresentadas por alguns alunos, rotulando-os como portadores de distúrbios de aprendizagem. Na realidade, muitas dessas dificuldades poderiam ser resolvidas na própria escola. 19 Podemos nos questionar sobre como a escola poderia ajudar a solucionar estes problemas. Para isso é preciso que a escola esteja ciente de que a criança precisa se sentir segura para que possa ter possibilidade de se arriscar. Isto, certamente, lhe trará conhecimento acerca de si mesma, dos outros e do meio em que vive. A psicomotricidade vê o indivíduo como um todo, procurando auxiliar se o problema está no corpo, na área da inteligência ou na afetividade. O ideal seria que todos os educadores tivessem como respaldo para as suas atividades a psicomotricidade, pois fariam com que nossas crianças realizassem experiências com o corpo, sendo indispensável no desenvolvimento das funções mentais e sociais. (ALVES, p. 135, 2003) É interessante levar a criança a expor fatos vivenciados, fazendo ligação entre o imaginário e o real. Portanto, atividades que muitas vezes julgamos insignificantes são muito importantes para o desenvolvimento da criança, como uma simples “roda de conversa”, onde as crianças têm a liberdade para falar e se expressar livremente, relatar fatos vividos fora do ambiente escolar e ouvir o que foi relatado pelos colegas. É muito importante que na escola se leve em consideração os aspectos Socioafetivo, Cognitivo e Psicomotor. A Educação Psicomotora vem atuando na escola de forma a levar a criança a adquirir melhores condições de aprendizagem e de autoconhecimento, formando a base para uma boa aprendizagem da leitura e da escrita. Vamos falar um pouco sobre os elementos base da psicomotricidade que podem ter influência direta no processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Comecemos falando um pouco sobre o Esquema Corporal. A compreensão do que seja esquema corporal é de fundamental importância para o trabalho na área de psicomotricidade. Crianças que não apresentam consciência e conhecimento de seu corpo podem experimentar dificuldades de percepção, controle e equilíbrio. Pode acontecer também da criança com perturbação do esquema corporal apresentar dificuldade no aspecto visomotor e ter conseqüências na leitura e na escrita. Geralmente as crianças com distúrbios de leitura têm um conhecimento deficiente de seu esquema corporal. Apresentam dificuldade para identificar as partes do corpo e não revelam boa organização da postura corporal no espaço em que vivem. 20 Falemos agora da Lateralidade que está diretamente ligada a Estruturação Espacial. Para ALVES, (p. 69, 2003), primeiro, a criança percebe a posição de seu próprio corpo no espaço. Depois a posição dos objetos em relação a si mesma e, por fim, aprende a notar as relações das posições dos objetos entre si. Para a criança assimilar os conceitos espaciais, precisa ter uma lateralidade bem definida. A lateralização é a base da estruturação espacial e é através dela que uma criança se orienta no mundo que a rodeia. A lateralidade é definida a partir da preferência neurológica que se tem por um lado do corpo, no que diz respeito à mão, ao pé, ao olho e ao ouvido. Essa dominância é importante para desenvolver diferentes habilidades, inclusive as de leitura. Passemos também para a Orientação Temporal. O desenvolvimento da estruturação temporal na criança é importante, pois, por intermédio do ritmo é que ela terá uma boa orientação do domínio do papel, na escolarização, construindo palavras de forma ordenada e sucessiva na utilização das letras, umas atrás das outras, obedecendo a certo ritmo e dentro de um determinado tempo. Na comunicação oral, também estruturará os sons das palavras diferenciando-os, aprendendo a ler com mais facilidade. Para compreender o tempo, é necessário levar em consideração alguns aspectos dentre eles o tempo próprio de cada indivíduo e a sua adaptação no tempo externo, fazendo com que se organize temporalmente a partir do próprio tempo. É ao perceber o tempo vivido que ela irá adquirir condições de dominar determinados conceitos, como ontem, hoje, amanhã, dia da semana, meses, anos, horas, estações do ano etc. É importante frisarmos que na Educação Infantil, todos os aspectos da percepção devem ser trabalhados: o visual, o auditivo, o tátil, o olfativo e o gustativo. A imagem corporal, que é a impressão que a criança tem de seu corpo, pode ser medida a partir de desenhos da figura humana que ela realiza. Isto nos leva a um ponto anterior quando afirmamos ser de fundamental importância a base da escolarização da criança. Por este motivo o preparo para iniciar a leitura e a escrita (alfabetização) depende de uma complexa integração dos processos neurológicos e de uma harmoniosa evolução de habilidades básicas como percepção, esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal, coordenação visomotora, ritmo, 21 análise e síntese visual e auditiva, habilidades visuais e auditivas, memória sinestésica, linguagem oral. Precisamos estar cientes da relação existente entre a leitura e a escrita. O processo de leitura envolve o relacionamento dos símbolos gráficos com os sons que eles representam, a criança pode diferenciar visualmente cada letra impressa e perceber que cada símbolo gráfico tem um correspondente sonoro. Existem crianças que são incapazes de revisualizar e reorganizar auditivamente as letras, ou seja, tem dificuldade de soletrar. A limitação na escrita será resultado da incapacidade para ler. O desenvolvimento da escrita não se deve simplesmente a um fazer de exercícios. A escrita é constituída de uma atividade psicomotora extremamente complexa, na qual participam aspectos de maturação do sistema nervoso, expressado pelo conjunto de atividades motoras; pelo desenvolvimento psicomotor geral, especialmente no que se refere à tonicidade e coordenação dos movimentos e pelo desenvolvimento da motricidade fina, ao nível dos dedos e da mão. Do ponto de vista da linguagem, a escrita implica, para a criança, uma reformulação de sua linguagem falada com o propósito de ser lida. O aprendizado da escrita, como modalidade da linguagem, pode ver-se afetado de forma específica, conservando intactas as outras condutas verbais. Uma criança pode ter dificuldade para executar o traçado de letras, números ou palavras, apesar de ter bom nível de linguagem oral e ser um bom leitor. O grande agente do processo educacional é o professor. A alma de qualquer instituição de ensino é o professor. Por mais que se invista em equipamentos, em laboratórios, bibliotecas, anfiteatros, quadras esportivas, sem negar a importância de todo esse instrumental, tudo isso não se configura mais do que aspectos materiais se comparados ao papel e a importância do professor. Isso não é diferente no trabalho da psicomotricidade, pois ao invés de ensinar, de transmitir conhecimentos já estabelecidos, assumir o papel de facilitador do desenvolvimento da capacidade de aprender, dando à criança tempo para suas próprias descobertas, oferecendo situações e estímulos cada vez mais variados, proporcionando experiências concretas e plenamente vividos com o corpo inteiro; não deixar que sejam transmitidas apenas verbalmente, 22 para que ela própria possa construir seu desenvolvimento global. Este professor será um marco na vida de seus alunos. Para CHALITA, ( p.45, 2004), o professor não deverá esquecer que o material de seu trabalho é o seu aluno. Portanto, não deverá preocupar-se apenas em preparar o ambiente escolar com cartazes, painéis, faixas, mas a si mesmo. É necessário que ele conheça seu aluno. A psicomotricidade favorece a aprendizagem quando reconhece que diferentes fatores de ordem física, psíquica e sociocultural atuam em conjunto para que se dê a aprendizagem. Trabalhando no ser humano, cada uma das etapas, possibilitando-o alcançar a consciência corporal, a consciência do mundo que o cerca, o relacionamento deste com seu corpo e com o que está ao seu redor. Realizamos uma pesquisa com 53 professores das séries iniciais do ensino fundamental de escolas públicas do Rio de Janeiro, entre fevereiro e abril de 2010, para que tivéssemos uma visão de como os professores tem encarado as atividades motoras em suas salas de aula, para tentarmos responder a alguns questionamentos. Qual o seu conhecimento sobre estas atividades? Como e quando as utilizam? Será que alguns professores ao utilizar estas atividades tem noção exata dos benefícios que ele poderia proporcionar a seus alunos através daquela atividade? Segundo a pesquisa realizada 99% dos professores reconhecem que as atividades psicomotoras podem contribuir para a aprendizagem na sala de aula. Mas apesar de reconhecer que estas atividades contribuem para a aprendizagem elas são pouco utilizadas nas salas de aula. Quando questionados sobre o fato de utilizarem atividades psicomotoras em suas salas de aula 57% declararam que utilizam esporadicamente. Isto nos levaria a outro questionamento que seria o fato do professor não se achar capaz de realizar estas atividades ou achar que a faixa etária de seus alunos não é adequada. Mas dentro da mesma pesquisa 100% dos professores acreditam que não é só o professor de Educação Física quem deveria utilizar estas atividades e que os alunos além da Educação Infantil também podem se beneficiar delas. Diante deste quadro nos questionamos então. Por que há tanta resistência em utilizar estas atividades? É possível que a resposta esteja na falta de conhecimento, muitos professores ignoram os benefícios específicos que estas atividades podem trazer, sabem 23 que trazem benefícios, mas não conseguem identificá-los e por este motivo não utilizam ou utilizam muito pouco. As atividades motoras mais utilizadas que foram citadas pelos professores na pesquisa realizada são jogos e músicas. Com relação aos jogos, se forem utilizados com objetivos definidos bem estabelecidos podem ser boas ferramentas para o trabalho psicomotor na sala de aula. Vamos conversar um pouco sobre a importância do jogo. Jogar é uma atividade natural do ser humano. O jogo faz com que a criança se envolva com o que está fazendo, colocando seu sentimento e emoção através da ação. O jogo integra os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais, seria muito interessante todos os profissionais da área e o professor criarem oportunidade para que a motivação permita aos alunos participarem ativamente do processo ensino-aprendizagem. Outra ferramenta utilizada pelos professores é a música, mas este campo também é muito extenso e ao serem indagados sobre a utilização da música, 57% dos professores afirmam que as vezes as utilizam e 43% afirmam que sempre utilizam a música, mas esta afirmativa não sugere necessariamente que a música aqui neste caso seja usada para auxiliar atividades motoras, pois 93% dos professores afirmam que utilizam a música para socialização e para utilizar a letra. Dentro desta pesquisa vemos contradições acentuadas pelos professores que demonstram não terem conhecimento dos benefícios que as atividades motoras podem trazer a sua prática em sala de aula, esta observação é reforçada pelo fato de que 20% dos professores afirmarem que gostam, mas tem dificuldade em aplicar estas atividades, demonstrando assim que precisam de ajuda para que possam explorar estas atividades em suas salas de aula. Dentro de nossas salas nos deparamos constantemente com as diferenças e muitas vezes não sabemos como lidar com estas diferenças, pois temos dentro de nossas salas de aula crianças fáceis e participativas, dóceis e tranqüilas, que aprendem rápido e interagem com o meio e com os colegas. Mas temos também dentro de nossas salas de aulas crianças que são o oposto, são agitadas ou hiperativas, apáticas ou que não falam, desajustadas ou insatisfeitas, as hipotônicas, as desordeiras, as que apresentam distúrbios ou dificuldades de leitura e escrita e outras que não conseguimos identificar 24 qual seja seu comportamento. É interessante ressaltar o quanto a música poderá nos ajudar no trabalho com estas crianças. A música através do ritmo ajudará no encontro do equilíbrio interior, rompendo a apatia de algumas, harmonizando os movimentos de outras, desenvolvendo a motricidade de muitas, despertando a musicalidade e facilitando a expressão corporal de todos. PEREIRA, (p.14, 2007) afirma que a atividade com música deveria ser diária nos anos iniciais do ensino fundamental por pelo menos 15 minutos. Analisando todos os dados coletados nesta pesquisa fica claro que o que falta ao professor não é o reconhecimento da importância das atividades motoras, mas a falta de conhecimento e preparo para realizá-las. É neste ponto que entra o papel das instituições que não preparam os professores para trabalharem com atividades motoras uma amostra disto está no fato de que em várias instituições de ensino ao distribuir as turmas para os professores de Educação Física são priorizadas as turmas maiores e assim de forma decrescente estas turmas vão sendo atendidas e geralmente as turmas que ficam com deficiência de atendimento são turmas de Educação Infantil, por julgarem ser prioritário o atendimento as turmas maiores, aí está um erro esta distribuição deveria ser iniciada das crianças menores. É inegável que o exercício físico é muito necessário para o desenvolvimento mental, corporal e emocional do ser humano e em especial da criança. O exercício físico estimula a respiração, a circulação, o aparelho excretor, além de fortalecer os ossos, músculos e aumentar a capacidade física geral, dando ao corpo um pleno desenvolvimento. É preciso que trabalhemos com o objetivo de permitir que a psicomotricidade, mostre o seu valor, conscientizando responsáveis, pais, coordenadores, e o objetivo do trabalho que nós professores estamos realizando, mas quem conscientizará os professores? Este deveria ser o trabalho do pedagogo que consciente da importância da psicomotricidade na escola orienta o professor, mas acima do pedagogo seria necessário que o sistema em que a escola está inserida tomasse esta consciência. Dentro da pesquisa realizada foi solicitado aos professores que descrevessem alguma atividade realizada com seus alunos, envolvendo o movimento em que tivesse obtido resultado positivo. Apenas 50% dos professores citaram alguma atividade e dentre estes 25 relatos apenas 30% realmente descreveram alguma atividade, alguns citaram apenas por exemplo. “utilizo jogo da memória” ou “Utilizo música coreografada”. Mas dentre os que relataram atividades selecionei uma pra cada ano de escolaridade, para que possamos pensar sobre o quanto este tipo de atividade pode ser importante e de alguma forma refletirmos sobre a nossa postura em sala de aula e de como podemos ajudar o professor a lançar com segurança desta estratégia de ensino. Os relatos foram organizados em ordem cronológica: “Uma atividade que realizo com meus alunos é que desenho as vogais no chão e dou comandos específicos que as fazem correr em direção a letra indicada, assim fazem a associação entre grafema e fonema”. (Professor de Educação Infantil) “Tive uma ótima experiência trabalhando com a história ‘O Patinho Feio’, por ele ser diferente trabalhei as diferenças e assim trabalhamos muito com o corpo, com autoconhecimento, fizemos atividades com a bola de pilates, espelho para o corpo todo, trabalhando o corpo nos ajudou a explorar valores humanos”. (Professora do 1º ano) “Para trabalhar a formação do número com os alunos, utilizei jogos como a trilha humana com um dado gigante e os alunos sendo os peões da trilha. Todos os alunos avançaram bastante nos objetivos de apropriação da sequência numérica através deste jogo”. (Professora do 2º ano) “Trabalhei com uma brincadeira chamada ‘Jaca/jacaré’. Quando ao ler o texto lia a palavra jaca, todos sentariam e quando lia a palavra jacaré todos se colocavam de pé, depois trabalhamos o texto foi muito produtivo, porque a atividade estimulou a atenção”. (Professora do 3º ano) “Quando utilizo música costumo fazer acompanhamento do passo (pé) com a batida da palma para desenvolver a atenção e o ritmo, eles adoram e eu também”. (Professora do 4º ano) “Fiz uma brincadeira com os alunos baseada no ‘Show do Milhão’, intitulada ‘Show do espertão utilizando perguntas de História, Geografia e Ciências do conteúdo deles, a participação era em 26 grupo, com isso a maioria da turma melhorou muito o desempenho nestas disciplinas”. (Professora do 5º ano) “Através do movimento corporal dos alunos trabalhei os números decimais. Cada aluno representava um número e a vírgula e de acordo com a operação teria que ir se movimentando com a vírgula”. (Professora do 5º ano) O que mais chamou a atenção nestes relatos foi o fato de que os professores perceberam mudanças no rendimento escolar de seus alunos depois destas atividades, confirmando que a atividade motora está ligada ao concreto e assim, obtemos resultados mais eficazes. Dentro desta perspectiva o aprendizado torna-se prazeroso e desafiador, não só para os alunos , mas também para o professor que além de lançar mão da sua criatividade e ousadia precisa ter o controle da situação para que ela não caminhe para a indisciplina e bagunça, sendo assim um desafio para o professor, mas como vimos os resultados são compensadores. Como relata COSTA, (p. 29, 2003), o corpo não é só motor, sua representação é da ordem do psiquismo e abrange o conjunto tônus muscular, postura, gestos e emoções, que em cadeia determinam e qualificam uma ação e uma reação. Dentro desta visão as atividades realizadas abrangem uma dimensão maior do que só o cognitivo ou só o motor, passa a trabalhar o emocional, quando um necessita do outro para o cumprimento da tarefa. É preciso que nós professores, nos conscientizemos que a educação pelo movimento é muito importante para a área pedagógica, sendo uma peça mestra, para a mesma, sendo assim permite que a criança resolva mais facilmente os problemas atuais de sua escolaridade, preparado-a para sua existência futura de adulto. Se assim for esta atividade deixará de ser renegada a segundo plano, principalmente para o professor que constatará que este material educativo não verbal, constituído pelo movimento, é um meio insubstituível para afirmar certas percepções, desenvolver formas de atenção, pondo em jogo certos aspectos da inteligência. 27 CONCLUSÃO Podemos concluir através da teoria de Wallon que é de fundamental importância olhar a criança através dos quatro pilares estabelecidos nesta teoria que utiliza o movimento, a emoção, a inteligência e a pessoa. Não há como separar campos que indissociáveis. Não podemos encarar a criança apenas na perspectiva do que ela virá a ser, mas é de fundamental importância olhar para a criança como o que ela é hoje , mas não esquecendo que ela traz consigo uma história de vida que a trouxe até aqui, é preciso que haja um equilíbrio entre o presente, o passado e o futuro da criança, porque costumamos esquecer o passado, ignorar o presente e olhar para ela pensando apenas no futuro, mas Wallon muda este conceito valorizando o agora. Não há como contestar os benefícios que resultam da realização de atividades motoras na sala de aula, o que deve ficar claro é que estas atividades precisam ter um objetivo definido e precisam ser orientadas e organizadas para que tenham resultados positivos. Ensinar não é apenas transmitir informações a um ouvinte. É ajudá-lo a transformar suas ideias, para isso, é preciso conhecê-lo, escutá-lo atentamente, compreender seu ponto de vista e escolher a ajuda certa de que necessita para avançar. A Educação Psicomotora vem atuando na escola de forma a levar a criança a adquirir melhores condições de aprendizagem e de autoconhecimento, formando a base para uma boa aprendizagem da leitura e da escrita. Tendo como base o professor que é o agente principal do processo educacional, não podemos ignorar que é necessário que o professor se conscientize de que a educação pelo movimento é uma peça mestra da área pedagógica, que permite a criança resolver mais facilmente os problemas atuais de sua escolaridade. Através da pesquisa realizada com professores das séries iniciais do ensino fundamental sobre as atividades psicomotoras os professores afirmam reconhecerem a importância desta atividade, mas não praticam. Fica claro que o que falta ao professor não é o reconhecimento da importância das atividades motoras, mas a falta de conhecimento e preparo para realizá-las. É neste momento que entra de forma indispensável o papel das instituições conscientizando pais, responsáveis, 28 coordenadores, diretores sobre esta questão. Mas quem conscientizará o professor? Este deveria ser o papel do pedagogo que consciente da importância da psicomotricidade orienta o professor, mas acima do pedagogo há a necessidade que o sistema em que a escola está inserida tomasse essa consciência. 29 BIBLIOGRAFIA ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção-Rio de Janeiro: WAK,2003. ANTUNES, Celso. A criatividade na sala de aula. Petrópolis RJ: Vozes, 2003. Fasc. 14. _______________ Metáforas pra aprender a pensar. Petrópolis RJ:Ed Vozes, 2004. CELANO, Sandra. Corpo e mente na educação: uma saída de emergência. Petrópolis: Vozes, 1999. CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. São Paulo: Ed. Gente, 2001 1ª Ed., 2004 edição revista e atualizada. COSTA, Auredite Cardoso. Psicopedagogia e psicomotricidade: pontos de intersecção nas dificuldades de aprendizagem. Petrópolis-RJ: Ed. Vozes, 2001. CHAMAT, Leila Sara José. Relações vinculares e aprendizagem: um enfoque psicopedagógico. São Paulo: Vetor, 1997. DEMO, Pedro. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre: Mediação,2004. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura). GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Ed Vozes. MARUNY CURTO, Lluis. Escrever e ler: Como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e ler. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000. TAILLE, Yves de, OLIVEIRA, Marta Kohl de e DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007. DVD Coleção Grandes Educadores. Henri Wallon, apresentação Izabel Galvão. ATTA Mídia e educação. 30 ANEXO 1 Modelo do questionário utilizado na pesquisa TEMA: APSICOMOTRICIDADE E A APRENDIZAGEM ESCOLA: ( ) Pública ( ) Privada TURMA:_______________________________ 1- Como você encara as atividades psicomotoras na sala de aula? ( ) Agitam demais os alunos ( ) Podem ajudar na aprendizagem ( ) Trazem conflito e desordem 2- Você acredita que as atividades psicomotoras podem ser usadas por todos os professores? ( ) Não, somente pelos professores de Educação Física ( ) Sim, por todos os professores ( ) Não tenho opinião formada 3- Em sua opinião estas atividades podem ser utilizadas por alunos de qualquer ano? ( ) Não, só os anos iniciais ( ) Sim, por qualquer aluno ( ) Não tenho opinião formada 4- Você utiliza atividades psicomotoras em suas aulas? ( ) Nunca ( ) Às vezes ( ) Sempre ( ) Raramente 5- Que atividades psicomotoras você já utilizou ou utiliza em suas aulas? ( ) jogos ( ) músicas ( ) brincadeiras cantadas ( ) outros__________ 6- Qual a sua opinião sobre as atividades psicomotoras? ( ) Sempre gostei, mas tenho dificuldade de aplicá-la ( ) Gosto e utilizo como ferramenta em minha sala de aula ( ) Não acho que seja importante 7- Você já teve outra opinião sobre atividades psicomotoras? ( ) Não sempre mantive a mesma opinião ( ) Sim, com o passar do tempo mudei de opinião ( ) Ainda tenho duvidas sobre este assunto 31 8- Você costuma utilizar músicas nas suas aulas? ( ) Nunca ( ) Ás vezes ( ) Sempre 9- Qual seu objetivo ao utilizar a música nas suas aulas? ( ) para socialização ( ) para formar hábitos ( ) para utilizar o ritmo ( ) para utilizar a letra ( ) para passar o tempo ( ) para atividades motoras ( ) para apresentação extraclasse ( ) sem objetivos definidos 10- Que estilo de música você mais utiliza em suas aulas? ( ) infantis ( ) clássicas ( ) folclóricas ( ) populares ( ) todas ( ) nenhuma Se você tem alguma experiência com atividades motoras que tenha dado resultado positivo em alguma de suas aulas, relate-a:_________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 32 INDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I A TEORIA DE WALLON 10 CAPÍTULO II OS BENEFÍCIOS DE USAR A PSICOMOTRICIDADE NA SALA DE AULA 14 CAPÍTULO III A PSICOMOTRICIDADE, A APRENDIZAGEM E O PROFESSOR 18 CONCLUSÃO 27 BIBLIOGRAFIA 29 ANEXO 30 ÍNDICE 32 33 FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição: Título da Monografia: Autor: Data da entrega: Avaliado por: Conceito: