1 LEITURA: PORTAL ENTRE O EU E O MUNDO Andria da Silva Oliveira1 (andria.oliveira@hotmail) Cristiane Santana Cunha2 ([email protected]) Pâmela Alves Pinheiro3 ([email protected]) RESUMO O presente artigo tem em sua gênese discutir leitura, formação de leitores e o papel da escola nessa tarefa. No decorrer do trabalho, discute-se ainda, as preferências de leitura dos jovens do século XXI e como os professores aplicam essas escolhas para aprimorar a competência leitora de seus alunos. Palavras chave: Escola, Leitura, Leitores. Reading: a gateway between the self and the world ABSTRACT This article has its genesis in discussing reading, training and the role of school readers in this task. Throughout his work, we discuss also the reading preferences of young twenty-first century and how teachers apply these choices to enhance the reader competence of their students. Keywords: School, Reading, Reading No início dos anos 80 começaram a circular entre os educadores livros e artigos que davam conta de uma mudança na forma de compreender o processo de leitura. Os estudos ajudaram na compreensão de que os alunos sabiam muito mais do que conjeturavam o professor, e que esses variados saberes interatuavam em todo momento para chegar à compreensão do texto. 1 Mestra em Estudos Literários e Culturais pela UFMT, professora de Literatura nas Faculdades Integradas Mato-grossenses de Ciências Sociais e Humanas 2 Acadêmica do 4ºsem. Do Curso de Letras das Faculdades Integradas Mato-grossenses de Ciências Sociais e Humanas 3 Acadêmica do 4ºsem. Do Curso de Letras das Faculdades Integradas Mato-grossenses de Ciências Sociais e Humanas 2 Tomando esse entendimento como base, podemos considerar a formação de leitor uma tarefa complexa, pois nesse sentido o problema da leitura não se desvincula de outros problemas enraizados na estrutura social. Praticamente impossível discutir as vivências ou carências de leitura de um indivíduo sem situá-lo dentro das contradições presentes na sociedade onde ele vive e retira suas experiências. A interação do texto e do contexto do leitor é condição fundamental para aquisição da competência leitora e compreensão e construção do conhecimento, pois, segundo Freire (2003), a leitura de mundo precede a leitura da palavra, ou seja, os conhecimentos prévios já adquiridos pelo leitor intermediarão o entendimento do texto. A escola tem a árdua tarefa em proporcionar condições para que os alunos entendam a leitura como fonte de prazer e de poder; pois, retomando a afirmação de Freire é “lendo” que se adquirem novos conhecimentos e independência enquanto cidadão para se posicionar, reivindicar, olhar com seus próprios olhos a sociedade e o mundo em que está inserido. Segundo Rangel (2005), é comum a prática da leitura intensiva nas escolas, leitura que forma um leitor preparado para o desempenho da expressão oral, e que tem por objetivo domínio das regras gramaticais. Constitui-se uma leitura mecânica, propedêutica, realizada a partir da repetição de referências que perpetuam os mesmos textos e as mesmas formas. Não que essas informações não sejam necessárias, mas, é preciso que o ato de ler ultrapasse essas finalidades. A educadora defende que a relevância da literatura no espaço escolar tem por objetivo dar liberdade, e não transformar a leitura em uma tarefa ou dever a ser cumprido, tem como meta formar leitores e não modelar o aluno para que saiba responder as questões sobre o que leu. A leitura e a escrita são práticas sociais e para que haja condições de letramento, é preciso que ocorra a escolarização real e efetiva da população e a disponibilidade de material de leitura especialmente o de literatura. Apenas professores que gostam e lêem com prazer vão poder transmitir esses sentimentos aos seus alunos. 1.2 Caminhos chamados leitura A leitura pode ter vários sentidos: na escola significa o aprender a ler e escrever, em termos acadêmicos ideológicos, uma forma de adquirir cultura, atribuição de sentidos, entre outras inúmeras definições. 3 [...] o leitor curioso e interessado é aquele que está em constante conflito com o texto, conflito representado por uma ânsia incontida de compreender, de concordar, de discordar, conflitos enfim, onde quem lê transmite ao texto lido as cargas de sua experiência humana e intelectual (SILVA, 1994, p.13). Nesse contexto, ler é saber compreender, interpretar; e essa interpretação não é única; como foi dito nos parágrafos anteriores, depende de cada pessoa, de seu contexto de vida, de sociedade, de trabalho, família, época, etc. Todos os fatores sociais ou econômicos são influenciáveis na hora de ler, e acima de tudo, para que um texto seja compreendido é preciso que o leitor tenha interesse pessoal pelo assunto. Os múltiplos usos dessas palavras são indicações de que a leitura é um fenômeno muito complexo que se presta a vários tipos de indagações e abordagens. Portanto tal afirmação nos conduz ao seguinte postulado: sendo a leitura um processo, não existe um leitor pronto e acabado, este vai se transformando ao longo de suas experiências, e mais eficiente se torna seu aprendizado, pois estará sempre preocupado com a busca de significados e não apenas com a decodificação dos sinais gráficos. Tendo em vista esse entendimento, a aula de leitura na sala de aula não deve ser restrita apenas a Prática Pedagógica e tão somente aos textos verbais, ainda com pretexto para o estudo da gramática ou de vocabulário, ou seja, para sua mera decodificação, deixando a margem o exercício de interpretação. As discussões sobre a prática da leitura e escrita devem estar centradas numa perspectiva discursiva, em que o aluno-leitor passa a ser considerado autor do seu próprio discurso. Portanto é importante oferecer desde cedo aos alunos o contato com diferentes gêneros discursivos que circulam socialmente, em uma verdadeira diversidade textual. . “A noção de compreensão de textos é um ato que “não é apenas” [...] cognitivo com seus processos múltiplos, mas também um ato social entre leitorautor que interagem entre si” (KLEIMAN, 2002, p. 10). Não se formam bons leitores se eles não têm um contato íntimo com os textos, daí a importância de que o material escrito apresentado aos alunos seja interessante e desperte a curiosidade dos mesmos. Ainda de acordo com Kleiman, a leitura poderia ser caracterizada como uma atividade de integração de conhecimentos, contra a fragmentação; ou seja, toda a prática de aprender perpassa a atividade de leitura, pois, sem ela não há aprendizado significativo, há sim, uma forma mecanizada de memorização de conceitos que pouco fazem sentido e nada tem de utilidade na formação do sujeito. 4 Dessa mecanização depreende-se um processo de artificialização da escola, ou seja, o estudante da educação básica sai da escola com a impressão de que aquilo que foi estudado não tem utilidade na vida real, ou seja, o que é visto na escola satisfaz apenas ao contexto interno, somente a própria escola. Assim, estuda-se para passar de ano, tirar notas boas e não para apreender o conteúdo de modo a desenvolver competências e habilidades aplicáveis ao indivíduo em todos os aspectos de sua vida. Todavia, existem práticas que podem resgatar o interesse pela leitura por parte dos estudantes. Essas práticas perpassam pela interdisciplinaridade, ou seja, tendência que consiste na ―interação entre as disciplinas ou áreas do saber. Com isso, a literatura pode ser ensinada e aprendida de maneira integrada e em forma de suporte para o ensino das outras áreas do conhecimento, promovendo assim o resgate do interesse pela leitura e principalmente a formação da cidadania por meio da educação. Sendo assim, a literatura, sobretudo a leitura, deve ser trabalhada de forma constante e interdisciplinar, pois, todo professor, independente da disciplina que ministra, é também um professor de leitura, uma vez que há por trás leitura competente dos enunciados de qualquer natureza. Além disso, a escolha dos temas e dos textos trabalhados em sala de aula deve ser pautada pela contextualização em relação à realidade vivida por todos os elementos envolvidos no processo de educação: a escola, o professor e o estudante. Lajolo afirma que “ou o texto dá sentido ao mundo, ou ele não tem sentido nenhum” (LAJOLO, 2000, p.15), isto é, não se incentiva a leitura ou o interesse pela realidade que nos cerca por meio de um conteúdo aparentemente artificial ao processo de educação. Quando professor e aluno trabalham juntos num processo de troca de conhecimento, inserido no ambiente e na cultura partilhados por eles, pode-se garantir mais do que a apreensão de conteúdos, garante-se a formação de um ser humano. Pra que essa formação aconteça é preciso reconhecer que as diferenças estre grupos marcados pelas condições socioeconômicas menos favorecidas enfatizam as desvantagens que esses encontram ao se depararem com material escrito através da leitura. É sabido que muitas vezes, não contam em casa com diversidade de leitura e escrita e seus diferentes usos, o que possibilita a apropriação destas habilidades de forma menos penosa. Portanto a escola precisa ter o cuidado, para não rotular os erros que surgem nas atividades de leitura como dissociados às questões individuais do leitor. Segundo Rangel: 5 O ser leitor desperta experiências sensíveis, curiosas interrogações sobre o cotidiano que talvez a escola tão centrada nos “Nãos” – não aprende, não sabe, não consegue, não lê, etc. – ainda, impossibilita a prática que a etmologia da palavra “legere”sugere: recolher, apanhar, juntar, colher. (RANGEL, 2005, p. 13) É preciso estar atentos e flexíveis às mudanças, para que o erro não seja empecilho nas produções de sentidos dos alunos e dos próprios professores. E para que a escola não se transforme no espaço onde a discriminação é procriada e a leitura perde sua força de componente essencial da cidadania. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler. 29ª ed. São Paulo. Cortez, 2003 KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: Teria e Prática. 9ª ed. Campinas: Pontes, 2002. LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 2000 MEIER, Bruno. Uma Geração Descobre o Prazer de Ler. Veja, São Paulo, Abril n. 20, p.98-108, maio. 2011. RANGEL, Jurema Nogueira Mendes. Leitura na Escola: espaço para gostar de ler. Porto Alegre: Mediação, 2005. SILVA, Ezequiel Theodoro. A produção da Leitura na escola. São Paulo: Ática, 1994.