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14 abr 2015 O Globo
Sob pressão das ruas, uma chance
para negociar
Manifestações e índices de reprovação mostram que insatisfação com o modelo petista permanece alta, mas o
Planalto
precisa tocar agenda do país
Onúmero de manifestantes que voltaram às ruas anteontem, em nova rodada de protestos no Brasil,
não é o único termômetro para se medir o clima de insatisfação geral da população com o governo. Com
centenas de milhares de pessoas, os atos públicos do fim de semana tiveram adesão inferior à das
manifestações de 15 de março, que mobilizaram milhões contra os descaminhos de uma política
econômica que imobiliza o país e contra as incessantes denúncias de corrupção envolvendo a base
parlamentar governista. Mas, ainda assim, foi uma afluência expressiva. Ademais, é sintomática a
frequência de demonstrações de desagrado com a administração pública.
Governo e oposição concordam que a insatisfação não está atenuada. Como continua imutável a
paisagem em Brasília em relação aos eventos de 15 de março, nada indica que os que foram às ruas na
primeira manifestação, mas não participaram dos atos deste domingo, tenham passado a apoiar Dilma e o
projeto do PT. Pelo contrário. A base petista continua acusando o duro golpe da queda de popularidade da
presidente, que navega em mar revolto com um índice de reprovação em torno de 60%. Também é forte
sintoma de mau humor da população a esdrúxula pressão pelo seu afastamento, refletida em pesquisa
que indica o apoio de 63% à abertura de processo de impeachment contra a inquilina do Planalto, mesmo
sem causa jurídica.
Mas, se tais indicadores evidenciam que o projeto petista permanece sob forte contestação, as últimas
semanas mostraram que o governo aparenta alguma disposição para passar da letargia para ações
inadiáveis. O quadro político ainda é nebuloso. As revelações da LavaJato avançam cada vez mais na
direção da cúpula do PT, cujo tesoureiro, João Vaccari, teve de se explicar na CPI da Petrobras. E os
presidentes da Câmara e do Senado, líderes do PMDB, estão sob investigação.
Em meio a esse quadro gelatinoso, a presidente acertou ao entregar a coordenação política do governo
ao vice, Michel Temer. Ao defenestrar o PT do comando das negociações com o Congresso, delegando­ as
ao PMDB, abriu­se uma janela de oportunidade para que situação e oposição conversem, se entendam e
negociem acordos básicos para tirar o país do impasse, a partir de uma pauta que contemple temas
relevantes.
Parte dessa agenda já está no Congresso — à frente o ajuste fiscal, cuja aprovação é essencial para
esconjurar o fantasma da paralisia econômica. Da parte do Legislativo, o sinal verde para a aprovação da
Lei da Terceirização é demonstração de que o Congresso quer enfrentar sem hipocrisias o desafio da
modernização das relações trabalhistas, um nó que começa a ser desfeito para acabar com o anacrônico
engessamento consagrado na legislação. O vácuo político pode desaparecer com entendimentos entre
governo e oposição. Todos ganham.
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