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23 mar 2015 O Globo MARCELLO CERQUEIRA Marcello Cerqueira é advogado
É preciso baixar as armas
Tanto a vencedora quanto o perdedor da eleição se comportaram mal. Mas nada justifica o impeachment
Ainda não vivemos uma crise institucional. Falta pouco, pois a crise política se agrava no dia a dia.
Portanto, a questão da hora é como evitar que essa crise política se transforme em crise institucional.
Cabe ao governo tomar a iniciativa de promover entendimentos para evitar o pior, que pode afetar
toda a nação. Entretanto, o governo não dá sinais concretos de que fará isso. Alguns de seus membros, e
poucos, falam constantemente em “diálogo”. Mas é retórica pobre.
O diálogo só se dará se a presidente tomar a iniciativa de convocar todas as forças políticas. E, para
isso, é preciso formar um governo capaz de realizar essa tarefa.
O ministério que ela constituiu é anterior à atual crise e com esta não tem qualquer relação. O atual
ministério é um conjunto que resultou de acertos partidários para dar continuidade a uma política que se
esgotou. As ruas o demonstram e as pesquisas de avaliação do governo também, e de maneira
aterradora. É burrice repetir que só o eleitorado do outro está descontente. Todo o país está descontente e
cabe à presidente se dar conta disso. As eleições, campanha e resultados, provocaram intensa polarização
social e política. De um lado, a vencedora não mostrou o mundo real, este que, depois da eleição, o
ministro Joaquim Levy se esforça por administrar a custos elevados para os trabalhadores. De outro lado,
o candidato derrotado agiu como se pretendesse um terceiro turno. Ambos se comportaram mal.
Entretanto, nada justifica o impeachment de candidato legitimamente eleito.
A questão é outra: não se trata de ruptura, mas de diálogo. Aquela tem fortes tintas golpistas e o
diálogo não pode ser o vazio que o governo propõe, mas uma ação política concertada. É preciso que fique
claro que o país necessita da concertação. Será que a classe política não está à altura de evitar uma crise
institucional?
Todos sabem como uma ruptura institucional começa. A presidente sabe. A oposição também sabe.
Então, agora é agir.
No caso do governo, o ministério que está aí não presta. Pertence ao passado. A presidente tem
condições de chamar políticos e líderes sociais à altura dos desafios do presente. Políticos e líderes capazes
existem, mas é preciso que a presidente exerça a responsabilidade que as urnas lhe outorgaram. E os
convoque.
Já a oposição precisa se libertar de ressentimentos acumulados e não ouvir as vivandeiras de sempre.
Para fazer a firme oposição ao governo, é necessário abandonar a tentação da oposição ao regime.
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