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Classificação do artigo 3 fev 2015 O Globo
[email protected] MERVAL PEREIRA oglobo. globo.com/ blogs/ blogdomerval
O começo do fim
Mais uma etapa da desconstrução da hegemonia petista foi cumprida na noite de domingo com o
alijamento do partido das principais funções da Câmara, como presidências de comissões ou postos na
nova direção da Mesa, que será presidida, contra a vontade do Planalto, pelo peemedebista Eduardo
Cunha — que transformou a maioria megalômana que o governo teria teoricamente na Câmara em
minoria de 136 votos, menos de 1/3 do plenário.
Ogoverno, em uma só eleição, perdeu o controle que sempre tentou manter sobre o Legislativo, e já
não é possível garantir que CPIs perigosas para ele, como a da Petrobras, deixarão de funcionar, ou terão
sua constituição controlada pelo governo. Mesmo porque já não se sabe mais quem é governo e quem é
oposição na Câmara, e tudo terá que ser negociado ponto a ponto, com ministros responsáveis pela
articulação política tendo saído desgastados desse embate para a presidência da Câmara.
O ministro em teoria responsável maior pelas relações institucionais, o petista Pepe Vargas, que já não
tinha o apoio do próprio PT, mostrou que não se sai bem também com os demais aliados. Ainda provocou
Cunha ao dizer que o presidente da Câmara “pode muito, mas não pode tudo”, o que é uma verdade, mas
o muito que ele pode é mais do que Pepe parece perceber.
Não se saiu melhor o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, em sua primeira prova de fogo como o
mais importante ministro do segundo governo Dilma, e potencial candidato à sua sucessão. O PT mal
começa o governo e já parece sem capacidade para comandar uma base aliada que, desde a eleição
presidencial, dava sinais de que não caminharia unida neste segundo mandato, conseguido às custas de
desgastes institucionais que cobrarão seu custo ao longo dele.
A presidente Dilma, por sua vez, ampliou a distância que a separa do ex­presidente Lula, que tentou
um acordo com o PMDB temendo a derrota — que, afinal, veio no primeiro turno, maior do que previam
os articuladores governistas. O que separa Lula de Dilma não são princípios e valores, mas o pragmatismo,
que o ex­presidente tem de sobra e a atual, não.
A disputa com o PMDB, que volta a ocupar as presidências da Câmara e do Senado, leva o Palácio do
Planalto a uma situação de confronto que não serve aos seus interesses imediatos e, ao contrário, serve
aos do PMDB, que se prepara para apresentar candidatura própria em 2018 ou, no limite, pode ter a
Presidência da República no seu colo, caso as trapaças da sorte encaminhem o processo de desgaste
petista para um desfecho político provocado pelo julgamento do petrolão.
A presidente Dilma tem horror a Eduardo Cunha, dizem, por sua característica marcadamente
fisiológica, e teria razão se fosse esse o motivo. Mas, na Presidência da República, e dirigindo um governo
montado na base do fisiologismo, Dilma não tem mais o direito de alegar questões éticas para tomar
decisões políticas.
Desde quando era a chefe da Casa Civil de Lula, pelo menos, ela sabe como o jogo do poder é jogado, e
já teve a experiência dolorosa no seu primeiro governo de ter que chamar de volta ao Ministério partidos
que haviam sido expulsos por questões éticas. Ganhou as duas eleições a bordo de uma aliança política
construída à base de mensalões e petrolões, e já não tem mais condições de convencer ninguém de que é
contra esses métodos.
Eduardo Cunha, de um lado, potencialmente de oposição, e Renan Calheiros, de outro, potencialmente
de situação, podem trocar de lado com a maior tranquilidade, e representam a maneira de fazer política do
PMDB. No embate entre correntes dissidentes nas duas eleições, o DEM assumiu sua vontade de derrotar
o PT e foi com Cunha já no primeiro turno.
O PSDB iria com ele no segundo turno, mas seguiu a máxima expressa pelo senador José Serra de
que, para derrotar o PT, não vale qualquer coisa. Arlindo Chinaglia achou que era apoio à sua candidatura,
mas na realidade Serra estava acompanhando a orientação do presidente do partido, o senador Aécio
Neves, que levou os tucanos a apoiar Júlio Delgado para dificultar a volta do PSB ao seio governista.
PSDB e PSB fizeram a coisa certa, apresentaram alternativas às candidaturas favoritas, e ajudaram a
derrotar o governo, que agora tem uma base imprevisível para anos políticos imprevisíveis.
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