RECURSOS NATURAIS Homem usa 20% a mais do que a Terra pode repôr Sem eficiência e consumo sustentável, a qualidade de vida vai piorar. A humanidade está usando 20% a mais de recursos naturais do que o planeta é capaz de repôr. Com isso, está avançando sobre os estoques naturais da Terra, comprometendo as gerações atuais e futuras. Se não aumentar a eficiência na produção de alimentos e bens de consumo, o que reduziria a demanda por recursos, poderá haver uma queda dramática na qualidade de vida e no produto da economia mundial a partir de 2030, segundo o Relatório Planeta Vivo 2002, elaborado pelo WWF. De acordo com o relatório, divulgado a 50 dias do início da Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável, em Johannesburgo, o planeta tem 11,4 bilhões de hectares de terra e espaço marinho produtivos – ou 1,9 hectares de área produtiva per capita. Mas a humanidade está usando o equivalente a 13,7 bilhões de hectares para produzir os grãos, peixes e crustáceos, carne e derivados, água e energia que consome. Cada um dos 6 bilhões de habitantes da Terra, portanto, usa uma área de 2,3 hectares. Essa área é a Pegada Ecológica de cada um. A Pegada Ecológica de 2,3 hectares é uma média. Há grandes diferenças entre as nações mais e menos desenvolvidas, como mostra o Relatório Planeta Vivo, que calcula a Pegada de 146 países com população acima de um milhão de habitantes. Os dados mais recentes (de 1999) mostram que enquanto a Pegada média do consumidor da África e da Ásia não chega a 1,4 hectares por pessoa, a do consumidor da Europa Ocidental é de cerca de 5,0 hectares e a dos norte-americanos de 9,6 hectares. A Pegada brasileira é de 2,3 hectares – na média mundial, mas cerca de 20% acima da capacidade biológica produtiva do planeta. O Índice Planeta Vivo (IPV), outro importante indicador do relatório, usado para medir a qualidade ambiental, mostra que a pressão de consumo atual é insustentável. O índice é baseado nas tendências populacionais de centenas de espécies de pássaros, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e espécies florestais. Nos últimos 30 anos, o IPV caiu 37%. O declínio das espécies de água doce tem sido particularmente dramático: em uma amostra de 195 espécies pesquisadas, houve uma queda média de 54% nas populações. Em 217 espécies marinhas, as populações diminuíram em média 35%. Entre as espécies florestais, em 282 analisadas houve um declínio médio de 15%. O fator de maior peso na composição da Pegada Ecológica hoje é a energia, sobretudo nos países mais desenvolvidos. O consumo de energia sozinho é responsável por mais da metade do impacto. Não vamos conseguir reduzir a Pegada Ecológica se o uso da energia não se tornar mais eficiente. Os países ricos precisam fazer a transição para sistemas de energia mais eficientes. Ao mesmo tempo, a geração e transferência de tecnologia são fundamentais para que os países menos desenvolvidos cresçam já usando sistemas de energia eficientes, sem aumentar o dano ambiental. O WWF acredita que os governantes reunidos em Johannesburgo podem reverter algumas das tendências negativas e colocar a humanidade no caminho do desenvolvimento sustentável, se abordarem assuntos cruciais, entre eles o consumo de energia. É preciso substituir os combustíveis fósseis, promover tecnologias, edificações e sistemas de transporte eficientes em termos de uso de energia e encorajar o consumo eqüitativo e sustentável. Em paralelo, é preciso conservar e restaurar os ecossistemas para manter sua diversidade e produtividade biológica. O fato de vivermos em um planeta abundante, mas não sem limites, é um desafio claro para os líderes mundiais que participarão da Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável. Assegurar o acesso aos recursos básicos e melhorar a saúde e a renda das populações mais pobres do mundo são questões que não podem ser separadas da manutenção da integridade dos ecossistemas naturais. A menos que asseguremos a saúde dos ecossistemas, nunca seremos capazes de garantir um padrão de vida aceitável para a maior parte da população mundial. E como fica o Brasil nesta história? No ranking de Pegadas Ecológicas, os países que causam maior impacto estão no topo. O Brasil aparece em 55º lugar, entre os 146 países comparados. O relatório também traz rankings por categorias. Nelas o Brasil está: em em em em 7º em área de pastagens 55º em área destinada à produção de grãos 24º em áreas de florestas (destinadas à extração de madeira e derivados) 78º em área destinada à pesca. A péssima colocação em área de pastagens deve-se à baixa produtividade dos pastos brasileiros. Em uso de áreas de floresta e pesca, o Brasil está dentro dos limites da sua capacidade de reposição. Se manejarmos sustentavelmente, podemos até crescer nessas duas áreas, mas teremos de aumentar a eficiência em outros itens, principalmente pastagens, para diminuir o tamanho da nossa Pegada, que está acima da capacidade de reposição da Terra.