O SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL E OS MATERIAIS MANIPULATIVOS: UMA EXPERIÊNCIA EM UM CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA José Kemeson da Conceição Souza1 - UFPA Maria José Lopes de Araújo 2 - UFPA Marita de Carvalho Frade3 - UFPA Elielson Ribeiro Sales4 - UFPA Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada em um encontro de Formação Continuada com professores que ensinam Matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental, com o tema “O Sistema de Numeração Decimal e os materiais manipulativos: uma experiência em um curso de Formação Continuada”. Tivemos como objetivo verificar os conhecimentos que os professores possuem sobre o Sistema de Numeração Decimal, constatar quais aprendizagens os docentes adquiriam após participarem do encontro de Formação Continuada e relatar as experiências adquiridas pelos professores. A pesquisa é de caráter qualitativo, apoiados em Lüdke e André (1986) por haver características evidentes de descrição e transcrição das respostas dos professores. Utilizamos um questionário para coleta e análise dos dados. Fundamentados em Tardif (2002), Imbernón(2006), Fiorentini (2005), Ferreira (2009), entre outros, para discorrer sobre a importância da Formação Continuada de Professores para a prática docente e da necessidade de conhecer o conteúdo a ser ensinado. Em Lorenzato (2006), Carvalho(1990) e Azevedo(2006) para reforçar a ideia da utilização dos materiais manipulativos e suas contribuições para a aquisição dos conceitos do SND. Constatamos que embora conhecessem o material dourado, poucos faziam o uso em sala de 1 Graduado em Matemática, especialista em Estatística, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Docência em Educação em Ciências e Matemáticas – Mestrado Profissional (PPGDOC) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor formador de Matemática pela Secretaria Municipal de Educação de Marabá/PA. E-mail: [email protected]. 2 Graduada em Matemática, especialista em Educação Matemática, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Docência em Educação em Ciências e Matemáticas – Mestrado Profissional (PPGDOC) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Bolsista FAPESPA. E-mail: [email protected].. 3 Graduada em Matemática, especialista em Educação Matemática, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Docência em Educação em Ciências e Matemáticas – Mestrado Profissional (PPGDOC) da Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: [email protected]. 4 Doutor em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Professor Adjunto do Instituto de Educação Matemática e Científica (IEMCI) da Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 14556 aula. Verificamos que todos os professores saíram do encontro esclarecidos sobre os conceitos do SND e preparados para trabalhar em sala. Percebemos ainda que os docentes puderam refletir sobre a importância de utilizar o material manipulativo em sala de aula. Com isso, entendemos o quão importante são os cursos/encontros de Formação Continuada, pois nós professores precisamos a cada estar em contato com novas metodologias de ensino e que estes professores pesquisados por não serem formados em Matemática precisam ainda mais destes cursos, para poderem (re)aprender a Matemática. Palavras-chave: Formação Continuada de Professores. Materiais Manipulativos. Aprendizagem Significativa. Introdução O presente artigo versa sobre uma experiência de formação continuada de professores realizada com professores de 4º e 5º ano do ensino fundamental no município de Marabá/PA, quando na ocasião um dos autores do artigo ministrou a temática. Materiais Concretos e o Sistema de Numeração Decimal (SND). Nesse sentido, fizemos os seguintes questionamentos: A formação continuada de professores contribui para o ensino de Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental? O uso de materiais concretos contribui para o ensino de Sistema de Numeração Decimal? Para tentar responder aos questionamentos, optamos pela pesquisa qualitativa que dada a sua ampla versatilidade e transitoriedade dos resultados, bem como a refutação ou comprovação de uma hipótese permite maiores possibilidades de atingir aos objetivos do trabalho (GARNICA, 2004, pág. 86). Objetivamos, neste trabalho, verificar os conhecimentos que os professores possuem sobre o SND, constatar quais aprendizagens os docentes adquiriam após participarem do encontro de Formação Continuada e relatar as experiências adquiridas pelos professores. Nesse sentido, buscaremos através do artigo, evidenciar a importância de utilizar materiais manipulativos para promover o ensino do SND. Pois acreditamos que por meio da experimentação/manipulação os alunos passam a compreender de forma significativa os conceitos do Sistema de Numeração por nós utilizados. Discutiremos a Formação Continuada e a sua contribuição para a prática docente, em especial para os professores que ensinam Matemática nas séries iniciais. Em seguida, trataremos sobre os materiais manipulativos e suas contribuições para a aprendizagem dos conceitos do SND. A metodologia e os resultados da pesquisa são apresentados e por fim as principais considerações serão relatadas. 14557 Formação Continuada de Professores Assim como nas demais profissões, que exigem capacitação para o exercício da execução de suas atividades, a formação continuada de professores se configura como algo essencial no que tange à participação dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem nos anos iniciais. Há de se considerar que as formações, no entanto primem pela qualidade e de fato, contribua para melhoria da práxis dos professores. Quanto ao formato e qualidade, as formações continuadas conforme rege às legislações vigentes, devem propiciar ao professor no desenvolvimento de sua profissão, apreender e construir novos conhecimentos juntamente com seus pares. O que Imbernón (2006), enfatiza como primordial num processo de formação continuada o propiciar “ao professor em exercício reflexão na/sobre sua prática, dentro do próprio contexto em que está inserido”. De forma que ele se perceba como autor de seu processo de (auto)formação atribuindo significados às suas vivências. Ferreira (2009, p.22-23), aponta que a formação continuada deve ser um espaço em que os professores possam “compartilhar suas angústias, elaborar novas experiências, novas metodologias e refletir sobre a sua própria prática”. Um ambiente que assim é constituído, pode permitir de fato que novas aprendizagens possam ser vivenciadas e construídas, o que pode potencializar a aprendizagem dos alunos. Formação Continuada de Professores que ensinam Matemática Os professores que ensinam Matemática nos anos iniciais do ensino fundamental são em sua maioria pedagogos, que conforme apontam diversas literaturas pautadas principalmente nas grades curriculares dos cursos de Pedagogia, evidenciam que poucas foram as disciplinas de Matemática disponibilizadas na formação inicial destes professores (SOARES, 2013). Dada essa constatação e mediante à necessidade de ações que minimizem as lacunas da formação inicial, tem-se implementado nas diversas esferas, as formações continuadas, que dentre outros objetivos visam propiciar momentos de construção de conhecimentos, reflexões e mudanças de paradigmas para melhoria do ensino/aprendizagem de Matemática e qualidade da educação. 14558 Nesse sentido, Fiorentini e Nacarato (2005, p. 38), considera que a participação dos professores em exercício “em projetos de formação continuada e a melhoria das condições profissionais e institucionais podem contribuir para a produção e (re)elaboração os saberes necessários a mudança curricular”. De fato, somente a formação continuada não garante que ocorrerá mudanças significativas no processo educacional, mas conjuntamente com outras ações, pode possibilitar ao professor desenvolver sua prática pedagógica de maneira mais consistente e segura, contribuindo para um ensino de Matemática nos anos iniciais menos deficitário e excludente. É notória a importância da implantação e implementação de formação continuada para professores que ensinam Matemática nos anos inicias, fato esse que urge diante dos altos índices evidenciados pelos indicadores da qualidade do ensino de Matemática desse públicoalvo, que ainda evidencia disparidades entre o que se tem e o que se almeja para aprendizagem dos alunos. Para minimizar as distorções e dados ainda alarmantes sobre a qualidade do ensino de Matemática, citamos entre tantos autores, Araújo e Luzio (2004), que vislumbram a melhoria na qualidade da formação continuada dos professores que ensinam Matemática como um fator essencial para a melhoria na qualidade do ensino de Matemática. De fato, sendo a Matemática uma linguagem, se aqueles que devem ser os mediadores desse conhecimento, não dispuserem de momentos para se (auto) formarem e rearticularem seus conhecimentos sobre os conteúdos matemáticos (muitas vezes deficitários) em Matemática, como poderiam esses ensinar a seus alunos aquilo de que não tem conhecimento? Tardif (2002) nos enfoca que o professor deve conhecer sua matéria, sua disciplina para desenvolver um saber baseado em sua experiência com os alunos. Formação Continuada de Professores no município de Marabá (PA) O município de Marabá (PA), por entender a importância da formação continuada para os professores dos anos iniciais do ensino fundamental e em consonância com as diretrizes curriculares nacionais, tem ofertado formações nesse âmbito para todos os ciclos, em especial aqui citamos o II Ciclo (4º e 5º ano), que desde 2012 têm formações continuadas ofertadas pelo próprio município, uma vez que o Governo Federal tem disponibilizado formações continuadas apenas para o I Ciclo, através do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). 14559 Nesse sentido, o Programa Letramento em Prática cujo público-alvo são os professos de 4º e 5º ano do ensino fundamental, tem sido responsável pelas formações continuadas em Língua Portuguesa e Matemática, a fim de propiciar momentos de reflexão e ação dos professores em exercício da rede municipal de ensino, juntamente com seus pares. Os encontros atualmente são realizados bimestralmente em esquema de revezamento, trazendo no âmbito da Matemática, estudos teóricos e práticos sobre os blocos de conteúdos: Números e Operações, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação. O presente trabalho apresenta o relato de um dos encontros em que versou-se sobre o uso de materiais concretos como metodologia para o ensino do SND, elencando referências sobre a temática, diálogos acerca da percepção dos professores cursistas sobre seus envolvimentos e experiências com o ensino de SND, bem como as metodologias utilizadas pelos mesmos, ocorrendo diversas interações e contribuições. Quando se tem um espaço que possibilite a socialização dos professores em que, ocorrem trocas de experiências entre os pares, construção e atualização dos saberes docentes (DINIZ; BORBA, 2009, p.38), de fato um dos principais objetivos da formação continuada é alcançado, o que pode possibilitar um ensino com maior qualidade. O Sistema de Numeração Decimal e os Materiais Manipulativos O SND, conhecido como Sistema de Numeração Indo-Arábico, por ter suas regras inventadas pelos antigos habitantes do Vale do Rio Indo-Índia, por volta de 400 d.c. Indo, pois foram os hindus que reuniram 10 símbolos para representar qualquer quantidade e Arábico por ter sido os árabes, através do comércio e da invasão na Europa, que aperfeiçoaram e divulgaram esses símbolos. Símbolos estes que evoluíram até a representação atual, que utiliza os dez símbolos: 1,2,3,4,5,6,7,8,9 e 0 com os quais podemos representar qualquer número, ou seja, cada algarismo tem um valor de acordo com a posição que ele ocupa na representação do numeral. O SND é multiplicativo, pois o valor posicional é obtido via multiplicação. Também é aditivo, pois o valor total de um número é obtido através de uma adição. Ele é chamado de decimal porque a cada agrupamento de 10, acontecem as trocas de uma ordem para outra. Juntamos 10 unidades para fazer uma dezena e 10 dezenas para fazer uma centena e assim por diante. Esses agrupamentos de dez em dez é que dá o nome de decimal ao Sistema de Numeração. 14560 É posicional pois dependendo de onde o algarismo esteja localizado no número, pode representar quantidades diferentes. O valor representado por um algarismo vai depender da sua posição na representação, por isso é chamado de posicional. Os Materiais Manipulativos e seu uso no Sistema De Numeração Decimal Faremos aqui uma análise das contribuições que os materiais manipulativos (material dourado e ábaco) podem trazer para os professores dos anos iniciais do ensino fundamental. No séc. XVII, Rousseau (1727-1778), ao considerar a Educação como um processo natural do desenvolvimento da criança, ao valorizar o jogo, o trabalho manual, a experiência direta das coisas, seria o precursor de uma concepção de escola. Uma escola que passa a valorizar os aspectos biológicos e psicológicos do aluno em desenvolvimento: o sentimento, o interesse, a espontaneidade, a criatividade e o processo de aprendizagem, as vezes priorizando estes aspectos em detrimento da aprendizagem dos conteúdos. Posteriormente, a médica e educadora italiana (1870-1952), Maria Montessori, após experiências com crianças excepcionais, desenvolveria, no início deste século, vários materiais manipulativos destinados a aprendizagem da matemática. Estes materiais, que a princípios foram construídos para atender as crianças com baixa visão, foram posteriormente estendidos para o ensino de classes normais. Entre seus materiais mais conhecidos encontrase o MATERIAL DOURADO. Lorenzato (2006) nos diz que o material concreto pode ser um excelente catalisador para o aluno construir o seu saber matemático. O Material Dourado e o Ábaco são utilizados na aprendizagem das regras do SND, tema fundamental da matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental, e que permeia toda vida escolar. Lorenzato ressalta ainda que embora os educadores reconheçam a importância destes recursos como meio de aprendizagem ainda o utilizam apenas como uma forma atrativa para as aulas de matemática, deixando de lado o principal objetivo que é o de contribuir para uma aprendizagem significativa. Para que esse distanciamento entre teoria e prática seja minimizado, é necessário que a manipulação deste tipo de material bem como as reflexões sobre seu uso esteja presente desde a formação inicial dos professores. O professor não pode subjugar sua metodologia de ensino a algum tipo de material porque ele é atraente ou lúdico. Nenhum material é válido por si só. Os materiais e seu uso 14561 devem sempre estar como auxiliares do processo de aprendizagem. A simples introdução de jogos ou atividades no ensino da matemática não garante uma melhor aprendizagem. A entrega dos materiais manipulativos nas escolas não garante a utilização dos mesmos de forma que garanta um aprendizado. Portanto é necessário que haja uma formação para os professores utilizarem de forma consciente e abrangente esses materiais. Os materiais manipulativos podem ser fundamentais para que ocorra um aprendizado significativo. Reforçando que o mais importante não é o material, mas sim, a discussão e resolução de uma situação problema ligada ao contexto do aluno. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de matemática (BRASIL, 1998), um dos principais norteadores do ensino da matemática no ensino fundamental é a utilização dos recursos didáticos numa perspectivo problematizadora. Isso significa que o ensino da matemática com os materiais manipulativos não devem se reduzir a uma transposição meramente qualitativa. O uso do material manipulativo requer um planejamento minuciosos tendo em vista os objetivos que desejam alcançar. Um mesmo material pode servir para realização de diferentes atividades com níveis diversos de complexidade visando objetivos distintos em espaço e momentos diferentes. Ao escolher o material a ser utilizado em uma determinada aula, o professor deve observar certos fatores: de ordem didática; de ordem natural e de ordem metodológica. A forma e abordagem com o material manipulativo requer uma atenção especial. Na manipulação de material didático a ênfase não está sobre os objetos e sim sobre as operações que com eles se realizam. Discordo das propostas pedagógicas em que o material didático tem mera função ilustrativa. O aluno permanece respondendo sim ou não a perguntas feitas por ele. (CARVALHO, 1990, p.107) O manuseio de materiais concretos, por um lado, permiti aos alunos experiências físicas à medida que este tem contato direto com os materiais, ora realizando medições, ora descrevendo, ou comparando com outros de mesma natureza. Por outro lado permiti também experiências lógicas por meio das diferentes formas de representação que possibilitam abstrações empíricas e abstrações reflexivas. A utilização dos materiais manipulativos oferece, conforme Azevedo (1979), uma série de vantagens para a aprendizagem das crianças, entre outras podemos destacar: 1.Propicia um ambiente favorável a aprendizagem, pois desperta a curiosidade das crianças e a ludicidade. 14562 2.Possibilita o desenvolvimento da percepção dos alunos por meio das interações realizadas com os colegas e professores. 3.Contribui com a descoberta e redescoberta das relações matemáticas subjacente a cada material 4.É motivador, pois dá um sentido para o ensino da matemática. 5.Facilita a internalização das relações perdidas. 6.“Nada deve ser dado a criança, no campo da matemática, sem primeiro apresentar-se a ela uma situação concreta que leve a agir, a pensar, a experimentar, a descobrir, e daí, a mergulhar na abstração”. Metodologia De acordo com as principais particularidades da pesquisa qualitativa apontadas por Lüdke e André (1986), elegemos que, nesta pesquisa, utilizamos uma abordagem metodológica qualitativa. Isto se dá por haver características evidentes, como descrições, transcrição de respostas e o valor atribuído aos encontros de formação continuada e a necessidade de se estar em ambientes formativos. A pesquisa aconteceu em um curso de Formação Continuada, promovido pela Secretaria Municipal de Educação, para professores que estão no exercício da docência em escolas públicas da rede municipal de Marabá (PA). Participaram da pesquisa 18 professores que ensinam Matemática nas séries iniciais (4º e 5º ano) do Ensino Fundamental. A proposta metodológica para a realização desta pesquisa se concretizou, através das seguintes etapas: estudos das referências teóricas para compreensão do tema trabalhado, aplicação de questionários para coleta de dados antes e após o curso de Formação Continuada e análise dos dados coletados. Resultados Aplicamos um questionário antes do encontro de Formação, afim de verificarmos alguns conhecimentos prévios dos professores. Neste questionário perguntávamos se os docentes conheciam os materiais manipulativos (material dourado e ábaco), caso conhecessem, se utilizavam ou não, caso tivessem utilizado, perguntamos se sentia alguma dificuldade quanto à utilização. Questionamos ainda se os professores possuíam alguma 14563 dificuldade em trabalhar o SND com os seus alunos, se achavam interessante trabalhar com material manipulativo em sala de aula e por fim, se eles acreditavam que o material manipulativo poderia contribuir para o aluno compreender de forma significativa o SND. Verificamos que dos pesquisados, todos os professores conhecem o material dourado e o ábaco, porém, quando perguntamos se utilizavam em sala de aula, apenas 6 responderam que sim, 8 disseram que já utilizaram, mas de forma superficial e 4 nunca utilizaram. O motivo da não utilização destes materiais se dá pelo fato de algumas escolas não possuírem e por não saber como manuseá-lo, como afirma o professor PROF36M8 “Não sei como usar os materiais”. Quando perguntamos se os docentes possuíam alguma dificuldade em ensinar o SND aos alunos, 4 responderam que sim, 11 disseram que não e 3 responderam que às vezes. “De alguma forma tenho dificuldade, pois nem sempre temos formação sobre como usar o material dourado” resposta do professor PROF.36F10. Você acha interessante trabalhar com o material concreto em sala de aula? Este foi mais um questionamento que fizemos aos docentes, 14 responderam que sim, 2 disseram não e 2 apontaram que em parte. Com a utilização do material concreto a aula pode tornar-se mais atrativa (FIORENTINI; MIORIN, 1996). “A aula torna-se mais dinâmica. Os alunos conseguem melhor o tema trabalhado” fala da professora PROF.28F1A2M que dialoga com o pensamento dos autores. Segue alguns relatos dos professores que corroboram com essas ideias: Creio que com a visualização de algo concreto a aprendizagem se aflora com mais facilidade (PROF.?M4). A criança aprende com mais facilidade com jogos, brincadeiras do que só com o quadro, explicação. (PROF.43F5) A aula fica mais dinâmica e interessante para os alunos. (PROF.40F22) Todos os pesquisados responderam que acreditam que os materiais concretos os alunos podem compreender de forma significativa o SND. Abaixo alguns relatos dos professores: Com o material concreto torna-se mais fácil ensinar, bem como os alunos assimilam e compreendem o SND e as operações matemáticas. (PROF.28F1A2M) 14564 Sem dúvida, eles aprendem rápido, sem dificuldades (PROF.45F23). O material concreto sempre proporciona ao educando uma melhor compreensão do conteúdo trabalhado. (PROF.41M14) Ao fim do encontro, realizamos um novo questionário com os docentes, neste, perguntamos-lhes se a partir do estudo realizado puderam entender melhor os conceitos do SND, se compreenderam de forma significa os conceitos do SND a partir da utilização dos materiais manipulativos e por fim, pedimos para que apontassem quais contribuições o encontro havia acrescentado à sua prática pedagógica. Quando perguntados se a partir daquele encontro puderam entender melhor os conceitos do SND, 15 dos pesquisados responderam que sim e 3 responderam que em parte. Um dos que respondeu em parte, afirma que precisa de mais encontros para se sentir mais seguro quanto a utilização dos materiais. Dos que responderam que sim, trazemos a resposta da professora PROF.53F10 onde nos diz que “A partir dos materiais concretos foi possível perceber a facilidade de resolver as operações matemáticas a partir do domínio do SND”. Todos os docentes responderam que com o material manipulativo conseguiram compreender de forma significativa os conceitos do SND. E assim, conseguirão repassar de maneira correta para os seus alunos. Desta forma, percebemos que o professor deve saber o conteúdo que ministrará (TARDIF, 2002). Pedimos para que os professores apontassem as possíveis contribuições que a formação havia deixado à sua prática pedagógica, segue abaixo alguns relatos dos docentes: Proporcionou uma curiosidade em aprender a manusear o material, para que eu possa trabalhar com meus alunos ou meus professores na escola. (PROF.54F23) Me fez refletir melhor sobre minhas praticas pedagógicas e melhorará muito meu conhecimento. (PROF.41M14) Compreensão do SND, através do material dourado; Multiplicação através da utilização de material concreto; As quatro operações com o material dourado. (PROF.28F1A2M) Dar mais valor aos materiais concretos e o seu uso em sala de aula (PROF.28F3) Facilitou minha compreensão dos conteúdos e como repassar para meus alunos. Foi muito bom (PROF.53F10) 14565 Considerações Finais A formação continuada de docentes constitui-se sempre com o intuito de aprimorar a ação pedagógica e valorizar os saberes experienciais dos mesmos, em todas as etapas, onde em cada etapa, uma característica a difere das demais. São nestas formações que os professores encontram subsídios capazes de superar os desencontros entre ideais e realidades, e fortalecerão o sentimento de segurança. Nesta pesquisa, verificamos que embora todos os pesquisados conheçam os materiais manipulativos e acreditem estes podem contribuir de forma significativa na aprendizagem dos alunos apenas 4 utilizaram ou já utilizaram em sala de aula. Percebemos ainda que a falta de instrução quanto ao uso destes materiais e a falta deles nas escolas eram umas das causas pela não utilização em sala com os alunos. Verificamos que os professores saíram do encontro com os conceitos do SND compreendidos e que a partir daí conseguiriam trabalhar de forma eficaz com os discentes. A reflexão quanto ao uso destes materiais por parte dos docentes é mais um ponto de destaque desta pesquisa. Saber para ensinar, dialogando com Tardif (2002), percebemos que devemos conhecer o conteúdo, a disciplina, para desenvolver um saber baseado em sua experiência cotidiana com os educandos. O professor precisa ter domínio da sua disciplina, para que assim sinta-se seguro em sala de aula. Concluímos que os objetivos desta pesquisa foram alcançados, pois conseguimos perceber que os professores compreenderam os conceitos do SND, entenderam a importância de dominar o conteúdo para ministrar aos alunos, conseguiram manusear e a utilizar de forma correta os materiais manipulativos. Com isso, entendemos o quão é importante os cursos/encontros de Formação Continuada, pois nós professores precisamos a cada estar em contato com novas metodologias de ensino e que estes professores pesquisados por não serem formados em Matemática precisam ainda mais destes cursos, para poderem (re)aprender a Matemática. REFERÊNCIAS ARAÚJO, C. H.; LUZIO, N. O ensino da matemática na educação. In: Gazeta do Povo. 21/10/04, p. 12. 14566 AZEVEDO, Edith D. H. Apresentação do Trabalho Montessoriano. In: Ver de Educação e Matemática nº 3, 1979 (pp26-27) BRASIL. Ministéro da Educação e Cultura. Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília.MEC/SEF, 1998. 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