CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE NEUROIMUNOLOGIA KARINNE CRISTINNE DA SILVA CUNHA SOBREVIDA DAS CÉLULAS GANGLIONARES DA RETINA INDUZIDA PELO PMA: ENVOLVIMENTO DA PKC/ E JNK. DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE VISANDO A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM NEUROIMONULOGIA Orientadora: Elizabeth Giestal de Araujo UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINESE 2006 KARINNE CRISTINE DA SILVA CUNHA SOBREVIDA DAS CÉLULAS GANGLIONARES DA RETINA INDUZIDA PELO PMA: ENVOLVIMENTO DA PKC/ E JNK. Trabalho desenvolvido no Laboratório de Cultura de Tecidos Hertha Meyer do Departamento de Neurobiologia, Instituto de Biologia - UFF. Dissertação Universidade de mestrado Federal submetida Fluminense à como requisito parcial de obtenção de grau Mestre em Neuroimunologia. Orientadora: Elizabeth Giestal de Araújo NITERÓI 2006 ii C 972 Cunha, Karinne Cristinne da Silva Sobrevida das células ganglionares das células ganglionares da retina induzida pelo PMA: envolvimento da PKC∗ e JNK / Karinne Cristinne da Silva Cunha. - Niterói: [s. n.], 2006. 74 f. Trabalho de Conclusão de Curso - (Bacharelado em Ciências Biológicas) - Universidade Federal Fluminense, 2006 1. Proteínas. 2. PKC Serina - Treonina Quinase. 3. Células ganglionares. I. Título. CDD 574.133 iii KARINNE CRISTINE DA SILVA CUNHA SOBREVIDA DAS CÉLULAS GANGLIONARES DA RETINA INDUZIDA PELO PMA: ENVOLVIMENTO DA PKC/ E JNK. Dissertação de mestrado submetida à Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção de Mestre em Neuroimunologia Aprovada em Agosto de 2006 BANCA EXAMINADORA Dra. Patrícia Franca Gardino UFRJ Dra. Aline Araujo dos Santos Universidade Estácio de Sá Dra. Ana Lúcia Marques Ventura UFF REVISOR E SUPLENTE _____________________________________________________________ Dra. Helena Carla Castro Cardoso de Almeida UFF iv “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” Fernando Pessoa v Dedico esta dissertação à Janete Cunha por seu exemplo de vida e por tudo que ela representa, e às crianças da casa Maria de Magdala por darem um novo sentido à minha vida. Serei eternamente grata. vi AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a Deus por sua presença constante na minha vida, pelas oportunidades e por seu amor. À minha orientadora Beth por seu apoio, incentivo e exemplo de dedicação, além de seu afeto e compreensão sempre presentes. Aos amigos do laboratório pela ajuda e pelo companheirismo. Sem contar também com os momentos de descontração e alegria proporcionados por eles. Aos amigos Babu, Carla e Docinho em especial, por toda a ajuda nos problemas com o computador e também nas minhas inúmeras solicitações. Muito obrigada. Ao Alexandre por todas as coisas que me ensinou no laboratório, ao Alecsandro e Sr. Bernardino pelo apoio técnico. Aos meus pais por me permitirem a dádiva da vida. Às amigas Alba, Graciete e Ivete pela amizade, carinho e pelo colo, muitas vezes. A Anderson por todo seu incentivo e apoio. Aos amigos que mesmo eu estando longe se fizeram presentes, principalmente Flávia e Mariana que moram comigo e convivem com meu estresse, e também Carina, Cristiane e Elaine. Ao meu namorado Thiago por está sempre ao meu lado, por sua amizade, carinho e ajuda constante. Às minhas primas Maria Luisa e Thaís por me socorrer sempre que precisei. Valeu! Aos meus familiares que contribuíram para mais esta etapa. Obrigada. vii SUMÁRIO Página LISTA DE ABREVIATURAS................................................................... ix RESUMO.................................................................................................... xi ABSTRACT................................................................................................ xii INTRODUÇÃO........................................................................................... Proteína cinase............................................................................................. Família, estrutura e função.......................................................................... Ativação da PKC......................................................................................... Localização das PKCs................................................................................. Morte celular natural e apoptose................................................................. Eventos bioquímicos intracelulares x Morte celular natural....................... A retina........................................................................................................ Células ganglionares da retina..................................................................... 1 1 1 4 10 12 15 18 20 2 OBJETIVOS................................................................................................ 2.1 Objetivo geral.............................................................................................. 2.2 Objetivo específico...................................................................................... 27 27 28 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................ Animais utilizados....................................................................................... Materiais...................................................................................................... Marcação das células ganglionares.............................................................. Cultura......................................................................................................... Revelação da peroxidase nas culturas......................................................... Observação das células ganglionares.......................................................... 29 29 29 30 32 33 34 4 RESULTADOS........................................................................................... 35 5 DISCUSSÃO............................................................................................... 45 6 CONCLUSÃO............................................................................................ 51 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS........................................................... 52 1 1.1 1.1.1 1.1.2 1.1.3 1.2 1.2.1 1.3 1.4 viii LISTA DE ABREVIATURAS AMPc 3´5´- adenosina monofosfato cíclico ATP – adenosina trifosfato BAPTA-AM - 1.2 bis(aminofenoxi)etano-N,N,N´, N´-ácido tetra acético Bcl2 – proteína de linfoma de célula B tipo 2 BDNF - fator neurotrófico derivado do cérebro BFA - brefeldina A CGR - células ganglionares da retina C-KIPS – proteínas de interação com a PKC CMF – salina sem cálcio e sem magnésio CNTF – fator neurotrófico ciliar DAG - diacilglicerol DMSO – dimetilsulfóxido DNA - ácido desoxirribonucleico EGF – fator de crescimento epidermal EGFr - receptor fator de crescimento epidermal EPO - eritropoetina EPOR - receptor da eritropoetina ERK – cinase regulada por sinais extracelulares FGF – fator de crescimento de fibroblasto GCL - camada de células ganglionares IAPs – proteínas inibidoras da apoptose IL-2 – interleucina 2 IL-4 – interleucina 4 INL - camada nuclear interna IP3 - inositol trifosfato IPL – camada plexiforme interna JAK- janus cinase JNK – cjun cinase LIF – fator inibidor da leucemia ix MAP cinase - proteína cinase ativada por mitógeno MARCKs – substrato cinase C rico em alanina miristolada MEK - cinase ativadora da MAP cinase NGF - fator neurotrófico do nervo NT-3 - neurotrofina 3 NT-4/5 - neurotrofina 4/5 NT-6 - neurotrofina 6 ONL - camada nuclear externa OPL - camada plexiforme externa PI3-cinase - fosfatidilinositol 3 cinase PKA – proteína cinase A PKC - proteína cinase C PKD – proteína cinase D PLC - fosfolipase C PMA - acetato de forbol miristato PRKs – cinases relacionadas à PKC PS - fosfatidilserina RACKs – receptores para cinases ativadas Raf - cinase que ativa a MEK Ras - proteína de sarcoma de rato RICKS – receptores para isoenzimas de cinases C inativas SNC - sistema nervoso central SNP – sistema nervoso periférico Src – sarcoma da retina de galinha TGF - fator de crescimento tumoral TrkA - receptor tirosina cinase A TrkB - receptor tirosina cinase B TrkC - receptor tirosina cinase C x RESUMO A proteína cinase C (PKC) é uma serina/treonina cinase mediadora de vários eventos intracelulares tais como proliferação, diferenciação, apoptose e sobrevida. A literatura descreve que o tratamento com acetato de forbol miristato (PMA) por 48h é capaz de aumentar a sobrevida das células ganglionares da retina in vitro. Neste trabalho temos como objetivo caracterizar as vias bioquímicas intracelulares envolvidas nos efeitos causados pelo PMA. Nossos resultados demonstram que o efeito do PMA na sobrevida das células ganglionares é independente da presença do soro fetal bovino, da ativação da fosfolipase C (PLC), da via da Src, das vias da MEK, da PI 3-K e da p38 MAP cinase. Este efeito também independe da liberação vesicular de polipeptídeos e da ativação dos receptores de alta afinidade para neurotrofinas. Entretanto, observamos que o efeito do PMA é dependente da ativação da PKCδ e a da JNK. Baseados nesses resultados, concluímos que as enzimas PKCδ e JNK desempenham um importante papel na sobrevida das células ganglionares da retina. xi ABSTRACT Protein kinase C is a serine-threonine kinase controlling different events such as proliferation, differentiation, apoptosis and survival. Literature described that PMA increases the survival of retinal ganglion cells kept in vitro for 48h. The aim of this work was to investigate the intracellular pathways involved in PMA effect. Our data show that the PMA effect is not mediated by PLC, Src, MEK, PI-3 kinase and p38. The release of polypeptides and activation of Trk receptors are also not involved in the PMA effect. Importantly we observed that the effect of PMA depends on PKCδ and JNK. Based in these results we may conclude that PKCδ and JNK play an important role controlling retinal ganglion cells survival. xii 1. INTRODUÇÃO 1.1. Proteína cinase C 1.1.1 Família, Estrutura e Função A proteína cinase C (PKC) faz parte de uma família de proteínas serina/treonina cinases e sua ativação medeia inúmeras respostas intracelulares (Toker, 1998, para revisão). Esta enzima participa de várias etapas do desenvolvimento do sistema nervoso, mediando eventos proliferativos, de diferenciação, de sobrevida, de neuritogênese e de apoptose (Singer, 1996). Entretanto, sua atividade não se restringe ao período do desenvolvimento, visto que durante a vida adulta, a PKC controla várias respostas celulares tais como a ativação plaquetária, remodelamento do citoesqueleto de actina, modulação de canais iônicos, secreção, dentre outros (Toker, 1998). Ao longo dos anos, diferentes grupos de pesquisa vêm estudando os mecanismos de regulação da atividade da PKC. Esta proteína é composta de 2 subunidades: a) subunidade regulatória que apresenta os domínios C1, responsável pela ligação com o diacilglicerol (DAG) e com o éster de forbol (PMA), e o C2, responsável pela ligação com o cálcio, e b) a subunidade catalítica altamente conservada dentre as diferentes isoformas, que apresenta os domínios C3 e C4 1 responsáveis pela ligação do ATP e do substrato, respectivamente (Michie & Nakagawa, 2005 para revisão) (Figura 1). Figura 1: Esquema da estrutura das diferentes isoformas da PKC mostrando os domínios catalítico, regulatório; de ligação para o PMA/DAG, o cálcio e o ATP, e o homólogo a peckstrina (PH) e um domínio putativo de ligação com a membrana, ambos da PKC . (Retirado de Mochly-Rosen and Gordon, 1998) A família das proteínas cinases C é composta por mais de 10 isoformas que inicialmente foram subdivididas em 3 classes ou subfamílias: (Tabela 1), certamente houve uma alteração na família das proteínas cinases C, com a inclusão da nova classe das cinases relacionadas à PKC (PRKs). 2 A classe convencional é representada pelas isoenzimas α (alfa), βI (beta I), βII (beta II) e γ (gama), que apresentam como característica sítios de ligação para o éster de forbol e para o cálcio. A ativação destas isoenzimas é dependente de cálcio, de DAG de fosfatidilserina e de ácido fosfatídico. (Tabela 1) A classe nova é representada pelas isoenzimas δ (delta), 0 (epsilon), η(eta) e θ (teta) cuja ativação independe de cálcio. Estas enzimas são ativadas por DAG, ácido fosfatídico, fosfatidilserina, fosfatidilinositol e forbol éster. A classe atípica é composta pelas isoenzimas ζ (zeta) e λ/ (lambda, também conhecida como iota), que são cálcio independentes possuem um domínio C1 modificado que não permite a interação com o DAG e não apresentam sítio de ligação para o éster de forbol, não sendo portanto por eles ativadas. De forma interessante diversos trabalhos mostram ativação destas enzimas por fosfatidilserina, ácidos graxos, fosfatidilinositol 3,4,5-trifosfato, ceramida e ácido fosfatídico (Michie & Nakagawa, 2005 para revisão). A PKCµ (mu), também chamada de proteína cinase D (PKD), apresenta posição intermediária entre as classes nova e atípica. Esta isoenzima não responde ao cálcio, ao éster de forbol (Singer,1996), ou ao DAG, entretanto esta parece precisar da fosfatidilserina (PS), à semelhança do que acontece com as isoformas da classe atípica. Alguns autores a colocam em posição intermediária entre as classes 3 nova e atípica, já outros preferem colocá-la na classe atípica (Toker, 1998 para revisão e Mellor & Parker, 1998 para revisão) (Tabela 1). Existem ainda trabalhos que falam de outra subfamília, a das cinases relacionadas à PKC (PRK), também chamadas de PKN (Mellor & Parker, 1998 para revisão; Toker, 1998, para revisão). Essa subfamíla é constituída de três isoenzimas PRK 1-3, que não são ativadas por cálcio, DAG ou ésteres de forbol (Mellor & Parker, 1998 para revisão) (Tabela 1) Classes Issoformas Convencional α, β, βII, γ Nova δ, ε, η, θ Atípica ζ, λ Intermediária entre as µ classes Nova e Atípica PRKs PRK 1-3 Tabela 1: Classificação da família da proteína cinase C (PKC). (Mellor & Parker, 1998 para revisão). 1.1.2 Ativação da PKC Uma via fisiológica bem conhecida de ativação da PKC se dá através da via da proteína G (Figura 2). Neurotransmissores clássicos ou polipeptídeos se ligam a receptores específicos na membrana, ativando uma cascata que envolve a proteína G, a PLC 1 com a subsequente produ ção de inositol trifosfato (IP3) e 4 diacilglicerol (DAG). O IP3 produzido se liga ao receptor específico presente no retículo endoplasmático, promovendo a liberação de cálcio desta organela e conseqüentemente a translocação da PKC para a membrana. A ativação desta proteína é então induzida pelo DAG, pelo cálcio e pela fosfatidilserina. A PKC se torna ativa após a retirada do bloqueio do sítio catalítico que ocorre subsequente à ligação com o DAG. Ocorre então o aumento de afinidade da PKC pela fostatidilserina, que juntamente com a ligação do cálcio no sítio específico, induz a mudança conformacional e a ativação da enzima (Newton, 1995). Figura 2: Descrição da via de ativação da PKC através de receptores metabotrópicos. www.biocarta.com/pathfiles/h_pkcPathway.gif Diferente da via rápida de ativação da PKC descrita acima, para que ocorra uma ativação prolongada é necessário que haja a produção do DAG, a partir da fosfatidilcolina, pela ação da fosfolipase D (PLD). Nesta reação o ácido fosfatídico 5 é transformado em DAG pelas fosfomonoesterases, sendo os intermediários o ácido fosfatídico e a colina (Liu & Heckman, 1998 para revisão). Uma outra forma de ativação da PKC é via receptores catalíticos, que ao serem ativados induzem a ativação direta da PLC e consequentemente à produção do DAG como descrito anteriormente (Yang & Kazanietz, 2003). Figura 3: Formas de ativação das PKCs: incluindo as via receptores metabotrópicos, receptores tirosina kinase e PMA e também as vias de sinalização e efeitos envolvendo as PKCs. Retirado de Yang & Kazanietz, 2003 6 Experimentalmente, a ativação da PKC ocorre através da utilização do acetato de forbol miristato (PMA), um éster de forbol promotor de tumor (Kazanietz & Blumberg, 1996) (Figura 3). Os ésteres de forbol são produtos naturais isolados de Croton tiglium e de outras plantas da família Euphorbiacea (Kazanietz & Blumberg, 1996). Estes compostos têm sido amplamente utilizados em ensaios de ativação da proteína cinase C. O PMA ativa a PKC diretamente devido a sua característica apolar que o permite atravessar a membrana celular facilmente (Figura 4). Esta molécula também consegue ativar a PKC de forma prolongada, visto que não é metabolizado pela célula. A ativação crônica da PKC induzida pelo PMA leva à “downregulation” desta enzima (Pongracz et al., 1994). Figura 4: Estrutura molecular do PMA Retirado de www.biochemj.org/bj/ 344/0451/bj3440451f01.gif. Atualmente a literatura descreve que, além da PKC, o DAG e os ésteres de forbol possuem outras proteínas-alvo como a proteína cinase D, “Ras guanylilreleasing protein” (GRP), proteínas ativadora de GTPase, DAG cinase (DGK) e “myotonic dystrophy cinase- related Cdc42-binding cinases”. Contudo, para que essas proteínas sejam ativadas, a PKC também deve estar ativa o que nos permite 7 dizer que o tratamento com PMA resulta consequentemente na ativação da PKC (Spitaler & Cantrell, 2004 para revisão). A forma ativada da PKC fosforila os resíduos serina e treonina de suas proteínas-alvo (Gatti et al., 1996), sendo que as histonas, as MARCKS (myristoylated, alanine-rich C kinase substrate) e a MAP kinase-kinase-kinase (Raf) são seus alvos mais conhecidos (Cross et al., 2000 para revisão). Algumas PKCs conseguem entrar diretamente no núcleo e ativar genes regulatórios, como a PKC delta (Cross et al., 2000). A translocação da PKC para o local específico relacionado à sua função difere bastante entre as isoformas. Esta enzima pode se associar à membrana plasmática, aos elementos do citoesqueleto ou ao núcleo. Em culturas de células NG 108-15, a PKC / na forma inativa localiza-se próximo ao aparelho de Golgi. Contudo, após o tratamento com PMA por 10 minutos, a enzima é translocada para o núcleo e para a região perinuclear. De forma análoga, a PKC II está associada a estruturas fibrilares em miócitos cardíacos no seu estado inativo, sendo translocada para a região perinuclear quando se torna ativa. De forma inversa, a PKC 0 normalmente se encontra no núcleo e região perinuclear e transloca-se para regiões de contato celular e provavelmente para elementos contráteis em miócitos quando ativada (Mochly-Rosen & Gordon, 1998 para revisão). Existem várias proteínas que participam de forma indireta da ação da PKC, dentre elas podemos citar: a) proteínas que mantêm a PKC na forma inativada 8 ligada a estruturas celulares (i.e. RICKs - receptores para isoenzimas de cinases C inativas); b) proteínas que regulam a translocação da PKC e que se diferem de acordo com a isoenzima ativada (i.e. RACKs – receptores para cinases ativadas); c) proteínas ligadoras de PKC e reguladoras de sua atividade e localização intracelular denominadas C-KIPS proteínas de interação com a PKC. Estas têm participação na ativação, translocação e estabilização da PKC e estão distribuídas em quatro categorias: Proteínas que participam no direcionamento da PKC até seus ativadores fisiológicos. Proteínas que direcionam a PKC para um determinado compartimento celular após sua ativação. Proteínas que são substratos para a PKC ou que formam complexos com a PKC e seus substratos. Outras proteínas de sinalização que formam complexos com a PKC e não se enquadram adequadamente nos itens anteriores (Poole et al., 2004, para revisão). Alterações na interação da PKC com as C-KIPS podem levar à condições patológicas como a cardiopatia dilatada (Arimura et al., 2004), o que demonstra a grande importância destas proteínas na homeostasia. A modulação da atividade da PKC também está relacionada com a ação de um glicosídeo endógeno, semelhante à ouabaína. Diferentes trabalhos têm 9 demonstrado que dependendo da preparação estudada, a ouabaína pode ativar ou inibir a atividade da proteína cinase C (Efendiev et al., 1999). 1.1.3 Localização das PKCs A distribuição das isoenzimas da PKC varia em diferentes tecidos,como mostrado na tabela 2; tendo sido determinada através das técnicas de Northen e Western blot. Tabela 2: Distribuição das isoenzimas de PKC nos tecidos (Liu & Heckman, 1998). Enzimas Localização PKC α, βI, βII, δ , ξ e ζ Em todos os tecidos PKC γ No sistema nervoso central e à medula. PKC η Na pele e nos pulmões e pequena quantidade no cérebro e baço. PKC θ No músculo esquelético, e em menor quantidade nos pulmões, baço, pele e cérebro. PKC µ Em vários tecidos e é fortemente expressada no timo e nos pulmões Estudos imunohistoquímicos e de hibridização in situ, mostraram a presença das isoformas . e da PKC na retina de ratos adultos. No método imunohistoquímico, foi detectada a presença da PKC . na camada nuclear interna e plexiforme interna, o que sugere que as células que expressam essa isoforma sejam um subgrupo de amácrinas e células bipolares, relacionadas aos bastonetes, que 10 transmitem sinal visual ON para as células ganglionares ON da retina. No estudo de hibridização, a PKC. foi encontrada na camada nuclear interna e na camada das células ganglionares da retina, enquanto a PKC foi localizada nas camadas nuclear, plexiforme interna e das células ganglionares. Na camada nuclear interna, esta enzima foi detectada na região das células bipolares relacionada aos cones e células amácrinas (Kosaka et al., 1998). Neste mesmo estudo, não foi detectada a presença da PKC em nenhuma camada da retina (Kosaka et al., 1998). A distribuição das isoenzimas de PKC nos diferentes tecidos talvez explique em parte a diversidade de efeitos da PKC encontrados ao nível celular. Estudos mostraram que a PKC está envolvida no controle da proliferação celular, sendo capaz de modular a transição da fase G1 para a fase S (Leszezynski, 1995). A ativação desta enzima leva a um aumento na proliferação de células gliais em cérebro de ratos neonatos (Bhat, 1989), enquanto o processo de “downregulation” inibe a proliferação de células da linhagem de neuroblastoma (Mohan et al., 1999). O tratamento com um inibidor de PKC resulta na diminuição da proliferação em células de leucemia mielóide de ratos (Leszezynski, 1995). Em relação à apoptose, estudos têm mostrado que o aumento na expressão da PKC e diminuição da PKC está associado à apoptose espontânea na linhagem mielóide humana U-937. A apoptose causada por glicocorticóides em timócitos está relacionada com a translocação e ativação da PKC0, enquanto a ativação da PKC 11 bloqueia a apoptose em timócito, células hematopoiéticas dependentes de IL-3 e em células epiteliais renais (McConkey & Orrenius, 1996). A PKC também medeia a liberação de neurotransmissores, sendo demonstrada a atuação desta enzima na liberação de neurotransmissores em preparações de sinaptossomas obtidas de diversas regiões do sistema nervoso. Em cortes de hipocampo de ratos, a ativação da PKC pelo forbol éster induz o aumento da liberação de glutamato causado pelo K+ (Vaughan et al., 1998 para revisão). A ativação da PKC aumenta ainda a liberação de noradrenalina induzida por estimulação elétrica em cortes de córtex de cérebro de camundongos (Vaughan et al., 1998 para revisão) estando também envolvida na regulação da liberação de acetilcolina (Allgaier et al., 1988, Iannazzo et al., 2000). 1.2. Morte celular natural e apoptose O desenvolvimento do sistema nervoso compreende várias etapas relacionadas com a proliferação, a migração e a diferenciação de células nervosas e gliais que o constituem. A morte celular natural é um evento fisiológico bastante conservado filogeneticamente, que parece controlar o número de células neuronais e gliais no sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). No entanto, vários trabalhos apontam um papel importante da apoptose nas doenças neurodegenerativas e em processos de envelhecimento. 12 Morfologicamente, a apoptose tem como características a perda do volume celular, a condensação da cromatina, a fragmentação organizada do DNA em oligonucleossomas provocada pela ativação das endonucleases, a manutenção da estrutura de outras organelas e da membrana plasmática até o seu rompimento e por fim a fagocitose dos corpúsculos apoptóticos por macrófagos e por células vizinhas. Uma característica muito importante da apoptose é a ausência de resposta inflamatória no tecido. O que resulta na morte de algumas células e na preservação do restante do tecido. Como se houvesse um “suicídio individual” (Bär,1996). A primeira vez que se descreveu o fenômeno de apoptose foi em 1906 (apud Purves e Lichtman, 1985) e desde então este fenômeno continuou a ser estudado por inúmeros pesquisadores, havendo destaque para o estudo no sistema nervoso. Durante os períodos iniciais de desenvolvimento do sistema nervoso, cerca de metade dos neurônios gerados morre. A teoria neurotrófica postula que os neurônios competem por quantidade limitadas de fatores tróficos liberados pelos seus alvos. As células que conseguem estabelecer os contactos sinápticos adequados sobrevivem, pois são capazes de obter os fatores tróficos em quantidades adequadas. Os fatores neurotróficos podem pertencer à família das neurotrofinas constituídas pelos fatores de crescimento do nervo (NGF), neurotrófico derivado do cérebro-(BDNF), Neurotrofina 3 (NT-3) e Neurotrofina 4/5 (NT-4/5) (Oppenheim, 1991). Esses fatores são produzidos pelos neurônios alvo em quantidades limitadas 13 e, corroborando a idéia de que somente as células nervosas capazes de captá-los irão sobreviver a retirada do alvo resulta no aumento da morte neuronal. Por outro lado, tanto o aumento no tamanho, como o aumento na expressão de fatores neurotróficos na população alvo, gera o aumento da sobrevida neuronal (Acheson & Lindsay, 1996). A teoria trófica indica que é durante a chegada dos axônios aos seus alvos, ou seja, durante a sinaptogênese que ocorre a apoptose (Purves, 1988). No entanto, um grande número de estudos descreve também a apoptose dos precursores neuronais e de neuroblastos jovens, que ocorre em várias áreas do cérebro, no cerebelo e na retina, durante a neurogênese (Lossi & Merighi, 2003). Atualmente diversos trabalhos demonstram o papel dos precursores de algumas neurotrofinas na indução da morte celular. O precursor do fator crescimento do nervo (proNGF) e o precursor do fator neurotrófico derivado do cérebro (proBDNF) induzem a morte celular ao se ligarem ao complexo p75/sortilina (Nykjaer et al., 2004). Além das células alvo que desempenham um papel crucial na regulação da morte celular programada, vários trabalhos vêm mostrando a participação das células aferentes (Okado & Oppenheim, 1984; Clarke, 1985) e das células gliais (Newman & Reichenbach, 1996) no controle da sobrevida e diferenciação neuronal (Linden, 1994). 14 1.2.1 Eventos bioquímicos intracelulares x morte celular natural Eventos bioquímicos intracelulares também são importantes na regulação da morte celular natural, e os níveis intracelulares de cálcio têm um importante papel neste fenômeno. Estudos mostram que um aumento na concentração intracelular do cálcio, sem atingir níveis tóxicos, permite a sobrevivência neuronal mesmo na ausência de fatores tróficos (Franklin & Johnson, 1992). Este aumento nos níveis citoplasmáticos de cálcio poderia ser conseguido através da atividade elétrica das células aferentes. A despolarização crônica de neurônios através da utilização de altas concentrações extracelulares de potássio (Franklin & Johnson, 1992) ou através da abertura de canais de sódio induzida pela veratridina é capaz de inibir a degeneração neuronal em cultura (Pereira & Araujo, 1997). O estudo realizado com o Caenorhabditis elegans (C. elegans), um verme que possui 1090 células e destas 131 morrem por apoptose durante seu desenvolvimento foi de grande importância para o melhor entendimento e descrição do fenômeno da apoptose. Os genes ced 3 e ced 4 da C. elegans foram identificados como essenciais para a iniciação do programa de morte, enquanto o ced 9 foi identificado como um gene que deveria ser inibido para disparar o processo de apoptose. Uma significativa homologia foi identificada entre o ced 9 e um gene isolado do linfoma de célula B (bcl 2) que também regula negativamente o programa de morte, e também codifica a proteína Bcl 2 em mamíferos. De forma interessante, a família de proteínas Bcl 2 possui membros 15 proapoptóticos e antiapoptóticos (McConkey & Orrenius, 1996 para revisão; Villa et al.,1997). Alguns membros antiapoptóticos localizam-se na membrana externa da mitocôndria e previnem a saída do citocromo C, preservando a vida da célula. Os membros proapoptóticos podem estar no citoplasma ou na membrana mitocondrial e uma mudança conformacional de sua estrutura ou sua translocação pode induzir mudanças no potencial de membrana mitocondrial, que culmina com a liberação do citocromo C. Quando a mitocôndria libera o citocromo C, este se liga a Apaf -1 e induz a ativação da cascata das caspases (cysteine-dependent aspartate-specific proteases) (Zimmermann & Green, 2000). As caspases são sintetizadas na forma de procaspases e se tornam ativas após clivagem. Estas enzimas são divididas em duas classes: a) as caspases iniciadoras da cascata de sinalização (i.e. as caspases 8 e 10) e b) as caspases efetoras da resposta que agem sobre os substratos nucleares, culminando na apoptose (i.e. as caspases 3, 6 e 7) (Salvesen,1999; Thornberry,1996 para revisão; Thornberry & Lazebnik, 1998 para revisão). Existem duas vias de ativação das caspases, a extrínseca e a intríseca. A via extrínseca se dá com a interação do receptor de morte Fas e seu ligante, que provoca a autoconversão da caspase 8 para a forma ativa, posteriormente ativando a caspase 3, que induzindo assim a célula à apoptose. Na via intríseca, relacionada com a mitocôndria, a via da caspase é ativada após a saída do citocromo C, formando o apoptossoma (citocromo C + Apaf 1+ procaspase 9 e ATP) (Polster & Fiskum, 2004). Esta formação leva à ativação da caspase 9 e conseqüentemente a ativação da caspase 3, que causará a fragmentação do DNA, atuando no complexo 16 CADDFF40 (uma nuclease) e no ICAD/FF45 (seu inibidor). A caspase 3 cliva o inibidor e então a nuclease corta a cromatina (Zimmermann & Green, 2001). As células também possuem inibidores naturais das caspases, denominadas proteínas inibidoras da apoptose (IAPs), que podem impedir o processo da apoptose através da ligação, inibição e possivelmente degradação das caspases (Thornberry & Lazebnik, 1998). O estudo da apoptose é de grande interesse clínico, visto seu papel no desenvolvimento neuronal, e sua participação em processos degenerativos. Outro aspecto interessante da apoptose é a possibilidade terapêutica que advêm da indução deste fenômeno degenerativo. Como exemplo podemos relatar a apoptose de células infectadas por vírus, que se constitui numa barreira muito importante para impedir a replicação viral (Uren & Vaux, 1996), e a utilização da radiação ionizante e de oncogenes como agentes capazes de deflagrar apoptose (Thompson,1995). A busca do conhecimento no que diz respeito aos mecanismos capazes de induzir à apoptose tem sido de grande utilidade em terapias contra o câncer, visto que a indução ao suicídio dessas células transformadas é o mecanismo utilizado pelas drogas quimioterápicas e pela radioterapia. O conhecimento mais amplo sobre este fenômeno, viabilizará para este tratamento o uso de drogas específicas com cada vez menos efeitos colaterais. De fato, quanto maior especificidade existir no tratamento, quanto melhor será o tratamento do paciente e maiores as suas possibilidades de cura (Uren & Vaux, 1996). 17 1.3. A Retina A retina é um tecido extremamente organizado pertencente ao sistema nervoso central, cuja localização permite sua fácil obtenção, sem o risco de trazer tecido conjuntivo adjacente ou outras populações neuronais. Esta característica e sua organização em camadas sinápticas e nucleares, muito semelhante ao observado em outras estruturas do sistema nervoso, facilita o seu estudo in vitro o que torna a retina um excelente modelo experimental (Dowling, 1991; Cepko, 1993 para revisão). A retina está organizada em cinco camadas, incluindo 3 camadas nucleares intercaladas por 2 camadas plexiformes, onde ocorrem os contatos sinápticos. Podemos então observar na retina a presença da camada nuclear externa (ONL), onde estão os corpos celulares dos fotorreceptores (cones e bastonetes); camada plexiforme externa (OPL), onde os prolongamentos de fotorreceptores, células bipolares e horizontais fazem conexões sinápticas entre si; camada nuclear interna (INL), onde se encontram os corpos celulares das células bipolares, horizontais, amácrinas e das células ganglionares deslocadas; camada plexiforme interna (IPL), onde os prolongamentos de células bipolares, amácrinas e ganglionares fazem sinapses; camada de células ganglionares (GCL), onde estão os corpos celulares das amácrinas deslocadas e as células ganglionares (Dowling, 1991 para revisão). A célula de Muller é um tipo particular de astrócito radial, exclusivo da retina, que 18 está localizado na camada nuclear interna e seus prolongamentos se estendem por toda a retina (Newman & Reichenbach, 1996 para revisão). É importante ressaltar que nos primeiros dias após o nascimento do rato, a retina ainda não tem sua estruturação em camadas, apresentando apenas a camada das células ganglionares, início da nuclear interna e uma extensa camada de neuroblastos (figura 4). O processamento da informação luminosa no SNC se inicia quando a luz atravessa toda a retina transparente e estimula o segmento externo dos fotorreceptores. Nessa região ocorre então a transdução do sinal luminoso em sinal elétrico. Na seqüência, há o processamento do sinal elétrico na camada plexiforme externa, atingindo as células horizontais, que são responsáveis pelo processamento lateral na retina, e as células bipolares, que fazem sinapses na camada plexiforme interna. As células amácrinas, que também fazem o processamento lateral, e as ganglionares são então ativadas. Os axônios das células ganglionares formam o nervo óptico, sendo responsáveis pela chegada da informação visual a outras partes do sistema nervoso central (Dowling, 1991 para revisão). 19 Figura 4: Modelo de retina de rato neonato (P0-P2).Observamos a camada de células ganglionares, amácrinas, fotoreceptores e uma extensa camada de neuroblastos. Esquema dado por Gustavo Corrêa 1.4. Células Ganglionares da Retina O rato no primeiro dia pós-natal (idade P0) possui uma retina bastante imatura. No entanto, as células ganglionares já se encontram fora do ciclo mitótico, já que a neurogênese desta população ocorre no período entre 14 a 20 dias embrionários (E14-E20) (Reese e Colello, 1992). Um fato importante é que de P0 a P10 este grupamento neuronal se encontra no período de morte celular natural (Linden e Perry, 1983). Estudos têm demonstrado que, em P0, é possível detectar RNA mensageiro para os receptores de alta (Trk A e B) e baixa (p75) afinidade para as neurotrofinas tanto na camada de células ganglionares como na camada plexiforme interna 20 (Ugolini et al., 1995). As neurotrofinas induzem diferentes respostas nas células ganglionares incluindo: a manutenção da sobrevida inclusive após lesão, a indução de crescimento axonal e a formação correta das vias de projeção e regulação dos contactos sinápticos das células ganglionares com seus aferentes e seus alvos (Cohen-Cory e Fraser, 1994). A axotomia das células ganglionares ocasiona sua rápida degeneração (Allcut et al., 1984). Em 1986, foi demonstrado que o BDNF é capaz de aumentar a sobrevida das células ganglionares mantidas em cultura (Johnson et al., 1986). Posteriormente foi identificada a presença do receptor Trk B e do RNA mensageiro para o BDNF em células ganglionares de ratos neonatos e de ratos adultos (Jelsma et al., 1993, Pérez e Caminos, 1995). Rickman e Rickman em 1996 injetaram BDNF no colículo superior de hamsters jovens e evidenciaram a diminuição da morte celular natural das células ganglionares, corroborando o efeito trófico desta neurotrofina. A neurotrofina 4 (NT-4) atua promovendo a sobrevida das células ganglionares não só durante o desenvolvimento como também em células de ratos adultos (Cohen et al., 1994; Ary-Pires et al., 1997). Além disso, existem trabalhos que demonstram os efeitos desta neurotrofina no processo de morte celular natural das CGR de ratos (Cui e Harvey, 2000). 21 A neurotrofina 3 (NT-3) parece não exercer nenhum efeito sobre as CGR, no que se refere a sobrevida, ramificação de neuritos ou crescimento axonal (von Bartheld, 1998). No entanto, foi evidenciado o RNAm para o receptor de alta afinidade para essa neurotrofina (TrkC) na camada das células ganglionares de ratos (Ernfors et al., 1988; Kittelerová et al., 1995). No que se refere ao NGF, as células ganglionares expressam tanto o RNAm para esta neurotrofina (Zanellato et al.,1993), como o receptor de alta afinidade TrkA (Rickman e Becha, 1995). Estudos in vivo, mostraram que o NGF, o BDNF e NT-4/5 influenciam a morte celular após lesão isquêmica, promovendo um retardo neste processo (von Bartheld, 1998 para revisão). As células ganglionares de rato expressam o receptor p75 durante o desenvolvimento (Eckentein 1988; Yan e Johnson, 1988; Carminoto et al., 1991; Rickman et al., 1992). Contudo, a expressão está inibida em ratos adultos (Hu et al., 1998), sendo reativada após lesão do nervo óptico (Maffei et al., 1990). As neurotrofinas e a ativação de seus receptores participam da morte celular programada quando os axônios estão fazendo seus contatos com o alvo e estabelecendo sinapses (Cowan et al., 1984) e em um momento anterior à sinaptogenese, onde a morte pode ser ativada com a ligação do NGF ao seu receptor de baixa afinidade, p75 (Frade et al., 1996). 22 O crescimento de neuritos das células ganglionares da retina de ratos mantidas em cultura é induzido pelo FGFa, mas este não é capaz de regular a sobrevida destas células (Lipton et al., 1988). Na sua forma básica, o FGF previne a degeneração das células ganglionares após lesão do nervo óptico (Sievers et al., 1987). O efeito do EGF na diferenciação das células ganglionares em períodos iniciais do desenvolvimento tem sido demonstrado (McCabe et al., 1999). Entretanto, não há relato sobre seu efeito na sobrevida desta população neuronal. Dados recentes do nosso laboratório demonstram que o tratamento com EGF não aumenta a sobrevida das células ganglionares mantidas em cultura (Corrêa, comunicação pessoal). As interleucinas também influenciam a sobrevida das CGR. A interleucina-6 (IL-6) aumenta a sobrevida das CGR da retina de ratos mantidas em cultura por 48h. Este efeito tem envolvimento dos canais de cálcio tipo L e a ativação da PKC, sem envolvimento da PKA. No entanto, observa-se a participação das vias da PI3 cinase, da MEK, e dos receptores tirosina cinase (Torres e Araujo, 2001). A interleucina 4 (IL-4) e a interleucina 2 (IL-2) são capazes de aumentar a sobrevida das células ganglionares, utilizando vias bioquímicas diferentes. O efeito de ambas é dose-dependente, contudo o efeito da IL-4 é abolido pelo bloqueio da proliferação glial e pelo bloqueio dos receptores M1, enquanto que a IL-2 23 independe destes eventos para exercer seu efeito (Sholl-Franco et al., 2001). Dados não publicados do nosso laboratório a respeito da IL-2 mostram que o efeito desta molécula na sobrevida das CGR passa pela ativação das tirosinas cinases intracelulares, em particular a da JAK3 (Souza, 2006). Há algum tempo vem sendo demonstrado o efeito trófico da eritropoetina (EPO) no SNC (Jelkmann e Metzen, 1996). Estudos mostraram a expressão da EPO e do seu receptor EPOR na retina e no cérebro (Bocker-Meffert et al., 2002; Marti et al., 1996). Estes receptores são encontrados no corpo celular e nos dendritos das células ganglionares da retina, sendo que a axotomia não interfere na sua expressão. De forma interessante, após a axotomia, ocorre o resgate das CGR quando a EPO é oferecida de forma exógena à essas células. O efeito é mediado pela PI 3 cinase e pela inibição da ativação da caspase 3 (Weishaupt et al., 2004). Outros trabalhos mostram que, após axotomia, a estimulação dos EPOR resulta na a ativação das vias da PI 3 cinase e da ERK-1/2 em CGR em degeneração. No entanto, apenas a ERK1/2 confere neuroproteção às células, não tendo a participação da PI 3 cinase nesse efeito (Kilic et al., 2005). Uma outra forma de aumentar a sobrevida das CGR é com o uso de agentes despolarizantes. Pereira e Araujo em 2000 demonstraram o aumento da sobrevida das CGR induzido pela veratridina, um inibidor da inativação dos canais de sódio dependentes de voltagem. O efeito observado era dependente do cálcio intracelular, mas não do cálcio extracelular, sendo necessário a proliferação celular e a ativação 24 dos receptores muscarínicos do tipo M1. Posteriormente, em 2001 Pereira e colaboradores evidenciaram a importância do sistema colinérgico na sobrevida da célula ganglionar. Os agonistas colinérgicos eram capazes de aumentar a sobrevida das CGR em cultura, sendo imprescindível a participação dos receptores M1. Este efeito era abolido com a inibição dos receptores Trk e pelo bloqueio da secreção de polipeptídios. Os autores propuseram com base nesses dados a liberação de fatores tróficos induzida pela atividade elétrica, que regulam a sobrevida das CGR. Estudos mostram que, em culturas purificadas de CGR, o efeito de alguns fatores tróficos no aumento da sobrevida dessas células só é obtido quando há um aumento dos níveis intracelulares de AMPc. Este aumento pode ser induzido por uma despolarização com o potássio, ocorrendo através da ativação da adenilato ciclase do tipo 1 dependente de cálcio, gerando também o aumento da sobrevida (Meyer et al., 1995). Em 1998, eles mostraram que ambos a despolarização e o aumento nos níveis de AMPc levavam à um aumento dos receptores Trk B inseridos na membrana das células ganglionares, sendo estas mais responsivas ao BDNF. Santos e Araujo em 2001, demonstraram, utilizando culturas de CGR sem a adição de fatores tróficos, que o AMPc aumenta a sobrevida dessas células de forma dose-dependente. Para isto era necessária a participação do sistema colinérgico, sugerindo que o aumento do AMPc induz um aumento da atividade colinérgica, o que permite a produção de fatores tróficos localmente, favorecendo a sobrevida das CGR. 25 A ouabaína é um derivado de esteróide que inibe a atividade da Na+,K+ATPase. Esta molécula foi o primeiro glicosídeo cardíaco usado na terapia da insuficiência cardíaca congestiva, pois induz um aumento na concentração intracelular de Ca2+ no miocárdio (Hansen, 1984). A ouabaína endógena foi identificada no plasma humano (Hamlyn et al., 1991) e muitos estudos indicam sua síntese e liberação pelas adrenais (Foster et al., 1998). Sua função está relacionada com o controle fisiológico da homeostasia do sódio, especialmente na retenção renal crônica de sódio e expansão de volume plasmático (Yates & McDougall, 1997). Após o tratamento com ouabaína, diferentes vias intracelulares são ativadas envolvendo distintas enzimas tais como: proteína kinase C, cálcio calmodulina kinase, a cascata da Ras/Raf/MAP kinase e também tirosinas kinase como EGFr e SRC (Xie & Askari, 2002). Zhou e colaboradores (2001) demonstraram o efeito anti-apoptótico da ouabaína em células LLC-PK1. O envolvimento da enzima PI3kinase no efeito da ouabaína caracterizado (Zhou et al., 2001). Em 2005, Corrêa e colaboradores mostraram pela primeira vez que a ouabaína aumentava a sobrevida das CGR de forma dose-dependente e mediado pela PKC. Visto que concentração utilizada (3ng/mL) é próxima ao valor fisiológico, os autores sugerem que a ouabaína em vez de bloquear a Na+,K+ATPase, estaria regulando a atividade dessa enzima e com isso, resgatando as células ganglionares da morte. 26 2. OBJETIVOS DO TRABALHO A PKC é uma proteína essencial em diferentes etapas do desenvolvimento das células nervosas. Nosso laboratório tem estudado sobre os efeitos do PMA na sobrevida das células ganglionares da retina mantidas em cultura, caracterizando o aumento da sobrevida dessa população neuronal após o tratamento com este agente por 48h. Esse efeito mostrou-se ser dependente da concentração de PMA utilizada, onde apenas um pulso de PMA não mimetiza o efeito do tratamento por 48h. Quando as culturas foram tratadas com um inibidor da PKC, o efeito do PMA foi totalmente abolido e apenas altas concentrações de genisteína (inibidor de tirosinas cinases) foram capazes de inibir a ação do éster de forbol (Santos & Araujo, 2000). 2.1 Objetivo Geral Baseados nos resultados obtidos em nosso laboratório, neste trabalho continuamos os estudos com o PMA, objetivando caracterizar as vias bioquímicas envolvidas neste efeito e identificar a isoenzima de PKC, que provavelmente estaria mediando o aumento na sobrevida das células ganglionares induzido pelo tratamento com PMA. 27 2.2 Objetivos Específicos Analisamos o efeito do tratamento com o PMA na presença de soro fetal bovino, do inibidor dos receptores de alta afinidade para as neurotrofinas (K252a), do inibidor da secreção vesicular de polipeptídeos (BFA), da Src (PP1); da isoforma da PKC/ (Rottlerina). Investigamos ainda as vias da PLC, da PI-3K, MEK, p38 e da JNK. 28 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Animais utilizados Em nosso trabalho utilizamos ratos neonatos da linhagem Lister Hooded nas primeiras 72 horas após o nascimento. 3.2. Materiais Meio de cultura 199, tripsina e soro fetal bovino foram comprados da GIBCO (Gaithersburg – USA); glutamina, penicilina, estreptomicina, poli-Lornitina e horseradish peroxidase (HRP) foram obtidos da Sigma (St. Louis - USA); K252a, PD98059, LY294002 e brefeldina A (BFA), U73122 foram fornecidos pela BIOMOL (Plymouth Meeting – USA); acetato de forbol miristato (PMA) adquirido da Invitrogen (California – USA); PP1, JNK, SB203580 fornecidos pela Calbiochem (California – USA); dimetilsufóxido (DMSO) foi comprado da Mallinckrodt Baker (Paris – USA); entelan proveniente da Merk (Darmstadt – Germany); salina sem cálcio e sem magnésio (CMF); Rottlerina cedida gentilmente pelo professor Carlos Frederico Leite Fontes da UFRJ. 29 3.3. Marcação das células ganglionares Células ganglionares da retina de ratos pigmentados da linhagem Lister Hooded foram marcadas pelo transporte retrógrado de peroxidase. Nas primeiras 24 horas após o nascimento (dia zero), o animal foi anestesiado por hipotermia e fez-se uma incisão longitudinal na região occipital da cabeça. A cartilagem foi cortada com o auxílio de uma tesoura de microcirurgia e os colículos foram expostos. Ambos os colículos receberam injeções de peroxidase (Sigma tipo VI – P8375) 30% diluída em DMSO 2%. O volume total injetado em cada colículo corresponde D / $Sós um período de aproximadamente 16 horas, procedemos à cultura (figura 5). 30 A &6 5' 5( B Ct 4h Ct 48h PMA 48h Figura 5: Foto e esquema de injeção da peroxidase. (A) Fotomicrografia em campo claro e (B) em contraste de fase. 31 3.4. Cultura As culturas foram realizadas de acordo com o seguinte protocolo: A- Ratos de ambos os sexos, até o dia pós natal 2 foram mortos pelo processo de decapitação. B- Os globos oculares foram rapidamente retirados e colocados numa solução salina sem cálcio e sem magnésio (CMF) à temperatura ambiente. C- Dissecou-se a retina e logo procedeu-se o tratamento enzimático com tripsina (Worthington, a 0,1%) por 20 minutos a 37oC em CMF. D- Após a tripsinização, acrescentou-se meio de cultura (199, GIBCO), acrescido de 5% de soro fetal bovino, glutamina 2mM, penicilina 100U/mL e HVWUHSWRPLFLQD JP/ 6LJPD &RP R DX[ílio de uma pipeta Pasteur de ponta afilada, promoveu-se a separação final das células no meio de cultura. E- Distribuiu-se então as células sobre as lamínulas pré-tratadas anteriormente com poli-L-RUQLWLQD JP/ 6LJPD H GLVSRVWDV QR IXQGR GH XPD SODFD GH 3HWUL de 35mm. Em cada placa foi colocado um volume de 1mL de meio de cultura contendo 1,25 x 106 células. As células foram então colocadas na estufa a 37oC numa atmosfera de 95% de ar e 5% de CO2. F- Transcorridas 2 a 4 horas, acrescentou-se 1mL de meio de cultura nas placas controle. Nas placas experimentais, adicionamos as drogas a serem testadas. Neste exato momento foram também fixadas algumas culturas, que irão corresponder ao nosso controle de 100% da população de células ganglionares. As demais culturas são mantidas por 48h in vitro e posteriormente fixadas. 32 3.5. Revelação da peroxidase nas culturas. As células foram fixadas por 5 minutos em solução de Karnovski (1% paraformaldeído e 2% glutaraldeído). Em seguida o fixador foi retirado e lavou-se a preparação com tampão fosfato 0,1M pH 7,3. Posteriormente, revelou-se a enzima peroxidase pelo método de Mesulan que usa a tetrametilbenzidina (TMB) diluído em alcool absoluto como cromógeno (Mesulan, 1978). - Método TMB para peroxidase - Solução A * 185 mL de H2O destilada gelada. * 10 mL de tampão acetato 0,2 M pH 3,3. * 200 mg de nitroprussiato de sódio. - Solução B * 2 mL de álcool absoluto. * 10 mg de TMB. Obs: Aquecer o álcool até mais ou menos 50oC e em seguida adicionar TMB “triturando” até desfazer-se. - Misturar a solução A e B na hora da incubação. - Lavar a preparação em tampão fosfato gelado pH 7,2. 33 - Lavar 3 vezes em água destilada gelada. - Pré incubar 20 minutos na mistura A+B. - Adicionar 3mL de H2O2 1% para cada 100mL da mistura de pré-incubação (concentração final de 0,3%). Após a reação, as culturas foram lavadas em 6 trocas com tampão acetato (5%) 0,2M pH 3,3. A seguir, as lamínulas foram desidratadas ao vento e montadas em lâminas histológicas que foram guardadas à temperatura de 4oC. 3.6. Observação das células marcadas. A observação das células ganglionares marcadas foi realizada em microscópio de campo claro com um aumento de 400 vezes. Nesta condição de observação, as células marcadas são facilmente identificadas dada a granulação azul escura que apresentam. Para estimar o número de células por lâmina, foi realizada uma contagem sistemática de campos por lamínula. A quantidade de células ganglionares contadas no controle 4 horas ficava em torno de 500 a 600 células por lamínula. Nos outros tratamentos a relação foi feita então pela porcentagem com o controle de 4 horas. 34 4. RESULTADOS Inicialmente avaliamos a importância do soro fetal bovino no efeito induzido pelo PMA nas nossas culturas. Nossos resultados experimentais mostraram que mesmo na privação de soro, o PMA continuava aumentando a sobrevida das CGR (Figura 6). Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * * 60 * 0 CT 4h CT 48h CT 48h s/soro PMA 50ng/mL PMA s/soro Figura 6: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença e na ausência de soro fetal bovino. CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h . Em seguida, investigamos a participação da via da enzima fosfolipase C no efeito do PMA, visto que resultados anteriores indicavam que este era dependente da ativação inicial da enzima PKC, e que a via da fosfolipase C é uma das vias fisiológicas que levam à da PKC. 35 Para investigar a participação da fosfolipase C (PLC) envolvida no efeito do PMA utilizamos um inibidor seletivo desta enzima (U73122) na concentração de 4µM. Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50 ng/mL U73122 4µM PMA + U73122 Figura 7: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença do inibidor da PLC (U73122 4µM). CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h. Podemos observar na figura 7 que o U73122 não foi capaz de abolir o efeito do PMA. Este resultado está de acordo com a hipótese de que o PMA está ativando diretamente a PKC, excluindo a enzima fosfolipase C desta via de sinalização. 36 Em seguida, analisamos um possível envolvimento das neurotrofinas no efeito do PMA. Para isso foi utilizado o K252-a, um bloqueador dos receptores Trk, na concentração de 50nM. Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50ng/mL K252a 50nM PMA+K252a Figura 8: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença do bloqueador dos receptores Trk (K252-a 50nM). CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h. Podemos observar na figura 8 que o tratamento com K252-a não bloqueia o efeito do PMA, sugerindo que estes receptores não participam deste efeito (Figura 8). 37 Para analisar a participação de polipeptídeos diferentes das neurotrofinas, no efeito do PMA, utilizamos a Brefeldina-A (3ng/mL), um inibidor da secreção vesicular destas macromoléculas e observamos que não houve bloqueio da ação do PMA (Figura 9). * Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50ng/mL BFA 3ng/mL PMA + BFA Figura 9: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença de Brefeldina-A (3ng/mL). CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato; BFA, Brefeldina A. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h. 38 Para avaliar se as Srcs estariam envolvidas no efeito do PMA, foi usado PP1, um inibidor seletivo destas enzimas. Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50ng/mL PP1 1µM PMA + PP1 Figura 10: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença do inibidor da Src PP1 (1µM). CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h. Os resultados apresentados na figura 10 indicam que as proteínas Srcs não estão envolvidas no efeito do PMA, visto que o PP1 não foi capaz de reverter o efeito. 39 Avaliamos ainda o possível envolvimento da via da PI-3 kinase no efeito do PMA. As culturas foram então tratadas com o Ly294002, um inibidor seletivo desta enzima, na presença de PMA. Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50ng/mL PMA + LY Ly 2,5µM Figura 11: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença do inibidor da PI- 3K, Ly294002 (2,5µM). CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h. Nossos resultados mostram que a via da PI3 cinase não participa do efeito do PMA, visto que o Ly294002 não foi capaz de inibir o aumento na sobrevida das células ganglionares induzido pelo éster de forbol (Figura 11). 40 A próxima etapa deste trabalho foi investigar a participação das vias da MAP cinase no efeito do PMA. Para isso, analisamos inicialmente a participação da MEK através da utilização de um inibidor seletivo desta enzima, o PD98059, na concentração de 50µM (Figura 12). Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50ng/mL PD 50µM PMA + PD Figura 12: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença do inibidor da MEK, PD98059 (50µM). CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h. Podemos observar na figura 12 que o inibidor da MEK não aboliu o efeito do PMA, o que infere que esta enzima não deva estar mediando o efeito estudado. 41 A via da p38 é outra via da MAPK e também foi avaliada através da utilização de um inibidor, o SB203580, na presença do PMA (Figura13). Novamente, podemos observar que não houve bloqueio do efeito do PMA na presença deste inibidor. Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50ng/mL SB 20µM PMA + SB Figura 13: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença do inibidor da via da p38, SB203580 (20µM). CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h. 42 Finalmente, avaliamos a participação da via da JNK, utilizando um inibidor desta via na concentração de 1mM (Figura 14). Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50ng/mL JNK 1mM PMA + JNK Figura 14: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, . CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0,001 comparado ao controle de 48h Podemos constatar na figura 14, que houve inibição total do efeito do PMA, revelando a importância desta via no efeito observado com o PMA. 43 Após a busca das vias envolvidas no aumento da sobrevida das células ganglionares, decidimos identificar a isoforma da PKC que poderia estar sendo ativada pelo PMA. Dados anteriores do laboratório apontavam para uma isorforma da classe nova, visto que o aumento na sobrevida das células ganglionares induzido pelo PMA era independente do cálcio intracelular (Santos & Araújo, 2000). Assim, testamos então a Rottlerina (4µM),um inibidor da PKCδ (delta), na presença do PMA (Figura 15). Sobrevida das CGR (% do controle) 120 * 60 0 CT 4h CT 48h PMA 50ng/mL Rotlerina 4µM PMA + Rotlerina Figura 15: Efeito do PMA (50ng/mL) na sobrevida das células ganglionares da retina depois de 48 h em cultura, na presença de Rottlerina (4µM). CT, controle; PMA, acetato de forbol miristato. Estão presentes as médias ± o erro padrão da média. n: 6-8. * p< 0.001 comparado ao controle de 48h. A Rottlerina foi capaz de bloquear o efeito do PMA sobre a sobrevida das células ganglionares da retina, como revela a figura 15. 44 5. DISCUSSÃO A participação do soro fetal bovino no aumento da sobrevida das células ganglionares induzido pelo PMA sempre foi questionada, já que o soro apresenta, na sua composição, várias moléculas que poderiam contribuir para o aumento da sobrevida. Ao se realizar os ensaios contendo PMA na ausência de soro fetal bovino, nossos resultados mostraram que a presença do soro não é crucial para o efeito do PMA, já que sua ausência não aboliu o aumento da sobrevida das células ganglionares. É interessante observar que na ausência do soro, a sobrevida das células ganglionares nas culturas controle é diminuída. O resultado das culturas controle indica a possível presença de moléculas tróficas no soro fetal bovino responsáveis pela sobrevida das células ganglionares em culturas controle. Em uma revisão de 1998, Toker descreve que as isoformas de PKCs lambda(λ), epsilon(0), zeta (ζ) e mu (µ) podem ser ativadas pela PI 3-K e PLC diretamente. Estudos in vivo envolvendo receptores mutantes do PDGF, mostram que a ativação da PKC0 pode ser dependente da PLCγ e da via da PI 3-K. Além disso, estudos indicam que a PI 3-cinase pode ativar in vitro as PKCs da classe nova (/,0 e η) e também aquelas classe atípica (ζ) (Toker, 1998 para revisão). Para investigar o envolvimento da PLC e da PI 3 cinase no efeito do PMA sobre as células ganglionares utilizamos o U73122 e o LY294002, inibidores da PLC e da PI 3-cinase, respectivamente. Nossos resultados demonstram que nenhuma destas vias deva estar mediando o efeito visto que nenhum destes inibidores aboliu o aumento 45 da sobrevida das células ganglionares induzido pelo PMA. Podemos inferir que o PMA esteja ativando diretamente a PKC e a partir desta ativação uma cascata seja ativada, sendo que não envolve nenhuma das duas enzimas (PLC e PI 3-cinase). Dados do nosso laboratório mostraram que o tratamento com veratridina, um agente despolarizante, aumenta a sobrevida das células ganglionares da retina. Este efeito é mediado pela ativação da PKC, pela liberação vesicular de polipeptídeos e pela ativação dos receptores de alta afinidade para as neurotrofina (Pereira e Araujo, 2000). Dados da literatura demonstraram que o tratamento com NGF induz à ativação da PKC 0 em c élulas PC 12 (Toker 1998, para revisão). Assim, investigamos se o efeito do PMA era dependente da liberação vesicular de polipeptídeos e ou da ativação dos receptores para as neurotrofinas. Nossos resultados mostram que os receptores Trk e a secreção de polipeptídeos não estão envolvidos no efeito do PMA. A utilização de um modelo de isquemia/ perfusão miocárdica em coelhos descrito na literatura, mostra um aumento na atividade da Src na fração citosólica, sendo este efeito bloqueado pelos inibidores da tirosina cinase e da PKC (Armstrong, 2004, para revisão). Com o intuito de avaliar a possível fosforilação da Src pela PKC, utilizamos o PP1 e observamos que esta via não está envolvida no efeito do PMA, já que não houve nenhuma alteração no aumento da sobrevida das células ganglionares. 46 A PKC0 e a PKC estão envolvidas em transdução de sinal mitogênico e, provavelmente exercem seus efeitos na transcrição gênica, pelo menos em parte, através da ativação da via da MAPK (Toker, 1998 para revisão). A PKC0 pode funcionar ainda como um oncogen através do aumento da atividade da Raf-1 kinase, e então modular a via da MAPK. A expressão aumentada desta isoforma leva à ativação de MAPK (Toker, 1998 para revisão) e vários trabalhos na literatura mostram que, logo após a ativação da PKC, ocorre a ativação da via da MAPK. Experimentos de co-tranfecção com alelo ativado da PKC estimula a ativação tanto da MAPK-kinase (MEK) e MAPK. Estudos subseqüentes mostraram que outras isoformas da PKC, incluindo as PKCs da classe convencional, são capazes de ativar a via da MAPK, não sendo esse papel restrito apenas a PKC. Estudos mais recentes têm reforçado o papel de várias isoformas da PKC na ativação da Raf-1, MEK e MAPK em células (Toker, 1998 para revisão). Um aumento da atividade da ERK (p42/p44) em cardiomiócitos adultos que apresentavam um aumento na expressão da PKC0 foi observado e abolido com a inibição da PKC (Armstrong, 2004, para revisão). Com base nos resultados descritos na literatura, avaliamos se a via da MAPK estaria mediando o aumento da sobrevida das células ganglionares induzido pelo PMA nas nossas culturas, utilizando o inibidor da MEK. Nossos dados mostram que o aumento na sobrevida das células ganglionares não é abolido com a utilização do inibidor da MEK. Investigamos ainda a participação da via da p38 no mecanismo de ação do PMA na sobrevida das células 47 ganglionares. Visto que é necessária a ativação da PKC para o efeito do PMA (Santos e Araujo, 2000), precisávamos investigar ainda se outras enzimas da família das MAP cinases não estariam mediando o efeito. Contudo, nossos resultados nos permitem descartar a via da p38, já que o tratamento com PMA na presença do inibidor desta enzima não aboliu o aumento na sobrevida das células ganglionares. Em 2004, alguns trabalhos mostraram que a PKC pode ativar a via da JNK. Em coelhos, a indução de isquemia resultou em um aumento da atividade da p42 (fração nuclear) e p54 (fração citosólica) da JNK e esse aumento era bloqueado com a inibição da PKC (Armstrong, 2004, para revisão). Testamos então o efeito do inibidor da via da JNK na presença do PMA, que foi capaz de abolir o aumento na sobrevida das células ganglionares induzido pelo PMA. De forma importante, este dado contrasta com aqueles presentes na literatura que demonstram a participação JNK em mecanismos de apoptose.O trabalho de Lang e colaboradores em 2004, mostrou que o PMA era capaz de ativar de forma dose-dependente a via da JNK em células de câncer de pulmão não pequenas e que o tratamento com inibidores da PKC abolia o efeito. Nosso resultado mostra que a via da JNK não está exclusivamente ligada ao fenômeno de apoptose, o que aponta a necessidade futura de se investigar como esta via está induzindo o aumento na sobrevida das células ganglionares. Posteriormente procuramos identificar a isoforma da PKC que estaria sendo ativada pelo PMA, visto que as isoformas da classe nova são independente de 48 cálcio, e que dados do nosso laboratório mostravam que o BAPTA- AM, um quelante intracelular de cálcio, não bloqueava o efeito do PMA na sobrevida das células ganglionares da retina (Santos & Araujo, 2000). Assim, testamos então a Rottlerina, um inibidor da PKC/, uma enzima da classe nova. A Rottlerina foi capaz de inibir o efeito do PMA sobre as células ganglionares, demonstrando que a PKC/ era a isoforma que o PMA ativava para exercer seu efeito “trófico”. Em 2004, Lang e colaboradores evidenciaram a translocação das isoformas da PKC., PKC II e PKC0, excluindo a PKC/ após o tratamento com PMA. Os autores também demonstraram que a PKC . e a PKC0 agem juntas para regular a ativação da JNK, sendo que a ativação induzida pelo PMA envolvia a via Rac1/Cdc42/PKC. que convergia para a via PKC0/MEK1/2. De forma constratante, em nosso sistema parece existir uma via diferente das anteriormente descritas, sugerindo a possibilidade de participação de outras proteínas nos processo de ativação da JNK. Não podemos descartar a participação de outras PKCs na ativação da via da JNK, pois em sua revisão de 2004, Toker sugere a existência de uma hierarquia na cascata de ativação da PKC, onde uma isoforma ativaria outra (i.e. a PKC0 VHULD DWLYDGD SHOD 3.& H DWLYDULD D 3.& 1R HQWDQWR Qão se sabe se este evento ocorreria com todas as isoformas ou seria restrito a estas. Com isso, é possível que haja a cooperação da PKC/ FRP RXWUD LVRIRUPD SDUD D DWLYDção da JNK, pois o PMA poderia ativar outras isoformas, e no caso do nosso efeito, uma isoforma da 49 classe nova poderia ser a própria PKC0 2 HVWXGR GHVVD FRRSHUDção é uma perspectiva interessante e importante para a melhoria do conhecimento sobre esse processo. A literatura mostra que fatores de transcrição podem ser fosforilados pela JNK, como o ATF2 e c-jun help que regulam a expressão gênica em resposta a fatores de crescimento, citocinas e outros estímulos de estresse celular (Haper & LoGrasso, 2001). O mecanismo pelo qual a PKC/ leva a ativação da JNK e a caracterização do envolvimento de uma via relacionada estritamente com morte na indução de sobrevida são questões ainda a se investigar. 50 6. CONCLUSÃO Os resultados apresentados neste trabalho demonstram que o efeito do PMA na sobrevida das células ganglionares é independente da presença do soro fetal bovino, da ativação da PLC, da via das proteínas Src, da via da MEK, da via da PI 3-K e da via da p38 MAP kinase. Este efeito também independe da liberação vesicular de polipeptídeos nem da participação dos receptores de alta afinidade para neurotrofinas. Entretanto, de forma interessante observamos a participação da via da JNK, que está freqüentemente envolvida na indução de morte celular. Além disso, vimos que a PKCδ, membro da classe nova, é a isoforma da PKC que está sendo ativada pelo PMA e que é responsável pelo aumento de sobrevida das células ganglionares. 51 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHESON, A. & LINDSAY, R. 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