RODRIGO CAYÔ DA SILVA Caracterização dos Mecanismos de Resistência a Cefalosporina de Quarta Geração e a Ertapenem em Enterobacter cloacae subespécie cloacae Isolados em Hemoculturas Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Mestre em Ciências. São Paulo 2008 RODRIGO CAYÔ DA SILVA Caracterização dos Mecanismos de Resistência a Cefalosporina de Quarta Geração e a Ertapenem em Enterobacter cloacae subespécie cloacae Isolados de Hemoculturas Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Mestre em Ciências. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Campos Pignatari Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Co-orientador: Dr. Rodrigo Elisandro Mendes Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Este trabalho foi realizado com auxílio financeiro fornecido pelo Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). São Paulo 2008 ii DA SILVA, Rodrigo Cayô Caracterização dos Mecanismos de Resistência a Cefalosporinas de Quarta Geração e a Ertapenem em Enterobacter cloacae subespécie cloacae Isolados de Hemoculturas. Rodrigo Cayô da Silva - São Paulo, 2008. xx, 138f. Tese (Mestrado) - Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Infectologia. Título em inglês: Characterization of the mechanisms of resistance to Fourth-Generation Cephalosporins and Ertapenem in Enterobacter cloacae subspecies cloacae Isolated from Blood Cultures. Key-words: Enterobacter subespécie cloacae, resistência bacteriana, antimicrobianos, cefalosporinas, carbapenêmicos, biologia molecular, hemocultura. iii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DISCIPLINA DE INFECTOLOGIA Chefe do Departamento: Prof. Dr. Angelo Amato Vincenzo de Paola Coordenador do curso de Pós-graduação: Prof. Dr. Ricardo Sobhie Diaz São Paulo 2008 iv RODRIGO CAYÔ DA SILVA Caracterização dos Mecanismos de Resistência a Cefalosporina de Quarta Geração e a Ertapenem em Enterobacter cloacae subespécie cloacae Isolados de Hemoculturas BANCA EXAMINADORA: Titular: Prof. Dr. Carlos Alberto Pires Pereira Titular: Profa Dra Beatriz Meurer Moreira Titular: Profa Dra Silvia Figueiredo Costa Suplente: Profa Dra Marinês Dalla Valle Martino Aprovada em: ___/___/___ v ....Temos que decidir apenas o que fazer com o tempo que nos é dado..... J.R.R. Tolkien vi Dedico este trabalho aos meus queridos e amados pais, Evandro e Elizabeth, cujo amor e carinho incondicionais permitiram a conquista desta vitória e me fizeram sentir especial e amado. vii Agradeço as minhas irmãs Cida, Cristina, Alessandra e Ana Paula (in memorian), pelo apoio e palavras de incentivo constantes e por terem preenchido a minha vida de alegria. viii Agradeço a DEUS, por ter dado sentido a minha vida e por ser a força em todos os momentos. ix AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Prof. Dr. Antonio Carlos Campos Pignatari, por ter acreditado e confiado no meu trabalho, pelo exemplo de profissional e honestidade e por permitir o meu crescimento como microbiologista. Ao meu co-orientador Dr. Rodrigo Elisandro Mendes, pela paciência, dedicação e esforço em tornar este trabalho possível. Fica aqui a minha admiração, consideração e respeito. A Profa. Dra. Ana Cristina Gales, pelo carinho e atenção constante, por confiar no meu trabalho, por acreditar na minha capacidade e pelo exemplo e determinação como microbiologista. A Juliana Bertoli, cuja tese permitiu e inspirou a realização deste estudo. Obrigado pela gentileza e desprendimento com que aceitou que eu desse prosseguimento ao seu trabalho. Aos companheiros de república Patrícia, Kelly e Paulo pela amizade, companheirismo e convivência diária. A Patrícia, minha irmã de coração, obrigado por me agüentar todo esse tempo e por ter dividido todos os momentos, tristes e alegres. A Kelly, obrigado pela alegria, pela descontração que só a baiana tem e pelas palavras de incentivo. Ao Paulo, pela admirável inteligência inata e agradável convivência. x A Alinne e Loren por terem me presenteado com amizade e carinho sinceros, que me fizeram sentir tão querido. A Alinne, obrigado pelo apoio, paciência e por me escutar e ser sempre o ombro amigo nos momentos de desânimo e cansaço, sempre com palavras de conforto e ânimo. A Loren, obrigado pela sua incrível personalidade, sinceridade e companheirismo. Essas palavras são poucas para agradecer o muito que me foi oferecido por vocês. A Kátia, Cristina, Gildo, Renata, Ana, Fábio, Laurinha, Diva e Prof. Dr. Sérgio Tuffik do Laboratório de Biologia Molecular da AFIP, por terem me recebido tão bem em um momento importante desta trajetória. Queria agradecer em especial, a Kátia, pela amizade sincera, alegria, carinho e enorme simpatia, e por ter me ajudado tanto, sempre com boa vontade e um sorriso no rosto. A Fernanda Inoue e Renata Picão, por terem dividido comigo todos os momentos desta longa caminhada, principalmente durante o estágio probatório. A Renata, pela inteligência, profissionalismo e pela personalidade admirável. A Fernanda Inoue, pela dedicação, sinceridade e sabedoria. A Amilton, Adryella, Ana Paula Takano, Thaís, Paula Koga e Marco Zonta pelo companheirismo, alegria e alto astral constantes que fizeram dessa caminhada muito mais fácil e agradável. A Andrea e Andréia por terem me ensinado com tanto carinho e atenção as técnicas de diluição em ágar, extração de porinas e ponto isoelétrico. A xi Andrea, pela alegria, pelo seu enorme conhecimento de microbiologia clínica e por ter sempre solucionado, com muita solicitude, as minhas dúvidas durante a realização deste trabalho. A Fernanda Marques, Vinícius, Bruna e Paula Ignéz, pelo carinho, responsabilidade e comprometimento na realização do PFGE. A Fernanda pelo entusiasmo e momentos de descontração. A Jussimara pela atenção com que sempre me tratou desde o início e em especial pelas dicas e conselhos nos momentos finais da conclusão deste trabalho. A Martha pelo carinho, atenção, amizade e pelas palavras sempre gentis e otimistas. A Soraya, pelo profissionalismo, responsabilidade e pela ajuda na interpretação dos resultados do PFGE. Aos amigos do Laboratório ALERTA, Adriana, Anderson, Eloiza, Danilo, Raquel, Lorena, Paula Barbosa, Cecília e Mariana pela ajuda e momentos de descontração. Em especial gostaria de agradecer a Adriana pela amizade, atenção e paciência. A Jacira, por ter me recebido de braços abertos no primeiro dia no LEMC, pelo carinho e alto astral constantes que com certeza deixou muitas saudades e lembranças. A Rosana, pelas boas risadas e por sempre ter me ajudado em momentos importantes e difíceis com muito carinho e atenção. A Neide, por ter tornado o nosso ambiente sempre tão agradável. xii Ao Pedro e a Miriam pelos momentos compartilhados e pelas palavras de incentivo. As amigas do IDIPA-Laboratórios, Agda, Mirella, Renata Volpi, Ana Paula e Roseli pela atenção e ajuda. A Luciana, Cristiana e Priscilla, pelo convívio, ainda que curto, mas que foram muito especiais. A Juliana Gugel, Itacy, Gustavo e Gabriella pelo alegre convívio durante a pós-graduação. A todos os professores da Disciplina de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo, pelo aprendizado e conhecimentos adquiridos ao longo deste trajeto. O meu muito obrigado a todos os laboratórios (Geriatria, Nefrologia, Retrovirologia, Infectologia Pediátrica, Gastropediatria, Micologia, Biologia Celular, Neurologia) que gentilmente cederam aparelhos para a realização deste estudo. Ao Laboratório Especial de Microbiologia Clínica, carinhosamente LEMC, por ter se tornado um segundo lar e por ter diminuído a imensa saudade da minha família e por que não aquelas (bactérias) cuja existência e incrível capacidade de adaptação foram o objeto deste estudo. xiii SUMÁRIO ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...................................................... XVII ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................... XIX ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................... XX 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.......................................................................... 3 2.1 - Agente Etiológico.................................................................................... 3 2.2 - Epidemiologia das Infecções por Enterobacter spp................................ 6 2.2.1 - Infecções da Corrente Sangüínea por Enterobacter spp. ................ 8 2.3 - Opções Terapêuticas para o Tratamento das Infecções por Enterobacter spp. ......................................................................................... 10 2.3.1 - Estrutura, Mecanismo de Ação e Espectro de Atividade das Cefalosporinas de Quarta Geração........................................................... 11 2.3.2 - Estrutura, Mecanismo de Ação e Espectro de Atividade do Ertapenem................................................................................................. 15 2.4 - Mecanismos de Resistência aos β-Lactâmicos .................................... 19 2.4.1 - Produção de β-Lactamases ........................................................... 19 2.4.1.1 - β-Lactamases Cromossomais e Plasmidiais do Tipo AmpC .... 21 2.4.1.2 - β-Lactamases de Espectro Estendido (ESβLs)........................ 24 2.4.1.3 - Metalo-β-Lactamases (MβLs) e Carbapenemases da Classe A e D ............................................................................................................... 26 2.4.2 - Impermeabilidade de Membrana Externa ...................................... 30 2.4.3 - Hiperexpressão de Bombas de Efluxo ........................................... 32 2.4.4 - Alteração de PBPs ......................................................................... 34 xiv 3 - OBJETIVOS ................................................................................................ 36 3.1 - Objetivo Geral....................................................................................... 36 3.2 - Objetivos Específicos ........................................................................... 36 4 - MATERIAL E MÉTODOS............................................................................ 37 4.1 - Amostras Bacterianas........................................................................... 37 4.2 - Avaliação do Perfil de Susceptibilidade ................................................ 37 4.2.1 - Preparo do Inóculo Bacteriano....................................................... 37 4.2.2 - Difusão em Disco ........................................................................... 38 4.2.3 - Diluição em Ágar............................................................................ 38 4.3 - Avaliação da Similaridade Genética pela Técnica de Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE) ................................................................................ 39 4.4 - Avaliação dos Mecanismos de Resistência.......................................... 42 4.4.1 - Detecção Fenotípica da Produção de β-Lactamases pela Metodologia de Aproximação em Disco .................................................... 42 4.4.2 - Teste Fenotípico de Indução de β-Lactamase do Tipo AmpC ....... 43 4.4.3 - Teste de Hidrólise Enzimática........................................................ 44 4.4.4 - PCR para a Detecção dos Genes Codificadores de β-Lactamases45 4.4.5 - Reação de Seqüênciamento e Interpretação dos Resultados ....... 47 4.4.6 - Avaliação fenotípica da expressão de Bombas de Efluxo.............. 48 4.4.7 - Avaliação do Perfil das Proteínas de Membrana Externa .............. 48 4.4.8 - Análise dos Níveis de Transcrição dos Genes ampC, ompC e ompF pela Técnica de PCR em Tempo Real (qRT - PCR) ................................. 50 5 - RESULTADOS............................................................................................ 53 5.1 - Perfil de Susceptibilidade aos Antimicrobianos .................................... 53 5.2 - Avaliação da Similaridade Genética pela Técnica de PFGE ................ 57 xv 5.3 - Avaliação da Produção de β-lactamases.............................................. 60 5.4 - Avaliação da Hiperexpressão de Bombas de Efluxo ............................ 63 5.5 - Avaliação do Perfil das Proteínas de Membrana Externa..................... 64 5.6 - Avaliação do taxa de transcrição dos genes ampC, ompC e ompF ..... 65 6 - DISCUSSÃO ............................................................................................... 67 7 - CONCLUSÕES ........................................................................................... 86 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 88 9 - RESUMO .................................................................................................. 133 10 - ABSTRACT ............................................................................................. 135 11 - ANEXO.................................................................................................... 137 xvi ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIM - Australian Imipenemase ATCC - American Type Cuture Collection CIM - Concentração Inibitória Mínima CLSI - Clinical Laboratory Standards Institute DHP-I - Deidropeptidase - I EDTA - Ácido Etileno-Diamino-Tetracético ESβL - Extended Spectrum β-Lactamase GES - Guiana Extended Spectrum GIM - German Imipenemase HSP - Hospital São Paulo IMI - Imipenem-hydrolysing β-Lactamase IMP - Imipenemase IS - Insertion Sequence KPC - Klebsiella pneumoniae Carbapenemase LEMC - Laboratório Especial de Microbiologia Clínica MβL - Metalo-β-Lactamase MDR - Multi-Drug-Resistance NMC-A - Not Metalloenzyme Carbapenemase OMP - Outer Membrane Protein OXA - Oxacilinase PAβN - Phenyl-Arginine-β-Naphthylamide PBP - Penicillin Binding Protein PCR - Polymerase Chain Reaction xvii PFGE - Pulsed Field Gel Electrophoresis qRT-PCR - Quantitative Real Time Polimerase Chain Reaction RND - Resistance-Nodulation-Division SDS - Sodium Dodecyl Sulfate Polyacrylamide Gel Electrophoresis SFC - Serratia fonticola Carbapenemase SIM - Seul Imipenemase SME - Serratia marcescens enzyme SPM - São Paulo Metallo-β-Lactamase TBE - Tris-Borato-EDTA TSB - Tryptone Soya Broth UFC - Unidade formadora de colônia UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo UTI - Unidade de Terapia Intensiva UV - Ultravioleta VIM - Verona Imipenemase xviii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 - Nomeclatura, sítio de isolamento e significância clínica das espécies de Enterobacter spp.................................................................................................. 4 Tabela 2 - Gene alvo e oligonucleotídeos utilizados como iniciadores para a detecção dos genes codificadores de β-lactamases................................................. 46 Tabela 3 - Oligonucleotídeos utilizados como iniciadores para a quantificação dos genes ampC, ompC e ompF pela técnica de qRT-PCR........................................... 50 Tabela 4 - Perfil de susceptibilidade entre os isolados de E. cloacae pela técnica de difusão em disco.................................................................................................. 54 Tabela 5 - Perfil de susceptibilidade aos β-lactâmicos entre os isolados de E. cloacae pela técnica de diluição em ágar................................................................. 55 Tabela 6 - Comparação dos resultados para ertapenem entre as metodologias de difusão em disco e diluição em ágar......................................................................... 56 . Tabela 7 - Similaridade genética e unidade hospitalar de acordo com a data de isolamento das amostras de E. cloacae.................................................................... 59 Tabela 8 -. Resultados para a produção de β-lactamases e presença de integrons obtidos pela técnica de PCR e seqüênciamento entre as amostras de E. cloacae...................................................................................................................... 62 Tabela 9 - Detecção fenotípica da hiperexpressão de sistemas de efluxo utilizando os inibidores PAβN e reserpina................................................................ 64 Tabela 10 - Análise dos níveis de transcrição dos genes ampC, ompC e ompF pela técnica de qRT-PCR......................................................................................... xix 66 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Estrutura química da cefepima................................................................ 12 Figura 2 - Comparação das estruturas químicas dos carbapenêmicos.................. 15 Figura 3 - Placa modelo utilizada para a detecção fenotípica da produção de ESβL ........................................................................................................................ 42 Figura 4 - Placa modelo utilizada para a detecção fenotípica da indução de AmpC....................................................................................................................... 43 Figura 5 - Perfil de PFGE das amostras de E. cloacae........................................... 57 Figura 6 - Dendograma demonstrando o coeficiente de similaridade entre os isolados de E. cloacae pelo programa BioNumerics................................................ 58 . Figura 7 - Diferentes resultados positivos obtidos no teste de aproximação em disco para a detecção fenotípica de ESβL entre os isolados de E. cloacae............ 60 Figura 8 -. Sinergismo entre o disco de imipenem e ceftazidima obtidos no teste de indução de AmpC entre os isolados de E. cloacae............................................ 61 Figura 9 - Perfil das proteínas de membrana externa (porinas) dos isolados de E. cloacae pela técnica de SDS-PAGE........................................................................ xx 65 INTRODUÇÃO 1 - INTRODUÇÃO Diferentes patógenos podem causar infecções nosocomiais, no entanto, Enterobacter spp., especialmente Enterobacter cloacae subespécie cloacae, doravante denominado no presente estudo de E. cloacae, vem adquirindo grande importância, tornando-se um dos principais causadores de infecções nosocomiais. As infecções associadas a estes microrganismos estão relacionadas a uma maior morbidade, hospitalização prolongada e aumento significativo no custo da internação. A rapidez com que isolados de Enterobacter spp. adquirem resistência aos antimicrobianos durante a terapia, tem se tornado cada vez mais um desafio clínico. A constelação de mecanismos expressos por esses microrganismos, que incluem produção de AmpC cromossomal, β-lactamases de espectro estendido (ESβL) e recentemente a produção de metalo-βlactamases (MβL) associado a impermeabilidade de membrana externa e hiperexpressão de bombas de efluxo, tem levado ao fenômeno de multirresistência. Entre as opções terapêuticas disponíveis para o tratamento de infecções causadas por Enterobacter spp. encontram-se as cefalosporinas de quarta geração e os carbapenêmicos, devido a sua grande estabilidade frente a maioria das enzimas produzidas pelas bactérias Gram-negativas. Entretanto, a emergência da resistência a estas drogas, principalmente aos carbapenêmicos, tem restringido cada vez mais o arsenal antimicrobiano contra estes microrganismos. 1 INTRODUÇÃO A resistência bacteriana aos antimicrobianos tem dificultado muito o tratamento das infecções, especialmente às adquiridas em ambiente hospitalar. O uso desnecessário de drogas sem critérios definidos e sem análise adequada das relações custo/benefício potencializa o surgimento de novas resistências. Apesar de evidências indicarem que estratégias desenvolvidas com o objetivo de reduzir o desenvolvimento da resistência bacteriana, tais como a racionalização do uso e o rodízio de antimicrobianos, quando utilizadas corretamente têm sido efetivas, o número de bactérias multirresistentes tem crescido a cada dia. Combater o uso indiscriminado de antimicrobianos e incentivar a administração correta, por tempo adequado, tem sido um desafio permanente. Medidas para diminuir a resistência bacteriana são fundamentais para qualquer instituição. Para isso, se fazem necessários estudos que visem entender quais os mecanismos estão envolvidos não somente na resistência bacteriana, como também na diminuição da sensibilidade aos antimicrobianos, além do impacto da associação entre esses mecanismos. Uma melhor compreensão sobre o problema da resistência aos antimicrobianos em E. cloacae pode proporcionar melhores oportunidades de tratamento, uma vez que o retardo na adequação da terapia está associado ao aumento da letalidade, sobretudo em infecções nosocomiais. Sendo assim, o presente estudo foi planejado com o intuito de caracterizar os principais mecanismos de resistência a cefalosporina de quarta geração e a ertapenem em E. cloacae isolados de hemoculturas no Hospital São Paulo. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 - Agente Etiológico Os bacilos Gram-negativos pertencentes à família Enterobacteriaceae constituem um grupo de microrganismos freqüentemente isolado de amostras biológicas. Distribuídos amplamente na natureza, esses microrganismos são encontrados no solo, água, plantas e no trato intestinal de seres humanos e animais. Além disso, os membros dessa família podem estar relacionados a qualquer tipo de processo infeccioso, podendo causar infecções até mesmo em indivíduos hígidos, embora os pacientes imunocomprometidos ou debilitados sejam os mais susceptíveis a adquirirem essas infecções, principalmente no ambiente hospitalar (Konemam et al., 2001). O gênero Enterobacter pertence à família Enterobacteriacea e pode ser facilmente diferenciado do gênero Klebsiella por serem bacilos Gram-negativos móveis, usualmente ornitina descarboxilase-positivas e urease negativas (Sanders & Sanders, 1997). Como muitas cepas do gênero Enterobacter produzem grandes quantidades de gás, durante muitos anos a espécie tipo foi denominada Aerobacter aerogenes. A designação de gênero foi modificada para Enterobacter por Edwards e Ewing, em 1962 (Konemam et al., 2001). Devido à heterogeneidade genética dentro do gênero Enterobacter, mudanças taxonômicas ocorrem freqüentemente neste grupo (Abbott, 2007). Atualmente, o gênero Enterobacter inclui 18 espécies ou biogrupos de acordo com a mais recente edição do Manual of Clinical Microbiology (Abbott, 2007) e estão descritas na Tabela 1. 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Tabela 1. Nomenclatura, sítio de isolamento e significância clínica das espécies de Enterobacter spp..a Designação Atual (Prévia) E. aerogenes Freqüência Dados Clínicos Sítio de Significância Infecção ++++ 1 Todos os sítios E. amnigenus biogrupo 1 E. amnigenus biogrupo 2 - E. asburiae ++ Trato urinário, trato respiratório, fezes, pele e sangue E. cancerogenus (E. taylorae) ++ Pele, trato respiratório, fezes E. cloacae subsp. cloacae (E. cloacae) E. cloacae subsp. dissolvens (E. dissolvens) ++++ Todos os sítios Fonte Ambiental Água, solo, esgoto, animais e laticínios Plantas Água 2 Água 2 Animais e Água 1 - Água, solo, esgoto e carne Doença do caule do milho Desconhecida Trato urinário, trato respiratório, sangue e pele 3 Desconhecida E. gergoviae ++ Trato respiratório, trato urinário e sangue 2 Água e cosméticos E. hormaechei subsp. Hormaechei (E. hormaechei) ++ Trato respiratório, pele e sangue 1 E. hormaechei subsp. oharae E. hormaechei subsp. steigerwaltii E. kobei ++ ++ Desconhecida E. ludwigii (E. cloacae) Desconhecida E. cowanii (P. agglomerans) E. nimipressuralis (Erwinia) - E. pyrinus (Erwinia) - E. radicincitans - E. sakazakii ++ Todos os sítios Todos os sítios Desconhecido Trato urinário, trato respiratório, sangue e fezes 1 1 Desconhecida Desconhecido um isolado de sapo Plantas Plantas Alimentos 2 Alimentos Doença do Olmo Doença das Pereiras Filosfera do trigo de inverno Trato respiratório, pele e fluído cérebro-espinhal 1 Desconhecida a Abreviações e símbolos: ++++, freqüente; ++, raro; -, não foi isolado em humanos; 1, principal espécie patogênica ao homem; 2, raros casos de doença comprovada; 3, isolado de humanos, significância desconhecida. Negrito indica sítios de infecção mais comuns. (Adaptado do livro Manual of Clinical Microbiology, 9º ed - Abbott, 2007). 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Duas novas espécies, Enterobacter radicincitans isolada em plantas e Enterobacter ludwigii isolada em humanos, foram incluídas no gênero Enterobacter. Dois outros clusters de organismos previamente incluídos no complexo Enterobacter cloacae são agora subespécies de Enterobacter hormaechei. Cepas anteriormente identificadas como E. hormaechei são agora subespécie hormaechei, e as outras duas novas subespécies criadas são subespécie oharae e subespécie steigerwaltii. Todas as três subespécies foram isoladas em plantas ou de diferentes sítios em humanos. Enterobacter intermedius, que apresentou similaridade genética com Kluyvera cochleae através do seqüênciamento do rRNA 16S, foi transferido para o gênero Kluyvera, sendo designado Kluyvera intermedia. Enterobacter dissolvens é agora E. cloacae subespécie dissolvens e cepas identificadas anteriormente como E. cloacae são agora E. cloacae subespécie cloacae. E. cloacae permanece uma espécie heterogênica com diversos grupos de DNA residindo dentro dela, e assim como em Pantoea agglomerans, esses grupos permanecem sem nomenclatura, uma vez que eles não são separados por testes fenotípicos (Abbott, 2007). Entre as espécies de Enterobacter descritas como sendo capazes de causar doença em humanos, E. cloacae e Enterobacter aerogenes são de longe as espécies mais freqüentemente isoladas, seguidas por Enterobacter sakazakii. As duas primeiras podem ser facilmente diferenciadas pelos testes da lisina e arginina e E. sakazakii pela inabilidade em fermentar o D-sorbitol além da produção de um pigmento amarelo. As demais espécies patogênicas como Enterobacter gergoviae e Enterobacter asburiae raramente são isoladas de espécimes clínicos (Sanders & Sanders, 1997; Abbott, 2007). 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E. cloacae e E. aerogenes encontram-se amplamente distribuídas na água, esgoto, solo, vegetais e fazem parte da microbiota entérica comensal (Konemam et al., 2001; Abbott, 2007). Essas espécies estão associadas a uma variedade de processos infecciosos que afetam o trato urinário (Johansen et al., 2006), trato respiratório (Jastrzebski et al., 2003), pele e tecidos moles (Breathnach et al., 2006), ossos e juntas (Westbloom & Coggins, 1987), sistema nervoso (Gallagher & Ball, 1991), além de bacteremia (Kang et al., 2004) e meningite (Kim & Park et al., 2007). 2.2 - Epidemiologia das Infecções por Enterobacter spp. Enterobacter spp. tem emergido como um dos principais patógenos, principalmente E. cloacae, e esses microrganismos tem sido implicados em uma gama de síndromes clínicas, ocasionalmente mimetizando aquelas tradicionalmente associadas com outros agentes infecciosos mais fáceis de serem tratados. Embora infecções adquiridas na comunidade possam ocorrer, a maioria das infecções causadas por este microrganismo é nosocomial. Estas infecções podem ser adquiridas tanto de fontes endógenas como de fontes exógenas, devido a natureza ubíqua deste microrganismo (Sanders & Sanders, 1997). Surtos por Enterobacter spp. são freqüentemente reportados em unidades pediátricas, unidades de terapia intensiva, unidades de queimados, unidades oncológicas e, geralmente, estão relacionados com soluções intravenosas contaminadas, derivados do sangue, água destilada, endoscópios, mãos de profissionais de saúde, água para hidroterapia, estetoscópios, swabs de algodão, soluções lipídicas e instrumentos usados 6 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA para monitorar a pressão intra-arterial (Gonçalves et al., 2000; Stenhouse, 1992; Struelens et al., 1993; Thomas et al., 1993; Mirza et al., 1994; Wagner et al., 1994; Kuboyama et al., 2003; Dantas et al., 2006). Entretanto, a maioria das infecções causadas por Enterobacter spp. adquiridas no ambiente hospitalar estão relacionadas a uma fonte endógena através da colonização prévia do trato gastrintestinal e de outros sítios (Sanders & Sanders, 1997). Os principais fatores de risco associados à aquisição de infecções por Enterobacter spp. são: hospitalização prolongada, principalmente em UTI; doença de base grave, especialmente processos oncológicos, queimaduras e diabetes; imunossupressão por qualquer causa; prematuridade ou baixo peso ao nascer e uso de procedimentos invasivos (catéter venoso central, tubos endotraqueais e cateteres urinários) (Sanders & Sanders, 1997). Além disso, o fator individual mais freqüentemente associado ao aumento do risco de aquisição de infecção por Enterobacter spp. é o uso prévio de antimicrobianos, principalmente cefalosporina de amplo espectro (Lee et al., 2002; Ye et al., 2006). Uma análise da freqüência dos principais patógenos de acordo com o programa SENTRY no período de janeiro de 1997 a dezembro de 2006 na América Latina demonstrou que E. cloacae foi o sexto patógeno mais comum isolado de infecções da corrente sangüínea (3,74% de todos os isolados), mas também o sexto patógeno mais comum em infecções do trato urinário (2,19%), o oitavo de infecções do trato respiratório (3,09%) e o sétimo de infecções de pele e tecido moles (4,11%) (Cayô et al., 2007). Desde que pacientes em unidades de cuidados especiais apresentam maior risco de aquisição de infecções por Enterobacter spp., estas unidades devem ser analisadas 7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA separadamente dos demais setores do hospital para a análise do aumento da importância desses microrganismos como patógenos nosocomiais (Sanders & Sanders, 1997). Dessa forma, E. cloacae foi o sexto mais isolado em unidades pediátricas (3,54%) e o oitavo mais isolado em unidades de terapia intensiva (3,59%). A freqüência de E. aerogenes variou de décimo primeiro (trato respiratório) a décimo quinto patógeno mais comum em isolados de infecções de pele e tecido moles e infecções do trato urinário (Cayô et al., 2007). 2.2.1 - Infecções da Corrente Sangüínea por Enterobacter spp. De todas as síndromes clínicas, as infecções da corrente sangüínea têm sido estudadas mais freqüentemente e com grande interesse, sendo importantes causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Essas infecções estão entre as dez causas de morte mais freqüentes nos Estados Unidos e estima-se que ocorram aproximadamente 250.000 casos de infecções da corrente sanguínea nosocomiais anualmente (Wenzel, 2002). De acordo com estudos recentes a incidência dessas infecções varia de 1% em unidades de terapia intensiva (Warren et al., 2001) a 36% em transplantados de medula óssea (Collin et al., 2001). As taxas de bacteremia são em torno de 1/1000 admissões em hospitais universitários ou terciários, sendo de duas a três vezes maiores em unidades especializadas, tais como unidades oncológicas, e de duas a três vezes menores em hospitais comunitários. Embora as taxas sejam baixas na comunidade, o problema é significante e crescente (Sanders & Sanders, 1997). Bacteremia por Enterobacter spp. ocorre mais comumente em homens em uma proporção de 1,3 a 2,5:1,0, sendo o sexo predominante tanto em 8 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA crianças como em adultos, e, como na maioria das bacteremias, ocorre mais freqüentemente em extremos de idade, ou seja, em neonatos e idosos. E. cloacae é a espécie mais predominante (46-91% dos isolados) seguido por E. aerogenes (9-43%). Entre as bacteremias causadas por Enterobacter spp., 14 a 53% destas são polimicrobianas (Sanders & Sanders, 1997). Dados do programa SENTRY demonstram que Enterobacter spp. foi o quinto patógeno mais comum em infecções da corrente sangüínea no período de 1997 a 1999 no Brasil (Sader et al., 2001) e o sétimo mais freqüente neste sítio de infecção nos hospitais europeus (Fluit et al., 2001). Acredita-se que infecções causadas por isolados de Enterobacter spp. resistentes aos antimicrobianos, principalmente as infecções da corrente sangüínea, resultam em uma alta mortalidade, hospitalização prolongada e conseqüentemente um aumento nos custos com o paciente quando comparado com isolados sensíveis (Chow et al., 1991; Cosgrove et al., 2002; Kang et al., 2004). Entretanto, Blot e colaboradores (2002) relataram que a resistência antimicrobiana em bacteremias nosocomiais causadas por bactérias Gramnegativas, incluindo Enterobacter spp. não afeta o seguimento clínico em pacientes críticos. Fatores que poderiam estar associados a uma maior mortalidade entre esses pacientes seriam as condições clínicas e a severidade da doença de base (Kim et al., 2003; Kang et al., 2004; Lin et al., 2006), a terapia empírica inadequada (Ye et al., 2006), o atraso na adequação da terapia e remoção do foco infeccioso, além de fatores como virulência e resistência (Lee et al., 2002; Kang et al., 2004) do patógeno causador da infecção. 9 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Alguns estudos têm demonstrado que o uso prévio de cefalosporinas de amplo espectro (terceira geração) é um fator de risco para infecção da corrente sangüínea por Enterobacter spp. (Lee et al., 2002; Kang et al., 2004; Ye et al., 2006), além de propiciar a emergência da resistência a estes agentes (Kaye et al., 2001). O uso da associação entre aminoglicosídeos e cefalosporinas de amplo espectro seria uma opção no tratamento de bacteremias por Enterobacter spp. com a finalidade de evitar o surgimento da resistência às cefalosporinas. Entretanto, os dados na literatura permanecem controversos (Chow et al., 1991; Jacobson et al., 1995; Kaye et al., 2001). Outra possibilidade seria a associação entre quinolonas e cefalosporinas de amplo espectro. Embora Kaye e colaboradores (2001) tenham demonstrado que essa associação pode levar a uma redução do risco para a emergência de resistência às cefalosporinas em Enterobacter spp., alguns autores relatam que a exposição prévia às fluoroquinolonas está relacionado ao isolamento de organismos resistentes a essas drogas (White et al., 1997; Talon et al., 2000). 2.3 - Opções Terapêuticas para o Tratamento das Infecções por Enterobacter spp. As opções terapêuticas disponíveis para o tratamento de infecções causadas por Enterobacter spp. incluem penicilinas, cefalosporinas de terceira e quarta geração, aztreonam, carbapenêmicos e fluoroquinolonas. Os aminoglicosídeos são freqüentemente utilizados em regimes combinados aos β-lactâmicos na tentativa de se evitar o desenvolvimento de resistência 10 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA bacteriana. A monoterapia com aminoglicosídeos é raramente utilizada (Hardman et al., 2000). 2.3.1 - Estrutura, Mecanismo de Ação e Espectro de Atividade das Cefalosporinas de Quarta Geração Desde a sua introdução na prática clínica na década de 60, as cefalosporinas têm se tornado importantes agentes dentro da terapêutica antimicrobiana com uso disseminado devido as suas atividades farmacocinéticas favoráveis (Marshall & Blair, 1999). Ao longo dos anos, modificações na estrutura básica levaram a evolução das gerações das cefalosporinas, as quais são classificadas de acordo com o espectro de atividade (Fung-Tomc, 1997). As cefalosporinas de primeira geração apresentam boa atividade contra organismos Gram-positivos. As cefalosporinas de segunda geração apresentam uma atividade melhorada contra patógenos Gram-negativos e alguma cobertura contra anaeróbicos. Algumas cefalosporinas de terceira geração apresentam boa atividade contra patógenos Gram-negativos, incluindo Pseudomonas aeruginosa, mas possuem uma fraca atividade contra patógenos Gram-positivos. Por outro lado, outras cefalosporinas de terceira geração não são ativas contra P. aeruginosa, mas apresentam boa atividade contra patógenos Gram-positivos. Nota-se que as primeiras gerações apresentam atividade limitada tanto contra organismos Gram-positivos como Gramnegativos (Kessler, 2001). As cefalosporinas de quarta geração (cefepima e cefpiroma) não possuem os problemas apresentados pelas primeiras gerações. Elas 11 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA demonstram boa atividade tanto contra patógenos Gram-negativos como Gram-positivos. A cefepima, também conhecida como Maxipime®, Maxcef®, Cepimax® e Cepimex® é uma cefalosporina parenteral e difere das cefalosporinas de terceira geração por apresentar um nitrogênio quaternário (N-metilpirrolidina) carregado positivamente na posição 3 (Figura 1) do núcleo das cefalosporinas, dando a ela uma propriedade de zwitterion, moléculas que apresentam pólos positivos e negativos (Okamoto et al., 1994; Kessler, 2001). Esta mudança é responsável pelo aumento da permeabilidade da cefepima através da membrana plasmática das bactérias Gram-negativas, sendo de 5 a 6 vezes maior quando comparada às cefalosporinas de terceira geração (Sader & Jones, 1995). O grupo 2-aminotiazolil-acetamida na cadeia ao lado da posição 7 com uma substituição alfa-oximino (Figura 1) aumentou a estabilidade contra β-lactamases, prevenindo que essas enzimas se liguem ao núcleo central. As vantagens estruturais da cefepima renderam a molécula um aumento na sua afinidade pelas PBPs (Penicillin-Binding Proteins), que são o sítio alvo das cefalosporinas (Okamoto et al., 1994; Kessler, 2001). Figura 1. Estrutura química da cefepima (adaptado do artigo de Kessler, 2001). 12 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA As cefalosporinas, como os demais β-lactâmicos agem interferindo na síntese do peptídeoglicano, que é um componente essencial da parede celular bacteriana. A atividade da cefepima, como de todos os β-lactâmicos, é dependente de sua afinidade pelos membros de uma série de enzimas (transpeptidases ou PBPs) envolvidas na síntese do peptídeoglicano, e fatores que influenciam o acesso a estas enzimas. A ligação covalente entre o grupo amida presente no anel β-lactâmico das cefalosporinas e as PBPs fazem com essas enzimas se tornem inativas, conseqüentemente inibindo a síntese da parede celular bacteriana (Fontana et al., 1996). A cefepima se liga com grande afinidade a PBP 3 das bactérias Gramnegativas, mas de alguma forma única ela também se liga com uma relativa alta afinidade a PBP 2. A ligação as PBPs 1A e 1B tem sido observada em concentrações facilmente alcançadas em tecidos humanos (Fontana et al., 1996). Alta afinidade por mais de uma dessas três classes de PBPs de alto peso molecular está associada a uma rápida morte bacteriana (Fontana et al., 1996; Gould, 1999). A carga positiva na posição 3 orienta a molécula de cefepima de tal forma que ela consegue passar pelas porinas, que são proteínas de membrana externa, mais rapidamente. Uma penetração mais rápida permite uma maior concentração do antimicrobiano no espaço periplásmico das bactérias Gramnegativas, aumentando o acesso as PBPs (Hancock & Bellido, 1992; Nikaido et al., 1990; Hancock & Bellido, 1996; Gould, 1999). A cefepima apresenta atividade in vitro similar a cefotaxima e ceftriaxona contra Staphylococcus aureus sensíveis a oxacilina e Streptococcus pneumoniae sensível, intermediário e resistente às penicilinas. Apresenta 13 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA também boa atividade similar àquela apresentada pela ceftazidima contra patógenos Gram-negativos, incluindo P. aeruginosa. Não apresenta atividade contra Enterococcus faecalis, Clostridium difficile, S. aureus resistentes a oxacilina (ORSA) e apresenta pouca atividade contra as espécies de Bacteroides (Okamoto et al., 1994; Chapman & Perry, 2003). Este antimicrobiano é estável contra a maioria das β-lactamases mediadas por cromossomo ou plasmídeos, e é pouco indutor de AmpC. Como resultado, cefepima mantém atividade contra enterobactérias que são resistentes as cefalosporinas de terceira geração, como os mutantes desreprimidos de Enterobacter spp, sendo uma das drogas de escolha utilizadas no tratamento das infecções causadas por este patógeno. Além disso, cefepima pode ser hidrolisada pelas β-lactamases de espectro estendido - ESβLs, mas em uma freqüência bem menor do que as cefalosporinas de terceira geração (Cunha & Gil, 1995; Chapman & Perry, 2003). Com as doses diárias usuáis, a cefepima tem demonstrado bons resultados no tratamento de infecções do trato respiratório inferior, infecções urinárias, infecções de pele e tecidos moles, e em infecções severas, incluindo aquelas associadas a bacteremia (Barradell & Bryson, 1994; Cunha & Gil, 1995; Wynd & Paladino, 1996). Ela apresenta também uma tolerabilidade similar às demais cefalosporinas parenterais, e os efeitos adversos mais comuns são: dor de cabeça (2,4%), náusea (1,8%), rash (1,8%) e diarréia (1,7%) (Barradell & Bryson, 1994; Okamoto et al., 1994). A neurotoxicidade associada com cefepima é outro evento adverso conhecido, mas possivelmente subestimado em pacientes com distúrbios renais (Abanades et al., 2004; Bragatti et al., 2005; Lam & Gomolin, 2006), 14 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA embora já tenha sido relatado também em indivíduos com função renal normal (Maganti et al., 2006). Mesmo sendo um quadro severo, a maioria dos casos é reversível após a retirada do antimicrobiano. 2.3.2 - Estrutura, Mecanismo de Ação e Espectro de Atividade do Ertapenem Os β-lactâmicos tem sido amplamente prescritos no tratamento de infecções nos últimos 60 anos devido a sua excelente eficácia, segurança e tolerabilidade. Entre as diferentes classes de β-lactâmicos, a classe dos carbapenêmicos é a mais potente e a que apresenta o mais amplo espectro de atividade antimicrobiana. Atualmente quatro carbapenêmicos estão disponíveis para o uso clínico: imipenem, meropenem, ertapenem e recentemente o doripenem (Zhanel et al., 2007; Nicolau, 2008). As estruturas químicas do imipenem, meropenem e ertapenem estão demonstradas na Figura 2. a. Radical Trans-1hidroxietil Radical 1β-metil b. c. Substituição metaácido benzóico Figura 2. Comparação das estruturas químicas dos carbapenêmicos: a. imipenem, b. meropenem, c. ertapenem (adaptado dos artigos de Shah & Issacs, 2003 e Hammond, 2004). 15 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Imipenem, o primeiro carbapenêmico utilizado na prática clínica, é coadministrado com cilastatina, um inibidor da deidropeptidase-I (DHP-I), enzima humana localizada nos túbulos renais capaz de inativar o imipenem (Zhanel et al., 2007). Os demais carbapenêmicos desenvolvidos subseqüentemente (meropenem, ertapenem e doripenem) apresentam um radical 1β-Metil (Figura 2b-c), que protege o grupo carbonil β-lactâmico reduzindo assim a hidrólise catalisada pela DHP-I. Dessa forma esses agentes são administrados sem a associação com a cilastatina (Hammond, 2004). A estabilidade dos carbapenêmicos frente às β-lactamases é devida primariamente ao radical trans-1-hidroxietil e a sua justaposição única no grupo carbonil β-lactâmico (Figura 2a-c). Diferente das penicilinas e cefalosporinas que apresentam um radical cis na posição correspondente, o radical trans-1hidroxietil nos carbapenêmicos se estende abaixo do plano do anel β-lactâmico (Hammond, 2004). As β-lactamases, que contém um resíduo de serina no sítio ativo, utiliza a reatividade química intrínseca dos β-lactâmicos para inativá-los. A enzima associa-se não covalentemente ao anel β-lactâmico, e então o radical hidroxila livre do resíduo de serina presente no sítio ativo da enzima ataca o anel βlactâmico, formando uma ligação covalente acil-éster. A hidrólise do éster formado libera a enzima ativa e os antimicrobianos hidrolisados e inativados (Livermore, 1995). O radical trans-1-hidroxietil retira a molécula de água do sítio ativo necessária para uma hidrólise enzimática eficiente, estabilizando a enzima acilada e inativa. Entretanto, a capacidade dos carbapenêmicos de manterem a estabilidade frente as β-lactamases não se estende as 16 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA carbapenemases, entre elas as metalo-β-lactamases (MβLs) (Hammond, 2004). O ertapenem (Invanz®) é um carbapenem 1-β-metil administrado como agente único tanto pela via intravenosa como intramuscular (Shah & Isaacs, 2003). Embora o ertapenem mantenha as características dos carbapenêmicos anteriores, ele difere dos demais membros da classe pela inclusão de uma substituição meta de um radical de ácido benzóico (Figura 2c). Esta substituição possui um papel chave nas propriedades antibacterianas e farmacológicas do ertapenem. Com essa mudança, o anel aromático aumentou de peso molecular (497 daltons) e na lipofilicidade da molécula, e o ácido carboxílico, ioniza a molécula a um pH fisiológico, resultando na carga negativa apresentada pelo ertapenem. Isto resultou em um composto que se liga mais facilmente às proteínas do plasma humano quando comparados aos carbapenêmicos anteriores. Por exemplo, o ertapenem apresenta uma ligação de aproximadamente 95% as proteínas do plasma contra 20% do imipenem (Hammond, 2004). Este aumento na ligação as proteínas do plasma permite a administração de uma dose única diária de 1g de ertapenem comparado as três e quatro doses diárias usadas para o meropenem e imipenem, respectivamente (Cunha, 2002; Livermore et al., 2003). Ertapenem é rapidamente bactericida. Em Escherichia coli, ertapenem se liga as PBPs 1a, 1b, 2, 3, 4 e 5, tendo alta afinidade pelas PBPs 2 e 3 (Shah & Isaacs, 2003). Similar ao imipenem e meropenem, ertapenem apresenta uma ampla atividade antimicrobiana, incluindo patógenos Gram-positivos e Gramnegativos aeróbicos e anaeróbicos. Em contraste aos carbapenêmicos anteriores, o ertapenem apresenta atividade limitada contra P. aeruginosa e 17 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Acinetobacter spp., além de não apresentar atividade contra Enterococcus spp. e Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA) (Livermore et al., 2003; Zhanel et al., 2005). O uso parenteral do ertapenem está aprovado e tem um papel importante no tratamento de pneumonias adquiridas na comunidade associadas a patógenos típicos e de particular valor no tratamento de infecções polimicrobianas, tais como infecções intra-abdominais complicadas, infecção pélvica aguda, infecções complicadas de pele e tecidos moles e infecções urinárias complicadas, especialmente aquelas onde enterobactérias e bactérias anaeróbicas estão envolvidas (Keating & Perry, 2005; Burkhardt et al., 2007). Os efeitos adversos mais comuns associados ao ertapenem são diarréia, complicações devido à infusão, náusea, dor de cabeça, vaginites, flebites ou tromboflebites e vômitos (Curran et al., 2003). Está claro que os carbapenêmicos não podem mais ser considerados como uma classe homogênea. Pensando nisso, Shah & Isaacs (2003) propuseram uma nova classificação para os carbapenêmicos, baseada no espectro microbiológico. Estão incluídos no grupo 1 os carbapenêmicos com limitada atividade contra os não fermentadores, e indicados para o tratamento de infecções comunitárias. O ertapenem é o único membro deste grupo até o momento. O grupo 2 abrange os carbapenêmicos com atividade contra os não fermentadores e, portanto indicados para o tratamento de infecções nosocomiais. Pertencem a este grupo o imipenem, meropenem e recentemente o doripenem, que apresenta uma melhor atividade contra P. aeruginosa quando comparado ao imipenem e meropenem (Jones et al., 2004). O grupo 3 inclui os carbapenêmicos com atividade contra os MRSA. Nenhum 18 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA carbapenêmico com esse espectro de ação está aprovado para uso em humanos. 2.4 - Mecanismos de Resistência aos β-Lactâmicos Os β-lactâmicos são os agentes antimicrobianos mais freqüentemente utilizados na prática médica. A resistência a esses agentes dramaticamente dificulta o tratamento e aumenta a morbidade e os custos com o paciente (Charrel et al., 1996). A resistência bacteriana aos β-lactâmicos pode estar relacionada com qualquer uma das etapas envolvidas no mecanismo de ação desses antimicrobianos, sendo três os mecanismos básicos descritos: I degradação do antimicrobiano pela produção de β-lactamases; II - diminuição da concentração do antimicrobiano relacionado à impermeabilidade de membrana externa ou pela hiperexpressão de bombas de efluxo; III - alteração do sito alvo (PBPs). 2.4.1 - Produção de β-Lactamases A emergência da resistência aos β-lactâmicos começou antes mesmo do primeiro β-lactâmico, a penicilina, ser desenvolvido (Bradford, 2001). A primeira β-lactamase foi identificada em E. coli antes do desenvolvimento da penicilina para uso na prática clínica (Abraham & Chain, 1988). As β-lactamases são a principal causa de resistência bacteriana aos β-lactâmicos e tem sido objeto de extensas investigações microbiológicas, bioquímicas e genéticas (Bush et al., 1995). 19 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA As β-lactamases são enzimas que catalisam a hidrólise do anel βlactâmico, tornando-os inativos, podendo estar localizadas no DNA cromossômico bacteriano, ou em plasmídeos ou transposons. Algumas dessas enzimas utilizam íons de zinco como cofatores enzimáticos, enquanto a grande maioria opera via produção de ésteres de serina (Livermore, 1995). A quantidade de enzima produzida, a habilidade dessa enzima em hidrolisar o βlactâmico e a velocidade com que o antimicrobiano penetra na célula são fatores que irão influenciar no nível da resistência. Essas enzimas são produzidas por inúmeras espécies bacterianas, tanto Gram-positivas como Gram-negativas, diferindo quanto as suas estruturas e localizações. Nas bactérias Gram-positivas, as β-lactamases são secretadas no meio extracelular e, portanto são menos ativas que as enzimas produzidas pelas bactérias Gramnegativas, que se encontram estrategicamente no espaço periplásmico, onde podem alcançar altas concentrações agindo de modo mais eficaz sobre os βlactâmicos, antes desses atingirem o seu sítio alvo, as PBPs (Livermore, 1993). Nos últimos 20 anos, novos antimicrobianos resistentes a ação hidrolítica das β-lactamases têm sido desenvolvidos. Entretanto, com o uso clínico de cada nova classe, novas β-lactamases emergem causando resistência a estes antimicrobianos. Presumidamente, a pressão seletiva do uso indiscriminado de novos antimicrobianos no tratamento de infecções tem selecionado novas variantes de β-lactamases (Bradford, 2001). Embora novas β-lactamases têm sido descobertas nos últimos anos, a classificação proposta por Bush, Jacoby e Medeiros (1995) ainda é a mais utilizada, combinando aspectos estruturais e funcionais das β-lactamases. Outra importante classificação é aquela descrita por Ambler (1980), na qual as 20 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA β-lactamases foram agrupadas em 4 classes (A, B, C e D), levando em consideração as suas seqüências de aminoácidos. 2.4.1.1 - β-Lactamases Cromossomais e Plasmidiais do Tipo AmpC As β-lactamases do tipo AmpC pertencem ao grupo 1 de Bush (Bush et al., 1995) e a classe molecular C de Ambler (Ambler, 1980), sendo encontradas tanto no cromossomo bacteriano como em plasmídeos. As enzimas cromossomais pertencentes a este grupo já foram descritas em uma variedade de microrganismos, principalmente nos membros do grupo CESP (Citrobacter freundii, Enterobacter spp., Serratia marcescens, Providencia stuartii, Pseudomonas aeruginosa e Morganella morganii), podendo ser induzíveis ou não (Philippon et al., 2002). O aumento da expressão de AmpC pode ocorrer em função do antimicrobiano agir como indutor da produção dessa enzima. Alguns βlactâmicos como a cefoxitina e o imipenem são potentes agentes indutores, podendo aumentar de 100 a 600 vezes a expressão dessas β-lactamases (Jones, 1998). A afinidade pelas PBPs 1a, 4, 7a, e 7b é a principal diferença entre indutores fortes e fracos, sendo que a ligação a PBP 4 e/ou 7 parece iniciar a indução das β-lactamases do tipo AmpC. Quando os antimicrobianos indutores são retirados, a produção pode voltar a níveis basais (Sanders et al., 1997). Entre as espécies do gênero Enterobacter, E. gergoviae e alguns isolados de E. sakazakii expressam AmpC em níveis muito baixos e não é induzível, o que explica a grande sensibilidade dessas espécies a ampicilina, 21 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA cefalosporinas antigas e cefoxitina. Entretanto, em outras espécies como E. cloacae subespécie cloacae, E. aerogenes e alguns isolados de E. sakazakii essas enzimas são induzíveis, levando a resistência intrínseca a esses antimicrobianos (Jacobs et al., 1995). Três proteínas (AmpD, AmpG, e AmpR) foram descritas no mecanismo de indução das β-lactamases cromossomais do tipo AmpC (Jacobs et al., 1995; Normark et al.,1995; Kuga et al., 2000). AmpD é uma recente N-acetilmuramilL-alanina amidase que participa na reciclagem intercelular dos fragmentos de peptídeoglicano (Holtje et al., 1994; Jacobs et al., 1994). A AmpD degrada o tripeptídeo 1,6-anhidro-N-acetilmurâmico (tripeptídeo 1,6-anhMurNac) para liberar o tripeptídeo L-Ala-D-Glu-meso-ácido diaminopimélico (meso-DAP) para direta utilização na construção de novos peptídeoglicanos (Jacobs et al., 1994; Jacobs et al., 1995). Mutação no gene ampD que resulta na expressão de βlactamases, mesmo na ausência de um indutor, coincide com o acúmulo do tripeptídeo 1,6-anhMurNac (Jacobs et al., 1995). A inativação da proteína AmpD leva a uma hiper-produção semi-constitutiva ou hiperinduzida de AmpC em E. cloacae subespécie cloacae (Ehrhardt et al., 1996). Por outro lado, AmpD-mutantes com níveis elevados de expressão de β-lactamases mostram um dos três fenótipos conhecidos (hiperinduzido, desreprimido, e parcialmente desreprimido), os quais estão associados com diferentes mutações ou, talvez, dependam da regulação de genes desconhecidos (Stapleton et al., 1995). AmpG é uma proteína transmembrana envolvida na permeabilidade do tripeptídeo N-acetilglucosamina(GluNac)-1,6-anhMurNac. Esta proteína primariamente afeta o D-pentapeptídeo (pentapeptídeo dissacarídico; GluNac1,6-anhMurNac-L-Ala–D-Glu-meso-Dap-D-Ala-D-Ala), um muropeptídeo 22 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA periplasmático que é convertido em uma molécula sinalizadora citoplasmática para indução de β-lactamases (Dietz et al., 1997). Sem o gene ampG, nem a indução e nem os altos níveis de expressão de β-lactamases é possível (Korfmann & Sanders, 1989; Dietz et al., 1997). A proteína AmpR atua como um ativador transcricional pela ligação na regiões do DNA localizada imediatamente upstream da região promotora do gene ampC (Jacobs et al., 1997). Na ausência de um β-lactâmico indutor, AmpR reprime a síntese de β-lactamases em 2,5 vezes, enquanto que a expressão é induzida de 10 a 200 vezes na presença do β-lactâmico indutor (Lindberg & Normark, 1987). β-lactamases do tipo AmpC induzível conferem resistência às penicilinas, inclusive as associações com inibidores de β-lactamases (sulbactam, tazobactam e ácido clavulânico), cefalosporinas de 1º, 2º e 3º gerações, e aos monobactâmicos (aztreonam), principalmente quando ocorre mutação no gene ampD, que normalmente previne altos níveis de expressão dessas β-lactamases. Embora as cefalosporinas de quarta geração (cefepima e cefpiroma) apresentem estabilidade frente a AmpC, alguns relatos têm demonstrado que a hiper-produção de AmpC, devido a mutações no gene repressor ou mutações no gene ampC (Morosini et al., 1998; Barnaud et al., 2001; Vakulenko et al, 2002; Barnaud et al., 2004), associado a outros mecanismos de resistência podem levar a altos níveis de resistência (MIC ≥ 32 µg/ml) a estes antimicrobianos (Piddock & Traynor, 1991; Charrel et al, 1996; Fung-Tomc et al., 1996) e a diminuição de sensibilidade ou resistência aos carbapenêmicos em Enterobacter spp.. 23 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Em 1990, Papanicolaou e colaboradores descreveram uma enzima localizada em um plasmídeo com 90% de similaridade como o gene ampC de E. cloacae, dando início a um novo grupo de enzimas pertencentes a classe C conhecidas como AmpC plasmidiais. Essas enzimas já foram descritas em todo o mundo, sendo encontradas principalmente em K. pneumoniae, K. oxytoca, Salmonella spp., Proteus mirabilis e E. coli. As AmpC plasmidiais apresentam o mesmo espectro de ação das AmpC cromossomais. Até o momento já foram descritas nove tipos: BIL-1, CMY (36 variantes), FOX, MOX, LAT, ACT, ACC, MIR-1 e DHA (Philippon et al., 2002). Já foram descritas as seguintes variantes de AmpC plasmidiais em Enterobacter spp.: CMY-2 (Su et al., 2006), CMY-10 (Kim et al., 2006), DHA-1 (Su et al., 2006) e LAT-2 (Gazouli et al., 1996). Relatos demonstraram que a associação da produção de AmpC plasmidial com perda de porina resultou na resistência aos carbapenêmicos em K. pneumoniae (Bradford et al., 1997) e E. coli (Stapleton et al., 1999). 2.4.1.2 - β-Lactamases de Espectro Estendido (ESβLs) As β-lactamases de espectro estendido (ESβLs) apresentam uma serina no seu sítio ativo e representam o maior grupo de β-lactamases estudadas atualmente (Bush et al., 1995; Bradford, 2001). Descritas inicialmente em K. pneumoniae e E. coli, as ESβLs se disseminaram para as demais espécies de enterobactérias, sendo encontradas também em P. aeruginosa (Bradford, 2001). Os genes que codificam as ESβLs estão localizados em grandes plasmídeos que também podem codificar resistência aos aminoglicosídeos, tetraciclina, cloranfenicol, e trimetoprim/sulfametoxazol (Winokur et al., 2001). 24 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Isso explica a multirresistência verificada muitas vezes em bactérias produtoras de ESβLs. Entre as ESβLs, as enzimas do tipo TEM (161 variantes) e SHV (105 variantes) são derivadas das β-lactamases do tipo TEM-1, TEM-2 e SHV-1 e juntamente com CTX-M (69 variantes) pertencem ao grupo 2be de Bush (Bush et al., 1995) e a classe molecular A de Ambler (Ambler, 1980). As enzimas do tipo CTX-M, que hidrolizam preferencialmente cefotaxima, apresentam pouca similaridade (40%) com as enzimas do tipo TEM e SHV, e são mais encontradas em Salmonella enterica serovar Typhimurium e em E. coli. As enzimas do tipo OXA (127 variantes) não apresentam similaridade genética com as demais ESβLs e pertencem ao grupo 2d de Bush (Bush et al, 1995) e a classe molecular D de Ambler (Ambler, 1980). Hidrolizam muito bem oxacilina, fato este que deu origem ao nome do grupo e são mais freqüentes em P. aeruginosa (Bradford, 2001). Outras variantes de ESβLs também já foram descritas em diferentes organismos como BES (Serratia marcences), FEC-1 (E. coli), CME-1 (Cryseobacterium meningosepticum), PER (3 variantes - P. aeruginosa e Salmonella enterica), SFO (E. cloacae), TLA (E. coli) e VEB (6 variantes - E. coli), sendo pouco freqüentes (Bradford, 2001). As ESβLs conferem resistência às penicilinas, cefalosporinas de amplo espectro e ao aztreonam, mas não são ativas contra os carbapenêmicos e as cefamicinas (cefoxitina e cefotetan) (Bradford, 2001). Entretanto, tem sido relatado que isolados produtores de ESβLs com perda de porina podem se tornar resistentes as cefamicinas (Pangon et al., 1989; Martinéz-Martinéz et al., 1996). Além disso, a expansão do sítio ativo que permite a estas enzimas um 25 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA aumento da atividade contra as cefalosporinas de amplo espectro resulta no aumento da sensibilidade aos inibidores de β-lactamases (Bradford, 2001). Embora a AmpC cromossomal seja a principal causa de resistência aos β-lactâmicos nas espécies de Enterobacter (Livermore & Brown, 2001), recentemente, têm-se demonstrado que cada vez mais esses microrganismos podem adquirir e expressar genes que codificam a produção de ESβLs (Morris et al., 2003; Ma et al., 2005; Schlesinger et al., 2005; Szabó et al., 2005; Hoffmann et al., 2006; Liu et al., 2007; Moriguchi et al., 2007, Perili et al., 2008). A vantagem competitiva do Enterobacter spp. na aquisição de ESβLs não é clara, apesar de que a combinação entre AmpC desreprimida e as ESβLs podem levar a resistência às cefalosporinas de quarta geração (Bell et al, 2003). Testes fenotípicos para a detecção de ESβL, como disco-aproximação e disco combinado, em microrganismos produtores de AmpC cromossomal, é difícil e depende da taxa de produção da AmpC. Como as enzimas do grupo C não são inibidas pelos inibidores de β-lactamases, muitas vezes os resultados obtidos podem ser falso-negativos, já que as metodologias mais utilizadas utilizam estes inibidores. Sendo assim, várias metodologias têm sido propostas para a detecção de ESβLs em bactérias produtoras de AmpC cromossomal, entre elas o Enterobacter spp. (Pitout et al., 2003; Stürenburg et al., 2004). 2.4.1.3 - Metalo-β-Lactamases (MβLs) e Carbapenemases da Classe A e D Apesar da resistência aos carbapenêmicos ser um evento raro entre as enterobactérias (Sader et al., 2003; Cayô et al., 2007), este fenótipo de 26 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA resistência, especialmente devido à produção das metalo-β-lactamases (MβLs), tem sido cada vez mais relatado nesses microrganismos (Galani et al., 2007; Castanheira et al., 2007). Entretanto, enterobactérias carreando genes codificadores de MβLs nem sempre são resistentes aos carbapenêmicos (Walsh et al., 2005). As MβLs são enzimas pertencentes ao grupo 3 de Bush (Bush et al., 1995) e a classe molecular B de Ambler (Ambler, 1980) e hidrolisam todos os β-lactâmicos comercialmente disponíveis, a exceção do aztreonam (Walsh et al., 2005). Essas enzimas caracterizam-se por necessitarem de dois íons divalentes, usualmente zinco, como co-fator para a atividade catalítica, por terem a mesma estrutura tridimensional e por apresentarem resíduos conservados, os quais são responsáveis pela interação da enzima com cátions divalentes (Murphy et al., 2003). Além disso, essas enzimas são inibidas pelo ácido etilenodiaminoacético (EDTA) ou por compostos derivados do ácido tiolático (ácido mercaptopropiônico), não sofrendo ação dos inibidores das serino-β-lactamases, como o ácido clavulânico (Andrade et al., 2007). As MβLs são divididas em intrínsecas, ou seja aquelas enzimas que normalmente são mediadas por cromossomo, como a L1 em Stenotrophomonas maltophilia (Walsh et al., 1994) e adquiridas. As MβLs adquiridas são encontradas em estruturas genéticas que fornecem mobilidade ao gene, fazendo com essas enzimas possam de disseminar para diferentes espécies bacterianas (Mendes et al., 2006). Atualmente são conhecidas seis tipos de MβLs aquiridas: IMP com 23 variantes (Osano et al., 1994), VIM com 18 variantes (Lauretti et al., 1999), SPM-1 (Toleman et al., 2002), GIM-1 27 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA (Castanheira et al., 2004), SIM-1 (Lee et al., 2005) e mais recentemente a AIM1 (Yong et al., 2007). As MβLs aquiridas são codificadas por cassetes gênicos localizados no cromossomo ou plasmídeo bacteriano. No entanto, com exceção da enzima SPM-1, que é codificada por um gene localizado em plasmídeo, as demais MβLs aquiridas são codificadas por genes localizados em integrons de classe 1 (Walsh et al., 2005; Mendes et al., 2006). Integrons de classe 1 são elementos genéticos constituídos de uma região conservada 5’, formada por um gene intl1, uma região promotora e um sítio de recombinação (attl1) e uma região 3`, que geralmente é composta do gene qacEΔ1 conjugado ao gene sul1, sendo que esses genes codificam resistência a compostos de amônio quaternário e sulfonamidas, respectivamente. Na região upstream ao gene intl1, integrons apresentam uma região promotora, a qual é responsável pela expressão dos cassetes gênicos inseridos entre as regiões conservadas (Bennett, 1999; Mendes et al., 2006). Embora seja um evento raro, isolados de Enterobacter spp. produtores de MβLs tem sido relatados, sendo descritas até o momento as seguintes variantes: IMP-1 (Shibata et al., 2003), IMP-4 (Peleg et al., 2005), IMP-8 (Yan et al., 2002), VIM-1 (Castanheira et al., 2007), VIM-2 (Jeong et al., 2003), VIM-4 (Luzzaro et al., 2004), VIM-5 (Gacar et al., 2005). A resistência aos carbapenêmicos em enterobactérias também pode ser causada pelas carbapenemases da classe A ou em raras ocasiões pelas carbapenemases da classe D ou carbapenemases do tipo OXA. Estão incluídas no grupo das carbapenemases da classe A (Ambler, 1980) ou grupo 2f de Bush (Bush et al., 1995) as enzimas do tipo GES (9 variantes), KPC (4 28 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA variantes), SME (3 variantes), IMI, NMC-A, SFC-1 (Walther-Rasmussen & Hoiby, 2007). Anteriormente, as enzimas do tipo GES foram classificadas como sendo pertencentes ao grupo das ESβLs (grupo 2be de Bush), entretanto após a descrição de GES-2 em P. aeruginosa, que apresentava atividade contra imipenem, este grupo foi transferido para o grupo 2f (Queenan & Bush, 2007). Outra enzima que foi incluída neste grupo foi a SHV-38 (Poirel et al., 2003), que apresenta uma pequena atividade contra o imipenem, diferindo-se apenas por uma substituição da SHV-1 (Walther-Rasmussen & Hoiby, 2007). Entre estas enzimas, já foram descritas em Enterobacter spp. as seguintes variantes: GES-7 (Giakkoupi et al., 2000), KPC-2 (Marchaim et al., 2008), KPC-3 (Deshpande et al., 2006), KPC-4 (Walther-Rasmussen & Hoiby, 2007). Já as variantes IMI-1, IMI-2 e NMC-A somente foram descritas em isolados de Enterobacter spp. (Pottumarthy et al., 2003; Yu et al., 2006). As carbapenemases da classe D (Ambler, 1980), também chamadas de carbapenemases do tipo OXA, diferente das oxacilinases de espectro estendido (ESβL), na sua grande maioria foram descritas em Acinetobacter baumannii (Walther-Rasmussen & Hoiby, 2006). Até hoje somente duas OXA com atividade contra os carbapenêmicos foram encontradas em enterobactérias, a OXA-23 e a OXA-48, em Proteus mirabilis e K. pneumoniae, respectivamente (Bonnet et al., 2002; Poirel et al., 2004). Assim como as demais carbapenemases, as OXA não conferem altos níveis de resistência em enterobactérias. Poirel e colaboradores (2004a) descreveram um isolado de K. pneumoniae que expressava OXA-48 e que apresentava CIM de 64 µg/ml para imipenem. Entretanto, quando o gene da OXA-48 foi transferido para uma cepa de E. coli transconjugante, a CIM para 29 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA imipenem foi de apenas de 2 µg/ml. Eles observaram que, na cepa selvagem de K. pneumoniae, a expressão da OXA-48 era aumentada por uma seqüência de inserção (IS) chamada de IS1999 associada a perda de uma proteína de membrana externa (porina) de 36 kDa, demonstrando que somente a produção da carbapenemase não é suficiente para conferir resistência aos carbapenêmicos em enterobactérias. 2.4.2 - Impermeabilidade de Membrana Externa Bactérias Gram-negativas apresentam uma membrana externa, que é uma estrutura membranosa presente externamente à membrana citoplasmática e a camada de peptídeoglicano. A principal função da membrana externa é atuar como uma barreira permeável que elimina os compostos tóxicos à célula que existem no meio externo. O fato desta membrana excluir compostos lipofílicos e grandes (> 600 daltons), muitos antimicrobianos tem pouca atividade contra bactérias Gram-negativas, embora eles sejam ativos contra as bactérias Gram-positivas. Muito deste fluxo através da membrana ocorre por meio de canais formados por proteínas (Nikaido, 1994). Para muitos antimicrobianos, um grupo de proteínas de membrana externa, conhecidas como porinas, capazes de formar canais constituídos de água no seu interior, é o principal meio de transporte através da membrana bacteriana (Nitzan et al., 2002). As porinas ou OMPs (do inglês outer membrane protein) são geralmente divididas em duas classes: porinas não específicas, que permitem a difusão de moléculas hidrofílicas abaixo de um certo tamanho, e porinas específicas, as quais facilitam a difusão de substratos específicos (Nikaido, 1994). 30 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O tamanho, a carga e a hidrofobicidade dos β-lactâmicos interferem na sua capacidade de atravessar os canais de uma porina. Sendo assim, moléculas de alto peso molecular, moléculas carregadas negativamente e lipofílicas apresentam dificuldade na entrada da célula bacteriana. Por outro lado, moléculas pequenas, zwiterions ou com características hidrofílicas, apresentam rápida penetração, como a cefepima e o imipenem (Nikaido, 1994). Isso explica a sensibilidade do E. cloacae ao imipenem, na presença de resistência às cefalosporinas de terceira geração, uma vez que o imipenem apresenta uma maior capacidade de acesso, mediada pelo trânsito rápido, provavelmente, por meio de diversos canais de porinas (Pechere, 1991). As porinas podem aumentar ou diminuir as taxas de penetração dos antibióticos β-lactâmicos na célula bacteriana (Nitzan et al., 2002) e diferenças na permeabilidade da membrana externa variam de acordo com cada microrganismo (Parr et al., 1987; Yamazaki et al., 1989). A alteração das proteínas de membrana externa associada à expressão da atividade de cefalosporinases é freqüentemente detectada em isolados clínicos resistentes de Enterobacter spp.. Entre as enterobactérias, a perda de porina é especialmente alto em E. aerogenes (Malléa et al., 1998; Charrel et al., 1996), sendo que duas porinas (Omp35 e Omp36), relacionadas à sensibilidade aos β-lactâmicos, estão bem caracterizadas neste microrganismo. A porina Omp35 está intimamente relacionada à família OmpF das enterobactérias, enquanto a Omp36 pertence ao grupo de porinas similares à OmpC. A caracterização funcional da Omp35 mostrou que a atividade do imipenem e cefepima são apenas fracamente afetadas comparadas aos antimicrobianos com moléculas grandes e carregadas negativamente (Bornet 31 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA et al., 2004; Thiolas et al., 2004). Portanto, a presença da porina Omp35 na bactéria esta associada à sensibilidade aumentada às grandes cefalosporinas carregadas negativamente como a ceftriaxona. Observações similares têm sido reportadas com a OmpK35 e OmpK36 de K. pneumoniae (Martinéz-Martinéz et al., 1996; Doménech-Sanchez et al., 2003). A resistência aos carbapenêmicos em Enterobacter spp. geralmente é uma combinação da produção de carbapenemase específica e da perda de porina (Tzouvelekis et al., 1992; Bornet et al., 2000), embora a associação com bombas de efluxo também tenha sido relatado. Dados de Yigit e colaboradores (2002) sugerem que a resistência ao imipenem em E. aerogenes está associada primariamente à ausência da expressão de análogos das porinas OmpC (42-kDa) e OmpF (39-kDa), o que também resulta na redução da sensibilidade ao meropenem e à cefepima. 2.4.3 - Hiperexpressão de Bombas de Efluxo Bombas de efluxo são genes e proteínas presentes em todos os organismos. Em bactérias, os genes codificadores dessas bombas estão localizados no cromossomo ou em elementos genéticos móveis, como plasmídeos. Sabe-se que em bactérias, esses genes podem conferir diminuição da sensibilidade aos antimicrobianos; entretanto, essa diminuição nem sempre resulta em resistência. As bombas de efluxo podem ser específicas para um determinado substrato ou pode transportar uma gama de compostos estruturalmente diferentes (incluindo antimicrobianos de diferentes classes). Essas bombas que transportam muitos compostos podem estar associadas à multirresistência antimicrobiana (Piddock, 2006). 32 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Enquanto a família de bombas de efluxo RND (do inglês resistancenodulation-division) de bactérias Gram-negativas podem acomodar β- lactâmicos, existem poucos relatos onde essas bombas estejam implicadas na resistência aos β-lactâmicos in vitro ou in vivo. Em P. aeruginosa, a hiperexpressão do sistema de efluxo MexAB-OprM está associada na resistência ao meropenem. A resistência ao imipenem foi caracterizado em isolados de P. aeruginosa hiperexpressando a bomba MexEF-OprN. Entretanto, neste caso a resistência aos carbapenêmicos estava associado a perda da porina OprD, que é a principal porta de entrada desses antimicrobianos (Poole, 2005). Em enterobactérias, o sistema de efluxo mais estudado, principalmente em E. coli, é o sistema AcrAB-TolC (Pradel et al., 2002). Esse sistema assim como os demais da família RND estão relacionados ao fenômeno MDR (do inglês multi-drug-resistance) e que restringe a concentração intracelular de vários antimicrobianos, incluindo β-lactâmicos, tetraciclinas, cloranfenicol, aminoglicosídeos e quinolonas (Piddock, 2006). O fenômeno de MDR é resultado de vários mecanismos de resistência, que incluem produção de enzimas, modificações do sítio alvo do antimicrobiano, alteração das porinas e indução de bombas de efluxo (Gayet et al., 2003). Em E. aerogenes, assim como em outras enterobactérias, tem sido descrito que alguns componentes da regulação da cascata do sistema MDR, por um lado, regulam negativamente a expressão de porinas não específicas da membrana externa como a OmpF, e por outro lado, induzem a superprodução da bomba de efluxo AcrAB-TolC (Chollet et al., 2004), a qual está 33 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA associada a resistência às quinolonas em E. aerogenes e E. cloacae (Linde et al., 2002; Mahamoud et al., 2006). A análise da seqüência dos genes envolvidos no sistema AcrAB-TolC em E. cloacae demonstrou uma alta similaridade com o mesmo sistema em E. aerogenes. No mesmo estudo, verificou-se que a deleção do gene acrA, um dos componentes do sistema AcrAB-TolC, mostrou uma relação deste sistema no fenômeno de MDR em E. cloacae. Entretanto, testes com inibidores de bombas de efluxo, demonstraram que outros sistemas de efluxo talvez possam ter um papel na resistência antimicrobiana (Pérez et al., 2007). 2.4.4 - Alteração de PBPs As PBPs são o sítio alvo dos β-lactâmicos e estão relacionadas a síntese do peptídeoglicano, principal componente da parede celular bacteriana. A afinidade dos β-lactâmicos a estas proteínas é bem variada e mutações podem alterar a sua estrutura levando a uma baixa afinidade de ligação aos βlactâmicos ou a produção de PBPs suplementares que também podem apresentar baixa afinidade. A mudança na conformação das PBPs leva a resistência aos β-lactâmicos (Zapun et al., 2008). A resistência aos β-lactâmicos devido a alteração de PBPs, embora possa ocorrer, apresenta uma importância secundária frente aos demais mecanismos de resistência em bactérias Gram-negativas, uma vez que esses mecanismos atuam em fases anteriores a ligação do β-lactâmico ao seu sítio alvo, através de hidrólise enzimática ou impedindo a sua entrada na célula, que pode ocorrer tanto pela perda de porinas como pela hiperexpressão de bombas de efluxo. A alteração das PBPs apresenta um papel importante na resistência 34 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA aos β-lactâmicos em bactérias Gram-positivas, como Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae (Smith & Klugman, 2005). 35 OBJETIVOS 3 - OBJETIVOS 3.1 - Objetivo Geral ¾ Caracterizar os mecanismos de resistência a cefalosporinas de quarta-geração e a ertapenem em Enterobacter cloacae subespécies cloacae isolados de hemoculturas no Hospital São Paulo. 3.2 - Objetivos Específicos ¾ Avaliar o perfil de susceptibilidade entre os isolados de E. cloacae; ¾ Detectar e caracterizar a presença de possíveis β-lactamases; ¾ Avaliar fenotipicamente a hiperexpressão de sistemas de efluxo; ¾ Avaliar o perfil de proteínas de membrana externa bacteriana; ¾ Avaliar a taxa de transcrição dos genes ampC, ompC e ompF; ¾ Avaliar a similaridade genética entre as amostras estudadas. 36 MATERIAL E MÉTODOS 4 - MATERIAL E MÉTODOS 4.1 - Amostras Bacterianas Foram selecionadas para o estudo 11 amostras de E. cloacae isoladas de hemoculturas de pacientes internados no Hospital São Paulo, entre janeiro de 2003 e março de 2004, e previamente categorizadas como resistentes a cefepima pela metodologia de Etest (Da Silva, 2005). Os dados clínicos dessas amostras encontram-se em anexo (Anexo I). Todas as amostras estavam bancadas em caldo tríptico de soja (TSB - Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) com glicerol 15% a -20ºC no banco de microrganismos do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica - LEMC. As amostras tiveram a confirmação do gênero e da espécie pelo sistema Vitek (Biomeriux Vitek Inc., Hazelwood, MO). 4.2 - Avaliação do Perfil de Susceptibilidade O perfil de susceptibilidade das 11 amostras de E. cloacae foi avaliado pela técnica de difusão em disco para as diferentes classes de antimicrobianos e as concentrações inibitórias mínimas (CIMs) para os β-lactâmicos foram obtidas pela técnica de diluição em ágar. 4.2.1 - Preparo do Inóculo Bacteriano Após o crescimento em placas de ágar sangue por 18 horas, para a garantia da viabilidade e da pureza das amostras, com o auxílio de alça de semeadura, 3 a 5 colônias isoladas de cada amostra de E. cloacae foram transferidas para tubos contendo 4 ml de salina (NaCl - Sigma, St. Louis, MO). A suspensão bacteriana foi homogeneizada e a turvação medida em 37 MATERIAL E MÉTODOS turbidímetro digital (Baxter®, Sacramento, EUA), para a obtenção de uma concentração bacteriana em torno de 1,5 x 108 unidades formadoras de colônias (UFC)/ml correspondente a 0,5 da escala de MacFarland (CLSI, 2006). 4.2.2 - Difusão em Disco Após o preparo do inóculo (item 4.2.1), a semeadura das amostras de E. cloacae foi feita em placa de ágar Müeller-Hinton (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) com auxílio de swab estéril. O perfil de sensibilidade foi realizado utilizando discos piperacilina/tazobactam de amoxacilina/ácido (110µg), cefoxitina clavulânico (30µg), ceftriaxona (30µg), (30µg), cefotaxima (30µg), ceftazidima (30µg), cefepima (30µg), aztreonam (30µg), imipenem (10µg), meropenem (10µg), ertapenem (10µg), amicacina (30µg), cloranfenicol (30µg), ciprofloxacina (5µg), sulfametoxazol/trimetoprim (25µg) e tetraciclina (30µg) (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra). As placas foram incubadas em aerobiose a 37ºC por 18 a 24 horas. Após este período, a leitura foi feita e os halos de inibição interpretados de acordo com os critérios de sensibilidade para enterobactérias estabelecidos pelo CLSI (CLSI, 2007). 4.2.3 - Diluição em Ágar As CIMs foram obtidas pela metodologia de diluição em ágar seguindo as recomendações do CLSI (CLSI, 2006) para os seguintes β-lactâmicos e respectivas diluições: cefotaxima (0,03-256 µg/ml), ceftazidima (0,03-256 µg/ml), cefepima (0,03-256 µg/ml), imipenem (0,03-32 µg/ml), meropenem (0,03-32 µg/ml) e ertapenem (0,03-32 µg/ml). Esta metodologia foi realizada 38 MATERIAL E MÉTODOS por meio da incorporação de concentrações seriadas e logarítmicas do respectivo antimicrobiano em placas individuais de Petri contendo ágar MüellerHinton (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra). Cada placa representava uma única concentração do antimicrobiano. Foram testadas diferentes concentrações, variando de acordo com o antimicrobiano testado. Após a preparação e diluição do inóculo (item 4.2.1), foi feita uma nova diluição 1:10, e em seguida as amostras bacterianas foram inoculadas simultaneamente sobre a superfície do ágar utilizando o multi-inoculador, o qual dispensa de 1 a 3 μl contendo aproximadamente o inóculo final de 1 x 104 UFC/ml. As placas inoculadas foram incubadas por 18-24 horas, a 35°C. Após este período, a CIM foi determinada como a menor concentração de antimicrobiano capaz de inibir o crescimento bacteriano (CLSI, 2006). Como controle de qualidade dos testes de susceptibilidade foram utilizadas as cepas da American Type Culture Collection (ATCC): Pseudomonas aeruginosa ATCC 27853 e Escherichia coli ATCC 25922. As amostras foram classificadas como sensíveis (S), intermediárias (I) ou resistentes (R) aos antimicrobianos testados, de acordo com os pontos de corte estabelecidos pelo CLSI (CLSI, 2007). 4.3 - Avaliação da Similaridade Genética pela Técnica de Pulsed-Field Gel Electrophoresis (PFGE) Para a avaliação da similaridade genética entre as amostras de E. cloacae incluídas neste estudo, foi utilizada a análise do DNA cromossômico após digestão enzimática (Tenover et al., 1995). Para cada amostra foi preparada uma suspensão bacteriana em tubos contendo 4 ml de TSB (Oxoid, 39 MATERIAL E MÉTODOS Basingstoke, Inglaterra). Após 18-24 horas de incubação a 37°C, os tubos foram centrifugados por 15 minutos. Em seguida, o centrifugado foi diluído em 1 ml de solução salina (NaCl - Sigma, St. Louis, MO) e transferido para um tubo de microcentrífuga de peso conhecido. Os tubos foram centrifugados a 15.000 rpm utilizando microcentrífuga Centrimícro® (Fanem, São Paulo, Brasil) por aproximadamente 30 segundos e o sobrenadante foi cuidadosamente aspirado e descartado. Com a finalidade de se determinar o peso do centrifugado, os tubos foram novamente pesados. O centrifugado foi diluído em salina na proporção de 1:1 (o volume da salina em µl foi equivalente ao peso do centrifugado em µg). Um volume de 5 µl desta suspensão foi transferido para outro tubo, onde foi acrescentado 300 µl da solução tampão TEN (Tris 100 mM; pH 7,5; EDTA 100 mM; NaCl 150 mM; água destilada). Essa nova solução foi homogeneizada e misturada com 340 µl de agarose low melt (FMC, Rockland, USA) para a formação de pequenos blocos de géis contendo o DNA cromossômico (plugs). Os blocos foram incubados por um período mínimo de 5 horas em solução EC (Tris 6 mM; pH 7,5; NaCl 1 M; EDTA 0,01 mM; Brj 58 0,5%; Sarcosil 0,5%; Deoxicolato 0,2% e água destilada) a 37ºC. Em seguida os plugs foram incubados a 50ºC, em 2 ml de solução ES (EDTA 0,4 M; pH 9,3; Sarcosil 1,0%) contendo 20 mg/ml de proteinase K (Invitrogen, Germany) numa proporção de 1:1 (2 mg de proteinase K para 2 ml de ES), durante 12 horas. Após este período de incubação, os blocos foram lavados 4 vezes com solução CHEF-TE (Tris 0,1 M; pH 7,5; EDTA 0,1 M) e armazenados nessa solução até serem submetidos a digestão enzimática. Foram realizados 4 lavagens de 60 minutos cada com tampão DNS (MgCl 1 M; Tris 1 M; pH 8.0; água destilada) antecedendo a digestão 40 MATERIAL E MÉTODOS enzimática. O DNA bacteriano foi digerido utilizando 10U por amostra da enzima de restrição SpeI (New England Biolab, Inc., Beverly, Mass, USA), e incubado por 12-18 horas à temperatura de 37ºC. A eletroforese foi realizada em gel de agarose a 1%, em TBE 0,5x (Tris 0,089 M, Ácido Bórico 0,089 M e EDTA 0,002 M), no sistema CHEF-DR III (BioRad Laboratories, Califórnia, EUA) à temperatura de 13oC e utilizando corrente elétrica de 200 volts (6 V/cm). Os padrões de variação de corrente elétrica (switch time) variaram de 5 a 60 segundos e a corrida eletroforética durou 23 horas. O gel foi corado com brometo de etídio 0,08 μl/ml por uma hora, descorado em água destilada por mais uma hora e fotografados sob luz UV. De acordo com os critérios de Tenover e colaboradores (1995) foram consideradas idênticas todas as amostras que apresentaram perfil eletroforético idêntico entre todas as bandas. Foram consideradas semelhantes (subtipos) e pertencentes a um mesmo clone as amostras que apresentaram diferenças no perfil eletroforético de até seis bandas. As amostras que apresentaram sete ou mais bandas discordantes foram consideradas amostras distintas. Além disso, fotos obtidas dos géis de PFGE foram analizadas pelo programa BioNumerics versão 5.0 (Applied Maths, Kortrijk, Belgium). Em todas as imagens, a definição de bandas foi realizada automaticamente pelo programa e depois conferida individualmente, por comparação visual. O coeficiente de similaridade utilizado foi o coeficiente de Dice (Dice, 1945). O dendograma foi construído utilizando o algorítimo de análise filogenética UPGMA (Unweighted Pair-Groups Method using arithmetic averages) (Sneath & Sokal, 1973). Os valores de otimização e tolerância utilizados para o conjunto de isolados foram de 1,0 e 2,0%, respectivamente. Amostras com coeficiente 41 MATERIAL E MÉTODOS de similaridade acima de 80% foram consideradas como pertecentes ao mesmo clone (cluster). 4.4 - Avaliação dos Mecanismos de Resistência 4.4.1 - Detecção Fenotípica da Produção de β-Lactamases pela Metodologia de Aproximação em Disco Todas as amostras foram submetidas à técnica de aproximação em disco modificada a partir da metodologia descrita por Jarlier e colaboradores (1988), para a detecção fenotípica da produção de ESβL. Após o preparo do inóculo bacteriano (item 4.2.1), os testes fenotípicos foram realizados conforme as recomendações do CLSI para teste de difusão em disco (CLSI, 2007). Discos de cefepima (30 µg), ceftriaxona (30 µg), aztreonam (30 µg) e ceftazidima (30 µg) (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) foram dispostos de 15 a 25 mm (centro a centro) do disco de amoxacilina/ácido clavulânico (30 µg), colocado no centro da placa, conforme ilustrado na Figura 3. CRO CAZ AMC 15-25 mm FEP Figura 3. Placa modelo utilizada para a detecção fenotípica da produção de ESβL. Abreviações: CAZ - ceftazidima; CRO - ceftriaxona; FEP - ATZ cefepima; ATZ - aztreonam; AMC - amoxacilina/ácido clavulânico. 42 MATERIAL E MÉTODOS A visualização de distorções nos halos ou formação de zonas fantasmas para qualquer um dos substratos utilizados foi considerada como resultado positivo. Como controles positivos e negativos foram utilizados cepas de Klebsiella pneumoniae ATCC 700603 e Klebsiella pneumoniae ATCC 10031, respectivamente. 4.4.2 - Teste Fenotípico de Indução de β-Lactamase do Tipo AmpC Para a avaliação fenotípica da indução da β-lactamase do tipo AmpC entre as amostras de E. cloacae foi realizada o teste de indução modificado a partir da metodologia descrita por Dunne e Hardin (2005). Em placas de ágar Müeller-Hinton (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra), como descrito no item 4.2.1, foram dispostos discos de imipenem (10 µg) e cefoxitina (30 µg), dois fortes indutores de AmpC, a uma distância de 15 a 25 mm (centro a centro) do disco de ceftazidima (30 µg), como mostrado na Figura 4. O achatamento do halo de ceftazidima foi considerado como resultado positivo. IPM FOX CAZ 15-25 mm Figura 4. Placa modelo utilizada para a detecção fenotípica da indução de AmpC. Abreviações: CAZ - ceftazidima; FOX - cefoxitina; IMP - imipenem. 43 MATERIAL E MÉTODOS 4.4.3 - Teste de Hidrólise Enzimática O teste de hidrólise teve como objetivo principal à detecção da atividade enzimática nas amostras analisadas. Depois de isoladas as amostras, 10 colônias foram inoculadas em 10 mL caldo de TSB (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) com 4 μg/mL de ceftazidima. Os tubos ficaram incubados na estufa a 37°C por 18 horas sob agitação. A suspensão bacteriana foi transferida para um tubo cônico e passou por uma centrifugação de 15 minutos à 3.000 rpm. Em seguida, o sobrenadante foi desprezado e o sedimento ressuspenso em 1 ml de Solução de Hidrólise (Tris-HCL 1 mM e ZnSO4 1 mM). As amostras suspensas foram ultrasonicadas com 4 ciclos de 30 segundos e o produto sonicado foi transferido para tubo de microcentrífuga e, então, centrifugado por 3 minutos à 4ºC e 13.000 rpm (Centrifuge 5415R, Eppendorf, Hamburg, Germany). O sobrenadante (extratos brutos de proteínas) foi transferido para um novo tubo e as amostras mantidas no gelo até o momento do ensaio (Bradford et al., 1994). Uma solução de cefepima em tampão fosfato 0,1 M, pH 7,0 foi utilizada como substrato. Quando colocada em espectrofotômetro, esta solução teve uma absorbância de aproximadamente 1,5 a 2 unidades em comprimento de 260 nm. Para o teste, colocou-se 900 μl desta solução em uma cubeta de quartzo onde foram adicionados 100 μl do extrato bruto de β-lactamase. O monitoramento da absorbância da solução foi realizado por 1 minuto em espectrofotômetro. Presença da diminuição da absorbância foi considerada resultado positivo para a produção de β-lactamases. Uma solução de ácido clavulânico também foi preparada, como descrita anteriormente, para a detecção da produção de possíveis ESβLs. 100 μl dessa solução foi misturada a 800 μl de solução de cefepima e em seguida adicionada 100 μl do extrato 44 MATERIAL E MÉTODOS bruto de β-lactamase. Ausência da dimuição da absorbância na presença do ácido clavulânico foi considerado como teste confirmatório da presença de ESβLs. 4.4.4 - PCR para a Detecção dos Genes Codificadores de βLactamases A técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR) foi aplicada para confirmar a presença ou ausência dos genes que codificam as β-lactamases. As amostras foram cultivadas em ágar nutriente (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) contendo de 0,5 µg/ml de ceftazidima e, após isolamento de colônias puras, 3 a 5 colônias de cada amostra foram transferidas para um tubo de microcentrífuga contendo 200 µl de água destilada estéril. Esta suspensão foi utilizada diretamente para a etapa de amplificação do DNA. Em fluxo laminar, foi preparada uma solução mãe (master mix) contendo: H2O deionizada estéril, tampão MgCl2 1,5mM, tampão NH4Cl 50mM, desoxinucleotídeo trifosfato 0,2mM (dATP, dTTP, dGTP e dCTP), 2,5 unidades/L de Taq DNApolimerase e iniciadores de reação na concentração de 2 µM. Foram utilizados iniciadores de reação para a detecção dos genes codificadores das seguintes β-lactamases: ESβLs (blaTEM, blaSHV, blaCTX-M, blaBES); MβLs (blaIMP, blaVIM, blaSPM), enzimas da Classe A (blaKPC, blaGES); e AmpC plasmidiais (blaCMY-1, blaCMY-2, blaDHA, blaFOX), como mostrado na Tabela 2. 45 MATERIAL E MÉTODOS Tabela 2. Gene alvo e oligonucleotídeos utilizados como iniciadores para a detecção dos genes codificadores de β-lactamases. Gene Alvo blaTEM blaSHV blaCTX-M blaBES blaIMP blaVIM blaSPM blaKPC blaGES blaCMY-1 blaCMY-2 blaDHA blaFOX Iniciador Seqüência (5' - 3') TEM F ATGAGTATTCAACATTTCCG TEM R CTGACAGTTACCAATGCTTA SHV F GGTTATGCGTTATATTCGCC SHV R TTAGCGTTGCCAGTGCTC CTX-M F CGCTTTGCGATGTGCAG CTX-M R ACCGCGATATCGTTGGT BES F GGCGCAATACAACGAAGG BES R ATCTTGCAGTACCAGTCG IMP F TGAGCAAGTTATCTGTATTC IMP R TTAGTTGCTTGGTTTTGATG VIM F TTATGGAGCAGCAACGATGT VIM R CAAAAGTCCCGCTCCAACGA SPM F CGCTGCGAACGTGAGTGTAA SPM R CGATCGCGGCCTATGTTTGA KPC F TCGCTAAACTCGAACAGG KPC R TTACTGCCCGTTGACGCCCAATCC GES F TCACGCACTATTACTGGC GES R TATTTGTCCGTGCTCAGG CMY-1 F CGACAATCCATCCTGTGG CMY-1 R CCAACTGCGCCAGGATG CMY-2 F TCGTTATGCTGCGCTCTG CMY-2 R GGACAGGGTTAGGATAGC DHA F CACTGATTTCCGCTCTGC DHA R AGCCTGTGCAGCTTTGAC FOX F ATGCAACAACGRCGTGC FOX R TCACTCGGCCAACTGACTCAG Para a detecção da produção de β-lactamases do tipo oxacilinases foi utilizado a metodologia de PCR-multiplex descrita por Woodford e colaboradores (2006). Todos os primers utilizados foram desenhados no Laboratório Alerta e posteriormente encaminhados para síntese (IDT Integrated DNA Tecnologies Inc., Coralville, EUA). A solução-mãe foi mantida a aproximadamente 4°C durante seu preparo e, após leve agitação 19 μl foram 46 MATERIAL E MÉTODOS transferidos para cada tubo de amplificação, contendo 1 μl da suspensão celular. As condições para amplificação do DNA foram: denaturação a 94ºC por 10 minutos, seguidos por 35 ciclos de 94ºC por 1 minuto, 50ºC por 1 minuto, 72ºC por 1 minuto. A etapa de extensão final foi realizada por 10 minutos a 72ºC. Após amplificação do DNA, a revelação do produto amplificado foi feita em eletroforese em gel de agarose a 1% e visualização sob luz ultra-violeta. Além da detecção de β-lactamases, foi realizado também PCR para a detecção de integrons entre os isolados de E. cloacae, utilizando os primers Int F (5’-CCGTAGAAGAACAGC-3’) e Qac R (5’-GTTGCGATTACTTCG-3’). As condições para amplificação do DNA foram: denaturação a 94ºC por 10 minutos, seguidos por 36 ciclos de 94ºC por 30 segundos, 52ºC por 30 segundos, 72ºC por 10 minutos. A etapa de extensão final foi realizada por 10 minutos a 72ºC. 4.4.5 - Reação de Seqüênciamento e Interpretação dos Resultados Os produtos de PCR obtidos foram purificados a partir do gel de agarose com o kit QIAquick Gel Extraction (Qiagen, Hilden, Alemanha), conforme as instruções do fabricante. O DNA obtido foi quantificado utilizando o espectrofotômetro Biomate 5 UV-Visible (Termo Spectronic, Cambridge, Inglaterra) e, então, quantidades necessárias foram submetidas à reação preparatória para o seqüênciamento com o kit Big Dye Terminator Cycle Sequencing (Applied Biosystems, Foster City, CA). Após o término da reação de PCR, o produto foi precipitado para a eliminação dos d-dNTPs marcados 47 MATERIAL E MÉTODOS não incorporados à reação. Após a precipitação e lavagem com etanol, o produto foi ressuspenso em polímero TSR e colocado no aparelho ABI PRISM 310, Genetic Analyzer (Applied Biosystems, Perkin Elmer, Califórnia). As seqüências de DNA obtidas e as seqüências protéicas derivadas foram analisadas utilizando o programa Lasergene Software Package (DNASTAR, Madison, WI) e então submetidas a comparação com bases de dados genéticos disponíveis na internet (http://www.ebi.ac.uk/fasta33/ e http://www.ncbi.nlm.nih.gov/blast/). 4.4.6 - Avaliação fenotípica da expressão de Bombas de Efluxo Para avaliação fenotípica da presença de bombas de efluxo, CIMs foram determinadas para os antimicrobianos cefepima, imipenem, meropenem e ertapenem, nas mesmas concentrações citadas no item 4.2.3, ao ágar MüellerHinton (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) na ausência e na presença dos inibidores de bomba de efluxo reserpina e fenilalamida arginina β-nafitilamida PAβN (Sigma-Aldrich Corporation, St Louis, MO, EUA), em concentrações fixas de 20 e 25 µg/ml, respectivamente (Gayet et al., 2003). A diminuição da CIM ≥ 2 diluições para a associação β-lactâmico/inibidor em relação à CIM do βlactâmico sozinho foi considerada indicativa da hiperexpressão de bomba de efluxo, segundo a metodologia de diluição em ágar (CLSI, 2006). 4.4.7 - Avaliação do Perfil das Proteínas de Membrana Externa Com auxílio de uma alça estéril e em fluxo laminar, de 3 a 5 colônias bacterianas foram inoculadas em 5 ml de caldo TSB (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra) acrescido de 0,5 µg/ml de ceftazidima e incubadas sob leve agitação 48 MATERIAL E MÉTODOS a 37°C por 18 a 20 horas. Após este período, em fluxo laminar, 5 ml desta cultura foi transferido para outro tubo contendo 45 ml de TSB, o qual foi incubado por 4 a 5 horas a 37°C. Em seguida as células bacterianas foram centrifugadas a 8.000 rpm por 10 minutos à temperatura ambiente. Em seguida foi descartado o sobrenadante e o centrifugado ressuspenso em 5 ml de TrisHCl 30 mM pH 8.0. Após a suspensão das células, as mesmas foram centrifugadas a 8.000 rpm por 10 minutos, suspensas novamente em 5 ml de Tris-HCl 30 mM pH 8.0 e lisadas por sonicação (6 pulsos de 10 segundos cada) em sonicador XL2000 Ultrasonic Cell Disruptor-Fisher (Scientific International Inc.). Durante o processo as amostras foram mantidas em gelo. Em seguida, a suspensão de células foi centrifugada a 8.000 rpm por 25 minutos a 4°C para a remoção dos debris celulares. O sobrenadante foi submetido à centrifugação de 38.200 rpm por 34 minutos a 4°C, em ultracentrífuga Hitachi Himac CP85β utilizando o rotor fixo P55AT (Hitachi Koki Corp. Tokio, Japão). Em seguida, o precipitado foi suspenso em 1 ml de TrisHCl 30mM pH 8.0 e, após a suspensão, 100 μL de sarcosil a 20% foi adicionado para que as OMPs fossem precipitadas. Após cuidadosa agitação, este precipitado foi incubado à temperatura ambiente por 20 minutos. Em seguida, foi realizada uma nova etapa de centrifugação a 38.200 rpm por 34 minutos a 22°C e, finalmente, o precipitado suspenso em 100 μL de água deionizada. Os preparados protéicos foram submetidos à análise do perfil de proteínas de membrana externa pela técnica de SDS-PAGE. Na técnica de SDS-PAGE, as amostras e os padrões de peso molecular foram aplicadas no gel de dodecil sulfato de sódio (SDS), contendo 12% (pt/vol) de acrilamida (SDS-PAGE 12%). A eletroforese foi realizada a 40 volts 49 MATERIAL E MÉTODOS por 2 horas no sistema V-16 Vertical Gel Electrophoresis System (Gibco BRL Life Technologies, Rockville, MD, EUA). Após a corrida eletroforética, o gel foi corado durante uma hora com coomassie blue R250 (Sigma-Aldrich Corp., St Louis, EUA). Como descorante foi utilizado ácido acético a 10%. A análise do gel foi feita com o programa Gel Doc-Quantity one (BioRad, California, EUA). 4.4.8 - Análise dos Níveis de Transcrição dos Genes ampC, ompC e ompF pela Técnica de PCR em Tempo Real (qRT PCR) A técnica de qRT-PCR foi utilizada para a quantificação dos níveis de transcrição dos genes ampC, ompC e ompF, com o intuito de verificar alterações da permeabilidade de membrana externa (expressão das porinas OmpC e OmpF) e a hiperexpressão de β-lactamase cromossomal do tipo AmpC. Para a realização das reações foram utilizados os inciadores mostrados na Tabela 3: Tabela 3. Oligonucleotídeos utilizados como iniciadores para a quantificação dos genes ampC, ompC e ompF pela técnica de qRT-PCR. . Gene Alvo Iniciador ampC ompC ompF Seqüência (5' - 3') AmpC F TGGCAGCCGCAGTGGAAGC AmpC R ATAGGGCATGCCAGAAGGTTTGA OmpC F ACTTCGGCCTGCGTCCATCC OmpC R TAGTAAGTCGCACCCACATCAACAT OmpF F CGGCGCGACTTACTACTTCA OmpF R ATGCCCAGCTTGTTGTCGTCTTTCA 50 MATERIAL E MÉTODOS As amostras bacterianas foram cultivadas por 18-24 horas em caldo TSB (Oxoid, Basingstoke, Inglaterra), posteriormente diluídas em uma cultura fresca 1:100 e incubadas a 37ºC até a fase exponencial de crescimento (0,6 de absorbância), medido em espectrofotômetro Biomate 5 UV-Visible (Termo Spectronic, Cambridge, Inglaterra). Um volume de 1 ml da cultura bacteriana foi centrifugado a 13.000 rpm por 15 minutos a 4°C e o centrifugado resultante foi mantido congelado a -70 ºC, se necessário para posterior utilização. O centrifugado foi lavado com 500 µl de água destilada estéril e centrifugado a 13.000 rpm por um minuto. Para a ressuspensão do centrifugado foram utilizados 100 µl de TE e em seguida tratada com 2 µl de lisozima (20 mg/ml). A extração do RNA total foi feita com a utilização do kit RNeasy Mini Kit (Invitrogen, Califórnia, EUA) como descrito pelo fabricante. O DNA genômico foi eliminado utilizando DNase I (Rnase-Free Dnase Set - QIAGEN, Hilden, Germany). Para a síntese do DNA complementar (cDNA) foram utilizados 20 ng do RNA total medido em espectrofotômetro a um comprimento de onda igual a 260 nm e o Kit High-Capacity cDNA Archive Kit (Applied Biosystems, Califórnia, EUA), de acordo com as recomendações do fabricante. A PCR quantitativa foi processada em termociclador CFD-3220 DNA Engine Opticon 2 Two-Color Real-Time PCR Detection System (BIO-RAD, Califórnia, EUA) numa reação contendo 10 µM/µl de inciadores específicos para cada gene, SYBR Green Master Mix (Applied Biosystems), Taq Dna Polimerase (Invitrogen) e o produto da reação de síntese de cDNA 1:10. Foi realizado um ciclo de 15 minutos a 50ºC, 5 minutos a 95ºC para a desnaturação e 40 ciclos de amplificação por 20 segundos a 95ºC, anelamento por 20 segundos a 52ºC e extensão por 1 minuto a 72ºC. As taxas de transcrição dos respectivos genes 51 MATERIAL E MÉTODOS foram comparados ao gene de referência que codifica a porção da subunidade 16S do RNA ribossomal (rrsE). Avaliações comparatórias foram realizadas entre as amostras bacterianas do estudo frente a cepa sabidamente sensível aos β-lactâmicos de estudo, sendo utilizada a cepa de E. cloacae 13.412. 52 RESULTADOS 5 - RESULTADOS 5.1 - Perfil de Susceptibilidade aos Antimicrobianos Como observado na Tabela 4, todas as amostras de E. cloacae estudadas foram resistentes a cefoxitina, cefalosporinas de terceira geração (ceftazidima, ceftriaxona e cefotaxima), cefepima, aztreonam e as associações com inibidores de β-lactamases (piperacilina/tazobactam e amoxacilina/ácido clavulânico) pela técnica de difusão em disco. Somente imipenem e meropenem apresentaram 100% de atividade entre os β-lactâmicos estudados. Entretanto, 72% (n=8) das amostras foram resistentes a ertapenem, sendo que das três amostras restantes, duas apresentaram resistência intermediária. Entre as demais classes de antimicrobianos avaliadas, uma alta taxa de resistência também foi observada para ciprofloxacina (100%), amicacina (63,4%) e sulfametoxazol/trimetoprim (63,4%). Entre os isolados testados, 100% foram resistentes a tetraciclina, e destes 45,45% (5/11) foram também resistentes ao cloranfenicol. 53 RESULTADOS Tabela 4. Perfil de susceptibilidade entre os isolados de E. cloacae pela técnica de difusão em disco. Categoria de Sensibilidadea Amostras AMC TZP FOX CRO CTX CAZ FEP ATM IMP MER ERT AK CIP SXT TE C 10.480 R R R R R R R R S S R R R R R R 13.501 R R R R R R R R S S R S R R R S 13.550 R R R R R R R R S S R S R R R S 14.008 R R R R R R R R S S R R R R R S 11.235 R R R R R R R R S S S R R R R S 20.096 R R R R R R R R S S R R R R R R 10.831 R R R R R R R R S S I R R S R R 10.833 R R R R R R R R S S I R R S R R 12.035 R R R R R R R R S S R S R I R S 11.334 R R R R R R R R S S R S R I R S 11.297 R R R R R R R R S S R R R R R R a. Critério de interpretação dos halos de inibição de acordo com o CLSI (2007); Estão quadriculados os resultados sensíveis e intermediários. Abreviações: AMC - amoxacilina/ácido clavulânico; TZP - piperacilina/tazobactam; CTX - cefotaxima; CAZ - ceftazidima; FEP cefepima; IMP - imipenem; MER - meropenem; ERT - ertapenem; AK - amicacina; CIP ciprofloxacina; SXT - sulfametoxazol/trimetoprim; TE - tetraciclina; C - cloranfenicol. CIMs foram obtidas pela técnica de diluição em ágar para os βlactâmicos cefotaxima, ceftazidima, cefepima, imipenem, meropenem e ertapenem estão demonstradas na Tabela 5: 54 RESULTADOS Tabela 5. Perfil de susceptibilidade aos β-lactâmicos dos isolados de E. cloacae pela técnica de diluição em ágar. Amostras 10.480 13.501 13.550 14.008 11.235 20.096 10.831 10.833 12.035 11.334 11.297 CIM (μg/mL) CTX CAZ FEP IMP MER ERT >256 >256 >256 0,5 0,5 4 >256 256 256 0,5 0,5 8 >256 >256 256 1 1 8 >256 256 256 0,25 0,25 4 >256 128 256 0,25 0,12 2 >256 256 256 0,25 0,25 4 256 128 256 0,25 0,25 4 >256 128 256 0,25 0,25 8 >256 256 256 0,25 0,5 4 >256 >256 256 0,25 0,25 4 >256 256 32 0,25 0,25 4 a. Abreviações: CTX - cefotaxima; CAZ - ceftazidima; FEP - cefepima; IMP - imipenem; MER meropenem; ERT - ertapenem. Alto grau de resistência a cefotaxima (CIM50, > 256 µg/ml), ceftazidima (CIM50, 256 µg/ml) e cefepima (CIM50, 256 µg/ml) foram observados entre as amostras de E. cloacae isoladas de hemoculturas no Hospital São Paulo. Os carbapenêmicos imipenem (CIM50, 0.25 µg/ml) e meropenem (CIM50, 0.25 µg/ml) mantiveram excelente atividade contra os isolados de Enterobacter resistentes aos demais β-lactâmicos. Como demonstrado pela técnica de difusão em disco, foi observada uma diminuição da sensibilidade ao ertapenem (CIM50, 4 µg/ml) entre os isolados de E. cloacae. Entre os 11 isolados, 7 (63,6%) apresentaram resistência intermediária ao ertapenem (CIMs, 4 µg/ml), 3 (27,3%) foram resistentes (CIMs, 8 µg/ml) e 1 isolado (9,1%), apesar de 55 RESULTADOS sensível, apresentou CIM (2 µg/ml) no limite da sensibilidade, de acordo com os pontos de corte padronizados pelo CLSI (2007). Comparando os resultados obtidos para ertapenem nas duas metodologias aplicadas (Tabela 6), entre as sete amostras que apresentaram resistência intermediária na diluição em ágar (CIM, 4 µg/ml), seis (85,7%) apresentaram halos de inibição (15 mm) correspondentes a categoria de resistência pela difusão em disco. Por outro lado, a amostra 10.833, considerada resistente (CIM, 8 µg/ml) pela diluição em ágar, apresentou halo de inibição correspondente a categoria intermediário na difusão em disco. Apenas quatro amostras (13.501, 13.550, 11.235 e 10.831) apresentaram concordância entre as duas metodologias utilizadas. Tabela 6. Comparação dos resultados para ertapenem entre as metodologias de difusão em disco e diluição em ágar. Amostras Difusão em disco Diluição em ágar Halo (mm) Categoriaa CIM (µg/ml) Categoriaa 10.480 15 R 4 I 13.501 15 R 8 R 13.550 15 R 8 R 14.008 15 R 4 I 11.235 20 S 2 S 20.096 15 R 4 I 10.831 16 I 4 I 10.833 16 I 8 R 12.035 15 R 4 I 11.334 15 R 4 I 11.297 15 R 4 I a. Categoria de sensibilidade interpretada de acordo com o CLSI (2007). 56 RESULTADOS 5.2 - Avaliação da Similaridade Genética pela Técnica de PFGE A análise pela técnica de PFGE demonstrou uma variabilidade genética entre os 11 isolados de E. cloacae, como mostrado na Figura 4. λ 1 2 3 4 5 6 λ 7 8 9 10 11 λ 12 Figura 5. Perfil de PFGE das amostras de E. cloacae. Amostra 1 - 10.833, Amostra 2 - 10.831, Amostra 3 - 20.096, Amostra 4 - 11.334, Amostra 5 -12.035, Amostra 6 - 13.501, Amostra 7 13.550, Amostra 8 - 11.235, Amostra 9 - 10.480, Amostra 10 - 14.008, Amostra 11 - 11.297 e Amostra 12 - 20.027 (amostra sensível); λ - Padrão de peso molecular. As amostras 10.480, 20.096, 11.334, 12.035 e 14.008 apresentaram o mesmo perfil de PFGE e foram incluídas no padrão A. O mesmo ocorreu entre as amostras 10.831 e 10.833, que foram incluídas no padrão B (Tabela 7). Pelo número de diferenças encontradas nos perfis de bandas, as demais amostras foram consideradas como sendo subtipos de um mesmo padrão (C), sendo classificados como C1 (amostras 11.235 e 11.297), e C2 (amostra 13.550 e 13.501). 57 RESULTADOS A análise do dendograma (Figura 6) a partir do gel de PFGE, pelo programa BioNumerics, demonstrou a presença de 3 clusters com coeficiente de similaridade acima de 80% entre os isolados de E. cloacae resistentes a cefepima e a ertapenem. 65 70 75 80 85 90 95 100 10.480 11.334 Padrão A 100 12.035 89.3 14.008 77.8 Padrão B 20.096 10.831 92.3 64.3 10.833 Padrão C 96 93.8 89.6 11.235 11.297 13.501 13.550 Figura 6. Dendograma demonstrando o coeficiente de similaridade entre os isolados de E. cloacae pelo programa BioNumerics. Os círculos em vermelho demonstram os clusters que apresentaram coeficiente de similaridade maior que 80%. Os dados obtidos corroboram com a análise utilizando os critérios de Tenover e colaboradores (1995), onde também foram encontrados três padrões de PFGE. Embora o padrão A tenha apresentado um coeficiente de similaridade de 89,3%, quatro dos cinco isolados pertencentes a esse cluster foram totalmente idênticos pelo BioNumerics. O padrão B apresentou um coeficiente de similaridade de 92,3%. O padrão C, que apresentou 2 dois subtipos (C1 e C2), apresentou um coeficiente de similaridade de 89,6%, sendo 58 RESULTADOS que entre os dois isolados pertencentes ao subtipo C1 (11.235 e 11.297) foi observado um coeficiente de similaridade de 96%. Como mostrado na Tabela 7, a maioria das amostras de E. cloacae analisada foi isolada de pacientes internados na UTI Geral (6/11, 54,5%), sendo que pelo menos uma amostra por padrão de PFGE foi encontrada nesta unidade hospitalar. Os padrões B e C2 somente foram encontrados na UTI Geral em períodos específicos. O padrão A foi o mais prevalente (5/11, 45,4%), sendo encontrado em diferentes unidades durante o período de estudo, sugerindo sua disseminação no Hospital São Paulo. O subtipo C1 diferente do subtipo C2 foi encontrado também na enfermaria do 11º andar, e um período de sete meses separou o isolamento dos dois subtipos. Tabela 7. Similaridade genética e unidade hospitalar de acordo com a data de isolamento das amostras de E. cloacae. Amostra PFGE Unidade Hospitalar Data do Isolamento 10.480 A Cirurgia Gástrica 30/1/2003 10.833 10.831 B B UTI Geral UTI Geral 28/2/2003 2/3/2003 20.096 A Enfermaria 11º andar 1/4/2003 11.235 C1 UTI Geral 12/6/2003 11.297 C1 Enfermaria 11º andar 17/6/2003 11.334 A Cirurgia Cardíaca 23/6/2003 12.035 13.501 13.550 14.008 A C2 C2 A UTI Geral UTI Geral UTI Geral Neurocirurgia 2/9/2003 13/2/2004 13/2/2004 16/4/2004 59 RESULTADOS 5.3 - Avaliação da Produção de β-lactamases Todas as 11 amostras apresentaram resultados positivos para ESβL no teste de aproximação em disco. Cefepima e aztreonam foram os melhores substratos e 15 mm a melhor distância para a detecção de ESβL entre os isolados de E. cloacae, como mostrado na Figura 7. Figura 7. Diferentes resultados positivos (zonas fantasmas indicadas pelas setas em branco) obtidos no teste de aproximação em disco para a detecção fenotípica de ESβL entre os isolados de E. cloacae. Siglas: AMC - amoxacilina/ ácido clavulânico, CAZ - ceftazidima, CRO ceftriaxona, FEP - cefepima, ATM - aztreonam. Diferente do teste fenotípico para detecção de ESβL, todas as amostras apresentaram resultados negativos no teste de indução de AmpC, como mostrado na Figura 8. Entretanto, todas as amostras foram resistentes a 60 RESULTADOS cefoxitina (Tabela 4), sendo um indício da produção de AmpC. Um fato interessante foi o sinergismo observado entre imipenem e ceftazidima para todas as amostras de E. cloacae (Figura 8). Este fato já era esperado, uma vez que o imipenem atua como inibidor de ESβL da mesma forma que o ácido clavulânico. O mesmo não foi observado para cefoxitina. Figura 8. Sinergismo entre o disco de imipenem e ceftazidima (distorções do halo para CAZ indicadas pelas setas em branco) obtidos no teste de indução de AmpC entre os isolados de E. cloacae. Siglas: CAZ - ceftazidima, CFO - cefoxitina, IPM - imipenem. Todas as amostras de E. cloacae apresentaram resultados positivos no teste de hidrólise enzimática. A hidrólise da solução de cefepima, na presença 61 RESULTADOS dos extratos brutos das β-lactamases, foi visualizada através da diminuição da absorbância do antimicrobiano em questão. Em contraste, a solução de cefepima na presença do ácido clavulânico, não apresentou diminuição da absorbância quando adicionado os extratos das β-lactamases. Pela técnica de PCR, o gene blaTEM foi detectado em todas as amostras analisadas, e dessas, seis amplificaram também para o gene blaCTX-M como mostrado na Tabela 8. Tabela 8. Resultados para a produção de β-lactamases e presença de integrons obtidos pela técnica de PCR e seqüênciamento entre as amostras de E. cloacae. Amostras PCR Seqüênciamentoa Presença de Integron de classe 1 10.480 blaTEM, blaCTX-M TEM-like, CTX-M-2 + 13.501 blaTEM TEM-like + 13.550 blaTEM TEM-like + 14.008 blaTEM, blaCTX-M TEM-like, CTX-M-2 + 11.235 blaTEM, blaCTX-M TEM-like, CTX-M-2 + 20.096 blaTEM, blaCTX-M TEM-like, CTX-M-2 + 12.035 blaTEM, blaCTX-M TEM-like, CTX-M-2 + 11.334 blaTEM, blaCTX-M TEM-like, CTX-M-2 + 11.297 blaTEM TEM-like + 10.831* 10.833* a. Resultados parciais, *não apresentaram amplificação para nenhum dos primers utilizados, incluindo os primers para a porção 16s ribossomal. Não foi verificado a presença de genes codificadores de MβL, carbapenemases da classe A e D, bem como AmpC plasmidiais para nenhuma das amostras de E.cloacae analisadas. As amostras 10.831 e 10.333, embora 62 RESULTADOS tenham apresentado teste de hidrólise e aproximação em disco positivos para a produção de ESβL, não foi verificado produto de PCR de tamanho compatível aos de interesse. Entretanto, a PCR também foi negativa quando utilizados iniciadores para o gene da porção 16s ribossomal, demonstrando presença de inibidores de reação nessas amostras. Foram então testadas duas metodologias de extração de DNA diferentes, mantendo-se o mesmo resultado. A PCR, a partir dos iniciadores IntF e qacR, verificou-se a presença de integrons em todas amostras analisadas (Tabela 8). O seqüênciamento das porções iniciais dos produtos de reação confirmou a presença de integrons de classe 1. Embora a seqüência completa dos genes das β-lactamases encontradas (CTX-M e TEM) não tenha sido concluída, o seqüênciamento dos primeiros 400 a 600 pb confirmou os resultados obtidos na PCR. A comparação das seqüências parciais dos genes encontrados com o banco de dados disponível, demonstrou uma grande similaridade com os genes blaTEM-like e blaCTX-M-2. 5.4 - Avaliação da Hiperexpressão de Bombas de Efluxo Nenhuma redução significativa (≥ 2 diluições) na concentração inibitória mínima foi observada para cefepima e para os carbapenêmicos, imipenem, meropenem e ertapenem na presença dos inibidores de bomba de efluxo reserpina (20 μg/ml) e PAβN (25 μg/ml), como mostrado na Tabela 9. Esses resultados demonstram a ausência de hiperexpressão de sistemas de efluxo ou que a hiperexpressão desses sistemas não está relacionada a resistência a cefepima e a diminuição da sensibilidade a ertapenem nas amostras de E. cloacae. 63 RESULTADOS Tabela 9. Detecção fenotípica da hiperexpressão de sistemas de efluxo utilizando os inibidores PAβN e reserpina. Amostras PAβN (25 µg/ml) Ausência de inibidor Reserpina (20 µg/ml) FEP IMP MER ERT FEP IMP MER ERT IMP MER ERT 10.480 >256 0,5 0,5 4 >256 0,5 0,5 4 1 0,5 4 13.501 256 0,5 0,5 8 256 0,5 0,5 8 0,25 0,5 8 13.550 256 1 1 8 256 1 1 4 1 0,5 8 14.008 256 0,25 0,25 4 256 0,25 0,25 2 0,25 0,25 4 11.235 256 0,25 0,12 2 256 0,12 0,12 2 0,25 0,25 1 20.096 256 0,25 0,25 4 256 0,25 0,25 4 0,25 0,25 4 10.831 256 0,25 0,25 4 128 0,25 0,5 8 0,25 0,5 4 10.833 256 0,25 0,25 8 128 0,25 0,25 8 0,25 0,25 8 12.035 256 0,25 0,5 4 256 0,5 0,5 4 0,25 0,5 4 11.334 256 0,25 0,25 4 128 0,25 0,5 4 0,25 0,5 4 11.297 32 0,25 0,25 4 32 0,25 0,25 4 0,25 0,25 4 5.5 - Avaliação do Perfil das Proteínas de Membrana Externa A análise do perfil das proteínas de membrana externa pela técnica de SDS-PAGE (Figura 8) demonstrou que entre as amostras de E. cloacae não houve alteração do perfil das porinas de 35 kDa e 36 kDa, relacionadas as famílias de porinas não específicas (OmpC e OmpF), quando comparadas a amostra sensível 10.834 (CIM para cefepime de 0,05 µg/ml). Embora para a amostra 11.235 (coluna 5 - Figura 9) não tenha sido visualizada a porina de 36 kDa, quando repetida a extração para essa amostra, foi possível a visualização da mesma, demonstrando que não houve perda da expressão dessa porina. Entretanto, uma porina de aproximadamente 43 kDa (seta em vermelho Figura 9) foi visualizada para o controle sensível e não foi observada em nenhuma das amostras resistentes. 64 RESULTADOS λ’ 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 λ’’ 66 kDa 45 kDa 36 kDa Figura 9. Perfil das proteínas de membrana externa (porinas) dos isolados de E. cloacae pela técnica de SDS-PAGE. Amostras: 1 (10.834 - controle sensível), 2 (10.831), 3 (12.035), 4 (10.833), 5 (11.235), 6 (11.334), 7 (13.501), 8 (13.550) 9 (10.480), 10 (11.297), 11 (20.096) e 12 (14.008) - λ’ - Padrão de peso molecular baixo, λ’’ - Padrão de peso molecular 5.6 - Avaliação do taxa de transcrição dos genes ampC, ompC e ompF Para a análise dos níveis de transcrição dos genes ampC, ompC e ompF foram selecionadas uma amostra correspondente a cada padrão caracterizado pela técnica de PFGE (item 5.2), sendo elas: 10.480 (A),10.831 (B), 13.550 (C2) e 11.235 (C1); e uma amostra de E. cloacae, 13.412, sensível a cefepima (CIM, 0,06 μg/ml). Quando comparados os níveis de transcrição do gene ampC entre as quatro amostras testes e a amostra sensível, verificou-se que todas as amostras resistentes, independentemente do padrão analisado, apresentavam taxa de transcrição entre 3,2 a 6,4 x103 vezes maior em relação ao controle sensível, como mostrado na Tabela 11. 65 RESULTADOS Tabela 10. Análise dos níveis de transcrição dos genes ampC, ompC e ompF pela técnica de qRT-PCR. Gene Alvo Amostra Expressão Relativa/ gene alvo vs gene de referênciab Cta Taxa de Expressãoc 10.480 6.452,8 15,43 3,42E-04 13.550 4.264,2 14,94 2,26E-04 11.235 3.283,0 17,00 1,74E-04 10.831 3.962,3 15,82 2,10E-04 13.412 1 27,62 5,30E-08 ompC 10.480 17,8 12,46 2,62E-03 13.550 0,7 16,08 1,02E-04 11.235 2,7 15,77 4,02E-04 10.831 23,7 11,81 3,48E-03 13.412 1 16,15 1,47E-04 ompF 10.480 436,3 17,43 6,85E-05 13.550 31,1 20,45 4,89E-06 11.235 39,2 21,43 6,16E-06 10.831 783,4 16,63 1,23E-04 13.412 1 26,04 1,57E-07 a. Ct (cycle threshold) representa a média dos valores das triplicatas; b. Expressão relativa = 2ΔΔT , onde T = Ctgene alvo-Ctgene de referência; c. Média entre a expressão relativa do gene alvo (ampC, ompC e ompF) nas amostras testes vs o controle sensível (13.412). ampC Embora as amostras analisadas tenham apresentado uma hiperexpressão do gene ampC, as mesmas não apresentaram diminuição da expressão dos genes ompC e ompF, a exceção da amostra 13.550 que apresentou uma pequena diminuição da expressão de ompC em relação ao controle sensível. Entretanto, não foi observado diminuição da expressão para o gene ompF para essa mesma amostra. 66 DISCUSSÃO 6 - DISCUSSÃO E. cloacae tem sido associado a uma vasta gama de síndromes clínicas, incluindo infecções do trato urinário, pneumonia e bacteremia (Manzur et al., 2007). Esse microrganismo está entre os agentes etiológicos mais comuns associados às infecções nosocomiais (Pessoa-Silva et al., 2004), e possui a capacidade de desenvolver rapidamente resistência durante a terapia antimicrobiana (Chow et al., 1994), o que está associado ao aumento da morbidade, mortalidade, bem como com os gastos com o paciente (Kang et al., 2004). A caracterização dos mecanismos de resistência, entre as 11 amostras de E. cloacae isoladas de hemoculturas no Hospital São Paulo avaliadas neste estudo, demonstrou que a produção de ESβL (blaTEM-like e blaCTX-M) associada à desrepressão do gene ampC foram os responsáveis pelos altos níveis de resistência às cefalosporinas de terceira geração e à cefepima (CIM50, 256 μg/ml). Além disso, a produção dessas β-lactamases foi responsável pela resistência ao aztreonam e às associações com inibidores de β-lactamases (amoxicilina/ácido clavulânico e piperacilina/tazobactam). Esses dados estão de acordo com estudos anteriores, os quais demonstraram que as CIMs para cefepima entre isolados de E. cloacae que apresentavam AmpC desreprimida associada a produção de ESβL eram extremamente superiores (CIM90, >256 μg/ml) aos isolados que somente apresentavam o gene AmpC desreprimido sem a presença de ESβL (CIM90, 1.5 μg/ml) (Gottlieb & Wolfson, 2000). Co-resistência as cefalosporinas de terceira e quarta geração, amicacina, sulfametoxazol/trimetoprim e ciprofloxacina foi observada nos 67 DISCUSSÃO isolados de E. cloacae estudados, comprometendo a terapia empírica das infecções causadas por estes microrganismos. Este resultado é semelhante àqueles relatados anteriormente (Winokur et al., 2001; Cayô et al., 2008), os quais demonstraram que organismos que expressam ESβL são freqüentemente resistentes a outros agentes antimicrobianos, uma vez que os mecanismos de resistência a esses agentes são codificados por genes localizados em plasmídeo que também carream genes codificadores de ESβLs. Embora a resistência as quinolonas geralmente seja causada por mutação em genes de localização cromossômica; alguns estudos descreveram baixos níveis de resistência a estes antimicrobianos mediada por plasmídeos (Martinez-Martinez et al., 1998; Linde et al., 2002; Wang et al., 2004; Robicsek et al., 2006). Pouco se conhece sobre a incidência de ESβL em Enterobacter spp. devido ao teste fenotípico para ESβL em enterobactérias ser comumente realizado pelos laboratórios clínicos somente para E. coli e Klebsiella spp. (Ho et al., 2005). Além disso, para os testes que dependem de um sinergismo entre o ácido clavulânico e as cefalosporinas de terceira geração, a detecção de ESβL em Enterobacter spp. é prejudicada devido a interferência da produção de AmpC, que não é inibida pelo ácido clavulânico (Pitout et al., 2003). Desde que microrganismos produtores de AmpC podem ser reservatórios para ESβL, é importante que os laboratórios de microbiologia clínica sejam capazes de detectar a produção de ESβL nestes microrganismos (Levison, 2002). Embora o CLSI (CLSI, 2007) tenha padronizado teste para a detecção de ESβL em E. coli, K. pneumoniae, Klebsiella oxytoca e Proteus mirabilis, este teste muitas vezes não é aplicável para outros gêneros. Além disso, estudo 68 DISCUSSÃO anterior demosntrou que o teste de aproximação em disco tradicional, o cartão para a detecção de ESβL do VITEK® e as fitas de Etest® com associações entre cefalosporinas de terceira geração e ácido clavulânico falharam na detecção de isolados de C. freundii, E. cloacae, E. aerogenes, S. marcescens, Morganella morganii e Providencia stuartii produtores de ESβL (Spanu et al., 2002). Um estudo conduzido por Schwaber e colaboradores (2004) avaliou a utilidade das recomendações do CLSI na identificação de ESβL em 640 isolados de enterobactérias excluindo as amostras de E. coli e Klebsiella spp.. Dos 355 isolados que apresentaram resultados positivos no teste de triagem para ESβL baseados na CIM para ceftazidima, cefotaxima, ceftriaxona, cefpodoxima e aztreonam, apenas 2,2% foram positivos no teste confirmatório (PCR). Entre os 340 isolados que foram positivos no teste fenotípico para ESβL, mas que não apresentaram diminuição da CIM na presença do ácido clavulânico, aproximadamente 80% obtiveram perfil de sensibilidade compatível com a produção de AmpC (altas CIMs para cefalosporinas e cefoxitina e baixos CIMs para cefepima). É possível que a produção de AmpC possa ter mascarado a produção de ESβL nestes isolados, embora as baixas CIMs para cefepima fale contra a presença de vários tipos de ESβLs, tais como CTX-M e algumas enzimas do tipo TEM e SHV, desde que essas enzimas possuem atividade hidrolítica contra cefepima (Yu et al., 2002). Além disso, a alteração da permeabilidade de membrana externa (porinas) pode levar a resultados falso-positivos quando são utilizadas as recomendações do CLSI para a detecção de ESβL (Schwaber et al., 2004). Rasheed e colaboradores (1997) descreveram uma alteração no perfil de 69 DISCUSSÃO porinas associado à produção de uma β-lactamase não-ESβL que produzia um fenótipo ESβL falso-positivo. Inversamente, é concebível que a perda ou diminuição da expressão das porinas possa mascarar o efeito do ácido clavulânico em um isolado produtor de ESβL por não permitir a entrada de quantidades suficientes de cefalosporina no interior da bactéria, de modo que o efeito do sinergismo não seja evidente entre o antimicrobiano e o inibidor (Pangon et al., 1989). Um estudo desenvolvido por Mimoz e colaboradores (2000) demonstrou, em modelos animais infectados, a eficácia e a estabilidade de cefepima contra isolados de E. cloacae apresentando desrepressão do gene ampC. Em um outro estudo, Zhang e colaboradores (2001) avaliaram 55 isolados de E. cloacae apresentando AmpC induzível e verificaram que 96,4% eram sensíveis a cefepima. Já Naumiuk e colaboradores (2001) avaliaram a atividade da cefepima por difusão em disco contra isolados de E. cloacae produtores e não produtores de ESβL apresentado o gene ampC desreprimido. Entre os 23 isolados de E. cloacae produtores de ESβL, oito foram categorizados como resistentes a cefepima, cinco como intermediários e 10 como sensíveis. Entre os isolados não produtores analisados, dois foram resistentes, um intermediário e 67 sensíveis. Foi verificado também que todas as amostras que não eram produtoras de ESβL apresentaram halo para cefepima maior que 26 mm. Com o intuito de melhorar a detecção de ESβL em isolados de Enterobacter spp., estudos têm recomendado o uso de cefepima em substituição às usuais cefalosporinas de terceira geração (Tzelepi et al., 2000, Pitout et al., 2003). Tzelepi e colaboradores (2000) demonstraram que o uso do disco de cefepima aumentou a sensibilidade do teste de aproximação em disco 70 DISCUSSÃO com cefalosporinas de amplo espectro para E. cloacae e E. aerogenes de 16 para 61%, quando os discos foram aplicados a uma distância de 30 mm (centro a centro) do disco de amoxacilina/ácido clavulânico, e de 71 para 90% quando os discos foram colocados mais próximos. Maior sensibilidade de cefepima comparada as cefalosporinas de amplo espectro nos métodos de detecção fenotípica de ESβL baseados no sinergismo com o ácido clavulânico é esperado, uma vez que cefepima, geralmente, retém atividade contra cefalosporinases e apresenta alta velocidade de penetração (Hancock & Bellido, 1992). Os resultados obtidos no presente estudo referentes à detecção fenotípica de ESβL em E. cloacae corroboraram com os dados descritos na literatura. Cefepima foi a única droga utilizada no teste de aproximação em disco capaz de detectar a produção de ESβL para todas as 11 amostras analisadas que apresentavam a desrepressão do gene ampC. Outra droga que apresentou bons resultados foi o aztreonam. Ceftazidima e ceftriaxona, como esperado, apresentaram os piores resultados, já que são substratos para AmpC. Outro fato também observado foi que a distância de 15 mm foi melhor para a visualização e formação das zonas fantasmas. O contrário foi observado para a distância de 25 mm. Como as amostras analisadas eram resistentes a cefepima, esperava-se que a menor distância analisada fosse a ideal para o sinergismo entre os discos de amoxicilina/ácido clavulânico e de cefepima. Esses resultados indicam que a freqüência de ESβL pode facilmente ser subestimada em populações de Enterobacter spp. caracterizadas pela alta prevalência de mutantes desreprimidos. Para tais situações, a inclusão de 71 DISCUSSÃO cefepima no teste de aproximação em disco pode aumentar a acurácia na detecção de ESβL nestas espécies. Embora a presença de ESβL em isolados de E. cloacae apresentando o gene ampC desreprimido provavelmente não altere a terapia das infecções causadas por estes patógenos, uma vez que os carbapenêmicos são as drogas de escolha para o tratamento de infecções graves (Tenover et al., 1999), a cefepima, que é uma das opções para o tratamento de infecções causadas por mutantes AmpC desreprimidos, pode ser afetada pela co-produção de ESβL. Além disso, a identificação da produção de ESβL é de grande valor epidemiológico, desde que Enterobacter spp. pode servir como reservatório dessas β-lactamases para as outras enterobactérias (Bush, 1996). Enquanto comum em E. coli e K. pneumoniae, os genes que codificam ESβL têm se disseminado para as outras enterobactérias, embora de acordo com alguns autores isto pareça ser pouco freqüente (Bell et al., 2003). Entretanto, cada vez mais tem sido relatada a presença de genes codificadores dessas β-lactamases em amostras de Enterobacter spp. isoladas em diferentes regiões geográficas como: CTX-M-10 e TEM-24 na Espanha (Cantón et al., 2002); SHV-12 na Coréia (Lee et al., 2003; Pai et al., 2004); CTX-M-like e SHVlike na Alemanha (Hoffmann et al., 2006); IBC-1 na Grécia (Giakkoupi et al., 2000); SHV-2 na Nigéria (Aibinu et al., 2003); TEM-24, TEM-80 TEM-121 na França (Arpin et al., 2002; Dumarche et al., 2002; Poirel et al., 2004); CTX-M-9, CTX-M-14, CTX-M-22 e TEM-141 na China (Chanawong et al., 2002, Liu et al., 2007); TEM-26 no Reino Unido (Hibbert-Rogers et al., 1995); SHV-7 nos Estados Unidos (Levison et al., 2002); SHV-like no México (Silva et al., 1999); TEM-149 na Itália (Perilli et al., 2008a); TEM-10 e TEM-116 em Portugal 72 DISCUSSÃO (Machado et al., 2007); TEM-24 na Bélgica (Goethaert et al., 2006); SHV-12 em Israel (Schlesinger et al., 2005); SHV-12 e CTX-M-15 na Argélia (Labadene et al., 2008). No Brasil já foram identificadas CTX-M-8 (Bonnet et al., 2000) e CTX-M-16 (Bonnet et al., 2001). A presença de ESβL em Enterobacter spp. é inesperada, devido a grande facilidade deste gênero em gerar mutantes produtores de AmpC desreprimida. Entretanto, algumas espécies de Enterobacter, como E. sakazakii, não se adaptam rapidamente à indução ou desrepressão de AmpC cromossomal. Como a resistência relacionada a AmpC não é esperada nestas espécies menos freqüentes, a produção de ESβL pode constituir a principal estratégia de resistência às cefalosporinas de amplo espectro neste grupo (Negri & Baquero, 1998; Negri & Baquero, 1999). Se um plasmídeo carreador de ESβL está no ambiente, e a sua expressão é de menor custo energético do que a hiper-produção da enzima cromossomal, então há uma clara oportunidade para a aquisição de plasmídeos carreadores de ESβL. Além disso, como na maioria das vezes esses plasmídeos carream genes de resistência a outras classes de antimicrobianos, torna-se extremamente vantajoso para a bactéria adquiri-los (Negri & Baquero, 1998; Negri & Baquero, 1999). A quantificação da expressão gênica por qRT-PCR demonstrou que todos os isolados de E. cloacae analisados no presente estudo apresentavam desrepressão do gene ampC, variando a expressão de 3,2 a 6,4 x 103 vezes maior do que no controle sensível. Embora não tenha sido verificado perda ou diminuição da expressão das principais porinas OmpC (35 kDa) e OmpF (36 kDa), para quase todas as amostras, alguns estudos têm demonstrado que a 73 DISCUSSÃO perda de porinas associadas a hiper-produção de AmpC pode levar a altos níveis de resistência a cefepima (CIM ≥32 µg/ml) em Enterobacter spp. (Charrel et al., 1996; Fung-Tomc et al., 1996; Thiolas et al., 2004; Fernández-Cuenca et al., 2006). Estudos posteriores serão necessários para avaliar se a desrepressão do gene ampC verificada nestas amostras estão relacionas a mutações nos genes controladores ampD (Korfmann et al., 1989), ampR (Korfmann et al., 1991) e ampG (Kuga et al., 2000) ou mutações pontuais no próprio gene ampC. Barnaud e colaboradores (2001) descreveram um evento genético no qual resultou na deleção de seis aminoácidos no gene ampC de um isolado clínico de E. cloacae. Esta deleção combinada a hiper-produção de AmpC conferiu altos níveis de resistência a cefepima (CIM, 256 µg/ml). Outros dois estudos descreveram quais mutações pontuais (substituições V-298-E ou L293-P) selecionadas in vitro em E. coli carreando o gene ampC de E. cloacae pode levar a este fenótipo (Morosini et al., 1998; e Vakulenko et al., 2002). Substituições e deleções idênticas e localizadas na mesma região foram descritas in vivo em E. cloacae por Barnaud e colaboradores (2004), sugerindo que esta região gênica é um potencial hot spot para o desenvolvimento de resistência a cefepima. Em um outro estudo, uma nova AmpC cromossomal foi descrita em E. cloacae apresentando similaridade com MIR-1 de K. pneumoniae. Este isolado apresentava altos níveis de resistência (>256 µg/ml) para cefoxitina, ceftazidima e cefotaxima, mas mantinha sensibilidade a cefepima (CIM, 0,5 µg/ml) (Conceição et al., 2004). Entre os antimicrobianos testados, os carbapenêmicos, imipenem e meropenem, foram os únicos que apresentaram 100% de atividade frente as 74 DISCUSSÃO amostras de E. cloacae produtoras de ESβLs e hiper-produtoras de AmpC. Esse resultado já era esperado, uma vez que não foram encontrados genes codificadores de MβLs, bem como genes codificadores das carbapenemases da classe A e D. Além disso, já foi demonstrado anteriormente que imipenem e meropenem apresentam excelente atividade frente isolados produtores de ESβL e AmpC, sendo na maioria das vezes os antimicrobianos de escolha para o tratamento de infecções causadas por estes patógenos (Zhanel et al., 2007). Um estudo conduzido por Sader e colaboradores (2003), onde foram avaliadas 48.440 amostras de enterobactérias isoladas na América Latina, demonstrou que a resistência a imipenem e a meropenem ainda é um evento muito raro nesta região. Neste estudo o perfil de sensibilidade aos carbapenêmicos foi de 99,9%. Outros estudos, em diferentes regiões geográficas também demonstraram uma excelente atividade de imipenem e meropenem frente aos isolados de enterobactérias (Kholy et al., 2003; Kirby et al., 2006). Embora ainda pouco freqüente, a resistência aos carbapenêmicos, imipenem e meropenem, já foi descrita em Enterobacter spp., na maioria das vezes relacionada a produção de carbapenemases (Giakkoupi et al., 2000; Yan et al., 2002, Jeong et al., 2003; Pottumarthy et al., 2003; Gacar et al., 2005; Peleg et al., 2005; Deshpande et al., 2006; Yu et al., 2006; Castanheira et al., 2007; .Galani et al., 2007; Marchaim et al., 2008). Um estudo de Luzzaro e colaboradores (2004) relataram a presença do gene blaVIM-4 carreado por um plasmídeo conjugativo em um isolado de E. cloacae, provavelmente adquirido de uma amostra de K. pneumoniae que também apresentava o mesmo plasmídeo. 75 DISCUSSÃO Recentemente, alguns estudos tem relatado a presença de MβLs e ESβLs, geralmente pertencentes ao grupo SHV, em um mesmo plasmídeo conjugativo em isolados de Enterobacter spp., conferindo resistência a todos os β-lactâmicos, o que compromete o tratamento das infecções causadas por estes microrganismos (Ikonomidis et al., 2007; Biendo et al., 2008; Perilli et al., 2008b). Além da produção de carbapenemases, outros mecanismos associados ou não, como a impermeabilidade de membrana externa e hiperexpressão de efluxo têm sido descritas como sendo responsáveis pela resistência ou diminuição de sensibilidade aos carbapenêmicos, principalmente imipenem, em Enterobacter spp. (Hopkins & Towner, 1990; Leying et al., 1991; Charrel et al., 1996; Mallea et al., 1998; Bornet et al., 2004; Thiolas et al., 2005). Nos últimos anos, o uso de novas cefalosporinas combinando uma eficiente difusão através das porinas e a estabilidade frente a inativação enzimática levaram a uma inesperada e grave conseqüência: a seleção de bactérias Gram-negativas com modificações na permeabilidade de membrana (Dé et al., 2001). Tais modificações podem envolver alterações na expressão das porinas, com ou sem um mecanismo de efluxo ativo associado. Alguns estudos têm caracterizado aminoácidos específicos importantes na estrutura e função destas proteínas (Saint et al., 1996; van Gelder et al., 1997; Simonet et al., 2000). Mutações nestes aminoácidos podem diminuir em grande parte a difusão através das porinas em alguns isolados clínicos (Dé et al., 2001). Dé e colaboradores (2001) descreveram uma porina semelhante a OmpF de E. coli em um isolado clínico de E. aerogenes. Ao comparar com a ATCC 13.048, foi verificado que na amostra clínica o transporte através desta 76 DISCUSSÃO porina se apresentava 70% menor que na cepa selvagem, além de ser três vezes mais seletiva para cátions. Neste estudo as CIMs para as cefalosporinas variaram de 64 µg/ml para cefepima a >512 µg/ml para ceftazidima e para os carbapenêmicos as CIMs foram de 4 µg/ml. Quando inserido um plasmídeo contendo o gene ompF de E. coli, as CIMs para a cefepima e ceftazidima caiu para <1 e 16 µg/ml, respectivamente. Para os carbapenêmicos, não houve alteração na CIM para o meropenem que se manteve em 1 µg/ml, enquanto que para imipenem houve uma diminuição de 1 para 0,25 µg/ml na CIM. Em um outro estudo, Yigit e colaboradores (2002) verificaram que a resistência ao imipenem (CIM, 16 µg/ml) em um isolado de E. aerogenes estava primariamente associada à perda da expressão de duas porinas de 42 kDa e 39 kDa, semelhantes a OmpC e OmpF de E. coli, respectivamente. Essa alteração na permeabilidade da membrana externa também resultou na diminuição da sensibilidade ao meropenem (CIM, 8 µg/ml) e cefepima (CIM, 8 µg/ml). Esses resultados sugerem que imipenem, durante o seu trajeto pela membrana externa bacteriana, pode usar várias porinas, como por exemplo, uma proteína presente em enterobactérias do tipo D2 ou porinas não específicas com uma relativa eficiência para a difusão (Raimondi et al., 1991). Embora as β-lactamases cromossomais do grupo 1 de Bush ou AmpC apresentem atividade in vitro contra as cefalosporinas de primeira, segunda e terceira geração, além do aztreonam, vários relatos tem demonstrado que o gene ampC na condição de desreprimido associado a impermeabilidade de membrana externa pode levar a resistência aos carbapenêmicos em isolados de Enterobacter spp. (Lee et al., 1991; Tzouvelekis et al., 1992; de Champs et al., 1993; Tzouvelekis et al., 1994). 77 DISCUSSÃO Lee e colaboradores (1991) demonstraram que os altos níveis de resistência (CIM, 16 µg/ml) a imipenem e meropenem em um isolado de E. cloacae estava relacionado a perda de duas porinas de 37 kDa e 38 kDa associado a hiper-produção de AmpC. Neste estudo, a introdução de um plasmídeo contendo o gene ampD, que reprime a expressão de ampC, resultou na quase completa ausência da produção de AmpC e uma substancial diminuição na CIMs. Entretanto, as CIMs para os carbapenêmicos permaneceram 8 a 16 vezes maior do que as cepas sensíveis contendo o gene ampD. Essa resistência “residual” foi atribuída a impermeabilidade de membrana externa. Embora já tenha sido comprovada a importância da impermeabilidade de membrana externa na resistência ao imipenem em Enterobacter spp., um estudo feito por Cornaglia e colaboradores (1995) demonstrou que os níveis de resistência a meropenem foram mais dependentes da permeabilidade de membrana externa, enquanto a sensibilidade a imipenem era mais dependente da atividade de AmpC em E. cloacae. Embora no presente estudo imipenem e meropenem tenham apresentado uma excelente atividade contra os isolados de E. cloacae produtores de ESβL e hiper-produtores de AmpC, o mesmo não foi verificado para ertapenem. Imipenem e meropenem foram seis vezes mais potentes (MIC50, 0,25 µg/ml) do que o ertapenem (MIC50, 4 µg/ml) frente a estes isolados. Entretanto, Livermore e colaboradores (2001) avaliaram a atividade de ertapenem contra isolados produtores de diferentes β-lactamases. De acordo com esse estudo, ertapenem apresentou MIC90 de 0,06 µg/ml contra isolados de Klebsiella spp. produtores de ESβL comparado a 0,5 µg/ml 78 DISCUSSÃO observado para imipenem. Além disso, contra mutantes apresentando AmpC desreprimida as CIMs para ertapenem e imipenem foram 0,015-0,5 µg/ml e 0,25-1 µg/ml, respectivamente. Ertapenem, assim como os demais carbapenêmicos, não apresentou atividade contra isolados produtores de carbapenemases. A diminuição da sensibilidade a ertapenem verificada nos isolados de E. cloacae pode estar relacionada a impermeabilidade de membrana externa, provavelmente pela perda de uma porina de 43 kDa, verificada pelo gel de SDS-PAGE, associada a desrepressão do gene ampC. A diminuição da expressão de OmpC verificada para a amostra 13.550 pela qRT-PCR pode estar relacionada provavelmente ao aumento da CIM (1 μg/ml) para imipenem e meropenem. Um estudo realizado por Woodford e colaboradores (2007), que avaliou a resistência ao ertapenem em amostras de Klebsiella spp. e Enterobacter spp. isoladas na Inglaterra, concluiu que a resistência a ertapenem em Enterobacter spp. estava provavelmente relacionada a produção de AmpC associada a impermeabilidade de membrana externa e ou ao aumento da expressão de efluxo, enquanto que a produção de ESβL associado aos mesmos mecanismos eram os responsáveis pelo fenótipo de resistência em Klebsiella spp.. Foi observado também que imipenem e meropenem eram mais ativos contra a maioria dos isolados avaliados, quando estes apresentavam baixos níveis de resistência a ertapenem (CIM, ≤ 2 µg/ml). Entretanto, quando os isolados apresentavam altos níveis de resistência ao ertapenem (CIM, >16 µg/ml), uma diminuição da atividade para os demais carbapenêmicos era observada. Por último, eles concluíram que raramente a resistência a ertapenem é conferida 79 DISCUSSÃO por carbapenemases verdadeiras. Esses dados corroboram com os resultados obtidos no presente estudo, uma vez que imipenem e meropenem mantiveram atividade frente os isolados com baixos níveis de resistência ao ertapenem. Além disso, entre as amostras analisadas não foi observado a produção de carbapenemases. O ertapenem, embora apresente um expectro de atividade inferior ao apresentado pelos demais carbapenêmicos (não apresenta atividade contra bacilos Gram-negativos não fermentadores) ainda é uma opção no tratamento de infecções causadas por enterobactérias não produtoras de carbapenemases, com a vantagem de ser administrado somente uma vez ao dia (Zhanel et al., 2005). Além disso, o ertapenem pode funcionar como marcador para a resistência a imipenem e meropenem, já que isolados apresentando baixos níveis de resistência a ertapenem tendem a manter a sensibilidade aos demais carbapenêmicos (Woodford et al., 2007). Outro ponto importante é que a CIM para ertapenem é mais específica para a detecção de algumas β-lactamases, como KPC, já que algumas vezes essas enzimas não são capazes de conferir fenótipo de resistência a imipenem e a meropenem, mas, ao contrário, aumentam a CIM para o ertapenem (Bratu et al., 2005; Lamoestro et al., 2006). As CIMs para cefepima, imipenem, meropenem e ertapenem não foram afetadas pela presença dos inibidores de bomba de efluxo PAβN e reserpina, sugerindo que a hiperexpressão dos sistemas de efluxo não é o principal mecanismo envolvido na resistência a cefepima e a ertapenem nas amostras estudadas. Alternativamente, os inibidores de bomba de efluxo utilizados podem não ser capazes de bloquear a extrusão destes antimicrobianos nas 80 DISCUSSÃO amostras analisadas, o que justificaria os resultados obtidos. Outro ponto a ser discutido seria a concentração do inibidor utilizada (20 µg/ml para reserpina e 25 µg/ml para PAβN). Talvez concentrações maiores do inibidor pudessem ter maior efeito na detecção de efluxo ativo para os β-lactâmicos testados. Na literatura a concentração de PAβN utilizada para diferentes microrganismos variou de 20 a 50 µg/ml (Szabó et al., 2006; 2006; Pérez et al.,2007). Embora não tenha sido verificada alteração das CIMs para os βlactâmicos testados na presença dos inibidores de efluxo, todas as 11 amostras estudadas foram resistentes à tetraciclina e destas cinco foram resistentes inclusive ao cloranfenicol, cuja resistência também já foi descrita como sendo relacionada aos sistemas de efluxo (Chevalier et al., 2004). Estes dados estão de acordo com um estudo prévio (Gayet et al., 2003), no qual dois isolados de E. aerogenes resistentes a cefepima, na presença do PAβN, não apresentaram alteração na CIM para esta droga. Entretanto, ambas as amostras apresentaram diminuição da CIM para cloranfenicol na presença do mesmo inibidor. A importância dos sistemas de efluxo, como o já estudado AcrAB-TolC, na resistência aos β-lactâmicos ainda não está clara. Bornet e colaboradores (2003) demonstraram um aumento da expressão do gene acrA em isolados resistentes de E. aerogenes. Embora neste estudo tenha sido verificado que o sistema AcrAB-TolC não participa diretamente da resistência ao imipenem, pois não houve diminuição da CIM do imipenem na presença do PAβN, esse antimicrobiano poderia estar envolvido na seleção de cepas que hiperexpressam sistemas de efluxo, responsáveis pela resistência a outras 81 DISCUSSÃO classes de antimicrobianos, como tetraciclina, cloranfenicol e norfloxacina (Bornet et al., 2003). Outros dois trabalhos demonstraram a importância do gene ramA e do operon mar no fenômeno da multirresistência em E. aerogenes (Chollet et al., 2002; Chollet et al., 2004). A hiperexpressão do gene ramA ativa a expressão do operon mar que diminui a expressão das porinas e aumenta a expressão dos sistema de efluxo AcrAB-TolC. Além disso, foi demonstrado que o gene ramA sozinho é capaz de induzir a cascata MDR (MultiDrug Resistant) na ausência do operon mar. Como esses genes diminuem a permeabilidade de membrana externa, regulando a expressão das porinas, eles podem também contribuir com a diminuição da sensibilidade ao imipenem como demonstrado pelo estudo de Chollet e colaboradores (2002). Embora não tenha sido observada diminuição da expressão das porinas OmpC e OmpF para a maioria das amostras de E. cloacae do presente estudo, já foi descrito que a diminuição da expressão de OmpF e OmpD associada a sistemas de efluxo pode conferir resistência a ertapenem em E. cloacae (Szabó et al., 2006). Szabó e colaboradores (2006) descreveram uma amostra de E. cloacae que apresentava uma expressão das porinas OmpD e OmpF de 11 e 55 vezes menor, respectivamente, comparado ao controle sensível. Além disso, foi observada uma diminuição das CIMs para ertapenem, meropenem e ciprofloxacina na presença do inibidor PAβN. Entretanto, algumas considerações devem ser feitas. Primeiro, o isolado analisado apresentava CIM > 32 µg/ml, muito acima das CIMs observadas para os 11 isolados do presente estudo (CIMs de 2-8 µg/ml); segundo, não foi mencionado a taxa de expressão do gene ampC, embora tenha sido descrita a 82 DISCUSSÃO presença de quatro β-lactamases (TEM-1, SHV-7, SHV-30 e MIR). Além disso, a concentração de PAβN utilizada (40 µg/ml) foi muito superior à utilizada no presente estudo (25 µg/ml). Embora a hiper-produção de AmpC associada a uma provável perda de uma porina de 43 kDa seja o principal mecanismo responsável pelos baixos níveis de resistência a ertapenem, alguns relatos tem demonstrado que a produção de CTX-M associada a impermeabilidade de membrana (diminuição ou perda da Ompk35 e OmpK36) pode conferir resistência a ertapenem em Klebsiella spp (Elliott et al., 2006; Lee et al., 2007; Martinez-Martínez, 2008). Entretanto, não foi verificada nenhuma diferença no perfil de sensibilidade para ertapenem entre os isolados produtores de CTX-M e os não produtores, demonstranto que a produção de CTX-M não possui um papel importante na diminuição da sensibilidade a ertapenem em Enterobacter spp. como em Klebsiella spp.. Talvez essa diferença esteja relacionada as porinas utilizadas nestes dois microrganismos pelo ertapenem. Enquanto que em Klebsiella ssp. duas principais porinas OmpK35 e OmpK36 estão relacionadas a resistência aos carbapenêmicos, em Enterobacter spp., a resistência aos carbapenêmicos tem sido relacionada à perda de diferentes porinas, cujos pesos moleculares variaram de 35 kDa a 43 kDa. Além disso, a prevalência de ESβL é muito maior em Klebsiella spp. que em Enterobacter spp. Aliada a isso, a desrepressão do gene ampC em Enterobacter spp. confere um importante papel na resistência aos beta-lactâmicos não podendo ser subestimada nestes microrganismos. A análise da similaridade genética pelo PFGE demonstrou que não houve uma disseminação de um mesmo clone entre as amostras de E. cloacae 83 DISCUSSÃO multirresistentes isoladas de hemoculturas no Hopital São Paulo. Essa variabilidade sugere que ocorreu uma pressão seletiva nessas amostras de modo que apresentassem o mesmo fenótipo de resistência. Sendo assim, é necessária e importante uma política do uso de antimicrobianos dentro do ambiente hospitalar com a finalidade de restringir a seleção de isolados resistentes. Como observado por Da Silva (2005), que avaliou a adequação da terapia entre esses isolados, o uso prévio de cefalosporinas (principalmente ceftriaxona) está relacionado a emergência da resistência em E. cloacae. FungTomc e colaboradores (1996) relataram que ceftriaxona pode induzir a desrepressão do gene ampC mais frequentemente do que as outras cefalosporinas. Isto justificaria os altos níveis de expressão de AmpC verificados nos isolados de E. cloacae avaliados no presente estudo. Estes dados estão de acordo com relatos anteriores que também demonstraram a relação entre o uso de cefalosporinas de amplo espectro e o surgimento de resistência em Enterobacter spp. (Chow et al., 1991; Kaye et al., 2001; Lee et al., 2002; Muller et al., 2004; Stearne et al., 2004). Da Silva (2005) verificou também que além da antibióticoterapia empírica prévia com cefalosporinas, os pacientes que apresentaram infecções por estes microrganismos, em sua maioria, eram de alto risco para adquirir infecções por organismos resistentes, já que apresentavam doenças de base graves, o que pode ter influenciado nas altas taxas de mortalidade verificado neste grupo (45,45%). Além disso, a maioria dos pacientes estava internado em unidades de terapia intensiva e em unidades cirúrgicas o que proporciona 84 DISCUSSÃO maior número de procedimentos invasivos, e aumento nos dias de internação (Da Silva, 2005). O presente estudo demonstrou a complexidade dos mecanismos expressos por E. cloacae e os altos níveis de resistência que esses mecanismos associados podem conferir nestes microrganismos. Cada vez mais têm sido descritos isolados de Enterobacter spp. multirresistentes, principalmente E. cloacae e E. aerogenes, causando surtos em ambientes nosocomiais. A terapia disponível para o tratamento desses microrganimos se torna limitada, sendo necessária a utilização de carbapenêmicos. Entretanto, a pressão seletiva pode levar a emergência da resistência a estes antimicrobianos. A polimixina B geralmente é a última opção para o tratamento dessas infecções. Embora não haja uma padronização pelo CLSI (2007) para o teste de polimixina B para enterobactérias, estudos de vigilância têm demonstrado altas CIMs (CIM ≥ 8µg/ml) a este antimicrobiano em isolados de Enterobacter spp. (Cayô et al., 2007), o que torna mais preocupante a emergência da resistência aos carbapenêmicos entre esses patógenos. Estudos posteriores serão realizados no intuito de investigar o contexto genético destas amostras, como o seqüênciamento dos integrons de classe 1, bem como a caracterização molecular da porina de 43 kDa e a sua importância na resistência a ertapenem nos isolados de E. cloacae avaliados no presente estudo. 85 CONCLUSÕES 7 - CONCLUSÕES ¾ Os altos níveis de resistência observado para cefepima e para as demais cefalosporinas estão relacionados à produção de duas βlactamases TEM-like e CTX-M associada a hiper-produção de AmpC; ¾ A desrepressão do gene ampC associada a perda de uma porina de 43 kDA provavelmente está relacionada a diminuição da sensibilidade a ertapenem. O mesmo não foi verificado para as proteínas de membrana externa de 35 kDa e 36 kDa; ¾ A ausência da diminuição da expressão dos genes ompC e ompF e da hiperexpressão de sistemas de efluxo podem estar relacionados a manutenção da sensibilidade ao meropenem e imipenem; ¾ Co-resistência entre cefalosporinas, monobactâmicos, fluoroquinolonas, aminoglicosídeos, sulfametoxazol/trimetoprim, tetracicilina e cloranfenicol foi observada entre os isolados de E. cloacae produtores de ESβL; ¾ Nenhuma redução na concentração inibitória mínima foi observada para cefepima e para os carbapenêmicos na presença dos inibidores de bomba de efluxo reserpina e PAβN; 86 CONCLUSÕES ¾ Cefepima foi o melhor antimicrobiano testado para a detecção da produção de ESβL, no teste de aproximação em disco, entre os isolados de E. cloacae apresentando desrepressão do gene ampC; ¾ Não foi observado um único perfil clonal entre os isolados multirresistentes de E. cloacae isoladas de hemoculturas no Hospital São Paulo. Entretanto, todas as amostras foram incluídas em 3 grupos clonais, evidêciando a importância da transmissão cruzada de cepas de micrororganismos na disseminação da resistência. 87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abanades S, Nolla J, Rodríguez-Campello A, Pedro C, Valls A, Farré M. Reversible coma secondary to cefepime neurotoxicity. The Annals of Pharmacotherapy. 2004; 38(4):606-608. Abbott S. Klebsiella, Enterobacter, Citrobacter, Serratia, Plesiomonas, and other Enterobacteriaceae. In: Manual of Clinical Microbiology By Murray PR, Baron EJ, Jorgensen JH, Landry ML, Pfaller MA. 9 ed. American Society for Microbiology - ASM, Washington, DC, 2007; 1:698-715. Abraham EP e Chain E. An enzyme from bacteria able to destroy penicillin. 1940. Reviews of Infectious Diseases. 1988; 10(4):677-8. Aibinu IE, Ohaegbulam VC, Adenipekun EA, Ogunsola FT, Odugbemi TO, Mee BJ. 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Materiais e Métodos: O perfil de sensibilidade foi avaliado por disco difusão e pela técnica de diluição em ágar, de acordo com o CLSI. A análise das proteínas de membrana externa (OMPs) foi realizada pela técnica de SDS-PAGE. A similaridade genética foi avaliada pela técnica de PFGE e o coeficiente similaridade entre os padrões de PFGE obtidos foi calculado pelo programa Bionumerics. Os isolados foram também testados contra cefepima, ertapenem, imipenem e meropenem na presença e na ausência dos inibidores de bomba de efluxo PAβN (25 μg/ml) e reserpina (20 μg/ml), pela técnica de diluição em ágar. Foram realizados testes de hidrólise, disco-aproximação para a detecção fenotípica de ESβL e testes de indução para a detecção de AmpC induzida. A presença de genes codificadores de ESβL, carbapenemases e AmpC plasmidiais foram avaliados pela técnica de PCR e confirmadas por seqüênciamento, bem como a presença de integrons. Os níveis de expressão de ampC, ompC e ompF foram medidos pela PCR em tempo real. Resultados: Todos os isolados de E. cloacae subespécie cloacae foram resistentes às cefalosporinas, aztreonam, associações com inibidores de β-lactamases, tetraciclina, ciprofloxacina e amicacina por disco difusão. A técnica de diluição em ágar demonstrou altas 133 RESUMO CIMs para cefotaxima (CIM50, > 256 µg/mL), ceftazidima (CIM50, 256 µg/mL) e cefepima (CIM50, 256 µg/mL). Todos os isolados foram sensíveis a imipenem (CIM50, 0.25 µg/mL) e meropenem (CIM50, 0.25 µg/mL). Entretanto, 7 isolados apresentaram CIMs de 4 µg/ml para ertapenem, 3 isolados foram resistentes (CIMs de 8 µg/ml) e um isolado foi sensível (CIM de 2 µg/ml). Quatro padrões de PFGE foram encontrados entre os isolados de E. cloacae subespécie cloacae multirresistentes. Pelo programa Bionumerics, 3 clusters foram observados com coeficiente de similaridade acima de 80%. Todas as amostras foram positivas para ESβL no teste de hidrólise e no disco aproximação. Os resultados da PCR apresentaram amplificação para blaTEM e blaCTX-M. Hiperexpressão do gene ampC foi detectado em todos os isolados pela qRTPCR. Somente uma amostra apresentou uma pequena diminuição da expressão de OmpC. Através do gel de SDS-PAGE foi observado um perda de uma proteína de 43 kDa quando comparado ao controle sensível. Nenhuma redução significativa nas CIMs para β-lactâmicos foi observado na presença dos inibidores de bomba de efluxo. Conclusões: Os resultados mostraram que a hiper-produção de AmpC associada a produção de ESBL são os responsáveis pelos altos níveis de resistência a cefepima e a perda de uma proteína de 43 kDa associada a hiper-produção de AmpC provavelmente foram os responsáveis pela diminuição da sensibilidade a ertapenem verificada entre os isolados de E. cloacae subespécie cloacae. 134 ABSTRACT 10 - ABSTRACT Background: The overproduction of AmpC in Enterobacter spp. can contribute to resistance phenotype to fourth-generation cephalosporins and to carbapenens. The mechanisms of resistance to cefepime and ertapenem were studied among 11 E. cloacae subespecie cloacae clinical isolates from blood cultures isolated at São Paulo Hospital. Methods: Susceptibility testing by disk diffusion and agar dilution techniques was performed according to CLSI. Analysis of outer membrane protein (OMP) was performed by SDS-PAGE. The genetic relatedness was evaluated by PFGE and the dendogram was obtained by Bionumerics program. The isolates were also tested against cefepime, ertapenem, imipenem and meropenem with and without of PAβN (25 μg/ml) and reserpine (20 μg/ml), an efflux pump inhibitors by agar dilution. Genes for ESβLs, carbapenemases and plamidial AmpCs were screened by PCR and confirmed by sequencing. The expression level of ampC, ompC and ompF genes was measured by real time PCR (qRT-PCR). Results: All isolates were resistant to cephalosporins, aztreonam, β-lactamases association inhibitors, tetraciclin, ciprofloxacin and amikacin, by disk diffusion. All isolates showed high resistant phenotype to cefotaxime (MIC50, > 256 µg/mL), ceftazidime (MIC50, 256 µg/mL), and cefepime (MIC50, 256 µg/mL) but they were susceptible to imipenem (MIC50, 0.25 µg/mL) and meropenem (MIC50, 0.25 µg/mL). Seven isolates showed ertapenem MICs of 4 µg/ml, while other three isolates showed MICs of 8 µg/ml and one isolate showed MIC of 2 µg/ml. Four clusters were founded by the Bionumerics program. The PCR results showed amplification for blaTEM and blaCTX-M. Hyperexpression of ampC was detected in all isolates by 135 ABSTRACT qRT-PCR. Only one sample showed a decreased in the OmpC expression. The loss of an OMP of 43 kDa was observed for all isolates in the SDS-PAGE technicque compared to the susceptible control. No significant reduction for βlactam’s MICs was observed in the presence of PAβN. Conclusions: The results showed that the hyperproduction of AmpC coupled with ESBL production were responsible for the high resistant rates to cefepime. The hyperproduction of AmpC coupled with the loss of an OMP of 43 kDa is likely to be responsible for the reduced susceptibility to ertapenem in the E. cloacae subespecie cloacae isolates, which seems not to be associated with efflux systems. 136 ANEXO 11 - ANEXO Anexo I - Dados demográficos e clínicos dos pacientes com bacteremia por E. cloacae subespécie cloacae multirresistentes.a Nº do paciente 1 Nº da Iniciais amostra 10.831 D.S. Antibióticoterapia pós isolamento d (>48hs) Conduta terapêutica Óbito CRO CRO Inadequada Sim CRO CRO IMP Corrigida Não Inadequada Sim Idade/ Sexo Doença de Base Infecção Nosocomial/Co munitária Bacteremia (Fonte) 74/M TU bexiga Nosocomial Primária CRO Nosocomial Secundária Antibióticoterapia b prévia Antibióticoterapia c coleta (48hs) 2 10.480 H.A.G. 49/M Tx fígado, Ascite 3 13.501 W.G. 76/M Úlcera gástrica, BCP Nosocomial Primária CRO FEP 4 13.550 R.P.S. 60/M ICC + LMA Nosocomial Primária IMP IMP IMP Adequada Sim 5 14.008 V.A.S. 27/F 6 11.334 N.O.P. 33/M Tx cardíaco Nosocomial Secundária (pulmão) IMP IMP IMP Adequada Não 7 12.035 J.M. 65/M BCP Nosocomial Secundária (pulmão) CRO, OXA CRO IMP Corrigida Sim 8 10.833 J.S. 34/M Tuberculose pulmonar Nosocomial Secundária (pulmão) VAN VAN IMP Corrigida Sim 9 11.235 C.J.S. 44/M HDA + PNM aspirativa Nosocomial Primária CRO, CAZ, FEP IMP IMP Adequada Não 10 11.297 M.C.Q. 40/F LMA Nosocomial Primária FEP, SMX/TMP FEP, SMX/TMP FEP, SMX/TMP, LEV Inadequada Não 11 20.096 D.A.G. 77/F Carcinoma Peritoneal Nosocomial Primária Inadequada Não Nosocomial CIP 137 ANEXO a - Adapatado da tese de mestrado de Juliana Bertoli da Silva (Da silva, 2005); b - Utilização de algum antimicrobiano até 10 dias anteriores à coleta da hemocultura; c - Antibióticoterapia empírica introduzida imediatamente após a suspeita de bacteremia e coleta da hemocultura; d - Antibióticoterapia mantida ou alterada de acordo com o patógeno isolado na hemocultura (aproximadamente 48 hs após a coleta); Abreviaturas: Nº - número; CTX - cefotaxima; CAZ - ceftazidima; FEP - cefepima; IMP - imipenem; AK; amicacina; CRO ceftriaxona; VAN - vancomicina; OXA - oxacilina; SMX/TMP - sulfametoxazol/trimetoprim; LEV - levofloxacina; CIP - ciprofloxacina. 138 ANEXO 139