A BASE AFETIVO-VOLITIVA NA CONSTITUIÇÃO DO(A) EDUCADOR(A) AMBIENTAL Resumo: Neste estudo, pretendemos apresentar, defender e problematizar acerca da base afetivovolitiva na constituição do(a) educador(a) ambiental. Tal conceito, está presente nos estudos do educador russo Lev Vygotsky (1896-1934), bem como na Abordagem Sóciohistórica, da qual é principal representante. Para o autor a base afetivo-volitiva, envolve os desejos e necessidades, os interesses e emoções, referindo-se assim a motivação, sendo que a função psicológica superior que potencializa as demais é a vontade. Portanto, a motivação e a vontade também fazem parte da base afetivo-volitiva. Tal conceito está presente, em especial nas obras: Pensamento e linguagem (1995) e A construção do pensamento e da linguagem (2001) do referido autor, além da obra: Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky de Molon (2003). Entendemos que o estudo de tal dimensão no campo da Educação Ambiental, em especial na constituição dos educadores ambientais, torna-se extremamente relevante, pois acreditamos que a base afetivo-volitiva é a dimensão humana e social que paraliza ou potencializa a ação dos educadores ambientais rumo a prática da Educação Ambiental Transformadora. Logo, são os desejos e necessidades, os interesses e as emoções, as motivações e as vontades que nos posicionam particular e coletivamente no mundo, qualificando as ações e as relações humanas. Palavras-chave: Constituição do educador ambiental, Base afetivo-volitiva, Abordagem Sócio-histórica, Educação Ambiental Transformadora. 2 Introdução Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos. Eduardo Galeano Diante das palavras da epígrafe de Galeano, questionamos e tentamos no campo da Educação Ambiental, buscar compreender por que queremos ser educadores ambientais? Que posturas e discursos assumimos quando defendemos nossa escolha pela Educação Ambiental? Em que somos motivados a escolher a Educação Ambiental como campo de formação continuada, como forma de atuação e intervenção na realidade social? Que Educação Ambiental acreditamos, sonhamos e defendemos? O que entendemos por Educação Ambiental é o mesmo entendimento que têm nossos colegas, os autores que utilizamos? É diferente? Em que sentido? Que significados e sentidos estão sendo atribuídos na opção pela Educação Ambiental? Nossas escolhas estão comprometidas com a mudança social ou com a manutenção da ordem capitalista? Na realização desses questionamentos, percebemos que as questões acima estão imbricadas. São questões permeadas de significados e sentidos polissêmicos. Em nossas práticas pedagógicas e sociais, nossas intencionalidades, bem como nossas escolhas, têm a ver com o modo como compreendemos a realidade e essa compreensão reflete-se na maneira como fazemos nossas intervenções sociais. Nesse sentido, a compreensão acerca da realidade, bem como a maneira de intervirmos nessa, está permeada por desejos e necessidades, interesses e emoções, motivações e vontades. Tentamos neste texto apresentar o conceito base afetivo-volitiva, que são os desejos e necessidades, interesses e emoções, motivações e vontades e a relação desses com o processo de constituição do(a) educador(a) ambiental. Com base no pensamento do autor Lev Vygotsky e da Abordagem Sócio-histórica, partimos do princípio de que desejos e necessidades, interesses e emoções, constituem a base afetivo-volitiva, a motivação, considerando que a vontade é a função psicológica superior que potencializa as demais. 3 Assim, compreendemos que a constituição do sujeito educador ambiental tem estrita ligação com a maneira como esse percebe o mundo e sua percepção relaciona-se com os referenciais teóricos e metodológicos que norteiam a sua prática social e pedagógica, além das vivências e experiências constituídas na sua trajetória de vida, de forma singular e coletiva. Partilhamos portanto, do entendimento de que o educador ambiental é sujeito constituído nas e pelas relações sociais, nas e pelas linguagens no campo das intersubjetividades (MOLON, 2003). Esta concepção é construída nos diálogos com a Abordagem Sócio-histórica. A contribuição de Vygotsky, principal representante dessa abordagem, centra-se em um novo olhar para a Psicologia, compreendendo o ser humano como processo social e fenômeno histórico, a subjetividade como processualidade e a atividade humana como mediada socialmente e produtora de significados (MOLON, 2005). Na Abordagem Sócio-histórica cada pessoa é um agregado de relações sociais encarnadas num indivíduo donde se depreende a inexorável relação Eu-Outro que excluí qualquer possibilidade de eu originário, abstrato, a priori, deslocado da realidade (ZANELLA, 2006). O ser humano e, portanto, o educador ambiental constitui e é constituído nas/pelas relações sociais em uma determinada cultura e em um determinado contexto sócio, econômico, político e ambiental. Logo, é a partir desse olhar que defendemos a importância de aprofundar o estudo sobre a base afetivo-volitiva na constituição do(a) educador(a) ambiental, na busca por tentar compreender os processos que motivam, influenciam e determinam essa constituição, uma vez que o ser humano, como afirmado anteriormente, é constituído e constituinte nas e pelas relações sociais, e, por meio desse processo, tem a possibilidade de romper com as dicotomias indivíduo/sociedade, natureza/cultura, subjetividade/objetividade, racionalidade/afetividade, corpo/mente, porque é capaz de recriar, ressignificar, reinventar, assumir compromisso político, ético e estético diante da vida, não de maneira “mágica” e “abstrata”, mas na práxis cotidiana, educativa e coletiva. Problematizar sobre a constituição dos educadores ambientais, seus desejos e necessidades, interesses e emoções, motivações e vontades, torna-se relevante no 4 entendimento da Educação Ambiental como um dos processos de intervenção e transformação da realidade vivida. Nas palavras de Loureiro, encontramos respaldo, pois o mesmo, ao defender os princípios de uma Educação Ambiental Transformadora e da importância da articulação entre emoção-razão-ação, afirma que: A práxis educativa se refere à ação intersubjetiva, entre pessoas e dos cidadãos. [...] conhecer, agir e se perceber no ambiente deixa de ser um ato teórico-cognitivo e torna-se um processo que se inicia nas impressões genéricas e intuitivas e que se vai tornando complexo e concreto na práxis. (LOUREIRO, 2004, p.130). Sendo assim, desejos e necessidades, interesses e emoções fazem parte de nossa constituição como sujeitos educadores ambientais e são entendidas neste estudo, como dimensões humanas capazes de diminuir ou potencializar as nossas ações rumo a prática da Educação Ambiental Transformadora, a qual se compromete com a ruptura do padrão vigente. Embora vivenciadas de modo singular, tais dimensões são construídas na base material da vida e, portanto, são dimensões sociais, que evidenciam o modo como os sujeitos se posicionam particular e coletivamente. Neste texto será realizada a apresentação do conceito base afetivo-volitiva nos estudos de Vygotsky e da Abordagem Sócio-histórica, bem como o debate sobre a importância dessa dimensão no estudo sobre a constituição do(a) educador(a), bem como a importância de sua articulação com os princípios da Educação Ambiental Transformadora. A base afetivo-volitiva nos estudos de Vygotsky e da Abordagem Sócio-histórica Para compreender a fala de outrem não basta entender as suas palavras – temos que compreender o seu pensamento. Mas nem mesmo isso é suficiente – também é preciso que conheçamos a sua motivação. Lev Seminovitch Vygotsky Em 1930, o educador russo, Lev Semionovitch Vygotsky, voltou suas atenções para o Estudo das Emoções e escreveu um manuscrito intitulado: A teoria das emoções: uma investigação histórico-psicológica, publicado postumamente na década de 70. O autor em 5 toda a sua trajetória estava interessado em entender o papel da linguagem e do pensamento na constituição da consciência humana. Na obra acima citada, escreveu sobre a teoria das emoções de William James (18421910) e Carl Lange (1834-1900) e a proximidade destas com a Teoria das paixões de Descartes (1596-1650) e fez uma crítica a essas abordagens, entendidas como dicotômicas no que se refere ao entendimento das emoções. Na tentativa de romper com a idéia dualista entre razão e emoção, Vygotsky fascinou-se pelos escritos de Espinosa (1632-1677), devido à solução monista para a problemática da dicotomia corpo e alma, uma vez que, as emoções e conduta humana eram consideradas fenômenos naturais que seguiam as leis gerais da natureza, devido à abordagem genético-desenvolvimentista pontuada por Darwin. Assim, Espinosa defendia a intrínseca relação entre corpo e mente e rompia com os pressupostos cartesianos, que postulavam a separação entre razão e emoção. Spinoza discordava dessas teorias e queria estender a abordagem determinista a todas as ações humanas e ao domínio da alma. Ele não aceitava a existência da alma livre e não-determinada de Descartes e refutava seu dualismo. Essa atitude foi muito importante para Vygotsky, cujas metas eram similares [...]. Em sua opinião, uma teoria adequada da emoção deveria dar uma explicação significativa para a relação entre emoções inferiores das crianças e superiores dos adultos. (VALSINER & VEER, 1996, p. 385). O tema das emoções então, era a questão central nos estudos de Vygotsky. Tal temática percorreu toda a sua construção teórico-metodológica e foi um dos principais motivos que o levou e o influenciou na construção de uma nova Psicologia. É nesta ótica que uma leitura cuidadosa dos textos de Vigotski, onde é abordada a questão da emoção e dos afetos, poderá trazer uma preciosa contribuição para orientar futuras pesquisas que deverão elucidar e precisar os processos conscientes e inconscientes e o papel da afetividade na constituição da subjetividade humana. (LANE, 1995, p.117). Assim, Vygotsky estava preocupado com a origem do homem e a gênese da cultura, portanto, sua primeira questão de investigação estava diretamente ligada à temática das 6 emoções. Na obra Psicologia da Arte (1970), o autor expôs idéias significativas a respeito da relação entre a arte e as emoções. No livro Psicologia da arte (1915-1922) encontram-se os primeiros estudos de Vigotski sobre as emoções. Uma parte significativa da obra está voltada para a crítica das teorias que ele caracterizava como reducionistas ou unilaterais no que se trata de especificar a função humana e social da arte. (LANE, 1995, p. 117). No livro Pensamento e Linguagem (1995), Vygotsky defendeu a tese de que uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outra pessoa, só se torna possível quando entendemos a sua base afetivo-volitiva, ou seja sua motivação, que envolve os desejos e as necessidades, os interesses e as emoções. É neste livro, especificamente que o autor evidencia o conceito base afetivo-volitiva, embora a questão das emoções (uma das dimensões da base afetivo-volitiva), está presente em toda a sua obra. O autor pontuou que para que possamos entender a fala de alguém (e porque não dizer suas ações, decisões e resistências), é preciso compreender muito mais do que seu pensamento, é preciso entender a sua motivação. Motivação entendida não como estímulo, mas como motivo, que possibilita as ações e as interações humanas. Logo, ao abordarmos a questão da motivação, acreditamos na relação desta com os desejos e as necessidades, os interesses e as emoções. Tudo isso constitui a afetividade, sendo a vontade a potencializadora de todas essas funções, que para o autor, são consideradas funções psicológicas superiores, além do pensamento, da linguagem, da memória e do raciocínio. É preciso trazer a tona, a problematização defendida por Vygotsky e pela Abordagem Sócio-histórica, de que todo processo psicológico é volitivo, sendo que a vontade potencializa os desejos e as necessidades, os interesses e as emoções. Esses são inicialmente sociais (produto das relações sociais), interpsicológicas e posteriormente intrapsicológicas. A consciência, para este autor, apresenta uma tríplice natureza, englobando, pensamento, afetos e vontades. A afetividade é constituída de emoções e sentimentos. Emoções e sentimentos são fenômenos privados, mas a sua gênese e as suas conseqüências são sociais. 7 Há autores da Psicologia que diferenciam sentimento de emoção, destacando que a emoção é menos duradoura que o sentimento. Um exemplo de emoção seria a alegria, por ter uma intensidade menos duradoura do que a felicidade, a qual seria um sentimento mais duradouro e intenso. Porém, o que tentamos defender neste estudo são as potencialidades da base afetivovolitiva de nos impulsionar ou nos paralisar frente as aspirações, as novas relações e intervenções sociais. Defendemos com isso, a importância da base afetivo-volitiva na constituição dos educadores(as) ambientais, pois acredita-se que está é uma das dimensões humanas que possibilita a ação e transformação ou a imobilização e o comodismo dos sujeitos frente a realidade socioambiental. Nos estudos de Vygotsky, a tentativa de problematizar essas questões esteve comprometida com seu desejo de romper com concepções biologizantes, mecanicistas e dicotômicas de tratar o pensamento (razão) e o afeto (emoção). Isso se evidencia pelo diálogo do autor com a dialética, a qual, nos permite pensar que o que realmente importa: [...] não é apenas entender e especular, mas agir e transformar. A transformação da história humana se dá pelos próprios humanos, mas não são seres abstratos e sim concretos, definidos pelas relações estabelecidas entre as esferas da vida social (política, cultural, filosófica etc) entre si e destas com a condição econômica, em um movimento de constituição mútua. (LOUREIRO, 2004, p. 115). Perguntar pela base afetivo-volitiva torna-se importante, pois, diante dos discursos dicotômicos, em que o pensar e sentir tornam-se processos dissociados, há a necessidade de relacionar intelecto e afeto, razão e emoção, homem e natureza, público e privado, na tentativa de romper com os dualismos presentes em nossa sociedade. Para Vygotsky, emoção e sentimento não são entidades absolutas ou lógicas de nosso psiquismo, mas modos de ser, sentir e viver, significados através da experiência social e histórica dos sujeitos. A emoção na Abordagem Sócio-histórica, apresentada por este autor, nunca foi o bandido do conhecimento, provocadora de erros e perturbadora da ordem natural, mas a base da construção deste. (SAWAIA, 2000). 8 Por meio desse entendimento sobre as emoções, não mais compreendidas como aspecto puramente biológico, mas situada social e historicamente, Sawaia (2000) defende que, é preciso olhar com criticidade a este modismo atual de interesse pelo estudo das emoções, para não confundir positividade diante desses estudos com manipulação das mesmas. Sawaia (2000) convida-nos a refletir sobre o fato de que o que está crescendo, nesta virada de século, é a tendência à proliferação de receituários e tecnologias de rápida aplicação para manipular e regular desejos e necessidades, interesses e emoções. Porém, a preocupação de Vygotsky e da Abordagem Sócio-histórica com as emoções faz parte de suas intenções de provocar uma revolução ontológica e epistemológica na Psicologia da época, criando uma Psicologia Geral capaz de superar as cisões provocadas pelas teorias dominantes, mecanicistas, abrindo-as ao diálogo para que substituíssem a causalidade monista pelo entendimento dialético das emoções, das motivações, da base afetivo-volitiva, que são potencializadoras das ações e escolhas humanas, que não são processos puramente biológicos, mas construídos nas relações entre os sujeitos, em sua cultura, historicidade e materialidade da vida e estão intrincados nas decisões e escolhas que fazemos e na maneira de como compreendemos e assumimos nossa defesa acerca da Educação Ambiental como campo de estudo e atuação. De acordo com Sawaia (2000, p. 1), a discussão acerca das emoções torna-se importante na atualidade, pois a questão de como construímos nosso conhecimento sempre foi permeada pelo debate entre racionalistas e sensorialistas. “Entre confrontos em que a razão é o mocinho que luta contra o vilão perturbador do conhecimento que é a emoção”, como se ambas estivessem dissociadas no ato de conhecer e de nossa constituição enquanto sujeitos. Tais dimensões tornam-se necessárias de serem discutidas, uma vez que no processo de nossa constituição como educadores ambientais, nas possibilidades de estabelecermos novas relações e no entendimento de nossa consciência, pensamento e linguagem, estas questões estão imbricadas e necessitam ser estudadas. 9 A articulação entre educação ambiental e o estudo da base afetivo-volitiva A educação transformadora busca redefinir o modo como nos relacionamos conosco, com as demais espécies e com o planeta. Por isso é vista como um processo de politização e publicização da problemática ambiental por meio da qual os indivíduos, em grupos sociais, se transformam e à realidade. Aqui não cabe nenhuma forma de dissociação entre teoria e prática; subjetividade e objetividade; simbólico e material; ciência e cultura popular; natural e cultural; sociedade e ambiente. Carlos Loureiro Diante da epígrafe tão bem expressa por Loureiro, o estudo da base afetivo-volitiva na constituição dos educadores ambientais, possibilita o questionamento de dimensões capazes de nos fazer entender por que muitos educadores estão comprometidos ou com a manutenção do sistema capitalista ou com a transformação desses, pois é através do entendimento de seus desejos, necessidades, interesses, emoções, motivações e vontades que podemos aprofundar o debate de que os problemas socioambientais são originários e dependentes das práticas sociais e, portanto, os educadores ambientais, assim como todos os sujeitos históricos e da práxis, podem coletivamente estabelecer novos patamares societários, por meio de sua luta, do seu compromisso social e da ação pela transformação do padrão vigente, bem como, por outro lado, podem se pretender a manutenção deste padrão, postura essa que vai de encontro à proposta de uma Educação Ambiental Transformadora, a qual é vista “como meio importante para se atingir o novo em termos societários e paradigmáticos” (LOUREIRO, 2004, p. 47). É por isso, que o estudo de tal conceito torna-se importante na Educação Ambiental, pois tenta apontar que o processo de nossa constituição se dá nas relações que estabelecemos em nosso contexto social, nos mobilizando ou nos paralisando frente a esta transformação. A afetividade é, então, um conceito que não separa epistemologia da ética e da política, nem ciência de virtude. Todos sabemos que, sem ética, a discussão da verdade isola-se da discussão do homem bom e justo, e sem a estética ela se torna asséptica. Os afetos são espaços de vivência da ética, pois qualificam as ações e as relações humanas. (SAWAIA , 2006 p. 92). 10 A Educação Ambiental Transformadora parte do princípio de que é necessário compreender a Educação Ambiental, não apenas como um instrumento de mudança comportamental e cultual, mas como possibilidade de transformação social para que possamos atingir a mudança ambiental. (LAYRARGUES, 2004), através da ruptura com as relações de poder e dominação, já que a Educação Ambiental deve promover a “conscientização e esta se dá na relação entre o “eu” e o “outro“, pela prática social e reflexiva e fundamentada teoricamente” (LOUREIRO, 2004, p. 29). Portanto, é preciso aprofundar o estudo dos desejos e das necessidade, dos interesses e das emoções, enfim da base afetivo-volitiva na constituição do educador ambiental, pois esta potencializa nossas ações coletivas e individuais. Entender a base afetivo-volitiva na constituição do educador ambiental, nos permite compreender porque muitos educadores se pretendem a ter uma postura crítica, problematizadora e transformadora, ao mesmo tempo em que outros podem evidenciar posturas acriticas, alienantes, dogmáticas e fatalistas, que apresentam “valores como se fossem atemporais e universais, dualismos entre social e natural, e que desconsideram o necessário questionamento da realidade para que todos possam ser sujeitos da transformação”. (LOUREIRO, 2004, p. 20). Por compreender que, a realidade necessita ser problematizada, questionada e transformada, não há como desconsiderarmos que: [...] o diálogo que é à base do processo educativo, os consensos e o senso de solidariedade cruciais para a democratização da sociedade se constroem não entre sujeitos abstratos, mas sim entre sujeitos concretos, situados socialmente, com nomes, histórias, vontades, paixões, sonhos, desejos, interesses e necessidades próprios. (LOUREIRO, 2004, p. 90) Com isso, o modo como fazemos e defendemos a Educação Ambiental está relacionado com o modo como compreendemos o nosso compromisso político e a percepção deste compromisso está intrinsecamente ligada as nossas visões de mundo, de ambiente, de educação e de sujeito, fazendo, portanto, parte de nossa constituição, já que nosso pensamento é entendido, quando passamos a compreender qual motivação deste. Através da tentativa de compreender como a base afetivo-volitiva (desejos, e necessidades, interesses e motivações) influência e/ou está presente e/ou determina a 11 constituição do educador ambiental, é possível aprofundarmos o estudo de perspectivas teóricas que permitam problematizar as concepções dicotômicas entre objetividade/subjetividade, racional/emocional, conhecimento científico/conhecimento empírico uma vez que: Educação que procura entender a realidade objetiva sem considerar os sujeitos e a subjetividade é objetivismo e negação da ação histórica (assim, o máximo que podemos fazer é interpretar o mundo e não transformar). Educação que é exclusivamente voltada para o “eu” isolado da sociedade, para a subjetividade sem objetividade, é psicologismo, subjetivismo, negação da realidade para além da consciência e da ação consciente dos sujeitos na sua constituição. (LOUREIRO, 2004, p. 29). Com base no pressuposto de que “A Educação Ambiental tem por princípio a transformação social para que se possa pensar, viver e sustentar um mundo melhor” (GALIAZZI & FREITAS, 2005, p. 7), é necessário compreender e questionar quem é o sujeito que se constitui educador ambiental e que constitui a Educação Ambiental e quais seus desejos e necessidade, seus interesses e emoções e como estão vinculados a esse campo do conhecimento, que suscita reflexões e propostas educativas potencializadoras de novos modos de compreender as relações sociais e a sociedade e agir de forma crítica e emancipatória na mesma. A Educação Ambiental precisa construir propostas educativas que, nos diversos e diferentes espaços educacionais, formais, informais e não formais, contribuam na formação de sujeitos capazes de ler e interpretar o mundo que está em constante transformação (CARVALHO, 2004) e ao nosso ver, transformá-lo. Nesse sentido, concordamos com Loureiro quando afirma que: A Educação Ambiental Transformadora enfatiza a educação enquanto processo permanente, cotidiano e coletivo pelo qual agimos e refletimos, transformando a realidade de vida. [...] baseia-se no princípio de que as certezas são relativas; na crítica e autocrítica constante e na ação política como forma de se estabelecer movimentos emancipatórios e de transformação social que possibilitem o estabelecimento de novos patamares de relações na natureza. (LOUREIRO, 2004, p.81). Logo, a Educação Ambiental Transformadora, compreende que as ações educativas não devem se pautar em atitudes comportamentalistas e pragmáticas que defendam a 12 supremacia de um único saber sobre a realidade, mas o que necessitamos como educadores ambientais e cidadãos, é possibilitar o debate, o diálogo e a reflexão da problemática socioambiental, rompendo com o pensamento idílico de que a Educação Ambiental deve levar a ética a quem não tem. (LOUREIRO, 2004). É nesse sentido, a crença e a defesa de que a base afetivo-volitiva está articulada a Educação Ambiental, pois é essa que nos potencializa ou nos paralisa frente as possibilidades de uma Educação Ambiental Transformadora. Considerações Finais: Nos constituímos nas relações que vivenciamos e estabelecemos com os outros e com os contextos nos quais nos inserimos. Ao estabelecer essas relações vamos criando um vínculo permeado de muito afeto com as questões que realmente têm sentido e significado para nós. Assim quando escrevemos sobre afeto, partilhamos da concepção de Sawaia quando pontua que tentar compreender, estar afetado e, portanto: ”Perguntar por afeto, é perguntar pelos poderosos processos que determinam os sujeitos como livres ou submissos, nas suas diferentes temporalidades: passado, presente e futuro.” (SAWAIA, 2006, p. 87). Ser um educador ambiental é assumir uma postura ético-política. É olhar e compreender que nossa intervenção no mundo tem que servir para romper com as relações de poder e dominação e com discursos fatalistas, determinantes e alienantes que acreditam que nada se pode fazer para melhorar as relações sociais. Ser educador ambiental é olhar o mundo com criticidade e apostar na possibilidade de transformação da realidade social. Ser educador ambiental é acreditar que quando falamos em mudança, estamos considerando as questões macro e micro sociais de ruptura com o padrão vigente na sociedade capitalista. Estamos também falando em pequenas rupturas no nosso modo de compreender o mundo ou em pequenas ações coletivas que realizamos que podem, possibilitar o entendimento dele de outra maneira, multiplicando o olhar crítico em nossas ações educativas na escola, em casa, na universidade, realizando exercícios de diálogos e 13 problematização sobre as complexas questões socioambientais, sem perder a visão da totalidade. Se não acreditarmos na Educação Ambiental como uma das possibilidades de novas relações sociais, qual o sentido de estarmos inseridos nela e de termos a escolhido como campo de estudo e de atuação? Esses são nossos questionamentos. Esse é nosso olhar. Essa é nossa crença de que é possível nos modificarmos, afetarmos os outros e afetados por esses refletirmos, agirmos e transformarmos este sistema capitalista que tenta nos impedir de romper com ele. É neste sentido que a Educação Ambiental pode ser uma forma de intervenção no mundo. Um mundo que é/está sendo complexo, conflituoso e contraditório. Iniciamos ess escrita com uma frase de Eduardo Galeano que, para além de uma frase feita, demonstra um pouco do que deva ser o papel do educador ambiental: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.” Acreditamos e defendemos nossa responsabilidade como educadores comprometidos com as transformações sociais, demonstrando que devemos intervir na comunidade, no contexto no qual estamos inseridos, trazendo contribuições significativas para que, possamos contribuir na melhoria de nossas condições de vida, fazendo uma educação junto aos sujeitos, que lhes permita pensar criticamente sobre as relações de dominação em que vivem e que coletivamente, todos possamos tomar decisões políticas, cobrando de nossos governantes providências na melhoria das condições de trabalho, de saúde, de estudo, de moradia. Mesmo sabendo que a Educação Ambiental não é a única capaz de modificar essas relações, mas que ela deve estar articulada às outras esferas do poder público e privado, e sabendo também que dentro deste modelo capitalista, o que muitas vezes fazemos são pequenas intervenções, não podemos desconsiderar nosso compromisso ético-político como educadores ambientais. Contudo, o estudo da base afetivo-volitiva na consituição do(a) educador(a) ambiental, é uma tentativa de articulação entre aquilo que o modelo racionalista de ciência tentou separar: o homem e a natureza; a subjetividade e a objetividade; o pensamento e a emoção, pois problematiza dimensões humanas constitutivas dos sujeitos, as quais por 14 muito tempo, foram desconsideradas como potencializadoras das ações e interações humanas. Referências: CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&M, 1997. 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