ASPECTOS AGRÔMICOS E ENERGÉTICOS DA CULTURA DO
BABAÇÚ
MOISES SILVA ARAÚJO
EYDE CRISTIANNE SARAIVA DOS SANTOS
RODOLFO PESSOA DE MELO MOURA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS, Faculdade de Ciências
Agrárias, Departamento de Engenharia Agrícola e Solos, e-mail:
[email protected]
Resumo: O babaçu é uma palmeira nativa das Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Historicamente, a
atividade de extrair as amêndoas do fruto do babaçuzeiro teve projeção nacional, por conta do
movimento das populações tradicionais envolvidas nessa atividade, principalmente as quebradeiras
de coco. O presente trabalho apresenta aspectos agronômicos e energéticos relevantes para
utilização do babaçu para uso energético. Utilizando como referências trabalhos pioneiros sobre a
cultura, apresenta-se a caracterização botânica das espécies, características do carvão, densidade
populacional, distribuição geográfica, beneficiamento e rendimento. Assim, demonstrando a
importância da cultura no meio rural.
Abstract: The babassu palm is a native of North and Northeast regions of Brazil. Historically, the
activity of extracting the kernels of the fruit of babaçuzeiro national projection was for the account of
the traditional movement of people involved in that activity, particularly the women who break coconut.
This paper presents and agronomic aspects relevant to energy use babassu palm for energy use.
Using as references pioneering work on culture looks at the characterization of botanical species,
characteristics of coal, population density, geographic distribution, processing and income. Thus,
demonstrating the importance of culture in rural areas.
1. Introdução
No mundo contemporâneo, a energia proveniente dos combustíveis fósseis, é a mais solicitada. Notese que o consumo energético tem aumentado sempre, intimamente associado ao desenvolvimento
das forças produtivas. Desta forma, o vertiginoso progresso experimentado pela humanidade nas
últimas décadas aumentou drasticamente o consumo dos combustíveis fósseis, a ponto de as
previsões para os próximos cinqüenta ou cem anos indicarem o esgotamento das reservas, desde
que mantidas as taxas anuais de crescimento industriais (Neiva, 1987).
Toda energia gerada pela natureza é considerada como forma primária. Algumas consideradas como
não-renováveis, tendem a se esgotar após um determinado período. Neste caso incluímos o petróleo,
gás natural, xisto e carvão mineral.
A geração de energia no Brasil provém essencialmente de duas fontes energéticas, o potencial
hidráulico e o petróleo, com grande predominância da primeira. Apesar da importância dessas fontes,
o Brasil dispõe de várias alternativas para geração e energia elétrica, dentre as quais aquelas
derivadas da biomassa. Em relação à biomassa, particularmente, há uma grande variedade de
recursos energéticos, desde culturas nativas até resíduos de diversos tipos. .(Coelho et al.,2002).
O processo mais usual de geração de eletricidade a partir de biomassa é a combustão que gera vapor
e aciona uma turbina associada a um gerador elétrico. No Brasil, historicamente a queima direta da
lenha tem sido a forma de biomassa mais utilizada para fins energéticos. Além destas destacam-se:
cana-de-açúcar e derivados como bagaço e palha de cana, vinhoto; os resíduos agro-industriais:
como cascas, toras, cavacos de madeira, cascas de babaçú, arroz, sabugo e palha de milho; os óleos
vegetais, e outros resíduos utilizados em processos de biodigestão.
2. Caracterização botânica
O Babaçú (Orbyginia phalerata Mart.). É uma palmeira nativa das regiões Norte e Nordeste do
Brasil, onde forma extensas florestas chamadas "babaçuais". Pertencente a família botânica Arecacea
tem sinônimos botânicos aceitos Orbygnia martiniana Barbosa Rodrigues e Orbyginia barbosiana
Burret é conhecido pelos nomes de babaçú, bagassú, aguassú e coco de macaco.
Os frutos chamados de coco de babaçú são elípticos a oblongos, com comprimento de 6 a 13 cm,
largura de 4 a 10 cm e peso seco variando de 40 a 440gramas. A casca do fruto chamada de epicarpo
tem composição fibrosa e equivale em média, a 10,5% do peso seco do fruto. O mesocarpo (24,5%) é
uma camada de composição amilácea, de cor marrom-clara, localizada entre o epicarpo e a camada
que envolve as amêndoas, que é o endocarpo, o qual representa 58% (Gonçaves e Freitas, 1955).
Estudos mais recentes reportam que o epicarpo apresenta 15% do peso seco do fruto, enquanto que
mesocarpo e endocarpo apresentam 20% e 59%, respectivamente. O número de amêndoas por fruto
também é variável, ocorrendo em média de 3 a 6 amêndoas que corresponde a 6 % do peso do fruto.
(Suframa/ Sebrae, 1998).
Figura 1. Produtos e sub-produtos do babaçu. Adaptado de Gonçalves e Freitas, 1955.
3. O carvão do babaçú
O carvão produzido do endocarpo do babaçú possui excelentes propriedades para combustível, com
cerca de ¼ de carbono fixo e grande potencial para uso na indústria de produção de coque e carvão
ativado. O babaçú apresenta coque metalúrgico praticamente isento de fósforo e enxofre, baixo teor
de cinzas, elevada riqueza em carbono fixo, que pode passar de 98% e poder calorífico da ordem de
7.600Kcal/kg (Gonçalves, 1955).
4. Densidade populacional
Não existe espaçamento indicado por pesquisas, visto se tratar de uma cultura extrativista, porém o
mais recomendado é o espaçamento de 9x9 em triângulo eqüilátero com um total de 143 plantas/
ha, mas o que se observa nos estados do Maranhão e Piauí onde detém a maior área, é uma alta
densidade de até 200 plantas/ha e as médias de produção variam de 1,13 a 2,92 ton de
coco/hectare/ano.
5. Distribuição geográfica
O babaçú ocorre em zona de transição entre as florestas úmidas da bacia amazônica e as terras
semi-áridas do nordeste brasileiro, além dos estados do Maranhão e Piaí que detém mais da metade
da área nacional, em outros estados foram registradas ocorrências dessa espécie, a saber: Tocantins,
Goiás, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Ceará, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Amazonas
(Gonçalves, 1955). Na Tabela 1 apresenta-se dados de um trabalho pioneiro sobre o registro da
exploração do babaçu no Estado do Amazonas.
Tabela 1. Distribuição dos babaçuais por municípios do Estado do Amazonas
Municípios do estado do Amazonas
Registro de exploração
Barreirinha
Exploração iniciada em 1936
Benjamin Constant
Não se tem dados de exploração da cultura
Borba
Não se tem dados de exploração da cultura
Canutama
Não se tem dados de exploração da cultura
Coari
Não se tem dados de exploração da cultura
Humaitá
Não se tem dados de exploração da cultura
Itacoatiara
Não se tem dados de exploração da cultura
Lábrea
Não se tem dados de exploração da cultura
Manacapuru
Não se tem dados de exploração da cultura
Manicoré
Não se tem dados de exploração da cultura
Maués
Exploração iniciada em 1936
Parintins
Exploração iniciada em 1937
(Fonte: Gonçalves, 1955).
6. Beneficiamento do coco babaçú
O beneficiamento do coco do babaçú é feito de forma rudimentar, utilizando um machado com um
pedaço de madeira roliço de comprimento aproximado de 30cm e diâmetro variável. Esse serviço em
sua maioria é feito por crianças e mulheres, as quais são chamadas de "quebradeiras de
coco"(Peixoto, 1973).
É um trabalho que exige bastante esforço físico, por parte das "quebradeiras de coco", e essas com
muito esforço conseguem obter uma média de produção de 10 Kg de amêndoa/mulher/dia, que é
vendido a um preço que varia de R$ 0,50 a R$ 1,00.
Existem vários relatos de inventores de máquinas que beneficia o babaçú, no entanto poucos
inventos tiveram sucesso, pois o fruto do babaçú é bastante duro, dificultando com isso a retirada da
amêndoa que é considerada o principal produto do babaçú.
O Engo Pedro Kafete desenvolveu na década de 80, um engenho capaz de quebrar o coco babaçu,
sua capacidade de produção era de 25 a 30 Kg de amêndoas limpas por hora (Peixoto, 1973).
7. Rendimento
Com aproximadamente 143 plantas/ha, cada palmeira produz em média 5 cachos e cada cacho
possui 400 drupas, podendo uma palmeira produzir 2.000 coquilhos, e cada coquilho possui de 4 a 6
amêndoas. Conforme Peixoto, 1973 as quantidades de produtos que podem ser obtidos com o coco
babaçu são:
• 600 toneladas de coco selecionadas fornecem:
- 85% ou 510 tono de cascas;
- 8% ou 48 tono de amêndoa;
- 6% ou 36 tono de polpa amilácea com 78- 83% de amido;
- I % ou 6 ton.de perdas;
• 400 toneladas de coco rejeitadas + 500 toneladas de cascas e endocarpos fornecem:
- 25% ou 22,5 tono de coque ou carvão;
- 30% ou 273 tono de gases com 4.000 Cal/m3;
- 30% ou 273 tono de mineral pirolhenhoso;
- 8% ou 72,8 tono de alcatrões, carburantes, fenóis, ácidos solventes, metileno, etc..
Conclusão
O babaçuzeiro é uma cultura que não foi domesticada, por isso que sua produção é restrita ao
extrativismo, ao contrário do dendê (Eleas guianensis), que foi domesticado pela Embrapa e hoje é
uma das culturas exóticas mais promissoras para produção de biodiesel. No entanto, a ocorrência
natural do babaçu aliado aos demais produtos que podem ser obtidos do fruto, podem contribuir para
ampliação de geração de renda e trabalho no meio rural, assim contribuído para fixação do homem no
campo, e desenvolvimento agroindustrial no meio rural.
Palavras-chave: meio rural, biomassa, energia.
Key words: rural areas, biomass, energy.
Referências
Gonçalves, A.D.; Freitas, R.M. 1955b O babaçú: Considerações científicas, técnicas e econômicas
.Série estudos e ensaios -N°08 Rio de Janeiro: Serviço de informação agrícola, Ministério da
agricultura. 331 p.ilust.
Produtos potenciais da Amazônia. Brasília, MMA/ Suframa / Sebrae / GTA-1998. 19v.
Peixoto, Ariosto Rodrigues. Plantas oleaginosas arbórea. São Paulo, Nobel, 1973. 284p.ilust.
(Biblioteca rural).
Coelho, Suani Teixeira; Silva, Orlando Cristiano da; Consíglio, Marcelo; Pisetta, Marcelo; Monteiro,
Maria Beatriz. Panorama do Potencial de Biomassa no Brasil / Suani Teixeira Coelho. Brasília Distrito Federal: Dupligráfica, 2003. 80 p.: il. coL
Neiva, Jucy. Fontes alternativas de energia: conservação de energia, gás natural, biomassa -carvão
vegetal, álcool etílico -e xisto/ Jucy Neiva; prefácio de Rogério César Cerqueira Leite; ilustrações de
Antonio Vaz - 2a edição atual e ampliada.- Rio de Janeiro: Maity Ed., 1987.
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