UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇAO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM HIGIENE E INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL FEBRE TIFÓIDE: REVISÃO Patrícia Silva Marques Dias Brasília, setembro de 2009. Patrícia Silva Marques Dias Aluna do Curso de Especialização Lato sensu em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal FEBRE TIFÓIDE: REVISÃO Trabalho Monográfico do Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal apresentado à Universidade Castelo Branco, como requisito parcial para a obtenção de Título de Especialista em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal, sob a orientação da Professora Marta Maria B. Baptista S. Xavier. Brasília, setembro de 2009. Dedico este trabalho a Deus, aos meus familiares, e a todos aqueles que de alguma forma compreenderam minha ausência para realização do mesmo e contribuíram para sua conclusão. A professora Marta pela dedicação, atenção e empenho. "Não preciso me drogar para ser um gênio... Não preciso ser um gênio para ser humano... Mas preciso do seu sorriso para ser feliz." Charles Chaplin RESUMO A febre tifóide é uma doença bacteriana aguda, endêmica causada pela Salmonella entérica sorotipo typhi, presente em surtos de intoxicações alimentares, o que a torna motivo de preocupação em vigilância epidemiológica, também conhecida como doença das mãos sujas, (apesar de não ser a contaminação direta o único meio de transmissão da doença). Possui surtos acometendo pessoas de forma muitas vezes assintomática, grave, podendo inclusive levar a óbitos. Foi relatada pela primeira vez no ano de 1888, nos Estados Unidos e mundialmente presente até os dias atuais. No Brasil as regiões norte e nordeste registram números mais elevados de febre tifóide devido à precariedade de suas condições sanitárias, onde menos de cinqüenta por cento de sua população dispõe de algum tipo de abastecimento de água. A expressão “intoxicação alimentar” é aplicada a qualquer doença resultante da contaminação dos alimentos por vírus ou por bactéria. Através de resultados observados pela casuística de doenças causadas por microrganismos, conseguinte ao resfriado, a intoxicação alimentar é a infecção mais comum, considerando inclusive, a dificuldade de diagnostico laboratorial e a precariedade do sistema de informações, afligindo assim aproximadamente 90 milhões de pessoas por ano. Neste cenário entre os objetivos da Vigilância Epidemiológica da febre tifóide é fornecer orientação técnica permanente para execução de ações de controle da doença. Objetivouse neste trabalho de revisão bibliográfica abordar a atualização dos conhecimentos e os caminhos para sua prevenção da febre tifóide através do comportamento (identificando as mudanças da doença), fatores de risco, notificação, opções de tratamento, documentação de surtos e diagnostico, demonstrando a relação dos hábitos de higiene entre os transmissores da doença. Partindo se do principio de ser uma doença relacionada a prévio saneamento e cuidados básicos de higiene para prevenção, educação para a saúde deverá ser o ponto principal para o controle da febre tifóide. Palavras-chave: Febre Tifóide, higiene, vigilância epidemiológica. ABSTRACT Typhoid fever is an acute bacterial disease, endemic caused by Salmonella enterica serotype typhi present in outbreaks of food poisoning, making it a concern in epidemiological surveillance, also known as a disease of dirty hands, (although the contamination direct not be the only means of transmission). It outbreaks affecting people so often asymptomatic, severe, and may even lead to deaths. It was first reported in 1888, the United States and this world to the present day. In Brazil, the northern and northeastern regions record the highest incidences of typhoid fever due to the precarious sanitary conditions, where less than fifty percent of the population has some type of water supply. The term "food poisoning" is applied to any illness resulting from contamination of food by viruses or bacteria. Through the results obtained by the series of diseases caused by microorganisms, therefore the cold, food poisoning is the most common infection, also considering the difficulty of laboratory diagnosis and the precariousness of the information system, thereby afflicting about 90 million people a year. In this scenario between the objectives of the epidemiological surveillance of typhoid fever is to provide technical guidance for permanent implementation of control measures the disease. The objective of this work of literature addressing the updating of knowledge and approaches to its prevention of typhoid fever in behavior (identifying changes in disease), risk factors, notification, treatment options, documentation of relapse and diagnosis, demonstrating the relationship of hygiene habits among the transmitters of the disease. Starting from the beginning to be a disease related to prior sanitation and basic hygiene for prevention, health education should be the focal point for the control of typhoid fever. Key-words: Typhoid fever, hygiene, epidemiological surveillance ABREVIATURAS SES/SP- Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo CCD- Coordenadoria de Controle de Doenças CVE -Centro de Vigilância Epidemiológica CVS- Centro de Vigilância Sanitária IAL –Instituto Adolfo Lutz IIER –Instituto de Infectologia Emílio Ribas CDC – Centers for Disease Control and Prevention LISTA DE FIGURA Figura 01 - Bactéria Salmonella spp. se multiplicando no interior de alimentos contaminados. 16 LISTA DE QUADRO Quadro 01 - Procedimentos que devem ser seguidos para coleta e transporte da 24 amostra, conforme o quadro abaixo: Quadro 02 - Esquemas terapêuticos para Febre Tifóide 30 Quadro 03 - Orientações para Cloração de Água para Consumo Humano 41 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 12 2 REVISÃO DA LITERATURA 16 2.1 A FEBRE TIFÓIDE 16 2.2 AGENTE ETIOLÓGICO 20 3 MÉTODOS DE DETECÇÃO DE PORTADOS DE S. THYPI 21 3.1 COPROCULTURA 21 3.2 HEMOGRAMA 22 3.3 BIOQUIMICA DO SANGUE 22 3.4 HEMOCULTURA 22 3.5 MIELOCULTURA 22 3.6 CULTIVO DE SECREÇÃO BILIAR 23 3.7 REAÇÃO SOROLOGICA DE WIDAL 23 3.8 COLETA DE AMOSTRAS (AGUA E ALIMENTOS) 24 4 SINTOMAS 27 5 TRATAMENTO 29 6 IMUNOPROFILAXIA 31 6.1 VACINAÇÃO DE GRUPOS DE RISCO 33 7 ISOLAMENTO DA BACTÉRIA 34 7.1 CONFIRMAÇÃO DO GÊNERO Salmonella 34 7.2 CARACTERIZAÇÃO SOROLÓGICA E BIOQUÍMICA DE Salmonella spp. 34 8 NOTIFICAÇÃO 36 8.1 NOTIFICAÇÃO DO CASO 36 8.2 CUIDADOS COM OS COMUNICANTES DO CASO 37 9 ALIMENTOS CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O RISCO DE 38 CONSUMO 10. SOBREVIVÊNCIA DO MICRORGANISMO EM DIVERSOS MEIOS 39 10.1 AGUA 39 10.2 ESGOTO 39 10.3 AGUA DO MAR 39 10.4 OSTRAS, MARISCOS E OUTROS MOLUSCULOS 39 10.5 LEITE, CREME E OUTROS LATICINIOS 40 10.6 CARNES E ENLATADOS 40 11 MEDIDAS DE PREVENÇÃO 41 11.1 SISTEMA PÚBLICO DE ABASTECIMENTO DE AGUA 42 11.2 SISTEMA INDIVIDUAL DE ABASTECIMENTO DE AGUA (POÇOS, 42 CISTERNAS, MINAS, ETC) 11.3 MEDIDAS GERAIS 43 11.4 MEDIDAS REFERENTES AOS DEJETOS 43 11.5 MEDIDAS REFERENTES AOS ALIMENTOS 43 12. CONCLUSÃO 45 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS 47 1 INTRODUÇÃO A febre tifóide é uma doença infecciosa potencialmente grave, causada pela bactéria, Salmonella typhi. Caracteriza-se por febre prolongada, alterações do trânsito intestinal, aumento de vísceras como o fígado e o baço e, se não tratada, confusão mental progressiva, podendo levar ao óbito. A transmissão ocorre principalmente através da ingestão de água e de alimentos contaminados. A doença tem distribuição mundial, sendo mais freqüente nos países em desenvolvimento, onde as condições de saneamento básico são pouco satisfatórias ou inadequadas (TEREZINHA et al., 2008). Desde o surgimento dessa bactéria vêm se impondo mudanças drásticas nos hábitos alimentares como forma de reduzir o risco de se adquirir a doença sendo necessária a criação de uma nova consciência sobre o “consumo de alimentos sem risco” (EDUARDO, et al., 2007). Estima-se a ocorrência de 12 a 33 milhões de casos por ano no mundo, com aproximadamente 600 mil óbitos. Cerca de 60% dos casos notificados ocorre na Ásia e 35% na África. Nos países desenvolvidos ocorrem apenas surtos ocasionais de febre tifóide. Nos países em desenvolvimento, principalmente no subcontinente Indiano, sudeste Asiático, África, América Central e do Sul, a doença é endêmica. No Brasil, são registrados casos em todas as Regiões do país, principalmente no Norte e Nordeste. Nos últimos dez anos, a Bahia (1.765) e o Amazonas (1.447) são os Estados com o maior número de casos. O risco durante viagens depende do roteiro e da história clínica do 12 viajante. Indivíduos com diminuição da acidez gástrica, gastrectomizados, portadores de doenças crônicas intestinais ou imunodeficientes têm um risco maior de adquirir a febre tifóide (WADE, 2006). A febre tifóide é causada pela Salmonella typhi que é um patógeno especificamente humano. É um bacilo Gram negativo, móvel, que possui alta infectividade, baixa patogenicidade e alta virulência, o que explica a existência de portadores (fontes de infecção não doentes) que desempenham importante papel na manutenção e disseminação da doença na população. Como todas as bactérias Gram negativas, elas têm LPS (lipopolissacarideo) que é um poderoso indutor de resposta imune, de vaso dilatação sistêmica e de possível morte por choque séptico. Além disso, a sua disseminação e multiplicação nos órgãos podem causar danos graves (RAUPACH et al., 2001). Os bacilos tíficos encontram-se nas fezes e na urina das pessoas infectadas. Uma lavagem incorreta das mãos depois de defecar ou de urinar transmitem a Salmonella typhi aos elementos utilizados para comer e beber. As moscas podem transmitir as bactérias diretamente desde as fezes até aos alimentos. Em situações raras, o pessoal dos hospitais que não tomou as devidas precauções pode contrair a infecção manuseando a roupa de cama das pessoas infectadas (AIELLO, 2001). A acidez gástrica é o primeiro mecanismo de defesa do organismo contra a S. typhi. Quando consegue resistir à acidez do estômago, a S. typhi chega ao intestino delgado, onde compete com as bactérias da microbiota normal do intestino. Se sobreviver, a S. typhi invade a parede intestinal e alcança a circulação sangüínea. A presença da bactéria no sangue determina o início dos sintomas. A S. typhi pode invadir qualquer órgão e multiplicar-se no interior de células de defesa (células fagocíticas mononucleares), sendo mais freqüente o acometimento do fígado, baço, medula óssea, vesícula e intestino (íleo terminal). O tempo entre a exposição e o início dos sintomas (período de incubação) pode variar de 3 a 60 dias, ficando entre 7 e 14 dias na maioria das vezes. A infecção pode não resultar em adoecimento. O tratamento adequado diminui o tempo de eliminação da bactéria nas excreções humanas, que pode ser de até três meses em indivíduos não tratados. O uso de antibiótico também aumenta a susceptibilidade à doença, pois altera a microbiota intestinal que normalmente compete com as bactérias patogênicas. O consumo de alimentos como leite, manteiga, queijo e 13 peixes são considerados de alto risco, pois possuem o pH ideal (4,4 a 7,8) para o crescimento da S. typhi (CABRAL, 2007). Em geral, a água tem uma baixa concentração de bactérias, resultando numa taxa de infecção menor entre os expostos e, naqueles em que a infecção se desenvolve, o tempo de incubação é habitualmente mais prolongado. A S. typhi pode sobreviver em águas poluídas por até 4 semanas e é resistente ao congelamento. Não resiste, entretanto, a temperaturas maiores que 57°C, nem ao tratamento adequado da água com cloro ou iodo (WADE, 2006). Muitos estudos têm mostrado a relação intrínseca dos investimentos em infra-estrutura, especificamente da implantação de sistemas de saneamento ambiental, com a saúde pública, sendo que a implantação de sistemas de saneamento contribui decisivamente na melhoria do bem estar físico e mental dos indivíduos. O exemplo dos países desenvolvidos, com saneamento adequado, onde o risco de aquisição da febre tifóide é significativamente menor. Na maioria dos casos diagnosticados, a infecção ocorreu durante estada em outros locais (casos importados) com estrutura sanitária precária. É possível, entretanto, a ocorrência de casos associados à fonte alimentar, visto que uma parcela não desprezível dos alimentos consumidos nos países desenvolvidos origina-se de outras regiões e podem ser contaminados na origem ou durante o preparo, se não houver higiene adequada. Nos países em desenvolvimento, além de risco relacionado aos alimentos ser mais elevado (origem e preparo), a inexistência ou o tratamento inadequado de esgotos favorece a contaminação dos reservatórios de água para consumo. A identificação de S. typhi resistente a vários antibióticos, principalmente no Subcontinente indiano, está ocorrendo com freqüência crescente. A emergência de bactérias resistentes dificulta o tratamento, aumentando a letalidade e a disseminação da doença (SOUZA et al., 1998). As Medidas de proteção individual especialmente para viajantes Segundo orientação do CIVES (Centro de Informação em Saúde para Viajantes) é que estes quando se deslocarem para uma área onde exista risco de febre tifóide deve adotar as medidas de proteção para evitar doenças transmitidas através da ingestão de água e alimentos. O consumo de água tratada e o preparo adequado dos alimentos são medidas altamente eficazes. A seleção de alimentos seguros é crucial. Em geral, a aparência, o cheiro e o sabor dos alimentos não ficam alterados pela contaminação com agentes 14 infecciosos. O viajante deve alimentar-se em locais que tenham condições adequadas ao preparo higiênico de alimentos. A alimentação na rua com vendedores ambulantes constitui um risco elevado. Os alimentos mais seguros são os preparados na hora, por fervura, e servidos ainda quentes (TEREZINHA et al., 2008). Este trabalho objetiva a revisão bibliográfica embasada de forma simples demonstrar que medidas de proteções individuais, coletivas, diagnósticos, notificação, comportamento (identificando suas mudanças da doença), fatores de risco, opções de tratamento, documentação de surtos e diagnostico, demonstrando a relação dos hábitos de higiene entre os transmissores da doença. Concluído que o desempenho governamental direcionado a medidas de saneamento básico como, tratamento de esgoto, água, e conscientização da população podem reduzir os casos existentes, diminuindo consequentemente despesas medicas, consideráveis principalmente em casos de surtos. 15 2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 A FEBRE TIFÓIDE A Salmonella typhi é também conhecida como bacilo de Elberth, assim chamado em homenagem a Karl Joseph Elberth que o descreveu pela primeira vez em 1880. Em 1907, Mary Mallon (a original "Mary Typh") foi o primeiro portador a ser identificado após uma epidemia, nos E.U.A. (WIKIPEDIA, 2008). Figura 1 - Bactéria Salmonella spp. se multiplicando no interior de alimentos contaminados. Fonte: Wikipédia, 2008. A febre tifóide é a doença causada pela bactéria chamada Salmonella entérica sorotipo Typhi. As salmonelas são bacilos Gram negativos, móveis e aeróbios, pertencentes à familia Enterobacteriaceae. Tem altos niveis de metabolismo em comparação com outras bactérias. (TEREZINHA et al., 2008). A Febre Tifóide é descrita como sendo uma doença bacteriana aguda, de distribuição mundial, associada os baixos níveis socioeconômicos, principalmente, com situações de precárias condições de saneamento, higiene pessoal e ambiental. No Brasil as regiões norte e nordeste registram números mais elevados de febre tifóide devido à 16 precariedade de suas condições sanitárias, onde menos de cinqüenta por cento de sua população dispõe de algum tipo de abastecimento de água (CABRAL, 2009). Salmonella spp. é um grupo bacteriano que pode causar gastrenterites, encontrada, em geral, em alimentos de origem animal, como carnes, aves, ovos, leite e outros. Salmonella enteritidis é um dos tipos mais comuns no mundo e é transmitido principalmente por ovos consumidos crus ou mal cozidos. O frango e outras aves, se consumidos mal cozidos, mal fritos ou mal assados também podem transmitir a bactéria (EDUARDO et al., 2007). Entre os anos de 2000 e 2008 houveram no Brasil quinze surtos de origem alimentar, destes 8 na Bahia, 3 em São Paulo, 1 no Amazonas, 1 no Maranhão, 1 em Sergipe e 1 no Rio Grande do Sul. Nestes surtos 64% dos casos a contaminação ocorreu pela água, 14% sanduiche, 7% maionese, 7% multiplos alimentos, 7% ostras (BRASIL, 2009). Sendo que qualquer alimento pode ser fonte de infecção para o homem. Também pode haver contaminação por meio de alimentos de origem vegetal, por transferencia de contaminação (contaminação cruzada) com produtos de origem animal ou lavagem com água contaminada. (ACHA et al., 1986). A orientação que o CIVES dá aos turistas que estes ao se dirigirem a estas áreas devem evitar comer legumes de folha verde crus, não lavados ou lavados com água não tratada, bem como outros alimentos servidos ou conservados à temperatura ambiente. Os alimentos recém-preparados, quando servidos quentes ou mornos, as bebidas gasosas engarrafadas e os alimentos crus a que se possa tirar a pele costumam ser seguros. A menos que se saiba que a água não está contaminada, ela deve ser fervida ou desinfetadas antes de consumida (TEREZINHA et al, 2008). De acordo com Eduardo et al. (2007), a S. typhi é bastante resistente ao frio e ao congelamento, resistindo também ao calor de 60° C por 1 h, mas é pouco resistente à luz solar. Sobrevive em meio úmido e na água. É bastante sensível ao hipoclorito, motivo pelo qual a cloração da água é suficiente para sua eliminação. A transmissão é fecal-oral, na maioria das vezes, através de comida contaminada por portadores, durante o processo de preparo e manipulação dos alimentos. A água também é um veículo de 17 transmissão, podendo ser contaminada no próprio manancial (rio, lago ou poço) ou ainda por contaminação na rede de distribuição (quebra de encanamento, pressão negativa na rede, conexão cruzada). Pessoas com febre tifóide, normalmente apresenta febre elevada de 39º C a 40° C, poderão sentir-se fracas, com dores abdominais, estomacais, dores de cabeça, perda de apetite ente outros (CDC, 2008). Sendo desta forma as bactérias ingeridas e a partir do lúmen intestinal invadem um tipo especializado de célula do epitélio, a célula M, por mecanismos de endocitose ou invasão direta, passando depois à subserosa. Sendo fagocitadas por macrófagos, mas são resistentes a eles. Como estas células são altamente móveis, são transportadas por todo o corpo, como gânglios linfáticos, baço, fígado, pele e medula óssea, pela linfa, e depois pelo sangue. A possibilidade de transmissão dura enquanto existirem bacilos sendo eliminados nas fezes ou na urina, o que geralmente acontece desde a 1ª semana de doença até a convalescença. Cerca de 10% dos doentes eliminam bacilos até 3 meses após o início do quadro clínico e 1% a 5% até 1 ano e provavelmente por toda a vida (portadores crônicos). O período de incubação é de 1 a 3 semanas, podendo ser curto como 3 dias e longo até 56 dias em função da dose infectante e da sensibilidade do paciente. Após o período de incubação surge de forma gradual a febre, dor de cabeça, mal estar geral, dor abdominal e falta de apetite. Durante 1 a 2 semanas a febre se mantém alta (39º C a 40º C) e cerca de 10% dos casos apresentam manchas avermelhadas no tronco (roséola tífica). Nesta fase da doença a constipação intestinal é mais freqüente que a diarréia, porém à medida que aumenta o comprometimento intestinal pode surgir diarréia com sangue (PECORA, 2008). Ao contrário de Shigella spp. e Listeria spp., que lisam o fagossomo e escapam da fusão com o lisossomo primário, as bactérias do gênero Salmonella spp. não possuem este mecanismo de escape, permanecendo restritas ao fagolisossomo, no interior da célula hospedeira (SHATA et al., 2000). Hopkins et al. (1995) demonstraram que Salmonella typhimurium é capaz de induzir resposta sistêmica e de mucosa após única imunização por quatro diferentes vias: oral, nasal, retal ou vaginal. 18 Além disso, as salmonelas são capazes de estimular resposta imunológica via complexo de histocompatibilidade (MHC) de classe I e II, após atravessarem as células M da mucosa intestinal (WEISS E KRUSCH, 2001). Os antígenos apresentados por estas duas classes de MHC são reconhecidos respectivamente por células T CD8+ e CD4+. Entre outras intoxicações alimentares é importante o diagnostico diferencial para realização do tratamento eficaz. (YRLID et al., 2001) Na verdade Salmonella typhi não é uma espécie, mas antes a designação comum do serovar Salmonella enterica typhi (S. enterica subespécie typhi), que inclui vários outras subespécies que não causam esta doença. O serovar Salmonella enterica paratyphi causa uma doença semelhante, a febre paratifóide. (TEREZINHA et al., 2008). A forma mais efetiva de impedir a instalação e a disseminação da febre tifóide em uma localidade é a existência de infra-estrutura de saneamento básico adequada. Devem ser implementadas melhorias do sistema de armazenamento e distribuição de água tratada e a construção de redes de esgoto. A população deve continuamente receber informações sobre a forma de transmissão da doença e como evitá-la e ser estimulada a mudar hábitos, assegurando práticas higiênicas cotidianas, que incluam limpeza das mãos, uso regular de sanitários, correto acondicionamento e despejo de lixo. Cabe ainda ressaltar que o diagnóstico precoce e o tratamento adequado ajudam a diminuir o aparecimento de novos casos (ibid). As manifestações da febre tifóide, especialmente na primeira semana de doença, podem ser semelhantes à de outras doenças febris como a malária. Mesmo que tenham história de risco para febre tifóide, pessoas que estiveram em uma área de transmissão de malária, e que apresentem febre, durante ou após a viagem, devem ter essa doença investigada. À medida que a febre tifóide progride, é mais facilmente confundível com infecções que podem ter evolução lenta como a endocardite bacteriana, a tuberculose ou, ainda, com as doenças de natureza auto-imune, como o lúpus eritematoso sistêmico (WADE, 2006). 19 2.2 O AGENTE ETIOLÓGICO A febre tifóide é causada pela Salmonella typhi, subespécie enterica sorotipo typhi (S. typhi), que é um patógeno especificamente humano. É uma bactéria com morfologia de bacilo Gram negativo, móvel, pertencente à família Enterobacteriaceae. Possui alta infectividade, baixa patogenicidade e alta virulência, o que explica a existência de portadores (fontes de infecção não doentes) que desempenham importante papel na manutenção e disseminação da doença na população. Distingue-se das outras salmonelas por sua estrutura antigênica, possuindo três tipos de antígenos de interesse para o diagnóstico (EDUARDO et al., 2007). O antígeno O, somático, presente em todas as espécies de salmonela, de natureza glicidolipídica, identificando-se com a endotoxina O, é termoestável e essencial à virulência. Para a S. thypi o antígeno somático específico de grupo é o "09". O antígeno H, flagelar, de natureza protéica, a composição e ordem dos aminoácidos da flagelina determinam a especificidade flagelar. No caso da S. Thypi o antígeno flagelar é o "d". é termolábil. O antígeno VI, capsular, formado por um complexo glicidoprotéico, é termolábil. A S. Thypi pode ou não possuir o antígeno VI e este pode também ser encontrado na S. paratyphi e na S. dublin (ibid). A confirmação do diagnóstico de febre tifóide é feita através de isolamento da bactéria em cultivo, feito geralmente a partir de sangue, fezes, urina ou biopsia das lesões de pele. O cultivo do aspirado de medula óssea é menos utilizado, a despeito do elevado rendimento, pois a obtenção do material traz desconforto para o doente, mas pode ter seu uso justificado nos casos mais graves e com diagnóstico mais difícil. O isolamento de amostras da bactéria é fundamental, pois torna possível determinar a sua susceptibilidade aos antimicrobianos (TEREZINHA et al., 2008). 20 3 MÉTODOS PARA A DETECÇÃO DE PORTADOR DE S. thypi 3.1 COPROCULTURA Em principio, salienta-se que o sucesso do isolamento da salmonela esta na dependência direta da colheita e da conservação correta das fezes até a execução das atividades laboratoriais. Assim, quando coletadas in natura, as fezes devem ser remetidas ao laboratório em um prazo máximo de duas horas, em temperatura ambiente, ou de seis horas, sob refrigeração (4 a 8º C). A amostra pode se preservada com a formula de Teague-Clurman por até 48hs em temperatura ambiente ou até 96hs sob refrigeração (BENATTO, et al., 2008). Este exame possui maior sensibilidade a partir da terceira semana de infecção; sendo assim particularmente importante na detecção pos tratamento a fim de identificar portador crônico com coletas através de swabs anais (LIMA, 2006). No doente tratado e clinicamente curado que não manipula alimentos: coletar, no mínimo, 3 amostras de fezes com intervalo não inferior a 24 horas entre as mesmas, 30 dias após o início dos sintomas e no mínimo 7, após o término da antibioticoterapia. Doente tratado e curado, manipulador de alimentos: coletar, no mínimo, 7 amostras de fezes em dias seqüenciais, 30 dias após o início dos sintomas e no mínimo 7, após o término da antibioticoterapia. Pesquisa de portador crônico entre manipuladores de alimentos (responsável pela contaminação de alimentos que infectaram as pessoas que adoeceram): coletar, no mínimo, 7 amostras de fezes em dias seqüenciais (EDUARDO et al., 2007). 21 Quando se constata pelo menos uma coprocultura, positiva orienta-se no tratamento e cuidados de higiene, bem como o afastamento de atividades que ofereçam risco à família e à comunidade, com posterior realização de outra série de coproculturas, conforme descrito acima, a fim de evitar a disseminação das salmonelas (ibid). Todos os laboratórios da rede do Instituto Adolfo Lutz que realizam hemocultura e coprocultura podem isolar e identificar presuntivamente a Salmonella spp. (ibid). 3.2 HEMOGRAMA Na fase inicial da doença, pode se observar leucopenia, neutropenia, linfocitose relativa, anemia moderada e plaquetopenia; o surgimento de leucocitose e neutrofilia associados à piora clinica ao final do período de estado, sugere alguma das complicações anteriormente discutidas; o surgimento de leucopenia após o inicio do tratamento com clorafenicol pode sugerir aplasia medular farmacotóxica, indicando a substituição da droga (LIMA, 2006). 3.3 BIOQUÍMICA DO SANGUE Neste exame as transaminases podem estar moderadamente elevadas (raramente ultrapassando 500 U/I), assim como as enzimas colinesterase (FAL e AGT); bilirrubina total aumentada pela fração direta, traduzindo uma hepatite trans-infecciosa. O diagnóstico específico da febre tifóide baseia-se sempre no isolamento da bactéria (LIMA, 2006). 3.4 HEMOCULTURA Tem alta sensibilidade, principalmente durante a primeira semana de infecção; deve ser solicitada obrigatoriamente para todos os casos suspeitos, independentemente da fase em que se encontre é sugerido a coleta de duas amostras antes de iniciar a antibioticoterapia (BRASIL, 2009). 3.5 MIELOCULTURA É o método de maior sensibilidade, aspirado molecular para o isolamento da Salmonella typhi e se mantém positiva mesmo quando do uso prévio de antimicrobianos; por ser um método mais invasivo, esta indicada para diagnostico de 22 pacientes cuja hemocultura ou coprocultura não foram conclusivos e ainda há forte suspeita de febre tifóide (BRASIL, 2009). O desconforto para o paciente e a necessidade de pessoal médico com treinamento específico para punção medular são desvantagens em relação aos demais métodos (SARAVIA et al., 2002). 3.6 CULTIVO DE SECREÇÃO BILIAR A colonização da vesícula biliar pela Salmonella typhi propicia a eliminação de salmonelas a partir da terceira semana de doença. A coleta só deve ser realizada em hospital, sob orientação médica, por meio de sondagem ou outro processo adequado. No caso de colecistectomia, coletar todo o conteúdo da vesícula biliar em tubos ou frascos esterilizados. Semear o volume de bile obtido em meio de enriquecimento (selenito ou tetrationato) e em meios seletivos (EMB ou MacConkey e SS ou Hektoen), incubandoos a 37°C durante 18 a 24 horas. As demais etapas são idênticas àquelas referidas na coprocultura. As amostras caracterizadas bioquímica e sorologicamente como Salmonella enterica sorotipo typhi, fases ou formas V e VW (ricas em antígenos Vi), devem ser repicadas e mantidas em meio à base de ovo (Dorset ou Pai) e remetidas para o Centro de Referência Nacional de Cólera e outras Enteropatógenos Bacterianos, para fagotipagem Vi (Departamento de Bacteriologia do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) – RJ ou à Seção de Bacteriologia do Instituto Adolfo Lutz (IAL) – SP. 3.7 REAÇÃO SOROLOGICA DE WIDAL Mais um método auxiliar para diagnostico de febre tifóide é a reação sorológica de Widal, que quantifica as aglutininas contra os antígenos O (somático) e H (flagelar) da Salmonella typhi e da Salmonella paratyphi. Porém, como nos encontramos em área endêmica para esta doença, é possível a ocorrência de falso positivo, com relativa freqüência. O que se recomenda é sejam coletados amostras pareadas para analise a 23 partir da segunda semana, e que se considerem anormais os títulos maiores que 1:100 e a conversão sorológica (aumento da titulação) entre as duas coletas (BRASIL, 2009). Deve-se insistir sempre no isolamento da bactéria, pois ainda é o padrão ouro no diagnostico desta doença, em nosso meio, alem de proporcionar realização de antibiograma, com vistas a vigilância de bactérias resistentes às drogas habitualmente usadas (ibid). Alem destes métodos existe ainda a urocultura, este possui valor de diagnostico limitado, com positividade máxima na terceira semana de doença; coletar 50 a 100 ml de urina na fase de convalescença, em frascos estéreis para urina; análise imediata (BENATTO et al., 2008). Existem várias técnicas em pesquisa para tornar o diagnóstico mais rápido, fácil e preciso. A reação de fixação em superfície, contra-imunoeletroforese (Cief), enzimaimunoensaio (Elisa), e reação em cadeia polimerase (PCR), são algumas destas técnicas. 3.8 COLETA DE AMOSTRAS (ÁGUA E ALIMENTOS) A sistematização da coleta não é tarefa fácil e deve ser usado o bom senso para que o laboratório obtenha resultados confiáveis. No caso de alimentos, a amostra é significativa quando constituída de restos do alimento que os afetados consumiram efetivamente e o estabelecimento de quantidade mínima da amostra muitas vezes depende da disponibilidade dos mesmos (MACÊDO et al., 2000). Quadro 01 - Procedimentos que devem ser seguidos para coleta e transporte da amostra. Fonte: MACÊDO et al., 2000. AMOS TRA MÉTODO DE COLETA Utilizar frasco estéril de vidro ou plástico com tampa de rosca de 250 a 500ml. Encher de água sem completar o frasco, deixando um espaço vazio a fim de facilitar sua homogeneização no laboratório. É importante tirar a tampa do frasco sem tocar na borda do mesmo e nem no interior da tampa, a fim de manter a assepsia adequada. Deve-se TRANSPORTE Levar ao laboratório o mais rápido possível. No caso de períodos de tempo inferiores a 2 horas, o transporte pode ser feito a temperatura ambiente. 24 proceder de acordo com a origem da água, como descrito abaixo: ·Torneira- Limpar a torneira com algodão embebido em álcool. Deixar a água correr por 3 minutos e então proceder a coleta. ÁGUA ·Poços- Bombear água por tempo suficiente para obter a quantidade necessária para a amostra. Após 2 horas manter sob refrigeração e não exceder o prazo máximo de 6 horas, para águas não tratadas e 24 horas para águas tratadas. A refrigeração deve ser a temperaturas inferiores a 12 °C (não congelar). ·Fonte/Nascente- Coletar a quantidade necessária. ·Rio/Represa- Coletar o mais longe possível da margem e evitar as áreas de estagnação. Não colher da superfície e não revolver o fundo. Alimentos Sólidos e semisólidos/pastosos (prontos para consumo) Coletar com auxílio de utensílios adequados, porções de diferentes partes do alimento (superfície, centro e laterais), mantendo a proporção de seus componentes quando for o caso, observando cuidados de assepsia. Colocar as porções em recipientes apropriados. Em caixas isotérmicas com gelo embalado. Não congelar; não usar gelo seco. Transportar ao laboratório o mais rápido possível. Revolver ou agitar. Tomar a amostra de uma das seguintes formas: Alimentos líquidos ou bebidas Alimento s em geral, matérias primas e ingredientes - com um utensílio esterilizado, tomar cerca de 200 ml da amostra e transferir assepticamente para um recipiente esterilizado, ou - colocar um tubo largo esterilizado dentro do líquido e cobrir a abertura superior com um dedo ou palma da mão. Transferir o líquido para recipiente esterilizado. IDEM Coletar observando cuidados de assepsia e proteção da embalagem original. Perecíveis refrigerados, conservar e transportar em caixas (isopor) com gelo embalado (0°C),sem congelar. Perecíveis não refrigerados devem ser resfriados (0° a 4°C). IDEM Amostras congeladas em sua origem, manter e enviar congeladas com uso de gelo seco. Não perecíveis devem ser enviadas em temperatura ambiente Segundo Macêdo et al. (2000) as etiquetas de identificação das amostras devem conter, as seguintes informações: Solicitante (Unidade de Saúde, bairro, município, telefone, telefone de recados, endereço, etc.); Tipo(s) de alimento(s) / Origem da água 25 (poço,torneira, fonte, etc); Endereço completo do local da coleta; Contém cloro (Amostra de água); Data; Nome de quem coletou a amostra. 26 4 SINTOMAS Na fase inicial, é comum a ocorrência simultânea de dor de cabeça (cefaléia intensa frontal ou difusa), dores pelo corpo, dor no abdome, fadiga, perda de apetite, náuseas e alteração do trânsito intestinal, manifesta por diarréia ou constipação ("prisão de ventre") intestinal. É também freqüente a queixa de dor de garganta transitória e por vezes, o surgimento de tosse seca (TEREZINHA et al., 2008). Ao final da primeira semana é possível, numa parcela significativa de doentes, detectarem o aumento do baço e do fígado e a febre, já elevada, tende a torna-se contínua e assim se manter ao longo da segunda semana, que é marcada por intensificação da fadiga e da prostração. O surgimento de manchas róseas no tórax (roséola tífica) pode ser observado mais facilmente nos indivíduos de pele clara. Em 10 a 25% dos casos, as manifestações neuropsiquiátricas tornam-se progressivamente exuberantes, incluindo desorientação, delírio, rigidez de nuca, crises convulsivas e mais raramente estupor e coma (WADE, 2006). Se não tratada, a doença pode evoluir por semanas ou até meses, resultando em óbito em 15% dos acometidos. Na maioria, no entanto, ocorre febre a partir da terceira semana, com retorno da temperatura a normalidade na quarta semana, quando parte dos infectados recuperam-se. Ressalta-se que, na ausência de tratamento específico, as recaídas são comuns (ibid). Complicações (perfuração intestinal, hemorragia) decorrentes das lesões causadas pela S. typhi na mucosa intestinal podem ocorrer em qualquer fase da doença, 27 sendo mais comum após a terceira semana e em pessoas não tratadas. O sangramento intestinal é a complicação mais comum e resulta da erosão da parede intestinal pela S. typhi. Na maioria das vezes, o sangramento é pequeno e cessa espontaneamente. A perfuração intestinal, que ocorre em até 3% das pessoas internadas, é uma complicação mais grave. Geralmente, se manifesta com piora da dor abdominal, aumento da freqüência cardíaca e queda da pressão arterial. O tratamento é cirúrgico e deve ser realizado imediatamente (TEREZINHA et al., 2008). A febre tifóide tende a ser mais grave em pessoas que permaneceram doentes por tempo mais prolongado, em desnutridos, em imunodeficientes, em portadores de doenças da vesícula biliar e em indivíduos com certas características genéticas. Adicionalmente, peculiaridades da cepa infectante e a quantidade (inoculo) de bactérias ingeridas podem influenciar a apresentação e evolução clínica (EDUARDO et al., 2007). 28 5 TRATAMENTO 5.1 CUIDADOS COM O DOENTE O doente deve ser mantido em condições tais que garantam o isolamento entérico até o final do tratamento e pesquisar-se a condição de portador no final deste. Para tanto, deve-se realizar 3 coproculturas em dias consecutivos, 30 dias após o início dos sintomas e pelo menos 7 dias após a suspensão do uso do antimicrobiano (EDUARDO et al., 2007). 5.2 USO DE ANTIMICROBIANOS Com um tratamento antimicrobiano rápido, mais de 99 % dos casos de febre tifóide curam-se. O estupor, o coma e o choque são sinais de uma infecção grave e um mau prognóstico. A convalescença pode durar vários meses, mas os antibióticos diminuem a gravidade e as complicações da febre tifóide, assim como a duração dos sintomas. O cloranfenicol é usado em todo o mundo, mas como a resistência ao mesmo é cada vez maior, tem-se começado a utilizar outros medicamentos. Se o doente está a delirar, em coma ou em choque, administram-se corticosteróides para reduzir o edema cerebral (AIELLO, 2008). 29 Quadro 02: Esquemas terapêuticos para Febre Tifóide. Fonte: AIELLO, 2008. DROGA POSOLOGIA TEMPO COMENTARIOS Clorafenicol 50 mg/kg/dia Via oral ou Intravenosa 6/6h enquanto houver febre e 25 mg/kg/dia por mais de 14 dias cessada a febre. 50 – 75 mg/kg/dia Via Oral 8/8h 7-10 mg/kg/dia por via oral 12/12h 21 dias Droga de primeira escolha; preferir a VO, suspender se leucócitos <2.000 cél/mm³ 14 dias Boa Absorção Via Oral e eficácia pode ser usada em grávidas. Eficácia razoável droga de segunda escolha – 100 mg/kg/dia Intravenosa 12/12h (maximo 4 g/dia) 10 a 14 dias Indicada em casos graves ou com resistência confirmada. 10-14 dias Indicada em casos graves ou com resistência confirmada (segunda opção) Amoxacilina Sulfametoxazol+ trimetropim 50 Ceftriaxona Ciprofloxacina 500 mg Via Oral 12/12h 200 -400mg 12/12h Intravenosa 14 dias É necessário que a pessoa se alimente com freqüência devido às hemorragias intestinais ou outras alterações do tubo digestivo. Em certos casos deve administrar-se alimentação por via endovenosa até que os alimentos possam ser digeridos. Os doentes com perfuração intestinal necessitam de antimicrobianos que eliminem um amplo espectro de bactérias (porque entram muitas variedades diferentes de bactérias na cavidade peritoneal) e deverão porventura ser submetidos à cirurgia para reparar ou eliminar a secção do intestino que se tenha perfurado (AIELLO, 2008). As recaídas são tratadas da mesma forma que a doença inicial, mas, em geral, os antibióticos só são necessários durante 5 dias. Os portadores (pessoas que não têm sintomas, mas albergam as bactérias na sua matéria fecal) devem comunicá-lo ao departamento de saúde da sua comunidade e são proibidos de trabalhar com alimentos. As bactérias podem ser completamente erradicadas em muitos dos portadores após 4 a 6 semanas de tratamento com antibióticos (ACHA et al., 1986). 30 6 IMUNOPROFILAXIA A utilização de Salmonella spp. na imunoprofilaxia iniciou-se com a busca de uma formulação que conferisse proteção contra a febre tifóide (ALMEIDA et al., 2002). As primeiras vacinas com esse objetivo consistiam em bactérias inativadas e administradas por via parenteral, que eram excessivamente reativas em humanos e não conferiam proteção completa, sendo, portanto, inviáveis para uso em programas de saúde pública (GARMORY et al., 2002). Por outro lado, muitos autores verificaram uma proteção significativa contra salmoneloses invasivas em homens e animais quando se utilizavam organismos vivos atenuados ao invés de bactérias mortas. Vacinas vivas com Salmonella spp. atenuadas têm um potencial invasivo limitado e crescem de forma lenta in vivo, causando uma infecção branda. Poucos dias após este processo, as bactérias são removidas do organismo hospedeiro (HORMAECHE, 1991). Diferentemente das vacinas anteriores, muitas das quais foram desenvolvidas para induzir anticorpos como mecanismo de proteção contra doenças causadas por microrganismos, as vacinas gênicas são criadas para gerar tanto resposta imune humoral quanto respostas celulares citotóxicas. Outro objetivo é desenvolver vacinas que podem ser usadas para tratar doenças infecciosas crônicas, alergias e até mesmo câncer (SRIVASTAVA E LIU, 2003). 31 De acordo com Secretaria de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2009), a vacina contra a febre tifóide não é a principal arma para seu controle. Esta doença exige a concentração de esforços nas medidas de higiene individual e na melhoria do saneamento. A vacina, portanto, não apresenta valor prático para o controle de surtos, não sendo também recomendada em situações de calamidade. A experiência tem demonstrado que quanto maior a diluição das salmonelas, menor o risco de adquirir a doença. Esse fato parece estar de acordo com a observação geral de que, embora temida pelas autoridades sanitárias durante as enchentes, a febre tifóide não costuma produzir surtos nessas ocasiões, provavelmente em razão da maior diluição de bactéria no meio hídrico (ibid). Além disso, se tem o conhecimento que a vacina atualmente disponível não possui um alto poder imunogênico e que esta imunidade é de curta duração, sendo indicada apenas para pessoas sujeitas a exposições excepcionais, como os trabalhadores que entram em contato com esgotos; para aqueles que ingressem em zonas de alta endemicidade, como por ocasião de viagem; e para quem vive em áreas onde a incidência é comprovadamente alta. Com a exceção de recrutas, não há recomendação atual da vacina contra a febre tifóide em massa ou rotineiramente, em populações circunscritas (ibid). De acordo com Eduardo et al. (2007), atualmente, utilizam-se dois tipos de vacina contra a febre tifóide: A vacina composta de bactéria viva atenuada, apresentada em frasco de dose única contendo três cápsulas; A vacina polissacarídica, apresentada em frasco de uma, 20 ou 50 doses (depende do laboratório produtor). O esquema básico de vacinação, quando indicado, compreende: Vacina contra febre tifóide composta de bactéria viva atenuada – corresponde a uma dose, ou seja, três cápsulas, a partir dos cinco anos de idade. Cada cápsula é administrada via oral, sob supervisão, em dias alternados – no primeiro, terceiro e no quinto dias. A cada cinco anos é feita uma dose de reforço; Vacina polissacarídica – consiste de uma dose de 0,5 ml, subcutânea, a partir dos dois anos de idade. Nas situações de exposição contínua, revacinar a cada dois anos (BENATTO et al., 2008). 32 Eventos adversos pós-vacinação: Vacina contra a febre tifóide composta de bactéria viva atenuada – desconforto abdominal, náuseas, vômitos, febre, dor de cabeça e erupções cutâneas; Vacina polissacarídica – febre, dor de cabeça e eritema no local da aplicação. Reações locais e sistêmicas são relativamente comuns, manifestando-se nas primeiras 24 horas e regredindo geralmente nas primeiras 48 horas depois da aplicação da vacina (ibid). As vacinas contra a febre tifóide são conservadas entre 2º C e 8º C. O congelamento provoca a perda de potência (BRASIL, 2005). Ainda de Acordo com esse Manual de Normas Técnicas (BRASIL, 2005), a vacina contra a febre tifóide não é a principal arma para seu controle. Esta doença exige a concentração de esforços nas medidas de higiene individual e na melhoria do saneamento. 6.1 VACINAÇÃO DE GRUPOS DE RISCO A legislação sanitária vigente somente permite o consumo, no território nacional, de vacinas que tenham sido submetidas e registradas no órgão competente do Ministério da Saúde, a partir da aprovação da análise técnica de sua composição, eficácia, posologia, contra-indicações e advertências aos usuários (MACÊDO et al., 2000). A vacinação de rotina contra a febre tifóide é indicada apenas a grupos populacionais de risco elevado para a doença em função de suas atividades profissionais ou a indivíduos que por motivo de viagem ingressem em áreas de alta endemicidade. Não existe indicação de vacinação na ocorrência de catástrofes ou calamidades públicas como enchentes ou terremotos (EDUARDO et al., 2007). As vacinas contra a febre tifóide, atualmente registradas, não apresentam valor prático para o controle de surtos por não possuírem alto poder imunogênico e conferirem imunidade de curta duração. Não há indicação para o uso sistemático da vacina em populações circunscritas (exemplo, quartéis). Conclui-se que a vacina contra a febre tifóide não é a principal arma para o controle da doença. (MACÊDO et al., 2000). 33 7. ISOLAMENTO DA BACTÉRIA Os meios de cultura utilizados para semeadura da amostra biológica recebida dependem da padronização de cada laboratório. Basicamente são empregados: Meio líquido de enriquecimento para Salmonella spp., Placas de meio diferencial e seletivo (EDUARDO, 2007). 7.1 CONFIRMAÇÃO DO GÊNERO Salmonella As colônias suspeitas são replicadas em meio presuntivo para enterobactérias para verificar os caracteres bioquímicos essenciais (EDUARDO, 2007). 7.2 CARACTERIZAÇÃO SOROLÓGICA E BIOQUÍMICA DE Salmonella spp. As cepas isoladas devem ser encaminhadas ao Instituto Adolfo Lutz/SP, Divisão de Biologia Médica, Seção de Bacteriologia. A análise antigênica das cepas é realizada por testes de aglutinação, utilizando anti-soros monovalentes somáticos e flagelares, específicos para Salmonella spp. A associação dos antígenos determinados permite a identificação do sorotipo em estudo. Além disso, realiza-se a caracterização bioquímica específica para a S. thypi (EDUARDO, 2007). O Instituto Adolfo Lutz (SP) e a Fundação Osvaldo Cruz (RJ) são os dois laboratórios, no Brasil, que realizam a caracterização sorológica de cepas de Salmonella spp. (BENATTO et al., 2008). 34 O Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Ministério da Saúde, pelo seu Departamento de Bacteriologia, Centro de Referência Nacional de Cólera e outros Enteropatógenos Bacterianos. Referências Macrorregionais: – Instituto Evandro Chagas (IEC) – Belém-PA Área de abrangência: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará e Roraima. – Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Milton Bezerra Sobral (Lacen/Fusam) – Recife-PE Área de abrangência: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. – Fundação Ezequiel Dias (Funed) – Belo Horizonte-MG Área de abrangência: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. – Instituto Adolfo Lutz (IAL) – São Paulo-SP Área de abrangência: Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. – Instituto de Saúde do Distrito Federal (ISDF) – Brasília-DF Área de abrangência: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Tocantins. Laboratórios Estaduais São os Laboratórios Centrais (Lacen), situados nas capitais dos estados. 35 8 NOTIFICAÇÃO É a principal fonte, a partir da qual, na maioria das vezes, desencadeia-se o processo informação-decisão-ação. Inclui doenças na relação nacional de notificação compulsória, define doenças de notificação imediata, relação dos resultados laboratoriais que devem ser notificados pelos Laboratórios de Referência Nacional ou Regional e normas para notificação de casos. A febre tifóide consta da listagem nacional das doenças de notificação compulsória (BRASIL, 2006). Faz-se necessária a notificação de casos suspeitos que serão investigados e posteriormente confirmados ou descartados (BENATTO et al., 2008). A notificação é feita por meio de instrumento padronizado, qual seja a ficha individual de notificação/investigação da febre tifóide. Do completo preenchimento desse instrumento depende a representatividade do sistema, ou seja, a sua capacidade de descrever com exatidão a ocorrência de um evento ao longo do tempo, segundo atributos da população e a distribuição espacial dos casos. Da agilidade da execução depende a sua oportunidade, que é o intervalo entre a ocorrência de um evento e o cumprimento das etapas previstas no sistema: notificação, identificação de tendências e desencadeamento das medidas de controle (ibid). 8.1 NOTIFICAÇÃO DO CASO No seu Título III, os profissionais de saúde no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde e ensino, em conformidade com a Lei nº. 6259 (BRASIL, 1975) são obrigados a comunicar aos gestores do Sistema Único de Saúde - SUS da notificação compulsória das doenças, ocorrência de casos suspeitos ou confirmados das doenças relacionadas nos seus artigos. 36 Segundo Benatto et al. (2008), Apesar da importância dessa fonte de dados, existe, a exemplo de outras doenças, uma subnotificação importante no País. As razões são várias e incluem: • inúmeros casos da doença não são diagnosticados; • dificuldades de acesso das pessoas aos serviços; • não caracterização do caso suspeito; • uso precoce de antimicrobianos em situações clínicas indefinidas. Além disso, a suspeita de um caso e/ou sua confirmação não significa que ele será notificado. Os profissionais de saúde, em geral, consideram a notificação um ato burocrático, uma perda de tempo e se recusam a fazê-lo, principalmente na rede privada, onde não existe uma cobrança nesse sentido, apesar da exigência legal, com punições previstas, de acordo com o inciso VI do art. 10 da Lei n.º 6.437 (BRASIL, 1977). 8.2 CUIDADOS COM OS COMUNICANTES DO CASO Os comunicantes devem ser mantidos sob vigilância avaliando-se o surgimento de manifestações clínicas durante o período de incubação da doença (até 3 semanas da possível contaminação (EDUARDO et al., 2007). 37 9 ALIMENTOS CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O RISCO DE CONSUMO Segundo informação da FUNASA (2002), a classificação de alguns alimentos, com risco de contaminação pela Salmonella typhi são: Alto risco, leite cru, moluscos, mexilhões, ostras, pescados crus, hortaliças, legumes e frutas não lavadas; Médio risco, alimentos intensamente manipulados logo após o cozimento ou requentados e massas; Baixo risco, alimentos cozidos ou assados que são consumidos imediatamente, verduras fervidas e alimentos secos. 38 10. SOBREVIVÊNCIA DO MICRORGANISMO EM DIVERSOS MEIOS 10.1 ÁGUA Em condições ótimas, a sobrevida nunca ultrapassa 3 a 4 semanas. Entretanto, varia consideravelmente com a temperatura (temperaturas mais baixas levam a uma maior sobrevida), com a quantidade de oxigênio disponível (as salmonelas sobrevivem melhor em meio rico em oxigênio) e com o material orgânico (águas poluídas, mas não a ponto de consumir todo o oxigênio, são melhores para a sobrevida do agente). 10.2 ESGOTO Em condições experimentais, quase 40 dias; 10.3 ÁGUA DO MAR Sobrevida demonstrada de até 4 semanas. Ostras e outros moluscos, assim como leite e derivados, são os principais alimentos responsáveis pela transmissão da febre tifóide. Praticamente todos os alimentos, quando manipulados por portadores, podem veicular a Salmonella typhi. 10.4 OSTRAS, MARISCOS E OUTROS MOLUSCOS Bom meio, sendo necessária uma altíssima contaminação. 39 10.5 LEITE, CREME E OUTROS LATICÍNIOS Constituem um excelente meio, chegando a perdurar até por dois meses na manteiga, por exemplo. 10.6 CARNES E ENLATADOS São raros os casos adquiridos através destes alimentos, provavelmente porque o processo de preparo dos mesmos é suficiente para eliminar a Salmonella spp. Mas, uma vez preparada a carne ou aberta a lata, a sobrevida do agente é maior do que a vida útil destes alimentos. 40 11 MEDIDAS DE PREVENÇÃO Diante do exposto, fica evidenciado que a melhor forma de se prevenir contra esta doença é adotar medidas preventivas como o consumo somente de água tratada bem como filtrada ou fervida, cuidados com a higiene pessoal, saneamento básico, cuidado e higiene no manuseio de alimentos e evitar consumir alimentos vendidos na rua de manipulação e conservação suspeita. Quadro 03 - Orientações para Cloração de Água para Consumo Humano. Fonte: BENATTO et al., 2008 Volume de Água 1.000 litros 200 litros 20 litros 1 litro Hipoclorito de sódio a 2,5% (ou água sanitária) Dosagem Medida Prática 100ml 2 copinhos de café 15ml (descartáveis) 2ml 1 colher de sopa 0,08ml 1 colher de chá 2 gotas Tempo de Contato 30 minutos Em caso de água turva, antes da cloração, recomenda-se mantê-la em repouso para decantação das partículas em suspensão, as quais irão depositar-se no fundo do recipiente; após esse processo, deve-se separar a parte superior, mais clara, em outro recipiente, e filtrá-la (BENATTO et al., 2008). De acordo com Secretaria de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2005), as ações de educação em saúde é a melhor forma de prevenção dentre esses hábitos destacam-se: 41 Os hábitos de higiene pessoal, principalmente a lavagem correta das mãos este aspecto é fundamental entre pessoas que manipulam alimentos e trabalham na atenção de pacientes e crianças. Observar cuidados na preparação, manipulação, armazenamento e distribuição de alimentos, bem como na pasteurização ou ebulição do leite e produtos lácteos. As moscas podem transportar mecanicamente para os alimentos as bactérias presentes nas dejeções dos doentes e porta dores, embora não desempenhem papel importante na propagação da doença. Faz-se necessário proteger os alimentos do seu contato, adotar cuidados com relação ao lixo, telar portas e janelas, etc. 11.1 SISTEMA PÚBLICO DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA Caso não haja desinfecção do sistema, proceder sua imediata implantação mantendo a dosagem mínima de 0,2mg/l de cloro residual livre nas pontas da rede de distribuição; Realizar a limpeza e desinfecção dos reservatórios de distribuição, sempre que necessário; Manter pressão positiva na rede de distribuição de água; Reparar possíveis pontos de contaminação (rachaduras, canalizações abertas, etc); Realizar, periodicamente, análise bacteriológica da água. 11.2 SISTEMA INDIVIDUAL DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA (POÇOS, CISTERNAS, MINAS, ETC.) Proceder a limpeza e desinfecção do sistema, fazendo a desinfecção da água; Orientar sobre como realizar a proteção sanitária dessas fontes de abastecimento de água. Os reservatórios deverão ser submetidos à limpeza e desinfecção a cada período de seis meses, ou sempre que houver suspeita de contaminação, ou ainda, quando se fizer necessário. As áreas de captação (mananciais), sejam superficiais ou subterrâneas (poços e fontes), devem estar protegidas de modo a evitar a contaminação da água a partir de dejetos, lixo, lançamento de esgoto e outros agentes poluidores. Os poços, as cacimbas, os cacimbões e outras fontes de água devem ser protegidos, alertando-se para que seja evitada a contaminação por resíduos e dejetos humanos ou de animais. A sua localização deve estar a uma distância mínima de 45 42 metros das possíveis fontes de contaminação, no ponto mais elevado do terreno, de modo a impedir que os dejetos atinjam o lençol freático. No caso de fossas secas, a distância deve ser de pelo menos 15 metros. Além disso, os poços devem estar protegidos lateralmente contra a entrada de águas pluviais, devidamente tampados e, se possível, com sistema de bombas para a retirada da água. 11.3 MEDIDAS GERAIS Proceder a limpeza e desinfecção periódica das caixas de água de instituições públicas (escolas, creches, hospitais, centros de saúde, asilos, presídios, etc.), a cada seis meses ou com intervalo menor, se necessário; Orientar a população para proceder a limpeza e desinfecção das caixas de água domiciliares, a cada seis meses ou com intervalo menor, se necessário; Em locais onde a água for considerada suspeita, orientar a população para ferver ou clorar a água. 11.4 MEDIDAS REFERENTES AOS DEJETOS Proceder a limpeza e reparo de fossas, se necessário; Orientar a população quanto ao uso correto de fossas sépticas e poços absorventes, em locais providos de rede de água. 11.5 MEDIDAS REFERENTES AOS ALIMENTOS Alguns procedimentos devem ser adotados para evitar a transmissão da febre tifóide a partir da ingestão de alimentos contaminados. Dentre eles, destacam-se: A origem da matéria-prima ou do produto alimentício (datas de produção e validade devem ser conhecidas); O armazenamento do alimento deve ocorrer em condições que lhe confira proteção contra sua contaminação e reduza, ao mínimo, a incidência de danos e deterioração; A manipulação do alimento deve ocorrer em ambientes saudáveis e por indivíduos possuidores de bons hábitos de higiene e que não estejam com doença infecto contagiosa; O preparo deverá envolver processos e condições que excluam toda e qualquer possibilidade da presença de Salmonella typhi no alimento pronto para consumo; Os utensílios e equipamentos que interagem com os alimentos devem estar cuidadosamente higienizados para evitar a contaminação do produto; A conservação do produto alimentício acabado e pronto para consumo deve ocorrer em ambientes especiais (refrigeração), para que sejam mantidas as suas características e não seja 43 facultada a proliferação de microrganismos; Refrigeração das sobras de comida no máximo duas horas após sua preparação, em recipientes pequenos e rasos; Jogar fora todo alimento preparado, depois de 72 horas na geladeira, que estiver aberto, tenha sido usado ou tenha sobrado; O alimento pronto para consumo deverá ser armazenado e transportado em condições tais que excluam a possibilidade de sua contaminação (BRASIL, 2005). 44 12 CONCLUSÃO Sob a luz do exposto, é induvidável que medidas de saneamento básico exercem papel de fundamental importância no controle da Febre Tifóide. Contudo, a solução depende da mudança de comportamento da sociedade como um todo. Devem ser adotadas algumas medidas que garantam a qualidade da matériaprima ou do produto alimentício (datas de produção e o prazo de validade devem ser conhecidos); a certificação dos seus fornecedores; as condições de armazenamento do alimento, respeitando o binômio tempo/temperatura, evitando a sua contaminação; a manipulação deste alimento deve ocorrer em ambiente com temperatura controlada e por colaboradores possuidores de bons hábitos de higiene; observar a higienização de seus utensílios, equipamentos e bancadas onde estes alimentos serão manipulados; após o alimento preparado para consumo deve ser conservado sob temperatura de refrigeração; após ser exposto ao consumidor suas sobras devem ser descartadas. São medidas preventivas que visam não causar danos ou agravos a quem consumi-los. Sendo o tratamento para febre tifóide com acometimento em surtos e a vacina atualmente disponível não possui um alto poder imunogênico e que esta imunidade é de curta duração, com efeitos colaterais, pouco utilizada no Brasil, a prevenção acaba sendo o melhor caminho a ser seguido, com conscientização e boas condições sanitárias. Em regiões em que não existe possibilidade de construção de sistemas de tratamento de água e esgoto, deveriam ser disponibilizados kit’s de tratamento de água e orientações intensas sobre localização de fossas. 45 Esta doença exige a concentração de esforços nas medidas de higiene individual e na melhoria do saneamento. Conclui-se que medidas simples e orientações de saúde pública coletivas para as comunidades, podem modificar os índices, muitas vezes subnotificados ou silenciosos, tanto em países desenvolvidos ou que carecem de maiores auxílio para o seu desenvolvimento. 46 13 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ACHA; P.N. SZYFRES, B. 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