EPIDEMIOLOGIA DAS MÁS OCLUSÕES NA DENTADURA MISTA EM ESCOLARES DE TERESINA – PI Marcus Vinicius Neiva Nunes do Rego - NOVAFAPI Olívia de Freitas Mendes - NOVAFAPI Thaís Lima Rocha – NOVAFAPI Núbia Queiroz Castelo Branco – NOVAFAPI INTRODUÇÃO O sistema estomatognático é uma unidade funcional do organismo em que tecidos diferentes e variados quanto à origem e à estrutura agem harmoniosamente na realização de variadas tarefas funcionais. Fazendo parte desse sistema temos os componentes esqueletais (maxila e mandíbula), arcadas dentárias, tecidos moles (glândulas salivares, suprimento nervoso e vascular), ATM e músculos. Tais estruturas encontram-se interligadas e relacionadas e, quando em função, visam alcançar o máximo de eficiência com a proteção de todos os tecidos envolvidos. A presença de qualquer desvio morfológico da oclusão normal é denominada de má oclusão, que pode ter origem genética e/ou ambiental. As más oclusões representam o grupo de terceira maior prevalência dentre os problemas bucais, sendo superados apenas pela cárie dentária e pelos problemas periodontais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) a considera como um importante problema odontológico de saúde pública, dada sua grande incidência e ao seu caráter precoce de aparecimento. Os trabalhos levantados na literatura revelam que a má oclusão não é característica específica da dentadura permanente, podendo manifestar-se precocemente, até mesmo na dentadura decídua, e enfocam que medidas preventivas e interceptativas sejam tomadas, uma vez que a autocorreção é considerada uma exceção (GANDINI et al, 2005; SILVA FILHO et al, 1990). Estudos sobre a prevalência de má oclusão na dentadura mista em indivíduos brasileiros (PIRES et al, 2001; RAMOS et al. 2000; SILVA FILHO et al, 1989; SULIANO et al. 2005) revelam que mais da metade da população brasileira apresenta má oclusão. Das más oclusões encontradas neste estágio de desenvolvimento, as mais freqüentes são apinhamento ântero-inferior, sobremordida profunda, mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e mordida cruzada anterior. Quanto à relação sagital, prevaleceram as más oclusões de Classe I, seguida pela Classe II e Classe III, respectivamente (SILVA FILHO et al, 1990). O diagnóstico e tratamento precoce de algumas más oclusões contribuem para a obtenção de uma oclusão satisfatória na dentadura permanente. Dessa forma, faz-se necessário a realização de estudos epidemiológicos com o intuito de descrever e analisar a prevalência de más oclusões e sua distribuição em uma determinada população, constituindo assim, importantes ferramentas para o conhecimento das necessidades de tratamento e das medidas preventivas a serem implantadas. EPIDEMIOLOGIA DAS MÁS OCLUSÕES NA DENTADURA MISTA SILVA FILHO et al (1989) avaliaram as condições oclusais de 2.416 escolares da cidade de Bauru (São Paulo), de ambos os sexos, no estágio da dentadura mista, na faixa compreendida entre 7 e 11 anos, provenientes de 18 escolas públicas e particulares. Os resultados apontaram que apenas 11,47% da população apresentaram características de oclusão normal. Das más oclusões, prevaleceram a de Classe I (55% das más oclusões), seguida pela Classe II (42%) e, finalmente, pela Classe III (3%). A condição sócioeconômica influenciou o porcentual de oclusão normal e de má oclusão Classe I. As classes mais inferiores exibiram um aumento de má oclusão Classe I em detrimento da redução de oclusão normal. As más oclusões Classe II e III não foram influenciadas pela condição sócio-econômica. ALMEIDA et al (1990) examinaram 313 crianças, 160 do sexo feminino e 153 do sexo masculino, com idades entre 7 e 12 anos, alunos de uma escola de rede municipal de ensino de Florianópolis, Santa Catarina. Das crianças examinadas, 93,6% apresentavam contatos prematuros em relação cêntrica, sendo 93,1% das crianças do sexo feminino e 94,1% do sexo masculino. RAMOS et al (2000) elaboraram um quadro sinóptico referente a alguns estudos epidemiológicos de má oclusão, conforme demonstrado na Tabela 1. TABELA 1: Distribuição das más oclusões em alguns estudos epidemiológicos WOODSIDE, D.G. ALMEIDA, R.R. et al. HAYNES, S. SATURNO, L.D. GARDINER, J.H. SILVA & ARAUJO MAIA, N.G. FILHO, O.G. et al. Local n Idade normal cl I cl II, 1 1968 Canadá 1194 3-12 14% 61% 23% 1970 Bauru 197 11-12 10,7% 73,6% 12,7% 1,5% 1,5% 1970 Marília Inglaterra 163 1185 11-12 11-12 27,6% 26,8% 62,6% 50,3% 8,6% 15,5% 0,6% 4% 0,6% 2,5% 1980 Venezuela 3630 7-13 22,8% 57,5% 12,3% 3,6% 3,8% 1982 Líbia 479 10-12 3% 74% 16% 2% 5% 600 5-7 30,8% 54,7% 13% 1,5% 351 3-6 42,7% 17,9% 34,8% 4,6% 2416 7-11 11,4% 48,4% 34,3% 1987 Rio de Janeiro Natal 1989 Bauru 1983 cl II, 2 cl III 2% 3,2% 2,5% Fonte: RAMOS, et al. 2000. OLIVEIRA (2001) estudou a prevalência das oclusopatias e investigou prováveis associações dos problemas oclusais com alterações anatomofuncionais em crianças com idade de três, sete e doze anos, sendo 291 crianças com três anos, 300 com sete anos e 290 com doze anos, de ambos os sexos, que freqüentavam os Centros de Educação Infantil e Escolas de 1º grau municipais da cidade de Vitória-ES. Esse estudo mostrou que aos três anos, 59,1% das crianças apresentaram algum tipo de oclusopatia, aos sete anos, 76,7%, e aos doze anos 83,8%. Podendo-se observar que há uma diferença significativa entre as proporções entre as oclusopatias nas diferentes idades. Sendo assim, a má oclusão é um problema de saúde pública dada a sua grande incidência e ao seu caráter precoce de aparecimento e, muitas dessas, em especial as de origem ambiental, podem ser interceptadas antes do estabelecimento completo da dentadura permanente (SILVA FILHO et al, 1989). RAMOS et al (2000) enfocam a necessidade de programas de tratamento precoce, incluindo procedimentos ortodônticos simples, ao alcance do clínico geral, no intuito de promover uma melhor saúde bucal a longo prazo e minimizar a necessidade futura de um tratamento corretivo que somente seria realizado por um especialista (ortodontista). OBJETIVOS Geral • Verificar a prevalência de oclusão normal e má oclusão na dentadura mista em escolares da cidade de Teresina-PI. Específico • Avaliar a interferência do gênero e do nível sócio-econômico na prevalência das más oclusões encontradas. METODOLOGIA Material A amostra será composta por 300 crianças, de etnia brasileira, entre 06 e 12 anos, de ambos os gêneros e no estágio da dentadura mista. O valor quantitativo da amostra foi calculado a partir do número de crianças matriculadas em escolas públicas e particulares de Teresina-PI, obtido pela Secretaria de Educação. A seleção das escolas será realizada a partir de sorteio aleatório de acordo com os bairros da cidade de Teresina-PI. Os critérios de exclusão envolverão qualquer tratamento ortodôntico prévio, presença de anomalias de número, tamanho, ou forma, agenesias e a presença de síndromes ou qualquer anomalia craniofacial. Todas as crianças deverão estar devidamente matriculadas em instituições de ensino a serem selecionadas em vários bairros da cidade de Teresina-PI. Método O exame clínico das crianças escolares, com livre consentimento dos pais ou responsáveis, será realizado por dois alunos de graduação de Odontologia da NOVAFAPI, previamente calibrados, que verificarão a presença de oclusão normal, má oclusão e suas particularidades. A etapa de calibração envolverá o exame clínico de 10 pacientes da clínica de ortodontia da NOVAFAPI (Figura 10, página 20). Esses pacientes serão reavaliados pelos examinadores uma semana após a primeira avaliação. Para determinar o grau de concordância intra e inter-examinador será aplicado o Índice de Spearman, com grau de significância de 5%. A análise estática da oclusão compreenderá a relação inter-arcos nos sentidos sagital, transversal e vertical, bem como a relação intra-arco, considerando a presença e ausência de apinhamento. As crianças e professores serão questionados com relação aos hábitos deletérios. Os critérios a serem utilizados para definir a oclusão normal na dentadura mista serão: 1) Primeiro período transitório: Relação sagital de caninos de Classe I; compatibilidade transversal entre os arcos dentários (arcos dentário inferior incluído no superior); trespasse vertical de 2 a 3mm; apinhamento primário temporário, ou erupção dos incisivos permanentes na linha do rebordo alveolar sem apinhamento. 2) Período intertransitório: Relação sagital de caninos de Classe I; compatibilidade transversal entre os arcos dentários (arcos dentário inferior incluído no superior); “Fase do Patinho Feio”; trespasse vertical de 2 a 3mm; ausência de apinhamento. 3) Segundo período transitório: Relação sagital de caninos e/ou molares de Classe I; compatibilidade transversal entre os arcos dentários (arcos dentário inferior incluído no superior); trespasse vertical de 2 a 3mm; ausência de apinhamento. O exame clínico será realizado em cadeiras convencionais existentes nas escolas, sob iluminação natural e utilizando apenas espátulas de madeiras, máscaras e luvas descartáveis (Figura 11). Os dados colhidos serão registrados em fichas especialmente desenvolvidas (Anexo 2) e processados no programa SPSS. Após a realização do levantamento epidemiológico, os dados serão submetidos à análise estatística utilizando o teste qui-quadrado (X²), em nível de significância de 5%, com o objetivo de avaliar a associação do gênero e do nível sócio-econômico nas alterações morfológicas encontradas. Palavras-chave: epidemiologia; má oclusão; dentadura mista. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, R. V. D. et al. Prevalência de maloclusão e sua relação com hábitos bucais deletérios em escolares. Pesq. Bras. Odontoped. Clin. Integr., vol. 2, n. 1, p. 43-45, jan.abr. 2002. AMANTEA, Daniela Vieira, NOVAES, Ana Paula, CAMPOLONGO, Gabriel Denser et al. The importance of the postural evaluation in patients with temporomandibular joint dysfunction. Acta ortop. bras. July/Sept. 2004, vol.12, no.3, p.155-159. FERREIRA, Flávio Vellini. Ortodontia: Diagnóstico e Planejamento Clínico. Artes médicas. 1 ed. São Paulo-SP, 1997. GANDINI, M. R. E. et al. Estudo da oclusão dentária de escolares da cidade de Araraquara, na fase da dentadura mista relação inter-arcos, região anterior (overjet e overbite). Ortodontia, v.33, n. 1, p. 44-49, jan.-abr. 2000. OLIVEIRA, A. E. Uma transição epidemiológica na oclusão dental em Vitória-ES. Tese (Doutorado) - Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, 2001. PROFFIT, W. R. Ortodontia Contemporânea. 3a ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 677p. RAMOS, Adilson Luiz et al. Assistência ortodôntica Preventiva - Interceptora em escolares do município de porto Rico – Parte I: Prevalência das más-oclusões. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortoped. Facial, v. 5, n. 3, p. 9-13, maio-jun. 2000. SILVA FILHO, O. G. et al. Prevalência de oclusão normal e má oclusão na dentadura mista em escolares da cidade de Bauru (São Paulo). Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent., v. 43, n. 6, p. 287-290, nov.-dez. 1989. * Professor Mestre do Curso de Odontologia da NOVAFAPI e Coordenador da Pós-graduação em Ortodontia da NOVAFAPI [email protected] ** Professora Mestre do Curso de Odontologia da NOVAFAPI e Profa. MS. da Pós-graduação em Ortodontia da NOVAFAPI [email protected] *** Aluna do Curso de Odontologia da NOVAFAPI [email protected] **** Aluna do Curso de Odontologia da NOVAFAPI [email protected]