MESA 31 REFLEXÕES ACERCA DO FAZER TERAPÊUTICO Coordenadora: Simone da Silva Machado (UNISC - RS) [email protected] Relatores: Eliana da Silva Ramos Arruda Jacqueline Maria Klein Simone da Silva Machado Resumo 1: PROCESSOS NARATTIVOS Eliana da Silva Ramos Arruda (SP) [email protected] Ao pensarmos no setting da terapia cognitiva-narrativa, retoma-se inicialmente a conscientização da epistemologia e ontologia que alicerça a atuação teórico-técnica do profissional. Na abordagem construtivista (fundamento do enfoque narrativo), vemos o homem como um ser pró-ativo, que interage com o seu mundo dialeticamente. Assim, a epistemologia aqui adotada, refere-se ao conhecimento que se processa através das interações sociais ativamente construídas e sempre passíveis de novas significações, e, portanto, de reconstruções pessoais constantes. Esse processo de conhecimento se dá a partir da capacidade hermenêutica do homem. Ao afirmarmos esse pressuposto, assumimos uma posição de que toda e qualquer experiência é pessoal e sentida individualmente. O homem é intrinsecamente um intérprete da realidade em que vive e experimenta. Assim, desenvolve-se construções e sentimentos diversificados e complexos e não que seriam simplesmente formados numa relação linear de causa-efeito, previsíveis e passíveis de controle e manipulação do profissional de saúde mental. Vivemos em nossa construção identitária numa rede de multisignificações, multitemática, em multirealidades, criando-se assim “multiversos”. Para utilizarmos a técnica a serviço da construção identitária saudável, é imprescindível o conhecimento teórico que nos dá um mapa dos objetivos e pressupostos da tecnologia adotada; e mais do que isso, a necessidade ou não da sua aplicação, o timing ideal de se lançar mão desse recurso. Neste modelo teórico-clínico, o manejo técnico é instrumental, e, portanto, uma decisão conjunta na relação terapêutica em que se faz necessário individualizar o máximo possível a aplicação da técnica. Se, consideramos cada indivíduo como um ser único em possibilidades existenciais, somente através do vínculo terapêutico estabelecido teremos condições de decidir como e quando, por quais razões aproveitarmos determinado recurso tecnológico. Em busca deste maior respeito às idiossincrasias humanas, sugere-se as técnicas narrativas por serem sempre pautadas na livre e espontânea descrição e criação de elementos psíquicos compartilhados com o terapeuta. Portanto, a narrativa cumpriria com a possibilidade de maior individualização do manejo técnico num setting seguro e bem fundamentado teoricamente, o que garante a criatividade, eficiência, ética e segurança da atuação profissional. Ressalto finalmente a necessidade de refletirmos em nossas posturas práticas cotidianas quanto às possibilidades de re-criarmos um setting terapêutico que apesar de individualizado não se perca em sua consistência teórica durante a formação e atuação profissional para que nosso saber psíquico contribua efetivamente coma a função social de nosso viver. Resumo 2: A ANGÚSTIA NO PROCESSO DE MUDANÇA: A VIVÊNCIA O CAOS Jacqueline Maria Klein Ricardo Vígolo de Oliveira [email protected] No decorrer de nossa história, vamos aprendendo coisas sobre nós mesmos, significandonos. Na medida em que experenciamos nossas potencialidades e limitações, prazeres e sofrimentos, vamos construindo nossos esquemas. Entretanto, no momento em que precisamos ampliar esses esquemas, podemos nos perceber presos a um padrão de organização não mais adaptativo, em nome da angústia frente à possibilidade de mudança efetiva. Nesses casos é natural que haja um certo recuo, pois a desacomodação dos antigos esquemas leva a um desgaste psíquico que resulta num jogo de forças conflituosas entre potencialidades e limites, velho e novo, conhecido e desconhecido. E, enquanto a experenciação do novo não se corporeifica naquele sistema, há uma desorganização temporária de alguns aspectos da estrutura afetivo-cognitiva. Este trabalho tem por objetivo levantar uma discussão sobre a sensação de angústia de alguns pacientes ao não conseguirem se reconhecer sem um sofrimento ao qual estão acostumados a sentir. Esse momento existe entre a desestabilização do antigo significado que está sendo abandonado e a ausência temporária de uma nova experiência que lhe atribua novo significado vivencial. Deste modo, no decorrer do processo de mudança, enquanto uma nova ordem não se instala naquela dada estrutura de significados, há um novo tipo de angústia que, muitas vezes, pode conter esse processo, eliciando uma resistência a essa mudança. Essa angústia é um sentimento decorrente da experenciação do caos que se estabelece, sendo um indicador importante que nos adverte do perigo, sinalizando o que sentimos, visto que “somos o que sentimos que somos”. E, ao não sentirmos mais o que pensamos ser, quem somos? Ao abrir tanto esse sistema em nome da perspectiva de mudança, será preservada a autopoiese, a capacidade de nos recriarmos constantemente como seres vivos? A experenciação do caos é decorrente dessa ampla (e ínfima) abertura do sistema? Qual é o instinto que aponta a relação custo X benefício dessa mudança como arriscada demais para se prosseguir no processo de mudança? O fato de não nos reconhecermos mais, em parte, quando livres de um sofrimento que nos identifica, seria o indicador de uma receptividade tamanha capaz de resultar numa interação destrutiva entre nossas referências interna e externa? E isto é o que causa a sensação de angústia? Nesse exato momento, a receptividade a novas experiências deve ser a máxima, a fim de preencher um vazio e reorganizar o caos que se instaurou. E qual o papel do psicoterapeuta frente a essa desorganização? Para nós, deveria ser estimular uma vontade que possibilite ao cliente deparar-se com as contradições sentidas durante o processo de mudança e, assim, construir uma visão particular da realidade, assumindo a autoria da sua própria ontogenia. Palavras-chave: mudança, angústia, significado. Resumo 3: REFLEXÕES ACERCA DO FAZER TERAPÊUTICO Simone da Silva Machado (UNISC - RS) [email protected]