Energia, Sustentabilidade e Certificação na Construção Introdução Segundo relatório do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) o setor de construção responde por 40% do consumo mundial de energia sendo que também é responsável pela geração de emissões de carbono maiores que o setor de transportes. A WBCSD recomenda que os governos, as empresas e os cidadãos comecem a reduzir seu consumo de energia nas novas e antigas construções a fim de reduzir em 77%, ou 48 gigatoneladas, o impacto ambiental relacionado à energia - graf 1. Com estes valores serão rebaixados os níveis de dióxido de carbono até atingir a meta estabelecida pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) orgão da ONU. Gráfico - 1 - The International Energy Agency (IEA) has called for an overall reduction of 77% or 48 gigatons in carbon emissions (Fonte - World Business Council for Sustainable Development) O relatório apresentado pelo WBCSD faz parte do estudo “Transformando o mercado: Eficiência Energética nas construções” e oferece sugestões para ações visando ajudar a transformar o setor de construção. O estudo de eficiência energética nas edificações é focado nos mercados brasileiro, chinês, 1 indiano, japonês e norte-americano que representam dois terços do consumo mundial de energia. Como ação efetiva para reduzir o impacto ambiental e uso eficiente de energia a sociedade civil, empresários e governantes começaram a desenvolver no mundo os chamados selos verdes ou certificados ambientais para as edificações a serem construídas ou reformadas. Estes selos são baseados em conceitos e indicadores conforme a região do planeta com a finalidade de buscar a realização de empreendimentos com base na sustentabilidade ambiental. 1 - Sustentabilidade O termo sustentabilidade e/ou sustentável se tornou comum em nossas conversas no dia a dia, em campanhas publicitárias ou em noticiários impressos ou televisivos. Apesar do crescente aumento no uso do termo sustentabilidade, podemos notar a forma imprecisa de seu uso e a falta de compreensão do conceito de sustentabilidade. Para melhor definição do termo, devemos nos reportar ao relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) executado pela Comissão Brundtland, onde ficou conhecido por Our Common Future – nosso futuro comum – definindo desenvolvimento sustentável como sendo: “ desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” Outras definições podem ser encontradas em anais de biologia, química e até mesmo em livros de economia que diz: “ Uma sociedade sustentável, processo ou produto é aquele que pode ser mantido ou continuar a ser produzido no longo prazo, sem afetar negativamente as condições necessárias para apoiar essas mesmas atividades no futuro.” Quando falamos em “condições necessárias para apoiar essas mesmas atividades no futuro” estamos falando de nossos sistemas naturais, água, 2 solo, ar, ecossistemas e vegetações que nos fornecem todos os recursos materiais e energéticos para nossa existência. Aplicando esta definição a uma construção de edifícios podemos dizer que: “Um edifício sustentável é aquele que pode ser produzido e continuam a ser operados em longo prazo sem afetar negativamente o ambiente natural necessário para apoiar as atividades humanas no futuro”. De posse destes conceitos podemos e devemos pensar em construção sustentável alinhados em 9 passos, a saber: 1. Planejamento Sustentável da obra 2. Aproveitamento passivo dos recursos naturais 3. Eficiência energética 4. Gestão e economia da água 5. Gestão dos resíduos na edificação 6. Qualidade do ar e do ambiente interior 7. Conforto termo-acústico 8. Uso racional de materiais 9. Uso de produtos e tecnologias ambientalmente amigáveis Estes passos são utilizados em diretrizes dos principais certificadores mundiais dos chamados selos verdes e imprescindíveis para se alcançar o objetivo final de uma edificação sustentável e saudável para atendimento das necessidades humanas. A finalidade de uma construção sustentável além de preservar o meio ambiente é também de proteger seus ocupantes da poluição das grandes cidades. O edifício não pode ser um gerador de doenças como os prédios que acarretam a Síndrome do Edifício Doente (SEE). O Geobiólogo espanhol Mariano Bueno diz que uma edificação sustentável deve funcionar como uma segunda pele do morador ou usuário. A edificação deve funcionar como um ecossistema e devem reproduzir ao máximo e de maneira eficiente as condições do meio ambiente como umidade relativa do ar adequada ao ser humano, temperatura estável, sensações de conforto, segurança e bem estar. 3 2 - Selos Verdes Selos verdes ou certificados ambientais são atestados de cumprimento de prérequisitos a fim de garantir o menor impacto ambiental e o menor consumo de energia para, reformas, operacionalização e construção de novos edifícios. No inicio dos anos 90 países da Europa liderada pela Inglaterra, Estados Unidos e Canadá preocupados com as metas e indicadores ambientais, apresentam as primeiras metodologias para avaliações de empreendimentos de construções. Estas metodologias receberam créditos positivos dos empreendedores e da sociedade de maneira geral e foram valorizadas e difundidas, sendo que hoje vários países vêm desenvolvendo sua própria metodologia. Tabela 1 Relação de países e certificados utilizados África do Sul SBAT Austrália BGRS Canadá GREEN GLOBES China HK BEAN Estados Unidos LEED França HABITAT E ENVIRONMENT NF BATIMENTS TERTIAIRES Japão CASBEE Noruega ECOPROFILE Portugal LIDER A Reino Unido BREEM Suécia ECOEFECT Internacional GBTOOL Brasil Green Building – LEED INMETRO – PROCEL AQUA Método IPT Tabela 1 - Relação de países e certificados Utilizados 4 O Brasil vem buscando alternativas para avaliação de suas construções. Ainda não consolidamos uma única metodologia própria fazendo com que cada empreendedor interessado em uma certificação busque aquela que melhor lhe servir, faltando ainda reflexões e adaptações às adequações desses selos à realidade nacional. 2.1 – Green Building Council Brasil – LEED GBC Brasil é uma entidade membro do World Green Building Council, entidade que regula a criação de conselhos Nacionais para promoção no desenvolvimento de tecnologias e operações sustentáveis na construção civil. O GBC trabalha na difusão de novas tecnologias e melhores práticas adotadas entre seus 21 associados e também gerencia o sistema de certificação LEED (Leadership in Energy & Environmental Design) no Brasil. O LEED é um sistema de certificação que foi visivelmente influenciado pelo BREEAM (Inglaterra), tendo estrutura e conceitos muito semelhantes, mesclando aspectos prescritivos e de desempenho, onde também há versões para usos específicos de edifícios. Segundo o check list apresentado pelo GBCB, as novas edificações são avaliadas conforme tabela 2, acrescidos de Inovação e processo do projeto e créditos regionais. Tabela 2 - Requisitos para Avaliação LEED (Fonte - World Green Building Council Brasil) 5 O sistema LEED foi o de maior aceitação até agora no Brasil, tendo sido 19 Empreendimentos Certificados, e 99 Empreendimentos não sigilosos em Certificação LEED no Brasil, conforme gráfico 2. Gráfico - 2 - Registros e Certificações LEED Brasil (Fonte - World Green Building Council Brasil) 2.2 – Certificação AQUA A Certificação AQUA (Alta Qualidade Ambiental) nasceu de uma parceria entre a Fundação Vanzoline e o Centre Scientifique et Techinique du Bâtiment (CSTB)- instituto francês que é referência mundial na construção civil e sua subsidiária Certivéa, em cooperação com os professores do Departamento de Engenharia de Produção e de Engenharia de Construção Civil da Poli-USP. Conforme o Eng. Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo do Processo, no AQUA, são avaliados 14 requisitos e o empreendimento deve alcançar ao menos três resultados excelentes, quatro superiores e sete bons para obter a certificação. “Não é possível abandonar algum critério ou escolher os quesitos nos quais pontuar. No entanto, se algum item estiver fora do 6 contexto, é possível justificar que aquilo não se aplica ao projeto. Não é ignorar algum item, tem que justificar, dizer o porquê. No Aqua, quando o critério de avaliação não for bom para o contexto do projeto, é possível propor um parâmetro diferente do que está na norma, usar o referencial de outra maneira”. A Qualidade Ambiental do Edifício estrutura-se em 14 categorias (conjuntos de preocupações) que podem ser reunir em 4 famílias: Sítio e Construção Categoria n°1: Relação do edifício com o seu entorno Categoria n°2: Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos Categoria n°3: Canteiro de obras com baixo impacto ambiental Gestão Categoria n°4: Gestão da energia Categoria n°5: Gestão da água Categoria n°6: Gestão dos resíduos de uso e operação do edifício Categoria n°7: Manutenção - Permanência do desempenho ambiental Conforto Categoria n°8: Conforto higrotérmico Categoria n°9: Conforto acústico Categoria n°10: Conforto visual Categoria n°11: Conforto olfativo Saúde Categoria n°12: Qualidade sanitária dos ambientes Categoria n°13: Qualidade sanitária do ar Categoria n°14: Qualidade sanitária da água 7 2.3 – Certificação INMETRO PROCEL A Eletrobrás e o Inmetro lançaram, no início de julho de 2010, em São Paulo, a Etiqueta de Eficiência Energética para edifícios comerciais, de serviços e públicos. As primeiras etiquetas já foram entregues a cinco prédios. A Etiqueta de Eficiência Energética em edificações faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) e foi desenvolvida em parceria entre a estatal Eletrobrás e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). O Procel Edifica: Plano de Ação para Eficiência Energética em Edificações visa construir as bases necessárias para racionalizar o consumo de energia nas edificações no Brasil. O objetivo é incentivar a iluminação e a ventilação naturais, reduzindo o consumo de energia elétrica. Para que os edifícios recebam a classificação, os projetos devem ser analisados e contemplados com etiquetas de A a E, de acordo com o consumo de energia. O sistema consiste no fornecimento de uma classificação de edifícios através da determinação da eficiência de três sistemas: Envoltória; Iluminação; Condicionamento de ar. Os três itens, mais bonificações, são reunidos em uma equação geral de classificação do nível de eficiência do edifício. É possível também obter a classificação de apenas um sistema, deixando os demais em aberto. Neste caso, no entanto, não é fornecida uma classificação geral do edifício, mas apenas do sistema analisado. Ao final da análise o edifício recebe uma etiquetagem conforme a figura1. 8 Figura 1 - Selo Procel (Fonte – Procel) 2.4 – Método IPT O método desenvolvido pelo IPT visa oferecer uma avaliação ambiental de edifícios adequada às condições brasileiras e, caso o resultado seja satisfatório, conceder uma Referencia Ambiental-IPT, nos mesmos moldes da Referência Técnica-RT/IPT que vigora para produtos. Sua estrutura é semelhante à do LEED e BREEAM, com itens com caráter de atendimento obrigatório e outros classificatórios. A sistemática do IPT enfatiza os aspectos ambientais tradicionais como características do terreno, de água, energia, materiais, resíduos e conforto ambiental. Considera também aspectos mais abrangentes como de acessibilidade e relação do edifício com o meio urbano. Sua grande diferença está na importância dada a cada aspecto e na inserção de preocupações relativas à realidade brasileira 9 3 – Conclusões É um grande desafio fazer a transição de um modelo de construção voltado para o cliente final, para a construção de uma sociedade sustentável. Edifícios “Verdes” necessitam de projetistas e construtores capacitados para os tempos atuais. Tempo de equilíbrio entre produção, sociedade e economia. Devemos sempre lembrar que podemos escolher o modelo de gestão de certificação do empreendimento, porém cada empreendimento terá soluções próprias conforme sua pluralidade e localidade. Não podemos apenas importar os modelos, temos que adaptá-los para cada região de nosso país. Uma obra sustentável sempre terá que ser pensada no tripé Social, Ambiental e Econômico. Temos que internalizar nas pessoas e profissionais da área a importância da construção sustentável como mecanismo de crescimento econômico e desenvolvimento social e não sendo um mero instrumento para ser usado como ferramenta de marketing. Referências 1. Certificação AQUA. Certificação AQUA. 12 de 10 de 2010. http://www.processoaqua.com.br (acesso em 1 de 11 de 2010). 2. Edificações, Laboratório de Eficiência Energetica em. Universidade Federal de Santa Catarina. 01 de 01 de 2010. http://www.labeee.ufsc.br (acesso em 1 de 11 de 2010). 3. Fundação Vanzolini. Processo AQUA. 01 de 01 de 2010. http://www.processoaqua.com.br (acesso em 1 de 11 de 2010). 4. Green Building Council Brasil. Green Building Council Brasil. 01 de 01 de 2010. http://www.gbcbrasil.org.br/ (acesso em 12 de 10 de 2010). 5. Inmetro. 01 de 06 de 2010. http://www.inmetro.gov.br (acesso em 1 de 11 de 2010). 6. John F. Straube, Ph.D., P. Eng. Building Science. 27 de 10 de 2006. http://www.johnstraube.com/ (acesso em 12 de 10 de 2010). 10 7. Revista Technee. “Avaliação ambiental.” Revista Technee, 2009. 8. Sobreira, Fabiano J. A., Valéria M. A. F. de Carvalho, e Elcio G. da Silva. SUSTENTABILIDADE EM EDIFICAÇÕES PÚBLICAS:. Brasilia, 7 de 7 de 2007. 9. WBCSD. Word Business Council for Sustainable Development. 18 de 03 de 2010. http://www.wbcsd.org/ (acesso em 15 de 10 de 2010). Roberto Carlos Oliveti é Tecnólogo formado pela FATEC em Construção Civil com licenciatura para docência. Possui Pós-Graduação em Engenharia Ambiental na UNICSUL. Atuou em diversas empresas no ramo da Construção Civil e Instalações de Ar Condicionado. Atual professor da Escola SENAI “Oscar Rodrigues Alves” (Refrigeração e Climatização), ministra aulas de Elétrica – CLP, Informática e AutoCAD. 11