Texto para reflexão
Inteligência Competitiva e Tecnológica
Gilda Massari Coelho, Lúcia Regina Fernandes,
Cícera Henrique da Silva, Vera Lúcia Maria Lellis
A globalização constitui uma chave essencial para explicar os
fenomênos e processos mundiais característicos deste final
de século. A alteração do sistema de poder internacional criou
um espaço político para que o mercado se mundialize e o
sistema produtivo se transforme. A transição contemporânea
é total porque abrange, ao mesmo tempo, não apenas o
domínio econômico, mas também muitos outros, como o
estratégico, o político e o tecnológico.
A globalização da produção, comércio e finanças acelerou a
expansão de uma nova divisão internacional do trabalho e a
reestruturação da economia mundial e se faz presente nos
mais variados contextos, associando, por exemplo, a
globalização econômica à revolução informacional e à visão
planetária embutida nas preocupações ecológicas.
Nos processos produtivos de bens de alto teor tecnológico, o
investidor busca otimizar custos e aumentar a competitividade
e, para tanto, se vale de vantagens comparativas e
economias de escala de diversos mercados nacionais. O
lançamento dos "modelos mundiais" transnacionaliza a
produção que deixa de estar situada em um único país, como
no passado. Este modelo permeia todo o processo industrial,
o que transforma seu caráter e faz com que se
internacionalize até a produção de calçados e a edição de
http://interdes/app/bib/geral/htm/hpbb15.htm (1 of 8) [11/10/2001 15:51:59]
Texto para reflexão
livros.
Por outro lado, os agentes mais dinâmicos da globalização
não são os governos, nem seus representantes que buscam
construir mercados comuns ou integrar suas economias, mas
as empresas transnacionais e conglomerados que
efetivamente dominam uma grande parte da produção,
comércio, tecnologia e finanças internacionais. Baseadas em
uma cultura organizacional sem precedentes, estas
organizações dispõem de grandes volumes de recursos
financeiros, contam com recursos humanos muito qualificados
e usam tecnologias avançadas, melhorando sua capacidade
de operar em escala internacional e assim aumentar o retorno
sobre os investimentos.
A resposta brasileira a este movimento mundial deu-se a
partir de 1990, com a abertura do mercado, o que revelou
disfunções oriundas da forte intervenção governamental no
sentido de promover a industrialização do país. As alterações
nos mecanismos e instrumentos da política industrial
expuseram as empresas brasileiras a uma concorrência
acirrada por parte de empresas estrangeiras. Isto vem
obrigando as empresas nacionais a um comprometimento
cada vez maior com a qualidade e produtividade de seus
processos e produtos. Programas governamentais, como o
PBQP (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade) e o
PACTI (Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da
Indústria), incentivam esta busca pela melhoria e maior
competitividade, introduzindo novas conceituações sobre o
uso de tecnologias de processo, produtos e serviços.
Em 1996, através de iniciativa conjunta do BNDES, CNI e
Sebrae foi realizada pesquisa sobre "Qualidade e
produtividade na indústria brasileira", tendo por objetivo
identificar o estágio das práticas de gestão pela qualidade e
produtividade adotadas pelas empresas brasileiras. Foram
pesquisadas 1.356 empresas em 16 estados, cobrindo as
http://interdes/app/bib/geral/htm/hpbb15.htm (2 of 8) [11/10/2001 15:51:59]
Texto para reflexão
diversas regiões do país.
Os resultados da pesquisa mostram um lado bastante positivo
das mudanças que vêm sendo introduzidas nas empresas,
que é o da produção orientada para as necessidades do
consumidor. O lado negativo revelado é a relativa
despreocupação com outros fatores que intervêm fortemente
na competitividade da empresa, como, por exemplo, os
concorrentes e as novas tecnologias.
Esta ênfase na orientação para o cliente faz com que a
empresa se esqueça de que ela deve ser, simultaneamente,
orientada para o cliente e para o concorrente, se realmente
pretende ser bem sucedida. A atenção focada apenas no
cliente, leva a surpresas e perda de mercado, devido ao
aparecimento de novas tecnologias ou de uma empresa que
inesperadamente entra no mercado.
Um bom exemplo disto é o de uma subsidiária da Caterpillar,
empresa fabricante de equipamento de terraplanagem,
totalmente orientada para o cliente, durante a década de
70-80. Tinha um excelente produto, a melhor rede de
distribuidores e serviços sem igual na indústria (por exemplo,
entrega de peças em 24 horas em todo o mundo). Nesta
mesma época, a Komatsu (Japão) começou a desenvolver
"modelos mundiais", entrando em mercados menos
desenvolvidos, com preços 10 a 20% menores. O resultado
foi o crescimento do Komatsu e a perda de mercado pela
Caterpillar.
Outro exemplo a ser lembrado é o dos relógios suíços que
dominavam o mercado, com produtos de qualidade, e foram
engolidos pela tecnologia e preços japoneses.
Isso demonstra a necessidade de se criar nas empresas
brasileiras a cultura do "competitor oriented", ao lado do
"customer oriented".
http://interdes/app/bib/geral/htm/hpbb15.htm (3 of 8) [11/10/2001 15:51:59]
Texto para reflexão
Com base nesse conceito, uma forma de complementar os
esforços feitos pelo governo brasileiro no âmbito dos
programas de qualidade e produtividade é o incentivo à
implantação de sistemas de inteligência competitiva em
empresas brasileiras.
As experiências de empresas em diversos países revelam
que a busca pela excelência, pela melhoria de desempenho e
do posicionamento em seu contexto sócio-produtivo tem
concorrido para a crescente utilização de sistemas de
informação que apoiem a tomada de decisão e assegurem a
redução do tempo de resposta da empresa frente às
exigências do ambiente externo.
Os sistemas de inteligência competitiva têm por objetivo
prover as empresas de um programa sistemático de coleta e
análise da informação sobre as atividades dos concorrentes e
tendências gerais dos negócios, a fim de atingir as metas
corporativas.
Limitar-se a obter grande quantidade de dados, no entanto,
não é mais suficiente. A facilidade de acesso a redes e banco
de dados coloca ao alcance de todos uma quantidade de
informações cuja absorção total é inviável. É necessário
garimpar toda essa profusão de informações e saber
encontrar e analisar os fatos relevantes.
A inteligência competitiva tem seu início nas décadas de
70-80, apresentando um crescimento bastante grande na
década de 90, devendo alcançar sua maturidade e
reconhecimento no início do próximo século.
A definição mais básica de inteligência, nesse contexto, é
"informação analisada". A inteligência, e não a informação,
ajuda o gerente a tomar decisões. Infelizmente, as palavras
dados, informação, conhecimento, inteligência são usadas,
geralmente, de forma indiferenciada, o que torna mais difícil o
exato entendimento do significado de cada uma delas.
http://interdes/app/bib/geral/htm/hpbb15.htm (4 of 8) [11/10/2001 15:51:59]
Texto para reflexão
Inteligência ainda vem impregnada de uma carga negativa,
ligada aos sistemas de patrulhamento e espionagem e a
práticas anti-éticas de espionagem industrial.
O modelo de Inteligência Competitiva vai do dado
(considerado como matéria-prima bruta, dispersa), passa pela
informação (onde se pressupõe a existência de uma estrutura
organizada) e chega até a inteligência (onde a análise fornece
ao tomador de decisão elementos para ação).
A inteligência competitiva constitui a coleta ética e o uso da
informação pública e publicada disponível sobre tendências,
eventos e atores fora das fronteiras de empresa. É uma
metodologia para identificar as necessidades de informação
da empresa; coletar, sistematicamente, a informação
relevante e, em seguida, processá-la analiticamente,
transformando-a em elemento para tomada de decisão. O
produto final da inteligência competitiva é a informação
analisada, de interesse para os tomadores de decisão, sobre
o meio ambiente, o presente e o futuro no qual empresa
opera.
Alguns dos pressupostos básicos para implantação dos
sistemas de inteligência competitiva são:
1. Reconhecimento de que a atividade de Inteligência
Competitiva é importante para a organização: o sistema
de Inteligência Competitiva deve fazer parte da cultura
corporativa; deve ter o apoio e envolvimento do
presidente da empresa, bem como do corpo de
funcionários.
2. Priorização dos fatores críticos de sucesso: envolve a
identificação dos usuários-chave de Inteligência
Competitiva e suas necessidades prioritárias e
específInteligência Competitivaas de informação.
3. Coleta de informações formais e informais: envolve a
http://interdes/app/bib/geral/htm/hpbb15.htm (5 of 8) [11/10/2001 15:51:59]
Texto para reflexão
identificação das fontes públicas e publicadas, humanas
e não-humanas, os canais formais e informais, a coleta
de dados e a organização das informações de forma
sistêmica.
4. Interpretação das informações: a fase de análise das
informações representa fazer com que estas tenham
sentido. A interpretação é o processo analítico que
transforma dados dispersos em conhecimento estratégico
relevante, preciso e utilizável.
5. Utilização da inteligência no processo de planejamento:
se for realmente usada, a inteligência competitiva pode
ter impacto na tomada de decisão da empresa. Um
grande volume de informações é gerado e interpretado,
mas apenas uma fração, algo em torno de 10%, está
diretamente ligada à tomada de decisão.
A unidade básica de um sistema de inteligência competitiva é
o ciclo de inteligência, que é composto das seguintes etapas:
●
Planejamento e coordenação
●
Coleta, processamento e armazenamento
●
Coleta das informações informais
●
Análise e produção
●
Disseminação
O sistema de inteligência competitiva funciona como uma tela
de radar, identificando novas oportunidades ou ajudando a
evitar ameaças. Os agentes de inteligência corporativos - que
podem ser bibliotecários, engenheiros, vendedores, até
ex-agentes secretos - focalizam o ambiente competitivo geral
e acrescentam um toque analítico: a previsão da ação do
adversário.
http://interdes/app/bib/geral/htm/hpbb15.htm (6 of 8) [11/10/2001 15:51:59]
Texto para reflexão
Na Inteligência Competitiva, um conceito importante é o de
rede. Rede de comunicação e, principalmente, rede de
pessoas. A análise das informações acessíveis através de
bases de dados, publicações, patentes, etc. constitui
elemento essencial como ponto de partida. Mas, a medida em
que se vai refinando a análise, mais se torna necessário
validar as informações e, em alguns casos, completá-las. É
nesse nível que a rede vai representar um papel importante
no sistema de Inteligência Competitiva, permitindo localizar
com rapidez e na própria empresa, técnicos que avaliarão e
validarão as informações obtidas. Contudo, mesmo antes das
facilidades trazidas pela informática, as redes humanas, por
sinergia, agregavam valor ao sistema.
O desenvolvimento de sistemas de inteligência competitiva
em empresas brasileiras, é de fundamental importância para
que estas possam ser competitivas, enfrentando a
concorrência em igualdade de condições. Mas a implantação
desses sistemas no Brasil passa, necessariamente, pela
formação de massa crítica, de pessoas com capacidade para
absorver os conhecimentos e disseminá-los em larga escala
no país. Somente através da criação de uma rede de
especialistas e instituições com competência nesse campo
será possível fazer o conhecimento chegar a ser usado pelo
setor empresarial.
Todo processo de mudança requer uma mudança de
mentalidade e de comportamento e é através de uma ampla
divulgação e disseminação da Inteligência Competitiva nas
empresas brasileiras que se criará uma mentalidade
empresarial que a entenda como um fator importante para o
sucesso dos negócios e que torne acessível o uso de
sistemas de Inteligência Competitiva, pois se se pretende
ocupar espaços nesse mundo globalizado, ao mesmo tempo
tão vasto e tão pequeno, é imprescindível que se saiba fazer
uso da informação como instrumento estratégico.
http://interdes/app/bib/geral/htm/hpbb15.htm (7 of 8) [11/10/2001 15:51:59]
Texto para reflexão
http://interdes/app/bib/geral/htm/hpbb15.htm (8 of 8) [11/10/2001 15:51:59]
Download

Texto para reflexão