Controle de florações de cianobactérias tóxicas – busca por auto-inibidores de crescimento em Microcystis DIOGO DE ABREU MEIRELES Dissertação apresentada ao centro de Biociências e Biotecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Biociências e Biotecnologia, com ênfase em Biologia Molecular e Biotecnologia. Orientadora: Dra. Denise Saraiva Dagnino Campos dos Goytacazes - RJ Maio, 2006 Controle de florações de cianobactérias tóxicas – busca por auto-inibidores de crescimento em Microcystis DIOGO DE ABREU MEIRELES Dissertação apresentada ao centro de Biociências e Biotecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Biociências e Biotecnologia, com ênfase em Biologia Molecular e Biotecnologia. Aprovada em 24 de maio de 2006. Comissão examinadora: ___________________________________________________________________ Profa. Anna Lvovna Okorokova Façanha (Dra. em Química Biológica) – UENF ___________________________________________________________________ Prof. Arnoldo Rocha Façanha (Dr. em Química Biológica) – UENF ___________________________________________________________________ Prof. Gonçalo Apolinário de Souza Filho (Dr. em Biociências e Biotecnologia) – UENF ___________________________________________________________________ Profa. Vera Lúcia de Moraes Huszar (Dra. em Ecologia e Recursos Naturais) – Museu Nacional/RJ ___________________________________________________________________ Profa. Denise Saraiva Dagnino (Dra. em Ciências Matemáticas e da Natureza) – UENF (Orientadora) ii “Se um dia já homem feito e realizado sentires que a terra cede aos teus pés, que tuas obras desmoronam, que não há ninguém a tua volta para te estender a mão, esquece a tua maturidade, passa pela tua mocidade, volta a tua infância e balbucia, entre lágrimas e esperanças, as últimas palavras que sempre te restarão na alma Minha Mãe, Meu Pai!” Rui Barbosa Dedico este trabalho a minha família: meu pai, Idevaldo; minha mãe, Norma; minha irmã, Elaine e meu sobrinho, Gabriel. AMO VOCÊS. iii EU Agradecimentos ___________________________________________________________________ Agradecimentos: Agradeço a Deus por me dar força nos momentos de luta e esperança quando sentia que tudo estava perdido. Agradeço aos meus tios e primos por todo carinho e conforto. Agradeço aos meus amigos: Ana Lustozza, Gabriela Gesualdi, Gustavo Chagas, Izabela da Silva, Maria Cristina, Thaís Granato, Wendell e em especial Anna Rosa Carvalho, Inês Costa, Janice Dias e Viviane Cabral, por sete anos companheirismo. Agradeço as minhas companheiras de trabalho e amigas: Ana Laura Boechat, Erika Fraga, Érica Santana, Gláucia Fragoso, Marina Silva, Rafaela Silva e Thays Abreu. Agradeço a Débora Abreu Rangel pelo carinho e amizade. Agradeço a minha orientadora, profa. Denise Saraiva Dagnino pela minha formação. Agradeço ao prof. Jan Schripsema, pela interpretação dos espectros de RMN e apoio na realização deste trabalho. Agradeço ao prof. João Carlos de Aquino Almeida, pelas micrografias eletrônicas e também pela amizade. Agradeço ao revisor desta dissertação, o prof. Ekkhard Ernst Theodor Hansen pela boa vontade. Agradeço as profas. Anna L. Okorokova Façanha e Tânia Jacinto pelo apoio nos momentos finais de minha formação. Agradeço a todos os membros da banca por terem participado da defesa desta dissertação. Agradeço a todos os companheiros de laboratório que por muitos anos estiveram presentes em minha vida acadêmica. iv Agradecimentos ___________________________________________________________________ Agradeço aos demais professores que compartilharam seus conhecimentos ao longo do curso. v Índice ___________________________________________________________________ Índice geral: Lista de abreviaturas........................................................................................... ix Índice de figuras.................................................................................................. x Índice de tabelas................................................................................................. xi Resumo................................................................................................................ xii Abstract............................................................................................................... xiv 1- Introdução........................................................................................................ 01 1.1- As cianobactérias...................................................................................... 01 1.2 - A fisiologia da fase estacionária............................................................... 06 1.2.1- Introdução...................................................................................... 06 1.2.2 - Em cianobactérias......................................................................... 09 1.3 - A comunicação intercelular em microorganismos.................................... 12 1.3.1- Introdução...................................................................................... 12 1.3.2- Outras classes de sinais extracelulares presentes em culturas estacionárias de microorganismos........................................................... 16 2- Objetivos.......................................................................................................... 21 2.1- Objetivo geral........................................................................................... 21 2.2- Objetivos específicos............................................................................... 21 3- Material e Métodos........................................................................................ 22 3.1- Cepas de cianobactérias e condições de cultivo...................................... 22 3.2- Caracterização das células de Microcystis PCC 7806 em diferentes 22 estágios de crescimento................................................................................... 23 3.2.1- Crescimento e perfil de pigmentos................................................. 23 3.2.2- Estimativa do conteúdo de glicogênio – método enzimático.......... 23 3.2.2.1- Hidrólise ácida................................................................... 24 3.2.2.2- Quantificação de glicose................................................... 24 3.2.2.3 -Quantificação das amostras.............................................. 25 3.2.3 -Estimativa do conteúdo de proteínas solúveis............................... 25 3.2.3.1 - Extração de proteínas solúveis........................................ 26 3.2.3.2 - Obtenção da curva de calibração..................................... 26 3.2.3.3 - Quantificação das amostras............................................. 27 3.2.4- Perfil metabólico - Ressonância Magnética Nuclear (RMN).......... 27 vi Índice ___________________________________________________________________ 3.2.4.1- Procedimento de extração................................................ 28 3.2.4.2- Análise dos extratos.......................................................... 28 3.2.5- Ultra-estrutura – microscopia eletrônica......................................... 28 3.2.6- Viabilidade das células cloróticas................................................... 29 3.2.6.1- Capacidade de crescimento de cultivos cloróticos 29 inoculados em 2 ASM-1................................................................. 29 3.2.6.2- Verificação da integridade de membrana de células cloróticas........................................................................................ 30 3.3- Auto-regulação do crescimento................................................................. 30 3.3.1- Efeito do meio condicionado, obtido de culturas cloróticas, sobre o crescimento de culturas da mesma cepa, mantidas em meio rico em nutrientes................................................................................................... 30 3.3.1.1- O ensaio de inibição........................................................... 31 3.3.2- Investigação do mecanismo envolvido na inibição do crescimento 32 3.3.2.1- Perfil de pigmentos e ultraestrutura de células tratadas com meio condicionado................................................................... 32 3.3.2.2- Atividade do meio condicionado sobre culturas da mesma cepa de diferentes idades.................................................. 32 3.3.3- Especificidade da atividade do meio condicionado......................... 33 3.4- Extração e caracterização preliminar do fator responsável pela atividade do meio condicionado sobre culturas saudáveis de Microcystis PCC 7806.................................................................................................................. 33 3.4.1- Extração do meio condicionado.................................................... 33 3.4.1.1- Empacotamento e ativação da coluna.............................. 34 3.4.1.2- Obtenção do extrato.......................................................... 34 3.4.2- Testes de estabilidade................................................................... 34 3.4.3- Purificação inicial............................................................................ 35 3.4.4- Análise por CLAE........................................................................... 35 3.4.4.1- Parâmetros da análise...................................................... 36 3.4.4.2- Processamento das frações.............................................. 36 4- Resultados e discussão................................................................................. 38 4.1- Caracterização de culturas de Microcystis PCC 7806 de diferentes estágios de crescimento................................................................................... 38 vii Índice ___________________________________________________________________ 4.1.1- Curva de crescimento e dinâmica no conteúdo de pigmentos durante cultivo de Microcystis PCC 7806 por longos períodos................. 38 4.1.2- Cultivo de células cloróticas em meio 2 ASM-1............................. 39 4.1.3 - Verificação da integridade de membrana....................................... 40 4.2 - Caracterização dos dois fenótipos........................................................... 46 4.2.1 - Diferenças na ultraestrutura........................................................... 46 4.2.2 - Diferenças no acúmulo de glicogênio............................................ 47 4.2.3 – Conteúdo de proteínas solúveis.................................................... 50 4.2.4 - Diferenças no perfil metabólico...................................................... 51 4.3- Auto-regulação do crescimento de Microcystis PCC 7806....................... 57 4.3.1 - O efeito do meio condicionado de Microcystis sobre o crescimento e conteúdo de pigmentos da mesma cepa.......................... 57 4.3.2 - Atividade do meio condicionado ativo sobre outras cepas........... 59 4.4 - Investigação do mecanismo de inibição................................................... 62 4.4.1 - Efeito do meio condicionado ativo sobre o perfil de pigmentos, ultraestrutura e viabilidade de células de Microcystis PCC 7806............. 62 4.5 - Extração e caracterização preliminar do fator responsável pela atividade do meio condicionado em culturas de Microcystis PCC 7806.......... 64 4.5.1 - Extração....................................................................................... 65 4.5.2 - Análise por CLAE......................................................................... 66 4.6 - Considerações finais................................................................................ 69 5- Conclusões...................................................................................................... 73 5.1- Caracterização de culturas de Microcystis PCC 7806 em diferentes estágios de crescimento................................................................................... 73 5.2 - Auto-regulação do crescimento em Microcystis PCC 7806..................... 73 6- Referências bibliográficas.............................................................................. 75 7- Anexos............................................................................................................. 91 viii Lista de abreviaturas ___________________________________________________________________ Lista de abreviaturas: AHB: Alquilhidroxibenzeno; AHL: N-acil homoserina lactona; ASB: Albumina sérica bovina; ADN: Ácido desoxiribonucléico; DO: Densidade óptica; EDTA: Àcido etilenodiaminotetracético; GOD: Glicose oxidase; CLAE: Cromatografia líquida de alta eficiência HSL: Homoserina lactona; ODS: Octadodecilsilano; PCC: Pasteur culture collection; PHB: Poli-hidroxibutirato; POD: Peroxidase; RMN: Ressonância magnética nuclear; ARN: Ácido ribonucléico; TFA: Ácido trifluoracético; UV: Ultravioleta; ix Índice de figuras ___________________________________________________________________ Índice de figuras: Figura 1- Exemplo de floração de cianobactéria do gênero Microcystis....................3 Figura 2 - Mecanismo de ‘quorum sensing’ em Photobacterium fischeri..................15 Figura 3 - Alguns exemplos de moléculas envolvidas no processo de comunicação intercelular em microorganismos...............................................................................20 Figura 4 - Curva de crescimento...............................................................................41 Figura 5 - Espectros de absorção de suspensão de células de Microcystis PCC 7806 coletadas com 3, 15 e 35 dias de cultivo..........................................................42 Figura 6 - Fenótipos de Microcystis PCC 7806 em diferentes estágios de cultivo....43 Figura 7 - Experimento de regeneração....................................................................44 Figura 8 - Micrografias eletrônicas de células de Microcystis sob diferentes condições...................................................................................................................48 Figura 9 - Estimativa do conteúdo de glicogênio.......................................................49 Figura 10 - Espectros de 1H RMN (400 mHz) de células de Microcystis PCC 7806 coletadas em diferentes estágios de crescimento da cultura.....................................56 Figura 11 - Efeito do meio condicionado ativo sobre o crescimento de culturas de Microcystis crescidas em meio repleto de nutrientes.................................................58 Figura 12 - Efeito da adição do meio condicionado ativo em culturas de Microcystis com 4, 7, 10 e 14 dias de crescimento.......................................................................61 Figura 13 - Cromatograma da fração ativa e atividade das frações coletadas após passagem por CLAE..................................................................................................68 x Índice de tabelas ___________________________________________________________________ Índice de tabelas: Tabela 1- Informações auxiliares aos espectros dos extratos aquosos.................55 Tabela 2- Informações auxiliares aos espectros dos extratos metanólicos............55 Tabela 3- Informações auxiliares aos espectros dos extratos clorofórmicos..........55 Tabela 4- Comparação do efeito do meio condicionado de culturas cloróticas de Microcystis PCC 7806 sobre o crescimento de outras cepas....................................60 xi Resumo ___________________________________________________________________ Resumo A ocorrência de florações de cianobactérias em corpos d´água vem aumentando em todo o mundo nos últimos anos. Essas florações geralmente são tóxicas e por isso, geram sérios riscos de intoxicação à população humana. O objetivo deste trabalho foi detectar a produção de auto-inibidores de crescimento em Microcystis PCC 7806. O cultivo de Microcystis por longos períodos de tempo em meio ASM-1 líquido leva ao aparecimento de dois fenótipos distintos: um durante a fase de multiplicação celular onde a cultura é verde e outro na fase estacionária onde a cultura torna-se clorótica (sem pigmentos). O espectro visível dessas culturas cloróticas mostrou a redução da concentração de clorofila a. A comparação do perfil metabólico, conteúdo de glicogênio e da ultraestrutura entre as células verdes e cloróticas revelou várias diferenças. As culturas cloróticas permanecem viáveis e voltam a adquirir o tom verde característico da cultura em fase de crescimento, quando inoculadas em meio repleto de nutrientes. Um sinal extra-celular foi detectado no meio de cultura (meio condicionado) das células cloróticas: quando o meio condicionado de células cloróticas é adicionado a culturas verdes em fase de crescimento, a multiplicação das células dessa cultura é drasticamente reduzida quando comparada à multiplicação em culturas controle (onde foram adicionados ou água ou meio novo ao invés de meio condicionado). A inibição da multiplicação com a adição de meio condicionado foi observada em culturas em qualquer fase de crescimento. Esses efeitos não são específicos para a cepa, mas parecem ser, no mínimo específicos para o gênero já que outras cepas de Microcystis respondem da mesma maneira ao tratamento com o meio condicionado e outros gêneros testados (Synechocystis e Synechococcus) não tiveram seu crescimento alterado após a xii Resumo ___________________________________________________________________ adição deste meio. A investigação do mecanismo de inibição da multiplicação celular revelou que as culturas tratadas com o meio condicionado adquirem também um aspecto clorótico, com a concentração de pigmentos similar ao encontrado em culturas cloróticas. A observação da ultra-estrutura das células tratadas demonstrou que o meio condicionado induz a desorganização dos tilacóides. Um extrato ativo foi obtido e experimentos mostraram que a sua atividade não é alterada após fervura ou adição de solventes. Estes fatos indicam que o (s) fator (es) encontrado (s) no meio condicionado de células cloróticas se trata de um composto não-proteico e apolar. Parte deste trabalho foi publicado na revista Environmental Microbiology (2006) 8(1): 30-36. xiii Abstract ___________________________________________________________________ Abstract The frequency of cyanobacterial blooms has been increasing all over the world. These blooms are often toxic and have become a serious health problem. The aim of this work was to detect extra-cellular signalling molecules that could coordinate proliferation of Microcystis PCC 7806. Microcystis cultured for long periods in liquid ASM-1 medium looses its characteristic green colour. Whole cell visible spectra of these cultures show a reduced chlorophyll peak. The comparison of the metabolic profiles, glycogen acummulation and the ultra-structure of green and chlorotic cells revealed several differences between these cells. Chlorosis is reversible; when the pale culture is transferred back to ASM-1 medium it regains its characteristic colour within a week or two. An extra-cellular signal has been found in the culture medium of starved cultures: when culture medium from chlorotic cells is added to a normal culture, cell density increase (measured by turbidity) is drastically reduced when compared to controls. Inhibition of cell proliferation by the conditioned medium occurs during all stages of development; reduced cell density increase and induced chlorosis occur no matter at what stage the conditioned medium is added to cultures. These effects are not strain specific but seem to be at least genus specific; other Microcystis strains respond the same way to the conditioned medium, but other genera tested (Synechocystis e Synechococcus) showed no detectable response. Investigations on the mechanism of growth inhibition showed that cultures treated with the conditioned medium acquired a pale colour, with pigment concentration similar to that found in chlorotic cultures. Ultrastructural examination showed that the condicioned medium induced thylakoid membrane disorganization, typical of the chlorotic cells, in nutrient-replete cultures. An active extract was obtained and xiv Abstract ___________________________________________________________________ investigations showed that activity was retained after heating and after addition of an apolar solvent. This indicates that activityof the condicioned medium from chlorotic cells results from non-protein, apolar compound (s). Part of this work was published in Environmental Microbiology (2006) 8(1): 30-36. xv 1 Introdução ___________________________________________________________________ 1- Introdução: 1.1- As cianobactérias: As cianobactérias, também chamadas de cianofíceas ou algas azuis, são organismos procariontes que diferem das demais bactérias fotossintetizantes pelo fato de serem fototróficas oxigênicas, ou seja, realizam a fotossíntese com a liberação de oxigênio. Esses microorganismos possuem diversos mecanismos para se adaptar a diferentes condições ambientais. São amplamente distribuídos pelo mundo ocorrendo nos mais variados tipos de ambientes terrestres e aquáticos e são capazes de colonizar ambientes extremos, como por exemplo, cinzas vulcânicas, desertos arenosos e rochas (Dor & Danin, 1996). As cianobactérias possuem grande importância econômica. Alguns gêneros são diazotróficos (fixadores de nitrogênio molecular) e contribuem para a fertilização da água e do solo (Rai, 1990). Algumas espécies são usadas na indústria alimentícia por apresentarem alto valor nutricional (Borowitska & Borowitska, 1988). Elas também são uma rica fonte de novas substâncias com potencial interesse farmacêutico, já que produzem uma grande variedade de metabólitos secundários com atividade biológica (Patterson et al., 1994). As cianobactérias têm a capacidade de se multiplicar rapidamente em águas ricas em nutrientes (principalmente fósforo e compostos nitrogenados) (Watanabe et al., 1986; Codd, 1984). Durante os últimos anos, o que tem chamado atenção para este grupo de microorganismos são as florações. Florações de cianobactérias são o resultado da multiplicação excessiva das células que chega a alterar a coloração da água para verde ou vermelha. 2 Introdução ___________________________________________________________________ A freqüência de florações vem aumentando nos últimos anos devido aos problemas crescentes de poluição em corpos d’água (rios, lagos, reservatórios, etc). A atividade agrícola e o lançamento descontrolado de esgoto não tratado, devido ao crescimento das cidades, são tidos como os maiores responsáveis pela aceleração dos processos naturais de eutrofização. Fatores climáticos que favorecem o surgimento de florações são altas temperaturas e ambiente sem chuva. A população de cianobactérias quando dispersa na coluna d’água pode parecer pouco densa. No entanto, quando as condições atmosféricas são favoráveis as células concentram-se na superfície da água em poucas horas. Estas podem, em seguida, ser arrastadas para as margens da massa d’água por ação do vento e gerar uma concentração maior de células (Fig. 1). A decomposição de enorme quantidade de biomassa acumulada por esses microorganismos, leva à desoxigenação da água causando prejuízos em todo o ecossistema. As florações são indesejáveis não apenas por prejudicar a estética local devido à formação de grossas natas verdes e odores fétidos nas margens, mas também porque cerca de 60 % das florações são tóxicas (Carmichael & Gorham, 1981; Repavich et al., 1990; Costa & Azevedo, 1995). Existem vários gêneros de cianobactérias de água doce, capazes de produzir potentes toxinas, tais como Anabaena, Aphanizomenom, Microcystis e Oscillatoria (Chorus & Bartram, 1999). As toxinas produzidas por estes gêneros são classificadas, de acordo com os sintomas que provocam em mamíferos: hepatotoxinas, neurotoxinas e dermatotoxinas. 3 Introdução ___________________________________________________________________ Retirado de http://bilbo.bio.purdue.edu/www-cyanosite/index.html Fig. 1- Exemplo de uma floração de cianobactéria do gênero Microcystis. Esta densidade só foi atingida graças à ação do vento. As neurotoxinas produzidas por cianobactérias são anatoxina-a, anatoxinaa(s) e saxitoxinas. Em caso de intoxicação aguda seus efeitos são muito rápidos, provocando a morte por parada respiratória em poucos minutos (Carmichael, 1992). As hepatotoxinas, microcistinas e nodularinas (peptídeos cíclicos), cilindrospermopsinas (alcalóides) atuam de um modo mais lento; em animais foi observado que provocam danos hepáticos e hemorragias, resultando num forte choque circulatório e na perda de funções hepáticas (Hooser et al., 1991). As microcistinas, quando ingeridas em doses subletais, podem atuar como promotores de tumores hepáticos (Falconer, 1991). Os registros de intoxicações causadas por ingestão de água com florações de cianobactérias são encontrados em todo o mundo (Carmichael, 1981). A maioria dos 4 Introdução ___________________________________________________________________ casos descreve a intoxicação ou morte de animais silvestres e domésticos após o consumo de água contaminada. Em 1990, na Escócia, foi registrada a morte imediata de vários cães após a ingestão da água de um lago contendo uma floração neurotóxica de Oscillatoria (Cood & Battie, 1991; Edwards et al., 1992; Gunn et al., 1992). Na Inglaterra, em 1989, uma floração de Microcystis aeruginosa, num reservatório de água, provocou a morte de 20 cordeiros e 15 cães (Codd & Battie, 1991; Hunter & Roberts, 1991). Apesar da freqüência com que as florações tóxicas surgem, o número de intoxicações humanas agudas, quando comparadas com o número de intoxicações em animais, não é elevado. Isto se deve, provavelmente ao fato do homem selecionar mais a água que consome. Os maiores problemas em humanos surgem geralmente devido ao contato direto com as cianobactérias durante a recreação em massas d’água contaminadas, ou devido ao tratamento insuficiente dos reservatórios de água potável. Durante o tratamento geralmente ocorre a ruptura das células, o que ocasiona a liberação das toxinas para a água. As intoxicações agudas provocadas por cianobactérias podem provocar sintomas no homem, tais como: reações alérgicas (asma, irritação nos olhos, dermatites), gastroenterites ou hepatoenterites com diarréia e dores, letargia, tremores musculares e respiração ofegante (Beasley et al., 1989), enfraquecimento, anorexia, palidez das membranas mucosas e extremidades frias (Carmichael, 1992). No Brasil, são descritos dois casos trágicos de intoxicação humana por cianobactérias: em 1988 foi constatada a correlação epidemiológica entre a floração de cianobactérias no Reservatório de Itaparica, BA e a morte de 88 pessoas entre 2000 intoxicadas (Teixeira et al., 1993). Mais recentemente, em 1996, foi comprovada a presença de microcistina na água que abastecia o Centro de 5 Introdução ___________________________________________________________________ Hemodiálise de Caruaru, PE. Setenta e seis pacientes morreram de um total de 116 pessoas intoxicadas após tratamento nessa instituição (Azevedo, 1996, Jochimsen et al.,1998). No ano de 2002, no município de Campos dos Goytacazes - RJ, o aumento de matéria orgânica e a baixa vazão do rio Paraíba do Sul contribuíram para o surgimento de uma floração de cianobactérias. A água deste rio é usada para abastecimento urbano. O surgimento desta floração causou a interrupção no abastecimento de água por vários dias, devido a relatos de pessoas hospitalizadas após o consumo desta água. Os casos descritos acima tornam evidente a importância do estudo da fisiologia e do metabolismo desses microorganismos, com o objetivo buscar maneiras de controlar a formação de florações de cianobactérias potencialmente tóxicas. Várias estratégias de combate às florações de cianobactérias têm sido desenvolvidas. Na tentativa de prevenir o surgimento de florações procura-se diminuir a descarga de matéria orgânica em corpos d’ água como rios, lagos e reservatórios, desacelerando o processo de eutrofização. Quando já existe a floração, outros métodos podem ser aplicados na tentativa de diminuir a concentração das células: métodos físicos, que incluem a regulação do fluxo da água, sua aeração e/ou controle da luminosidade e métodos químicos, como o uso de algicidas, sendo o exemplo mais comum o uso de sulfato de cobre. Todas essas alternativas de solucionar o problema têm se mostrado ineficazes, ou por serem praticamente inaplicáveis em larga escala, ou porque durante o processo ocorre a lise das células, aumentando a liberação de toxinas para a água o que, muitas vezes, agrava o problema. 6 Introdução ___________________________________________________________________ 1.2- A fisiologia da fase estacionária: 1.2.1- Introdução: As bactérias são os organismos mais abundantes da superfície terrestre, podendo ser encontradas praticamente em qualquer tipo de ambiente. Em seus habitats naturais elas se encontram, na maior parte do tempo, em um estado fisiológico caracterizado por ausência de multiplicação (Kolter et al., 1993 e Huisman et al., 1996) principalmente devido à baixa disponibilidade de nutrientes. Estudos sobre a multiplicação celular bacteriana em laboratório mostram que a limitação de um ou mais nutrientes durante o cultivo leva a uma progressiva parada na multiplicação das células até a entrada para a fase estacionária (Kolter, 1993). Vários estudos demonstram que populações de bactérias na fase estacionária não só simplesmente param de se multiplicar, durante esta fase são iniciados elaborados programas do desenvolvimento celular que estão intimamente associados aos mecanismos de sobrevivência destes microorganismos no ambiente - ciclos de vida (para citar alguns exemplos: Shapiro et al., 2000; Kjelleberg et al., 1993; Lange et al., 1991). O exemplo mais claro deste tipo de adaptação é quando bactérias formam esporos. Os esporos bacterianos são células metabolicamente inativas que apresentam alta resistência a estresses ambientais (como dissecação, frio e calor) e deste modo, são capazes de persistir no ambiente por longos períodos de tempo (Atrih & Foster, 1999). As bactérias que formam esporos são Gram-positivas e geralmente pertencem aos gêneros Bacilli, Clostridia e Azospirilli. O processo de esporulação nestas bactérias está relacionado com a resposta à privação de nutrientes e ocorre durante a entrada para a fase estacionária. 7 Introdução ___________________________________________________________________ O processo de esporulação mais estudado é o que ocorre na bactéria Baccillus subtilis. A entrada para a fase estacionária nesta bactéria leva à ativação de um programa genético que culmina na formação de um endosporo (Shapiro et al., 2000) que após sucessivos estágios de amadurecimento é liberado, com a lise da célula-mãe, para o ambiente. Este esporo permanece viável, pois assim que as condições favoráveis são re-estabelecidas ele é capaz de germinar dando origem a uma nova população de células. Para bactérias que não produzem esporos, as estratégias desenvolvidas para resistir ao período de falta de nutrientes não são tão claras. A adaptação à exaustão de nutrientes em bactérias Gram-negativas envolve uma série de eventos intracelulares altamente organizados que capacitam as células à sobrevivência ao período de privação de nutrientes (Kjelleberg et al., 1993). Em E. coli, a entrada para a fase estacionária é acompanhada por mudanças na morfologia das células; estas se apresentam menores e mais esféricas (Lange et al., 1991). Essas mudanças na morfologia são acompanhadas por uma alteração nos compartimentos sub-celulares, o citoplasma se apresenta mais condensado e o volume periplasmático maior (Reeve et al., 1984). A redução do tamanho celular em resposta à entrada para fase estacionária parece ser uma estratégia de sobrevivência bastante comum em bactérias marinhas como Vibrio, Pseudomonas, Aeromonas, Alcaligenes spp. (para uma revisão detalhada ver Kjelleberg et al., 1987) e bactérias do solo como Rhizobium leguminosarium. Esta redução no tamanho celular ocorre de maneira geral como resultado de sucessivas divisões celulares sem que ocorra um aumento na massa celular (Ingramham et al., 1983 e Williams & Thorne, 1997). 8 Introdução ___________________________________________________________________ Estudos mais recentes demonstram que durante a privação de nutrientes o material genético de E. coli também passa por modificações estruturais. Foi visto que a cromatina sofre uma transição reversível que permitem a proteção de seu DNA: ela se apresenta altamente condensada e ordenada. Essa modificação parece ser ditada por propriedades intrínsecas da molécula de DNA e parece ser um mecanismo comum entre bactérias Gram-negativas (Frenkiel-Krispin et al., 2004 e Minsky et al., 2002). Os estudos demonstram também que as células bacterianas na fase estacionária apresentam no geral um decréscimo na síntese de RNA, DNA e proteínas (Schultz et al., 1988 e Williams & Thorne, 1997) e adquirem resistência a vários tipos de estresses, tais como: agentes oxidativos, altas temperaturas, radiação ultravioleta, resistência a ácidos, etc (Foster et al., 1995; Kjelleberg et al., 1993). Bactérias Gram-positivas que não esporulam também sofrem mudanças na fisiologia das células. Em Micrococcus luteus foi mostrado que, quando esta bactéria é submetida a prolongados períodos de ausência de nutrientes, ela se mantém num estado de dormência; as células neste estado foram incapazes de formar colônias em placas contendo meio sólido apropriado (Kaprelyants & Kell, 1993) e somente foram ‘ressuscitadas’ quando condições especiais de cultivo foram aplicadas (Mukamolova et al., 1998). A resposta de Staphylococccus aureus à limitação de glicose ou à limitação de vários de nutrientes resulta numa estratégia um pouco diferente. Inicialmente ocorre a perda de viabilidade de 99 a 99,9 % da população. As células que sobrevivem ao período de privação de nutrientes permanecem viáveis por muito tempo e adquirem um maior potencial de sobrevivência. As células que sobrevivem 9 Introdução ___________________________________________________________________ também apresentam uma diminuição do tamanho e um aumento na resistência a estresses oxidativos e a ácidos; adaptações que se assemelham às descritas para bactérias Gram-negativas (Watson et al., 1998). 1.2.2- Em cianobactérias: Em cianobactérias adaptações a condições de escassez de nutrientes também ocorrem. A transcrição de um grande número de genes é influenciada por mudanças ambientais (Tandeu de Marsac & Houmand, 1993) e em resposta a essas mudanças, alguns gêneros de cianobactérias filamentosas, pertencentes à ordem Nostocales (subseção IV) e à ordem Stigonematales (subseção V), são capazes de produzir células altamente especializadas: os acinetos e heterocitos. Os acinetos são células especializadas que funcionalmente se assemelham aos esporos bacterianos. Eles se originam a partir da diferenciação de uma célula vegetativa do filamento, e são observados com maior freqüência em culturas estacionárias. Os acinetos são resistentes ao frio e à dissecação, mas não ao calor (Nichols & Adams, 1982; Adams, 1992). Os acinetos apresentam um grande espessamento da parede celular (Herdman, 1987,1988) e podem apresentar um volume celular até dez vezes maior ao de uma célula vegetativa (Fay, 1969). No citoplasma é observado um grande acúmulo de grânulos de cianoficina e glicogênio (Simon, 1987). Também são consideradas células dormentes por apresentarem atividade metabólica muito baixa ou indetectável (Raí et al., 1985; Sarma & Ghai, 1998). Assim como os esporos de bactérias, os acinetos são capazes de germinar quando as condições de crescimento são re-estabelecidas (Nichols & Adams, 1982; Herdman, 1987). Os heterocitos são células especializadas que são responsáveis pelo processo de fixação de nitrogênio. Eles se originam a partir da diferenciação de 10 Introdução ___________________________________________________________________ algumas células vegetativas dentro do filamento sempre em resposta a escassez de nitrogênio (Adams & Duggan, 1999). As enzimas responsáveis pela fixação do nitrogênio (as nitrogenases) são extremamente sensíveis à presença de oxigênio. Deste modo, ao longo do processo de diferenciação em heterocitos, as células vegetativas sofrem uma série de modificações estruturais que permitem criar, no seu interior, um ambiente livre de oxigênio (Wolk et al., 1998). Para cianobactérias que não possuem a capacidade de produzir acinetos e heterocitos, outros tipos de estratégias parecem ter sido desenvolvidas na tentativa de se adaptar ao período de privação de nutrientes. Cianobactérias incapazes de produzir acinetos e heterocitos podem responder à privação de seus nutrientes essenciais (p. ex. nitrogênio, fósforo e enxofre) pela degradação reversível de seus pigmentos fotossintéticos, num processo conhecido como clorose (Allen & Smith, 1969 e Lau et al., 1977). O fenômeno de clorose é observado tanto em gêneros de cianobactérias filamentosas quanto unicelulares (Allen & Smith, 1969). Em 1998, Görl e colaboradores iniciaram estudos sobre os efeitos da privação de nitrogênio em culturas do gênero unicelular Synechococcus PCC 7942. Eles observaram que após a transferência da cultura para um meio de cultivo sem nitrogênio (em condições padronizadas), o processo de clorose apresenta três fases distintas: Uma fase inicial marcada por um rápido declínio no conteúdo das ficobiliproteínas e quase nenhuma alteração no conteúdo de clorofila a; uma fase intermediária onde é observada uma gradativa redução nos níveis de clorofila a; e uma fase final, onde os níveis dos pigmentos fotossintéticos chegam a valores indetectáveis e as células se tornam completamente apigmentadas (cloróticas). Esta acentuada queda nos níveis dos pigmentos fotossintéticos, observada nesta fase 11 Introdução ___________________________________________________________________ final, poderia ser interpretada como irreversível perda de viabilidade (Tandeu de Marsac & Houmard, 1993). Porém, os experimentos de regeneração mostraram, que as células cloróticas mantiveram sua viabilidade, ou seja, poucos dias após reinoculadas em meio de cultura contendo nitrato, os pigmentos fotossintéticos foram re-sintetizados e o crescimento da cultura foi novamente observado (Görl et al., 1998). A diferenciação em células cloróticas, em resposta à privação de nitrogênio, mostra características de um estado de dormência. Em 2001, Saüer e colaboradores investigaram os mecanismos de manutenção de viabilidade nas células cloróticas de Synechococcus PCC 7942. Eles observaram que durante o processo de aclimatação à falta de nitrogênio as células apresentam uma drástica redução no conteúdo de proteínas solúveis. Experimentos sobre a síntese protéica (através da incorporação de aminoácidos radioativos) mostraram que as células cloróticas mantêm um nível basal de expressão gênica e que a homeostase energética, nas células cloróticas, foi mantida por uma pequena fração da atividade fotossintética de células em fase de crescimento. Estes estudos demonstram claramente que o fenômeno de clorose nesta cepa faz parte de um processo de aclimatação no qual as células vegetativas, em resposta a falta de nitrogênio, se diferenciam em células não pigmentadas (cloróticas) que apresentam características de um estado de dormência. Este mecanismo possibilita a sobrevivência a prolongados períodos de privação de nutrientes, uma vez que mutantes que não reagem desta maneira perdem rapidamente a viabilidade (Görl et al., 1998). No meio ambiente também podem ser observadas células de cianobactérias com características de um estado de dormência. Em países onde as estações do ano são bem definidas, o surgimento de florações de Microcystis parece obedecer a 12 Introdução ___________________________________________________________________ um ciclo anual. O aparecimento das células na coluna d’água é observado no final da primavera e é seguido por sucessivas florações durante todo o verão. Durante o outono e o inverno raramente são observadas células na coluna d’água (Brunberg & Boström, 1992). Os estudos iniciais demonstram que durante o inverno as células persistem nos sedimentos (forma bentônica) dos lagos. Esta forma bentônica parece ser de grande importância ecológica, pois estas células permanecem viáveis e servem como inóculo para o recomeço de seu ciclo anual (Brunberg et al., 2003; Fallon & Brock, 1981; Reynolds et al., 1981 e Preston et al., 1980). Em 2004, Latour e colaboradores publicaram estudos sobre a caracterização metabólica da população de células bentônicas de Microcystis. Neste estudo, a atividade metabólica das células, medida através de atividade enzimática, foi monitorada ao longo do ano. Foi observado que durante o inverno, quando as temperaturas são menores, as células bentônicas apresentam um nível residual de atividade enzimática, permanecendo viáveis. Na primavera, o aumento da temperatura leva a reativação das células e novamente o ciclo é recomeçado. Estudos mais detalhados sobre os mecanismos envolvidos na manutenção da viabilidade em Microcystis durante o período de baixa atividade metabólica ainda não foram realizados. 1.3- A comunicação intercelular em microorganismos: 1.3.1- Introdução: A comunicação intercelular é utilizada por muitos tipos de microorganismos para regular a expressão de genes da população e o seu desenvolvimento. Uma das formas de sinalização intercelular mais bem estudadas envolve uma resposta regulatória a sinais relacionados com a densidade celular. Este processo, às vezes 13 Introdução ___________________________________________________________________ chamado de ‘quorum sensing’ (Fuqua et al., 1994), é caracterizado tipicamente por eventos de regulação metabólica que são induzidos em células crescendo em altas densidades. Em bactérias gram-negativas a comunicação intercelular freqüentemente envolve a utilização de pequenas moléculas sinais chamadas de Nacil homoserina lactonas – as AHLs (Fuqua et al., 1996). Em bactérias grampositivas o processo de ‘quorum sensing’ utiliza peptídeos ou peptídeos processados como moléculas sinalizadoras (Miller & Bassler, 2001). O primeiro modelo de ´quorum sensing´ caracterizado foi o da bactéria luminescente gram-negativa Photobacterium fischeri (mais conhecida como Vibrio fischeri). Esta bactéria habita ambientes marinhos, e quando se encontra livre na água do mar, sua densidade populacional geralmente é menor do que 100 céls/mL (Ruby & Nealson, 1978; Ruby et al., 1980; Baumann & Baumann, 1981), e suas células não emitem luz. Porém, em simbiose com alguns peixes e lulas de águas profundas, essa bactéria atinge concentrações de 1010 - 1011 céls/ml (Dunlap & Greenberg, 1991; Ruby, 1996), e nessa concentração emite luminescência. Esse fato levou os pesquisadores a investigar o mecanismo que a bactéria utiliza para monitorar a expressão dos genes relacionados com a produção de luz. Hoje se sabe que o sistema utilizado por P. fischeri é composto de: uma AHL, purificada e identificada como 3-oxo-hexanoil-L-homoserina lactona (3-oxo-C6 HSL) (Eberhard, 1981) e de genes lux que estão organizados em duas unidades transcricionais: luxR e luxICDABEG. O gene luxR codifica um regulador transcricional que, quando ligado à AHL, interage com a RNA polimerase, aumentando sua afinidade pela região promotora do operon luxICDABEG (o operon lux propriamente dito) (Engebrecht & Silverman, 1984) O operon lux codifica diferentes proteínas, inclusive enzimas e proteínas responsáveis pela produção de 14 Introdução ___________________________________________________________________ luz. O primeiro gene do operon lux (luxI) merece destaque pois ele codifica uma enzima chamada de acil-AHL sintase, que é responsável pela síntese de AHLs, amplificando o sinal uma vez iniciado o processo. Deste modo os genes luxR e o luxI, juntamente com as moléculas de AHLs, são responsáveis pela regulação da expressão da bioluminescência dependentes de altas concentrações celulares (Ver Fig. 2). O sistema ‘quorum sensing’ descrito acima é descrito, hoje, em mais de 70 espécies de bactérias gram-negativas e regula a expressão de diversos fenótipos (Miller et al., 2001; de Kievit & Iglewski, 2000; Fuqua et al., 2001; Parsek e Greenberg, 2000). Esses sistemas têm em comum a enzima acil-AHL sintase, homóloga a LuxL, bem como um regulador transcricional, homólogo ao LuxR. Alguns exemplos de sistemas homólogos ao utilizado por P. fischeri são: TraR e TraL de Agrobacterium tumefaciens que regulam a transferência por conjugação do plasmídeo Ti (Tumor inducing) (Zhang et al, 1993); LasR e LasL de Pseudomonas aeruginosa, que regulam a transcrição de uma série de fatores de virulência, incluindo a elastase (Passador et al, 1993); e ExpR e ExpL de Erwinia carotovora, que controlam a síntese de antibióticos e a produção de exoenzimas (Beck von Bodman & Farrand, 1995). 15 Introdução ___________________________________________________________________ Baixa densidade celular Alta densidade celular luz Adaptado de www.nottingham.ac.uk/quorum Fig. 2 – Mecanismo de ‘quorum sensing’ em P. fischeri.: A baixa densidade populacional, a transcrição do operon lux ocorre a níveis basais e não há acúmulo significante do autoindutor. Quando a densidade de células aumenta, há um acúmulo desse autoindutor que interage com o regulador transcricional, permitindo a transcrição dos genes responsáveis pela bioluminescência. Repare que a transcrição do gene luxL leva a uma amplificação do sinal, uma vez iniciado o processo. As bactérias que utilizam um sistema homólogo ao LuxR/LuxL também produzem autoindutores similares ou idênticos a 3-oxo-C6 HSL produzido por P. fischeri. Exemplos de outros tipos de autoindutores descobertos subseqüentemente incluem o de V. harveyi N-(3-hidroxibutanoil)-L-homoserina lactona (3-hidroxi-C4HSL), o autoindutor de A. tumefaciens N-(3-oxooctanoil)-L-homoserina lactona (3oxo-C8-HSL) e o autoindutor de P. aeruginosa, N-(3-oxododecanoil)-L-homoserinalactona (3-oxo-C12-HSL). Essas moléculas variam quanto ao comprimento da 16 Introdução ___________________________________________________________________ cadeia acil, quanto ao grau de oxidação no C3 e quanto à presença ou ausência de insaturações (Fig. 3a). 1.3.2- Outras classes de sinais extracelulares presentes em culturas estacionárias de microorganismos: A comunicação intercelular por sinais químicos para coordenar eventos intracelulares de uma população é hoje bem documentado em eubactérias. Micromoléculas envolvidas no processo de ‘quorum sensing’ (AHLs, peptídeos ou peptídeos processados) são os exemplos melhor caracterizados deste tipo de estratégia. Porém, outros tipos de metabólitos extracelulares estão freqüentemente sendo descobertas. Um exemplo bem estudado deste tipo de estratégia é a produção de alquilhidroxibenzenos (AHBs). AHBs são compostos anfifílicos de baixo peso molecular produzidos por culturas de Azotobacter vinelandii (Reusch & Sadoff, 1979), A. chroococcun (Batvakov et al., 1982), Pseudomonas carboxydoflava (Osipov et al., 1985), Bacillus cereus (Gryaznova et al., 1985), Micrococcus luteus (Mulzukin et al., 1996) e pela levedura Sacharomyces cerevisiae (Batrakov et al., 1993). Eles foram encontrados em culturas estacionárias desses microorganismos como misturas de isômeros com diferenças na posição e tamanho da cadeia do substituinte alquil do anel aromático (Fig. 3b). AHBs são autoreguladores naturais da multiplicação celular, pois ao acumularem no meio de cultivo ao longo do crescimento induzem a cultura à entrada para a fase estacionária. Estas moléculas, em altas concentrações, também são responsáveis pela formação de ‘resting cells’ – células caracterizadas por um alto grau de refratividade (quando observadas ao microscópio óptico) e profundo estado 17 Introdução ___________________________________________________________________ de dormência (células anabióticas ou hipometabólicas) (Svetlichnyi et al., 1986). Estudos da atividade de AHBs sobre o metabolismo das células revelam que estas moléculas atuam como modificadores naturais de estruturas enzimáticas, formando complexos enzimáticos termo-estáveis que possuem baixa atividade catalítica, e contribuem para bloqueio do processo metabólico nas células anabióticas (Bespalov et al., 2000 e Kolpakov et al., 2000). Estudos ‘in vitro’ mostram que estas moléculas parecem possuir um mecanismo de ação bem simples. Foi demonstrado que AHBs formam interações não covalentes (pontes de hidrogênio, interações hidrofóbicas e iônicas) com moléculas biológicas (proteínas, lipídeos de membrana, DNA e RNA) atuando como chaperonas químicas (Martirosova et al., 2004). Estudos sobre a influência de moléculas do tipo AHBs sobre a expressão gênica ainda não foram realizados. Outro exemplo deste tipo de comunicação é o que ocorre nas bactérias do gênero Streptomyces. Foi mostrado que este gênero produz uma classe de moléculas auto-reguladoras denominadas de γ-butirolactonas (Fig. 3e). Estas moléculas participam diretamente na regulação do metabolismo secundário das células atuando principalmente no controle da produção de antibióticos (Yamada, 1999 e Shikura et al., 2002). Outros exemplos de fatores extracelulares produzidos por culturas estacionárias são encontrados; fatores de sinalização produzidos por Stigmatella são necessários para o desenvolvimento de estruturas de reprodução em condições onde os nutrientes são limitados (Fig. 3c) (Plaga & Schairer, 1999). Quando as condições voltam a ser favoráveis, os esporos formados nestas estruturas germinam formando uma nova população. Em culturas de Vibrio sp. submetidas a regimes de falta de nutrientes foi encontrado um composto que, quando adicionado a uma 18 Introdução ___________________________________________________________________ cultura rica em nutrientes, induz a síntese de proteínas encontradas apenas em culturas cujos nutrientes estavam esgotados (Srirnivasan et al., 1998). Em cianobactérias, também é relatada a existência de fatores extracelulares produzidos em resposta a condições desfavoráveis. Da década de 70 existem relatos sobre o papel de sinais extracelulares envolvidos na indução de acinetos. Foi demonstrado que a cianobactéria Cylindrospermum lincheniforme Kütz produz um composto capaz de estimular a formação de acinetos em culturas jovens da mesma cianobactéria (Fisher & Wolk, 1976; Hirosawa & Wolk, 1979 a). A fórmula molecular deste composto foi identificada como sendo C7H5OSN e sua suposta estrutura química determinada (Fig. 3d) (Hirosawa & Wolk, 1979 b). A formação de heterocitos também parece ser regulada por moléculas sinalizadoras. Nos filamentos da cianobactéria Anabaena sp. cada heterocito é separado por aproximadamente dez células vegetativas. Este padrão de ocorrência de heterocitos dentro do filamento é regulado por um peptídeo PatS (Yoon & Golden, 1998). O mecanismo molecular proposto sugere que durante as primeiras horas após a privação de nitrogênio, algumas células do filamento aumentam a produção do peptídeo PatS. Este peptídeo então, se difunde através do filamento, inibindo a formação de heterocitos nas células adjacentes. As células produtoras do PatS são imunes a ação inibitória do próprio peptídeo e portanto, completam sua diferenciação em heterocitos. Deste modo, a ação deste peptídeo também ocorre através de mecanismos de sinalização intercelular (neste caso interfilamentar). Em 1998, Bachofen e Schunk demonstraram, através de bioensaios de detecção, a presença de AHLs no sobrenadante obtido de uma amostra natural de uma floração de cianobactéria onde o gênero dominante era Microcystis. Porém, 19 Introdução ___________________________________________________________________ este estudo não foi conclusivo, pois por se tratar de uma amostra natural, outros microorganismos poderiam estar produzindo a molécula de AHL detectada no bioensaio. Em um trabalho anterior (Meireles, 2002) foi investigada a produção de moléculas de AHLs em duas cepas axênicas de Microcystis. Através de bioensaios de detecção foi mostrado que Microcystis, nas condições testadas, não foi capaz de produzir as AHLs descritas pela literatura. Este trabalho investiga formas de auto-regulação do metabolismo de cianobactérias tóxicas. O gênero escolhido inicialmente para os estudos foi Microcystis. Este gênero tem sido responsável pelo maior número de relatos de intoxicações em animais e humanos (Carmichael, 1996). Microcystis é uma cianobactéria não diazotrófica que é freqüentemente encontrada como gênero dominante numa floração. É um gênero cosmopolita, sendo encontrada em ambientes de água doce a salobra. 20 Introdução ___________________________________________________________________ Fig. 3 – Alguns exemplos de moléculas envolvidas no processo de comunicação intercelular em microorganismos; a. Moléculas do tipo Nacil homoserina lactonas, envolvidas no processo de comunicação intercelular em bactérias Gram-negativas; b. Análogos químicos de alquilhidroxibenzenos (AHBs); c. Composto que coordena a formação de corpos de frutificação em Stigmatella aurantiaca; d. Estrutura aproximada do fator envolvido na estimulação da produção de acinetos em Cylindrospermum licheniforme Kütz; e. Dois tipos de autoreguladores (γ-butirolactonas). Ambos estão envolvidos na regulação da produção de antibióticos em espécies de Streptomyces sp.. 21 Objetivos ___________________________________________________________________ 2- Objetivos: 2.1- Objetivo geral: Este trabalho visou verificar a existência de mecanismos de auto-regulação da multiplicação celular em culturas de Microcystis PCC 7806. 2.2- Objetivos específicos: Cultivar Microcystis PCC 7806 em meio 2 ASM-1, por longos períodos de tempo, buscando caracterizar bioquimicamente e fisiologicamente células em diferentes estágios de cultivo. Testar a atividade do sobrenadante, obtido em diferentes tempos de crescimento da cepa Microcystis PCC 7806, sobre a capacidade de inibir o crescimento de culturas do próprio microorganismo crescidas em meio repleto de nutrientes. Detectada a presença de atividade inibitória no meio condicionado, buscou-se também investigar o mecanismo de inibição do crescimento. 22 Material e Métodos ___________________________________________________________________ 3- Material e Métodos: 3.1 - Cepas de cianobactérias e condições de cultivo: O gênero escolhido para os estudos foi Microcystis. Este gênero tem sido responsável pelo maior número de relatos de intoxicações em animais e humanos (Carmichael, 1996). Todos os experimentos foram realizados utilizando a cepa Microcystis aeruginosa PCC 7806 (Pasteur Culture Collection, Instituto Pasteur, Paris, França). Outras cepas utilizadas neste estudo foram: - Microcystis UENF Mic1, isolada da Lagoa de Jacarepaguá - Rio de Janeiro RJ; - Microcystis UENF Mic2, isolada da Lagoa de Iquipari – São João da Barra – RJ; - Synechococcus PCC 7942; - Synechocystis PCC 6803; Todas as cepas foram mantidas em meio de cultura com o dobro da concentração do ASM-1 (Gorhan et al., 1964), daqui a diante chamado de 2 ASM-1, em câmara de cultivo com temperatura mantida a 25 ± 3 ºC sob lâmpadas fluorescentes (lâmpadas frias PHILIPS TLT 20 W/75 S) com fotoperíodo de 16 h. 23 Material e Métodos ___________________________________________________________________ 3.2 - Caracterização de culturas de Microcystis PCC 7806 de diferentes idades: 3.2.1- Crescimento e perfil de pigmentos: Microcystis foi inoculada em Erlenmeyers de 1 L contendo 200 mL de meio 2 ASM-1 com DO750 inicial de 0,2. A cultura foi incubada em agitador rotatório (Nova Ética modelo 109 B) com velocidade variando entre 90 e 100 rpm e mantida em câmara de cultivo com densidade de fluxo de fótons variando entre 30-45 µmol fótons m-2 s-1. O crescimento da cultura foi monitorado periodicamente em função da densidade óptica a 750 nm por 35 dias (espectrofotômetro Shimadzu UV/V-1203). Mudanças ocorridas no perfil de pigmentos fotossintéticos ao longo do crescimento da cultura de Microcystis foram monitorados através do espectro de absorção da suspensão de células. A absorbância foi medida entre 600 e 800 nm. Os espectros foram obtidos de culturas coletadas em diversos estágios de cultivo. Antes de cada medição a DO760 de cada suspensão de células era ajustada com água para 0,22 ± 0,01. Este experimento foi repetido três vezes em culturas independentes. 3.2.2- Estimativa do conteúdo de glicogênio – método enzimático: O conteúdo de glicogênio foi determinado indiretamente após hidrólise ácida e liberação dos monômeros de D-glicose utilizando o método enzimático/colorimétrico (glicose oxidase) do Kit Bioliquid (Biodiagnóstica). As culturas de Microcystis foram cultivadas conforme descrito no item 3.2.1 e as células coletadas em dois momentos do cultivo: durante a fase de crescimento da 24 Material e Métodos ___________________________________________________________________ cultura (8 dias de cultivo) e quando as culturas já se encontravam na fase estacionária (40 dias de cultivo). 3.2.2.1- Hidrólise ácida: Cerca de 108 células foram ressuspensas em tubos de ensaio contendo 500 µL de solução de H2SO4 a 2,5%. Em seguida, os tubos foram deixados em banho maria (100 ºC) por 80 min sendo homogeneizados a cada 10 min. Após o término da hidrólise, os tubos foram centrifugados a 10000 x g por 5 min a temperatura ambiente. O sobrenadante foi coletado e reservado. 3.2.2.2- Quantificação de glicose: A detecção de D-glicose ocorre segundo a reação na qual a glicose, através da ação da enzima glicose oxidase (GOD), é oxidada gerando ácido glicônico e peróxido de hidrogênio (H2O2). O peróxido de hidrogênio pela ação de uma peroxidase (POD) reage com corantes apropriados (hidroxibenzoato e 4aminofenazona) formando um complexo corado. A absorbância da solução onde o complexo vermelho é formado apresenta absorbância proporcional a concentração de glicose na amostra analisada, medida a 500 nm. GOD* D-glicose + H20 + O2 Ac. Glicônico + 2 H2O2 POD** 2 H2O2 + Hidroxibenzoato + 4-aminofenazona Complexo corado. * GOD = Glicose oxidase; ** POD = Peroxidase. 25 Material e Métodos ___________________________________________________________________ A curva de calibração foi obtida a partir de diluições de uma solução padrão contendo 5 mg/mL de D-glicose em H2SO4 a 2,5%. As reações foram montadas conforme descrito a seguir: em tubos de ensaio foram misturados 10 µL de cada diluição da solução padrão com 990 µL do reagente enzimático contendo glicose oxidase (10.000 U/L), peroxidase (500 U/L), 4-aminofenazona (0,2 mmol/L) e hidroxibenzoato (5 mmol/L). A concentração final de glicose em cada diluição foi de 0, 2,5, 5, 7,5, 10, 12,5 µg de glicose por mL de reação. Em seguida os tubos foram deixados em banho-maria a 37 ºC por 10 min. Após o término da reação as amostras foram medidas a 500 nm. Os valores de absorbância x concentração de glicose foram plotados em um gráfico. A correlação entre concentração de glicose e ABS500 foi de 0,996 (y = 0,0261x + 0,0066). 3.2.2.3 -Quantificação das amostras: A curva de calibração foi obtida simultaneamente com a incubação das amostras. A reação foi montada conforme descrito para obtenção da curva padrão. As amostras foram diluídas para que ficassem no intervalo de concentração onde as relações absorbância x concentração fossem lineares. Todos os ensaios foram realizados em triplicata. Este experimento foi repetido duas vezes em culturas independentes. 3.2.3 - Estimativa do conteúdo de proteínas solúveis: O conteúdo de proteínas solúveis, determinado pelo método descrito por Bradford (1976), se baseia na colorimetria para quantificar proteínas solúveis. O 26 Material e Métodos ___________________________________________________________________ reagente principal é um corante que interage com resíduos de aminoácidos básicos e aromáticos produzindo cor. Esta coloração é detectada por espectrofotometria e é lida a 595 nm. Para este experimento foram coletadas culturas de Microcystis, cultivadas conforme descrito no item 3.2.1, coletadas em dois momentos: durante a fase de crescimento (8 dias de cultivo) e quando as culturas já se encontravam na fase estacionária (40 dias de cultivo). 3.2.3.1 - Extração de proteínas solúveis: Cerca de 108 células foram ressuspensas em tampão 20 mM Tris-HCl pH 7,4, contendo 0,5 mM de CaCl2 e 0,5 mM de MgCl2. A extração de proteínas solúveis foi realizada após sonicar células em banho de gelo, utilizando processador ultra-sônico na potência máxima, num tempo total de 7,5 min (15 ciclos de 1 min: 30 s sonicando e 30 s resfriando a amostra). A lise total das células foi verificada por observações ao microscópio óptico. Os restos celulares foram removidos por centrifugação (18000 x g por 40 min a 4 ºC). O sobrenadante foi coletado e preservado sob refrigeração até a quantificação. 3.2.3.2 - Obtenção da curva de calibração: A curva de calibração foi obtida a partir de diluições de uma solução padrão contendo 0,1 mg/mL de ASB (albumina sérica bovina). As diluições do ASB foram feitas em H2O ultrapura e ajustadas para um volume final de 200 µL As reações foram montadas conforme descrito a seguir: em tubos para microcentrífuga novos de 1,5 mL foram misturados 800 µL de cada diluição da solução padrão com 200 µL do reagente de Bradford. A concentração final de ASB, após a mistura, em cada tubo 27 Material e Métodos ___________________________________________________________________ foi de 0, 2, 4, 6, 8 e 10 µg de ASB por mL de reação. Após homogeneizar vigorosamente os tubos foram lidos a 595 nm. Os valores de absorbância x concentração de ASB foram plotados em um gráfico. A correlação entre concentração de ASB e ABS595 foi de 0,986 (y = 0,0383x + 0,0395). 3.2.3.3 - Quantificação das amostras: A curva de calibração foi obtida simultaneamente com o preparo das amostras (extração). As amostras foram diluídas para que ficassem no intervalo de concentração em que as relações absorbância x concentração de ASB fossem lineares. A reação foi preparada misturando-se 800 µL da amostra diluída com 200 µL do reagente de Bradford. Todos os ensaios foram realizados em triplicata. Este experimento foi repetido duas vezes em 6 culturas independentes (três cloróticas e três verdes) 3.2.4- Perfil metabólico - Ressonância Magnética Nuclear (RMN): As culturas de Microcystis foram cultivadas conforme descrito no item 3.2.1 e as células coletadas em dois momentos do cultivo: durante a fase de crescimento da cultura (8 dias de cultivo) e quando as culturas já se encontravam na fase estacionária (40 dias de cultivo). As células foram separadas do meio de cultura por centrifugação (Beckman Coulter Allegra 6R), liofilizadas (Labconco freeze-dry system/freezone 4.5) e mantidas no freezer até a extração. Este experimento foi repetido duas vezes em culturas independentes. 28 Material e Métodos ___________________________________________________________________ 3.2.4.1- Procedimento de extração: Três extratos foram obtidos por extrações sucessivas do mesmo material utilizando solventes de polaridade decrescente: água, metanol e clorofórmio. O procedimento de extração foi o mesmo para os dois tipos de células. A 500 mg de biomassa liofilizada, condicionada em tubo de vidro para centrífuga, foram adicionados 10 mL de solvente. O tubo foi agitado vigorosamente em vortex por 1 min e em seguida centrifugado a 3000 x g por 30 min. O sobrenadante foi reservado. Este procedimento foi repetido 3 vezes para cada solvente. Ao final de cada ciclo de extração (cerca de 30 mL para cada solvente) os extratos foram coletados e armazenados a -20 ºC. Os extratos, metanólico e clorofórmico, foram secos à pressão negativa em evaporador rotativo (Fisotom Modelo 802) e o extrato aquoso foi liofilizado. 3.2.4.2- Análise dos extratos: Os extratos foram ressuspensas nos respectivos solventes deuterados (D2O, MeOD e CDCL3) e em seguida foram centrifugados e analisados por Ressonância Magnética Nuclear (RMN) operando a 400 MHz para análise de prótons (RMN JOEL Eclipse +400 MHz). 3.2.5- Ultra-estrutura – microscopia eletrônica: Para esta análise foram coletadas alíquotas de culturas de Microcystis com 8 e 41 dias de cultivo. As células foram separadas do meio de cultura por centrifugação e, em seguida, lavadas em meio ASM-1 e pré-fixadas em uma mistura 9:1 de tampão cacodilato 0.1 M e glutaraldeído 2.5%. As amostras pré-fixadas foram mantidas a 4 ºC até o processamento. 29 Material e Métodos ___________________________________________________________________ Durante o processamento as amostras foram lavadas três vezes com PBS pH 7,2 e pós-fixadas por 20 min, no escuro, em uma solução de tetróxido de ósmio 1 % (em solução de cloreto de cálcio 5 mM) e ferrocianeto de potássio 0,8 %. Em seguida, as amostras foram lavadas três vezes em PBS pH 7,2 e desidratadas em gradiente crescente de acetona 30%, 50%, 70%, 90% e duas vezes em acetona super seca (100%). Depois de desidratadas as amostras foram infiltradas em diluições crescentes de acetona:epon (3:1, 2:1, 1:1, 1:2, 0:1) e incluídas em resina epon (Poly-BED 812). Cortes ultrafinos com espessura de 70 nm foram obtidos em ultramicrótomo (Ultracut S Reichest) utilizando faca de diamante. Estes cortes foram coletados em grade de cobre com malha de 400 µm. Os cortes foram examinados ao microscópio eletrônico de transmissão (Zeiss EM 900) operando a 80 KV. Este experimento foi repetido duas vezes a partir de culturas independentes. 3.2.6- Viabilidade das células cloróticas: 3.2.6.1- Capacidade de crescimento de cultivos cloróticos inoculados em 2 ASM-1: Uma alíquota de 10 mL de uma cultura clorótica com 40 dias de cultivo foi coletada e centrifugada. Após a centrifugação o sobrenadante foi descartado e as células foram lavadas duas vezes em água destilada estéril (2 x 10 mL). Após a lavagem das células, elas foram ressuspensas em 40 mL de meio 2 ASM-1. Em seguida essa suspensão foi diluída cerca de cinco vezes em meio 2 ASM-1 obtendo-se uma DO750 de 0,84. A suspensão foi distribuída em tubos de ensaio (1,5 mL para cada tubo) que foram incubados em sala de cultivo nas mesmas condições de iluminação e temperatura já descritas no item 3.1. Este experimento foi repetido duas vezes em culturas independentes. 30 Material e Métodos ___________________________________________________________________ O perfil de pigmentos e o aumento da densidade celular foram monitorados conforme descrito no item 3.2.1 acima. 3.2.6.2- Verificação da integridade de membrana de células cloróticas: A viabilidade de culturas cloróticas foi investigada com uso do Kit de viabilidade LIVE/DEAD BacLight (Molecular Probes). O Kit é composto por dois corantes: iodeto de propídio e o Syto 9®. Estes corantes permitem verificar a integridade da membrana célula. A visualização das células depois de coradas foi realizada por microscopia de fluorescência (Zeiss Axiovert), utilizando filtros para rodamina e fluoresceína. Para este experimento foram utilizadas culturas cloróticas de Microcystis com pelo menos 40 dias de idade. As células foram separadas do sobrenadante por centrifugação e em seguida lavadas duas vezes em meio ASM-1 sem fosfato. Para corar as células, elas foram novamente ressuspensas em meio ASM-1 sem fosfato e logo após 1 mL da suspensão foi misturada a 3 µL da solução dos corantes (proporção 1:1 das soluções de iodeto de propídio e Syto 9®). A suspensão de células, após a mistura com os corantes, foi mantida no escuro por 15 min antes de ser observada ao microscópio de fluorescência. Este experimento foi repetido três vezes em culturas independentes. 3.3- Auto-regulação do crescimento: 3.3.1- Efeito do meio condicionado, obtido de culturas cloróticas, sobre o crescimento de culturas da mesma cepa, mantidas em meio rico em nutrientes: 31 Material e Métodos ___________________________________________________________________ Microcystis foi inoculada a uma DO750 de 0,1 em Erlenmeyers de 1 L contendo 200 mL de meio 2 ASM-1. A cultura foi incubada em agitador rotatório (90100 rpm) mantido em câmara de cultivo, com intensidade de luz variando entre 3045 µmol fótons m-2 s-1. Após a cultura ter se tornado clorótica alíquotas foram coletadas. As células foram separadas do sobrenadante (meio condicionado) por centrifugação a 3000 x g por 20 min. A capacidade do meio condicionado em inibir o crescimento de culturas saudáveis da mesma cepa foi verificada através do ensaio descrito abaixo. 3.3.1.1- O ensaio de inibição: A DO750 de uma cultura de Microcystis em fase de crescimento linear foi ajustada para 0,3 com meio 2 ASM-1. Em seguida 500 µL desta cultura foram distribuídas para tubos de ensaio. Em cada tubo contendo a cultura diluída foram adicionados mais 500 µL de meio condicionado. Duas culturas controle foram utilizadas neste experimento: em uma foram adicionados 500 µL de meio 2 ASM-1 e na outra 500 µL de água ao invés do meio condicionado. Os tubos foram incubados em sala de cultivo sem agitação nas mesmas condições de luz e temperatura. Os resultados foram observados três a cinco dias após o inicio do experimento. Todos os ensaios foram feitos em triplicata em condições estéreis. Este experimento foi repetido três vezes a partir de culturas cloróticas independentes. 32 Material e Métodos ___________________________________________________________________ 3.3.2- Investigação do mecanismo envolvido na inibição do crescimento: 3.3.2.1- Perfil de pigmentos e ultraestrutura de células tratadas com meio condicionado: A inibição do crescimento de culturas de Microcystis foi investigada através do ensaio de inibição descrito no item 3.3.1.1. Após a confirmação da inibição do crescimento, as células foram coletadas e os efeitos sobre o perfil de pigmentos e a ultra-estrutura foram verificados conforme métodos já descritos nos itens 3.2.1 e 3.2.5, respectivamente. 3.3.2.2- Atividade do meio condicionado sobre culturas da mesma cepa de diferentes idades: Durante este experimento todas as culturas foram incubadas em agitador rotatório (90-100 rpm) mantido em câmara de cultivo sob condições já descritas. O crescimento das culturas foi monitorado em função da DO750. No primeiro dia de experimento, uma cultura de Microcystis foi inoculada em dois Erlenmeyers de 500 mL contendo 100 mL de meio 2 ASM-1 cada (DO750 inicial de 0,2). O mesmo procedimento foi realizado no 3º, 7º, 11º e 14º dia do experimento. Ao chegar no 18º dia de experimento, já com culturas em diferentes fases de crescimento, a atividade do meio condicionado foi testada em cada cultura através do ensaio de inibição descrito no item 3.3.1.1. O efeito do meio condicionado sobre o crescimento e sobre o perfil de pigmentos destas culturas foi analisado conforme procedimento já descrito. Todos os ensaios foram realizados em triplicata. 33 Material e Métodos ___________________________________________________________________ 3.3.3- Especificidade da atividade do meio condicionado: A atividade do meio condicionado, obtido de culturas cloróticas de Microcystis, foi testada em outras cepas de cianobactérias através do ensaio inibição já descrito. Foram testadas tanto cepas pertencentes ao mesmo gênero como Microcystis UENF Mic1 e Microcystis UENF Mic2 (cepas independentes isoladas das Lagoas de Jacarepaguá e Iquipari, RJ) quanto cepas pertencentes a outros gêneros: Synechococcus PCC 7942 e Synechocystis PCC 6803. Todos os ensaios foram realizados em triplicata. Este experimento foi realizado três vezes a partir de culturas cloróticas independentes. 3.4 - Extração e caracterização preliminar do fator responsável pela atividade do meio condicionado sobre culturas saudáveis de Microcystis PCC 7806: 3.4.1- Extração do meio condicionado: Culturas de Microcystis foram cultivadas em Erlenmeyers de 1 L contendo 200 mL de meio 2 ASM-1 até se tornarem cloróticas. Periodicamente, alíquotas das culturas cloróticas eram retiradas e sua atividade monitorada através da realização dos ensaios de inibição. Uma vez detectada atividade no meio condicionado, o restante das culturas era centrifugado para obtenção do restante do meio condicionado. O meio condicionado foi passado por uma coluna de fase reversa C18 (ODS – octadodecilsilano) conforme procedimento descrito a seguir: 34 Material e Métodos ___________________________________________________________________ 3.4.1.1- Empacotamento e ativação da coluna: Cerca de 700 mg ODS foram empacotados em uma coluna (1 x 8 cm). Depois de empacotada a fase estacionária foi ativada pela passagem de cinco volumes de metanol (1 volume corresponde a altura da fase estacionária na coluna) seguidos de cinco volumes de água. 3.4.1.2- Obtenção do extrato: Após a ativação, cerca de 30 mL de meio condicionado foram passados através da coluna. O líquido não retido foi coletado e liofilizado. O material retido na coluna foi eluído com 5 volumes de metanol 100 % e seco em evaporador rotativo. Os extratos, retido e o não retido, foram ressuspensos em cerca de 15 mL de meio 2 ASM-1, ficando cerca de 2 vezes concentrado em relação ao meio original. Após sonicar a suspensão para deixar os extratos em solução eles foram esterilizados por filtração (0,22 µm, filtro lavado previamente com 10 mL de H2O estéril). Em seguida a eficiência da extração foi verificada através do ensaio de inibição já descrito. A inibição do crescimento destes ensaios foi comparada aos controles negativos realizados com adição de: água, meio 2 ASM-1, água esterilizada por filtração (0,22 µm, filtro lavado previamente com 10 mL de H2O estéril), extrato 10 vezes concentrado de meio condicionado de células verdes e extrato 10 vezes concentrado do meio de cultura 2 ASM-1. 3.4.2- Testes de estabilidade: Para investigar e caracterizar inicialmente a natureza química do fator presente no meio condicionado ele foi deixado em banho-maria (100 ºC) por 5 min 35 Material e Métodos ___________________________________________________________________ ou congelado e descongelado três vezes consecutivas. Para testar a estabilidade a solventes orgânicos os extratos foram re-dissolvidos em metanol, secos sobre pressão negativa e reconstituídos em meio 2 ASM-1. A atividade do meio condicionado submetido aos tratamentos descritos acima foi comparada à atividade do meio condicionado original, conforme ensaio de inibição descrito anteriormente. 3.4.3- Purificação inicial: Após a passagem do meio ativo por uma coluna contendo ODS, um gradiente de metanol:água (10, 20, 40, 60, 80 e 100% de metanol) foi usado para eluir uma série de frações. O metanol destas frações foi evaporado sob pressão negativa e a água eliminada por liofilização. Após a reconstituição dos extratos em meio 2 ASM-1 e esterilização por filtração (0,22 µm, filtro lavado previamente com 10 mL de H2O estéril) a atividade inibitória foi verificada através do ensaio de inibição. 3.4.4- Análise por CLAE: Cerca de 500 mL de meio condicionado ativo foi extraído com 4 g de ODS. A coluna (diâmetro 3,2 cm x altura de 50 cm) foi ativada conforme já descrito no item 3.4.1.1 e o meio condicionado passado pela coluna. Em seguida o material retido foi eluído em gradiente de metanol:água 20, 40, 60, 80 e 100 % de metanol. As frações que apresentaram atividade foram reunidas, liofilizadas e ressuspensas em 200 µL de metanol. 36 Material e Métodos ___________________________________________________________________ 3.4.4.1- Parâmetros da análise: Coluna de fase reversa C18 - Merck C18 50981 GORP (5 µm; 125 x 4 mm) Volume de amostra injetado: 20 µL; Fluxo: 1,5 mL/min; Detecção: UV (ultravioleta - detector de arranjo de diodos), cromatograma monitorado à 200, 250, 300 e 360 nm de comprimento de onda. Eluente A: Ácido trifluoracético (TFA) 0,05 % em àgua; Eluente B: TFA 0,05 % em metanol. Gradiente: Tempo (min) B (%) 0,01 5 47 100 57 100 72 5 72,1 stop Durante a corrida, frações foram coletadas a cada minuto até o tempo de 50 min. Essas frações foram então processadas para a análise da atividade através dos ensaios de inibição. 3.4.4.2- Processamento das frações: Para neutralizar o TFA (utilizado durante a corrida) foi adicionado em cada fração coletada 100 µL de uma solução de K2HPO4 1 M e KH2PO4 1 M (proporção de 94:6). O pH final de cada fração após a mistura com a solução de neutralização foi de aproximadamente 8. Em seguida cada uma das frações foi diluída em água, 37 Material e Métodos ___________________________________________________________________ obtendo uma concentração final de 5 % de metanol, e posteriormente passada por coluna com ODS conforme descrito a seguir: A fração processada foi passada através da coluna e em seguida a coluna foi lavada com 5 volumes de água a fim de eliminar o restante de sais e TFA. Em seguida cada fração foi eluída em 100 % de metanol. A atividade de cada fração eluída foi verificada, pelo ensaio de inibição item 3.3.1.1, após evaporação do metanol em evaporador rotativo, reconstituição em meio 2 ASM-1 e esterilização por filtração (0,22 µm, filtro lavado previamente com 10 mL de H2O estéril). Este ensaio foi realizado com as frações concentradas cerca de doze vezes, ou seja, com a atividade 12 vezes maior que a atividade do meio condicionado original. O crescimento destas frações foi comparado ao crescimento de culturas controle: controles negativos - água, 2 ASM-1 e água esterilizada por filtro previamente lavado e controle positivo - fração ativa 12 vezes concentrada, reconstituída em meio 2 ASM-1 e esterilizada por filtração (0,22 µm, filtro lavado previamente com 10 mL de H2O estéril). 38 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 4- Resultados e Discussão: 4.1-Caracterização de culturas de Microcystis PCC 7806 de diferentes estágios de crescimento: 4.1.1 - Curva de crescimento e dinâmica no conteúdo de pigmentos durante cultivo de Microcystis por longos períodos: Cultivos de cianobactérias apresentam um crescimento muito lento quando comparado à maioria das bactérias heterotróficas cultivadas em laboratório. Por exemplo, enquanto um cultivo de Escherichia coli, em condições ideais, pode alcançar uma taxa de crescimento de 72 duplicações diárias, cianobactérias apresentam taxas que podem variar de 0,3 a 1,4 duplicações por dia (Van Liere & Walsby, 1982). Deste modo para confeccionar a curva de crescimento de Microcystis foram necessários muitos dias de cultivo. O crescimento da cepa Microcystis em meio 2 ASM-1 foi monitorado durante 35 dias conforme curva de crescimento mostrada pela figura 4. Neste período a cultura apresentou um crescimento predominantemente linear. A entrada para fase estacionária ocorreu aproximadamente após 27 dias de cultivo. Durante a confecção da curva de crescimento também foi observado que Microcystis apresentou dois fenótipos distintos; um durante o crescimento ativo onde a cultura apresentou a típica coloração verde da maioria das cianobactérias, e outro, cerca de trinta dias após o inicio do cultivo, onde a cultura experimentou uma progressiva perda de sua coloração original até se tornar creme (clorótica), ver figura 6. A mudança descrita no fenótipo da cultura foi monitorada através da obtenção de espectros de absorção (medido entre 600 e 800 nm) ilustrados pela figura 5. Os espectros demonstram que o perfil de pigmentos da suspensão de células de Microcystis no inicio do cultivo 39 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ (t=0) apresentou dois picos de absorção máxima, um λmáx=635 nm e outro λmáx = 680 nm. Estes picos de absorção correspondem aos principais pigmentos fotossintéticos encontrados em Microcystis: as ficocianinas e a clorofila a, respectivamente. Após 15 dias de cultivo o perfil de pigmentos da cultura apresentou uma gradual redução no pico de clorofila a (680 nm) que chegou no 35º dia a cerca de um quarto da intensidade do inicio do cultivo. Nenhuma ou pouca alteração foi observada em relação ao pico de ficocianina. Deste modo conclui-se que a degradação da clorofila a é o principal fator relacionado ao surgimento do fenótipo clorótico. 4.1.2 - Cultivo de células cloróticas em meio 2 ASM-1: As células cloróticas de Microcystis, quando observadas ao microscópio óptico, apresentam as mesmas características das células em crescimento ativo, ou seja, não apresentam nenhuma alteração morfológica que pudesse ser interpretada como perda de viabilidade. Segundo a literatura, a acentuada queda nos níveis de clorofila a, como observado com Microcystis, geralmente seria interpretada como uma irreversível perda de viabilidade (Tandeu de Marsac & Houmard, 1993). Porém estudos sobre o processo de clorose em Synechoccocus PCC 7942 mostraram que este fenótipo é reversível, pois assim que os nutrientes suprimidos novamente eram adicionados, as culturas regeneravam, ou seja, re-adquiriam seus pigmentos fotossintéticos e voltavam a crescer dentro de 4-5 dias (Görl et al., 1998). O experimento com Microcystis descrito a seguir buscou verificar se as culturas cloróticas desta espécie também mantinham sua capacidade de regeneração. A capacidade de regeneração das culturas cloróticas de Microcystis é demonstrada pela figura 7. O espectro da suspensão de células cloróticas no início 40 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ do experimento mostrou ausência de absorção da clorofila a, como já podia ser esperado (linha tracejada). O meio 2 ASM-1 foi adicionado a estas células e, após 13 dias de incubação, as culturas já apresentavam um pico de absorção da clorofila a bem definido, e a sua coloração verde característica. A densidade da cultura durante o experimento também foi monitorada. A cultura aumentou sua densidade de DO750 0,84, no início do experimento, para praticamente o dobro (DO750 1,55 ± 0,254), após 13 dias de cultivo. Os resultados descritos neste experimento mostram que pelo menos uma parte das células cloróticas de Microcystis mantém sua capacidade de regeneração e, portanto permanecem viáveis. 4.1.3 - Verificação da integridade de membrana: As células de culturas de Microcystis em crescimento (verdes), quando observadas ao microscópio de fluorescência, apresentam forte auto-fluorescência vermelha. Esta fluorescência é atribuída principalmente à abundante presença de clorofila a. Assim a viabilidade de uma população de células de Microcystis em crescimento pode ser facilmente verificada. De maneira contrária, as células cloróticas de Microcystis quando observadas ao microscópio de fluorescência não apresentam esta auto-fluorescência típica. Este fato já era esperado, pois as células cloróticas como já descrito, apresentam uma drástica redução no conteúdo de clorofila a. Para determinar qual a percentagem de células na cultura clorótica permanecia viável, outro método, através do uso de marcadores fluorescentes, foi utilizado. Neste método a viabilidade das células é verificada pela manutenção da integridade da membrana. O uso de marcadores fluorescentes para avaliar a viabilidade de culturas cloróticas de cianobactérias já havia sido reportado na literatura por Forchhammer e 41 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 4 3,5 3 DO 750 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 tempo (dias) Fig. 4- Curva de crescimento. O crescimento de Microcystis PCC 7806 em meio 2 ASM- 1 foi monitorado em função da densidade ótica (DO), medida à 750 nm. 42 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 0,23 absorbância relativa 0,22 0,21 0,20 3 dias 0,19 15 dias 35 dias 0,18 590 640 690 740 comprimento de onda (nm) Fig. 5- Espectros de absorção de suspensão de células de Microcystis PCC 7806 coletadas com 3, 15 e 35 dias de cultivo. Os espectros foram medidos de 600 a 760 nm. 43 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ a. b. Fig. 6 – Fenótipos de Microcystis PCC 7806 em diferentes estágios de cultivo; a. Aspecto de uma cultura com 8 dias de cultivo; b. Aspecto de uma cultura com 35 dias de cultivo. 44 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 0,24 absorbância relativa 13 dias 0,23 0,22 1 dia 0,21 0,2 590 640 690 740 comprimento de onda (nm) Fig. 7 – Experimento de regeneração. A linha contínua representa o espectro da cultura clorótica 1 dia após adição de meio 2 ASM-1. A linha pontilhada representa o espectro de uma cultura clorótica 13 dias após a adição de meio 2 ASM-1. 45 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ colaboradores (1998). Em seus estudos, a viabilidade de culturas de Synechococcus PCC 7942 submetidas à privação de nitrogênio foi monitorada por duas técnicas. Em uma, foi utilizado o kit de viabilidade ‘LIVE/DEAD Baclight’ (Molecular Probes), onde foi demonstrado que após 28 dias de privação de nitrogênio as células de Synechococcus ainda preservavam sua integridade de membrana. Na outra técnica, culturas submetidas à privação de nitrogênio por um período de 20 dias foram avaliadas quanto sua capacidade de retomar o crescimento e readquirir os pigmentos fotossintéticos (regenerar). Elas foram re-inoculadas em meio de cultura completo na presença de um agente inibidor da formação de septo. Deste modo, as células que readquiriam seus pigmentos eram facilmente visualizadas por retomar a auto-fluorescência característica e as que se dividiam formavam filamentos, pois devido a ação do agente inibidor da formação de septo elas não se separavam. Foi observado que após 3 - 4 dias de incubação praticamente todas as células cloróticas de Synechococcus foram capazes de regenerar, confirmando assim sua viabilidade. As observações feitas em culturas cloróticas de Microcystis coradas com o kit de viabilidade mostraram que a integridade da membrana se mantinha, em cada população observada, geralmente entre 70 - 90%. Assumindo que a manutenção da integridade de membrana é um fator suficiente para a célula se regenerar podemos concluir então que a maior parte das células cloróticas dentro de cada cultura permanecia com capacidade de regeneração. Estas suposições poderão ser confirmadas em experimentos com culturas sobre lâminas de microscópio. Outros experimentos realizados mostraram que culturas de Microcystis cloróticas foram capazes de manter sua viabilidade por aproximadamente um ano quando mantidas em sala de cultivo e sob iluminação, somente com a adição de água para evitar o ressecamento (dados não mostrados). 46 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 4.2 - Caracterização dos dois fenótipos: Após observar que Microcystis PCC 7806 apresenta dois fenótipos distintos ao longo do cultivo, os experimentos posteriores visaram uma melhor caracterização destes dois estados metabólicos. 4.2.1 - Diferenças na ultraestrutura: Estudos sobre alterações na ultraestrutura de células de cianobactérias decorrentes da privação de nutrientes essenciais são escassos e antigos (Ariño et al., 1995; Stevens et al., 1985; Wanner et al., 1986; Sherman et al., 1983; Miller et al., 1977; Vasconcelos & Fay, 1974). Nestes estudos um tipo de alteração na ultraestrutura freqüentemente relatado ocorre em relação aos grânulos de reserva (Allen, 1984). Outra alteração constantemente observada ocorre no aparato fotossintético (desaparecimento dos tilacóides) da célula que quase sempre é afetado. As micrografias eletrônicas das células de Microcystis de diferentes fenótipos são mostradas na figura 8. Foi observado que as células coletadas durante a fase de crescimento apresentaram a típica organização ultraestrutural de uma célula de cianobactéria. No citoplasma observou-se a presença de estruturas esféricas eletrodensas e eletro-lucentes. Estas estruturas provavelmente se tratam de grânulos de reserva encontrados em cianobactérias, como por exemplo, grânulos de polifosfato e corpos lipídicos (Allen, 1984). É também claramente observado no citoplasma um proeminente sistema interno de membranas tilacoidais que constituem o aparato fotossintético da célula. A parede celular se apresentou bem estruturada, com o arranjo multi-laminar típico das bactérias gram-negativas (figura 8 A). 47 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ As micrografias das células cloróticas mostraram que ocorrem profundas mudanças na organização celular durante a clorose. Nestas células foi observado o desaparecimento do aparato fotossintético que era caracterizado principalmente pela abundante presença dos tilacóides. As células cloróticas apresentaram também uma marcante reorganização na parede celular (figura 8 B). 4.2.2 - Diferenças no acúmulo de glicogênio: O glicogênio é um polissacarídeo formado por subunidades de glicose unidas através de ligações α14, com ligações α16 nas ramificações. Em cianobactérias, o glicogênio é acumulado sob a forma de pequenos grânulos localizados principalmente entre os tilacóides. O glicogênio pode ser degradado em cianobactérias a dióxido de carbono pela via pentose fosfato e os elétrons transferidos ao oxigênio via cadeia transportadora de elétrons (Van Liere et al., 1979), portanto sua principal função é de servir como produto de reserva; provável fonte de carbono e energia na ausência luz. O acúmulo de glicogênio ocorrido durante o processo de clorose já foi relatado para outros gêneros de cianobactérias. Em culturas de Synechococcus PCC 7942, por exemplo, o processo de clorose foi acompanhado por um aumento de aproximadamente 4 vezes no conteúdo de glicogênio, após 30 dias de privação de nitrogênio (Görl et al., 1998). A quantificação de glicogênio nas células de Microcystis foi obtida indiretamente, após hidrolise ácida com liberação de monômeros de glicose. Este dado está representado pelo gráfico de barras da figura 9. Os resultados mostram que as células cloróticas apresentam cerca de 5 vezes mais glicogênio que as 48 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ Fig. 8 – Micrografias eletrônicas de células de Microcystis sob diferentes condições; a. Ultraestrutura de células coletadas durante a fase de crescimento. As setas pretas mostram a organização dos tilacóides; b. Ultraestrutura de células cloróticas. Nestas células observa-se a ausência das membranas tilacoidais e uma reorganização da parede celular; c. Efeito do meio condicionado ativo, sobre a ultraestrutura de células crescidas em meio repleto de nutrientes. Estas células tratadas também apresentaram a perda dos tilacóides. As micrografias selecionadas são representativas de cada estágio analisado. As barras representam 0,25 µm. 49 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 12 glicose (µg/10 8 céls) 10 8 6 4 2 0 culturasmédia culturas verdes cloróticas Fig. 9 – Estimativa do conteúdo de glicogênio. Os resultados foram obtidos a partir de culturas com 8 (células verdes) e 40 dias (células cloróticas). O conteúdo de glicogênio foi determinado indiretamente após hidrólise ácida e liberação dos monômeros de D-glicose utilizando o método enzimático/colorimétrico (glicose oxidase) do Kit Bioliquid (Biodiagnóstica). 50 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ células em fase de crescimento. As células cloróticas com 40 dias de cultivo apresentaram 8,11 ± 2,18 µg de glicose/108 células enquanto as células verdes, com 8 dias de cultivo, apresentaram 1,55 ± 0,68 µg de glicose/108 células. 4.2.3 – Conteúdo de proteínas solúveis: A análise proteômica de proteínas solúveis em Synechocystis PCC 6803 revelou que grande parte das proteínas identificadas está relacionada ao metabolismo energético (fotossíntese) e ao metabolismo de aminoácidos (Simon et al., 2002). Além disso, estima-se que cerca de um terço do total de proteínas solúveis em Synechocystis esteja associada a membranas (Norling et al., 1998). A estimativa do conteúdo de proteínas solúveis em Microcystis revelou que na média não houve diferença clara entre os fenótipos: as células verdes apresentaram 17,5 ± 4 µg enquanto as células cloróticas apresentaram 20 ± 9,3 µg de proteínas solúveis/108 células. A grande variação no conteúdo de proteínas solúveis observada dentro de cada fenótipo analisado (alto desvio padrão) pode ter sido influenciada por problemas na metodologia. Durante o processo de extração das proteínas solúveis foi observado que as células cloróticas apresentaram maior resistência à lise quando comparada às células verdes. Deste modo foi preciso aumentar o número de ciclos de sonicação no processo de extração para garantir que todas as células cloróticas rompessem. O procedimento de sonicação é um método agressivo e a extensão do número de ciclos pode ocasionar a desnaturação de proteínas o que poderia influenciar os resultados obtidos. Assim, os resultados deste experimento são preliminares, pois o método de extração deverá ser otimizado a fim de minimizar os efeitos do procedimento de sonicação na quantificação das proteínas solúveis de cada fenótipo. 51 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ Mais uma razão para questionar os resultados acima, são os dados obtidos nos estudos sobre clorose em Synechococcus PCC 7942 (Sauer et al., 2001). Os autores mostraram que as células mantidas por 70 dias em meio sem nitrogênio apresentaram cerca de 0,4% do total de proteínas solúveis de células coletadas na fase de crescimento (Sauer et al., 2001). Portanto os resultados apresentados neste trabalho para as células cloróticas de Microcystis diferem do que foi observado durante a clorose em Synechococcus PCC 7942 (Sauer et al., 2001). 4.2.4 - Diferenças no perfil metabólico: O uso da ressonância magnética nuclear como ferramenta na área da microbiologia vem ganhado destaque nos últimos anos (Kell, 2004; Grivet et al., 2003 e Fiehn, 2002). Entre as principais aplicações desta técnica destaca-se a possibilidade de se obter um perfil químico completo de uma amostra e ainda ser possível identificar um composto dentro dessa mistura complexa, sem a necessidade de purificá-lo. Neste estudo a RMN foi utilizada para obter o perfil químico das micro-moléculas solúveis presentes em diferentes extratos de células de Microcystis PCC 7806 de diferentes fenótipos. A medição dos espectros do extrato aquoso e metanólico mostrou que, no geral as células cloróticas apresentaram uma redução na intensidade dos sinais, quando comparadas com as células verdes. No extrato aquoso os compostos identificados foram: colina, ácido acético, ácido láctico, ácido β-hidroxi butírico, açúcares e dois compostos que não puderam ser identificados (figura 10 A e B). No extrato metanólico os compostos identificados foram: ácido fórmico, clorofila a e ácido acético, além de ácidos graxos saturados e insaturados, açúcares e um composto não identificado (figura 10 C e D). 52 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ A comparação dos espectros dos extratos clorofórmicos mostrou claramente uma mudança no perfil de ácidos graxos (figura 10 E e F). As células cloróticas apresentaram maior quantidade de ácidos graxos insaturados em relação às células verdes. Este fato é evidenciado principalmente pelo aparecimento do sinal com deslocamento químico em 5.35, que provavelmente corresponde a uma insaturação na cadeia de C. A presença de ácido β-hidroxi butírico no extrato aquoso de cianobactérias é comum já que este composto pode formar um polímero, o poli-β-hidroxibutirato (PHB) que é unicamente encontrado em bactérias. Em algumas espécies de cianobactérias, o acúmulo de PHB é induzido pela privação de nutrientes, como em Synechococcus sp. MA19 que foi capaz de acumular rapidamente PHB quando cultivada em condições de privação de nitrogênio (Miyake et al., 1997). Em outras espécies o acúmulo de PHB ocorre em função de excesso de poder redutor ou pela presença de excesso de ácido acético (De Phillipis et al., 1992). No extrato aquoso de células cloróticas de Microcystis foi observado uma redução em torno de 2,5 vezes nos sinais relativo ao ácido β-hidroxi butírico. A diminuição dos sinais relativos ao ácido β-hidroxi butírico, junto ao fato de ocorrer um aumento de 3,8 vezes no sinal relativo ao ácido acético no extrato metanólico sugere que ocorreu um acúmulo, nas células cloróticas, de ácido β-hidroxi butírico na sua forma polimérica (PHB). O PHB não é detectado nos espectros por se tratar de uma molécula polimérica e por isso há a necessidade de técnicas específicas de RMN para confirmar este acúmulo nas células cloróticas de Microcystis. No espectro do extrato aquoso de células verdes foi detectado um sinal relativo a molécula de colina. Este sinal estava ausente no extrato aquoso das células cloróticas. Em bactérias a colina pode participar da formação de 53 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ fosfatidilcolina – um tipo de fosfolipídio de membrana (Sohlemkamp et al., 2003). A ausência deste sinal nas células cloróticas pode ser explicada pelo fato desta cultura já se encontrar na fase estacionária e, portanto o processo de formação de membranas nestas células estar reduzido. A comparação da intensidade dos sinais relativos aos açúcares entre as células verdes e cloróticas revelou que houve uma redução em torno de 60 vezes no conteúdo destas moléculas nas células cloróticas. Esta redução é prontamente justificada pela marcante redução do processo de fotossíntese nas células cloróticas. O ácido lático é uma molécula proveniente da fermentação da glicose. Ele é formado a partir do piruvato e em cianobactérias é sintetizado principalmente durante o período de escuro, para produção de ATP. O sinal relativo ao ácido lático se apresentou cerca sete vezes menos intenso nas células cloróticas. Este fato provavelmente é mais um reflexo da redução no metabolismo das células. Como a produção de açucares foi drasticamente reduzida o metabolismo do piruvato a lactato durante o período de ausência de luz também foi diminuído. O espectro aquoso e metanólico das células cloróticas revelou um aumento na intensidade dos sinais relativos ao ácido acético e ao ácido fórmico, quando comparado com os espectros das células verdes. Esses compostos também são produtos de fermentação. Apesar da respiração aeróbica ser considerada o modo habitual de geração de energia em cianobactérias na ausência de luz, esses microorganismos podem ser encontrados em ambientes sob permanente condição de anoxia (por exemplo, quando formam grossas natas durante as florações) ou temporariamente, principalmente durante a noite, quando a oferta de oxigênio é limitada pela 54 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ supressão da fotossíntese. Sob condição de falta de oxigênio o metabolismo aeróbio pode ser substituído pelo metabolismo anaeróbio através do processo fermentativo. Em cianobactérias vários tipos de fermentação já foram reportados: culturas aeradas de Microcystis PCC 7806 e crescidas em meio de cultura BG11, foram capazes de fermentar, na ausência de luz, o glicogênio de reserva em etanol, acetato, dióxido de carbono (CO2) e H2 (Moezzelaar & Stal, 1994); Oscillatoria limnetica, quando em condições de anoxia foi capaz de realizar fermentação homolática (Oren & Shilo., 1979); Oscillatoria limosa, uma espécie que pode formar densas camadas de células onde a difusão de gases é dificultada (Revsbech et al., 1983), é capaz de realizar uma fermentação heterolática e homoacética simultaneamente (Heyer et al., 1989); em Cyanothece PCC 7822, um gênero unicelular, quando incubada na ausência de oxigênio e luz e foi capaz de utilizar suas reservas de carbono gerando acetato, etanol, formato e lactato caracterizando um tipo de fermentação ácida mista (Van der Oost et al., 1989). Os dados relativos aos produtos da fermentação sugerem que durante o crescimento no meio ASM-1 (homeostase energética) as células de Microcystis apresentaram uma fermentação preferencialmente homolática (ac. lático). Durante a clorose com a drástica mudança no metabolismo energético das células vias alternativas de obtenção de energia se tornaram ativas, como foi observado pela produção de ácido acético e ácido fórmico nas células cloróticas. Durante esta fase provavelmente fontes de carbono de reserva (glicogênio e PHB, por exemplo) serviram como substratos para este tipo de fermentação. No extrato metanólico das células cloróticas foi observado a ausência do sinal relativo à clorofila a; Este fato já era esperado, pois como já descrito em experimentos anteriores, as células cloróticas apresentam redução no conteúdo de clorofila a. 55 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ Tabela 1- Informações auxiliares aos espectros dos extratos aquosos. Letra Deslocamento químico (p.p.m)*** Células. verdes* Células. cloróticas* Molécula identificada a1 a2 a3 1.2 2.5 4.15 5 2 ácido β-hidroxi butírico b c d 3.25 1.35 2 0.7 X** 0.1 colina ácido lático 1.9 2 3 ácido acético C5H14ON C3H6O3 C2H4O2 e1 e2 f 3.5-4.0 5.4 4.4 12 0.2 açúcares variável 0.8 0.05 composto não identificado desconhecida g 6.9 X** 0.05 composto não identificado desconhecida Fórmula química C4H8O3 * intensidade relativa do sinal; ** sinal não detectado; *** valores aproximados. Tabela 2- Informações auxiliares aos espectros dos extratos metanólicos. Letra Deslocamento químico (p.p.m.)*** Células. verdes* Células cloróticas* Molécula identificada Fórmula química h 8.55 0.1 1.6 ácido fórmico CH2O2 i 5.96, 6.15, 8.03, 8.45, 9.35 e 9.6 0.8 0 clorofila a C55H72MgN4O5 j 5.3 e 5.4 9 3 k 0.9 e 1.3 16 17 l 7.05 e 7.75 0.2 X** e 3.5 - 4.0 4 0.5 ácidos graxos insaturados ácidos graxos saturados e insaturados composto não identificado açúcares d 1.9 1.3 5 ácido acético variável variável desconhecida variável C2H4O2 * intensidade relativa do sinal; ** sinal não detectado; *** valores aproximados. Tabela 3- Informações auxiliares aos espectros dos extratos clorofórmicos. Letra Deslocamento químico (p.p.m.)*** Células. verdes* Células cloróticas* Molécula identificada Fórmula química k 0.9 e 1.3 1,7 1,4 ácidos graxos saturados e insaturados variável ácidos graxos insaturados * intensidade relativa do sinal; ** sinal não detectado; *** valores aproximados. j 5.35 0,02 0,2 variável 56 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ células verdes A. células cloróticas B. a1 H2 O d e1 d b e2 H2O a2 a3 f g a1 c e2 a3 e1 a2 c D. C. i MeOH - MeOH k j k k k e d i il l i ii j d j h E. F. k k k j k j Fig. 10 - Espectros de 1H RMN (400 mHz) de células de Microcystis PCC 7806 coletadas em diferentes estágios de crescimento da cultura. Perfil metabólico de células coletas durante a fase de crescimento; extrato aquoso (A), extrato metanólico (C), extrato clorofórmico (E). Perfil metabólico de células coletadas na fase estacionária (células cloróticas); extrato aquoso (B), extrato metanólico (D), extrato clorofórmico (F). 57 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 4.3- Auto-regulação do crescimento de Microcystis PCC 7806: 4.3.1 - O efeito do meio condicionado de Microcystis sobre o crescimento e conteúdo de pigmentos da mesma cepa: A entrada para a fase estacionária em bactérias quase sempre é acompanhada por diversas mudanças fisiológicas que visam a sobrevivência das células no ambiente (Kolter et al., 1993). Em cianobactérias parece não ser diferente. Mudanças fisiológicas em bactérias estão freqüentemente associadas à produção de sinais extracelulares que são responsáveis pela coordenação dessas respostas. A fim de investigar se o meio de cultura obtido de células cloróticas possui sinais químicos que coordenem uma resposta da população à falta de nutrientes, este meio foi adicionado a culturas crescidas em meio repleto de nutrientes. Meio de cultura de células cloróticas (meio condicionado) foi separado e adicionado em culturas recém inoculadas em meio 2 ASM-1. A figura 11 mostra o efeito do meio condicionado de células cloróticas sobre culturas crescidas em meio repleto de nutrientes. Os experimentos mostraram que depois de 3 a 5 dias, houve uma clara diferença na densidade das células: enquanto as culturas controle, onde água ou meio de cultura foram adicionados, apresentaram aumento na densidade, as culturas que foram tratadas com o meio condicionado da fase estacionária apresentaram crescimento muito inferior. A DO750 da cultura tratada foi de 0,36 + 0,04, o que corresponde à cerca de duas vezes a densidade do inóculo. Já nos controles a absorbância aumentou de 8-9 vezes (DO750 do controle com água 1,24 + 0,23 e do controle com meio 2 ASM-1 1,35 + 0,09) (figura 11). 58 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 1 2 3 Fig. 11 - Efeito do meio condicionado ativo sobre o crescimento de culturas de Microcystis PCC 7806 crescidas em meio repleto de nutrientes. 1- Controle negativo com adição de H2O; 2- Adição do meio condicionado ativo; 3- Controle negativo com adição de meio 2 ASM-1. A observação foi feita 5 dias após o início do experimento. 59 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ Para verificar se o acúmulo do composto inibitório se dá especificamente na fase estacionária de crescimento o mesmo tipo de ensaio foi realizado utilizando-se meio condicionado de cultivos de Microcystis ainda em crescimento, ou seja, enquanto as células ainda estavam verdes. Nenhuma inibição no crescimento foi observada nestes ensaios (dados não mostrados). Deste modo podemos concluir que o fator responsável pela inibição está presente somente em culturas estacionárias. A fim de verificar com mais detalhe a inibição descrita acima, também foi avaliada a susceptibilidade de cultivos de Microcystis, em diferentes fases de crescimento, ao tratamento com o meio condicionado. O efeito do meio condicionado ativo sobre o crescimento de culturas de Microcystis com 4, 7, 10 e 14 dias de cultivo é mostrado na figura 12 A. A DO750 foi medida 5 dias após o ensaio ter sido realizado. A inibição da divisão celular ocorreu de maneira independente da idade da cultura a qual o meio condicionado ativo foi adicionado. Estes resultados mostraram que a atividade do meio condicionado sobre culturas saudáveis de Microcystis independe da fase de crescimento a qual ele é adicionado. 4.3.2 - Atividade do meio condicionado ativo sobre outras cepas de cianobactérias: Os mesmos experimentos de inibição foram realizados em outras cepas independentes do mesmo gênero, ambas isoladas no Brasil. A tabela 4 mostra que a inibição do crescimento na cepa de Microcystis UENF Mic1 e Microcystis UENF Mic2 foi cerca de 25% menor quando comparado com o poder de inibição na cepa 60 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ Tabela 4- Comparação do efeito do meio condicionado de culturas cloróticas de Microcystis PCC 7806 sobre o crescimento de outras cepas. Resultados observados 5 dias após a realização do ensaio de inibição. Os valores de inibição são relativos ao resultado do ensaio obtido com a cepa Microcystis PCC 7806. Cepa Força de inibição relativa (%)__ Microcystis PCC 7806 100 Microcystis UENF Mic1 75 - 60 Microcystis UENF Mic2 75 – 60 Synechococcus PCC 7942 0 Synechocystis PCC 6803 0 61 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ a. 1,2 2,5 2 0,8 1,5 0,6 1 0,4 D.O. 750 nm absorbância relativa 1 0,5 0,2 0 0 0 5 10 tempo (dias) 15 20 b. absorbância relativa 0,23 0,22 0,21 0,20 0,19 590 640 690 740 comprimento de onda (nm) Fig. 12- Efeito da adição do meio condicionado ativo em culturas de Microcystis com 4, 7, 10 e 14 dias de crescimento; a. (•) Curva de crescimento em função da DO 750. As barras verticais mostram o crescimento relativo das culturas em cada idade após o tratamento com: pretas meio 2 ASM-1, cinzas água, brancas meio condicionado; b. Espectro de uma cultura de Microcystis com 10 dias de crescimento após tratamento com meio condicionado, onde: ( 2ASM-1 e ( ) meio condicionado foi adicionado. ) água, ( ) meio 62 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ original; deste modo, estes resultados mostraram que a inibição não foi específica, e que as outras cepas de Microcystis também são sensíveis à adição do meio condicionado. A fim de investigar se o meio condicionado de Microcystis PCC 7806 possui efeito sobre outros gêneros de cianobactérias pertencentes à mesma Seção de Microcystis, o ensaio de inibição foi realizado em duas culturas: Synechococcus PCC 7942 e Synechocystis PCC 6803. Como mostrado na tabela 4, nenhuma das duas cepas respondeu à adição do meio de cultura condicionado, ou seja, as culturas foram capazes de manter o crescimento mesmo na presença do meio condicionado de culturas cloróticas de Microcystis PCC 7806. Os resultados acima sugerem, que o efeito do meio condicionado ativo de Microcystis PCC 7806 não é universal para cianobactérias e que seja talvez gênero específico. 4.4 - Investigação do mecanismo de inibição: 4.4.1 - Efeito do meio condicionado ativo sobre o perfil de pigmentos, ultraestrutura e viabilidade de células de Microcystis PCC 7806. Os ensaios, no qual o meio condicionado de células cloróticas foram adicionados em culturas repletas de nutrientes do mesmo organismo, mostraram que além da inibição da multiplicação das células, o tratamento tornava as culturas tratadas pálidas, ou seja, com fenótipo semelhante ao observado nas células cloróticas. Para confirmar esta suspeita, foi medido o perfil de pigmentos de culturas tratadas com meio condicionado ativo. A figura 12 B mostra o espectro de uma cultura de Microcystis incubada durante 10 dias com o meio condicionado. Foi observado que a intensidade do pico de absorção da clorofila a na cultura tratada foi 63 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ bem menor quando comparado às intensidades dos picos de clorofila a nas culturas controle (tratadas com água ou 2 ASM-1). Deste modo foi confirmado que, além da inibição da divisão celular, o meio condicionado ativo também possui efeito sobre o conteúdo de pigmentos das células. Culturas com 4, 7 e 14 dias de cultivo submetidas ao mesmo tratamento também apresentaram diminuição na intensidade do pico de clorofila a (dados não mostrados) indicando assim que a redução no conteúdo de clorofila a também ocorreu de maneira independente da idade da cultura na qual o meio condicionado ativo foi adicionado. O efeito do meio condicionado sobre a ultraestrutura das células tratadas também foi investigado. A figura 8 C (página 49) mostra a ultraestrutura de uma célula de Microcystis PCC 7806 após tratamento com o meio condicionado. A principal característica que as células tratadas apresentaram foi o desmantelamento de seu aparato fotossintético, notado principalmente pela ausência dos tilacóides. Este fato se assemelha ao observado nas células cloróticas (ver figura 8 B). A fim de verificar, se as células tratadas com meio condicionado permaneciam com sua membrana intacta, foram usados novamente marcadores fluorescentes. As observações após corar as células tratadas com o Kit LIVE/DEAD Baclight mostraram que mais de 90 % destas células mantinham a integridade de membrana preservada, e que, provavelmente, estas células permaneciam viáveis. Os resultados descritos acima sugerem que a redução da multiplicação celular, nas culturas em que o meio condicionado foi adicionado, foi acompanhada pelo desmantelamento do aparato fotossintético das células, essencial para a captação de energia. Também demonstra que as células tratadas com o meio condicionado adquirem características similares às encontradas nas células cloróticas na fase estacionária, pois como foi verificado as células tratadas mantêm 64 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ preservada a integridade da membrana e, portanto provavelmente permanecem viáveis. 4.5 - Extração e caracterização preliminar do fator responsável pela atividade do meio condicionado em culturas de Microcystis PCC 7806. Os resultados até agora discutidos sugerem a presença de algum fator liberado no meio de cultura de células cloróticas capaz de inibir a multiplicação celular do mesmo microorganismo, mesmo na presença de nutrientes suficientes no meio de cultura. Uma investigação mais profunda revelou que este composto foi capaz de levar as células verdes a adquirirem características de células cloróticas. Este fator seria produzido pelas células durante o processo de clorose (entrada para a fase estacionária). Para definir estratégias de isolamento do fator presente no sobrenadante de células cloróticas, primeiramente foi avaliada a estabilidade do meio condicionado a altas temperaturas e ao congelamento. Foi observado que após fervura e após sucessivas etapas de congelamento/descongelamento, o meio condicionado preservou sua atividade. Também foi verificado que este fator preservou sua atividade após a sua solução em solventes orgânicos. Destes resultados conclui-se que o composto ativo deve se tratar de uma micro-molécula relativamente apolar e por isso foi definida uma estratégia de purificação. 65 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 4.5.1 - Extração: A eficiência da extração do composto ativo foi avaliada após tentativas de adsorção em ODS. O ensaio de inibição realizado com a fração eluída e não-eluída revelou a fração eluída apresentou os mesmos resultados de inibição do meio condicionado original (que não foi passado pela coluna) e a fração não-eluída não apresentou nenhuma atividade. Conclui-se então que o composto responsável pela atividade é capaz de ficar retido em ODS. Em outro experimento o mesmo procedimento de extração, utilizado para meio condicionado de células brancas, foi realizado com meio condicionado de células ainda em fase de crescimento (verdes) e com o meio de cultura 2 ASM-1 fresco (sem inóculo). Após passados por cada coluna o material retido foi eluído com metanol 100 %, seco em rotavapor e concentrado cerca de 10 vezes, ou seja, reconstituído em meio 2 ASM-1 ao equivalente a décima parte do volume do meio condicionado de células verdes ou do meio de cultura 2 ASM-1 sem inóculo passados inicialmente pela coluna. Os extratos concentrados foram usados como controles negativos nos ensaios de inibição. O resultado do ensaio de inibição mostrou que os extratos do meio condicionado de células ainda em fase de crescimento (verdes) e do meio de cultura 2 ASM-1 fresco sem inóculo mesmo concentrados, não apresentaram atividade inibitória e o crescimento das culturas tratadas desta maneira foi similar ao das culturas onde somente água e meio 2 ASM-1 foram adicionados (dados não mostrados). Estes resultados confirmam que a atividade do meio condicionado ocorre somente quando as células estão na fase estacionária de crescimento, ou seja, quando as células já estão cloróticas. Mostram também que nenhum 66 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ componente presente no meio de cultura 2 ASM-1 é responsável pela inibição do crescimento. Depois de confirmada a retenção do composto ativo em ODS foi iniciada etapa de purificação. Primeiramente foram realizados ensaios de atividade com as frações eluídas em 5, 10, 20, 40, 60, 80 e 100% de metanol. O resultado destes ensaios indicou que somente as frações eluídas a 60 e 80% de metanol apresentaram atividade. Nenhuma inibição foi observada com as frações eluídas a 5, 10, 20, 40 e 100% de metanol. Estes resultados confirmam se tratar de um composto relativamente apolar. 4.5.2 - Análise por CLAE: Após extrair uma grande quantidade de meio condicionado as frações eluídas entre 60 e 80% de metanol foram reunidas e concentradas para a análise por CLAE. O cromatograma da fração ativa se mostrou bastante complexo, como é mostrado pela figura 13. Os compostos detectados no cromatograma foram exclusivamente oriundos do metabolismo das células uma vez que cianobactérias são organismos autotróficos e seu meio de cultura é composto apenas de sais minerais (ver anexo I) e EDTA. A atividade das frações coletadas após a passagem pelo CLAE foi monitorada através do ensaio de inibição (figura 13). O resultado dos ensaios revelou várias frações com atividade inibitória. As frações coletadas que apresentaram atividade são representadas pelos vales no gráfico da figura 13. A atividade das frações se concentrou nos intervalos entre 23 e 24 minutos, entre 35 e 38 minutos e entre 40 e 44 minutos. 67 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ Ao comparar os intervalos onde houve a inibição de crescimento com o tempo de saída de picos no cromatograma foi observado que a fração coletada no intervalo entre 23 e 24 min embora tenha mostrado atividade não coincidiu com nenhum pico de absorção. No intervalo entre 35 e 38 min a atividade inibitória foi acompanhada por vários picos que absorveram mais fortemente a 200 e 250 nm. O intervalo entre 40 e 44 min apresentou dois picos bem definidos que absorveram somente a 200 nm. Neste intervalo de tempo também foram observadas regiões que embora tenha apresentado atividade inibitória não apresentaram picos de absorção nos comprimentos de onda monitorados. A presença de atividade inibitória em regiões do cromatograma onde não apresentam absorção no ultravioleta próximo (200 – 380 nm) indica que existem compostos que embora contribuam para a atividade do meio condicionado não apresentam cromóforos, ou seja, são invisíveis no ultravioleta próximo e, portanto não podem ser detectadas por esta técnica. Portanto o fracionamento da amostra por CLAE indica que mais de um fator estaria envolvido com a atividade do meio condicionado. 68 Resultado e discussão _______________________________________________________________________________________________________ 0,6 crescimento cromatograma -CLAE HPLC 0,4 1000 OD750 0,8 0,2 Absorbância relativa 2000 1 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 tempo (min) Fig. 13 - Cromatograma da fração ativa e atividade das frações coletadas após passagem por CLAE. A amostra foi injetada em coluna C18 em CLAE com detector de diodo. O volume de amostra injetado foi de 20 µL com fluxo de corrida a 1,5 mL/min. Os eluentes usados na corrida foram: eluente A: TFA 0,05 % em água e eluente B: TFA 0,05 % em metanol. O espectro foi monitorado a 200 (linha verde), 250 (linha vermelha) e 300 nm (linha azul). Após passagem pela coluna as amostras foram coletadas, processadas e testadas quanto a sua atividade. Os vales indicam os tempos que apresentaram atividade inibitória. DO750 das culturas controle: 1,086 (água), 1,155 (2 ASM-1), 1,035 (água esterilizada por filtro) e 0,189 (controle positivo). 69 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ 4.6 - Considerações finais: As culturas de Microcystis apresentam uma coloração verde-azulada característica da maioria das cianobactérias unicelulares (figura 6 a). Esta coloração é atribuída principalmente à presença dos seus principais pigmentos fotossintéticos: a clorofila a e a ficocianina. Cultivos de Microcystis mantidos por longos períodos de tempo são reportados na literatura (Lyck, 2004), porém em nenhum estudo foi descrito o fenômeno de clorose. Apesar das condições de cultivo e as cepas testadas serem diferentes da nossa, este parece ser um dos primeiros estudos que reportam este fenômeno no gênero Microcystis. Os experimentos indicaram que o fenômeno de clorose em Microcystis ocorrreu sempre de maneira espontânea e geralmente quando as culturas apresentavam altas densidades celulares. O pH do meio condicionado, quando as células já se apresentavam cloróticas, ficou em torno de 8, portanto o pH parece não possuir influência sobre a indução de clorose. O efeito da limitação de nutrientes sobre a fisiologia de cianobactérias não fixadoras de nitrogênio tem sido freqüentemente estudada. Uma freqüente observação é a redução no conteúdo dos pigmentos fotossintéticos da cultura. (Wanner et al., 1986, Saha et al., 2003, Görl et al., 1998, Collier & Grossman, 1992). As culturas permanecem viáveis desde que essa adaptação é prontamente reversível. A limitação por nitrogênio leva a uma gradual queda no conteúdo dos pigmentos fotossintéticos de Synechococcus PCC 7942. Este processo resulta em baixos níveis de fotossíntese já que a homeostase energética nas células cloróticas é mantida a 0,1 % da atividade fotossintética de células verdes. Deste modo propõese que esta reação seja um mecanismo de adaptação para a sobrevivência 70 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ prolongada das células (Sauer et al., 2001) já que mutantes que não reagem desta maneira possuem baixa viabilidade (Sauer et al., 1998). Nestes estudos também foi mostrado que as culturas cloróticas foram capazes de permanecer viáveis por no mínimo um ano de privação, desde que fossem mantidas na presença de luz; culturas cloróticas incubadas na ausência de luz por 14 dias já mostravam atraso no tempo de regeneração quando colocadas novamente em meio de cultura suplementado com nitrogênio. O espectro de Microcystis PCC 7806 no inicio do cultivo mostra um pico relativamente pequeno de ficocianina, quando comparado ao pico de clorofila a. A redução de pigmentos mais pronunciada observada durante a clorose foi em relação ao pico de clorofila a, que foi reduzido a cerca de um quarto da sua intensidade original de absorção. A degradação da clorofila a e de proteínas associadas, em Microcystis PCC 7806 teria os mesmos efeitos propostos para a degradação de ficobiliproteínas em Synechococcus PCC 7942 descritos antes: uma diminuição da absorção de luz com um concomitante aumento na disponibilidade de nutrientes limitantes, possibilitando que Microcystis sobreviva às condições de estresse. Além disso, os resultados sobre o conteúdo de glicogênio mostraram que as células cloróticas de Microcystis apresentaram um aumento no conteúdo de glicogênio. Este último fato se assemelha aos experimentos sobre privação de nitrogênio em Synechococcus PCC 7942, onde também foi observado um acúmulo de glicogênio. Portanto este estudo mostra que Microcystis e Synechococcus devem adotar estratégias semelhantes de sobrevivência. As mudanças fenotípicas, observadas em microorganismos fotossintéticos, em resposta a vários estresses levam a um balanço entre a absorção de energia pelo aparato fotossintético e a demanda dos produtos da fotossíntese, ATP e 71 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ NADPH no metabolismo da célula. Falhas neste processo de adaptação levam a uma série de reações incontroláveis que podem comprometer a viabilidade das células, já que a diminuição na disponibilidade de nutrientes freia uma série de processos metabólicos (Hellingwerf, 2002). A diminuição do metabolismo das células durante a clorose foi observada pelos espectros dos extratos medidos por RMN. A comparação do perfil metabólico entre as células verdes e cloróticas revelou no geral que existe uma acentuada queda nos níveis intracelulares das principais micromoléculas nas células cloróticas. A existência de mecanismos químicos de autocontrole da densidade populacional em Microcystis foi investigada. Os resultados dos experimentos sugerem a presença de fator(es) no meio extracelular, que aparentemente foi produzido durante a entrada para a fase estacionária. Este(s) fator(es) foi capaz de induzir uma resposta similar em células de Microcystis crescidas em meio repleto de nutrientes. A auto-inibição do crescimento no gênero Microcystis já foi investigado por alguns autores. Kozitskaya (1980) investigou a capacidade de Microcystis auto-inibir seu crescimento, ela correlacionou a diminuição da velocidade de crescimento com o aparecimento de compostos fenólicos no meio de cultura. A auto-inibição do crescimento também já foi reportado para outros gêneros de cianobactérias. Já em 1917, Harder observou uma auto-inibição do crescimento em Nostoc punctiforme. Em Porphydium tenue foi observado que culturas axênicas desta espécie morriam repentinamente, enquanto culturas originais, contaminadas por bactérias, permaneciam saudáveis. Deste modo, Murakami e co-autores em 1990 passaram a investigar a capacidade desta espécie em auto-inibir seu crescimento. As substâncias responsáveis pela inibição foram identificadas como 72 Resultado e discussão ___________________________________________________________________ uma mistura de ácidos graxos insaturados que quando acumulados no meio de cultura ao longo do cultivo provocavam a morte das células dentro da população. (Yamada et al., 1994). Na tentativa de usar esta abordagem para controlar a formação de florações tóxicas de cianobactérias, nós procuramos por fatores envolvidos na comunicação intercelular no meio de cultura de Microcystis. Este gênero é geralmente responsável pelo maior número de relatos de intoxicação em animais e humanos. Neste trabalho é reportada a existência de um sinal extracelular no meio de cultura de células cloróticas de Microcystis PCC 7806 que parece coordenar esta resposta na população; sua adição a culturas saudáveis promove a redução do crescimento da população e a desorganização do aparato fotossintético das células. Estudos sobre o ciclo de vida de células de Microcystis na natureza revelam a manutenção de um estoque de células nos sedimentos de lagos ao longo do outono e do inverno. Estas células parecem manter um estado de baixa atividade metabólica e os estudos sugerem que estas formas são um importante inoculo para a formação de novas florações na próxima estação (Brunberg & Blomqvist, 2003; Stahl-Delbanco et al., 2003). 73 Conclusões ___________________________________________________________________ 5- Conclusões: 5.1 - Caracterização de culturas de Microcystis PCC 7806 em diferentes estágios de crescimento: Culturas de Microcystis PCC 7806 quando cultivadas por longos períodos em meio 2 ASM-1 apresentam a redução dos pigmentos fotossintéticos num processo denominado de clorose. Durante a clorose a maior parte das células permanece viável já que a cultura clorótica é capaz de regenerar quando incubada novamente em meio de cultura completo e as células permanecem com sua integridade de membrana preservada. As células cloróticas de Microcystis têm como características a redução no conteúdo de clorofila a, desarranjo das membranas tilacoidais, acúmulo de glicogênio e alterações no perfil intracelular de micro-moléculas. 5.2 - Auto-regulação do crescimento em Microcystis PCC 7806: Quando o meio de cultura (meio condicionado) de células cloróticas de Microcystis PCC 7806 é adicionado a culturas da mesma cepa, crescidas em meio repleto de nutrientes, ocorre a inibição do crescimento nas culturas tratadas. A inibição do crescimento em culturas tratadas com o meio condicionado ocorre de maneira independente da idade da cultura à qual ele é adicionado. A maior parte das células tratadas permanece viável já que mantém a integridade de membrana preservada. A investigação do mecanismo de inibição revelou que as culturas tratadas apresentam redução no conteúdo de clorofila a e a desorganização dos tilacóides, fenótipo semelhante ao encontrado em culturas cloróticas. 74 Conclusões ___________________________________________________________________ O efeito do meio condicionado não é específico para a cepa, mas no mínimo específico ao gênero, já que outras cepas de Microcystis (UENF Mic1 e UENF Mic2) foram capazes de responder da mesma maneira a adição do meio e outros gêneros testados (Synechococcus e Synechocystis) não apresentaram resposta ao tratamento. Um extrato ativo foi obtido e as investigações sobre a sua estabilidade mostraram que o fator responsável pela inibição é resistente a altas temperaturas, ao congelamento e descongelamento e a solução em solventes, indicando se tratar de um composto relativamente apolar e de baixo peso molecular. As etapas iniciais de purificação indicam que provavelmente mais de um fator seria responsável pela atividade do meio condicionado. 75 Referências bibliográficas ___________________________________________________________________ 6- Referências bibliográficas: • Adams, D.G. & Duggan, P.S. (1999) Heterocyst and akinete differentiation in cyanobacteria. New Phytol. 144:03-33. • Allen, M.M. (1984) Cyanobacterial cell inclusions. Ann. Rev. Microbiol. 38:125. • Allen, M.M. & Smith, A.J. (1969) Nitrogen chlorosis in blue-green algae. Arch. Microbiol. 69:114-120. • Ariño, X., Ortega-Calvo, J.J., Hernandez-Marine, M. & Saiz-Jimenez, C. (1995) Effect of sulfur starvation on the morphology and ultrastructure of the cianobacterium Gloeothece sp. PCC 6909. Arch. Microbiol. 163:447-453. • Atrih, A. & Foster, S.J. (1999) The role of peptidoglycan structure and structural dynamics during endospore dormancy and germination. Antonie Van Leeuwenhoek. 75:299-307. • Azevedo, S.M.F.O. 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