1 BAÚ DE POESIAS: PROMOVENDO O PROCESSO DE LETRAMENTO POR MEIO DE RECURSOS DIDÁTICO SOUZA, Bruna gonçalves de SILVA, Franciele da LUCAS, Maria angélica Olivo Francisco Universidade Estadual de Maringá - UEM Objetivamos expor um dos recursos didáticos elaborados por acadêmicas do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) participantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (Pibid): o baú de poesias. Trata-se de uma caixa de madeira, pintada e ilustrada com imagens de livros e brinquedos, que contém aproximadamente cem fichas com textos poéticos diversos. Esses textos foram selecionados e impressos em papéis coloridos, alguns acompanhados de ilustrações alusivas ao tema do poema, e revestidos com papel adesivo transparente, tendo em vista ampliação de sua durabilidade. O baú de poesias foi elaborado em função das ações pedagógicas previstas pelo projeto “Leitura e registro de textos poéticos”, desenvolvido ao longo do ano de 2013, na Escola Municipal Ayrton Plaisant e no Colégio de Aplicação Pedagógica (CAP) da UEM. Dentre estas ações, mencionamos: as sessões de estudos sobre a importância do texto poético para a promoção do processo de letramento das crianças; as oficinas para aprender a produzir cadernos de poesia e painéis contendo poemas; a pesquisa e seleção de textos poéticos; os ensaios para aprender a declamar poemas; a confecção de fantasias e adereços; a preparação do espaço (pátio da escola) para utilizar o baú. Tomando por base um cronograma previamente elaborado, o baú ficava disponível ao acesso das crianças, sob supervisão das acadêmicas, durante o recreio escolar. Nesse intervalo um poema era declamado por uma pibidiana, utilizando diferentes recursos, tais como fantasias, cestas, brinquedos. As crianças sentavam-se para ouvir o poema declamado e para ler outros, pois o baú contendo as fichas com textos poéticos ficava a disposição delas para que escolhessem uma (ou mais) para ler ou declamar ao microfone. A participação das crianças superou as expectativas, pois se trata de uma maneira de elas entrarem em contato prazeroso e significativo com a escrita. Desta forma, o baú de poesia tornou-se um recurso didático que muito contribuiu para a promoção do processo de letramento dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental das duas escolas parceiras e das próprias acadêmicas, além de fortalecer a formação inicial de professores para atuar nesse nível de ensino. Palavras-chave: Letramento, textos poéticos, recurso didático, formação de professores. INTRODUÇÃO Este artigo tem como objetivo relatar uma das atividades que realizamos no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (Pibid) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), por meio do subprojeto Pedagogia (campus 2 sede), desenvolvido no ano de 2013. O projeto intitulado “Leitura de poesias”, visou intensificar práticas de leitura de textos poéticos nos anos iniciais do ensino fundamental, em duas escolas públicas do município de Maringá envolvendo um trabalho sistematizado com textos poéticos. A leitura de poesias foi o tema selecionado pelas pibidianas, juntamente com as supervisoras e coordenadora do projeto, por considerarem que este gênero textual, por muito tempo esquecido pela escola, pode contribuir para a promoção do processo de letramento dos alunos e estimulá-los a aprender a ler e escrever. Para tanto, organizamos uma série de ações para serem realizadas durante o ano letivo, tais como: sessões de estudos, oficinas, pesquisa e seleção de poesias, elaboração de baús para arquivar os textos poéticos, preparação e ensaio de dramatizações dos poemas, preparação e confecção de fantasias biombos, entre os recursos didáticos. Dentre estas ações, será destacada neste relato a experiência da elaboração dos dois baús de poesias. Por fim, destacamos a importância de promover o acesso prazeroso com o gênero textual em questão, tendo em vista o processo de letramento dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental e da formação inicial de professores para atuarem nesse nível de ensino. O TRABALHO PEDAGÓGICO COM TEXTOS POÉTICOS Tendo em vista o processo de apropriação da linguagem escrita – função maior da escola, por meio dos processos de alfabetização e letramento, subsidiamos a experiência aqui relatada em reflexões promovidas por autores que discutem o trabalho pedagógico envolvendo textos literários, em destaque a poesia, tais como: Amarilha (1997); Lajolo (1994); Resende (1997); Abramovich (1995). Lajolo (1994) destaca a importância de a escola, no processo de apropriação de conhecimentos pela criança, propor um trabalho sistematizado com a literatura, indispensável para que ela desenvolva as habilidades de leitura e escrita. Pode-se incluir, entre as funções da escola, o aumento progressivo e paulatino da familiaridade do aluno com textos que ampliem seu horizonte de expectativas, numa perspectiva de familiaridade crescente com esferas de cultura cada vez mais 3 complexas que incluem, no limite, aqueles textos que, tendo a sanção dos canais competentes, configuram a literatura (LAJOLO, 1994, p.45). Dentre os muitos textos literários, a poesia é aquele que se apropria das emoções do indivíduo que a escreve e as revela ao leitor. Nesse sentido, sobretudo nos anos iniciais do ensino fundamental, afirma Resende (1997, p. 135), “[...] o objetivo não é ensinar poesia, em vez disso deve-se educar para apreciá-la por caminhos cuidadosos e coerentes que sensibilizem a alma infantil”. Contudo, o trabalho pedagógico com textos poéticos é, muitas vezes, rejeitado ou menosprezado pelos professores dos anos iniciais do ensino fundamental. Por isso, Lajolo (2009) o considera como um gênero literário alijado da escola e da vida da maioria das crianças. Porém, ela afirma que “o trabalho com poesia pode ser muito divertido e agradável. Desde, é claro, que o professor goste de poesia” (LAJOLO, 2009, p. 42). O trabalho com textos poéticos tem como objetivo a internalização e exteriorização do conhecimento de mundo e das pessoas, potencializando-se por meio da linguagem. Nesse sentido, podemos compreender o texto poético com uma possibilidade de desenvolver a capacidade criadora dos homens. “O texto poético explora o tempo da linguagem, sendo assim explora o sensível, musical, das palavras” (SANTOS; OLIVEIRA, 2001, p.53) Abramovich (1995) salienta que devemos trabalhar com as crianças poesias de qualidade. Para ter esse adjetivo, a poesia não tem que ser moralizadora, nem falar no diminutivo, nem tratar de temas patrióticos ou tristes. Por isso, ao propormos um trabalho com este gênero textual, devemos descartar poesias escritas por iniciantes, e optarmos por aqueles que conseguem provocar suspiros, encantamentos, vontade de ouvi-la novamente e de compreender melhor o que o poeta quis dizer (ABRAMOVICH, 1995). Para Amarilha (1997, p.26-27), “[...] a linguagem poética é, por excelência, portadora dos elementos lúdicos que proporcionam prazer ao texto”. É na poesia, diz a referida autora, “que o lúdico da linguagem se faz notório”. Então, para promover a sensibilidade infantil diante do texto poético, devemos lê-los ou declamá-los com expressividade. É o que salienta Abramovich (1995, p.82), ao orientar o trabalho com esse tipo de texto, definindo-o: “[...] a poesia fala, sobretudo de emoções... De 4 sentimentos vividos, sentidos, provocados”. Então, “[...] a poesia é para ser ouvida, vista, cantada, tocada e sentida profundamente pela totalidade do corpo” (RESENDE, 1997, p.130). Acerca da importância da linguagem em suas diferentes manifestações (na narração, na poesia, nas interações orais), Vygotsky (2004, p.352) salienta que “de coisa rara e fútil a beleza deve transformar-se em uma exigência do cotidiano. O esforço artístico deve impregnar cada movimento, cada palavras, cada sorriso da criança”. Para ele, [...] assim como a eletricidade não existe só onde existe a tempestade, a poesia também não existe só onde há grandes criações da arte, mas em toda parte onde soa a palavra do homem. E é essa poesia de “cada instante’’ que constitui quase que a tarefa mais importante da educação estética [...] (VYGOTSKY, 2004, p.352). Desta forma, trabalhar com poesia nas escolas não significa somente entrar em contato com esse gênero textual, mas apresentá-lo de maneira lúdica e encantadora, visando aflorar o sentimento que o autor buscou demonstrar por meio de um texto poético. Foi isto que um grupo de acadêmicas do curso de Pedagogia da UEM, participantes do Pibid, realizou ao longo do ano letivo de 2013 por meio do projeto “Leituras de Poesias”. A intenção de trabalhar poesias durante os intervalos das aulas se pôs, dentro da rotina escolar, como um tempo de descontração, de liberdade e de muitas brincadeiras. Este pode ser um momento pelo qual podemos aproximar a criança “do poeta pelo modo mágico de ver o mundo, pelo imaginário solto, pela capacidade de sonhar e fantasiar” (JOSÉ, 2003, p. 86). Então, parafraseando o convite feito por Paes (1990, p. 03), que tal brincar de poesias na hora do recreio? BAÚS DE TEXTOS POÉTICOS Entendemos que toda e qualquer ação pedagógica deve ser planejada e direcionada. Portanto, para planejar nossas ações tendo em vista a implementação de práticas de leitura de textos poéticos, iniciamos por leituras, estudos e reflexões acerca 5 do trabalho pedagógico com esse gênero textual. Percebemos então a necessidade de conhecer muitas poesias e seus autores a fim de apresentá-los as crianças. Pensando em como possibilitar as crianças o contato com muitos textos poéticos, confeccionamos dois baús de madeira (Figura 1) que conteriam fichas com textos poéticos. Para tanto, ampliou-se a seleção de textos poéticos, a partir dos que já compunham os cadernos de poesias das acadêmicas, para compor os “baús de poesia” – caixas de madeira, pintadas e decoradas com imagens de livros e brinquedos. Os textos selecionados, aproximadamente cem para cada baú, foram impressos em papéis coloridos, alguns acompanhados de ilustrações alusivas ao tema do poema, e revestidos com papel adesivo transparente, visando a durabilidade desse material (Figura 2). Tomando por base um cronograma previamente elaborado, os baús ficavam disponíveis ao acesso das crianças, sob supervisão das acadêmicas, quatro vezes por semana, durante o recreio (Figura 3). Além disso, diariamente, em cada intervalo, um poema era declamado e encenado pelas pibidianas, utilizando diferentes recursos. Para isso, foram utilizados diferentes recursos, tais como fantasias, cestas, brinquedos, conforme o tema do poema sugerisse. Vale destacar que, para incrementar o local no pátio da escola onde as poesias eram lidas e declamadas, preparamos um cenário com um biombo, cadeiras e um microfone. Ao redor deste local as crianças sentavam-se tanto para ouvir, quanto para ler poesias, pois os baús contendo as fichas com os textos poéticos selecionados ficavam a disposição delas para que escolhessem uma (ou mais) para ler ou declamar ao microfone. A participação das crianças superou as expectativas, pois tratou-se de uma maneira de elas entrarem em contato efetivo com a escrita e não com “algo que se basta a si mesmo”, como criticou Vigotski (2000, p. 183) ao referir-se à forma como essa linguagem era apresentada às crianças russas na década de 1920. O sentimento de sensibilização das crianças por meio das poesias na hora do intervalo foi atingido, pois estas demonstraram muito entusiasmo pela leitura dos textos que estavam nos baús e participaram ativamente das atividades propostas. Além das crianças, houve também o envolvimento de membros da escola – professores, equipe pedagógica e gestora e funcionários, os quais muito colaboraram para que as atividades propostas fossem implementadas de forma satisfatória. Inclusive, algumas funcionárias 6 elogiaram o projeto, pois, além dos aspectos pedagógicos já mencionados ao longo desse relato, as crianças que participaram das atividades durante o recreio mostraram-se mais calmas, dedicando-se a leitura das fichas com textos poéticos que os baús continham. Alguns pais, também disseram que seus filhos estavam gostando de ler poesias em casa também. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim, destacamos a importância da realização da experiência aqui relatada, pois por meio dela foi possível promover o acesso prazeroso ao texto poético, tendo em vista os processos de letramento e alfabetização dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Salientamos também que essa experiência, envolvendo o planejamento e a preparação cuidadosa de práticas pedagógicas a serem realizadas nas escolas, enriqueceu a formação inicial de professoras para atuar nesse nível de ensino. Reafirmamos que a parceria entre as professoras regentes e equipes gestoras e pedagógicas das escolas constituiu-se em condição sine qua non para a consecução do projeto, principalmente por que muitas delas assumiram o compromisso de co-formação. Por isso, reafirmamos a necessidade de implementar em escalas mais significativas programas de iniciação docente e salientar a necessidade de organização do ensino, tendo em vista tanto a formação docente inicial, quanto a aprendizagem da linguagem escrita pela criança. Por fim, salientamos que tais experiências docentes formativas comprovam que levar poesias para as crianças é, segundo Amarilha (1997, p. 36), proporcionar uma “excelente oportunidade de formação linguística, humana e social, através de uma atividade lúdica extremamente significativa [...] que lhes proporciona alegria, prazer e otimismo no contato com a palavra”. E mais: trata-se de reconhecer, conforme preconiza Vigotski (2000), o papel que a aprendizagem dessa linguagem enquanto instrumento cultural pode desempenhar no desenvolvimento das crianças. REFERÊNCIAS ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1995. 7 AMARILHA, M. Estão mortas as fadas? Literatura infantil e prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 1997. JOSÉ, E. A poesia pede passagem: um guia para levar a poesia às escolas. São Paulo: Paulus, 2003. LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1994. ______. Conversando sobre poesias. Na ponta do lápis. São Paulo: AGWM Editora e Produções Editoriais, ano VI, n.15, 2009, p.23-26. PAES, J. P. Poemas para brincar. São Paulo: Ática, 1990. RESENDE, V. M. Literatura infantil e juvenil. Apreciação poética: sintonizar-se para fruir. São Paulo: Saraiva, 1997. SANTOS, L. A. B.; OLIVEIRA, S. P. Sujeito, tempo e especo ficcionais: introdução a teoria da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2001. VYGOTSKI, L. S. La prehistoria del desarollo del lenguaje escrito. In: ______. Obras escogidas III. Madrid: Centro de Publicaciones del M.E.C. y Visor Distribuiciones, 2000. p. 183-206. ______. Educação estética. In: Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p.353-363. ANEXOS 8 Figura 1 - Baús de poesias Fonte: arquivo pessoal 9 Figura 2 – Crianças procurando fichas com textos poéticos no baú Fonte: arquivo pessoal 10 Figura 3 – Aluna lendo poema durante o recreio Fonte: arquivo pessoal