Curso de Enfermagem Artigo de Revisão O MATRICIAMENTO COMO PROPOSTA DE MELHORIAS NA ASSISTÊNCIA EM CARDIOLOGIA THE MATRICIAL AS PROPOSED IMPROVEMENTS IN ASSISTANCE IN CARDIOLOGY Edilson Junior Rodrigues da Silva1, Tatiane Gomes de Oliveira Rodrigues1 Alexandre Sampaio Rodrigues Pereira² 1 Discentes do Curso de Enfermagem 2 Docente e Mestre do Curso de Enfermagem Resumo Introdução: As Doenças Cardiovasculares (DCV’s) tornaram-se um problema de saúde pública, o que denota a urgente necessidade de qualificação e aprimoramento das equipes de saúde para lidarem com pacientes cardíacos, visto que a incidência desse problema está cada vez maior. Hoje, além das Estratégias de Saúde da Família (ESF), há o apoio matricial, que é uma metodologia de gestão do trabalho em saúde, proposta por Campos (1999), a qual tem a intenção de ter uma equipe na retaguarda especializada, cujo objetivo é oferecer um suporte técnico-pedagógico e, também, uma retaguarda assistencial, ambos tecnicamente preparados para agir com a situação exposta e para direcionar e orientar as ESF sobre como trabalhar com esses pacientes. Materiais e Métodos: A presente pesquisa trata de uma revisão de literatura realizada nas seguintes bases de dados: Birene, BVS; o referente trabalho é de ordem qualitativa, o método descritivo exploratório. Discussão: Demonstrar o alto índice de mortes por doenças cardiovasculares e elucidar a importância da equipe de Matriciamento em Cardiologia nas ESF, tendo como base o matriciamento já existente, com o intuito de melhorar a assistência a pacientes cardíacos e reduzir as imensas filas dos serviços de saúde. Conclusão: O apoio matricial, atualmente, é uma ferramenta que pode ser usada para melhorar significativamente a saúde pública quanto aos pacientes cardíacos, pois ela tem se apresentado como uma possibilidade real de conversão do contexto de exclusão das pessoas em sofrimento. Palavras-Chave: Matriciamento; Apoio matricial; Doenças Cardiovasculares; Saúde pública; Equipe especializada. Abstract Introduction: Cardiovascular Diseases (CVD's) have become a public health problem, which demonstrates the urgent need for training and improvement of health teams to deal with cardiac patients, since the incidence of this problem is increasing. Today, in addition to the Family Health Strategy (ESF), there is the matrix support, which is a health work management methodology proposed by Campos (1999), which intends to have a team specialized in the rear, whose goal is to provide a technical and educational support and also a care support, both technically prepared to act with exposed situation and to direct and guide the ESF about working with these patients. Materials and Methods: This study is a literature review conducted in the following databases: Birene, VHL; the related work is qualitative, exploratory descriptive method. Discussion: Demonstrate the high rate of deaths from cardiovascular diseases and elucidate the importance of matricial team in Cardiology in the ESF, based on the existing specialist orientation, aiming to improve care for heart patients and reduce the huge queues of service health. Conclusion: Matrix support currently is a tool that can be used to significantly improve public health as to cardiac patients because it has emerged as a real possibility of converting the exclusion of the context of those in distress. Keywords: matricial; Matrix support; Cardiovascular Diseases; Public health; Specialized team. Contato: [email protected] Introdução No Brasil, a partir de 1980, movimentos da reforma sanitária brasileira ocuparam espaços fundamentais e imprescindíveis para consolidar, ao final da década, a criação de um novo modelo de saúde no país, o Sistema Único de Saúde (SUS). Com a criação do SUS, após a aprovação da Constituição Federal de 1988, Artigo 196, Seção II, 1° parágrafo, a saúde passou a ser um direito de todos e dever do Estado (BRASIL, Constituição Federal, 1988, p. 55). A concepção do SUS, fundamentada nas delimitações da Carta de Ottawa, foi baseada na formulação de um modelo de saúde voltado para as necessidades da população, a fim de resgatar o compromisso do Estado para com o bem-estar social e de se apoiar nos princípios da universalidade, integralidade e equidade. Em 1994, surge o Programa Saúde da Família (PSF), criado pelo Ministério da Saúde, com vistas a modificar a prática da atenção básica. O PSF passa então a ser denominado Estratégia de Saúde da Família (ESF), quando deixa de ser apenas um programa para se tornar a estratégia principal de organização da atenção básica. Dessa forma, trabalha numa perspectiva de saúde ampliada e integral, com equipes multiprofissionais responsabilizadas por um número de pessoas de uma região delimitada (BRASIL, 1997). Segundo o Ministério da Saúde, uma unidade de saúde da família pode trabalhar com uma ou mais equipes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). A equipe de referência é composta por um conjunto de profissionais considerados essenciais na condução de problemas de saúde dentro de determinado campo de conhecimento. Já o apoio matricial é distinto do atendimento realizado por um especialista dentro de uma unidade de atenção primária tradicional, ele pode ser entendido como um suporte técnico especializado que é ofertado a uma equipe interdisciplinar em saúde, a fim de ampliar seu campo de atuação e qualificar suas ações (FIGUEIREDO e CAMPOS, 2009). Diante do exposto, segundo o Guia de Matriciamento em Saúde Mental, 2011, p. 13, “O matriciamento ou apoio matricial é um novo modelo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica”. As Estratégias de Saúde da Família (ESF) aderiram aos conceitos de apoio matricial e de equipe de retaguarda/referência, que são, ao mesmo tempo, métodos organizacionais e uma metodologia sequencial para gestão do trabalho direcionado à saúde, tendo como visão ampla o processo saúde-doença de pessoas que necessitam de atendimento eficiente e rápido (CAMPOS, 1999). As Doenças Cardiovasculares (DCV) são as principais causas de morte em mulheres e homens no Brasil. Elas são responsáveis por cerca de 20% de todas as mortes em indivíduos acima de 30 anos. Segundo o Ministério da Saúde, ocorreram 962.931 mortes em indivíduos com mais de 30 anos no ano 2009 (MANSUR e FAVARATO, 2011). Devido ao aumento de tais doenças, o Ministério da Saúde, conforme demonstra o caderno de atenção básica n° 14, 2006, vêm adotando várias estratégias e ações para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares, como as políticas de alimentação e nutrição, de promoção da saúde, de ações de atenção à hipertensão e ao diabetes, com garantia de medicamentos básicos na rede pública, e de capacitação de profissionais. Porém, somente estes programas não têm sido o suficiente. Neste contexto em que a doença, aqui falada, tornou-se um problema de saúde pública, reconhece-se a necessidade de uma mudança no cenário de educação para o manejo de pacientes com problemas cardiovasculares, devido à alta recorrência em todo o mundo. Tem-se por objetivo sugerir a implementação do serviço de cardiologia com o apoio matricial às unidades da atenção básica, a fim de diminuir o grande número de filas dos serviços de saúde, sendo utilizado como direcionamento e estudo o apoio matricial já existente, mostrado por Campos (1999), e o apoio matricial em cardiologia, proposto por Hoepfner (2014), como projeto de melhorias a pacientes com doenças cardiovasculares. Materiais e Métodos A presente pesquisa trata-se de uma revisão de literatura realizada nas seguintes bases de dados: Birene, BVS; o referente trabalho é de ordem qualitativa, o método descritivo exploratório. Define-se pesquisa como procedimento racional e sistemático que tem por objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos (GIL, 2002). Pedron (2001) caracteriza a pesquisa qualitativa como aquela que inclui descrições, interpretações e entendimentos. Neste trabalho, foram utilizados os seguintes descritores: Matriciamento, Cardiologia, Matriciamento em Cardiologia. Foram encontrados 1.706 artigos; após uma seleção, foram separados 42 artigos utilizados no desenvolvimento da pesquisa. Os critérios de inclusão foram artigos relacionados ao tema que possuíam qualidade e método científico compatíveis com o objetivo da pesquisa em questão. Os critérios de exclusão foram artigos que não faziam relação ao tema e que tinham pouca relevância cientifica. O vínculo entre signo e significado, conhecimento e fenômeno, sempre depende do arcabouço de interpretação empregado pelo pesquisador, que lhe serve de visão de mundo e de referencial (NEVES, 1996). Este artigo seguiu as normas do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa (NIP) 2015. Discussão Os estudos mostram que as doenças cardiovasculares, além de terem se tornado um problema de saúde pública, representam hoje, no Brasil, a maior causa de mortes. Aproximadamente 17 milhões de pessoas morrem por ano em todo o mundo, devido a doenças relacionadas ao coração. Essas taxas tendem a crescer nos próximos anos, não apenas pelo crescimento e envelhecimento da população, mas, sobretudo, pela persistência de hábitos inadequados de alimentação e atividade física (SAITO, 2010). No Brasil, uma em cada três mortes é causada por doenças cardíacas. Elas trazem um impacto significativo no planejamento e no custo das ações sanitárias efetuadas pelo sistema único de saúde (BRASIL, 2010). De acordo com um estudo da Economist Intelligence Unit, a prevenção pode reduzir a disseminação de doenças cardíacas (JORNAL HOJE, G1, 2014). A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) reconhece a necessidade de uma ação integrada contra as Doenças Cardiovasculares e irá propor aos países membros que estabeleçam a meta global de reduzir a taxa de mortalidade por DCV em 20% na década de 2011-2020 em relação à década precedente (ANDRADE et al, 2013). Discute-se que, para o enfrentamento de um problema tão complexo, são necessárias ações articuladas, tanto no âmbito da política de saúde, quanto no da organização dos serviços, bem como a reorganização do processo de trabalho em todos os níveis do sistema de saúde (SPEDO, 2010). Atualmente, as ESFs não detêm recurso nem qualificação apta destinada a pacientes portadores de alguma patologia cardíaca; o matriciamento aplicado a diversas áreas é uma metodologia de trabalho e apoio que, com o passar dos anos, vem crescendo no Brasil de modo acelerado na maioria dos serviços da rede de Atenção Primária à Saúde (APS), e pode contribuir e ajudar as ESFs a trazerem melhorias na assistência a pacientes cardíacos. A relação entre essas duas equipes constitui um novo arranjo do sistema de saúde (CAMPOS e DOMITTI, 2007). Um aspecto positivo que se observa no processo de desenvolvimento das atividades do apoio matricial é a troca de conhecimento e orientações entre as equipes; os profissionais devem compartilhar informações sobre território, sobre as demandas clínicas e procedimentos em relação à abordagem e à condução dos casos, pois isso possibilita uma maior resolutividade. Quando as equipes se propõem a compartilhar as experiências e as dificuldades encontradas, o trabalho torna-se mais claro, e, com a troca de saberes, amplia-se a capacidade de resolutividade e a eficácia das ações desenvolvidas (PINTO et al, 2012, apud PEGORARO et al, 2014). O Apoio Matricial surgiu a partir da constatação de que uma reforma na saúde pública não pode avançar, se a atenção básica não for incorporada ao processo. Não é viável concentrar esforços somente na rede substitutiva, mas é preciso estender o cuidado em saúde para todos os níveis de assistência, em especial, o nível referente à atenção primária. Entretanto, sabe-se que as equipes de atenção básica se sentem desprotegidas, sem capacidade de enfrentar as demandas a pacientes cardíacos, que chegam cotidianamente ao serviço, especialmente os casos mais graves e/ou crônicos. O matriciamento visa dar suporte técnico a essas equipes, bem como estabelecer a corresponsabilização (DIMENSTEIN et al, 2009). Apoio matricial tem a função de dar suporte, discutir, intervir conjuntamente e capacitar os profissionais das Unidades de Saúde no cuidado à saúde, promovendo a corresponsabilização dos casos existentes e aumentando a capacidade resolutiva das equipes de referência no manejo com esses usuários (IGLESIAS e AVELLAR, 2014). O matriciamento tornou-se uma ferramenta indispensável, pois não se constitui de uma forma centrada no processo de saúde e doença, e está, na verdade, além disso: aprimorou-se de toda a realidade dessas equipes e comunidades. Ele pressupõe que profissionais de referência e especialistas mantenham uma relação entre si, dando apoio, assim como campos de conhecimento, de forma a gerar novos saberes e possibilidades de atuação, o que pode diminuir a fragmentação do cuidado (CHIAVERINI, 2011, p.13). O apoio matricial pode ser definido como um arranjo organizacional que surge com o objetivo de ampliar a capacidade de resolubilidade das ações de saúde, ao propor uma reformulação no modo de organização dos serviços e relações horizontais entre as especialidades, as quais passam a oferecer apoio técnico horizontal às equipes interdisciplinares de atenção primária, favorecendo, então, a conexão em rede. A resolubilidade abrange aspectos relativos à demanda, à satisfação do cliente, às tecnologias dos serviços de saúde, à existência de um sistema de referência preestabelecido, à acessibilidade dos serviços, à formação dos recursos humanos, às necessidades de saúde da população, à adesão ao tratamento, aos aspectos culturais e socioeconômicos da clientela, entre outros (JORGE, SOUSA e FRANCO, 2013). Ao ser entendido como uma metodologia de trabalho que propõe assegurar retaguarda especializada, tanto em nível assistencial quanto em técnico-pedagógico, o apoio matricial compreende uma construção compartilhada entre a equipe de referência, composta de profissionais da atenção básica que têm a responsabilidade pela condução de um caso individual, familiar ou comunitário, e de apoiadores que são especialistas na missão de agregar conhecimentos à equipe de referência, contribuindo com intervenções que aumentam sua capacidade de resolver problemas (CAMPOS e DOMITTI, 2007, apud DIMENSTEIN et al, 2009). Contudo, tal metodologia só pode ser operacionalizada à medida que as relações entre equipe de referência e equipe de apoio matricial e seus diferentes saberes forem horizontais, o que possibilita que novos saberes sejam gerados para ambas as equipes, permitindo que o cuidado ao usuário do sistema não seja pensado e executado de forma fragmentada (CAMPOS e DOMITTI, apud SOUZA, AYRES e MARCONDES, 2012). Desse modo, conforme a diretriz de interdisciplinaridade das práticas e dos saberes, a organização dos arranjos apoio matricial e equipe de referência colabora para a troca de saberes, favorece a comunicação ativa e o estabelecimento de relações horizontais entre profissionais de distintos núcleos de conhecimentos (OLIVEIRA, 2008, apud BONFIM et al, 2013). RELATO DE CASO SOBRE O APOIO MATRICIAL EM CARDIOLOGIA EXISTENTE NA CIDADE DE JOINVILLE (SC) A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Joinville desenvolve programas de educação permanente em Cardiologia desde 1995. Em uma entrevista à revista “A Notícia”, a secretária de saúde de Joinville, Antonia Grigol, quando questionada como iria enfrentar a fila para cirurgias eletivas, respondeu: “A gente reduziu a fila de cardiologia com o matriciamento, é um modelo em que o médico cardiologista vai ao posto, no PA, e treina o profissional de lá sobre como avaliar o paciente”. Isso gera resolutividade. Segundo HOEPFNER et al, 2014, o programa de apoio matricial em cardiologia foi apresentado e debatido com pessoas ligadas à gestão municipal de saúde. Nesse processo entre 2009 e 2010, buscou-se um consenso sobre os objetivos, meios e resultados pretendidos in situ, isto é, nas unidades básicas de saúde, ao discutir os casos reais e os diversos temas de cardiologia, além de orientações acerca da linha guia de hipertensão. Notou-se que poucos profissionais tinham tido contato prévio com o método de trabalho de apoio matricial. Neste sentido, foram criadas agendas para dois cardiologistas exclusivos para apoio matricial; por meio delas, foram selecionados pacientes com atendimento prioritário, decorrentes dos casos discutidos sobre a equipe de matriciamento e as equipes de atenção primária. Diante da discussão a respeito dos casos, foi possível identificar os temas relevantes a serem abordados. O RESULTADO INICIAL Observou-se que, na primeira semana de fevereiro de 2010, o programa envolveu 11 unidades em 9 semanas, sendo discutidos com os médicos e enfermeiros os casos de 247 pacientes encaminhados ao cardiologista; desses pacientes, 83 foram selecionados para agendamento prioritário e 12 para agendamento com especialistas de outras áreas. Na reunião de avaliação, constatou-se o resultado positivo e, por isso, foi decidido dar prosseguimento ao programa. Assim, entre fevereiro e dezembro de 2010, o programa já tinha abrangido 41 das 56 unidades. O gráfico abaixo mostra o resultado desta continuidade no período de 11 meses. foi possível alcançar mais 14 unidades, com cobertura total da rede básica municipal. O matriciamento pode ser entendido como uma estratégia de trabalho em rede, ou seja, mediante a integralidade dos serviços de saúde, uma das diretrizes do SUS (GAZIGNATO e SILVA, 2014). O IMPACTO NAS EQUIPES DE REFERÊNCIA COM O APOIO MATRICIAL EM CARDIOLOGIA AO FINAL DE 2 ANOS Ao final de 30 meses, foram geradas 437 exclusões da fila de espera de consulta com cardiologista, mediante consenso entre matriciador e equipe de referência. Os motivos foram usuários cujos problemas já haviam sido solucionados pela equipe de referência; usuários que obtiveram respostas em atendimento especializado privado e aqueles que a equipe da Atenção Primária a Saúde (APS) reassumiu, após participar do atendimento conjunto e das discussões de casos com os matriciadores. Observe no gráfico abaixo o impacto na fila de espera ao final de 2 anos. Fonte: HOEPFNER, Clovis et al, 2014. Programa de apoio matricial em cardiologia: qualificação e diálogo com profissionais da atenção primária. Fonte: HOEPFNER, Clovis et al, 2014. Programa de apoio matricial em cardiologia: qualificação e diálogo com profissionais da atenção primária. Em setembro de 2010, mais dois cardiologistas concursados foram contratados e incluídos no apoio matricial, em horários diferenciados, sendo oito dias de retaguarda assistencial e dois dias de apoio semanal, o que A quantidade de usuários remanescentes é a menor dos últimos cinco anos e a maioria deles poderá ser atendida no prazo de até três meses. Este número de pacientes, que ainda permanecem na fila, por si só, justifica sua continuidade. Percebeu-se também que a maioria dos encaminhamentos se deu em virtudes dos laudos de exames complementares. Os eletrocardiogramas com os laudos de bloqueios divisionais do feixe de His, extrassístoles e anormalidades inespecíficas da repolarização ventricular estiveram entre os principais motivos para os encaminhamentos. Outra causa frequente de solicitação de avaliação foram os laudos radiológicos de possível aumento do ventrículo esquerdo. Dor torácica atípica, a dificuldade de controlar os níveis da pressão arterial e a insegurança perante os portadores de doença coronariana, mesmo quando assintomáticos, também foram geradores de muitos dos encaminhamentos. Observa-se, neste estudo, a eficácia do apoio matricial e a necessidade deste programa como proposta para a melhoria na assistência a pacientes cardíacos no Distrito Federal (DF) e em Goiás (GO). A um apoiador matricial, impõem-se determinados desafios. Entre estes, há a interação com outros profissionais de saúde e a realidade complexa da maioria dos usuários que são atendidos no SUS. Para a garantia da integralidade da atenção, bem como para a ampliação da resolutividade do SUS, faz-se indispensável a construção interdisciplinar (BONFIM et al, 2013). No campo da saúde, a palavra matricial indica a possibilidade de sugerir que profissionais de referência e especialistas mantenham uma relação horizontal, e não vertical, como recomenda a tradição dos sistemas de saúde. O apoio matricial pode ser desenvolvido por meio da troca de conhecimentos, do fornecimento de orientações, de intervenções conjuntas e de intervenções complementares realizadas pelo apoiador, mas sempre com a equipe de referência com a responsabilidade pelo caso, ainda que o apoio especializado se faça necessário em diferentes momentos (PEGORARO et al, 2014) Esse intercâmbio entre as equipes de referência e de matriciamento não exime a responsabilidade das equipes da Estratégia de Saúde da Família, pois elas estão mais próximas das famílias e comunidades, sendo, pois, de fundamental importância para que os usuários tenham cobertura e tratamento adequado (BEZERRA et al, 2009). Com o apoio matricial, os profissionais da Estratégia de Saúde da Família têm a oportunidade de aumentar seus conhecimentos, uma vez que prestam um serviço na ponta do sistema, e quanto mais conhecimentos eles tiverem, mais suas ações serão assertivas (SILVA, SANTOS e SOUZA, 2012). Conclusão: É lícito, pois, a partir dos expostos acima, lançar o matriciamento como proposta de melhorias à assistência em cardiologia na atenção básica do DF e entorno. O apoio matricial tem se apresentado como uma possibilidade real de mudança do contexto de exclusão das pessoas em sofrimento, tanto que sua contribuição pela efetivação da promoção à saúde é destacada em todos os artigos analisados para este estudo. O matriciamento em cardiologia existente em Joinville-SC pode ser um modelo a se seguir e a se aplicar no DF e entorno, sendo oportuno lembrar que pacientes com problemas cardíacos têm uma imensa dificuldade em conseguir marcar uma consulta e ter um acompanhamento digno para se ter alguma solução. Ainda vale ressaltar que as doenças cardiovasculares são, hoje, um problema de saúde pública. Não há dúvida de que a implantação, expansão e qualificação do apoio matricial serão grandes desafios para a gestão da Política de Saúde Pública do país nos próximos anos, e que a garantia de acessibilidade à atenção é um dos maiores desafios do Sistema Único de Saúde. Do mesmo modo, o fortalecimento de uma política efetiva de formação continuada, que envolva tanto as equipes de apoio matricial quanto as da atenção básica, deverá ser uma das principais prioridades, objetivando, com isso, minimizar a fragmentação da assistência em saúde tradicional. Para que esse conceito de apoio matricial possa se transformar em uma realidade, ele deve ser fruto de um trabalho coletivo de pessoas que se unem na intenção de transformar a fragmentação e alienação existente no processo de trabalho em saúde, com vistas a ampliar a resolutividade e a qualidade dos serviços oferecidos à população brasileira e compor, de forma harmônica, um novo modelo de atenção a pacientes com doenças cardiovasculares em nosso país. Ao que tudo indica, a história do matriciamento em cardiologia ainda terá novidades, assim como deverá acontecer em todo o Brasil. Trata-se de uma proposta a ser construída com mais detalhes, razão pela qual foi reforçada a importância e a necessidade de novos estudos que trabalhem outros métodos de investigação, para além da exclusividade do método qualitativo. Agradecimentos: Agradecemos a Deus pela sabedoria e por ter nos fortalecido durante a realização deste. Aos nossos pais por nos apoiarem e nos encorajarem diante de todas as dificuldades encontradas. Às nossas filhas Julia Rodrigues e Rillary Rodrigues que serviram como um estímulo para vencermos essa jornada. Ao nosso docente e Mestre, Alexandre Sampaio, pelo apoio e suporte que nos proporcionou para a elaboração deste trabalho. Referências: 1 - ANDRADE, Jadelson Pinheiro et al. Programa Nacional de Qualificação de Médicos na Prevenção e Atenção Integral às Doenças Cardiovasculares. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, p. 203-207, 2013. Disponível em: http://www.arquivosonline.com.br/2013/10003/pdf/interativa-10003.pdf. Acesso em 17/012/2015. 2 - BEZERRA, E. et al, 2009. O Apoio Matricial em Unidades de Saúde da Família: experimentando inovações em saúde mental. Saúde e Sociedade, 18(1), 63-74.Recuperado em 23 janeiro, de 2014. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/sausoc/article/download/29512/3 1374. Acesso em 25/02/2015. 3 - BRASIL, Constituição Federal 1988, p. 55. 4 - BRASIL. 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