MATRICIAMENTO NA ATENÇÃO BÁSICA Apontamentos para III Conferência Municipal de Saúde Mental INTRODUÇÃO Segundo dados de diversos estudos, 50% dos usuários que buscam atendimento na Atenção Básica possuem algum sofrimento psíquico, sendo que 10% são portadores de transtorno mental leve e moderado e 3% apresentam transtorno mental severo. Ainda, a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde estimam que quase 80% dos usuários encaminhados aos profissionais de saúde mental não têm uma demanda específica para o atendimento especializado.Nesse sentido a OMS reforça que o manejo e tratamento de transtornos mentais na atenção básica é fundamental na garantia de acesso e qualificação do cuidado em saúde. Reconhecendo nos dois segmentos parceiros na atenção integral aos pacientes com sofrimento psíquico.Entendemos que os trabalhadores da atenção básica ocupam um lugar estratégico no desenvolvimento das ações em saúde,como dispositivo potente na prevenção e vigilância em Saúde Mental. . O Ministério da Saúde, através do projeto de Humanização do SUS (2004) propõe o conceito de clínica ampliada e o termo equipe de referência, articulando atenção básica e saúde mental, designando o trabalho a ser feito no processo de viabilizar o acesso à saúde e a qualificação dos cuidados. Neste sentido, a Política de Saúde Mental (2003) e a Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (2004) preconizam o Apoio Matricial como dispositivo de intervenção junto à Atenção Básica, pautado pela noção de território, intersetorialidade, integralidade, considerando o trabalho organizado pelo princípio de responsabilidade compartilhada entre a equipe de referência e serviços especializados, e o estabelecimento da continuidade na atenção em saúde. A experiência do Apoio Matricial reorganiza o atendimento em saúde mental a partir da rede básica, modificando a maneira de trabalhar o sofrimento psíquico na atenção básica, bem como estimulando a integração da rede. . “O Apoio Matricial se configura como um suporte técnico especializado que é ofertado a uma equipe interdisciplinar de saúde a fim de ampliar seu campo de atuação e qualificar suas ações. Ele pode ser realizado por profissionais de diversas áreas especializadas” (Figueiredo, 2009). Em Porto Alegre frente à municipalização e de acordo com a reforma psiquiátrica, a partir da década de 90, foram criados os serviços especializados em Saúde Mental, iniciando-se a prática da interconsulta em algumas equipes, sem que houvesse um projeto comum para a sua implantação e desenvolvimento. Nas Gerências Distritais estabeleceu-se o trabalho de acordo com as proposições de cada equipe, evidenciandose diferenças de acordo com o território e que teve conseqüências distintas: em algumas Gerências o trabalho teve seguimento, em outras foi interrompido. Há necessidade urgente de implantação de diretrizes norteadoras, estabelecidas a partir dos princípios do SUS, das recomendações do Ministério da Saúde e experiências desenvolvidas em outros municípios, adaptadas às necessidades e condições do nosso contexto sócio-histórico e da trajetória de Apoio matricial que vem sendo desenvolvida em nosso Município.Ainda destacamos a importância de capacitação para alinhamento conceitual e como base de sustentação para o desencadeamento do processo e consolidação da diretriz de matriciamento como principal estratégia de saúde mental na atenção básica. Consideramos fundamental necessidade de definir diretrizes para os diferentes serviços, privilegiando os princípios de território, co-responsabilização e continuidade do cuidado, apostando no apoio matricial com elemento base na construção da gestão em saúde, e articulação Saúde mental e Atenção Básica. OBJETIVOS: • Viabilizar a assistência desde a perspectiva da continuidade e da integralidade na atenção; • Trabalhar a atenção em saúde baseada no enfoque comunitário; • Qualificar a rede de atenção à saúde mental em cada território (Atenção Básica, Equipes de saúde mental e CAP’s); • Melhorar a articulação entre os profissionais da Atenção Básica e Serviços de Saúde Mental; • Aumentar a resolubilidade da Atenção Básica principalmente nos casos de transtorno mental comum; • Qualificar os encaminhamentos para os serviços especializados, evitando referências desnecessárias e incremento de listas de espera; • Facilitar o acesso aos serviços especializados quando necessários; • Construir projetos terapêuticos singulares e compartilhados; • Desenvolver ações para educação permanente; • Estabelecer e regular os fluxos de atendimento em saúde mental. AÇÕES DE APOIO MATRICIAL • Discutir os casos ; • Potencializar atendimentos conjuntos com profissionais da atenção básica; • Realizar visitas domiciliares conjuntas; • Fomentar a intersetorialidade através da construção das redes locais; • Participar das reuniões de equipe na atenção básica, quando necessário; • Auxiliar na gestão dos recursos especializados em saúde mental; • Realizar seminários, discussões de textos, capacitações; • Estimular e fomentar a criação de grupos na atenção básica; • Criar dispositivos de re-inserção social nos territórios. BIBLIOGRAFIA 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da política de Humanização. Clínica Ampliada, equipe de referência e projeto terapêutico singular/ Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da política de Humanização-2ª ed. – Brasília. Ministério da Saúde. 2008. 2. FIGUEIREDO, M.D & CAMPOS, R. O. Saúde Mental na atenção básica à saúde de Campinas, SP: uma rede ou um emaranhado? Ciência & Saúde Coletiva. 14(1): 129-138, 2009. 3. Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. “Saúde Mental (SM) e Atenção Básica (AB) -Vínculo e o diálogo necessário- Organização das ações de SM na AB.” Ministério da Saúde, Brasília, DF, 2004. 4. Campos, G.W.S. Apoio Matricial e Equipe de Referência: uma metodologia para a gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cad. Saúde Pública. RJ. 23(2): 399-407, fev. 2007. Adriane da Silva Psicóloga/Equipe de Matriciamento Partenon Ana Paula de Lima Psicóloga/Equipe de Saúde Mental Infanto-Juvenil Leste/Nordeste Clarice Roberto Psicóloga/Equipe de Saúde Mental Humaitá /Ilhas e Navegantes Kátia S. Barfknecht Terapeuta Ocupacional/Oficina Geração POA Lisiane Falleiro Vargas Psicóloga/Equipe de Saúde Mental Extremo Sul/Restinga Mônica Kranen Psicóloga/CAP’s Adulto Centro Sandro Novelli Psicólogo Porto Alegre , abril de 2010.