Avaliação de uma proposta de intervenção psicopedagógica com cuidadores de pacientes com doença de Alzheimer Evaluation of a proposal for pedagogical intervention with caregivers of patients with Alzheimer's disease ¹Caroline Cunha da Silva; ²Flávia Martins da Silva Rodrigues Gomes; ³Márcia Rocha Honorino Universidade Católica de Brasília – UCB Pós-Graduação Lato Sensu em Psicologia Hospitalar e da Saúde ¹ Graduada em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB), Especialista em Análise Clínica do Comportamento pelo IBAC - Instituto Brasiliense de Análise AVALIAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Comportamental, aluna do Curso de Pós- Graduação em Psicologia Hospitalar e da PSICOPEDAGÓGICA COM CUIDADORES DE PACIENTES Saúde da Universidade Católica De Brasília- DF. COM DOENÇA DE ALZHEIMER ² Doutoranda em Neurociências do Comportamento e Cognição na Universidade de Brasília (2010). Mestre em Neurociências do Comportamento e Cognição pela mesma universidade (2009). Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (2003), graduação em Química pela Universidade de Brasília (2006) e Curso de especialização em Neuropsicologia pelo Instituto de Psicologia Aplicada e Formação IPAF (2007) ³ Psicóloga graduada pela Universidade Católica de Brasília e aluna do Curso de PósGraduação em Psicologia Hospitalar e da Saúde da Universidade Católica De Brasília. Endereço pessoal e institucional para correspondência Flávia Martins da Silva Rodrigues, SQN 211 Bloco K Aptº 112 ,CEP: 70863-110. Brasília-DF Fone (61) 99773520 - [email protected] - Universidade Católica de Brasília (UCB) Campus I – QS 07 Lote 1 Águas Claras- Taguatinga-DF 3356-9000 - [email protected] Fone (61) CAROLINE CUNHA DA SILVA MÁRCIA ROCHA HONORINO Avaliação de uma proposta de intervenção psicopedagógica com cuidadores de pacientes com doença de Alzheimer. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Pós- graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial à obtenção do Título de Especialista em Psicologia Hospitalar e da Saúde Orientadora: Prof. M.Sc. Flávia Martins da Silva Co- Orientadora: Prof. Drª Alessandra da Rocha Arrais Brasília 2011 Artigo de autoria de Caroline Cunha da Silva, Márcia Rocha Honorino, intitulado “Avaliação de uma proposta de intervenção psicopedagógica com cuidadores de pacientes com doença de Alzheimer.”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (CEP), pelo número de protocolo 225 e apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Psicologia Hospitalar e da Saúde da Universidade Católica de Brasília, em 28 de Fevereiro de 2011, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada: _____________________________________________ Prof. Mª. Flávia Martins da Silva Orientadora _________________________________________ Prof. Mª. Cibelle Antunes Fernandes Banca _____________________________________________ Profª. Drª.Eliane Seidl Banca ____________________________________________________ Prof. Drª. Alessandra da Rocha Arrais Coordenadora do Curso de Psicologia Hospitalar e da SaúdeBrasília 2011 Brasília “No cuidado no momento final da vida, quero que você sinta que me importo pelo fato de você ser você, que me importo até o último momento de sua vida e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance, não somente para ajudálo a morrer em paz, mas também para você viver até o dia de sua morte”. Cicely Saunders Avaliação de uma proposta de intervenção psicopedagógica com cuidadores de pacientes com doença de Alzheimer Evaluation of a proposal for pedagogical intervention with caregivers of patients with Alzheimer's disease ¹Caroline Cunha da Silva; ²Flávia Martins da Silva Rodrigues Gomes; ³Márcia Rocha Honorino Universidade Católica de Brasília – UCB Pós-Graduação Lato Sensu em Psicologia Hospitalar e da Saúde ¹ Graduada em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB), Especialista em Análise Clínica do Comportamento pelo IBAC - Instituto Brasiliense de Análise Comportamental, aluna do Curso de Pós- Graduação em Psicologia Hospitalar e da Saúde da Universidade Católica De Brasília- DF. ² Doutoranda em Neurociências do Comportamento e Cognição na Universidade de Brasília (2010). Mestre em Neurociências do Comportamento e Cognição pela mesma universidade (2009). Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (2003), graduação em Química pela Universidade de Brasília (2006) e Curso de especialização em Neuropsicologia pelo Instituto de Psicologia Aplicada e Formação IPAF (2007) ³ Psicóloga graduada pela Universidade Católica de Brasília e aluna do Curso de PósGraduação em Psicologia Hospitalar e da Saúde da Universidade Católica De Brasília. Endereço pessoal e institucional para correspondência Flávia Martins da Silva Rodrigues, SQN 211 Bloco K Aptº 112 ,CEP: 70863-110. Brasília-DF Fone (61) 99773520 - [email protected] - Universidade Católica de Brasília (UCB) Campus I – QS 07 Lote 1 Águas Claras- Taguatinga-DF Fone (61) 3356-9000 - [email protected] Avaliação de uma proposta de intervenção psicopedagógica com cuidadores de pacientes com doença de Alzheimer Evaluation of a proposal for pedagogical intervention with caregivers of patients with Alzheimer's disease Resumo Este artigo discute sobre o cuidado oferecido por familiares e amigos de pacientes com doença de Alzheimer. Pretendeu-se aplicar e avaliar uma proposta de intervenção psicopedagógica com cuidadores de pessoas com diagnóstico de doença de Alzheimer. A pesquisa utilizou-se de análise ao prontuário, aplicação de escala Beck de depressão e ansiedade (Beck, 1997), questionário, entrevista semi-estruturada e palestra informativa para orientar quanto à doença, percepção quanto aos cuidados oferecidos e enfrentamento de estressores. O estudo procurou conhecer a doença e as reações dos cuidadores a ela antes e após a intervenção. Nenhum cuidador recebeu suporte formal de como cuidar, o que provocou desgaste físico e emocional. Identificou-se que os participantes não evidenciaram sofrimento psíquico grave, mas sintomas leves de ansiedade. Após a intervenção, quanto ao conceito da doença, os participantes permaneceram no nível de conhecimento mais geral, porém quanto às causas, eles reformularam o conhecimento que tinham sobre a doença. Palavras-chave: Doença de Alzheimer; Cuidador; intervenção psicopedagógica; enfrentamento Abstract This article attempts to analyze the care offered by relatives and friends of patients with Alzheimer's disease. It was intended to apply and evaluate a proposal for pedagogical intervention with caregivers of persons diagnosed with Alzheimer's disease. The survey used medical records and the application of Beck depression and anxiety (Beck, 1997), questionnaires, semi-structured interview and informative presentation to advise about the disease, perception of the care offered and coping. The study aimed to identify the knowledge about the disease and caregiver’s reactions to her before and after intervention. None of them received formal support for caregivers caring, causing physical and emotional exhaustion. It was identified that participants did not show serious psychological distress, but mild symptoms of anxiety. After the intervention, about the concept of disease, the participants remained in the most general level of knowledge, but the causes, they reshaped the knowledge they had about the disease. Keywords: Alzheimer's disease; caregiver; pedagogical intervention; coping 3 Como a pirâmide etária brasileira está em processo de inversão, o número de idosos tem aumentado em nossa sociedade. Esse aumento de população idosa tem implicado na elevação de pacientes com doenças infecciosas, nutricionais e degenerativas. De acordo com Freitas, de Paula, Soares e Parente (2008), o termo idoso subdivide-se em duas categorias: biológico e instrumental. O conceito biológico é a diminuição gradativa de determinadas características físicas, iniciando-se no nascimento e tendo continuidade por toda a vida. O instrumental envolve aspectos sociais, como família, trabalho e demais aspectos da vida social. Na categoria das doenças degenerativas, a mais freqüente, nessa população, é o Alzheimer. Os portadores de Alzheimer acabam sendo cuidados por algum familiar, amigo ou pessoa contratada, porém sem formação técnica para tal fim. São os chamados cuidadores informais ou familiares. Esses cuidados demandam um acentuado esforço físico e mental e colocam em foco valores e crenças muitas vezes paradoxais (Garridoa & Menezes, 2004). Essa doença caracteriza-se por ser uma doença familiar, pois gera sobrecarga física e emocional para todos que convivem com o paciente (Freitas, de Paula, Soares & Parente, 2008). A carência de estudos controlados que enfoquem os cuidadores de pacientes com Doença de Alzheimer e a escassez de produções sobre intervenções da psicologia com essa clientela e seus familiares mobilizaram as autoras a realizar um estudo que avaliasse a eficácia de uma técnica de intervenção com cuidadores aplicada em um hospital militar em Brasília-DF Alzheimer e suas implicações Os sintomas de doenças degenerativas foram tratados durante muito tempo como algo comum à terceira idade, nomeados apenas por caduquice, esquecimento e velhice. Hoje se sabe que a grande maioria desta população sofre com algum tipo de demência. 4 Segundo o DSM. IV, a demência é caracterizada pelo desenvolvimento de múltiplos déficits cognitivos (incluindo comprometimento da memória) devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral, aos efeitos persistentes de uma substância ou a múltiplas etiologias (por ex., os efeitos combinados de doença cerebrovascular e doença de Alzheimer). Para demência do tipo Alzheimer é necessário avaliar alguns critérios, como o início da demência que é gradual e envolve declínio cognitivo contínuo e o diagnóstico é feito quando outras causas para demência foram descartadas. Deve-se descartar em casos de outras enfermidades do sistema nervoso central ou de enfermidades sistêmicas que provoquem demência, bem como de efeitos persistentes de substâncias. O diagnóstico de Alzheimer é puramente clínico, pois ainda não existem exames que possam diagnosticá-lo. Smith, M.A (1999) descreve o aumento da incidência da doença de Alzheimer em idosos nos países desenvolvidos, sendo a 4ª causa de morte nessa população. Ela estuda a relação entre alguns genes e o aparecimento da doença. Traz uma correlação entre o aparecimento da doença e seus aspectos genéticos. O aparecimento tardio da doença, por volta de 60 anos, relaciona-se a sua forma esporádica, enquanto o acometimento precoce, de incidência ao redor de 40 anos, vincula-se a recorrência familiar. Há uma reflexão da importância do aconselhamento genético nesses casos. Segundo Brucki (2006) algumas hipóteses para a incidência do Alzheimer seria um déficit colinérgico, déficit no metabolismo da glicose no cérebro ou a deposição de agregados insolúvel de amilóides. O tratamento não se destina a curar, mas sim retardar ou estacionar a evolução da doença. Percebe-se que não há uma regra quanto à deterioração cognitiva dos pacientes. Alguns ficam estáveis, permanecendo em nível de funcionamento 5 relativamente alto, outros a doença evolui em razão constante e outros a evolução corresponde a um padrão variável (Brucki). Alguns autores buscam discriminar as diferentes fases do Alzheimer. Cummings e Berson dividem a doença em três fases, tendo a primeira fase de um a três anos de duração, a segunda de dois a dez anos e a terceira de oito a doze anos. Também dividi-se as fases em decorrência das alterações cognitivas e comportamentais apresentadas, sendo estas: inicial, intermediária, final e terminal. A fase inicial é caracterizada por alterações na afetividade e déficit de memória, sendo a mais afetada a memória recente. Na fase intermediária, os déficits cognitivos (orientação, linguagem, memória, raciocínio e julgamento) estão altamente prejudicados, afetando as atividades rotineiras, bem como há o início das dificuldades motoras. Na fase final, a capacidade intelectual e a iniciativa estão deterioradas. O paciente encontra-se totalmente dependente, confinado ao leito ou à poltrona, com muitos movimentos estereotipados. A fase terminal é caracterizada praticamente por restrição ao leito. (Caldeira, Cássia e Ribeiro (2004)). Segundo Guimarães (1999), os pacientes crônicos, como o paciente com Alzheimer, irá necessitar de um olhar diferenciado da equipe de saúde. Será necessário a utilização de um modelo mais amplo que o biomédico, que inclua questões sociais, psicológicas e biológicas. Esse olhar diferenciado, utilizado principalmente pelo profissional psicólogo, deverá abranger a equipe, o paciente e a família do paciente. De acordo com a autora supracitada, o grau de comprometimento das habilidades e da independência do paciente pode gerar mudanças nos papéis familiares e na demanda exercida sobre cada membro. Poderá ser exigido um grau mais elevado de responsabilidade dos filhos, cônjuges ou pais, na tentativa de suprir algumas perdas. Essas mudanças podem acarretar efeitos emocionais negativos nesses membros, levando 6 a conflitos no lar. Isso, porque ela em si sofre o impacto dos efeitos secundários e generalizados da doença. O estudo feito por Garridoa e Menezes (2004), evidenciou que os cuidadores eram principalmente mulheres, filhas ou esposas, que em sua maioria passavam mais de oito horas por dia com os pacientes e apresentavam saúde física excelente ou boa. O estressor mais relatado foi à falta de dinheiro para cuidar do paciente. O cuidador familiar do paciente com Alzheimer torna-se suscetível ao impacto do estresse. Gohen, Gottlieb e Underwood (2000), descreveram a importância das relações sociais como fonte de saúde mental e física, influenciando nas emoções, cognições e comportamentos. O suporte social influencia na aquisição de comportamentos voltados à saúde e em respostas neuroendócrinas, imunológicas e do sistema cardiovascular. Caldeira, Cássia e Ribeiro (2004) buscaram identificar o que afeta os cuidadores de paciente com doença de Alzheimer. Falam na doença de Alzheimer como uma doença familiar, na qual é necessária uma reestruturação no estilo de vida dos cuidadores. Há valores conflitantes e uma cobrança se estão dando ao familiar doente um cuidado digno. Os autores descrevem alguns estressores com os quais os cuidadores acabam se deparando, como a aceitação do diagnóstico, administrar o conflito dentro da família e planejar o futuro. Podem ocorrer doenças físicas, depressão, perda de peso, insônia, abusar física e verbalmente do paciente, uso de álcool e de medicamentos psicotrópicos. No estudo supracitado, os cuidadores relataram que os pacientes apresentaram alterações comportamentais e cognitivas, como agressividade oral e física. Desses cuidadores, 50% relataram ter um esclarecimento médico sobre como cuidar do idoso e sobre a doença e seus agravos e 50% recebeu treinamento pela Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ). Poucos tinham um conhecimento prévio sobre a doença. Segundo 7 as cuidadoras, o paciente que ajuda nas atividades rotineiras facilita o processo de cuidar, diminuindo o estresse, enquanto que aqueles que apresentam alterações comportamentais e a falta de recursos financeiros o aumentam. A maior parte das cuidadoras (75%) disseram gostar de cuidar e que se sentiam bem fisicamente, enquanto (25%) disseram apresentar alterações físicas e se sentirem cansadas. Essas cuidadoras relataram alterações emocionais significativas, como aborrecimentos e pensamentos suicida. OBJETIVO GERAL Avaliar a eficácia de uma técnica de intervenção com cuidadores de pacientes com Alzheimer. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ¾ Analisar possíveis estressores dos cuidadores de pacientes com Alzheimer; ¾ Avaliar por meio de entrevista semi-estruturada o quanto os cuidadores apreenderam das informações passadas na intervenção. METODOLOGIA Tratou-se de um estudo de corte transversal, qualitativo e descritivo, onde pretendeu-se analisar uma intervenção psicoeducativa (palestra, cujo tema é Conviver com a doença de Alzheimer: aspectos psicológicos) em cuidadores informais de pacientes com demência tipo Alzheimer, que fossem usuários do serviço de atendimento domiciliar do Hospital Militar de Área de Brasília (HMAB), composto por uma equipe multidisciplinar (geriatra, enfermeira, psicóloga, nutricionista, dentista, fonoaudióloga). A referida unidade atende pacientes de ambos os sexos, de 60 anos ou mais de idade, que sejam portadores de alguma enfermidade que dificulte a locomoção do paciente. A pesquisa foi respaldada na aprovação do Comitê de Ética da Universidade Católica de Brasília sob registro de número 225. 8 PARTICIPANTES Foram incluídos inicialmente dez cuidadores informais de pacientes com Alzheimer, já incluídos no programa de atendimento domiciliar do HMAB, escolhidos aleatoriamente, em termos de gênero e idade, e que já tinham recebido pelo menos uma visita de um profissional de cada área da equipe. Porém, apenas sete cuidadores participaram do estudo, sendo que dos 3 participantes que não puderam participar, 2 alegaram indisponibilidade de tempo e 1 não foi localizado. De acordo com a falta de disponibilidade da maioria dos pesquisados, apenas dois participantes concluíram o estudo e submeteram-se a intervenção que também teve o formato modificado. INSTRUMENTOS Como instrumentos para pesquisa, foram utilizados os seguintes: prontuário do paciente, escala Beck de depressão e ansiedade (Beck, 1997), questionário (anexo A), entrevista semi-estruturada (anexo B), e slaids confeccionados a partir de programa Microsoft Office Power Point Viewer 2000, procurando orientar os cuidadores em suas necessidades e aflições, sendo dividida em três categorias: conhecimentos quanto à doença, percepção quanto aos cuidados oferecidos e enfrentamento de estressores. Durante as entrevista foram utilizados lápis e papel. PROCEDIMENTO PARA COLETA Foram analisados, no próprio hospital, os prontuários dos pacientes usuários do serviço de atendimento domiciliar do HMAB. Foram selecionados os principais cuidadores informais dos pacientes, sendo que todos residiam junto ao paciente, e deles cuidavam pelo menos quatro dias por semana. Foram retiradas algumas informações dos prontuários, como diagnóstico, nível de autonomia e independência do paciente. Os cuidadores que preencheram os critérios de inclusão do estudo foram informados sobre a pesquisa, mediante contato telefônico das pesquisadoras. As entrevistas foram 9 agendadas previamente e ocorreram seis em domicilio e uma em local de trabalho do cuidador, a fim de estabelecer um rapport inicial. A aplicação das escalas Beck de depressão e ansiedade, da entrevista semiestruturada (anexo A) e do questionário (anexo B) ocorreram no primeiro encontro, nos locais acima descritos. Os cuidadores assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram perguntados se desejavam prosseguir, sendo convidados a participarem, em um segundo encontro, de uma palestra psicoeducativa que abordou o tema: Conviver com a doença de Alzheimer: aspectos psicológicos. Ela foi marcada posteriormente via contato telefônico. No dia da realização da palestra no HMAB, sala de grupos do setor de Psicologia, nenhum cuidador compareceu. Foi feita nova tentativa de agendamento e durante as ligações telefônicas os cuidadores justificaram que não poderiam comparecer na data estabelecida, justificando motivos relacionados à sobrecarga de tarefas. Desta forma as pesquisadoras optaram por realizar a intervenção domiciliar. Participaram dessa fase dois cuidadores e os outros relataram indisponibilidade de tempo. Foi realizada a intervenção psicoeducativa, palestra que procurou esclarecer e orientar os cuidadores em suas necessidades e aflições e foi reaplicada entrevista semi-estruturada (Anexo B) seguida de alterações para o item (Cuidados oferecidos), que passou a ser perguntado: A partir de agora, como o senhor (a) acha que enfrentará o convívio com seu familiar com Alzheimer?) , houve ainda alteração para última pergunta da entrevista que foi retirada. PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE Após os encontros, os dados que foram coletados nas duas etapas foram analisados qualitativa e quantitativamente, por meio de estudo de caso. 10 RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram analisados os dados dos prontuários e os questionários aplicados aos sete cuidadores dos pacientes com doença de Alzheimer. Verificou-se que todos os pacientes apresentavam algum grau de dependência para a realização das atividades diárias. Das pacientes do sexo feminino, três apresentaram dependência total e uma dependência parcial (alimentação). Dos pacientes do sexo masculino, um apresentou dependência parcial, um dependência total e outro necessitava de ajuda humana para realizar atividades. Quatro pacientes possuíam diagnóstico de Alzheimer e três pacientes o diagnóstico de demência mista (Alzheimer/Vascular). A avaliação do prontuário foi composta por sete pacientes com Alzheimer, sendo quatro mulheres e três homens e seus cuidadores familiares. As idades dos pacientes variaram, entre os homens, de 82 anos a 88 anos, e entre as mulheres, de 62 anos a 85 anos. Dos cuidadores entrevistados eram dois homens e cinco mulheres. Dos homens, dois eram cônjuges, enquanto das mulheres, 2 eram esposas, 1 sobrinha, 1 amiga e 1 filha. A idade dos entrevistados variou de 40 a 90 anos. No presente estudo, a incidência de doenças degenerativas afetou de forma significativa a população idosa, confirmando a descrição feita pela literatura (Freitas e Cols, 2008), que descreve que a maioria dos pacientes com Alzheimer são idosos com mais de 65 anos, com perdas gradativas, físicas e sociais, como perdas familiares, laborais e demais aspectos da vida social. Verificou-se que a entrevistada mais jovem, de 41 anos, era filha da paciente. Foram entrevistados cuidadores do sexo masculino com as seguintes idades: 86 anos e 65 anos. A idade das cuidadoras eram: duas com 80, uma com 76, 70 e 41. 11 Os cuidadores eram em sua maioria cônjuges (n=5) e estava há muito tempo nesse relacionamento. Os cuidadores solteiros eram do sexo feminino, sendo uma filha e outra amiga. Há uma elevada incidência (n=6) de entrevistados acima de 60 anos, inserindo-os na terceira idade. Houve uma maior predominância de entrevistados casados e com idade elevada. Os cuidados demandam esforços físicos e mental (Garridoa e Menezes, 2004), assim o esperado é que o cuidador tenha condições físicas e emocionais para manter-se nessa função. A idade é uma variável que interfere nessas condições de saúde. No presente trabalho, a incidência de cuidadores idosos e com problemas de saúde foi alta, sendo a hipertensão o problema mais freqüente. Esse dado evidencia um desgaste físico nesses cuidadores, pois as doenças relatadas possuem em sua maioria um componente psicossomático. Percebe-se que os cuidadores estudados fazem parte de uma população com fragilidades físicas e emocionais. Apesar de suas dificuldades, eles precisam tornar-se fortes para cuidar de um terceiro. Esse dado informa o descrito por Garridoa e Menezes (2004), que descreve a incidência de cuidadores familiares na doença de Alzheimer. Esses mesmos autores falam também da prevalência de cuidadores do sexo feminino. A amostra de cuidadores do sexo feminino foi na proporção de 71,4% de mulheres para 28,6% para homens, sendo que para as mulheres esse cuidado é integral e para os homens é de ½, período, ficando as mulheres responsáveis por administrar as tarefas do lar e exercitar o cuidado com os pacientes e os homens responsáveis por administrar as tarefas do lar. Percebe-se o quanto aspectos sociais, da história de vida e culturais permeiam o cuidado e a definição de papéis conforme o gênero. Na amostra estudada, essa diferença pode ser percebida, ficando a mulher com uma responsabilidade de cuidado maior que os homens. Destaca-se, também, que dois 12 cuidadores escolheram uma área profissional voltada a assistência, possuindo história de reforçadores sociais para o cuidar. Percebe-se que a mulher só passa a buscar auxílio externo quando sente que não dá mais para ela cuidar sozinha: “cada dia ele vai piorar um pouco, aí agente vai ver se precisa de alguém para cuidar. Agente não é de ferro.” Os cuidadores homens apresentaram uma maior necessidade em buscar atividades profissionais como forma de enfrentamento. Essa busca também tem como objetivo resolver os problemas financeiros. De sete entrevistados todos citaram renda entre R$ 3.500 à R$ 26.000. Apesar da população estudada ter uma renda capaz de sustentar as ações de cuidado com os pacientes, a dificuldade financeira foi um fator considerado como estressor. A literatura traz esse dado como comum em várias famílias que vivenciam esse problema (Garridoa e Menezes (2004). Todos os cuidadores referiram ter alguma crença espiritualista. Cinco relataram seguir a religião católica, uma evangélica e um relatou ser cristão. A religião também inseriu-se como estratégia de enfrentamento, principalmente, pelas cuidadoras. Todos tiveram a percepção de estar recebendo ajuda, sendo que apenas uma mencionou Deus diretamente. Todos os cuidadores disseram não receber treinamento formal ou informal, apesar de uma participante, ao longo da entrevista, ter mencionado que a nutricionista da equipe passou orientações quanto à bomba de infusão, equipamento utilizado para pacientes que fazem alimentação via venosa, arterial ou esofágica, alem de ter recebido uma cartilha informativa. A falta de treinamento pode agravar o desgaste físico e emocional e mobilizar sentimentos relacionados à percepção do cuidar. 13 Três sujeitos responderam realizar alguma atividade de lazer, enquanto quatro disseram não realizar atividades voltadas ao lazer. Dois praticam atividade física e cinco não. A dificuldade encontrada em reunir os cuidadores para a intervenção pode estar correlacionado com a dificuldade dessa população ter um tempo para si mesmos. Nenhum cuidador apresentou quadro grave de ansiedade ou depressão, de acordo com os resultados das escalas aplicadas. Três cuidadoras apresentaram quadro leve de depressão. Duas cuidadoras apresentaram quantidade significativa de sintomas de ansiedade. Na primeira tentativa de intervenção, os cuidadores relataram dificuldades como ter que resolver problemas domésticos, consultas médicas e falta de alguém para levar, não comparecendo ao encontro. O não comparecimento dos cuidadores nas reuniões pode ser explicado pelo quanto os cuidadores assumem e vivem a vida do paciente. Outra hipótese levantada seria em consequência da percepção dos cuidadores sentiremse preparados para cuidar, pois estão “dando conta”. Estudos de Casos Participaram voluntariamente dos estudos de casos dois cuidadores, sendo um do sexo masculino e uma do sexo feminino. Ambos eram cônjuges dos pacientes, e encontravam-se com as seguintes idades na data da avaliação: ele – 86 anos e ela- 76 anos. O cuidador era médico obstetra e militar e a cuidadora era dona de casa. Ela seguia a religião evangélica e ele disse ser espiritualizado. Para análise qualitativa dos resultados encontrados, foram utilizados os dados das entrevistas efetuadas antes e após a intervenção. Verificou-se que, antes da intervenção, os cuidadores possuíam um conhecimento geral, sem profundidade, sobre a doença de Alzheimer. A cuidadora mencionou possuir vários livros e cartilhas a respeito da doença, mas enfatizou que 14 possuía dificuldade em memorizar. Quando perguntados sobre o que é a doença, responderam conforme descrito: “é uma degeneração das células que prejudicam as sinapses...” (medico) “altera o Sistema Nervoso do Cérebro” (do lar). Quando perguntado para ela o que seria o sistema nervoso, ela não soube responder. Verifica-se que o grau de instrução não correlaciona-se com um maior conhecimento sobre a doença. A busca por informações parece estar mais relacionado com fatores motivacionais do que com escolaridade e formação. Mesmo sendo a escolaridade uma variável significativa para a compreensão da doença, por si não dá conta da complexidade ligada ao diagnóstico da doença de Alzheimer, tendo em vista que para a própria medicina o diagnóstico não é preciso. Nenhum cuidador soube dizer as causas da doença corretamente. Foi mencionada a raça branca (cuidador) e problemas emocionais (cuidadora) vivenciados como etiologia. Estas são causas comuns atribuídas no senso comum. Essas crenças podem gerar sentimentos de culpa e impotência, tanto em quem cuida, como no paciente. Podem gerar também dificuldade em se delegar tarefas e visualizar possibilidades terapêuticas, pois acredita-se que o cuidado oferecido por terceiros piora o quadro de saúde do paciente. Quando perguntados sobre as mudanças físicas, ambos relataram sintomas do próprio paciente como resposta, mesmo após as entrevistadoras explicarem que a pergunta se referia a classe dos pacientes com Alzheimer e não diretamente ao paciente cuidado. Porém, referenciaram mudanças de comportamento e não alterações fisiológicas dos pacientes. Essas respostas voltadas para o comportamento do paciente cuidado ocorreram também para a pergunta mudanças comportamentais/emocionais. Os cuidadores descreveram vários sintomas comportamentais/emocionais presentes em seus familiares com Alzheimer, como recusa de banho, apatia, não querer 15 conversar, não reconhecer as filhas, agressividade, introversão, esquecimento. Percebese que eles se restringiam a citar os sintomas presentes no momento ou que os pacientes já haviam apresentado. Falta o conhecimento da evolução dos sintomas, podendo estar funcionando como estratégia defensiva. As mudanças familiares foram divididas nas seguintes categorias: dependência, reinvestimento afetivo e tristeza. A categoria dependência incluiu o relato da cuidadora: “ ...deixar de sair, não deixar o paciente só...” e “cada dia ele vai piorar um pouco, aí agente vai ver se precisa de alguém para cuidar. Agente não é de ferro.” A categoria reinvestimento afetivo diz respeito ao relato do cuidador: “ passamos a ter um maior cuidado e dedicação com ela...ela é tratada como uma rainha.” E a categoria tristeza incluiu o relato da cuidadora: “ quando as filhas chegam e convidam ele para sair. Ele nunca quer. Acho que elas ficam tristes. O neto fica triste. Ele ficou muito sem reação. Agente fica triste”. Foi percebido um leve sofrimento psíquico na cuidadora. Há presença de sentimentos de tristeza, diminuição de prazer nas atividades e diminuição no interesse em outras pessoas, autocrítica elevada, aumento de freqüência em chorar e ficar aborrecida, adiar decisões, alterações no sono, maior sensação de cansaço, mudanças no apetite. Nota-se uma ansiedade e depressão leve que pode ser um reflexo de um sentimento de obrigação em exercer o cuidado e das mudanças ocorridas. Caldeira, Cássia e Ribeiro (2004) já mencionaram a ambivalência do cuidado, ao descrever a presença de valores conflitantes. No caso da cuidadora, nota-se a presença de sentimentos mistos de prazer e sofrimento. Já no cuidador, que delega parte do cuidado a profissionais, não foi verificado tal nível de sofrimento, mas sim um reinvestimento afetivo na esposa. 16 Os cuidadores consideram que obter conhecimento sobre a doença acarreta modificações no cuidado oferecido ao paciente. A cuidadora relatou que passa a ter mais carinho, mais atenção. Ele disse que ajuda a saber qual o melhor tratamento a ser oferecido. Ambos disseram que esse conhecimento melhoraria o bem-estar por eles sentido. Ela dizendo que saber o que é reação da doença acalma e ele que o sofrimento da paciente reflete na família. Quanto aos cuidados oferecidos ao paciente, os cuidadores responderam sobre as seguintes categorias: pensar no problema, sentir-se preparado para cuidar, percepção de estar dando conta da situação e permissão para ser cuidado. Os dois cuidadores relataram pensar muito nos cuidados oferecidos. A esposa pensa muito sobre o momento do banho, forte estressor. O marido pensa na vida de casal que tiveram e diz que quanto mais pensa mais carinho passa a ter pela esposa. Assim, sobra pouco tempo para pensarem neles mesmos. Ambos relataram realizar atividade de lazer esporadicamente e não realizar atividade física. Essas atividades exigem que se tenha um tempo para pensar em si mesmo. Mesmo quem não cuida tempo integral, precisa fiscalizar o cuidado que está sendo oferecido. Relatam sentir-se preparados para cuidar, apresentando os seguintes discursos: “sim, até agora sim” e “sim, estou sempre brincando com ela...” e relataram estar conseguindo enfrentar a situação, ele tendo passado primeiro por um AVC sofrido pela esposa e a cuidadora disse dar conta, só não dá conta do banho. O vínculo afetivo parece estar fortemente relacionado com a qualidade do cuidado oferecido e o envolvimento com o cuidar. Quanto a ser cuidado, os dois disseram receber cuidados dos filhos. A primeira resposta da cuidadora foi: “ não, para quê?”. Posteriormente, ela parou e mudou a resposta mencionando as filhas. 17 Quanto às fontes estressoras, verificou-se que: Quanto às fontes estressoras, foram formadas duas categorias: mudanças relativas ao cuidador e mudanças relativas ao paciente. Verifica-se que rotina medicamentosa, cuidados diários e momento de dormir foram os itens mencionados nas mudanças relativas ao cuidador, sendo, o primeiro relato referente ao cuidador e os demais referentes à cuidadora. Já nas mudanças do paciente ambos relataram as mudanças de temperamento que este passa a apresentar. Ele mencionou os comportamentos inadequados da paciente e a cuidadora mencionou os esquecimentos do paciente. Verificou-se um maior desgaste físico e emocional da cuidadora frente às atividades diárias do paciente, como a hora do banho. A cuidadora encontrava-se despreparada para lidar com tal situação. Freitas e Cols. (2008) descreveram esse comportamento do cuidador viver em função da vida do doente, como fonte de adoecimento. A inserção de cuidadores formais ou a divisão de tarefas por diferentes membros da família torna-se fundamental para a manutenção de um cuidado de qualidade e da qualidade de vida de quem cuida. Quanto às preocupações e medos, a cuidadora relatou medo do paciente morrer e o cuidador medo de morrer antes da paciente e de vê-la sofrer. Foi perguntado aos cuidadores qual pedido fariam se pudessem tê-lo realizado. Foram obtidas as seguintes respostas: volta da memória do paciente e saúde (cuidadora) e menos sofrimento à paciente enquanto estiver por aqui (cuidador). Após a intervenção psicoeducativa, verificou-se quanto ao conhecimento da doença as seguintes descrições do que era o Alzheimer: “doença degenerativa do cérebro, que vai acabando com as células” (cuidadora) e “doença degenerativa que a pessoa vai perdendo várias funções” (cuidador). Sobre as causas, uma cuidadora retificou sua explicação anterior: “tinha a impressão que era tristeza, mas agora é que as células vão desmanchando”. O outro cuidador deixou de associar com raça e disse: 18 “áreas da memória que estão comprometidas, é uma doença degenerativa.” Percebe-se que as respostas referentes ao que é o Alzheimer permaneceram no mesmo nível, mais geral. Porém, quanto às causas, eles foram capazes de reformular conhecimentos que tinham em relação à doença, deixando de atribuir os problemas emocionais e a raça como causa. Sabe-se que a doença está associada ao envelhecimento e apresenta evidente componente genético. Quanto às mudanças físicas os cuidadores continuaram dando respostas centradas no comportamento do paciente. Já nas mudanças comportamentais, emocionais e familiares a cuidadora passou a dar resposta mais generalista, como: fazer coisas estranhas, deixar de conhecer, de fazer atividades, não querer conversar, apatia e tristeza. O cuidador continuou respondendo com base no comportamento da paciente. Quando perguntados se o conhecimento afeta o cuidado e o bem-estar, responderam: “começa a perceber a doença de forma diferente, com mais naturalidade. Tem que saber para enfrentar” (cuidador) “bom ter o conhecimento, porque pode cuidar dele de acordo.” (cuidadora). Esse resultado, corrobora o descrito por Brucki (2006). Quanto à percepção dos estressores após a intervenção, verificou-se que a cuidadora avaliou como fatores estressantes um número maior de fatores do que na primeira entrevista. Ela retirou o fator cuidados com o paciente e acrescentou inadequações do paciente, esquecimentos, gastos, ser esquecido, falta de tempo para si e replanejamento de vida. Já o cuidador relatou um fator diferente ao mencionado na primeira entrevista. Na segunda entrevista, relatou apenas o isolamento de amigos e grupos sociais como fator estressante. Nota-se uma mudança qualitativa nas respostas, pois a cuidadora aponta estressores voltados para si e não só para o doente e o cuidador relatou uma mudança sua (isolamento de amigos e grupos sociais). Essa mudança pode ser resultado de ter 19 sido oferecido a eles a compreensão da doença, do cuidar na perspectiva de mobilização de sentimentos em relação a si e ao outro. Ao receberem o suporte e orientação, ao falarem da doença e dos cuidados ao paciente com Alzheimer, falam de sua própria experiência com seu familiar, o que pode ser visto como um espaço de fala e escuta, favorecendo desta forma o reconhecimento de seus sentimentos, limites, frustrações e impacto frente à nova condição. Quanto às preocupações e medos a cuidadora mudou sua resposta. De medo da morte do paciente, mudou para preocupações com a apatia do paciente. Ele continuou com o mesmo medo e preocupação, que seria morrer antes dela. Constata-se que cada um irá enfrentar de forma diferente o ter que cuidar de um familiar com doença de Alzheimer. Isso ocorre em decorrência da história de vida do sujeito e da presença/ausência de recursos pessoais e sociais. A equipe deve estar atenta para ajudar no desenvolvimento de habilidades e estratégias de enfrentamento. Quando não há essa atenção aos cuidadores, é comum eles desenvolverem patologias e comportamentos não funcionais, como transtornos de ansiedade e depressão, alienação e co-dependência. CONSIDERAÇÕES FINAIS A população de familiares cuidadores de pacientes com Alzheimer se mostrou frágil e carente de um olhar diferenciado para seu sofrimento. Os estudos voltados à doença são mais freqüentes e antigos, enquanto os estudos voltados para quem cuida ainda são incipientes e restritos a áreas do saber específicas. A psicologia vem procurando o seu lugar nessa área, crescendo com isso estudos sobre o idoso e doenças crônicas. Considerando a fala dos sujeitos investigados e os próprios agravos em relação à doença, que por sua vez ainda não possui definição clara e possibilidade de cura, porém 20 apenas tratamento paliativo, é evidente o sofrimento da família em lidar com as mudanças que ocorrem na rotina diária do paciente. Este passa cada dia a ter maior dependência, necessitando de apoio e cuidado constante daquele que está ligado por amor, obrigação ou dever a alguém que já não possui suas funções preservadas. O reconhecimento de que esses cuidadores são componente fundamental nos cuidados a saúde tem incentivado a busca por assisti-los. Como confirmado pela literatura e por explanação desta pesquisa, a maioria da população de cuidadores informais no Brasil encontra-se sem informação e suporte necessário. “Se o suporte formal não é oferecido o cuidador pode passar a tornar-se um paciente dentro do sistema”. ( Menezes, Garrido, 2004). No presente estudo, verificou-se que os cuidadores, após intervenção formal, não foram capazes de incorporar, totalmente, um repertório verbal amplo a respeito da doença de Alzheimer. Porém, alguns mitos e teorias sobre a doença foram esclarecidos. Há necessidade de novos estudos que ampliem o tempo de intervenção com essa população, oferecendo mais oportunidades de discussão e reflexão sobre o tema. Foi visto que a criação de um ambiente de troca de informação e experiência possibilitou ainda aos cuidadores falarem sobre seus próprios sentimentos e preocupações, tornando-se um espaço terapêutico. Lembrando que a proposta ideal para um novo modelo de saúde é cuidar e não apenas tratar, a intervenção com essa população torna-se fundamental. Intervir com o familiar/cuidador informal é abrir espaço para que falem das dificuldades do cuidar e da percepção em relação aos seus sentimentos. 21 REFERÊNCIAS Brucki, S. M. D. (2006). Doença de Alzheimer: diagnóstico, característica e estratégias de tratamento. Revista Racine. Doença de Alzheimer. São Paulo, p. 30-42, Nov/dez. Caldeira, A. P, Cássia, R. e Ribeiro, H. M. (2004). O enfrentamento do cuidador do idoso com Alzheimer. Arq Ciênc Saúde. abr-jun;11(2):X-X DSM IV. Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais. Porto Alegre, Artes Médicas, 2000. Freitas, I C C; Paula, K C C; Soares, J L e Parente, A C (2008). Convivendo com o portador de Alzheimer: perspectivas do familiar cuidador. Rev. bras. enferm. [online], vol.61, n.4, pp. 508-513. Garridoa, R. e Menezes, P.R. (2004). Impacto em cuidadores de idosos com demência atendidos em um serviço psicogeriátrico. Revista de Saúde Pública, 38(6), 835-841. Gohen, S., Gottlieb, B. H. E Underwood, L.G. (2000). Social Relationships and Health. Em Uchino, B.N. (Org.), Social Support e Physical Health. Nova York: Oxford. Guimarães, S.S. (1999). Psicologia da Saúde e doenças crônicas. Em R. Kerbaury (Org.), Comportamento e Saúde: EXPLORANDO ALTERNATIVAS (PP.22.45). Santo André, SP: ARBytes. Smith. C. A de. M. (1999). Doença de Alzheimer. Revista Brasileira de Psiquiatria. vol.21 s.2 . São Paulo Oct. 22 Anexo A - Questionário Cuidador: Idade: Sexo: Estado Civil: Nº Filhos: Escolaridade: Profissão: Ocupação atual: Jornada de trabalho: Renda familiar mensal: Quantas pessoas vivem com essa renda? Quem mora com o paciente: Nome Parentesco Religião: _________________ Idade Praticante: ( ) sim ( ) não Problemas de saúde: ( ) sim ( ) não Caso positivo, qual? _________________________ Parentesco com o paciente: _______________________________ Há quanto tempo: • É cuidador: • O paciente recebe assistência domiciliar: • O paciente está em tratamento: Qual a carga horária em que é cuidador: ( ) integral ( ) ½ período ( ) outro: Tipo de apoio recebido: - terapia ( ) - familiar ( ) quem: - amigos ( ) -grupo religioso ( ) - médico ( ) - outro ( ) Recebeu treinamento/orientações formal ou informal para ser cuidador? ( ) sim ( ) não Possui tempo para: Lazer: ( ) sim ( ) não qual?_________________________ Atividade física: ( )sim ( )não quantas vezes na semana? _______________________ Anexo B - Entrevista Semi-estruturada Quanto à doença: O que é o Alzheimer? 23 Quais são as causas do Alzheimer? Quais as mudanças físicas que o paciente irá apresentar? Quais as mudanças comportamentais/emocionais que o paciente irá apresentar? Quais as mudanças mais comum nas famílias? O senhor(a) acha que o conhecimento da doença e suas conseqüências podem interferir no cuidado com o paciente? Como? E no bem-estar do cuidador? Quanto aos cuidados oferecidos: O senhor(a) passa muito tempo pensando sobre o problema do paciente? O senhor(a) se sente preparado(a) para cuidar do paciente? O senhor(a) sente que consegue enfrentar/dar conta (d)essa situação? O senhor(a) se permite ser cuidado? Quem o/a cuida? Quanto às fontes estressoras: Quais desses fatores são considerados estressores para o senhor(a) quando em convívio com o paciente com Alzheimer: ( ) cuidados diários com o paciente – ( ex. alimentar, dar banho, vestir, movimentar) ( ) mudanças de temperamento do paciente – (ex. birra, agressividade, irritabilidade, apatia) ( ) comportamentos inadequados do paciente (ex. em público, com familiares) ( ) esquecimentos do paciente (ex. de pessoas, de fatos) ( ) dificuldades financeiras/gastos ( ) rotina medicamentosa do paciente ( ) momento de dormir do paciente ( ) desvalorização do cuidado/não ser reconhecido pelo que faz ( ) ser esquecido ( ) isolamento/distanciamento de amigos, grupos sociais ( ) não ter mais tempo para si mesmo ( ) Mudanças de planejamento de vida ( ) Condições do ambiente físico de casa ( ) Condições ambientais públicas (ex. transporte, acesso a medicamentos, vizinhança) Quais suas preocupações em relação à doença e ao paciente? E medos? Se o senhor (a) pudesse ter um pedido realizado, que pedido seria esse? 24 NOTA SOBRE AS AUTORAS Caroline da Silva: Graduada em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB), Especialista em Análise do comportamento pelo IBAC - Instituto Brasiliense de Análise Comportamental, Psicóloga do Hospital Militar de Área de Brasília e Aluna do Curso de Pós- Graduação em Psicologia Hospitalar e da Saúde da Universidade Católica De Brasília- DF. Flávia Martins: Doutoranda em Neurociências do Comportamento e Cognição na Universidade de Brasília (2010). Mestre em Neurociências do Comportamento e Cognição pela mesma universidade (2009). Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (2003), graduação em Química pela Universidade de Brasília (2006) e Curso de especialização em Neuropsicologia pelo Instituto de Psicologia Aplicada e Formação - IPAF (2007). Márcia Rocha Honorino: Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB); Psicóloga Clínica da Unidade Médica Ceilândia – DF Grupo AMIL e Aluna do Curso de Pós- Graduação em Psicologia Hospitalar e da Saúde da Universidade Católica De Brasília- DF.