APRESENTAÇÃO PÚBLICA PROJETO K. A PARTIR DE FRANZ KAFKA DIREÇÃO E ORIENTAÇÃO ANA LUENA figurinos Beatriz Valente sonoplastia Ricardo Leão formadores colaboradores João Castro, Margarida Gonçalves, Rui Monteiro produção executiva Luís Puto, Marta Amaro interpretação António Baía Reis, António Teixeira, Armanda Queiroz, Gil Lopes, Helena Queirós, Joana Felix, Luís Monteiro, Maria Adelaide Araújo, Carlota Matos, Maria Fernanda Rodrigues, Maria Pereira da Silva, Marta Rosas, Samuel Gomes, Susana Brandão (participantes do Laboratório de Interpretação/Projeto Encenado) coorganização Teatro Bruto, TNSJ dur. aprox. 45’ M/12 anos Mosteiro de São Bento da Vitória Sala do Tribunal 3-5 dezembro 2014 qua-sex 21:30 TNSJ Praça da Batalha 4000-102 Porto T 22 340 19 00 TeCA Rua das Oliveiras, 43 4050-449 Porto T 22 340 19 00 MSBV Rua de São Bento da Vitória 4050-543 Porto T 22 340 19 00 [email protected] www.tnsj.pt De que falam as histórias de Kafka? Depois de ter recebido inúmeras respostas, a pergunta continua a suscitar um sentimento de aguda incerteza. São sonhos? São alegorias? São símbolos? São coisas que sucedem no dia-a-dia? As múltiplas soluções que nos têm sido oferecidas não conseguem eliminar a suspeita de que o mistério permanece intacto. Sem o querer desvendar, o Laboratório de Interpretação proposto pelo Teatro Bruto partiu de textos de Franz Kafka (excertos dos diários e narrativas breves), promovendo, ao longo de dois meses, a realização de um conjunto de exercícios de improvisação, experimentação e composição cénico-teatral. Tendo em conta a valorização da expressão gestual e da linguagem corporal dos participantes, lecionaram-se técnicas de interpretação na sua relação com o espaço, a contracena e o público. O Laboratório de Interpretação/Projeto Encenado culmina agora na apresentação pública de uma criação teatral original, interpretada pelo grupo de participantes. “Em que teatro trabalham?” O mundo de Kafka é um Teatro Universal. Para ele, o homem encontra-se naturalmente em cena. E a prova é que [no romance América] todos são aceites no teatro natural de Oklahoma. É impossível compreender os critérios que regulam as admissões. À aptidão declamatória, que em princípio poderia parecer importante, não se atribui qualquer importância: só se pede aos candidatos que representem o papel de si próprios. Que possam ser seriamente o que dizem ser, é coisa que sai do campo do possível. Os atores com os seus papéis procuram asilo no teatro natural, tal como as seis personagens de Pirandello procuram um autor. Em ambos os casos, o que procuram é o refúgio derradeiro, e isso não exclui que esse lugar seja a redenção. A redenção não é um prémio atribuído à vida: é antes o último refúgio de um homem que, como dizia Kafka, tem “o caminho bloqueado pelo seu próprio osso frontal”. A lei deste teatro está contida numa frase da Comunicação a Uma Academia [onde um símio narra a sua transformação em homem]: “Imitava-os porque procurava uma saída, por nenhuma outra razão”. Um presságio de tudo isto parece aflorar em K. antes do fim do seu processo. Volta-se imprevistamente para os dois senhores de chapéu alto que vêm buscá-lo e pergunta-lhes: “Em que teatro O TNSJ É MEMBRO DA trabalham?” – “Teatro?”, admira-se um deles, enquanto se volta para o outro, como que a pedir-lhe conselho. Depois ficam ambos mudos. Não respondem à pergunta, mas tudo leva a crer que os deixou impressionados. Walter Benjamin Excerto de Kafka. Trad. Ernesto Sampaio. Lisboa: Hiena, 1994. p. 43-44. “O destino de Kafka foi transmutar as circunstâncias e as agonias em fábulas” Os factos da vida deste autor não propõem outro mistério para além da sua tão indagada relação com a obra extraordinária. Kafka nasceu no bairro judeu da cidade de Praga, em 1883. Os seus pais possuíam algum dinheiro. Kafka estudou Direito, doutorou-se e trabalhou numa companhia de seguros. Da sua juventude sabemos duas coisas: um amor infeliz e o gosto pelos romances de aventuras e pelos livros de viagens. Era tuberculoso: passou uma boa parte dos seus dias em sanatórios do Tirol, dos Cárpatos e dos montes Metálicos. O seu primeiro romance – América – data de 1913. Em 1919, estabeleceu-se em Berlim; no Verão de 1924, morreu num sanatório perto de Viena. O infame bloqueio dos aliados (escreve o seu tradutor inglês, Edwin Muir) apressou a sua morte. A obra de Kafka compõe-se de três romances incompletos e de três volumes de contos, aforismos, cartas, diários e apontamentos. América, o mais esperançoso dos seus romances, é talvez o menos característico. Os outros dois – O Processo (1925), O Castelo (1926) – têm um mecanismo totalmente igual ao dos paradoxos intermináveis do eleata Zenão. O herói do primeiro, progressivamente esmagado por um insensato processo, não consegue averiguar o delito de que o acusam, nem sequer confrontar-se com o invisível tribunal que tem de o julgar; este, sem julgamento prévio, acaba por mandá-lo degolar. K., o herói do segundo, é um agrimensor chamado a um castelo, que nunca consegue penetrar nele e que morre sem ser reconhecido pelas autoridades que o governam. Não me parece por acaso que nos dois romances faltem os capítulos intermédios: também no paradoxo de Zenão faltam os pontos infinitos que Aquiles e a tartaruga têm de percorrer. O destino de Kafka foi transmutar as circunstâncias e as agonias em fábulas. Redigiu sórdidos pesadelos num estilo límpido. Não foi em vão que era leitor das Escrituras e devoto de Flaubert, de Goethe e de Swift. Era judeu, mas a palavra “judeu” não figura, que me lembre, na sua obra. Esta é intemporal e talvez eterna. Kafka é o grande escritor clássico do nosso atormentado e estranho século. Jorge Luis Borges Excertos de “Franz Kafka” e “Franz Kafka: América. Narrativas Breves”. In Jorge Luis Borges: Obras Completas, IV, 1975-1988. Trad. Cristina Rodriguez e Artur Guerra. Lisboa: Teorema, 1999. p. 334, 459. FICHA TÉCNICA TNSJ coordenação de produção Maria João Teixeira assistência de produção Maria do Céu Soares, Mónica Rocha direção de palco Rui Simão direção de cena Ana Fernandes luz Filipe Pinheiro (coordenação), Abílio Vinhas, Adão Gonçalves, José Rodrigues, Nuno Gonçalves maquinaria Filipe Silva (coordenação), Adélio Pêra, António Quaresma, Carlos Barbosa, Joaquim Marques, Joel Santos, Jorge Silva, Lídio Pontes, Paulo Ferreira som Joel Azevedo APOIOS TNSJ APOIOS À DIVULGAÇÃO AGRADECIMENTOS TNSJ Câmara Municipal do Porto Polícia de Segurança Pública Mr. Piano/Pianos – Rui Macedo