FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS – FUCAPE ÓSCAR MIGUEL DA SILVA PINTO DE MATOS O IMPACTO DAS TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS NA PERFORMANCE OPERACIONAL DAS COMPANHIAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA VITÓRIA 2011 ÓSCAR MIGUEL DA SILVA PINTO DE MATOS O IMPACTO DAS TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS NA PERFORMANCE OPERACIONAL DAS COMPANHIAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Contábeis, da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis – Nível Profissionalizante, na área de concentração Contabilidade Gerencial. Orientador: Prof. Dr. Fernando Caio Galdi VITÓRIA 2011 ÓSCAR MIGUEL DA SILVA PINTO DE MATOS O IMPACTO DAS TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS NA PERFORMANCE OPERACIONAL DAS COMPANHIAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis na área de concentração Contabilidade Gerencial. Aprovada em 13 de setembro de 2011. COMISSÃO EXAMINADORA Prof° Dr.: Fernando Caio Galdi (FUCAPE) Prof° Dr.: Aridelmo José Campanharo Teixeira (FUCAPE) Prof° Dr. : Alfredo Sarlo Neto (Universidade Federal do Espírito Santo - UFES) Dedico este trabalho a minha esposa Carmen e aos meus filhos Carlos Miguel e Maria Manuela, que caminharam comigo nestes anos e sempre me deram precisava. o apoio que AGRADECIMENTO A Deus e a Nossa Senhora de Fátima, sempre ao meu lado Aos meus pais Carlos e Maria Fernanda pela luta constante em função da minha educação e conforto A minha avó Maria Luiza pelo carinho de sempre Ao Professor Doutor Fernando Caio Galdi, pela colaboração, generosidade a atenção a mim dispensadas. “ O que é bonito neste mundo, e anima, É ver que na vindima De cada sonho Fica a cepa a sonhar outra aventura...” (Miguel Torga) RESUMO Este estudo teve como objetivo investigar o impacto das transações entre partes relacionadas na performance operacional das empresas brasileiras. Considerandose as recentes alterações no cenário contábil brasileiro e a exigência da evidenciação detalhada das operações entre partes relacionadas a partir de 2008, utiliza-se uma amostra de empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA) no período de 2008 e 2009. Os resultados encontrados foram uma relação positiva com o ROA e EBITDA das empresas controladoras nas transações de compra com as controladas e uma relação igualmente positiva com o ROA e EBITDA das empresas controladas nas transações de vendas com as controladoras. Palavras-chave: Gerenciamento de resultados, Tunneling, transações com partes relacionadas, BM&FBOVESPA. ABSTRACT This study aims to investigate the impact of related party transactions in the operating performance of Brazilian companies. Considering the recent changes in the accounting Brazilian scenario and the requirement of detailed disclosure of related party transactions from 2008, uses a sample of Brazilian companies listed on the Stock Exchange of São Paulo (BMF&BOVESPA) during the period 2008 to 2009. The results were a positive relation to the ROA and EBITDA of the controller company in purchase transactions with the subsidiaries and also a positive relation to the ROA and EBITDA of controlled companies sales transactions with the controller company. Keywords: Earnings BMF&BOVESPA. management, Tunneling, related party transactions, LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Inquéritos Administrativos da CVM julgados ............................................ 14 Tabela 2 - Tipos de Transações com partes relacionadas usadas no estudo ........... 19 Tabela 3 - Indicadores financeiros da mostra............................................................ 25 Tabela 4 - Indicadores das transações com partes relacionadas da amostra – Controladora ............................................................................................. 25 Tabela 5 - Indicadores das transações com partes relacionadas da amostra – Controlada ................................................................................................ 27 Tabela 6 - Relação entre as transações com partes relacionadas ............................ 29 Tabela 7 - Frequência de ocorrência por tipo de RPT ............................................... 30 Tabela 8 - Nº de operações com partes relacionadas ............................................... 31 Tabela 9 - Relação entre transações com partes relacionadas e retorno sobre os ativos – principais resultados ................................................................... 32 Tabela 10 - Relação entre transações com partes relacionadas e retorno sobre os ativos ........................................................................................................ 36 Tabela 11 - Relação entre transações com partes relacionadas e EBITDA – principais resultados ................................................................................. 37 Tabela 12 - Relação entre transações com partes relacionadas e EBITDA .............. 40 LISTA DE SIGLAS BM&FBOVESPA Bolsa de Valores e Mercadorias e Futuros do Estado de São Paulo CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis CVM Comissão de Valores Mobiliários FAS Finance Accounting Standard IASB International Accounting Standards Board ROA Return on Asset RPT Related Party Transactions SOX Lei Sarbanes-Oxley SUMÁRIO Capítulo 1 ............................................................................................................................................. 7 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 7 1.1 CONTEXTO ............................................................................................................................... 7 1.2 ESTUDOS ANTERIORES....................................................................................................... 9 1.3 PROBLEMA E OBJETIVO .................................................................................................... 10 1.4 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................................... 12 Capítulo 2 ........................................................................................................................................... 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................................ 16 Capítulo 3 ........................................................................................................................................... 19 3 METODOLOGIA ............................................................................................................................. 19 3.1 MODELO UTILIZANDO O ÍNDICE RETORNO SOBRE OS ATIVOS ........................... 20 3.2. MODELO UTILIZANDO O ÍNDICE EBITDA ..................................................................... 22 Capítulo 4 ........................................................................................................................................... 24 4 RESULTADOS OBTIDOS............................................................................................................. 24 4.1 RESULTADOS DESCRITIVOS ............................................................................................ 24 4.2 RESULTADOS UTILIZANDO O ROA COMO VARIÁVEL DEPENDENTE ................... 31 4.3 RESULTADOS UTILIZANDO O EBITDA COMO VARIÁVEL DEPENDENTE. ........... 37 5 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 41 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 44 Capítulo 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTO A Lei 11.638 de 2007 veio alterar e modificar substancialmente dispositivos relacionados á parte contábil da lei das Sociedades Anônimas de 1976, a Lei 6.404 e veio aproximar as práticas brasileiras às adotadas e descritas no International Accounting Standards Board - IASB (CARDOSO et al., 2008). Com referência às demonstrações contábeis, foi criada, pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), uma nova estrutura conceitual com a finalidade de estabelecer informações que sejam úteis na tomada de decisões e avaliações por parte dos usuários em geral. Em dezembro de 2008 o CPC emitiu o pronunciamento técnico número 5, com o objetivo de que as demonstrações contábeis da entidade contenham as divulgações necessárias para evidenciar a possibilidade de que sua posição financeira e seu resultado possam ter sido afetados pela existência de transações e saldos com partes relacionadas (CPC 5, 2008). O fato de se emitir um pronunciamento para esse tipo de transação – a exemplo das normas internacionais de contabilidade, com correlação ao pronunciamento IAS 24 e das normas norte-americanas, o pronunciamento FAS 57 evidencia a importância dessas informações para os investidores, entidades públicas e privadas e a sociedade em geral. No Brasil, esses usuários não têm a sua disposição ferramentas de análise nem estudos constantes que permitam avaliar o impacto dessas transações nos resultados das empresas e os seus eventuais prejuízos para a saúde operacional dessas instituições. 8 A divulgação das Transações com Partes Relacionadas (RPT´s – Related Party Transactions1) merece uma atenção especial, pois essas transações são responsáveis por diversos conflitos de interesse (Johnson et al., 2000), embora possam ter efeitos eficientes (Gordon et al., 2004), o que torna mandatório a qualquer pesquisa no assunto ser capaz de delimitar corretamente a fronteira entre transações com partes relacionadas eficientes e prejudiciais aos usuários. Como a estrutura de controle acionário no Brasil é altamente concentrado, mesmo nas companhias abertas (Leal et al., 2002), podem ocorrer incentivos para expropriação de acionistas minoritários (SILVEIRA, 2004). O Comitê de Pronunciamentos Contábeis define em seu Pronunciamento o que é Parte Relacionada: (a) Uma pessoa, ou um membro próximo de sua família, está relacionada com a entidade que reporta a informação se: (i) tiver o controle pleno ou compartilhado da entidade que reporta a informação; (ii) tiver influência significativa sobre a entidade que reporta a informação ou; (iii) for membro do pessoal chave da administração da entidade que reporta a informação ou da controladora da entidade que reporta a informação. (b) Uma entidade está relacionada com a entidade que reporta a informação se qualquer das condições abaixo for observada: (i) a entidade e a entidade que reporta a informação são membros do mesmo grupo econômico (o que significa dizer que a controladora e cada controlada são inter-relacionadas, bem como as entidades sob controle comum são relacionadas entre si); (ii) a entidade é coligada ou controlada em conjunto (joint venture) de outra entidade (ou coligada ou controlada em conjunto de entidade membro de grupo econômico do qual a outra entidade é membro); (iii) ambas as entidades estão sob o controle conjunto (joint ventures) de uma terceira entidade; (iv) uma entidade está sob o controle conjunto (joint venture) de uma terceira entidade e a outra entidade for coligada dessa terceira entidade; (v) a entidade é um plano de benefício pós-emprego cujos beneficiários são os empregados de ambas as entidades, a que reporta a informação e a que está relacionada com a que reporta a informação. Se a entidade que reporta a informação for ela própria um plano de benefício pós-emprego, os empregados que contribuem com a mesma serão também consideradas partes relacionadas com a entidade que reporta a informação; (vi) a entidade é controlada, de modo pleno ou sob controle conjunto, por uma pessoa identificada na letra (a); 1 Neste projeto optou-se por usar a abreviatura em inglês por ser a mais usada. 9 (vii) uma pessoa identificada na letra (a)(i) tem influência significativa sobre a entidade, ou for membro do pessoal chave da administração da entidade (ou de controladora da entidade). Uma transação com partes relacionadas é uma transferência de recursos, serviços ou obrigações entre partes relacionadas, independentemente de haver ou não um valor alocado à transação. 1.2 ESTUDOS ANTERIORES O tema das transações envolvendo partes relacionadas é importante, todavia há relativamente poucos trabalhos empíricos para confirmar ou não a hipótese de que as RPTs constituem em problemas de governança corporativa ou que causam destruição de valor (SILVEIRA et al., 2008). Henry et al., (2007), pesquisaram o papel das transações com partes relacionadas nos casos envolvendo empresas com relatórios contábeis fraudulentos. Apesar de identificarem fraudes que continham relação com transações com partes relacionadas, não foi possível correlacionar essas fraudes com as transações. Pelo contrário, essas transações não necessariamente indicam relatórios fraudulentos. Gordon et al., (2007) correlacionam, porém, fraudes que envolvam transações com partes relacionadas com má governança corporativa nos Estados Unidos. Por outro lado, Aharony et al., (2010), pesquisaram os processos de lançamento de ações na China durante o período de 1999 a 2001 e identificaram que algumas transações entre partes relacionadas serviram para gerenciamento de resultados para o período imediatamente anterior a oferta pública de ações. No Brasil, como consequência, até dois anos atrás, não havia trabalhos empíricos e estudos dedicados exclusivamente a esse tema, até que Silveira et al., (2008), apresentaram um trabalho com quatro contribuições tendo como observação 49 empresas brasileiras listadas na bolsa de valores de São Paulo (antiga Bovespa), no seu índice de governança corporativa. A primeira contribuição foi a de comparar 10 as estratégias jurídicas brasileiras com a de outros países; a segunda foi de ser o primeiro trabalho a fornecer uma descrição empírica da extensão da utilização de RPTs por empresas brasileiras. A terceira contribuição é a de ser o primeiro trabalho a relacionar RPTs e qualidade de práticas de governança. Por último, trata-se do primeiro trabalho a investigar a relação entre RPTs e o valor das empresas no Brasil. 1.3 PROBLEMA E OBJETIVO Silveira et al., (2008) investigaram a relação entre RPT´s e o valor das empresas no Brasil e observou-se que empresas com menor utilização de RPT´s apresentam maior valor de mercado. Todavia não foi possível permitir qualquer tipo de inferência de causalidade de que a maior utilização de RPT´s levaria a um menor valor de mercado das empresas brasileiras, pois um limitante do estudo foi apenas avaliar o número de RPT´s e montante. Um dos resultados significativos do estudo foi a observação da relação negativa entre o nível de utilização de transações com partes relacionadas e a qualidade da governança corporativa, um dos coeficientes utilizados. Inferiu-se, assim, um aspecto de conflito de interesses, indicando que as empresas que usam mais essas transações recebem, pelos investidores, um desconto maior no seu valor de mercado. Pelo melhor conhecimento do autor não há pesquisas efetuadas no Brasil que demonstrem especificamente os efeitos das transações com partes relacionadas nos resultados operacionais das empresas. Outro limitante foi o de se pesquisar um universo muito pequeno de empresas (apenas 49), em um índice específico, o de governança. Deve-se ressaltar que a pesquisa foi feita com base no ano de 2006, portanto antes da emissão do Pronunciamento Técnico do CPC 11 número 5, que regula a evidenciação de transações com partes relacionadas nas empresas. Essa ausência de pesquisas que, no Brasil, demonstrem a especificidade dos efeitos das transações com partes relacionadas na performance operacional das empresas, pode ser resolvida por meio da exploração da relação entre a extensão das RPTs e a performance operacional das empresas brasileiras. Chen et al., (2009) demonstram que empresas com transações de venda e compra entre partes relacionadas levam a uma melhor performance operacional nas empresas controladoras, mas empresas que são controladas por outra têm um desempenho pior. Pelo melhor conhecimento do autor, não há, no Brasil, um estudo em que se investigue os principais índices de performance operacional relativos a retornos de ativos, vendas, empréstimos, arrendamentos, garantias etc que sustente as afirmativas acima. Em vez de se fazer análises sob a ótica do valor de mercado da empresa, ou seja, sob o preço da ação, este estudo se propõe a fazer suas análises do ponto de vista de seu resultado operacional. Entende-se que o preço de ação de uma empresa pode eventualmente sofrer efeitos externos em um determinado período como, por exemplo, a recente crise global do final da década de 2000 (MATIAS-PEREIRA, 2009). Nesse âmbito, devem ser levados em consideração os efeitos do tunneling, que é o fenômeno da transferência de ativos e lucros para benefício dos controladores (JOHNSON et al., 2000). Shleifer & Vishny (1997) demonstram que a expropriação de recursos por parte dos gestores pode se dar a partir de vendas com preços baixos para outra empresa, pertencente a esses gestores. Berkman et al., 2008 mostra que a expropriação pode se manifestar por intermédio da extensão de garantias de empréstimo de controladoras para suas controladas ou coligadas. Os efeitos da 12 prática de tunneling também não são levados em conta na pesquisa de Silveira et al., sendo que empresas têm grande tendência a adquirir ativos de partes relacionadas pagando valores mais altos em comparação a transações com partes não relacionadas e, quando há venda, recebem valores menores em comparação a partes não relacionadas (Cheung et al., 2008), o que pode configurar expropriação de minoritários e conflitos de interesses. De outro ponto de vista: em vez de olhar para o valor de mercado em bolsa deve-se pesquisar se as RPT´s melhoram o resultado da empresa controladora em detrimento da controlada e se há gerenciamento de resultados e conflito de interesses no sentido de expropriação de lucro do minoritário. 1.4 JUSTIFICATIVA Transações com partes relacionadas são uma forma de causar efeitos positivos às companhias, pois quando esses tipos de transações são feitas apropriadamente, as empresas podem fazer uso delas para reduzir os custos de transação e atingir a eficiência na utilização de seus ativos (CHEN et al., 2009). As transações com partes relacionadas são legítimas, entretanto, em razão da potencialidade de conflitos de interesses podem causar sérios problemas de governança (Silveira et al., 2006; Shleifer & Vishny, 1997; Johnson et al., 2000), refletindo em seu valor e desempenho operacional. Investidores devem ter ferramentas disponíveis para analisar o impacto que as RPTs podem ter em seus investimentos. Empresas de gerenciamento de recursos e fundos de investimento costumam usar como filtro, na hora de escolher as empresas em que investirão seus recursos – seja na compra de ações, seja em 13 equity – a governança corporativa da firma. Os investidores atentam para as relações entre controladores e minoritários e às notas explicativas e têm especial interesse nas notas relativas às partes relacionadas (MONTEIRO, 2011). Conforme La Porta et al., (1997), investidores minoritários de companhias que transitam em países com regime jurídico code-law – regime adotado no Brasil - têm menos proteção do que os do regime common-law. Os investidores, haja vista não estarem substancialmente protegidos contra expropriação, podem obter na análise de RPT´s entre companhias, essas evidências. Em uma tentativa de evidenciar essa falha, foram pesquisados os inquéritos administrativos julgados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entre os anos de 2000 e 2010 que envolviam transações com partes relacionadas (tabela 1). Não houve nenhum inquérito envolvendo ritos sumários, apenas ritos ordinários. Os ritos sumários, segundo a Instrução da CVM número 251/96, são infrações de natureza objetiva. No caso de acionista controlador, a infração objetiva consiste em deixar de acatar o pedido de acionistas que representem, no mínimo, um décimo de ações com direito a voto, relativamente à instalação de Conselho Fiscal, e à adoção do processo de voto múltiplo, De outra forma, o rito é ordinário, onde se estabelece todas as fases de um inquérito referente a um processo administrativo. É legítimo notar a dificuldade em se estabelecer parâmetros objetivos para irregularidades no âmbito das transações com partes relacionadas. Do total de inquéritos, apenas 2,3% se referiam a RPT’s. 14 TABELA 1 - INQUÉRITOS ADMINISTRATIVOS DA CVM JULGADOS Rito Ordinário Rito Sumário Ano Total RPT Total RPT 2000 19 1 17 0 2001 38 2 19 0 2002 32 2 6 0 2003 41 4 3 0 2004 63 3 7 0 2005 80 1 5 0 2006 110 0 26 0 2007 58 0 15 0 2008 35 0 8 0 2009 48 3 9 0 2010 42 0 4 0 Total 566 16 119 0 Total Total 36 57 38 44 70 85 136 73 43 57 46 685 RPT 1 2 2 4 3 1 0 0 0 3 0 16 Fonte: Comissão de Valores Mobiliários - CVM Após a emissão do CPC número 5, faz-se necessário um estudo mais aprofundado do impacto dessas transações nas empresas brasileiras, haja vista a obrigação, anteriormente inexistente, de se evidenciar, de forma regulada, as RPT’s. Nesta pesquisa não foram consideradas companhias do setor financeiro e segurador, devido a Lei 7.492/86, que configura, em seu artigo 17º, crime contra o sistema financeiro nacional o empréstimo entre empresas do mesmo grupo no referido setor. Além disso, este trabalho pode contribuir para explorar o impacto das RPTs na performance operacional das empresas brasileiras listadas em bolsa. É importante, porém, ressaltar que apesar da emissão do pronunciamento contábil que trata sobre as transações com partes relacionadas, continuam havendo informações com níveis insatisfatórios, segundo levantamento recente de 2011 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com omissão de informações relevantes nas notas explicativas, para que os usuários possam analisar a qualidade do desempenho operacional das empresas. Nesse levantamento a CVM encontrou desvios em 80% da amostra realizada nas transações com partes relacionadas. No caso de 15 empréstimos entre partes relacionadas, uma das informações obrigatórias que deve constar nas notas explicativas, houve omissão do prazo e das taxas de juros. Esse fato reforça a necessidade de uma análise empírica que envolva o maior número de empresas possível, para que o efeito acima seja mitigado e os investidores, leitores e usuários possam ter uma informação mais acurada. Assim, serão investigadas as empresas listadas na BM&FBOVESPA nos anos de 2008 e 2009, período vigente do pronunciamento contábil número 5. Capítulo 2 2 REFERENCIAL TEÓRICO Tunneling é o desvio de recursos corporativos de outra corporação ou de seus acionistas minoritários para o controlador (JOHNSON et al., 2000). É uma prática bastante utilizada em países emergentes e uma das formas são as transações com partes relacionadas, já que há diversas formas legais de tunneling. Algumas formas são compra e vendas a preços maiores ou menores que o mercado, empréstimos com taxas de juros menores ou maiores, garantias usando ativos colaterais. Essas formas, sempre visando o benefício do controlador, acontecem principalmente em países sob regime jurídico civil-law (JOHNSON et al., 2000). Esse regime jurídico é o utilizado no Brasil. Por meio da Teoria da Agência (Jensen, Meckling, 1976), sabe-se que pessoas ou corporações procuram obter vantagens e que, apesar ou por causa de contratos estabelecidos entre as partes não é possível evitar atitudes oportunistas que um agente pode vir a ter em detrimento da riqueza do principal, devido a assimetria informacional entre o agente e o principal. Quanto maior a riqueza de informações, menor essa assimetria (NARDI e NAKAO, 2009). Supondo-se que uma controladora pode exercer pressão para que se faça uma determinada transação em seu benefício e em detrimento de uma controlada - por exemplo, vender uma mercadoria para a controlada a um preço acima do valor de mercado, mas com um prazo de pagamento longo - pode-se prever que transações entre partes relacionadas permitem ao gestor atuar com discricionariedade diante de 17 procedimentos contábeis. Podem, por exemplo, deliberar sobre condições de empréstimo de longo e curto prazo entre empresas e para acionistas controladores, estipular condições de vendas a prazo, causando efeitos no balanço das partes. Não obstante os mecanismos de controle existentes tais como a auditoria externa e estabelecimento do Conselho Fiscal, se não houver transparência na evidenciação dessas transações, é possível que não fique claro o efeito desses procedimentos. É fundamental, portanto, controles internos independentes na análise dos processos e procedimentos das empresas. Outro fator importante é a questão do gerenciamento de resultados. Pesquisando as firmas chinesas cotadas em bolsa, do período de 1998 a 2002, Jian & Wong (2010) encontraram evidências que o aumento de vendas para partes relacionadas está associado com o aumento do lucro operacional além de fazer com que empresas mantenham seus índices operacionais de forma satisfatória perante o mercado, ou seja, evitar o reporte de maus resultados. Não obstante, controladores gerenciam o resultado com o objetivo de aumentar seus ganhos. Um exemplo pode ser os processos que antecedem a abertura de capital de uma firma. Vendas e compras são ferramentas em potencial para gerenciamento de resultado, seja para incrementar performance (KHANNA e YAFEH, 2005), seja para expropriar minoritários, o tunneling. Para reforçar o problema da agência, Dalmácio e Corrar (2007), afirmam que no Brasil existe uma alta concentração acionária em poder de um número reduzido de proprietários. Leal et al., (2002) observaram que no Brasil, mesmo em casos que a empresa não tem um acionista controlador, o acionista majoritário acaba por possuir uma 18 participação que lhe dá mais direitos sobre voto e a companhia é, na maioria das vezes, controlada por seus três maiores acionistas. Assim, serão abordadas as seguintes hipóteses: Hipótese 1: quanto maior o volume de transações entre partes relacionadas feitas pela empresa controladora, melhor a sua performance operacional. Hipótese 2: empresas controladas mostram maus desempenhos operacionais quanto maior o volume de transações entre ela e sua controladora. 19 Capítulo 3 3 METODOLOGIA A amostra utilizada consistiu em 315 empresas listadas na Bolsa brasileira a BMF&BOVESPA. Dentre essas empresas, algumas têm características puramente de controladoras e outras de controladas. Os dados dessas empresas foram coletados por meio da observação individual de cada empresa da amostra nas suas demonstrações financeiras. Em alguns casos, foram consideradas, para uma mesma empresa, transações como sendo de controladora e controlada ao mesmo tempo. Isso foi possível devido a publicação do Pronunciamento Técnico número 5 do CPC. O período utilizado foram os anos de 2008 e 2009. A Tabela 2 lista e descreve de forma resumida os tipos mais importantes de Transações com Partes Relacionadas encontradas nas demonstrações financeiras das empresas listadas na BM&FBOVESPA, bem como o código usado na regressão desta dissertação. TABELA 2: TIPOS DE TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS USADAS NO ESTUDO Tipo de Transação N. com Partes Código Descrição Relacionadas utilizado 1 Vendas RP_Sales 2 Compras RP_Purchase Transações que envolvem vendas de bens ou serviços de/para partes relacionadas Transações que envolvem compras de bens ou serviços de/para partes relacionadas 3 Ativos RP_Assets Compra e venda de ativos entre partes relacionadas 4 Empréstimos tomados RP_Loanfr Saldo de empréstimos tomados de partes relacionadas 5 Empréstimos RP_Loanto Saldo de empréstimos concedidos para partes relacionadas 6 Garantias RP_Guarantee Garantias recebidas ou fornecidas de partes relacionadas 7 Leasing RP_Lease Transações de leasing para/com partes relacionadas 8 Outros RP_Other Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador Transações que não se aplicam as descritas acima 20 3.1 MODELO UTILIZANDO O ÍNDICE RETORNO SOBRE OS ATIVOS Para executar de forma eficiente um negócio, o gestor deve manter o foco na interação entre duas importantes relações: lucro sobre vendas (ou seja, a margem do negócio) e as suas vendas sobre os ativos (DAMODARAN, 1999). Essas duas relações, multiplicadas entre si, compõem o retorno sobre os ativos; e a eficácia da gestão passa por maximizar lucros dos ativos sobre seu controle (Rothschild, 2006). Assim sendo, o retorno sobre ativos de uma empresa mede sua eficiência e desempenho operacional em gerar lucros a partir de seus ativos (DAMODARAN, 1999). O índice de retorno sobre ativos totais de uma empresa mede o retorno sobre os ativos totais após despesas financeiras e impostos e é calculado dividindo o lucro líquido pelo total de ativos (BRIGHAM et al., 2008). As transações com partes relacionadas podem ser um instrumento eficiente para diminuir o custo de transação das empresas – e assim melhorar o seu desempenho operacional - por meio de um planejamento fiscal não evasivo que traga benefícios fiscais ás empresas. Por exemplo, políticas de preços de transferência entre partes relacionadas se constituem em uma característica relevante de uma estratégia competitiva para a minimização legal da carga tributária (Rosseto, 1998), a qual impacta diretamente no retorno sobre os ativos (ROA) das empresas. Foi utilizado, para a regressão, um modelo empírico baseado nos estudos de Chen et al., (2009), da seguinte forma: 1. Variável dependente (Performance operacional): ROA; 21 2. Variáveis independentes (relacionadas a transações com partes relacionadas): vendas de bens e provisão de serviços, aquisições de bens e receita de serviços, vendas e compras de ativos, empréstimos, garantias, lease. No estudo, os valores de cada tipo de RPT são divididos pelo total de ativos para determinar a extensão de cada transação empenhada na companhia. 3. Variáveis de controle: o tamanho da empresa é medido por meio do log dos ativos totais; Dívida, taxa de crescimento da receita. Foi utilizada regressão linear, usando as estimativas de Mínimos Quadrados Ordinários. A equação é a seguinte: ROAi t 1 RP _ Sales i t 2 RP _ Purchasei t 3 RP _ Asset i t 4 RP _ Loanto i t 5 RP _ Loanfr i t 6 RP _ Guaranteei t 7 RP _ Leasei t 8 RP _ Other i t 9 DEBT i t 10 SALESG i t 11 ASSET i t i t (1) Onde: ROA é a medida de performance operacional obtida em função da divisão do lucro líquido e dos ativos; RP_Sales é o montante de vendas dividido pelo ativo; RP_Purchase é a divisão das compras pelo ativo; RP_Asset é o total de compra e venda de ativos, menos receita de despesas operacionais dividido pelos ativos; RP_Loanto são os saldos dos empréstimos concedidos dividido pelos ativos da empresas; RP_Loanfr são os saldos dos empréstimos obtidos dividido pelo ativos das empresas; RP_Guarantee são as hipotecas, fianças e hipotecas divididos pelos ativos; RP_Lease é o total de alugueis dividido pelo ativo; RP_Other são as outras 22 transações entre partes relacionadas dividido pelo ativo; DEBT é o total de empréstimos tomados, inclusive debêntures, dividido pelo ativo; SalesG é o crescimento das receitas operacionais em relação ao ano anterior; ASSET é o log dos ativos das empresas. Essas três últimas variáveis são variáveis de controle. A amostra compreende as empresas listadas na Bolsa de Valores e Mercados Futuros de São Paulo. O período analisado será o de 2008 e 2009. Não serão consideradas as empresas do setor financeiro e segurador devido a legislação específica, que impede esse tipo de transação. 3.2. MODELO UTILIZANDO O ÍNDICE EBITDA O modelo utilizado no ítem 3.1 leva em conta, como índice de desempenho operacional, o retorno sobre os ativos (ROA). É um índice importante, pois decisões estratégicas podem ser tomadas utilizando esse índice: empresas podem tomar decisões de operar com uma margem de lucro pequena e alto volume ou com alta margem de lucro e baixo volume de produção (DAMODARAN, 1999). Em função dessa estratégia podem se utilizar de planejamento tributário para o gerenciamento do seu fluxo de caixa e, nesse âmbito, as transações com partes relacionadas podem ter um aspecto relevante. Entretanto, o método contábil que as empresas que investem em controladas e coligadas utilizam para o reconhecimento em seus balanços do valor do investimento é o método da equivalência patrimonial, o que faz com que o resultado e o patrimônio líquido do controlador já incorporem a sua parte nos resultados (Iudícibus et al., 2010). Ou seja, todas as operações entre companhias coligadas, controladas e controladas em conjunto são eliminadas por meio de equivalência 23 patrimonial onde o investimento, conforme o CPC 18 é inicialmente reconhecido pelo custo e posteriormente ajustado pelo reconhecimento da parte do investidor nas alterações dos ativos líquidos da investida. Sendo assim, há o risco de que o índice ROA sofra os efeitos da utilização do referido método. Uma forma de se isolar esse risco e decompor esse efeito do ROA é a utilização do EBITDA, que é o resultado do lucro antes dos juros, imposto de renda, depreciação e amortização das empresas. Portanto foi utilizada, também, outra variável dependente com a finalidade de agregar evidências para a análise dos efeitos das transações com partes relacionadas nas empresas brasileiras. Foi criada, então, a seguinte equação: EBITDAi t 1 RP _ Sales i t 2 RP _ Purchase i t 3 RP _ Asset i t 4 RP _ Loanto i t 5 RP _ Loanfr i t 6 RP _ Guarantee i t 7 RP _ Leasei t 8 RP _ Other i t 9 DEBT i t 10 SALESG i t 11 ASSET i t i t (2) Onde: EBITDA é o valor do resultado das empresas antes dos juros, imposto de renda, depreciação e amortização dividido pelos seus ativos. As variáveis independentes e as de controle são as mesmas descritas na divisão 3.1. Capítulo 4 4 RESULTADOS OBTIDOS 4.1 RESULTADOS DESCRITIVOS A amostra utilizada consistiu em 315 empresas listadas na Bolsa brasileira a BMF&BOVESPA, resultante da integração da Bolsa de Mercadorias e Futuros com a Bolsa de Valores do Estado de São Paulo. Do total de empresas listadas na bolsa foram retiradas as do setor financeiro e securitário por terem legislação própria e forte regulação que detém os tipos de transações objeto do estudo. A seguir foram retiradas as empresas que não evidenciaram nenhum tipo de transação. Chegou-se assim ao número descrito acima. Dentre essas empresas, algumas têm características puramente de controladoras e outras de controladas. Em alguns casos, foram consideradas, para uma mesma empresa, transações como sendo de controladora e controlada ao mesmo tempo. Um exemplo dessa situação ocorre em empresas que podem fazer transações com seu proprietário e com uma empresa controlada integralmente. 25 TABELA 3 - INDICADORES FINANCEIROS DA AMOSTRA Mediana Media Desvio Padrão Indicadores 200 9 2008 2009 2008 2009 2008 Ativo total 1.49 (R$/milhão) 8 1.433 7.969 7.269 30.150 29.693 Patrimônio líquido (R$/milhão) 561 467 3.176 2.807 13.555 12.513 Lucro Líquido (R$/milhão) 53 30 477 515 2.544 3.145 Endividame nto financeiro (R$/milhão) 388 320 2.545 2.321 10.837 11.177 Receitas totais (R$/milhão) 832 835 5.286 5.432 21.039 25.485 Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador Mínimo Máximo 2009 2008 0,001 0.002 345.607 324.902 -3.19 -2.889 159.464 138.365 -1.142 -2.492 2009 2008 28.981 32.987 0 0 142.454 172.987 0 0 230.503 291.355 Na tabela 3 encontram-se os indicadores financeiros da amostra e seus atributos nos anos de 2008 e 2009. Essas medidas compreendem o ativo total, o seu patrimônio líquido, o lucro líquido, o endividamento financeiro de curto e longo prazo (inclusive emissão de debêntures) e as receitas totais do ano. Nota-se uma importante heterogeneidade na amostra. O ano de 2009 em relação ao ano de 2008 evidencia redução no lucro líquido, queda nas receitas totais, mas aumento no endividamento financeiro. TABELA 4 - INDICADORES DAS TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS DA AMOSTRA – CONTROLADORA Media Indicadores 2009 RP_Sales RP_Purchase Mediana 2008 1.080.799 1.181.799 165.795 Máximo 2009 2008 18.620 17.659 85.899.851 164.231 8.822 12.391 2009 3.174.935 Quantidade 2008 2009 2008 92.610.715 104 95 2.536.221 88 86 RP_Asset 24.272 37.134 22.430 42.998 65.095 79.170 9 7 RP_Loanfr 171.139 188.995 15.781 11.689 6.077.526 7.283.680 100 102 RP_Loanto 714.957 1.087.383 17.112 15.850 47.837.083 89.550.219 134 119 26.258.411 16 15 RP_Guarantee 4.737.951 2.533.611 189.035 RP_Lease 9.586 11.059 RP_Other 203.369 235.816 Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador 393.532 50.451.131 2.878 2.975 44.628 58.410 21 18 779 811 2.859.396 2.582.391 17 12 26 NOTA: RP_Sales é o código utilizado para o tipo de transação “vendas”; RP_Purchase é o código utilizado para a transação “compras”; RP_Assets é o código utilizado para a transação de compra e venda de ativos; RP_Loanfr é o código utilizado para o saldo de empréstimos tomados por uma parte relacionada; RP_Loanto é o código utilizado para o saldo de empréstimos concedidos para uma parte relacionada; RP_Guarantee é o código utilizado para o montante de garantias recebidas ou fornecidas entre partes relacionadas; RP_Lease é o código utilizado para transações. Valores em Reais (R$). Na tabela 4, foram descriminados os tipos das transações com partes relacionadas apresentadas nas demonstrações financeiras das controladoras, obtendo sua média, mediana, o valor máximo e a quantidade de transações com partes relacionadas. Os tipos de transações apresentados na tabela acima são os descriminados na Tabela 2. Na média, houve uma redução de valores de 2008 para 2009 em todos os tipos de transações com partes relacionadas, exceto as transações com compras, que se manteve praticamente inalterado e das garantias. Para a obtenção da média foram só consideradas as empresas que apresentaram valores por tipo de transação. Ou seja, se a empresa não apresentou, por exemplo, um valor para transação com partes relacionadas envolvendo garantias, a mesma foi excluída do cálculo para a obtenção da média. As demonstrações de 2009 indicam um reflexo da crise global ocorrida mais fortemente nesse ano (WATANABE, 2011). É provável que a crise global cause efeitos na diminuição dos valores obtidos na amostra. Os valores máximos obtidos acompanham o padrão ocorrido na obtenção dos valores médios, a exceção de “RP_Other”. Entretanto, a quantidade de valores obtidos nesse tipo de transação não é significativa. Para a obtenção dos valores máximos foram só consideradas as empresas que apresentaram valores por tipo de transação, a exemplo do cálculo para a obtenção da média. 27 Na coluna “Quantidade”, está descrita a frequência de transações com partes relacionadas (controladas), por tipo de transação. Assim, foram encontradas na amostra 454 transações relativas ao ano de 2008 e 489 transações relativas ao ano de 2009, revelando um aumento de 8% com relação ao ano anterior. Na tabela 5, foram descriminados os tipos de transações com partes relacionadas apresentadas nas demonstrações financeiras das controladas. TABELA 5 - INDICADORES DAS TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS DA AMOSTRA – CONTROLADA Media Indicadores 2009 2008 Mediana 2009 2008 Máximo 2009 Quantidade 2008 2009 2008 RP_Sales 201.255 197.432 40.013 55.815 1.944.003 2.745.823 43 41 RP_Purchase 202.215 184.826 2.668.476 51 48 14 7 38.047 27.413 2.788.903 RP_Asset 89.354 40.741 19.796 38.094 873.539 RP_Loanfr 97.277 206.236 15.265 11.981 668.358 3.909.238 45 44 RP_Loanto 56.271 24.527 26.541 498.668 466.279 32 28 317.086 221.509 175.810 3.451 1.110.205 879.107 5 4 5.430 142.952 131.153 9 8 RP_Other 74.333 112.985 74.333 112.985 Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador 102.118 160.178 2 2 RP_Guarantee RP_Lease 19.618 56.577 20.511 4.226 95.651 Os tipos de transações apresentados na tabela 5 são os descritos na Tabela 2. Nota-se, nas controladas, um comportamento nas estatísticas descritivas diferente do apresentado quando a origem da transação com parte relacionadas é das controladoras. Na média, houve um aumento pouco significativo de valores de 2008 para 2009 nas transações com vendas. Todavia, houve um aumento significativo nas transações com compras e ativos. Empresas controladas tomaram e receberam menos empréstimos em 2009 do que em 2008. Em contrapartida houve um aumento 28 nas transações com garantias, embora poucas transações tenham sido feitas. Para a obtenção da média foram só consideradas as empresas que apresentaram valores por tipo de transação. Ou seja, se a empresa não apresentou, por exemplo, um valor para transação com partes relacionadas envolvendo garantias, a mesma foi excluída do cálculo para a obtenção da média. Como as demonstrações de 2009 já refletiam a crise global em curso nesse ano (Watanabe, 2011), é provável que a crise global cause efeitos nos valores obtidos na amostra. Os valores máximos obtidos acompanham o padrão ocorrido na obtenção dos valores médios, a exceção de “RP_Lease”. Entretanto, a quantidade de valores obtidos nesse tipo de transação não é significativa. Para a obtenção dos valores máximos foram só consideradas as empresas que apresentaram valores por tipo de transação, a exemplo do cálculo para a obtenção da média. Na coluna “Quantidade”, está descrita a frequência de transações com partes relacionadas (controladoras), por tipo de transação. Assim, foram encontradas na amostra 182 transações relativas ao ano de 2008 e 201 transações relativas ao ano de 2009, revelando um aumento de 10% com relação ao ano anterior. A relação controladora x controlada das transações entre as partes relacionadas é descrita na Tabela 6. 29 TABELA 6 - RELAÇÃO ENTREA AS TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS Indicadores Controladora x Controlada Controlada x Controladora Media Media 2009 2008 RP_Sales 5,37 5,99 RP_Purchase 0,82 0,89 RP_Asset 0,27 0,91 RP_Loanfr 1,76 0,92 RP_Loanto 12,71 19,22 RP_Guarantee 14,94 11,44 RP_Lease 0,49 0,54 RP_Other 2,74 2,09 Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador Quantidade 2009 2,42 1,73 0,64 2,22 4,19 3,20 2,33 8,50 2008 2,32 1,79 1,00 2,32 4,25 3,75 2,25 6,00 2009 0,19 1,22 3,68 0,57 0,08 0,07 2,05 0,37 2008 0,17 1,13 10 1,09 0,05 0,09 1,85 0,48 Quantidade 2009 0,41 0,58 1,56 0,45 0,24 0,31 0,43 0,12 2008 0,43 0,56 1,00 0,43 0,24 0,27 0,44 0,17 Na média os valores de transações com partes relacionadas envolvendo vendas quando esta se origina da controladora são mais de cinco vezes quando a transação é originada pela controlada. Ou seja, em montantes monetários, as controladoras realizam cinco vezes mais transações com as controladas. Em quantidade, para cada transação oriunda da controlada, existem mais de duas oriundas da controladora. Com relação a compras, a relação é maior para valores médios quando a transação é de controlada para controladora, embora haja mais operações quantificadas no sentido contrário, ou seja, de controladora para controlada. Transações com compra e venda de ativos são maiores de controlada para controladora. Ao contrário de 2008, no ano de 2009 as controladoras obtiveram uma relação de quase duas vezes mais empréstimos das controladas. A relação dos empréstimos das controladoras para controladas é alto embora tenha havido uma queda expressiva em 2009. A relação de garantias, ao contrário de operações de leasing, é maior da controladora para a controlada. 30 A tabela abaixo apresenta as frequências relativas ao tipo de operações com partes relacionadas realizadas nos anos de 2008 e 2009. TABELA 7 - FREQUENCIA DE OCORRÊNCIA POR TIPO DE RPT Quantidade Indicadores % 2009 2008 2009 2008 RP_Sales 147 136 21% 21% RP_Purchase 139 134 20% 21% RP_Asset 23 14 3% 2% RP_Loanfr 145 146 21% 23% RP_Loanto 166 147 24% 23% RP_Guarantee 21 19 3% 3% RP_Lease 30 26 4% 4% RP_Other 19 14 3% 2% Total 690 636 100% 100% Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador NOTA: RP_Sales é o código utilizado para o tipo de transação “vendas”; RP_Purchase é o código utilizado para a transação “compras”; RP_Assets é o código utilizado para a transação de compra e venda de ativos; RP_Loanfr é o código utilizado para o saldo de empréstimos tomados por uma parte relacionada; RP_Loanto é o código utilizado para o saldo de empréstimos concedidos para uma parte relacionada; RP_Guarantee é o código utilizado para o montante de garantias recebidas ou fornecidas entre partes relacionadas; RP_Lease é o código utilizado para transações com leasings para e com partes relacionadas; RP_Other são transações entre partes relacionadas diferentes das descritas acima. As operações com vendas, compras e empréstimos correspondem por 87% das transações realizadas nos dois anos pesquisados. Foram realizadas nos anos de 2008 e 2009, pela amostra do estudo, 1.326 operações, sendo que de 2008 para 2009 houve um aumento de pouco mais de 8% na quantidade de RPT´s. Com relação ao número de operações com partes relacionadas, a tabela 8 apresenta as estatísticas descritivas dessas operações, as quais correspondem à quantidade, por empresa controladora e controla, das transações. 31 TABELA 8 - Nº DE OPERAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS Nº Operações Indicadores Média por empresa Média por empresa controladora Média por empresa controlada Desvio padrão por empresa Desvio padrão por empresa controladora Desvio padrão por empresa controlada Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador 2009 2008 2,23 1,58 0,65 2,33 1,28 1,04 2,06 1,47 0,59 2,21 1,24 0,96 NOTA: Média por empresa é a média do número de operações entre partes relacionadas; média por empresa controladora é o número de operações com controladas; média por empresa controlada é o número de operações com controladoras; desvio padrão é o desvio observado com relação ao número de operações entre partes relacionadas; desvio padrão por empresa controladora é o desvio do número de operações com controladas; desvio padrão por empresa controlada é o desvio do número de operações com controladoras. Assim, cada empresa da amostra fez mais de duas operações com partes relacionadas tanto no ano de 2008 como no ano de 2009, sendo que na média, mais transações foram feitas por empresas controladoras: em 2009, 1,58 operações; em 2008, 1,47 operações. 4.2 RESULTADOS UTILIZANDO O ROA COMO VARIÁVEL DEPENDENTE As tabelas a seguir investigam a relação entre as transações com partes relacionadas e o retorno sobre os ativos das empresas controladoras através de regressão por mínimos quadrados ordinários (MQO). É utilizada a variável dependente ROA (return on asset). Além das variáveis independentes, cujo montante é dividido pelo ativo total da empresa em cada ano, são utilizadas as varáveis de controle relativas ao endividamento da companhia sobre o seu ativo 32 (DEBT), o crescimento da sua receita do ano t para o ano t-1 (SALESG) e o log dos seus ativos totais (ASSET). O nível de significância corresponde a 5%. Em todas as tabelas foi usado o teste de White para as estatísticas-t em função da heteroscedasticide. TABELA 9 - RELAÇÃO ENTRE TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS E RETORNO SOBRE OS ATIVOS - PRINCIPAIS RESULTADOS RP_Sales RP_Purchase 1 2 3 4 5 6 CONTROLADORA CONTROLADOR A CONTROLADOR A CONTROLAD A CONTROLAD A CONTROLAD A POOLED 2009 2008 POOLED 2009 2008 0,263 0,564 0.256** 0.356*** 0,176 (0.92) (0.82) (2.56) (3.51) (1.36) 0.214** 0.314** 0,192 0,248 (2.17) (2.36) (1.11) (1.13) -0.083*** -0.045*** -0.042*** -0.050*** (-13.16) (-14.48) (-8.47) (-32.02) 8.743* RP_Asset (1.83) RP_Loanfr RP_Loanto RP_Guarante e -0.089* (-1.81) -6.868*** RP_Lease (-5.35) -4.379*** RP_Other (-7.07) DEBT SALESG ASSET Intercepto -0.243*** -0.197*** -0.227*** -0.116*** -0.099*** -0.136*** (-6.00) (-5.11) (-10.29) (-8.89) (-44.13) (-188.53) -0.000** 0,000 0,002 -0,003 0,000 -0,040 (-1.99) (-0.50) (0.23) (-0.79) (0.08) (-1.24) 0.213* 0,314 0.077*** 0.087*** 0.102* 0.066*** (1.89) (1.36) (3.70) (3.04) (1.90) (3.77) -1.208* -1,831 -0.413*** -0.487** -0.580* -0.345*** (-1.74) (-1.28) (-2.89) (-2.55) (-1.62) (-3.07) N 439 225 214 225 116 109 R² 0,941 0,950 0,994 0,944 0,934 0,985 Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador NOTA: CONTROLADORA são os resultados para controladoras. CONTROLADA são os resultados para controladas. RP_Sales é o montante de vendas dividido pelo ativo; RP_Purchase é a divisão das compras pelo ativo; RP_Asset é o total de compra e venda de ativos, menos receita de despesas operacionais dividido pelos ativos; RP_Loanto são os saldos dos empréstimos concedidos dividido pelos ativos da empresas; RP_Loanfr são os saldos dos empréstimos obtidos dividido pelo ativos das empresas; RP_Guarantee são as hipotecas, fianças e hipotecas divididos pelos ativos; RP_Lease é o total de aluguéis dividido pelo ativo; RP_Other são as outras transações entre partes relacionadas 33 dividido pelo ativo; DEBT é o total de empréstimos tomados, inclusive debêntures, dividido pelo ativo; SalesG é o crescimento das receitas operacionais em relação ao ano anterior; ASSET é o log dos ativos das empresas. Essas três últimas variáveis são variáveis de controle. Os resultados apresentados nas colunas 1-6, usam o método dos mínimos quadrados ordinários e estatísticas-t entre parênteses. Os níveis de significância são * para 10%; ** para 5% e *** para 1% Na tabela 9, a coluna 1 apresenta os resultados significativos das operações com partes relacionadas das controladoras nos anos de 2008 e 2009. A coluna 2 mostra esses resultados somente em relação ao ano de 2009 e a coluna 3 em relação ao ano de 2008. Na coluna 4 enconram-se os resultados mais significativos das operações com partes relacionadas dos anos de 2009 e 2008 das empresas controladas. A coluna 5 mostra os principais resultados das controladas para o ano de 2009 e a coluna 6 mostra os resultados significativos do ano de 2008. As variáveis de controle foram obtidas a um nível de significância de 5%. Esses resultados foram obtidos dividindo o tipo de transação com parte relacionada com o ativo total da empresa. Por exemplo, o montante de transações com vendas de uma controladora para uma controlada durante o ano foi dividido pelo ativo total da empresa controladora. Esse resultado foi comparado com o resultado do retorno sobre os ativos e investigada a sua correlação. . Na coluna 1 da tabela 9 os resultados empíricos mostram que os coeficientes das transações com partes relacionadas relativas a compras realizadas pela controladora têm impacto positivo em seus resultados operacionais. Os coeficientes são significativos. Esses resultados confirmam parcialmente a hipótese 1 deste estudo, pois é possível que empresas controladas estejam a comprar com valores abaixo de mercado de suas controladas. Com a finalidade de analisar mais profundamente os resultados das transações feitas pela controladora, foram gerados resultados independentes para os anos de 2008 e 2009. Nota-se que houve um resultado bastante significativo e 34 positivo para o coeficiente de compras e transações com ativos em 2009 e de compras e empréstimos para controladas em 2008. Por outro lado, vendas em 2009 não tiveram tanto impacto, ao contrário de compras. Esses resultados podem ter relação com a crise econômica global, cujo seu ponto mais crítico aconteceu de meados de 2008 até meados de 2009. Encontra-se, assim, evidências que para uma melhor desempenho operacional na crise, as controladoras se utilizaram do recurso da transação com compras para melhorar o seu resultado, ao passo que tomaram mais recursos de suas controladas devido a crise de crédito, na qual os bancos interromperam suas operações de concessão de empréstimos. Já com relação a compras, a transação de comprar com ou sem o expediente de preços menores ou prazos maiores, tem um efeito positivamente relacionado com o retorno sobre os ativos. Esse impacto é muito mais significante na coluna 3, para o ano de 2008, corroborando para a hipótese da crise global mundial pode ter causado um aumento do endividamento das controladoras com as controladas, haja vista a escassez de crédito naquela época, tendo a controladora que recorrer ao caixa da controlada. Nesse caso, deve-se monitorar os movimentos futuros, quais sejam o efetivo pagamento a controlada ou o não pagamento. As colunas 4, 5 e 6 mostram as mesmas análises sob a ótica da controlada. No período de 2009 e 2008 (pooled), os coeficientes das vendas tiveram um resultado positivamente relacionado com o retorno sobre os ativos das controladas. Esse resultado não corrobora com a hipótese 2. Entretanto, a transação com parte relacionada de tomada de empréstimos, Loan From, a uma correlação negativa com os resultados. A análise conjunta dessas duas variáveis pode sugerir gerenciamento de resultados, já que o aumento do nível de vendas melhora os índices da empresa, 35 mas a tomada de empréstimos em condições anormais resulta na expropriação de recursos. Vale ressaltar que tais resultados empíricos não são suficientes para uma análise definitiva, já que não foi possível inferir a quantidade de desembolso de caixa na empresa controlada para pagamento de empréstimos e o desembolso de caixa na empresa controladora para o pagamento das vendas efetuadas pela sua controlada. Em 2009, novamente tendo a crise econômica global como base de explicação para a relação positiva do coeficiente vendas, nota-se um aumento significativo para esse coeficiente em relação a 2008. Entretanto o artefato de gerenciamento de resultados continua podendo encontrar uma correlação com os resultados encontrados. Apesar de não ser significativo em quantidade de transações, o tipo lease teve um significativo efeito negativo nos retornos da controladas em 2008, resultado não encontrado em 2009. Um fator explicativo para esse efeito pode ser a publicação de parecer – um dos primeiros – definindo o tratamento contábil para o arrendamento mercantil e operacional. Isso pode ter inibido a prática dessa transação com parte relacionada controladora, porque várias empresas controladoras deixaram de registrar o aluguel mercantil como receitas, não refletindo, como consequência, despesas na controlada. A seguir a Tabela 10 evidencia os resultados de todas as variáveis. 36 TABELA 10 - RELAÇÃO ENTRE TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS E RETORNO SOBRE OS ATIVOS RP_Sales RP_Purchase RP_Asset RP_Loanfr RP_Loanto RP_Guarante e 1 2 3 4 5 6 CONTROLADOR A CONTROLADOR A CONTROLADOR A CONTROLAD A CONTROLAD A CONTROLAD A POOLED 2009 2008 POOLED 2009 2008 0,263 (0.92) 0.214** (2.17) 3,521 (1.14) -1,274 (-1.41) 0,319 (1.12) 0,564 (0.82) 0,157 (1.28) 8.743* (1.83) -1,594 (-1.47) 0,082 (0.28) 0,088 (1.46) 0.314** (2.36) -0,179 (-0.52) -0.083*** (-13.16) -0,023 (-0.14) 0.256** (2.56) 0,192 (1.11) 0,811 (0.83) -0.045*** (-14.48) -0,253 (-0.47) 0.356*** (3.51) 0,082 (0.32) 0,481 (0.35) -0.042*** (-8.47) -0,878 (-1.08) 0,176 (1.36) 0,248 (1.13) 1,983 (1.39) -0.050*** (-32.02) 0,206 (0.45) -0,015 (-1.49) 1,626 (0.81) -4.379*** (-7.07) -0.227*** (-10.29) 0,002 (0.23) 0.077*** (3.70) -0.413*** (-2.89) 214 0,994 0,002 (0.02) -4,450 (-1.24) -2,147 (-0.93) -0.116*** (-8.89) -0,003 (-0.79) 0.087*** (3.04) -0.487** (-2.55) 225 0,944 -0,029 (-0.17) -1,880 (-0.27) -0,297 (-0.04) -0.099*** (-44.13) 0,000 (0.08) 0.102* (1.90) -0.580* (-1.62) 116 0,934 0,209 (0.98) -6.868*** (-5.35) -3,634 (-1.28) -0.136*** (-188.53) -0,040 (-1.24) 0.066*** (3.77) -0.345*** (-3.07) 109 0,985 -0,196 -0.089* (-1.55) (-1.81) 0,985 RP_Lease -0,413 (0.1) (-0.09) 6,618 RP_Other 5,406 (1.54) (1.51) -0.197*** DEBT -0.243*** (-5.11) (-6.00) 0,000 SALESG -0.000** (-0.50) (-1.99) 0,314 ASSET 0.213* (1.36) (1.89) -1,831 Intercepto -1.208* (-1.28) (-1.74) 225 N 439 0,950 R² 0,941 Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador 37 4.3 RESULTADOS UTILIZANDO O EBITDA COMO VARIÁVEL DEPENDENTE. TABELA 11 - RELAÇÃO ENTRE TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS E EBITDA PRINCIPAIS RESULTADOS 2 3 4 5 6 1 CONTROLADOR A RP_Sales RP_Purchase CONTROLAD A POOLED POOLED 2009 2008 0.208*** (5.05) 0.280*** (4.74) 5.474** (2.16) 0.026*** (3.83) -0.286** (-2.41) 0.146** (2.09) 0.318*** (3.33) -0.056** (-2.50) -0.032*** (-2.76) -3.796* (-1.68) -7.641* (-1.86) -0.041* (-1.86) 0,000 (0.05) 0.074*** (3.11) -0.34** (-2.24) 186 0,212 0.022*** (4.11) RP_Loanto RP_Guarante e CONTROLADOR A 0.152*** (3.38) 0.314*** (5.51) RP_Asset RP_Loanfr CONTROLADOR A -0.034* (-1.80) RP_Lease RP_Other -5.071* (-1.69) 0,021 DEBT -0,016 (0.79) (-0.68) -0.001*** SALESG -0.001*** (-8.08) (-12.62) 0.062* ASSET 0.073*** (1.67) (3.15) -0,314 Intercepto -0.369** (-1.24) (-2.39) 195 N 381 0,197 R² 0,139 Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador CONTROLAD A CONTROLAD A 2009 2008 0.479*** (4.34) -7.388*** (-3.02) -0.024*** (-18.20) -0.020*** (-5.59) 0.304* (1.80) 9.199*** (45.13) -6.241** (-2.21) 0.018** (-2.31) -0,006 (-1.46) 0.076** (1.88) -0,369 (-1.37) 175 0,534 -7.209* (-1.67) 16.608* (1.73) 0,108 (1.16) -0.008* (-2.02) 0,061 (1.22) -0,274 (-0.83) 90 0,379 9.172*** (37.13) -9.464*** (-3.18) 10.505*** (3.56) -0.0322*** (-53.29) -0,030 (-0.99) 0.043*** (2.71) -0,134 (-1.39) 85 0,889 A tabela 11 apresenta os resultados significativos da relação entre as transações com partes relacionadas e o lucro das empresas antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA). O EBITDA foi usado como variável dependente da regressão. 38 A coluna 1 da tabela 11 apresenta os resultados significativos das operações com partes relacionadas das controladoras nos anos de 2008 e 2009. A coluna 2 mostra esses resultados somente em relação ao ano de 2009 e a coluna 3 em relação ao ano de 2008. Na coluna 4 encontram-se os resultados mais significativos das operações com partes relacionadas dos anos de 2009 e 2008 das empresas controladas. A coluna 5 mostra os principais resultados das controladas para o ano de 2009 e a coluna 6 mostra os resultados significativos do ano de 2008. As variáveis de controle foram obtidas a um nível de significância de 5%. Esses resultados foram obtidos dividindo o tipo de transação com parte relacionada com o ativo total da empresa. Por exemplo, o montante de transações com vendas de uma controladora para uma controlada durante o ano foi dividido pelo ativo total da empresa controladora. Esse resultado foi comparado com o índice EBITDA e investigada a sua correlação. . Na coluna 1 os resultados empíricos mostram que os coeficientes das transações com partes relacionadas relativas a compras realizadas pela controladora têm impacto positivo em seus resultados operacionais. Os coeficientes são significativos. Esses resultados corroboram com os resultados encontrados usando o ROA como variável dependente e confirmam parcialmente a hipótese 1 deste estudo, pois é possível que empresas controladas estejam a comprar com valores abaixo de mercado de suas controladas. Nos resultados independentes para os anos de 2009 e 2009 – colunas 2 e 3 respectivamente – nota-se que houve um resultado positivo para compras nos anos de 2009 e 2008. Nota-se que, com relação a vendas, houve um resultado positivo significativo 2009. Esses resultados evidenciam que as controladoras utilizaram as 39 transações de compras com partes relacionadas para melhorar ser desempenho operacional. Ao analisar as colunas 4, 5 e 6, que mostram os resultados encontrados sob a ótica da controlada, verifica-se que os coeficientes de vendas tiveram resultados positivamente relacionados com o índice EBITDA das empresas, principalmente no ano de 2009. Pode-se notar que no mesmo ano de 2009 há uma correlação negativa quando a transação é a tomada de empréstimos da controlada pela controladora, o que pode sugerir gerenciamento de resultados, já que mais vendas melhoram o índice operacional da empresa, mas a tomada de empréstimos pode embutir o significado de expropriação de recursos. De forma geral os resultados encontrados utilizando o índice EBITDA vão ao encontro dos resultados encontrados quando se utiliza o índice ROA. A seguir a tabela 12 evidencia todos os resultados encontrados ao utilizar o EBITDA como variável dependente. 40 TABELA 12 - RELAÇÃO ENTRE TRANSAÇÕES COM PARTES RELACIONADAS E EBITDA TODOS OS RESULTADOS 1 2 3 4 5 6 CONTROLADO RA CONTROLADOR A CONTROLADOR A CONTROLAD A CONTROLAD A CONTROLAD A POOLED 2009 0.208*** 0.152*** (5.05) (3.38) 0.280*** RP_Purchase 0.314*** (4.74) (5.51) 5.474** RP_Asset 2,230 (2.16) (0.96) 0.026*** RP_Loanfr 0.022*** (3.83) (4.11) -0.286** RP_Loanto 0,113 (-2.41) (0.63) -0.056** RP_Guarantee -0.034* (-2.50) (-1.80) 1,418 RP_Lease -0,534 (-0.28) (0.65) -1,478 RP_Other -5.071* (-0.36) (-1.69) 0,021 DEBT -0,016 (0.79) (-0.68) -0.001*** SALESG -0.001*** (-8.08) (-12.62) 0.062* ASSET 0.073*** (1.67) (3.15) -0,314 Intercepto -0.369** (-1.24) (-2.39) 195 N 381 0,197 R² 0,139 Fonte: Dados colhidos pelo pesquisador RP_Sales 2008 POOLED 2009 2008 0.146** (2.09) 0.318*** (3.33) -0,351 (-0.59) -0,721 (-1.21) 0.304* (1.80) -0.032*** (-2.76) -3.796* 0,271 (1.20) 0,076 (0.38) 0,289 (0.20) -0.020*** (-5.59) -0,385 (-0.66) 9.199*** (45.13) -6.241** 0.479*** (4.34) -0,199 (-0.64) 0,141 (0.11) -1,692 (-1.29) -1,352 (-1.47) (-1.68) -7.641* (-2.21) 7,638 (-1.86) -0.041* (-1.86) 0,000 (0.05) 0.074*** (3.11) -0.34** (-2.24) 186 0,212 (1.44) 0.018** (-2.31) -0,006 (-1.46) 0.076** (1.88) -0,369 (-1.37) 175 0,534 0,094 (0.34) 0,075 (0.40) -7.388*** (-3.02) -0.024*** (-18.20) 0,109 (0.25) 9.172*** (37.13) -9.464*** (-3.18) 10.505*** (3.56) -0.0322*** (-53.29) -0,030 (-0.99) 0.043*** (2.71) -0,134 (-1.39) 85 0,889 -7.209* (-1.67) 16.608* (1.73) 0,108 (1.16) -0.008* (-2.02) 0,061 (1.22) -0,274 (-0.83) 90 0,379 NOTA: CONTROLADORA são os resultados para controladoras. CONTROLADA são os resultados para controladas. RP_Sales é o montante de vendas dividido pelo ativo; RP_Purchase é a divisão das compras pelo ativo; RP_Asset é o total de compra e venda de ativos, menos receita de despesas operacionais dividido pelos ativos; RP_Loanto são os saldos dos empréstimos concedidos dividido pelos ativos da empresas; RP_Loanfr são os saldos dos empréstimos obtidos dividido pelo ativos das empresas; RP_Guarantee são as hipotecas, fianças e hipotecas divididos pelos ativos; RP_Lease é o total de aluguéis dividido pelo ativo; RP_Other são as outras transações entre partes relacionadas dividido pelo ativo; DEBT é o total de empréstimos tomados, inclusive debêntures, dividido pelo ativo; SalesG é o crescimento das receitas operacionais em relação ao ano anterior; ASSET é o log dos ativos das empresas. Essas três últimas variáveis são variáveis de controle. Os resultados apresentados nas colunas 1-6, usam o método dos mínimos quadrados ordinários e estísticas-t entre parênteses. Os níveis de significância são * para 10%; ** para 5% e *** para 1% 5 CONCLUSÃO Os resultados empíricos analisados neste estudo indicam que empresas controladoras fazem uso de transações de compras com controladas para aumentar seus retornos operacionais, o que confirma parcialmente a hipótese 1 deste estudo. Também foram encontradas algumas evidências de que o fornecimento ou o recebimento de garantias podem ser utilizados para transferência de recursos da controlada para a controladora. Esses resultados empíricos vão ao encontro das conclusões obtidas em estudos internacionais como Chien et al., (2009), Aharony et al., (2010), Jian & Wong (2010), Cheung et al., (2008) que concluem que transações com partes relacionadas são importantes ferramentas para a potencialização de interesses de controladoras, gerenciamento de resultados e expropriação de recursos de minoritários. Com relação ao papel das controladas, este estudo não chega a uma relação significativa entre transações com controladoras e gerenciamento de resultados como demonstra Aharony et al., (2010), mas identifica uma relação positiva entre vendas para controladas e o seu ROA e o EBITDA. A crise econômica global iniciada em 2008 pode ter ocasionado efeitos no nível de empréstimos de controladoras para controladas devido a escassez de crédito na banca internacional. Este fato mundial não pode ser descartado na análise dos resultados apresentados, pois foi um período de exceção na economia mundial, no qual empresas tiveram que fazer uso de diversas ferramentas para manter seus índices de performance e o valor de mercado de suas ações, apesar de 42 os investidores tenderem a diminuir o valor de mercado das empresas quanto maior for a quantidade de transações efetuadas, como demonstra Silveira et al., (2008), o que este trabalho vem complementar e contribuir, pois se aquele era o primeiro trabalho a investigar a relação entre transações com partes relacionadas e valor de mercado das empresas no Brasil, este investiga um número bem mais expressivo de empresas com foco na sua eficiência operacional. Outro fator importante, limitante deste trabalho por não ter sido pesquisado, é a relação das transações com partes relacionadas nos períodos anteriores e posteriores a emissão de ações por parte das empresas listadas na bolsa. É importante investigar o tratamento, a eficiência e a finalidade que as empresas dão a transações entre partes relacionadas nesses períodos. Este estudo foi o primeiro depois da emissão e publicação do pronunciamento contábil número 5 em 2008, que trata sobre os limites das transações com partes relacionadas e sua evidenciação nas demonstrações contábeis. A emissão do CPC número 5 é um claro sinal de que as autoridades brasileiras, nomeadamente a Comissão de Valores Mobiliários, o mercado em geral e os acionistas minoritários têm interesse em que essas informações sejam mostradas de forma transparente, a fim de que seja mensurado o real impacto nos números das empresas. Todavia, de acordo com recente fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários nas empresas, isto não vem acontecendo (Torres, 2011), pelo que este trabalho deve ser continuado para levantar a real tendência e intenção do uso de transações entre partes relacionadas pelas empresas brasileiras. Transações com partes relacionadas podem ser um instrumento eficiente para diminuir o custo de transação das empresas por meio de uma política responsável de preços de transferência, otimização de recursos internos, 43 competitividade em função de economia de escala, planejamento fiscal não evasivo entre outros benefícios. Ou seja, este estudo deve ser continuado para verificar se as empresas brasileiras seguem a tendência de tunneling e gerenciamento de resultados como costumam fazer as empresas chinesas e as americanas principalmente antes do lançamento da lei Sarbannes-Oxley (SOx) ou se estão partindo para um nível melhor de governança corporativa, com o consequente sucesso da legislação do CPC e CVM. 44 REFERÊNCIAS AHARONY, Joseph; WANG, Jiwei; YUAN, Hongqi. Tunneling as an incentive for earnings management during the IPO process in China. J. Account. Public Policy, v. 29, 2010, p.1-26. BERKMAN, Henk; COLE, Rebel A.; FU, Lawrence J. 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