ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO E HIPERATIVIDADE:
POSSÍVEIS RELAÇÕES QUE PODEM GERAM ALGUNS EQUÍVOCOS
HOSDA, Carla Beatriz Kunzler - UFSM
[email protected]
CAMARGO, Renata Gomes - UFSM
[email protected]
NEGRINI, Tatiane - UFSM
[email protected]
Eixo Temático: Diversidade e Inclusão
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
A educação especial possui um público alvo de alunos, que segundo a Política Nacional de
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008), se delimita na educação dos
alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação. Porém, para que seja realizado algum trabalho suplementar para
estes alunos com altas habilidades/superdotação, é importante saber onde eles se encontram
no contexto escolar. Assim, o presente trabalho procede de experiências vividas e estudos
acadêmicos obtidos através da participação no projeto de pesquisa denominado “Da
identificação à orientação de alunos com características de altas habilidades”. Este projeto
objetiva a identificação de alunos com características de altas habilidades/superdotação em
escolas municipais, estaduais e particulares do município de Santa Maria/RS, com o intuito de
encaminhá-los para um programa de enriquecimento. Este trabalho visa demonstrar algumas
semelhanças e divergências entre altas habilidades/superdotação e TDAH, sendo que o
diagnóstico de hiperatividade nas escolas está sendo muito discutido na contemporaneidade,
configurando-se como um tema atual, que nas conversas informativas desenvolvidas pela
equipe do referido sempre são mencionadas pelos professores. Nessas conversas informativas
pode-se inúmeras vezes perceber uma confusão por parte dos professores em relação às altas
habilidades/superdotação e o TDAH, sendo que esses equívocos são evidenciados quando os
professores participam relatando casos e trazendo questões referentes aos seus alunos. Por
isso é importante esclarecer que as altas habilidades/superdotação e o TDAH possuem
características de que podem se assemelhar, mas que é importante diferenciá-las para que não
aconteçam equívocos no processo de identificação e nos encaminhamentos pedagógicos.
Palavras-chave: Altas habilidades/superdotação. Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade. Diferenciação.
4394
Introdução
Pensando na amplitude da educação, como campo de atuação e área do conhecimento
de pesquisas científicas, buscaremos centrar nossa discussão em uma das modalidades
educacionais que é a área da educação especial. Desse modo, a educação especial possui um
público alvo de alunos, que segundo a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva
da Educação Inclusiva (2008), se delimita na educação dos alunos com deficiências,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Esta área é bastante
ampla, mas nos delimitaremos principalmente na educação das pessoas com altas
habilidades/superdotação, que neste momento é nosso foco de discussão.
A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades
desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na
escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a
identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas
(BRASIL, 2008, p.9)
A área da Educação especial desenvolve suas ações em consonância com o trabalho
realizado na escola regular, articulando de forma a complementar e/ou suplementar o
atendimento a estes alunos. Caracterizando a educação especial, pode-se verificar nas suas
especificidades uma preocupação em atender um público alvo, que necessita de uma prática
pedagógica diferenciada atenta às suas necessidades educacionais específicas.
Muitas vezes a educação formal, pela grande demanda de alunos que necessitam de
um atendimento especializado, não consegue chegar a esta parcela da população escolar, o
que leva a desenvolver outras iniciativas extra-escolares que vem ao encontro desta carência,
para em parceria com a escola propor alternativas para auxiliar estes alunos no seu
desenvolvimento acadêmico. No caso dos alunos com altas habilidades/superdotação, para o
atendimento educacional especializado previsto na legislação, podem ser realizadas diferentes
formas de programas, sejam eles curriculares, ou extracurriculares. Porém para que seja
realizado algum trabalho suplementar para estes alunos, é importante saber onde eles se
encontram no contexto escolar.
Assim, o presente trabalho procede de experiências vividas e estudos acadêmicos
obtidos através da participação no projeto de pesquisa denominado “Da identificação à
orientação de alunos com características de altas habilidades”, que é vinculado ao Grupo de
4395
Pesquisa Educação Especial: Interação e Inclusão Social - GPESP, da Universidade Federal
de Santa Maria, e é coordenada pela Professora Doutora Soraia Napoleão Freitas. Este projeto
objetiva a identificação de alunos com características de altas habilidades/superdotação em
escolas municipais, estaduais e particulares do município de Santa Maria/RS, com o intuito de
encaminhá-los para um programa de enriquecimento.
Para definir e caracterizar os sujeitos com altas habilidades/superdotação utiliza-se
como pressuposto teórico a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (2008), que tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. A
política citada define com características de altas habilidades/superdotação aqueles alunos
que, apresentam potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou
combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam
elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas
de seu interesse (BRASIL, 2008).
Como já citado acima, não são apenas os alunos com características de altas
habilidades/superdotação que constituem o alunado da educação especial, existem alunos com
outras características que também o são.
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a
proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades
educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que
implicam em transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma
articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades
educacionais especiais desses alunos (BRASIL, 2008, p.9).
Atentando para os transtornos específicos, encontra-se nestes o Transtorno de Déficit
de Atenção/Hiperatividade (TDAH), que por ser público alvo da educação especial assim
como os alunos com características de altas habilidades/superdotação e terem características
aparentemente semelhantes, dentre outros fatores, causam equívocos na caracterização e na
identificação de um e de outro. Neste contexto trazemos Goldstein (2000, p. 229), que afirma
que “[...] os múltiplos problemas de comportamento das crianças hiperativas podem
facilmente ser mal-definidos e mal-interpretados”. Neste sentido, esta problematização foi
evidenciada durante a participação do referido projeto, principalmente nas etapas de
4396
identificação das características de altas habilidades/superdotação, sendo possível de perceber
vários equívocos a respeito dos mesmos.
Segundo as colocações de Guardiola (apud ROTTA, OHLWEILER, RIESGO, 2006,
p. 285), o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade pode ser assim explicado e
definido: “Por alterações nos sistemas motores, perceptivos, cognitivos e do comportamento
comprometendo a aprendizagem de crianças com potencial intelectual adequado”. Deste
modo, mesmo sabendo-se que se tratam de necessidades específicas diferenciadas, podem
acontecer equívocos quando se trata da identificação e/ou caracterização deste transtorno e
das características de altas habilidades/superdotação, como veremos a seguir.
Por isso neste artigo objetivou-se demonstrar algumas semelhanças e divergências
entre altas habilidades/superdotação e TDAH, sendo estas temáticas de forte discussão na
contemporaneidade, especialmente nas escolas, podendo assim gerar equívocos na
identificação dos primeiros.
Desenvolvimento
Para iniciar essa discussão salienta-se que essa problematização de debate surgiu a
partir de encontros com os professores, que é a primeira etapa do processo de identificação de
alunos com características de altas habilidades/superdotação. Essa primeira etapa com os
professores das escolas participantes do Projeto “Da identificação à orientação de alunos com
características de altas habilidades” se constitui em proporcionar ao corpo docente das
instituições
participantes
um
esclarecimento
sobre
a
temática
das
altas
habilidades/superdotação através de conversas informativas. Isso em função de que, após
esses esclarecimentos, os professores preencham um guia proposto pela pesquisadora Zenita
Cunha Guenther (2006), indicando os alunos que possam vir a ter essas características e que
posteriormente serão avaliados pela equipe executora do projeto. Dessa forma, é importante o
esclarecimento a respeito do tema, já que são os professores que fazem esta primeira
indicação dos alunos.
Nas conversas informativas pode-se inúmeras vezes perceber uma confusão por parte
dos professores em relação às altas habilidades/superdotação e o TDAH, sendo que esses
equívocos são evidenciados quando os professores participam relatando casos e trazendo
questões referentes aos seus alunos. Por isso é importante esclarecer que as altas habilidades e
o TDAH possuem características de que podem se assemelhar, mas que é importante
4397
diferenciá-las para que não aconteçam equívocos no processo de identificação e nos
encaminhamentos pedagógicos.
Mesmo não sendo o foco do nosso estudo, é importante saber que as altas
habilidades/superdotação em algumas pessoas pode estar associada à TDAH, o que pode
causar ainda mais dificuldades na identificação das características de cada uma delas. Este
fenômeno é chamado por estudiosos da área como dupla excepcionalidade, que é a
combinação de uma capacidade acima da média, múltiplas potencialidades, e possíveis
desordens comportamentais ou emocionais (GUIMARÃES; OUROFINO, 2007).
Assim, a identificação de alunos que apresentam a dupla excepcionalidade, assim
como a identificação nestes das características de altas habilidades/superdotação é muito mais
complexa, uma vez que não se possui critérios pré-estabelecidos e também porque pode haver
maior confusão por parte das pessoas, professores e pais, no reconhecimento das
potencialidades e das possíveis dificuldades destes alunos.
O sujeito com TDAH possui características bastante peculiares, que se diferenciam em
cada sujeito, e estas características podem influenciar no desenvolvimento emocional, social e
acadêmico destes alunos. Ourofino e Guimarães se apóiam em alguns autores que auxiliam na
discussão e colocam que:
Webb e Latimer (1993) relatam que a tendência do indivíduo superdotado com
TDAH é manifestar características relacionadas ao transtorno: baixa atenção, tédio,
dispersão em situações específicas, baixa tolerância para persistir em tarefas que
parecem irrelevantes, dificuldade em manter a atenção em tarefas de rotina,
dificuldade em monitorar seu progresso em projetos a longo prazo, julgamento
aquém do desenvolvimento intelectual, questionamento de regras e autoridades e
alto nível de atividade psicomotora. Para estes autores, em algumas circunstâncias, o
superdotado com TDAH consegue mascarar sintomas de transtorno, dificultando a
realização de uma avaliação mais precisa. (OUROFINO; GUIMARÃES, 2007, p.
63)
Pode-se perceber que estas características tanto de altas habilidades/superdotação
como de TDAH podem ser demonstradas de formas diferentes pelo sujeito, muitas vezes
podendo ser reconhecidas de maneira equivocada por quem observa, o que dificulta ainda
mais a identificação.
Por isso a importância de discutir-se a respeito das características que diferenciam as
altas habilidades/superdotação do TDAH, para que assim possa-se estar auxiliando os
professores e profissionais da educação a realização do processo de identificação com maior
4398
facilidade
e
com
maior
eficácia,
principalmente
dos
alunos
com
altas
habilidades/superdotação, já que a dupla excepcionalidade acontece com menor freqüência.
Sendo muito ampla as discussões sobre TDAH, daremos enfoque à três
caracterizações do sujeito com o déficit, verificando nas peculiaridades destas possíveis
relações com as características de altas habilidades/superdotação que pela semelhança, podem
gerar equívocos. Conforme Rotta, OHLWEILER, RIESGO (2006, p.303), “Atualmente
define-se o transtorno de déficit de atenção-hiperatividade (TDAH) como uma síndrome
neurocomportamental
com
sintomas
classificados
em
três
categorias:
desatenção,
hiperatividade e impulsividade”. Desse modo, são principalmente a respeito destas três
características que nos delimitaremos.
Podemos explicar as características de TDAH com mais detalhamento, com a seguinte
citação:
[...] a criança deve manifestar um certo número de comportamentos tais como
agitação constante, problemas para permanecer sentada, ficar distraída por qualquer
motivo, problemas para aguardar a sua vez, respostas impulsivas, problemas para
completar as coisas, dificuldade de continuar realizando uma tarefa, deixar muitas
coisas inacabadas, dificuldade para brincar tranqüilamente, falar excessivamente,
interromper frequentemente os outros, não escutar, ser desorganizado e expor-se à
muitos riscos (GOLDSTEIN, 2000, p. 45).
Estas características citadas acima podem ser percebidas algumas vezes também
quando se trabalha com alunos com altas habilidades/superdotação, que podem estar
entrelaçadas com outros fatores como falta de estimulação, frustração, etc.. Os estudos do
pesquisador
Joseph
Renzulli
(2004)
evidenciam
como
pontos
fundamentais
no
comportamento desses sujeitos, três traços principais: Habilidade acima da média,
Envolvimento com a Tarefa e Criatividade. O cruzamento entre estas características forma o
Modelo dos Três Anéis, sendo que para estes três traços determinarem as altas
habilidades/superdotação, é necessária a interação destes comportamentos, ou seja, esses
fatores necessariamente devem ser combinados no sujeito.
A habilidade acima da média tanto pode ser descrita em habilidades gerais quanto
específicas. A habilidade geral consiste na capacidade de processar as informações como
também, envolver-se no pensamento abstrato. A habilidade específica consiste na capacidade
de adquirir conhecimentos e destreza numa ou mais áreas específicas. O envolvimento com a
tarefa é caracterizado pelo expressivo interesse em relação a uma determinada área ou tarefa
4399
específica, distinguindo-se pela motivação, persistência, empenho pessoal, nessa tarefa e
confiança em si mesmo. A Criatividade se refere, principalmente, à fluência, flexibilidade,
sensibilidade, originalidade, capacidade de elaboração e pensamento divergente (RENZULLI,
2004).
Analisando as características apresentadas nos conceitos dos dois grupos, pode-se
perceber que ambos apresentam altos níveis de atividade. No primeiro grupo, Goldstein
(2000) destaca no comportamento de uma criança com TDAH uma agitação constante. Esta
agitação pode ser percebida em sujeitos com altas habilidades/superdotação quando estão
muito curiosos com alguns assuntos do seu interesse, que pode levá-lo a buscar de diferentes
maneiras seu objetivo. Além disso, o aluno com altas habilidades/superdotação pode se tornar
agitado quando, por exemplo, o conteúdo que está sendo desenvolvido em sala de aula já é do
seu conhecimento, ou quando conclui suas tarefas em sala e fica com um período ocioso, sem
ter o que realizar, o que pode o leva a ir até as classes dos colegas, chamar a atenção para
outros assuntos, conversar, etc. Esta agitação, que muitas vezes é somente momentânea nos
alunos com altas habilidades/superdotação, pode fazer com que o processo perceba-o como
um sujeito muito “hiperativo”, que “atrapalha”, “tira a atenção dos demais”. Essas
características pensadas no ambiente educacional podem gerar certa confusão e conduzir a
uma identificação imprecisa.
Por isso a necessidade de um bom esclarecimento, para que não haja dúvidas que
possam comprometer o processo de identificação. Crianças com TDAH apresentam agitação
que é demonstrada na maioria das situações, e esse sintoma está associado à impulsividade.
Conforme Rotta, Ohlweiler, Riesgo (2006), os sintomas de impulsividade podem se
manifestar por dificuldade em aguardar a vez, responder à pergunta antes do seu término,
intrometer-se na conversa dos outros.
Em contrapartida, crianças com altas habilidades/superdotação também são ativas,
questionadoras, problematizadoras, porém suas atividades geralmente são focadas para
alguma área de seu interesse, e seus questionamentos relacionados a uma curiosidade ou a um
conhecimento além do que está sendo debatido em sala. Pode acontecer de também este aluno
com altas habilidades/superdotação responder antes dos demais colegas, questionar demais,
porém isso pode acontecer em função de seu interesse pelo assunto, por ter compreendido e
querer saber mais, e não necessariamente uma impulsividade.
4400
Neste sentido, na própria caracterização dos alunos com características de altas
habilidades/superdotação em Renzulli (2004), encontra-se na combinação o envolvimento
com a tarefa, direcionando seu interesse e atenção para determinado(s) conhecimento.
Relacionando com a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner (1994), pode-se
ressaltar que de acordo com a área(s) de conhecimento(s) de maior interesse destes alunos
verificas-se um direcionamento de seu empenho e dedicação nas ações que envolvam esta(s),
podendo levá-lo a mostrar desinteresse pelas demais.
Nos sujeitos com altas habilidades/superdotação esta característica normalmente está
relacionada às atividades pouco desafiadoras, currículo escolar insuficiente e no procedimento
de ensino/aprendizagem. Para Alencar (2003), os problemas evidenciados pelos alunos que se
destacam por suas habilidades superiores estão relacionados à frustração e falta de estímulo
diante de programas acadêmicos monótonos e repetitivos que não favorecem o
desenvolvimento e expressão de seu potencial superior.
Portanto, altos níveis de atividade é um comportamento que pode estar presente em
ambos os grupos, mas se evidencia de maneiras diferentes em cada um deles. No TDAH, é
resultado da junção dos sintomas do transtorno, que segundo Barkley (2002) é observado
nessas crianças à diminuição da capacidade de inibição do comportamento ou do controle de
impulsos. Para este autor, crianças com TDAH apresentam problemas consideráveis para
conter suas respostas frente a uma situação e para o pensar antes do agir. Elas geralmente
fazem comentários que provavelmente não o fariam caso pensassem antes, também ao que os
outros dizem ou fazem de forma impulsiva, às vezes emocionalmente e acabam sendo
criticadas por assim fazer, ainda podem agir com rapidez com uma idéia que lhes vêm à
mente, sem considerar que se encontram no meio de algo que estão fazendo e que deve ser
finalizado primeiro, por vezes são excessivas e falam alto, e com freqüência monopolizam as
conversações.
Com isso, pode-se notar que a impulsividade e a hiperatividade podem ser
características tanto dos sujeitos com altas habilidades/superdotação, quanto dos que possuem
TDAH, porém alguns aspectos se diferenciam principalmente a freqüência e a intensidade,
assim como as ocasiões com que acontecem.
Outro aspecto que chama a atenção quando se trata destes dois grupos é a atenção em
relação
ao
que
está
habilidades/superdotação
desenvolvendo.
possuem
grande
Normalmente
capacidade
de
as
pessoas
concentração
com
e
altas
atenção,
4401
principalmente em suas áreas de interesse, e esta é uma característica de destaque, pois
consegue manter uma dedicação por um tempo maior em algo que lhe esteja interessando.
Renzulli (2004) considera esta como uma das características para a superdotação, conforme
citado anteriormente. Contudo, se não orientado e estimulado adequadamente, este sujeito
pode perder a atenção pelo trabalho em sala de aula, e dedicar-se para a realização dos seus
objetivos de forma individual, sem preocupação com as solicitações do professor. Desse
modo, o fato de estar presente em sala de aula deixa de ser algo instigante e realizador, mas
somente o cumprimento de regras, o que pode levar também com que este se isole dos demais
colegas. Ourofino e Guimarães (2007) esclarecem que:
[...] se as percepções e interpretações advindas dessas estruturas são continuamente
frustradas, ocorre uma introspecção dos sentimentos e opiniões, ocasionando
retraimento social. Portanto, o isolamento do indivíduo superdotado, muitas vezes
observado no contexto escolar, é proveniente da discrepância entre interesses,
atitudes, inteligência e criatividade que os qualificam (2007, p. 49).
Desde modo, esta não é uma característica freqüente nestes alunos com altas
habilidades/superdotação, porém pode vir a apresentar-se em algumas situações, dependendo
da concordância ou não entre seus interesses e os conteúdos do momento. Isso também
porque o aluno pode já estar dominando o conteúdo trabalhado pelo professor, e por isso se
tornar desinteressado e algumas vezes resistente a manter a atenção na aula. Por isso, quando
se trata de promover estratégias diferenciadas para estes alunos é imprescindível se pensar em
atividades extras, realização de tutoria, pesquisas na biblioteca, entre outras tarefas que podem
envolver o aluno a continuar estudando e manter-se atento que está sendo desenvolvido em
sala.
Já os sujeitos com TDAH evidenciam de maneira mais exposta esta característica de
desatenção, já que possuem uma dificuldade significativa de manter a atenção por maior
período de tempo. Conforme menciona o autor:
Em resumo, pessoas com TDAH têm problemas para fixar sua atenção em coisas
por mais tempo que outras. Elas lutam, às vezes com tenacidade, para manter sua
atenção em atividades mais longas que as usuais, especialmente aquelas mais
maçantes, repetitivas e tediosas. Tarefas escolares desinteressantes, atividades
domésticas extensas e palestras longas são problemáticas, assim, como leituras
extensas, trabalhos desinteressantes, prestar atenção a explicações sobre assuntos
desinteressantes e finalizar projetos extensos (BARKLEY, 2002, p.50)
4402
Assim, o convívio com estes alunos com TDAH aponta que estas características de
desatenção e agitação são freqüentes, apresentando dificuldades de concluir suas tarefas,
aprofundar alguns assuntos, etc., o que pode até mesmo prejudicar o seu rendimento escolar,
uma vez que, neste momento de desatenção, perde explicações, não abstrai alguns conceitos
importantes, não concluir suas respostas, etc.
Este é um aspecto que pode causar confusão quanto aos dois grupos, mas que com
atenção do professor pode auxiliar na diferenciação entre eles, uma vez que a desatenção pode
demonstrar falta de interesse e motivação, mas no caso do aluno com altas
habilidades/superdotação, na maioria das vezes seu rendimento e suas notas escolares
permanecem boas, o que demonstra que está evoluindo em suas aprendizagens e mesmo não
detendo sua atenção na sala, consegue abstrair.
Além disso, outro aspecto que tem chamado a atenção e que pode confundir no
momento da identificação destes grupos é a fala expressiva, relacionada a impulsividade. Os
alunos com TDAH geralmente, por sua maior agitação, também costumam falar mais, muitas
vezes no impulso, sem pensar o que vai falar. Barkley escreve que:
Irriquieto”, “sempre em pé e em movimento”, “age como que movido por um
motor”, “está constantemente ‘escalando’ tudo”, “não consegue ficar sentado
quieto”, “fala demais”, “geralmente produz zumbidos ou sons estranhos”- são essas
as descrições familiares. Elas definem o movimento excessivo ou a hiperatividade,
que é uma terceira característica do TDAH. Essa característica pode aparecer como
inquietação, impaciência, ritmo desnecessário, ou como outros movimentos, e
também como conversa excessiva. É um comportamento difícil de ser ignorado, e é
ainda em relação ao qual os observadores mais acomodados são céticos
(BARKLEY, 2002, p.57).
Esta característica pode fazer com que este aluno se saliente em sala de aula, muito
expressivo, falando bastante, conversando com os colegas, etc.. Este comportamento pode
torná-lo bem aceito pelos colegas, relacionando-se com todos.
É
importante
salientar
esta
característica
já
que
os
alunos
com
altas
habilidades/superdotação com capacidade superior na área lingüística ou interpessoal
(GARDNER, 1994), também podem apresentar facilidade na expressividade e no
relacionamento com os colegas. No entanto, estes alunos expressam suas opiniões com
fundamentação, com vários argumentos, e mesmo tendo bom relacionamento com os colegas,
muitas vezes possui alguns com os quais seus interesses coincidem. Além disso, a expressão é
4403
uma forma de demonstração de criatividade, muito característico das pessoas com altas
habilidades/superdotação nesta área. Conforme Ourofino e Guimarães:
A criatividade, entendida como um processo gerador de novas idéias, produtos e
ações, está associada ao talento e capacidade do homem para encontrar respostas
originais para seus problemas. As habilidades típicas de pessoas altamente criativas,
muitas vezes, representam a expressão de comportamentos superdotados. A
linguagem é um aspecto expressivo para ser considerado como característica de
superdotação, uma vez que o superdotado apresenta facilidade para expor suas
idéias, emprega um vocabulário superior à idade, [...]. (2007, p. 46)
Esta diferenciação entre os alunos com altas habilidades/superdotação e a TDAH
revela que, na maioria das vezes, estas características de expressividade, comunicação nas
pessoas com TDAH é acompanhada pela inquietação, ansiedade, agitação, e que estão quase
sempre presentes no comportamento destes. Este é um aspecto que se diferencia quando se
trata dos alunos com altas habilidades/superdotação, já que a expressividade é mais uma
forma de criatividade, de criação e produção de conhecimento.
Com isso, percebe-se o quanto é importante estes esclarecimentos quanto às
características de altas habilidades/superdotação para os professores antes da realização das
etapas do processo de identificação, uma vez que caso estas idéias estejam equivocadas com
traços de TDAH, ou mesmo de outras necessidades especiais, pode-se ter resultados confusos.
Além disso, acredita-se que, não somente para a realização do processo de identificação, mas
que estes debates deveriam borbulhar dos professores, os quais estão em contato maior com
os alunos e podem estar reconhecendo suas potencialidades e oportunizando a estes
estratégias diferenciadas. Muitas vezes isso não acontece por não estar claro para estes
profissionais as especificidades das características destes alunos, o que impede que seja
desenvolvido um programa de enriquecimento a estes.
Conclusão
Tendo em vista essa complexidade em ambos os grupos, alunos com altas
habilidades/superdotação e alunos com TDAH, deve-se ter o cuidado para que os equívocos
relacionados às características destes, não se configurem como um fator prejudicial para o
desenvolvimento do potencial e expressão da criatividade dos alunos com altas
habilidades/superdotação.
4404
Assim, fica evidente que recomendações pedagógicas direcionadas para alunos com
altas habilidades/superdotação não são adequadas e iguais aos alunos com TDAH. Podemos
citar o exemplo de que nos casos de alunos com TDAH é indicado à diminuição do tempo e
na complexidade das atividades escolares, também um ambiente pouco estimulador em sala
de aula para que este não seja um fator de desvio da atenção desses alunos.
Logo, para os alunos com altas habilidades/superdotação esses procedimentos são
inadequados, primeiro porque esses alunos necessitam de um tempo significativo para
desenvolver suas atividades escolares, justificado pelo fato de que possuem a característica do
envolvimento com a tarefa, como já referido neste artigo, esse tempo maior é investido por
esses alunos para a qualificação na realização das atividades. No aspecto da complexidade das
atividades, quanto mais desafiador, maior será o interesse e dedicação do aluno no
desenvolvimento das mesmas. Assim, além de promover a valorização e o desenvolvimento
do potencial dos alunos com altas habilidades, tende a permitir a transformação de sua
realidade e de si mesmo, fazendo com que este compartilhe os resultados de suas habilidades
com os colegas que estão a sua volta.
Em relação ao ambiente na sala de aula, este deve ser estimulador, pois a tendência do
aluno com altas habilidades/superdotação é considerar as atividades escolares tediosas, pois
na maioria das vezes não existe uma preocupação em desafiar o aluno, logo, ele não terá
interesse em comprometer-se com as atividades e tão pouco exercitará a sua criatividade. Por
isso, a necessidade de um ambiente estimulador, para que favoreça o aluno com
características de altas habilidades/superdotação no processo de aprendizagem segundo a
proposta de uma educação inclusiva, propiciando o desenvolvimento de seus potenciais e
talentos.
Enfim, acreditamos que o esclarecimento das características de alunos com altas
habilidades/superdotação e TDAH, pode proporcionar aos professores a elucidação de que
apesar desses dois grupos apresentarem características que possam gerar certa confusão, esses
sujeitos possuem suas especificidades, possíveis de serem diferenciadas. Neste sentido,
destacamos a importância das escolas estabelecerem parcerias com instituições de Ensino
Superior, que possuam pesquisas direcionadas a essas temáticas, para que possam esclarecer
suas dúvidas podendo facilitar o processo de identificação, e no caso de alunos com altas
habilidades/superdotação encaminhá-los a programas de enriquecimento escolar.
4405
O diagnóstico de TDAH nas escolas está muito em voga, configurando-se um tema
atual, que nas conversas informativas desenvolvidas pela equipe do projeto “Da identificação
a orientação de alunos com características de altas habilidades” sobre a temática sempre são
mencionadas pelos professores.
Diante disso, observamos a relevância deste projeto, que proporciona no encontro
informativo aos professores a oportunidade de relatar e apresentar suas dúvidas, para que no
momento de preenchimento dos guias não ocorra confusão, pois para a eficácia no processo
de identificação não devem existir equívocos em relação às características de alunos com altas
habilidades/superdotação e TDAH.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, E. M. L. S. (2003). O aluno com altas habilidades no contexto da educação
inclusiva. Revista Movimento, 7, 61-68.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva.
Brasília: MEC/SEESP, 2008.
BARKLEY, Rusell A. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH): guia
completo e autorizado para os pais, professores e profissionais da saúde. tradução Luís Sérgio
Roizman. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.
GARDNER. H. Estruturas da Mente: a teoria das Inteligências Múltiplas. tradução Sandra
Costa. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.
GOLDSTEIN, Sam. Hiperatividade: como desenvolver a capacidade de atenção das
crianças. tradução Maria Celeste Marcondes. 6ª ed.Campinas/São Paulo: Papirus,2000.
GUENTHER. Z. C. Desenvolver capacidades e talentos: um conceito de inclusão.
Petrópolis, RJ. 2ª ed: Vozes, 2006.
GUIMARÃES, Tânia Gonzaga; OUROFINO, Vanessa Terezinha Alves Tentes. Estratégias
de identificação do Aluno com Altas Habilidades/Superdotação. In: FLEITH, Denise de
Souza. (org.). A construção de práticas educacionais para alunos com altas
habilidades/superdotação: volume 1: orientação a professores. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007. p. 53 – 65.
OUROFINO, Vanessa Terezinha Alves Tentes; GUIMARÃES, Tânia Gonzaga.
Características Intelectuais, Emocionais e Sociais do Aluno com Altas
Habilidades/Superdotação. In: FLEITH, Denise de Souza. (org.). A construção de práticas
educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação: volume 1: orientação a
4406
professores. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007. p. 4152.
RENZULLI, Joseph S. O Que é Esta Coisa Chamada Superdotação, e Como a
Desenvolvemos? Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. In: Revista Educação. Porto
Alegre – RS, Ano XXVII, n. 1 (52), Jan./Abr. 2004.
ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. S. Transtornos da Aprendizagem
Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Download

altas habilidades/superdotação e hiperatividade