A gente aprende fazendo e pensando sobre o que faz: Docentes propõem
atividades para a EJA Solidária
Carla Marina Neto das Neves Lobo
Centro Universitário Plínio Leite/UNIPLI
RESUMO
No âmbito das políticas educacionais percebemos que a finalidade das ações do MEC é
um desafio presente nos anos 90 e no início do século XXI, pois ainda se faz necessário
repensar os programas para jovens e adultos e a mobilização de Estados e Municípios em
assumirem a responsabilidade de oferecerem o atendimento pedagógico adequado a essa
parcela da sociedade. Diante desse desafio nos questionamos: como colaborar com o trabalho
dos docentes que demonstram respeitar o alfabetizando como sujeito ativo que traz
experiências de sabedoria, que estão cientes de que este vive à margem e sofre na busca de um
lugar nesta sociedade que o exclui, sem utilizar-se de metodologias de ensino que reproduzem
a aprendizagem? Procurando responder ao questionamento e assumindo a disciplina de
Educação de Jovens e Adultos, em 2001, propus uma discussão às alunas do Curso Normal
Superior, 3º Período, objetivando levar professor e alunas a perceberem que a leitura e a
escrita são complemento na vida daqueles que mesmo não dispondo de tais recursos estão
vivendo, percebendo e lendo o mundo em que vivem, fortalecendo valores morais e éticos,
fazendo amigos, constituindo famílias e mesmo não sabendo formular um discurso bem
elaborado de acordo com a língua tida como padrão, sabem se comunicar com seus iguais e
também com aqueles que se mostram diferentes, contanto que lhes seja dado espaço para fazêlo. Encaminhamos, então, a produção de conhecimentos que no nosso entender se dá no
cotidiano daqueles que estão vivendo a alfabetização de adultos, percebendo e lendo o mundo
em que vivem para compreender a nossa função enquanto educadores. Além destes objetivos,
havia o interesse que a discussão da disciplina saísse dos muros da sala de aula universitária
para as salas de aula dos nossos jovens e adultos localizadas em igrejas, escolas, associações
de moradores, creches ... sugerindo atividades e temáticas que tivessem relacionadas ao
material teórico “Viver é aprender”, do Veredas.
A gente aprende fazendo e pensando sobre o que faz: Docentes propõem
atividades para a EJA Solidária
Carla Marina Neto das Neves Lobo1
Centro Universitário Plínio Leite/UNIPLI
“(...) a intervenção do educador não se dá no ar. Se
dá na relação que estabelece com os educandos no
contexto maior, em que os educandos vivem sua
cotidianidade na qual se cria um conhecimento de
pura experiência feito. A atividade docente da escola
que visa à superação do saber de pura experiência
feito, não pode, porém, como disse antes, recusar a
importância da cotidianidade ” (FREIRE, 1995,
p.52).
Há um ano, quando parei para fazer uma análise do trabalho desenvolvido como
Coordenadora Pedagógica de 10 salas situadas nos Municípios de Paty de Alferes, São
Gonçalo e Niterói, no projeto desenvolvido pelo Centro Universitário Plínio Leite junto ao
Programa de Alfabetização Solidária, identifiquei os momentos de Capacitação e encontros
pedagógicos como importantes para a formação dos docentes que, muitas vezes, sem
experiência, desenvolvem o trabalho de alfabetização instintivamente2. Com o intuito de
compartilhar tal experiência resgato anotações, planejamentos, avaliações dos professores e
atividades de aula, além da memória significativamente registrada pelos momentos de debate
e organização dos projetos a serem encaminhados por alunos-professores, professoresalfabetizadores, alunos alfabetizandos e coordenações.
Após os encontros de discussão e preparação com os alfabetizadores para assumirem
suas salas de aula, nos municípios de origem, estes, se sentem sozinhos, para o
1
Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense/UFF; Professora Adjunta do Departamento de
Educação do Centro Universitário Plínio Leite/UNIPLI; Professora Auxiliar do Curso de Pedagogia das
Faculdades Integradas Maria Thereza/FAMATh.
2
No período de 2000 a 2002 a IES desenvolveu este trabalho nos municípios listados sob a minha coordenação
pedagógica - Projeto Grandes Centros Urbanos.
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desenvolvimento do trabalho proposto e assim, pensam o caminho pelo qual levarão jovens e
adultos a aprenderem a ler e escrever não atendendo ao discutido nos encontros, reproduzindo
fórmulas utilizadas em seus períodos de escolaridade. Muitas vezes, esse caminho é
questionado em nossas reuniões e nos faz pensar:
Como colaborar com o trabalho dos docentes que demonstram respeitar o
alfabetizando como sujeito ativo que traz experiências de sabedoria, que estão cientes de que
este vive à margem e sofre na busca de um lugar nesta sociedade que o exclui, sem utilizar-se
de metodologias de ensino que reproduzem a aprendizagem?
Procurando responder ao questionamento e assumindo a disciplina de Educação de
Jovens e Adultos, no 1º semestre de 2001, propus uma discussão às alunas do Curso Normal
Superior, 3º Período, objetivando levar professor e alunas a perceberem que a leitura e a
escrita são complemento na vida daqueles que mesmo não dispondo de tais recursos estão
vivendo, percebendo e lendo o mundo em que vivem, fortalecendo valores morais e éticos,
fazendo amigos, constituindo famílias e mesmo não sabendo formular um discurso bem
elaborado de acordo com a língua tida como padrão, sabem se comunicar com seus iguais e
também com aqueles que se mostram diferentes, contanto que lhes seja dado espaço para fazêlo. Portanto, perceber o alfabetizando como um sujeito histórico, que modifica e é modificado
pelo mundo em que vive.
É importante, também, destacar neste texto que a discussão desenvolvida na disciplina
abordou as ações do MEC no que se refere à qualidade da educação e a finalidade dessas
ações. Quanto às ações o Ministério de Educação tem investido:
1. na universalização do ensino fundamental;
2. e na qualidade da educação para a redução da evasão, abandono e repetência principais causas do analfabetismo.
Quanto à finalidade dessas ações, o MEC compreende a Educação de Jovens e Adultos
(EJA) como política pública de responsabilidade do poder público, oferecido como parceria
entre as esferas do governo e a sociedade civil. Portanto, a institucionalização da EJA como
política pública pelos Estados e Municípios visa a cooperação técnica entre o MEC e as
Secretarias; a disponibilização de materiais didáticos; e o apoio e articulação entre Secretarias.
No âmbito das políticas educacionais, entretanto, percebemos que a finalidade das
ações do MEC é um desafio presente nos anos 90 e no início do século XXI, pois ainda se faz
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necessário repensar os programas para jovens e adultos e a mobilização de Estados e
Municípios em assumirem a responsabilidade de oferecerem o atendimento pedagógico
adequado a essa parcela da sociedade. Tais ações estão relacionados com 35 milhões de
cidadãos, maiores de 14 anos, que completaram os 4 anos de escolaridade. Dos 30 milhões de
analfabetos, identificados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2000,
estão incluídas pessoas que dominam tão precariamente a leitura e a escrita que ficam
impedidas de utilizar eficazmente essas habilidades para continuar aprendendo.
Partindo destes pressupostos, entendemos que seria necessário investigar as
concepções históricas e políticas que marcaram a educação de jovens e adultos no Brasil,
discutir as categorias que perpassam os estudos de Paulo Freire: temas geradores, diálogo,
conscientização e ato político. Encaminhamos, então, a produção de conhecimentos que no
nosso entender se dá no cotidiano daqueles que estão vivendo a alfabetização de adultos,
percebendo e lendo o mundo em que vivem para compreender a nossa função enquanto
educadores.
Além destes objetivos, relacionados aos alunos do Curso, havia o interesse que a
discussão da disciplina colaborasse com o trabalho das professoras-alfabetizadoras do projeto,
portanto, que saísse dos muros da sala de aula universitária para as salas de aula dos nossos
jovens e adultos localizadas em igrejas, escolas, associações de moradores, creches ...
sugerindo atividades e temáticas que tivessem relacionadas ao material teórico “Viver é
aprender”, do Veredas. O material apresenta uma discussão em torno da Teoria do
Conhecimento, oferecendo um conjunto de informações que possibilitam ao professor refletir
sobre questões que estão presentes no nosso dia-a-dia para que tenha mais segurança quando
promover o debate em sala de aula.
Faz o professor refletir sobre os temas “Ninguém nasce sabendo”; “A gente aprende
fazendo, enfrentando os problemas que encontra e pensando sobre o que faz”; “A gente não
aprende sozinho. A gente aprende com os outros”; “Aprender é um trabalho, portanto, exige
esforço pessoal”; “Todo conhecimento é fruto de conhecimentos já existentes e semente de
conhecimentos que ainda vão existir”.
Desenvolvendo essas questões professor e alunos vão tomando consciência de que “o
conhecimento faz parte da nossa vida. É com ele que percebemos o mundo que nos cerca e
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encontramos as maneiras de superar as dificuldades e os obstáculos decorrentes do viver
neste mundo. Não há como viver sem conhecer.” (Meirelles, s/a, p11). Além disso,
“ o conhecimento nasce na relação dos homens e mulheres com o
Mundo (...) ocorre quando existem necessidades a serem satisfeitas.
Mas não basta que existam necessidades. É preciso disposição e
empenho em satisfazê-las. Quando isso ocorre, as pessoas usam seus
recursos pessoais, inclusive o pensar” (ibdem, p. 15, grifo meu).
Ou seja,
“ a ação-reflexão que produz conhecimento e muda o Mundo é vivida
pessoalmente por todos nós. Vivemos esta experiência segundo nossos
valores, aspirações e de acordo com nossas experiências anteriores.
Esta vivência pessoal pode ser comunicada mas não pode ser
transferida aos outros. Vivência não se transfere (...) Embora pessoal e
intransferível, o conhecimento de cada um depende dos outros porque
ninguém está só no Mundo. Cada um age-pensa-age com os outros.
Como se comunicam, as ações, as descobertas de cada um se
confrontam, se complementam. Fazem parte do Mundo com o qual
todos lidamos” (ibdem, p. 19).
Portanto,
“ a produção do conhecimento é resultado da ação humana e implica
no uso direcionado das funções cerebrais. Pensar é uma atividade
natural e espontânea nos seres humanos, mas o Conhecer, que usa o
pensamento como instrumento, não é espontâneo. Implica em
direcionar o pensamento, a vontade e as próprias ações para dominar,
enfim, para aprender aquilo que precisa ser conhecido. (...) Ação de
fazer, de experimentar, de refazer, de tornar a experimentar e assim
sucessivamente até conhecer ou aprender. E em cada uma destas ações
o pensamento direcionado estará presente consumindo esforços e
trabalho” (ibdem, p. 23).
O que quer dizer que
“ neste processo cada conhecimento incorporado supera um
conhecimento anterior menos completo e serve de base para a
construção de um novo mais elaborado. Como na história da
humanidade, as pessoas não passam do ‘não saber’ ao saber, de uma
só vez, mas vão construindo o seu conhecimento gradativamente”
(ibdem, p. 27).
Além da discussão sugerida pelo material, apresenta também sugestões de atividades
que ampliam o diálogo horizontal, proposto por Freire (1980, p.107), entre professor e alunos.
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De acordo com o autor, diálogo “ é uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz
crítica e gera criticidade. Nutre-se do amor, da humildade, da esperança, da fé, da confiança.
Por isso, só o diálogo comunica”.
Tendo esse material como base e assumindo a afirmação de Freire (In: Meirelles, p.19)
“ ninguém ensina ninguém mas ninguém aprende sozinho”, as alunas selecionaram algumas
dessas atividades que foram discutidas adequando-as às atividades propostas nas salas de aula
do Projeto Alfabetização de Jovens e Adultos. Assim tornou-se clara a nossa intenção:
Colaborar com a formação de professores que investem seu tempo e conhecimento na
formação de cidadãos que estão buscando na escolaridade melhor comunicação, mais
informação, maior participação, mais diversão etc.
As discussões teóricas, portanto, foram necessárias para chamar atenção das alunas,
que não têm experiência com a Educação de Jovens e Adultos, que “a alfabetização que serve
aos mais pobres é aquela que dá força à capacidade de aprender dos alfabetizandos, que usa
a língua escrita para a reflexão da realidade e para o desvelamento do que ainda não é do
conhecimento deles” (Freire in Barreto, 1998, p.20).
Por último, perceber como propõe Freire (apud Nogueira, 1994) que é possível viver a
verdadeira pedagogia, que é fazer da curiosidade de alunos e professores algo metódico e
permanente, pois é assim que o ser humano conhece e se reconhece no mundo. Nesse
exercício de aprender a aprender, alunas do Curso Normal Superior e Jovens e Adultos do
Projeto, construíram juntos o conhecimento e a crítica para subsidiar o trabalho dos
professores-alfabetizadores do Projeto Grandes Centros Urbanos.
Assim algumas questões que acompanhavam o processo de alfabetização do professoralfabetizador do Projeto, precisavam despertar a atenção do nosso aluno para encaminhar o
trabalho pedagógico:
* Para que aprendemos a ler e escrever?
* O que o município de origem produz?
* Quais são os hábitos, costumes, canções e festas que marcam o presente vivido?
* Qual a história do município segundo a cultura popular?
* Quais os problemas que preocupam a comunidade?
Propondo estas questões inicialmente estaríamos estabelecendo os parâmetros
metodológicos fundamentais para ensinar à medida que se vai aprendendo. Ou seja, não
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poderíamos elaborar um trabalho, se não fizéssemos inicialmente o levantamento do interesse
do grupo.
Além do levantamento do interesse do grupo, foi importante destacar e tomar
conhecimento do perfil do nosso aluno do Projeto Alfabetização de Jovens e Adultos, tomando
conhecimento também sobre a sua aprendizagem, despertando a curiosidade e a ansiedade das
alunas que realizariam a proposta da disciplina.
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Perfil do aluno que inicia o projeto é do sexo feminino (61,3%); encontra-se na faixa
etária dos 30 aos 39 anos (23,3%); 40 a 49 anos (16,6%) e mais de 50 anos (28,35%);
com experiência escolar (70%) e sem experiência (30%).
Principais causas da evasão: causas familiares; escola distante da localidade onde
mora; situações relacionadas ao trabalho, como, por exemplo, a mudança de moradia
em busca de emprego ou por causa de desemprego; além dos problemas de saúde e de
visão.
Perfil da aprendizagem ao final do projeto:
Linguagem oral: foi detectado inicialmente que 62,5% dos alunos do projeto expõem
suas idéias claramente, percebendo um avanço significativo ao final, 81,2%;
participam de situações de intercâmbio 62,5% foram detectados no início do trabalho
chegando ao final 81,2% de participação.
Linguagem escrita: os dados registram que 56,2% não escrevem; 18,7% escrevem
reproduzindo a fala; 12,5% produzem falas isoladas e 12,5% produzem pequenos
textos quando iniciam os estudos. Ao final foi detectado que 100% escrevem o nome;
56,2% escrevem reproduzindo a fala; 18,7% produzem frases isoladas e 31,2%
produzem textos pequenos.
Leitura: inicialmente 56,2% não lêem; 18,7% lêem palavras isoladas; 12,5% lêem
apenas fragmentos; e 12,5% lêem e compreendem pequenos textos. Ao final 18,7%
não lêem; 31,2% lêem palavras isoladas; 18,7% lêem apenas fragmentos; e 31,2%
lêem e compreendem pequenos textos.
Geometria: 75% reconhecem figuras geométricas e figuras planas inicialmente. Ao
final 81,2% reconhecem formas geométricas e figuras planas.
Os alunos alfabetizandos que realizaram as atividades propostas pelas alunas do Curso
fazem parte do Projeto e estão na faixa etária dos 18 aos 60 anos, moradores dos bairros:
Almerinda, Jardim Alcântara, Monjolos e Jardim Bom Retiro e adjacências como Marambaia.
Também era igualmente importante conhecer o perfil dos professores-alfabetizadores
que atuavam nas salas de aula do Projeto: Jovens-adultos, com ou sem formação universitária,
estudantes ou não, com ou sem formação pedagógica, envolvidos com trabalhos comunitários
em seus bairros, ligados a Igrejas e Associações de Moradores, que objetivam compartilhar o
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seu saber com aqueles que de certa forma foram alijados da sociedade por questões sociais,
econômicas e políticas.
Assim, deixávamos claro para a turma que o Projeto Grandes Centros Urbanos,
assumido pela IES UNIPLI, não tinha um perfil definido do professor-alfabetizador, mas
selecionava todos aqueles que buscavam participar do grupo da Solidária se envolvendo na
proposta, acreditando que após um período de Capacitação estes corresponderiam com o
esperado: alfabetizar jovens-adultos de quatro municípios do Estado do Rio de Janeiro/Projeto
Grandes Centros Urbanos e de quatro municípios da Paraíba/Projeto Nordeste.
São, portanto, sujeitos individuais e coletivos que se envolviam em um trabalho às
vezes desconhecido; outras vezes sustentado por teorias e práticas muito distantes do nosso
projeto pedagógico para a alfabetização de jovens e adultos. Mas acreditando que somos todos
professores preocupados com a questão do analfabetismo no Brasil, ampliamos nossa proposta
inicial: além de desenvolver atividades embasadas no material do Veredas, tendo a
participação direta das professoras-alfabetizadoras no encaminhamento de tais sugestões;
passávamos a considerar importante transformar este momento de estudo e aplicação em um
registro sistematizado, ou seja, consideramos importante produzir um LIVRO que registrasse
os planejamentos de atividades, envolvendo todas as áreas de conhecimento com uma visão
multidisciplinar, que teria a finalidade de ser mais um instrumento de consulta para os
professores-alfabetizadores da Educação de Jovens e
Adultos. Possibilitando-lhes assim
confirmar que é possível fazer um trabalho diferente do que é proposto pela cartilha desde que
haja interesse, envolvimento, paixão e criatividade.
Procuramos assim, com este trabalho, desvelar a potencialidade dos nossos alunos do
Curso Normal Superior no momento em que contribuem para fortalecer a aprendizagem
daqueles que desfrutam e desfrutarão do prazer de alfabetizar.
Após este breve relato sobre a proposta desenvolvida na disciplina de Educação de
Jovens e Adultos, apresentando resumidamente as discussões encaminhadas no semestre
inserindo as alunas do Curso na prática pedagógica das salas de aula da Alfabetização de
Jovens e Adultos, tomando conhecimento do perfil do nosso aluno e professor-alfabetizador
com quem trabalharam, é importante destacar a estrutura do LIVRO que registrou o trabalho
realizado, intitulado “ A gente aprende fazendo e pensando sobre o que faz: Docentes propõem
atividades para a EJA Solidária”.
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Dividimos o livro em duas Unidades. A primeira, encaminha 8 (oito) planejamentos de
atividades envolvendo as áreas de português, matemática, ética e ciências. Para ilustrar o
trabalho aqui relatado, seguem as propostas desenvolvidas pelas alunas:
1. A história do meu nome e Criando palavras * Área de Conhecimento Português
Grupo responsável: Edna de Souza / Ana Claudia da S. T. Domingues / Flávia da F. Carvalho /
,Eliciene de. Gomes / Carminda Maria C. da S. Lessa / Valdete de L. Guimarães
Conteúdo (1): A história do meu nome.
Objetivos: Relatar a história do meu nome.
Reconhecer seu nome.
Atividades 1: Através do quadro de pregas exposto com os nomes dos alunos, eles
deverão reconhecer o seu nome.
O professor, através de perguntas pode ir dirigindo o que o aluno irá dizer.
Ex.: Quem escolheu o nome, porque recebeu esse nome, se gosta dele etc.
A classe ouve atentamente e pode participar com perguntas.
Ao final da atividade, o professor pode fazer um estudo comparativo dos nomes expostos
no quadro de pregas.
Ex.: O nome maior e menor.
Número de letras de cada um.
Letras comuns no nome.
Letras iniciais, finais, repetidas, etc.
Conteúdo (2): Criando palavras.
Objetivo: Criar palavras através das letras.
Atividades 2: Com grande número de letras, o aluno deverá formar palavras.
Cada aluno receberá uma folha em branco para colar as letras, formando as palavras.
Avaliação: Os alunos serão avaliados através da exposição oral, relatando a história do seu
nome e pela quantidade de palavras que conseguirem formar após a discussão.
2. Unidade de Medida / Sistema Monetário / Conjunto e Atributos / Adição e
Subtração*Área de Conhecimento Matemática
Grupo: Adriana C. Chaffin / Dione Maria C. N. Dias / Elaine S. Peixoto / Heloísa C. Leal / Janaína G. R.
Tavares / Kelly C. dos Santos / Lúcia Maria da C. Campos / Maria do Carmo Maiolino / Sandra A .
Guedes / Sandra Cristina Rodrigues
Conteúdo: Unidade de Medida; Sistema Monetário; Conjunto e atributos; Adição e
Subtração em situação problema, envolvendo troco.
Objetivos: Identificar as unidades de medidas utilizadas no dia-a-dia.
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Identificar o valor do produto.
Comparar os produtos de maior e menor valor de um estabelecimento.
Comparar, entre os estabelecimentos apresentados, os diferentes preços de um mesmo
produto.
Identificar os gêneros dos produtos.
Agrupar, de acordo com o gênero a que pertencem os produtos.
Listar os produtos dos encartes que podem ser comprados com uma determinada quantia.
Diferenciar, através de situação-problema, os conceitos de lucro e prejuízo.
Atividades:
Motivação - Através de cartazes confeccionados com embalagens de variados produtos, pedir
aos alunos que dêem um valor para cada produto.
A seguir, com a turma separada em grupos, distribuir os diferentes encartes (vários
estabelecimentos).
Os alunos deverão manusear os encartes, observando os produtos, seus valores, o gênero a
que pertencem, comparando os de maior e menor valor; os que são comprados a litro ou a
quilo, os de higiene pessoal, os de limpeza e os alimentícios.
A partir de um valor mencionado, os alunos listarão os possíveis produtos que poderão
comprar com este valor.
Avaliação: Os alunos, ainda em grupos, deverão selecionar, recortar e colar produtos
agrupando-os de acordo com os atributos escolhidos por eles.
3. Racionamento de Energia*Área de Conhecimento Ciências
Grupo responsável: Doraci M. M. Dos Santos / Eliane Hartmann / Jeane Isabele V. Gonçalves /
Lílian S. Pinto
Conteúdo: Racionamento de energia.
Objetivos:
a) Geral: Desenvolver a reflexão crítica sobre o racionamento de energia.
b) Específicos: Reconhecer a importância da água como fonte geradora de energia.
Elaborar, conjuntamente, “dicas” para redução de consumo.
Identificar palavras que fizeram parte da conversação sobre o tema em questão.
Construir pequenas frases com as palavras identificadas.
Atividades:
Introdução por meio de uma história em quadrinhos.
Conversa informal sobre o problema do racionamento de energia ligado ao racionamento
de água.
Leitura de texto escrito e ilustrativo, sobre a importância da água como principal fonte de
energia no Brasil e também sobre o funcionamento de usina hidrelétrica.
Apresentação de livros, folder e jornais que falam sobre o assunto.
Mostrar outros tipos de energia e sua utilização.
Explicação sobre como funciona uma pilha feita de limão.
Debate sobre como economizar, sugerindo idéias e “dicas”.
Destaque de palavras ligadas ao racionamento.
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Elaboração de frases escritas individuais com estas palavras.
Escolha de um título para o painel.
Apresentação do painel à turma.
Avaliação: A avaliação será desenvolvida em duas etapas:
1ª etapa - desenvolvendo a oralidade, em conversa informal, estimulando a participação de
todos; reflexão sobre o problema do racionamento e o que gera o consumo excessivo de
energia.
2ª etapa - na construção de frases individuais, fazendo uso das palavras-chave.
4. Produção de textos e Sólidos Geométricos*Áreas de Conhecimento Matemática /
Português e Ética
Grupo responsável: Edna de M. Alves / Elaine C. Leal / Márcia de M. Alves / Márcia de S. Ivo / Marta
de M. Alves / Sônia da M. A . Cruz / Vândia C. Borges
Conteúdos: Produção de texto; Sólidos Geométricos.
Objetivos: Identificar os sólidos geométricos;
Acompanhar a seqüência lógica da história;
Estimular os alunos, através de conversa, para produzirem, de forma criativa, um final para a
história;
Construir uma imagem positiva de si, confiar em sua capacidade de escolher e realizar seu
projeto de vida e legitimar as normas morais que garantam a todos essa realização.
Atividades: Apresentação de história (O cilindro feio).
Construção de um final para a história.
Avaliação: Observação através da oralidade e da escrita individual, respeitando a realidade e
a opinião de cada aluno.
5. Construção de texto coletivo a partir da análise de gravuras*Área de
Conhecimento Português
Grupo responsável: Angelina I. Mônaco / Carolina P. dos Santos / Cecília P. dos Santos /
Elisabete Cristina A . Nunes / Luciane de A . R. Ramos / Norma M. Marques
Conteúdo: Construção de texto coletivo a partir da análise de gravuras.
Objetivos:
Expressar idéias e pensamentos;
Interpretar a ilustração da gravura utilizada;
Interpretar a letra da música utilizada;
Escrever palavras-chaves a partir de sua hipótese gráfica;
Participar da composição de texto coletivo.
Estratégias:
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Realização da interpretação através da análise de gravura e troca de idéias a partir do
diálogo informal (debate);
Seleção de palavras-chaves partindo da tentativa de escrita em pequenos pedaços de papel
de suas idéias e pensamentos sobre o assunto abordado;
Utilização das palavras-chaves, que estarão expostas, para composição de texto coletivo;
Utilização de música, contextualizada ao tema, para debate final.
Avaliação:
Perceber se os alunos são capazes de expressarem suas idéias e pensamentos em atividades
coletivas onde todos trabalham por um mesmo objetivo;
Analisar a iniciativa de cada aluno frente à tentativa de escrita de palavras lançadas por eles
próprios, estimulando-os à ousadia;
Reconhecer a hipótese de escrita de cada um, observando sua expressão gráfica;
Analisar a oralidade dos alfabetizandos quanto à iniciativa para expressão de suas idéias e
pensamentos, dificuldades de emissão de sons e vícios de linguagens.
6. Produção de Textos*Área de Conhecimento Português
Grupo: Anamaria Regina da C. Ramos / Clarice B. M. Corrêa / Helena Maria da S.
Motta / Fabiane C. Barbosa / Ivone C. de Oliveira / Janete G. de Souza / Márcia Cristina
C. M. Lima / Sheila M. Pereira
Conteúdo: Produção de texto.
OBJETIVO GERAL: Desenvolver a leitura e a escrita através da associação de gravuras,
concomitante com texto, utilizando diálogos para estabelecimento do elo teoria - prática.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Estabelecer um diálogo com a turma do EJA e explicar oralmente:
* O conhecimento nasce da relação dos seres humanos com o mundo.
* O conhecimento ocorre quando existem necessidades a serem satisfeitas, mas é preciso
disposição e empenho para satisfazê-las.
* Foi “ agindo - pensando - agindo” que os seres humanos construíram sua cultura, e,
todos nós continuamos a construir o mundo e a nós mesmos.
Apresentar gravuras e texto, e, desenvolver paralelamente uma conversa em torno dos
pontos:
* O conhecimento serve para enfrentar problemas que temos.
* O conhecimento não está pronto e acabado, está sempre em mudança.
* O conhecimento é produto da reflexão e não da memorização.
Explicar o que é dramatização.
Fazer uma dramatização dialogal sobre diferentes profissões.
Solicitar que registrem suas observações nas folhas distribuídas.
Promover uma apresentação oral dos alunos, após a produção dos seus textos.
Recolher todos os textos e agradecer através de um coral.
Realizar a culminância com um lanche comunitário.
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ATIVIDADES: Serão desenvolvidas em três etapas a serem descritas abaixo: 1) Teoria do
Conhecimento: A gente aprende fazendo.
* Será realizado inicialmente com a turma, um diálogo sobre o conhecimento no contexto
histórico. Alertando que o conhecimento nasce na relação dos seres humanos com o mundo,
e, que esta relação não é igual; pois algumas vezes o mundo não está conforme as pessoas
querem, existem necessidades a serem satisfeitas que exigem o pensar. Assim, “ agindo pensando - agindo”, os seres humanos construíram toda a sua cultura. Da mesma forma,
continuamos a construir o mundo e a nós mesmos.
2) O desenvolvimento da conversa.
* Serão apresentados dois quadros; no primeiro há a figura de um homem pré-histórico e no
segundo um homem no período mais atual, ambos têm balões que representam no desenho, o
pensamento dos personagens.
Abaixo dos quadros, a seguinte frase: “A gente aprende fazendo, enfrentando os
problemas que encontra e pensando sobre o que faz”.
Partindo daí, serão lançadas as seguintes perguntas:
- O que nos diz este quadro? O que estamos vendo aqui?
- Que diferenças existem entre os dois desenhos? Por quê?
-Que semelhanças existem entre as duas situações? Por que são semelhantes?
-Os dois homens aparecem pensando. Em que pensam? Por que pensam?
-E na vida de vocês, já houve momentos em que tiveram que pensar e agir para mudar?
Quando? Como foi?
3) Prática da leitura e escrita
* Inicialmente estabeleceremos uma conversa entre a frase - síntese “ A gente aprende
fazendo”, completando com a afirmação de que as pessoas fazem coisas diferentes, tendo
assim conhecimentos diferentes.
Explicaremos o que vem a ser uma dramatização, usando como exemplo a televisão,
deixando claro que as pessoas “ fazem-de-conta que são outras pessoas para passarem
alguma mensagem. Solicitar que observem a dramatização que o grupo se propõe a fazer
mostrando os conhecimentos das diferentes profissões; registrando nas folhas a serem
distribuídas com os desenhos dessas profissões”.
Num segundo momento, iniciaremos uma dramatização em forma de diálogo entre:
• Cozinheira e vendedora;
• Enfermeira e carteiro.
Deixando espaço para que acrescentem outra profissão, se assim desejarem, explicaremos
novamente o que podem registrar, como uma simples palavra, uma frase ou um desenho,
ao lado das figuras apresentadas; onde orientaremos no que for necessário.
Solicitaremos que leiam suas produções, se assim quiserem.
Agradecemos ao final, apresentando uma música, em coral, onde ficaremos todos de mãos
dadas.
“ Há uma palavra bonita jamais esquecida, se lê CATIVAR.
Contendo sete letrinhas e todas juntinhas, se lê CATIVAR.
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Cativar é amar, é também carregar um pouquinho da dor que alguém tem de levar.
Cativar, disse alguém, laços fortes criou, responsável é você pelo que cativou.
Num deserto tão só, entre homens também, vou tentar cativar, viver perto de
alguém.”
Realizaremos a culminância com um lanche coletivo.
AVALIAÇÃO: A avaliação ocorrerá concomitantemente com o desenvolvimento da aula,
onde serão exercidas a prática do olhar “ educador - aprendiz” por parte de todas os
componentes do grupo, nos mais diferenciados aspectos, respeitando-se sempre o contexto
real da turma, no que diz respeito à:
• Desenvolvimento da linguagem verbal e não-verbal;
• Criatividade relacionada a fala e a escrita;
• Livre expressão de pensamentos das atitudes cotidianas;
• Posicionamento no tempo e espaço, enquanto ser pensante dentro da linha cronológica;
• Conscientização da cidadania, enquanto colaborador com um grupo social e modificador
da realidade cotidiana e global.
7. Formação de palavras, textos individuais e coletivos*Área de Conhecimento
Português
Grupo responsável: Eliza S. dos Santos / Fabiana de N. Medeiros / Juliana C. de
Oliveira / Michele Gloria T. Lebre
CONTEÚDO: Formação de palavras, textos individuais e coletivos.
OBJETIVOS:
Perceber a importância do trabalho em grupo para obtenção de resultados;
Estimular a escrita e leitura com palavras de seu cotidiano;
Redigir textos individuais e coletivos;
Possibilitar ao aluno a valorização de sua própria cultura, fazendo uso de suas experiências
anteriores no seu processo de alfabetização, proporcionando-lhe novos conhecimentos.
ESTRATÉGIAS: Análise de gravuras através de um diálogo informal com os alunos para
seleção de palavras-chaves, contextualizadas à vivência de cada um (Círculo de cultura).
Foto do livro “Terra”, Sebastião Salgado.
Encaminhamento da conversa:
ƒO que é que vocês estão vendo nesta foto?
ƒO que transmite?
ƒO que lembra?
ƒO que sente?
Deixar livre a troca de idéias que a foto sugere. O grupo cria o seu tempo e o círculo discute à
vontade. Cada palavra sugerida é escrita no quadro e o aluno faz o seu registro.
Com as palavras-chaves damos a oportunidade de cada um formar um texto ou frase. A partir
daí, com ajuda da equipe de trabalho, o círculo cria um texto coletivo, articulado com o
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próprio pensamento crítico sobre a vida e a condição de vida das pessoas integrantes do
círculo de cultura.
AVALIAÇÃO:
Avaliar a desenvoltura de cada um.
Avaliar a participação e a socialização do grupo.
8. Atividade B: Formação de Frases * Área de Conhecimento Português
Grupo responsável: Gleise Munhoz de A . Fidalgo / Carine da C. Corrêa / Conceição
Maria de A . Fonseca / Maria do Carmo R. F. Lima /Patrícia e S. Gomes / Valdilene A de
S. Silva / Vânia Lúcia de S. M. Chaves
Conteúdo: Formação de Frases.
Objetivo: Utilizar a técnica de dobraduras na confecção de materiais concretos, criando
recursos para a elaboração de frases orais e escritas.
Atividades: Após conversa informal sobre a utilização de dobraduras na criação de texto,
dividir a turma em grupos e distribuir papéis coloridos. Cada grupo confeccionará suas
peças e com esse material, criará frases ou um pequeno texto dentro de um tempo
estipulado. Ao sinal do término, cada grupo lerá para a turma a sua frase ou história,
utilizando a dobradura como recurso visual.
Avaliação: A avaliação será feita baseada na participação de toda a turma, na criatividade
e na expressão oral e/ou escrita, respeitando as normas de criação, estrutura e coerência.
A segunda Unidade apresenta os relatórios das equipes de alunos que foram visitar as
salas da EJA em São Gonçalo, contando suas expectativas, encaminhamentos e
desdobramentos das atividades, além da demonstração de satisfação do trabalho realizado.
Da mesma forma que os relatórios ilustram a presença de alguns ingredientes
importantes no desenvolvimento de uma tarefa, tais como interesse, envolvimento, paixão e
criatividade, a conclusão deste trabalho confirma a grande FESTA que a disciplina de
Educação de Jovens e Adultos proporcionou aos nossos alunos.
Para finalizar a construção do livro, o grupo destacou em anexo fotos, trabalhos e
produções que registram e ilustram alunas do Curso Normal Superior, professoresalfabetizadores e alunos alfabetizandos envolvidos na realização das atividades propostas,
confirmando mais uma vez que sair da rotina de sala de aula faz muito bem a todos aqueles
que estão envolvidos no fazer pedagógico.
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Ficou resolvido, também, que seria proposto um concurso de DESENHO, com a
temática FESTA, aos nossos alunos das salas localizadas em São Gonçalo. O concurso de
desenho tinha como objetivo, após a aplicação do nosso trabalho, selecionar uma ilustração
para ser a capa do livro da turma, que registra o resultado das discussões, planejamento e troca
de idéias realizadas em sala de aula do Centro Universitário Plínio Leite e a execução desse
trabalho em cada sala da EJA.
Durante as discussões individuais e coletivas foram observadas dificuldades entre
jovens e adultos resultantes de uma problemática comum: O uso da escrita sob a ótica do
mundo. Concomitante a este diagnóstico, estavam arraigadas as dificuldades originais da
desinformação crítico-política de uma população iletrada, analogicamente inserida no contexto
social da “mídia do letramento”.
Diante da discussão cabe uma citação de Paulo Freire (1996, p.17):
“É por esta ética inseparável da prática educativa, não importa se
trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que devemos lutar.
E a melhor maneira de por ela lutar é vivê-la em nossa prática, é
testemunhá-la, vivaz, aos educandos em nossas relações com eles” .
Partindo de tal colocação, lutando para amenizar o quadro do analfabetismo no
município de São Gonçalo, procuramos desenvolver um trabalho significativo, fundamentado
no educador Paulo Freire através de propostas de atividades de matemática, português,
ciências e estudos sociais, colocadas em prática nas salas do Projeto de Alfabetização
Solidária procurando testemunhar na prática, sob a ótica observador e aprendiz, a relação
educador/ educando, inicialmente fundamentado na sala de aula, durante o 1º semestre de
2001.
Tendo em vista o fato vivenciado, pois “Aprendemos fazendo”, constatamos o quanto é
dificultoso para o nosso aluno alfabetizando participar do projeto, porque todos os envolvidos
têm rotinas cansativas, são senhoras do lar, domésticas, pedreiros, pintores etc. As pessoas de
mais idade têm problemas de visão; muitas vezes moram longe da sala de aula e têm que
andar durante alguns minutos; além do período previsto de tempo do curso ser de 5 meses.
Ressaltamos que diante dos obstáculos relatados, não é desmerecido o empenho de
professores e alunos, que cumprem com alegria o processo de alfabetizar alfabetizando-se,
respeitando o conhecimento que já possuem visando o reconhecimento do mundo que os
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cerca, a vida; portanto, tornando tanto educadores quanto educandos, mais atuantes,
questionadores e críticos, tendo consciência do seu papel social, praticando a sua cidadania
dentro da realidade vivenciada.
Assim, acreditamos que a “ interferência” da turma do 3º período Normal Superior no
trabalho dos professores-alfabetizadores do projeto, promoveu novas possibilidades de
abordar/tratar os temas do cotidiano dos seus alunos atendendo a um dos objetivos da
disciplina: contribuir para a discussão do contexto histórico-social, econômico, político da
sociedade, além de fortalecer a prática docente tanto das alunas do curso como das
professoras-alfabetizadores do projeto. Pois, tratou-se de “ visualizar o/a professor/a como
pesquisador/a constante de sua prática, como profissional reflexivo, que busca conhecer cada
vez mais os universos culturais de seus alunos, seus saberes lingüísticos, matemáticos e
científicos, entendidos como produção social inserido nas práticas de grupos e comunidades
de onde provêm”.. Enfrentando o desafio de aproximar a produção acadêmica - que se autodefine como progressista - das práticas escolares da classe popular.
Isto significa apontar para a importância de não se cruzar os braços frente à
impossibilidade de mudar a realidade escolar, como diria Freire:
“ O discurso da acomodação ou de sua defesa, o discurso da exaltação do
silêncio imposto de que resulta a mobilidade dos silenciados, o discurso
do elogio da adaptação tomada como fato ou sina é um discurso negador
da humanização de cuja responsabilidade não podemos nos eximir. A
adaptação à situações negadoras da humanização só pode ser aceita
como conseqüência da experiência dominadora, ou como exercício de
resistência, como tática na luta política. Dou a impressão de que aceito
hoje a condição de silenciado para bem lutar, quando puder, contra a
negação de mim mesma” (1997, p.84 -85).
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