Relato de Caso Clínico Escola Superior de Ciências da Saúde ESCS / FEPECS Alunos: Gustavo Lessa Batista Gustavo Santana Ferreira Professores: Dr. Paulo R. Margotto Dra. Sueli Falcão Data:15/04/2005 História Clínica Data:31/03/05 Identificação: WCLJ, sexo masculino, 1 ano e 12 dias de vida, cor parda natural e procedente de C. Ocidental Queixa Principal: A mãe relata paralisia do lado direito do corpo e desvio do labial para o lado esquerdo há 7 Dias. História Clínica HDA: A mãe relata que há 4 semanas a criança apresentou um quadro convulsivo(não procurou atendimento médico), sendo que há 1 semana o paciente iniciou um quadro súbito de hemiplegia direita e desvio da comissura labial à esquerda 1 hora após vacinação em centro de saúde (DPT). Associavam-se ao quadro letargia, sonolência, irritabilidade, dificuldade de deglutição de alimentos sólidos, afasia, déficit cognitivo. História Clínica Não apresentou febre ou outro episódio convulsivo. Procurou o centro de saúde p/ atendimento e foram solicitados HC, EEG, e CT de crânio. Foi orientada a manter a criança em observação durante 24hrs. No dia seguinte, não tendo melhora do quadro, procurou novamente o atendimento médico sendo encaminhada para o HRAS. História Clínica Antecedentes Pessoais: Parto normal, a termo , peso ao nascer:3500g, amamentação exclusiva até os 6 meses, desmame aos 8 meses, calendário vacinal em dia, DNPM: – – – – – – – sustentação cervical: 02 meses Rolar: 04 meses Sorriso: 04 meses Sentar: 06 meses Engatinhar: 07 meses Deambular: 09 meses Falar: 08 meses História Clínica Nega internações prévias, alergia medicamentosa e intolerância alimentar. Antecedentes Familiares: Mãe G6 P4 A2, fez pré-natal (6 consultas), hipertensa, Avó materna diabética , anemia falciforme (primo), caso de neoplasia em família. Exame Físico Paciente REG, consciente, eupneico, normocorado, hidratado, acianótico, anictérico, afebril. Peso: 8960g; Estatura: 70 cm; FC: 100 bpm; FR: 30 irpm Ectoscopia: presença de vesículas em resolução em tronco em membros. Pulmonar: MVF, ausência de ruídos estertores Cardiovascular: RCR, em 2 tempos, BNF, ausência de sopros. Exame Físico Abdômen: globoso, flácido, RHA +, timpânico, ausência de visceromegalia. Extremidades: s/ edemas e bem perfundidas. SNC: hemiparesia completa à direita e em face à esquerda, reflexos tendinosos profundos presentes, reflexo fotomotor e consensual presentes. Hipótese diagnostica: AVE(i) Conduta: prescrito Paracetamol (SOS) Exames complementares Hemograma (30/03/05): Ht: 31,3%; Hg: 10,4 g/dl; Hm: 3.960.000; Leu: 8.800 (seg: 39%, bas: 0%, linf: 48%, mono: 6%, eos:7%); plaq: 305.000. VHS: 10 mm na 1ª hora. Bioquímica: GL: 111 mg%; Ca: 10,2 mmol/l; TGO: 30 U/l; TGP: 14 U/l; Na: 137 mEq/l; K: 5,1 mEq/l; Cl: 108 mEq/l TC de crânio (30/03/05): Hipodensidade em território da ACM esquerda sugestiva de AVC(i) Hipótese Diagnóstica AVC (i) Possíveis etiologias: anemia falciforme(?), trombofilia(?), vasculite(?), malformação vascular(?) , cardiopatia(?). Evolução Paciente evoluiu com melhora progressiva do quadro apresentando comissura. neurológico, um discreto atualmente desvio da Foto lábio Evolução Foi diagnosticado no dia 02/04/05 escabiose, sendo, na ocasião, prescrito benzoato de benzila. Foi solicitado HC + eletroforese de Hb + teste da mancha p/ investigação diagnóstica de anemia falciforme (02/04). O resultado foi obtido dia 04/04 sendo detectada Hb A1 pela eletroforese, HC normal e teste da mancha negativo. Evolução Paciente apresentou picos febris de até 39˚C (do dia 04/04 até dia 07/04), tosse (04,05 e 09/04) e coriza clara (04 e 05/04) , sugerindo o quadro de IVAS (?). Evolução Dia 07/04 foi solicitado um HC + EAS + PCR (investigação de quadro infeccioso- possível causa da febre). Resultado do HC: Ht: 32,9%; Hb: 10,8 g/dl; Hm: 4.200.000; Leu: 6700 ( linf: 41,5 %; seg: 52 %; bast: 0 %; mon: 4 %; eos: 1 %); plaq:243000. Resultado do EAS: densidade: 1020; pH: 5.5; cel: 6 a 8 p/ campo; leu: 2 a 3 p/ campo; muco (+/++++); flora: escassa. Evolução Ecodoppler de carótida solicitado dia 06/04 (investigação de tromboembolismo, vasculite e malformações vasculares). Resultado(11/04): normal Ecocardiograma solicitado dia 07/04 (investigação de cardiopatia). Resultado (11/04): Situs solitus, concordância AV e VA, câmaras cardíacas de dimensões normais, sem fluxos transvalvares. Não foram visualizadas vegetações, trombos ou aneurismas. Conclusão: normal. Foto Ecocardio Acidente Vascular Cerebral (AVC) Lesão neurológica funcional que ocorre devido a distúrbios arteriais ou venosos de doenças vasculares. Causa de déficit neurológico súbito Do ponto de vista clínico, existem 3 categorias principais: • Trombose, • Embolia, • Hemorragia, diferenciado. cada qual com manejo AVC Do ponto de vista fisiopatológico, são considerados 2 processos: • Hipóxia, isquemia e infarto resultantes de comprometimento do suprimento sangüíneo e da oxigenação tecidual do SNC; • Hemorragia devido a ruptura de vasos do SNC. AVC isquêmico Focal: reducão ou cessação do fluxo sangüíneo para uma área localizada do cérebro devido a oclusão trombótica ou embólica de uma artéria calibrosa ou vasculite de arteríolas. Global: redução generalizada da perfusão cerebral por parada cardíaca, choque ou hipotensão grave. Neuropatologia do AVC O infarto cerebral danifica ou destrói todos os elementos teciduais (neurônios, células gliais e vasos sangüíneos). Gradientes osmóticos absorevem líquidos para o tecido necrótico e reações inflamatórias imunes aumentam o efeito de massa. Fatores teciduais podem aumentar e estender a lesão. As manifestações clínicas estão diretamente relacionadas com a topografia da lesão e podem ser bastante variadas. AVC em território de ACM Início abrupto, produz alterações neurológicas como: fraqueza contralateral da face-mão hemiplégica ou sensitivo-motora. Quando afeta o hemisfério dominante tendem a causar afasia, enquanto as que se situam no hemisfério nãodominante tendem a causar estados confusionais, desorientação espacial e diversos graus de indiferença emocional e sensitiva. Possíveis Etiologias Anemia Falciforme (AF): • Defeitos estruturais na cadeia de hemoglobina associados a desoxigenação da molécula, diminuição do pH sangüineo, infecções, estresse, frio, desidratação levam a falcização de hemácias. Tromboses são desencadeadas devido a falcização de grande número de eritrócitos. Fenômenos trombóticos como AVC recorrente podem incidir em qualquer idade. Possíveis Etiologias • Como os testes diagnósticos para AF foram negativos ( eletroforese de hemoglobina – Hb A1, teste da mancha negativo), essa hipótese foi descartada. Possíveis Etiologias Cardiopatias que resultam em isquemia cerebral: • Êmbolos cardíacos: - Murais (pós-infarto do miocárdio) - Atriais - Valvares: sépticos (endocardite); nãosépticos(reumático,aterosclerótico, prolapso mitral, endocardite não bacteriana) - Neoplásicos (mixoma arterial) Possíveis Etiologias • Essas afecções cardíacas foram descartadas pelos exames de ecocardiograma e pela pesquisa do hemograma (infecção). Possíveis Etiologias Trombofilia: • Condição, adquirida ou congênita, que se associa à maior propensão para tromboembolismo arterial ou venoso. Margotto PR. Hemorrragia intraventricular em RN a termo-paulomargotto.com.br Possíveis Etiologias • Hereditária: tendência genética para eventos de tromboembolismo venoso. É causada por defeito ou diminuição de fatores que inibem a coagulação. Exemplos: - Deficiência de Antitrombina (AT); - Deficiência de Proteína C (PC); - Deficiência de Proteína S (PS); - Resistência à Proteína C ativada e fator V Leiden - Mutação G20210A de Protrombina - Hiper-homocisteinemia Margotto PR. Hemorrragia intraventricular em RN a termo-paulomargotto.com.br Possíveis Etiologias • Adquirida: Anormalidades da função endotelial, distúrbios do fluxo sangüíneo e alterações do sangue (Tríade de Virchow). Exemplos: - Anticorpos Antifosfolípides/ Síndrome Antifosfolípide: Condição que se manifesta com episódios de tromboses arteriais e/ou venosas recorrentes, tromboembolismo e/ou abortamentos de repetição associado à evidência laboratorial da presença persistente de anticorpos anticardiolipina e/ou anticoagulante lúpico. Margotto PR. Hemorrragia intraventricular em RN a termo-paulomargotto.com.br Síndrome Antifosfolípide -25 % dos pacientes com trombose venosa não explicada, 37% dos eventos cerebrovasculares, 18% das tromboses coronarianas e 60% das perdas fetais sem causa aparente apresentam anticorpos antifosfolípides. - Pode ser classificada em 1ª ou 2ª. - Embora existam evidências de um papel trombogênico para os anticorpos antifosfolípides não se sabe a relação de causa e efeito. Margotto PR. Hemorrragia intraventricular em RN a termo-paulomargotto.com.br Síndrome Antifosfolípide – Hipótese mais provável: interação dos anticorpos anticardiolipina com a beta 2glicoproteína I, levando a inibição da PC, PS, plaquetas e outros fatores da coagulação e a interação dos anticorpos lúpicos com lipídeos ligados a protrombina, levando a inibição da PC, criando um estado hipercoagulante. Margotto PR. Hemorrragia intraventricular em RN a termo-paulomargotto.com.br Possíveis Etiologias - Doenças Neoplásicas: Muitos pacientes com CA apresentam um processo de CID de baixo grau detectada somente através de alterações laboratoriais. Essas alterações geram uma quebra no equilíbrio coagulação/ fibrinólise, predispondo à coagulação intravascular localizada (trombose ou tromboembolismo) ou à CID clássica. Possíveis Etiologia • Diagnóstico de trombofilia: História clínica de eventos vasoclusivos, HC (doença mieloproliferativa), presença no soro de anticorpos anticardiolipina IgG e/ou IgM com títulos médios ou elevados em um ou mais testes num intervalo maior que que 8 semanas (ELISA), presença plasmática do anticoagulante lúpico em um ou mais testes com no mínimo 8 semanas de intervalo preconizado por ISTH, Possíveis Etiologia • Determinação da AT, PC, OS, Homocisteína, Fator V Lieden, Mutação G20210A da protrombina. • TAP, TPPA, TT auxiliam no diagnóstico e devem ser incluídos na avaliação inicial. Margotto PR. Hemorrragia intraventricular em RN a termo-paulomargotto.com.br Obrigado!