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Socialismo ou morte
Daniel Fonseca
Adital - Referindo-se ao George W. Bush como "Mr. Danger", o Presidente da
Venezuela, Hugo Chávez, não titubeou ao se referir várias vezes ao pensamento
marxista e ao socialismo em sua principal intervenção no VI Fórum Social Mundial
(FSM), realizada na noite desta sexta-feira, 27, no ginásio Poliedro, em Caracas.
Rememorando insígnias universalizadas por pensadores de esquerda, como Karl Marx e
Rosa Luxemburgo, Chávez garantiu que o pensamento socialista permanece vivo,
apesar das tentativas de "matá-lo".
No ponto alto do discurso, o palestrante foi enfático: "socialismo ou morte!",
sentenciou, dizendo não haver outra alternativa senão o fim da civilização humana, que,
segundo ele, poderia ser exterminada em pouco tempo pelos danos causados pelo
capitalismo. Mais ainda, o presidente garantiu que seu governo trabalha para construir o
socialismo a partir de uma convergência contra o "império dos Estados Unidos".
O encontro com Chávez, chamado de "Assembléia Mundial de Movimentos Sociais
com o presidente Hugo Chávez Frias", se prolongou por mais de duas horas - até quase
23h -, mas manteve o espaço relativamente cheio, embora não tenha provocado filas,
empurra-empurra e superlotação, como aconteceu no Gigantinho, em Porto Alegre, no
FSM de 2005. Em vários momentos, o presidente exaltou a existência e manutenção do
Fórum, mas alertou que, se permanecer no formato em que está, o espaço acaba se
tornando um "encontro folclórico-turístico". "Isso seria terrível", previu.
A proposta dele é que seja formado um grande movimento, mundial, com foco no
antiimperialismo. "Não estamos aqui para perder tempo!", instigou. Chávez defendeu
também que seja pensado um modelo "autenticamente socialista", mas que também
respeite a singularidade de cada país, fato que, segundo ele, não ocorreu na União
Soviética, o que acabou levando ao fracasso da experiência no Leste Europeu. O debate
promete ocupar espaço este ano, sobretudo com as divergências sobre o caráter do
encontro que têm surgido entre os membros do comitê que organiza o Fórum
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anualmente.
Para Chávez, "Mr. Danger" fala de democracia, mas nenhum império, em 100 séculos
de história humana, fez dessa forma. Mas, ao contrário, assumia sua posição
imperialista. O império romano, disse o presidente para exemplificação, não falava de
democracia, nem de direitos humanos. O caso dos "Cinco de Miami", cubanos que estão
presos nos Estados Unidos acusados de espionagem, foi citado por Hugo Chávez como
exemplo de "falta de respeito" aos direitos humanos e às leis existentes. Os chamados
"prisioneiros do império" estão detidos desde 1998 e têm sido privados de alguns
direitos garantidos pela própria constituição dos EUA, como a visita de esposas e filhos.
"Por mais dinheiro e tecnologia que tenham, não vão poder conosco", instigou,
recebendo aplausos efusivos do público presente ao ginásio. Chávez também mandou
avisos diretos aos Estados Unidos: segundo ele, na próxima vez em que o governo
"imperialista" enviar algum militar para pegar informações das forças armadas
venezuelanas, todos vão ser presos. O presidente disse haver descoberto alguns espiões,
que foram "apenas" extraditados. Como contraponto, chamou os estadunidenses a se
voltarem contra o governo Bush, pois, segundo Chávez, o "gigante que está dormindo"
dentro do povo dos EUA deve ser acordado para se aliar aos movimentos sociais do
mundo todo.
Hugo Chávez não teve dúvida em unir todos os presidentes "de esquerda" num só
campo, ao contrário do que tem sido a prática de alguns setores da imprensa mundial e
de parte dos próprios movimentos sociais da América Latina. Ele acredita que Luiz
Inácio Lula da Silva, do Brasil, Nestor Kirchner (Argentina), Ricardo Lagos (Chile) e,
agora, Evo Morales (Bolívia), estão no mesmo campo, embora, segundo ele, "cada um
nas suas circunstâncias, mas no mesmo caminho".
A fala de Chávez foi uma resposta a algumas críticas que estão sendo direcionadas a
governos "progressistas" da América do Sul, como o de Lula. Para Chávez, a imprensa
está trabalhando para a divisão dos presidentes de esquerda, prejudicando
principalmente sua imagem e a de Fidel Castro, de Cuba. Parte da delegação brasileira
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chiou bastante nos momentos em que o venezuelano se referia ao presidente brasileiro.
Líder da chamada "revolução bolivariana", o Presidente da Venezuela lembrou, como
faz incansavelmente, a Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA), um programa
de colaboração com Cuba, que se tornou o principal projeto desenvolvido por seu
governo para a integração da América Latina e Caribe. Segundo o anfitrião do Fórum
Social Mundial, a recuperação do petróleo de seu país é o principal motivo de
"desespero de "Mr. Danger". "[O petróleo] agora é do povo e vai servir para o
desenvolvimento da América do Sul", sentenciou, sob novos aplausos.
Eram quase 23h, e os chavistas do mundo todo deixavam o Poliedro cantarolando em
apoio ao presidente, enquanto os setores conservadores se estremeciam em suas
residências, devido à presença dos que eles chamam de "comunistas com pacotes
turísticos bancados pelo governo". E a oposição de esquerda provavelmente alfinetava o
governo no Fórum Alternativo ou em reuniões que acontecem aos milhares em Caracas.
* Jornalista cearense participante do VI FSM
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