EXCLUSIVO: PRIVATE EQUITY PODE SER SOLUÇÃO PARA EMPRESAS DIANTE
DE MERCADO DE CAPITAIS FRACO
São Paulo, 06/03/2014 - Os fundos de private equity devem ser vistos este ano como solução
para algumas empresas que precisam de capital e não tem perspectiva de captar no mercado
de ações ou de crédito. Nesse grupo, estão aquelas menos interessadas em agregar um sócio
ao seu controle e que resistiam ao assédio dos fundos, acreditando na recuperação do
mercado
acionário, ou empresas alavancadas, que não conseguem acesso ao crédito privado. Sem uma
janela de oportunidade visível no curto ou médio prazo no mercado de capitais, os fundos
devem
ganhar espaço e ir às compras em um ritmo mais acelerado.
"O mercado de capitais não é alternativa para a maioria das empresas", disse Walter Piacsek,
sócio do Apax Partners, que lidera os investimentos do fundo americano de private equity no
Brasil e na América Latina. Segundo Piacsek a conversa dos fundos com as empresas têm
aumentado, "já que ninguém garante quando o mercado de capitais estará melhor".
"Nos últimos anos, houve disputa entre a opção pelo IPO e o private. Como os múltiplos para
os
IPOs tendem a ser, de certa maneira, maiores do que os de private ou do investidor
estratégico,
as empresas ficavam inclinadas a aguardar uma boa janela no mercado de ações", disse o sócio
da advocacia Souza Cescon, Barrieu & Flesch, Joaquim Oliveira. O advogado diz que essa
situação mudou
desde o final do ano passado e que o número de fechamentos de operações está crescendo.
"Com dois anos seguidos sem a alternativa de bolsa e, na outra ponta, a desvalorização do real
frente ao dólar favorecendo o interesse dos fundos de private equity, operações que
começaram
a ser negociadas em 2012 estão sendo fechadas", explica.
Essa é mesma percepção de Piacsek, da Apax. Segundo ele, o momento une dois pontos que
devem impulsionar a ação dos fundos de private equity. No momento, grande parte deles está
captado e, na outra ponta, as variações dos múltiplos das empresas já cederam. "Aquele
exagero das avaliações não existe mais. Não é que o Brasil esteja barato, mas os preços estão
mais razoáveis", disse. A Apex, que abriu seu escritório no Brasil no fim do ano passado,
pretende investir no País e em outros mercados emergentes uma parte dos US$ 8 bilhões do
seu
fundo global, Apax VIII, aberto em 2012. No Brasil, o fundo adquiriu em 2010 a empresa de TI
Tivit.
O advogado Marcelo Godke Veiga, do Godke Silva & Rocha, acredita que as companhias
"tomaram um choque de realidade", diante do encolhimento do mercado de capitais,
principalmente neste ano. "Para se fazer um IPO, o mercado está muito mais seletivo", disse.
No
entanto, apesar da percepção de que o momento é favorável para os fundos assumirem uma
posição de destaque em termos de financiamento do crescimento de companhias, ele diz que
ainda existe um descompasso muito grande em relação aos preços. "O fundo leva em
consideração a geração de caixa da empresa e existe um desencontro de expectativas entre os
dois lados", destacou.
Entrave
Além da questão dos múltiplos, a falta de empresas preparadas para a entrada dos fundos de
private equity é outro limite à indústria apontado pelo sócio da consultoria especializada em
gestão e estruturação de empresas Heartman-House, Diego Báez. Segundo ele, existem muitos
fundos de perfil fundamentalista - que investem por prazo de 10 a 15 anos e visam dividendos
-e
que buscam empresas com faturamento de R$ 100 milhões a R$ 500 milhões - com volumes
expressivos de recursos disponíveis em busca de companhias para investir.
"Os fundos estão com dólares parados e há uma pressão muito forte para investirem os
recursos", disse. "O problema é que não encontram companhias nesse perfil preparadas para
o
aporte de fundos de private equity, dado a incapacidade que têm de prestar contas e dar
andamento a um plano de negócios", disse. Báez acrescenta que esse não é um fenômeno
exclusivo do Brasil e que, globalmente, os fundos enfrentam a mesma dificuldade em outros
países vistos como promissores.
O presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), Clóvis
Meurer, aponta os setores de infraestrutura, logística, educação, saúde e agronegócios como
os
mais aquecidos e que devem apresentar um maior número de transações neste ano.
Fernando Hormain, da Camargue Capital Markets, cita ainda oportunidades em setores onde
as
empresas não conseguem mais sobreviver isoladamente. Nesse sentido, ele diz que a
Camargue estrutura a participação de um fundo em um grupo de usinas no Estado de São
Paulo
com dificuldades financeiras e que buscou a consultoria para resgatar suas atividades. A ideia é
criar um holding a partir das várias usinas, comprar os créditos inadimplentes que estão com
alguns bancos e, ao mesmo tempo, obter um aporte de dinheiro novo para reorganizar as
operações. Segundo ele, esse grupo de usinas tem R$ 1 bilhão em dívida vencida com
instituições financeiras.
Mesmo que haja indicação de crescimento na atividade este ano na indústria de private
equity,
não se fala em um novo boom. Para isso acontecer, diz Oliveira, do Souza Cescon, Barrieu &
Flesch, "dependerá
a conclusão do processo eleitoral e das impressões do novo mandato com relação a aspectos
como o comportamento da inflação em contrapartida ao déficit público e questões de
segurança
regulatória".
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