De bem com
os dois lados
Fundos de private equity apostam na criação
de comitês de compliance para acomodar
cotistas estrangeiros e nacionais
Por André
36
CAPITAL ABERTO
Março
2013
Rossi
reendedor
Quem aposta nessa ideia é a
Confrapar. Ano passado, ela recebeu um investimento minoritário da francesa Truffle Capital e, em janeiro último, lançou o
fundo AvanTI, que reúne estrangeiros e brasileiros em um comitê de compliance. Hoje, os principais investidores do AvanTI são
grupos de mídia e tecnologia de
França e Brasil, family offices e
fundos de pensão médios nacionais. "Esses investidores não dispõem de equipe para frequentar
reuniões de investimento, por isso preferem procurar fundos com
comitê consultivo", explica Carlos Eduardo Guillaume, CEO da
Confrapar. Durante as conversas
com os estrangeiros para estrutu ração do AvanTI, ele percebeu
que um dos receios desses investidores é ter suas opiniões preteridas por não participar das reuniões do comitê de investimento.
Por isso, a ideia do comitê consultivo agradou.
MENOS CUSTOSO Augusto da Silva Reis, diretor superintendente da Faelba, fundo de pensão com patrimônio de R$ 1,3 bilhão,
é um dos defensores do comitê de compliance.
"Além de trazer mais agilidade para as decisões,
esse modelo nos desonera de realizar estudos
detalhados e complexos para subsidiar a escolha do investimento", afirma. Reis é um dos 30
cotistas que compõem o comitê de compliance do fundo Rio Bravo Energia I - a gestora
dispensou o comitê de investimento. O veículo
acumula R$ 300 milhões de patrimônio e, por
enquanto, conta apenas com investidores brasileiros. No fu tu ro, a ideia é emitir cotas também para os estrangeiros, e por essa razão a
governança do fundo já está adaptada. "Imagine se todos eles tivessem assento e poder de veto num comitê de investimento?", indaga Fábio
Okamoto, sócio-diretor da Rio Bravo e gestor
do fundo. "Seria uma grande dificuldade administrar interesses não necessariamente alinhados", completa.
Em 2012, em entrevista à CAPITAL ABERTO,
Nelson Rozental, sócio da BRZ Investimentos,
também apontou o comitê de compliance - ou
de enquadramento,
como ele prefere chamar
- como uma saída para acomodar investidores daqui e de fora. Atualmente, a captação da
BRZ é voltada para o investidor nacional, mas
o projeto é lançar um fundo que também abrigue estrangeiros. Na ocasião, Rozentallembrou
que a falta de confiança nos gestores não é o
único motivo para os grandes fundos de pensão locais fazerem tanta questão do comitê de
investimento: "Participando ou não do comitê,
eles respondem pelas decisões do fundo perante a Superintendência Nacional de Previdência
Complementar".
Consultada pela reportagem, a fundação dos
funcionários do Banco do Brasil (Previ) reco-
38
CAPITAL ABERTO
Março
2013
capital empreendedor
omitê de compliance, enquadramento, consultivo. Os nomes são variados, mas
a sua função é a mesma: substituir o tradicional comitê de investimento dos
fundos de private equity brasileiros. Composto de gestores e cotistas, o último nasceu décadas atrás por exigência dos fundos de pensão, importantes investidores institucionais. Em troca de entregar seus recursos, eles demandavam participação nas decisões de investimento do fundo como uma maneira de se precaver, dada a
falta de histórico da indústria de private equity no Brasil. Na época, os gestores não
hesitaram. Criaram os comitês para ter acesso a uma lasquinha do enorme patrimônio administrado pelas fundações. De uns tempos para cá, porém, eles vêm revendo
essa posição. Até porque adotar comitê de investimento significa abrir mão do dinheiro do investidor estrangeiro.
Nos Estados Unidos e na Europa, a figura do comitê de investimento não existe.
Presume-se que o gestor tem autonomia e capacitação suficientes para, sozinho, decidir em quais ativos investir. Além disso, participar com o gestor das decisões de
investimento significa ser responsabilizado
por eventuais prejuízos causados aos
cotistas - uma responsabilidade
que o estrangeiro não quer ter. Foi para resolver
o impasse de como acomodar os investidores de fora com as fundações num mesmo veículo que surgiram os comitês de compliance.
Em linhas gerais, a diferença entre os dois modelos é operacional. Enquanto no
comitê de investimento os cotistas participam ativamente das decisões de alocação
dos recursos, no de compliance eles apenas supervisionam a atividade do gestor.
É um monitoramento contínuo, que pode virar um pronunciamento
formal caso algum investimento não atenda ao que está previsto no regulamento do fundo, como,
por exemplo, especificidades
de risco e retorno prometidas aos cotistas. Mas esse comitê não é chamado para deliberar sobre uma oportunidade de investimento.
C
reendedor
nhece a alternativa dos comitês
de compliance como uma tendência, mas afirma que su a adesão a
esse formato levará alguns anos.
"Precisamos ter mais segurança",
ressalta Fernanda Ossaille, gerente executiva de investimentos estratégicos da Previ. "Quando tivermos mais gestores completando ciclos de investimentos, chegaremos a um ponto em que o comitê será dispensável ", avalia. Enquanto esse momento não chega, a
Previ prefere decidir em parceria
com os gestores em quais ativos o
fundo vai investir. Hoje, a fundação não participa de nenhum fundo sem comitê de investimento. A mesma política é seguida pelo fundo de
pensão da Caixa Econômica Federal (Funcef).
"Precisamos criar uma nova relação de confiança entre gestores e cot is tas", explica o gerente de participações da Funcef, Humberto Pires.
Para Renata Guinther, chefe da área de investimentos da Financiadora de Estudos e Projetos (Fi ncp), a pujança do private equity no
Brasil nos últimos anos trouxe gestores com
pouca experiência para a indústria, gerando receios. "Se uma pessoa de 50 e outra de 15 pedissem seu carro emprestado, para quem você emprestaria?", indaga Clóvis Meurer, presidente da
Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap). "Para a pessoa de 50, óbvio, que aprendeu o certo e o errado", acrescenta. Apesar de enxergar com naturalidade a precaução dos investidores, Meurer acredita que a
substituição dos comitês de investimento pelos
de compliance é apenas uma questão de tempo.
uma tese de mestrado da Escola de
Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), produzida por Fábio Massao Inocima, comparou o modelo norte-americano
de fundos de private equity, sem comitê de investimento, com o brasileiro, para descobrir o mais eficaz.
Quem ganhou essa briga, por mais
inusitado que pareça, foi o modelo
brasileiro. A explicação é que o comitê de investimento aumenta o nível de governança do fundo, diminuindo a assimetria de informação
entre cotista e gestor, e incrementa
a qualidade do investimento. A presença dos cotistas na decisão atenua a possibilidade de o gestor pagar preços altos por um ativo ou investir em
empresas de baixa qualidade.
Para que esse resultado se verifique, porém,
o autor alerta que o comitê precisa ser constituído por cotistas com qualificação igualou superior à do gestor e com o mesmo tempo livre
que ele para analisar os investimentos - aspecto fundamental para não atravancar as decisões do fundo. Caso não seja possível reu n ir
essas características,
o comitê de compliance pode, então, se tornar a melhor opção: "Nesse caso, dar liberdade para o gestor e apenas
monitorar o processo de investimento deixaria
o fundo mais eficiente", conclui Cláudio Furtado, professor da FGV e fundador do Centro
de Estudos em Private Equity e Venture Capital (GVCepe). A principal novidade do estudo, de
qualquer modo, foi mostrar que o comitê de investimentos tem potencial para ser uma invenção menos infeliz do que muitos acreditam. ri'
SEM? Mas será que abolir os comitês de
investimento é mesmo uma boa ideia? Em 2010,
I
MELHOR
PP&C
Audrt
I
Tax
I
Advis o ry
'2'!;!"!\iil@t"@III'
Governanço, ciavancaqem e ciclicolidode: a eficiência do
modelo brasileiro de private equity em www.capitalaberto.com.br
Leia o estudo
- --:;-
Local expertise, global
Consistent
quality and service
excellence for any business
Download

os dois lados