Tendências do Mercado de Logística.
Tratar deste tema no DHL On Time, atendendo ao gentil convite da Fabíola Tommazi Silveira,
me remete a dois eventos separados por 15 anos, de minha trajetória profissional. Em 1993
atuava como um dos sócios e diretor da Translor, transportadora muito engajada no setor
automotivo. Pioneira e inovadora e já envolvida com projetos logísticos, neste ano a empresa
foi procurada pela direção de logística da Autolatina (maior montadora na época no Brasil) que
de forma direta, assim sintetizou seu desafio:
“Precisamos, no menor prazo possível, terceirizar parte de nossas operações de CKD¹ e,
analisadas todas as possibilidades no mercado, a conclusão foi que não há nenhum operador
logístico no Brasil com experiência e prática para atender a este desafio. Daí, a idéia de
encontrar uma empresa que possa se desenvolver como fornecedora nesta área.”
Assim foi feito. A Translor associou-se a uma empresa norte americana especializada em
logistica de CKD e em um ano aproximadamente, com o espaço de 45.000m² de área coberta,
operações 24 hs/dia, com 750 funcionários expedia algo como 70.000 m³/mês de peças e
componentes embalados. Um desafio logístico enorme: projetar embalagens, embalar
centenas de componentes e consolidar cargas - de parafusos a motores completos, parabrisas,
tetos, painéis, etc – garantindo a operação diária de fábricas de diferentes paises.
Agora em 2008, num dos programas do LOGICON² voltado para desenvolvimento gerencial na
área de operadores logísticos, estamos entrevistando Presidentes e Dirigentes dos principais
operadores logísticos do Brasil.
O que se depreende destes eventos neste relativamente, curto espaço de tempo?
Em 1993, a maior montadora de automóveis da época, sequer encontrava um único operador
preparado para atendê-la. Em 2008, estas entrevistas (numa amostra de 20 operadores)
envolvem operadores logísticos nacionais de porte considerável e alguns dos maiores
operadores mundiais, vários deles que aqui chegaram neste período de tempo. Tais
operadores oferecem uma ampla e diversificada gama de serviços logísticos especializados
para os mais variados setores de negócios.
O que temos ouvido, em essência, dos dirigentes entrevistados é que os negócios vêm
crescendo a uma impressionante taxa de cerca de 30% ao ano – empresas dobrando de
tamanho em três anos – e, além disso, com muitas associações, aquisições e fusões
ocorrendo, com operações cada vez mais amplas e complexas sendo terceirizadas.
E mais: a expectativa de crescimento para os próximos anos é igual ou maior!!!
Ora, por qualquer ângulo que se queira examinar é IMPRESSIONANTE. Tabus estão sendo
rompidos. O mercado se sofistica. Cresce de forma muito acentuada. Parcerias e alianças de
médio/longo prazo entre embarcadores e operadores são cada vez mais freqüentes. E por
quê? Basicamente estas tendências estão ai, por que:
•
Empresas têm que colocar toda sua energia no “core-business” e há uma oferta efetiva
– que surgiu neste curto espaço de tempo- de capacitações e serviços de logistica;
•
As vantagens operacionais (flexibilidade, qualidade, melhoria de níveis de serviço, etc)
da terceirização, quando bem planejada, contratada e operada, começam a ficar
evidentes. As vantagens de custos e econômicas, no mínimo pela variabilização de
custos fixos e pela otimização de investimentos em ativos logísticos, demonstram seu
potencial de agregação de valor econômico.
Outros tantos aspectos que poderiam ser citados como globalização, intensificação do
comércio, etc, reforçam estas tendências de mercado: crescimento, sofisticação e
complexidade das terceirizações, diversificação na oferta de serviços, qualificação e
competição entre operadores, etc.
E qual é - quase num consenso total – o maior desafio visto pelos Presidentes dos
Operadores?
Não é – embora sempre citado – o desafio de conviver com as deficiências de infra-estrutura,
burocráticas e tributárias brasileiras.
O maior desafio apontado é o desenvolvimento de Profissionais de Logística, com qualificação
técnica, mas também com preparo e sensibilidade para entender o impacto das soluções de
“supply chain” e logistica nos negócios, em termos de competitividade, custos, agregação de
valor econômico, etc.
Sergio Rodrigues Bio - Professor da FEA – USP
Diretor do LOGICON – Centro de Pesquisas em Logística Integrada a Controladoria e Negócios.
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¹ CKD – Completely Knocked Down- processo de recebimento, embalamento e .exportação de todos os tipos de
componentes e peças automotivos.
² LOGICON – Centro de Pesquisas em Logística Integrada à Controladoria e Negócios; Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da USP (FEA – USP)
Meu mini CV é o seguinte:
- Administrador (PUC-SP), Mestre e Doutor pela FEA-USP.
- Carreira executiva (Cesp, Eluma etc.) e como empresário. Sócio Diretor da Translor (87/93).
Diretor Presidente e Presidente do Conselho da JIT – Sistemas e Equipamentos de Logística
(93/2003).
- Professor da FEA-USP. Diretor do LOGICON.
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