3 Ricardo Pinto ELOGIO Um casal de velhinhos passeava pela antiga fazenda que lhes pertencia. De repente, a velhinha olha para uma antiga cerca e fala de quando eles faziam amor encostados nela. O velhinho, já empolgado, convence a mulher de relembrar o passado. Ela concorda. Eles vão para a cerca e mandam ver. A velhinha pula como se fosse um touro bravo sendo montada num rodeio. Em pouco tempo o velhinho atinge o clímax. Extasiado e ofegante, ele elogia sua mulher: - Nossa, Amor! Quando fazíamos isso antes não era tão bom como foi agora. A esposa, descabelada e quase sem ar, responde: - Claro, querido! Naquele tempo não existia cerca elétrica. Independentemente do motivo que nos faz receber um elogio sincero, como o que a velhinha recebeu, ele sempre nos satisfaz. Afinal, todo ser humano busca e precisa de reconhecimento. E o elogio é uma das maneiras mais eficientes de se reconhecer um bom desempenho. Muitos líderes e executivos das empresas não têm a real noção do poder de motivação que possui um simples elogio. A palavra motivação define o impulso interno que nos leva à ação. Como se trata de algo interno ao ser humano, ninguém consegue motivar o outro, mas podemos oferecer estímulos que possam despertar a motivação do outro. Neste aspecto, um elogio não só fortalece a autoestima do elogiado, como também estimula sua motivação. Há diversos especialistas em neurologia que apontam que o reforço positivo funciona melhor do que a punição no processo de educar as pessoas. Eles baseiam-se no fato 4 4 de que a dopamina, libertada pelo cérebro nos momentos de satisfação, é um elemento químico poderoso. Logo, o elogio dá lucro, e muito. Além de não custar nada e exigir pouco esforço, um elogio atende à necessidade de todas as pessoas por reconhecimento e estima de suas capacidades individuais. Mas, para ter alta efetividade, o elogio a um profissional deve seguir algumas regras básicas. A primeira regra é: o melhor elogio é aquele realizado em forma de cumprimento pessoal “olho no olho”. Elogiando desta maneira, demonstramos respeito e geramos uma atmosfera de pessoalidade. Já a segunda regra estipula: elogie o quanto antes após o ato digno de nota. Cada ação, atitude ou resultado merecedor de elogio deve recebê-lo o mais rápido possível, visando a que se repita mais vezes. Em terceiro lugar, lembramos: todo elogio deve conter o nome do elogiado, o fato merecedor do elogio e uma apreciação sincera do desempenho digno do elogio. Não faça elogios genéricos. Em seguida, vai um alerta: cuidado com o que for falar após o elogio. Por exemplo, mandar um elogiado voltar ao trabalho logo após elogiá-lo pode diminuir o efeito do elogio. Além disso, fazer uma crítica após ter feito um elogio na realidade não é um elogio. Por último, segue uma regra fundamental: elogie em público. O elogio compartilhado com os demais colegas de equipe possui ainda mais força. Ele não só estimula o elogiado, mas mostra aos demais colegas o que a empresa espera de cada um deles. Vamos elogiar mais? Índice “Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes.” Carlos Drummond de Andrade “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” Albert Einstein Especial 6 O efeito dominó da crise sobre o setor Fórum 14 Daqui para a frente, a crise do setor sucroenergético irá melhorar ou ainda pode piorar mais? Tecnologia Agrícola 16 Reinventando o plantio de cana 24 Perdas na operação de colheita mecanizada 28 Os olhos biônicos do agricultor 36 Centrifugação em açúcar e etanol 40 Bombas por toda parte 48 Como ter qualidade em projetos de engenharia para o setor sucroenergético Gestão 50 Eucalipto: Uma oportunidade de aumento de rentabilidade Por dentro da usina 54 Dicas e novidades 56 Panorama Global 57 Atualidades Jurídicas 58 Aspas 60 Entrevista 62 Executivo 66 Dropes 70 “O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade. O otimista vê oportunidade em cada dificuldade.” Winston Churchill “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.” Dalai Lama Tecnologia Industrial edição 163 Ano 13 Setembro de 2014 Diretor Geral Ricardo Pinto [email protected] Editora Diana Nascimento Jornalista Responsável Mtb 30.867 [email protected] Diretora Financeira Patrícia Nogueira Díaz Alves [email protected] Diretores Egyno Trento Filho [email protected] Antonio Zatonni Afférri [email protected] Gerente Comercial Paula Menta [email protected] fone: (82) 9349-7509, (82) 82170497, (82) 3024-3883, (16) 9 8127-0497 Gerente de Marketing Marlei Euripa [email protected] fone: (16) 9 9191-6824, 9 81270984, 3237-4249 Executivo de Contas Julio Jacob [email protected] fone: (82) 9349-7509, (82) 8879-5880, (82) 3024-3883, (16) 9 8127-0497 Redação Diana Nascimento [email protected] Natália Cherubin [email protected] Fotografia Mikeli Silva Rogério Pinto Projeto Gráfico Rogério Pinto fone: 11 5686-9044 [email protected] Diagramação Fernando Almeida [email protected] Administração Camila Garbino [email protected] Filipe Custódio [email protected] Ana Carolina Ledo [email protected] Departamento de Marketing Mikeli Silva [email protected] RPANews é lida mensalmente por aproximadamente 35.000 executivos, profissionais e empresários ligados à agroindústria da cana-de-açúcar do Brasil. 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Matérias não solicitadas, fotografias e artes não serão devolvidas. É autorizada a reprodução das matérias, desde que citada a fonte CTP e Impressão Gráfica Mundo ISSN 1679-5288 RPA Consultoria (16) 3237-4249 Revista RPANews (16) 3602-0900 Fax RPA Consultoria e Revista RPANews (16) 3602-0901 Rua Casemiro de Abreu, 950, Vila Seixas, Ribeirão Preto, SP, CEP 14020-193 www.revistarpanews.com.br Executivo expatriado 5 especial “Oito usinas fecharam em Minas Gerais”, “Produção de etanol no Mato Grosso deve reduzir 5,5%”, “Cidade que vive da cana sente efeitos de crise no setor”, “Subsídio a gasolina é um dos desafios para as usinas”, “Em seis anos cana perde 300 mil empregos”, “Produção de cana 2% menor em Minas Gerais”. Essas são apenas algumas matérias divulgadas nos jornais Brasil afora que mostram que a crise do setor sucroenergético é assunto nacional, quiça internacional. Os efeitos da crise começaram a serem sentidos em 2009 e, de lá para cá, só fazem aumentar. De acordo com José Darciso Rui, diretor executivo do Gerhai (Grupo de Estudos em Recursos Humanos na Agroindústria), o setor emprega atualmente cerca de 1 milhão de trabalhadores diretos e mais 2,5 milhões de trabalhadores indiretos contando toda a cadeia produtiva (empresas que prestam serviços para o setor, fabricantes de equipamentos, máquinas agrícolas etc). Segundo ele, é difícil precisar quantos postos de trabalho foram ceifados nos últimos anos. “Sabemos que tínhamos 434 unidades produtoras e foram fechadas 48 nos últimos anos. Isso deve acarretar uma perda de 100 mil empregos diretos e mais uns 200 mil in- 6 diretos”, contabiliza. Destes 100 mil diretos, Rui considera que 85 mil são da área agrícola, 15 mil são da indústria e 5 mil são da área administrativa. “Dos indiretos, a grande maioria é de prestadores de serviços de manutenção e de fabricantes de equipamentos”, diz. O diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), Antônio de Pádua Rodrigues, afirma que o número de vagas fechadas depende do índice de colheita e plantio de cada unidade. “Hoje, as melhores empresas possuem 0,5 empregos para cada 1 mil t/cana. Nas regiões Norte e Nordeste, que não tem colheita mecanizada por causa da declividade, a média é de três empregos para cada 1 mil t/cana”, enumera. Como nas regiões Norte e Nordeste a produtividade é de 65 milhões de t, a média é de 200 mil empregos diretos. Já no Centro-Sul a média é de 600 mil empregos diretos. O setor emprega, diretamente, 800 mil empregos. Pádua ainda lembra que na época do Proálcool, quando ainda não tínhamos o avanço tecnológico no campo e na indústria, e a mecanização, o índice era de 3 empregos para cada 1 mil t de cana. “Se isso não tivesse acontecido, teríamos um contingente no setor de mais de 2 milhões de empregos diretos”, vislumbra. Ele também diz que o número de demissões ocorridas ultimamente no setor não trouxe impacto na atividade, pois a cana das unidades que fecharam foi moída em outras unidades. “Não houve impacto na atividade agrícola porque a cana foi moída em outra unidade. Todo o ano, com o avanço da colheita e plantio mecanizado perde-se em mão de obra não qualificada e investe-se em mão de obra qualificada. O maior peso da redução de mão de obra no setor deu-se devido à mecanização, mas a crise também pesou, fora a quebra de produtividade de 15% no Estado de São Paulo”, cita. No entanto, Pádua admite que a falta de preço e a quebra de safra por condição climática afetaram as usinas. “A crise levou as usinas a reduzirem onde foi possível. O último foi na mão de obra, pois antes disso a usina deixou de reformar a indústria, trocar a frota, fazer os investimentos necessários à atividade. Tudo isso para resistir a crise e se manter na atividade.” Para o diretor técnico, as demissões não podem ser vistas apenas como impacto, pois são parte de uma solução dentro do contexto do setor. “As empresas investem em plantio, aumento da produtividade agrícola, entre outros. Algumas possuem capacidade financeira de investir em máquinas e equipamentos em um cenário sem preço e com quebra agrícola. As unidades que não possuem capacidade de investir sofrerão maior impacto, e com isso terão que reduzir o contingente de mão de obra e de área”, esclarece. QUEDA BRUSCA Marcos Fava Neves, professor titular de Planejamento Estratégico e Cadeias Alimentares da FEA-RP/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo) menciona que o número de trabalhadores no ano de 2013 foi de 613.235. “Se considerarmos os empregos sazonais, esse número sobe para 988.256”, conta. Esses números englobam o cultivo de cana-de-açúcar e a fabricação de açúcar e etanol. Mas para se ter uma ideia, no ano de 2008, o número de empregos no setor, considerando os sazonais, era 1.283.258. “Como temos muitos cargos de trabalho sazonais no setor, costumamos não falar em dispensas, mas sim em saldo de empregos. Podemos dizer que, no total, o saldo de empregos entre os anos de 2008 e 2013 foi negativo, conta- SALDO NEGATIVO O saldo de empregos no setor entre os anos de 2008 e 2013 foi negativo, contabilizando -295.002 cargos de trabalho. Na área agrícola, a redução foi de -198.015, ou seja, uma redução de mais de 40% enquanto que na área industrial o saldo de empregos ficou em -96.987, o que representa redução de 12% se considerados os anos de 2008 e 2013. Rui: “O Brasil é uma fonte inesgotável de energia renovável, porém o pré-sal e Belo Monte são mais importantes na visão dos atuais governantes.” bilizando -295.002 cargos de trabalho. Na área agrícola, a redução foi de -198.015, ou seja, uma redução de mais de 40% enquanto que na área industrial o saldo de empregos ficou em -96.987, o que representa redução de 12% se considerados os anos de 2008 e 2013”, afirma Fava Neves. A média salarial destes trabalhadores na região Centro-Sul, em 2013, foi de US$ 481 e na Norte-Nordeste de US$ 374. A média nacional ficou em US$ 446, o que resultou em uma massa salarial de US$ 4,13 bilhões. Como as demissões foram oriundas, na grande maioria, do fechamento de unidades industriais, foram demitidos funcionários de todos os tipos. ”No atual cenário brasileiro, a disponibilidade de mão de obra capacitada está escassa, ou seja, as organizações privadas realizam investimentos para capacitar seus funcionários. As demissões representam uma perda de investimentos, uma vez que todo o trabalho feito para adequar o trabalhador às necessidades da organização é perdido”, salienta Fava Neves. Rui lembra que boa parte dos trabalhadores dispensados eram qualificados, como mecânicos, operadores de máquinas, motoristas, montadores, destiladores, cozedores e, outros tantos eram rurais que laboravam na colheita de cana. O Grupo Aralco, em suas quatro unidades (Usina Aralco, Usina Figueira, Destilaria Generalco e Usina Alcoazul), possui 1.939 funcionários. Antes das demissões, as quatro usinas somavam 4.154, comparado com o mesmo período do ano passado. “Ao todo, desde o início da reestruturação empresarial, foram dispensados 2.215, sendo 110 da área administrativa, 1.908 da área agrícola e 197 da área industrial”, conta o porta-voz do Grupo Aralco e consultor diretor da DSCV Assessoria e Gestão, José Carlos Escobar. Ele diz que a média salarial base desses colaboradores era de R$ 1.300 e aproximadamente 930 colaboradores tinham qualificação. “Com a crise que assola o setor, tivemos que deixar de lado algumas atividades que perderam espaços com a realidade atual. Procuramos o equilíbrio de custo e volume para nos adequar às nossas atividades e conseguir um desempenho de acordo com a produção”, afirma Escobar. IMPACTOS Os impactos destas demissões são consideráveis. Cidades que dependiam ou dependem da geração de renda e impostos das 7 unidades produtoras viram suas receitas desabarem de um ano para outro. Exemplo disso foram os fechamentos recentes de unidades como Cia. Florida (ex-Floralco), Usina Dracena, Albertina, Aralco (uma das unidades), Usina Bertolo (Pirangi), Santa Helena (Goiás), Grupo João Lyra (Nordeste e Minas Gerais), Grupo José Pessoa (MS, SP) e tantas outras. Em cidades com foco no agronegócio como Sertãozinho, há uma situação um tanto calamitosa em razão das demissões de empregados do setor metalúrgico e de serviços. As usinas sentiram o baque. “Diretamente impactou na redução do plano de benefícios, no crescimento do potencial que as quatro usinas têm, reduzindo, assim, as oportunidades de contratar e capacitar mais pessoas dos 25 municípios em que atuamos. Indiretamente paralisou o desenvolvimento e a renda destes municípios”, cita Escobar. “As demissões são uma consequência da crise do setor e do fechamento de usinas. O maior impacto delas é o fato de que atualmente está difícil capacitar e reter mão de obra no campo, ou seja, quando o setor apresentar sinais de melhora e novas contratações tiverem que ser feitas, será difícil recuperar o pessoal perdido”, observa Fava Neves. Muitas unidades industriais foram fechadas, sendo forçadas a demitir seus trabalhadores, enquanto outras sofreram fusão e consequente otimização de cargos, ou seja, frente às demissões, os trabalhadores remanescentes passaram a assumir maiores responsabilidades para viabilizar o negócio. Fava Neves acredita que as usinas que permaneceram abertas não foram as que exerceram maior impacto nas demissões da área industrial do setor, e sim aquelas que encerraram suas atividades. “As usinas remanescentes fazem uma otimização de cargos, que pode ser prejudicial para o setor se não for muito bem feita, visto que muitas vezes um número reduzido de trabalhadores pode não dar conta do trabalho, reduzindo a produtividade”, atenta. Rui aponta que dois motivos principais levaram as usinas a realizarem corte no seu contingente de funcionários. O primeiro foi a forte mecanização, que reduziu postos de trabalho na colheita manual de cana-de-açúcar, mas que por outro lado trouxe uma nova cultura para o setor com aumento de profissionais qualificados. “O segundo motivo, que não é aceitável numa economia em desenvolvimento, é a redução de postos de trabalho por conta do 8 Segundo Pádua, o maior peso da redução de mão de obra no setor deu-se devido à mecanização, mas a crise também pesou, fora a quebra de produtividade de 15% no Estado de São Paulo fechamento de empresas que sofreram por falta de políticas públicas governamentais, especialmente do governo federal que, além de não ajudar em nada, vem atrapalhando por demais o setor sucroenergético e a economia brasileira como um todo”, desabafa. Além da redução do quadro de funcionários, as usinas têm reduzido suas atividades de manutenção industrial, tratos culturais, investimentos em novas tecnologias e renovação de canaviais. Há ainda o envelhecimento do parque industrial e da área agrícola que resultam em queda de produtividade. Outra consequência é a estagnação do setor, que não investe em novas tecnologias e não acompanha a evolução dos outros setores, ficando defasado. ADAPTAÇÃO À NOVA REALIDADE Diante da realidade, as usinas também tiveram que se reestruturar e se adaptar ao cenário. Escobar comenta que para isso, o Grupo Aralco alinhou as atividades com alta tecnologia e gestão. “Estamos qualificando todas as atividades e processos com tecnologia, times de melhoria e tecnologia de informações”, diz. O corte de funcionários, em alguns casos, é uma forma drástica de otimizar investimentos, alongar dívidas e reduzir as necessidades de capital de giro da usina. “A escassez de crédito, aliado à baixa produtividade e envelhecimento dos canaviais, falta de acesso a capital para melhoria do parque industrial e também a falta de atualização dos canaviais nos faz pensar em ações deste porte para termos como sair destas situações com mais sucesso.” Rui, por sua vez, crê que otimizar investimentos independe de corte de pessoal. “O que pode ocorrer é que algum investimento em novas tecnologias pode reduzir postos de trabalho, a exemplo da mecanização. Dívidas e capital de giro não são parâmetros de corte ou contratação de empregados,” ressalta. Para que o quadro se reverta e a usina volte a contratar, o porta-voz do grupo Aralco aponta que será preciso gerar caixa para atualizar os canaviais da empresa em todos os aspectos de colheitabilidade e boas práticas de produção, otimizar o potencial industrial, aumentando o volume de cana, aliado a boa gestão. Por último, o mercado precisa ajudar a virar o jogo nos próximos dois anos. Para se manter na atividade, o Grupo vem melhorando a gestão a cada dia, com uma mentalidade enxuta de produzir mais com menos, com informações em tempo real para promover economia, produtividade e rentabilidade. Tudo isso promovendo ações com agilidade, flexibilidade e melhoria contínua através do envolvimento das pessoas. Além disso, o Grupo adotou a política de transparência empresarial para com a sociedade, veículos de comunicação, colaboradores e credores entre outros envolvidos com o grupo. Escobar comenta que foram colocados em prática alguns projetos e programas para auxiliar na qualificação do rendimento e desenvolvimento do Grupo. A implantação do projeto ‘180 x 180’, por exemplo, permitiu redesenhar as atividades do Grupo, obtendo ganhos de 15% a 35 % nos custos em diferentes recursos como: - otimização da mão de obra, reduzindo por completo serviços terceirizados (a mesma mão de obra fazendo os trabalhos de terceiros); - utilização de equipamentos por mais tempo em mais atividades; - mudanças em viveiros de mudas e forma de plantio, desde época até a forma de fazer; - implantação de outras formas de manutenção no parque industrial e na frota; - capacitação profissional contínua com foco maior na função de cada profissional. “As usinas estão aproveitando a crise como oportunidade e reinventando a forma de gestão de pessoas e de processos, profissionalizando a gestão empresarial, pratican- 9 do a Governança Corporativa e implantando programas de Gestão de Pessoas voltadas a resultados, desempenho e liderança”, destaca Rui. Com isso, segundo Rui, as usinas atingem ganho de competividade, maior comprometimento, produtividade e qualidade, melhor remuneração e satisfação com o trabalho, retenção de mão de obra, menor absenteísmo e turn over. “Além disso, cumprem os preceitos legais e trabalhistas oriundos de legislação e/ou Acordos Coletivos de Trabalho.” MAIS DEMISSÕES Se a crise persistir e novas unidades industriais inviabilizarem suas atividades, as demissões vão continuar. “O setor precisa se reerguer para manter-se estruturado”, salieta Fava Neves. Indagado sobre a possibilidade de mais demissões no Grupo, Escobar explica que enquanto não houver maiores ganhos de produtividade, melhora do valor dos produtos, valor da mão de obra mais compatível com o valor dos produtos e mudanças na CLT, será uma ação continuada. Hoje, os ganhos reais de salário têm sido bem maiores que os valores de produção alinhados junto com a perda de produtividade. Muito provavelmente haverá novas demissões neste período conturbado do setor e da economia brasileira. “Aliado aos problemas financeiros está a situação climática que tem prejudicado os canaviais em sua renovação, ampliação e tratos culturais. A queda na produção da safra 2014/2015, em razão das condições climáticas, irá reduzir o faturamento e por conseguinte os investimentos e manutenção para a safra 2015/2016. Oxalá eu esteja enganado e as empresas retomem o caminho dos investimentos para a safra futura”, salienta Rui. “Se os canaviais forem abandonados e a quantidade de cana diminuir, teremos mais funcionários demitidos”, argumenta Pádua. INVESTIMENTOS PARA SOBREVIVER O diretor técnico da Unica afirma que o setor precisa investir para sobreviver. “Para isso ele aumentou o seu endividamento porque precisa se endividar para crescer. A atividade requer investimentos para ser viável e se manter”, enfatiza. O preço do etanol está dado e tem paridade com a gasolina. O mercado de açúcar está atrelado ao preço do etanol e se tiver10 Além da redução do quadro de funcionários, as usinas têm reduzido suas atividades de manutenção industrial, tratos culturais, investimentos em novas tecnologias, renovação de canaviais e outros. Há ainda o envelhecimento do parque industrial e da área agrícola que resultam em queda de produtividade. Outra consequência é a estagnação do setor, que não investe em novas tecnologias e não acompanha a evolução dos outros setores, ficando defasado. mos uma quantidade de cana menor, os custos da atividade aumentarão e as empresas cortarão o que for possível. As empresas que não tem o que cortar, irão demitir. Este é o cenário atual do setor sucroenergético. Segundo Pádua, é preciso uma política de longo prazo que volte a atrair investimentos para o setor, além de conhecer a previsibilidade da política de preço do combustível. “O potencial está no etanol hidratado que é concorrente da gasolina. Também é necessário um tributo diferenciado entre o Tonielo Filho diz que as empresas têm enfrentado problemas de caixa e dificuldades no financiamento de capital de giro e investimentos combustível que polui e o que não polui. Ao tirar a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), tirou-se do setor a competitividade do etanol (R$ 0,20/l). Isso representa R$ 16/t de cana. O setor está deixando de faturar mais de R$ 10 bilhões com isso”, contabiliza. Para o setor reagir e voltar a crescer, é preciso que haja crescimento da economia brasileira, investidores nacionais e internacionais, politicas públicas que suportem a produção de açúcar, etanol e energia. “O Brasil é uma fonte inesgotável de energia renovável, porém o Pré-sal e Belo Monte são mais importantes na visão dos atuais governantes, os quais abandonaram o setor, suas tendências, sua história, seu potencial”, menciona Rui. Na opinião de Fava Neves, é preciso que o governo crie mecanismos de recuperação do setor, mecanismos que possibilitem o aumento da competitividade do etanol frente à gasolina. “Com o aumento da demanda pelo produto, o setor volta a ser remunerado corretamente e passa a ser capaz de recuperar seus investimentos, mas isso não é simples. As ações vão gerar resultados no médio e longo prazo. Por ser um setor grande e que sofreu drasticamente nos últimos anos, a recuperação será lenta”, analisa. RAMIFICAÇÕES DA CRISE “A crise que afeta o setor não é exclusiva das indústrias”, acentua Bruno Rangel Geraldo Martins, presidente da Socicana (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba), que integra mais de 1.300 produtores de cana que, juntos, produzem mais de 6,5 milhões de t/cana. De acordo com ele, os produtores de cana também sofrem os efeitos da falta de políticas específicas. “Algumas unidades industriais que, há pouco, eram sólidas, hoje estão em situação complicada. Já presenciamos até mesmo o parcelamento do pagamento pela produção da cana aos fornecedores”, diz. Algumas unidades, que encerraram as suas atividades, tinham no seu escopo a cana do fornecedor. Isso fez com que esses produtores procurassem outras usinas para entregar a matéria-prima, em regiões mais distantes, aumentando, assim, o custo do transporte e, dessa forma, inviabilizando o cultivo do canavial. Martins explica que há um crescimento æVJEPTBCSBTJWPT&MBTUÄNUBNCÃNVNBTF Á½PUSBOTWFSTBMBQSPQSJBEBQBSBæVJEPTDPO UFOEPTÍMJEPT &MBT QFSUFODFN º TÃSJF "$1 EF CPNCBT TFOEPBTTJNBMUBNFOUFFåDJFOUFTRVBOUPº FDPOPNJB EF FOFSHJB 4FV QSPKFUP NPEVMBS SFEV[FNNVJUPBRVBOUJEBEFOFDFTT»SJBEF FTUPRVFBKVEBOEPUBNCÃNBSFEV[JSDVTUPT GPSBNQSPKFUBEPTFPUJNJ[BEPTDPNBVUJMJ[B Á½PEF$'%$PNQVUBUJPOBM'MVJE%JOBNJDT &MFT GPSBN FYQFSJNFOUBEPT F UFTUBEPT FN OPTTPQSÍQSJPMBCPSBUÍSJPEFUFTUFTOBVUSJB BÁPCSBODPHBSBOUFNVNBEVSF[BFYDFMFOUF BQSPY)# EFUPEBTBTQBSUFTTVKFJUBT BPEFTHBTUFSPUPSFTFQMBDBT 0T USBUBNFOUPT UÃSNJDPT FTQFDJBMNFOUF EF TFOWPMWJEPTBTTFHVSBNVNBDPNCJOBÁ½PFGF UJWBEFFYDFMFOUFEVSF[BFEVUJCJMJEBEFBEFRVB EB0NBUFSJBMUFNBTTJNSFTJTUÄODJBTVåDJFOUF QBSBFOGSFOUBSDPOEJÁÏFTBEWFSTBTDPNPQPS FYFNQMPQFESBTFNBUFSJBJTBCSBTJWPT C [%] 1.8-3.6 Si [%] 1 Mn [%] 0.5-1.5 P [%] 0.08 S [%] 0.08 Cr [%] 23-28 Mo [%] 3 Ni [%] 2 Cu [%] 1.2 3FTJTUÄODJBBPEFTHBTUF &OEVSFDJEP 3FTJTUÄODJBºDPSSPT½P All data, information, statements, photographs and graphic illustrations in this leaflet are without any obligation and raise no liabilities to or form part of any sales contracts of ANDRITZ AG or any affiliates for equipment and/or systems referred to herein. © ANDRITZ AG 2013. All rights reserved. No part of this copyrighted work may be reproduced, modified or distributed in any form or by any means, or stored in any database or retrieval system, without the prior written permission of ANDRITZ AG or its affiliates. Any such unauthorized use HPU.mining_acp.02.eng.02.13 for any purpose is a violation of the relevant copyright laws. ANDRITZ AG, Stattegger Strasse 18, 8045 Graz, Austria 11 expressivo no custo de produção, para implantação e manutenção do canavial, devido ao aumento de pragas e doenças, custos de mão de obra, do óleo diesel, entre outros. O custo aumentou, mas a remuneração pela cana não acompanhou estes índices, diminuindo a margem consideravelmente. Muitos produtores trabalham contabilizando prejuízos. “Estamos diante da falta de políticas públicas que aumentem a competitividade do etanol frente à gasolina. O etanol é um combustível renovável, sustentável, gerador de renda para o País. Entretanto, o governo subsidia a gasolina por interesses políticos. Isso está destruindo a Petrobrás e aumentando o risco de vermos o programa brasileiro de etanol sucumbir. Muitos produtores já pensam em deixar de plantar cana e procurar uma cultura que seja mais rentável, como última alternativa para permanecerem na atividade e evitarem o arrendamento ou a venda de suas terras”, entrega Martins. Do outro lado, a indústria de base, que fornece equipamentos para as usinas, também foi atingida em cheio. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho), a indústria de Sertãozinho perdeu 1.097 postos de trabalho de janeiro a junho deste ano. Pela descrição de atividades do CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), Sertãozinho tem hoje 702 empresas cadastradas. Destas empresas, 17% são de fabricação de produtos de metal (exceto máquinas e equipamentos), 20% são de fabricação de máquinas e equipamentos, e 23 % manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Com estes dados, pode-se afirmar que 426 empresas de Sertãozinho atendem o setor sucroenergético e, se considerarmos o faturamento das indústrias instaladas no município, este percentual ultrapassa 85%. “As empresas estão alavancadas e sem demandas. São poucos os pedidos de manutenção de máquinas, equipamentos, e não há novos projetos industriais e de usinas, em andamento. Por conta dessa ociosidade, e para que unidades não fossem definitivamente fechadas, os empresários usaram a dispensa como estratégia para manter o mínimo de atividade até que a retomada do setor aconteça”, esclarece Antonio Eduardo Tonielo Filho, presidente do Ceise Br (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético 12 O preço do etanol está dado e tem paridade com a gasolina. O mercado de açúcar está atrelado ao preço do etanol e se tivermos uma quantidade de cana menor, os custos da atividade aumentarão e as empresas cortarão o que for possível. As empresas que não tem o que cortar, irão demitir. Este é o cenário atual do setor sucroenergético. e Biocombustíveis). Ele também pondera que as demissões ocorreram justamente para adequar o volume de pedido à capacidade de produção das empresas, adaptando o número de funcionários à demanda. “O corte de funcionários neste caso, nada mais é do que a adaptação da capacidade de produção com o volume de encomendas. Não está se reduzindo funPara Fava Neves as demissões representam uma perda de investimentos, uma vez que todo o trabalho feito para adequar o trabalhador às necessidades da organização é perdido cionários para substituição por máquinas e equipamentos, ou apenas para redução de custos. São medidas adotadas para a sobrevivência”, ressalta. Em algumas empresas, a redução de funcionários implicou também em redução de turnos de trabalho. Dessa maneira, os colaboradores que permaneceram foram ajustados conforme as necessidades da empresa. Para se adequarem ao período de crise, as empresas de Sertãozinho, além de reduzir custos, estão procurando diversificar a produção a fim de atender novos mercados e dessa maneira deixarem de ser totalmente dependentes da cadeia produtiva da cana. “Cada empresa sofre reflexos da crise de acordo com sua gestão ou planta instalada. Mas, podemos garantir que todas têm enfrentado problemas de caixa e dificuldades no financiamento de capital de giro e investimentos”, declara Tonielo Filho. O presidente do Ceise Br salienta que o setor sucroenergético carece de uma definição clara do papel do etanol e da biomassa na matriz energética do País. O próprio etanol também requer atenção quanto a uma remuneração justa, equivalente, para que possa aumentar a atratividade por investimentos. Faz-se necessária a criação de condições de planejamento no longo prazo, sem interferências governamentais que prejudiquem o rendimento dos bens produzidos pelo setor. “A normalização do ICMS a 12% nos demais estados, além de SP, a volta da aplicação da Cide, e o resgate dos créditos provenientes do PIS-Cofins são medidas que podem ajudar o setor. Urge ainda, a necessidade de investimentos em pesquisas e inovações para a melhoria da produtividade da cana-de-açúcar e do desempenho dos equipamentos de processamento, sem se esquecer da estocagem e do transporte e logística dos produtos bruto e final – elementos responsáveis por 30% do custo de produção. A partir disso, a indústria de base também precisará de linhas de financiamentos especiais para adquirir, enfim, uma estabilidade econômica e, consequentemente, voltar a investir em inovações tecnológicas, garantindo então sua competitividade”, defende Tonielo Filho. Resumidamente, além da quebra de produção, as demissões que vem ocorrendo demonstram que o setor está com a navalha na própria carne. As feridas estão abertas e irão cicatrizar. Porém, as marcas deixadas serão lembranças desagradáveis de um período difícil e que não deixará saudades. A revolução já começou. Uma nova cana começa pela muda. AgMusaTM - Sistema inovador de formação de viveiros com mudas sadias de alta qualidade e maior rentabilidade. 0800 0192 500 www.agro.basf.com.br 13 fórum SETOR PRECISA DE BOA SAFRA E LUCRO “Para o setor sair da crise, primeiro os preços dos seus produtos precisam subir, haja vista que os custos subiram anualmente Ricardo Pinto acima da inflação nos últimos anos. Nes- sócio-diretor te capítulo, penso que o açúcar deverá se da RPA Consultoria manter entre US$16 e US$19 cents de dólar por libra-peso ainda por vários meses, conforme baixa demanda atual e projetada para o ano que vem pelos organismos internacionais. A saída será o Real se desvalorizar mais. Os fundamentos econômicos do Brasil, cada vez piores, mostram que podemos vislumbrar um Real valendo entre R$ 2,40 e R$ 2,50 já no final deste ano. Isso ajudará muito no preço do açúcar. Já falando do preço do etanol, vejo ótimas perspectivas. A próxima entressafra será longa - cinco meses - com pouco etanol estocado. Assim, vejo uma forte tendência de crescimento do preço do etanol anidro já a partir de dezembro de 2014, levantando o preço do hidratado em função de vasos comunicantes. Paralelamente, se a Dilma for reeleita, ela poderá elevar um pouco (3% a 5%) o preço da gasolina já neste ano, e também dar outro aumento pequeno (4% a 6%) no começo do ano que vem, diluindo a correção necessária para salvar 14 a Petrobras. Se ela não for reeleita, para prejudicar o candidato vencedor, creio que ela terminará o ano sem aumentos, passando a sujeira embaixo do tapete para o novo presidente que, certamente, deverá dar um aumento importante para a gasolina logo no começo de seu mandato. De qualquer maneira, prevejo que, independente do novo presidente, o preço do etanol no mercado interno irá melhorar nos próximos seis a nove meses. Porém, dado o grande endividamento do setor, a melhora de preços não significará automaticamente o fim da crise. As usinas, a meu ver, precisarão de uma boa safra, geradora de lucros, para colocar a casa em ordem, melhorar seu perfil da dívida, e, daí sim, voltar a pensar em investimentos e crescimento, aliás, crescimento que o Brasil precisa da produção de etanol para acompanhar a demanda doméstica dos próximos anos. Logo, penso que 2015 será um ano de buscar geração de caixa com investimento zero, o que sinalizará para o mercado que ainda o setor estará em crise, mas, na minha opinião, estará sim é saindo dela. Creio que 2016 será um ano normal, para aquelas usinas que sobrarem. Digo isso porque vejo como irremediável a situação das usinas com endividamento maior do que R$ 200/t de cana de capacidade de moagem.” RECUPERAÇÃO LEVARÁ TEMPO “Os efeitos da crise foram muito grandes no setor. Acredito que o cenário irá melhorar, porém os efeitos da crise ainda serão sentidos pelos próximos anos. A retomada da plenitude do setor ainda vai levar um tempo.” Marcos Fava Neves – professor titular de Planejamento Estratégico e Cadeias Alimentares da FEA-RP/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo) FUNDO DO POÇO “Acredito que chegamos ao fundo do poço, mas tudo vai depender da política adotada pelo novo governo federal em relação aos combustíveis.” Alexandre Andrade Lima – presidente da AFCP (Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco) Luiz Henrique Sanches - diretor do Grupo Canabrava Ramón Orlando Villarreal engenheiro açucareiro com experiência no setor de bioenergia MUITAS VARIÁVEIS AMBIENTE DESAFIADOR “Convivemos com crises diferentes. Temos o aumento dos custos de produção com a melhoria dos níveis salariais, maior despesa com EPIs, aumento do preço do diesel, enfim, nossos custos aumentam mês a mês. Temos o aumento de custo do capital em função da reaceleração da inflação, onde o Banco Central precisou aumentar em mais de 50% a taxa básica, o que aumenta a taxa de juros praticadas pelos bancos. Temos o preço do açúcar em função de conjunturas internacionais, que vem caindo e se encontra em níveis muito baixos. Por último, temos o preço do etanol hidratado como uma das poucas coisas de fácil previsão, pois depois das eleições teremos um aumento, sem dúvida. As perdas da Petrobras, segurando o preço da gasolina, estão altas e seu fôlego está acabando. Subindo a gasolina, o etanol hidratado tem faixa para subir, considerando-se a paridade de 70%.” “Segundo as agências de riscos, o ambiente macroeconômico desafiador deverá continuar a impor riscos às empresas brasileiras, principalmente para o setor sucroenergético, já que é certo que o ano de 2015 será difícil, com menor disponibilidade de cana-de-açúcar, condições climáticas ruins e preços limitados do etanol. No caso do fornecedor de cana, em abril de 2011, por exemplo, o valor era R$ 0,57 por kg de ATR. Nesta safra, não passou de R$ 0,48. Por conseguinte, como o custo está mais alto que a receita, devemos esperar tempo sombrios ainda e queda na produção. Além disso, algumas usinas que não estão ou não foram preparadas para crises longas como essa devem ser erradicadas. Todavia, depois da tempestade e turbulência, parte do setor que apresenta uma profissionalização e uma governança corporativa vai sobreviver com a expansão no setor de energia elétrica e nas apostas do etanol de segunda geração.” MAIS UMA OU DUAS SAFRAS RUINS “O cenário é sombrio. Pode ser que vamos patinar por mais uma ou duas safras. Porém, a Eletrobras e Petrobras precisam ser sanadas para atrair investidores e isto precisa ser feito o mais cedo possível, ou seja, após a eleição. Logo, estas ações vão favorecer o setor. Soma-se a isto as ações que partirão das lideranças do setor para conseguir que o governo apoie a recuperação.” Júlio Henrique Vinha – associado sênior da empresa Macquarie Group SITUAÇÃO AFLITIVA Luiz Nitsch - diretor na Sigma Consultoria Automotiva “Eu sempre acreditei no adágio que diz que ‘Depois da tempestade vem a bonança’. Mas esta tempestade parece não ter fim. O fim da gasolina subsidiada é um dos fatores imperativos para a recuperação dos preços do etanol hidratado. Infelizmente, o clima seco também teve sua influência nefasta na cultura canavieira - já se comenta que, em muitas regiões, as safras acabarão antes do planejado por falta de cana. O aumento dos custos operacionais das usinas, sem a contrapartida na comercialização do açúcar e etanol, faz com que as contas não fechem. O mercado internacional é afetado pela grande oferta do produto. Nem todas as usinas brasileiras estão preparadas para aproveitar os bons preços da energia elétrica. Assim, é realmente aflitiva a situação do setor, potencializada pelo desdém do governo associada a algumas administrações amadoras de algumas empresas.” 15 tecnologia agrícola Depois de alguns anos e entre muitos AGMusa da Basf, ambas voltadas para a erros e acertos, o setor sucroenergético co- formação de viveiros de mudas saudáveis. meça a caminhar rumo a soluções que de- Após retirar do mercado o Plene por verão revolucionar o sistema de plantio de problemas técnicos relacionados à produ- cana-de-açúcar. Nos últimos quatro anos, ção em larga escala, no final de 2013, a empresas e institutos de pesquisa não só Syngenta resolveu entrar no mercado de desenvolveram e lançaram no mercado no- viveiro de mudas e lançou o Plene Evolve, vas tecnologias e metodologias para plan- voltado à formação de viveiros pré-primá- tio de cana, como também tem procurado rios, e o Plene PB, mudas pré-brotadas e evoluí-las. Entre 2008 e 2014, seis novas tratadas, voltadas para viveiros primários tecnologias surgiram e uma delas passou e secundários. Este ano, no final do mês de por reformulação. julho, a empresa confirmou a reformulação A curva de aprendizagem deu início em do Plene, que agora passa a se chamar No- 2008, com o lançamento dos mini-toletes vo Plene, também voltado exclusivamente Plene, da Syngenta, concebidos exclusiva- para o plantio comercial. mente para plantio comercial, e seguiu, em Ainda a partir deste ano, uma parce- 2013, com o lançamento do sistema MPB ria entre a RPA, consultoria agrícola es- (Mudas Pré-brotadas) do IAC (Instituto pecializada em cana-de-açúcar com maior Agronômico de Campinas) e da tecnologia atuação no Brasil, e a Fitoclone, empresa especializada em tecnologias para a produ- O Novo Plene será baseado em um tecido encapsulado de cana, produzido em um ambiente controlado, que fornecerá uma taxa de multiplicação mais elevada e um menor custo por tonelada em comparação com sistemas de plantio convencional ção de mudas através de micropropagação, deverá trazer ao mercado mudas pré-germinadas com baixo custo. O sistema, chamado Trinca – Muda, será desenvolvido com ajuda de incentivos obtidos através do Paiss Agrícola (Plano de Apoio Conjunto 16 Grandes Marcas Inspiram ideias inovadoras à Inovação Tecnológica Agrícola no Setor primeira versão do Plene. “Como erramos Sucroenergético) do BNDES (Banco Na- muito no passado, discutimos com cada O Novo Plene é baseado em um tecido cional do Desenvolvimento). um de nossos clientes e perguntamos o encapsulado de cana, produzido em um que precisava mudar”, disse John Atkin, ambiente controlado, que fornecerá uma chefe de Operações da Syngenta. taxa de multiplicação mais elevada e um NOVO PLENE, NOVA FÓRMULA Após estudar todas as questões, a Syn- sulamento de gemas propago-vegetativas. menor custo por tonelada em comparação Como ter um padrão de produção? Co- genta encontrou uma nova fórmula de pro- mo atender em larga escala? Como ter uma duzir a tecnologia. Por meio de um acordo O primeiro ponto resolvido no novo logística mais eficiente? Eram estas algu- de licenciamento exclusivo com a cana- projeto foi o shelf-life (vida útil), o maior mas das perguntas que a Syngenta tenta- dense New Energy Farms, a empresa terá problema do antigo Plene. Segundo Atkin, va responder aos clientes que adotaram a acesso a Ceeds, uma tecnologia de encap- o Novo Plene poderá ser conservado em com sistemas de plantio convencional. 17 geladeira em temperatura de até 10ºC pelo período de seis meses a um ano, ou seja, pode ser usado durante todo o ano. “Com maior shelf-life, a usina, o produtor ou as cooperativas podem estocar o produto por mais tempo.” A segunda questão resolvida foi a taxa de multiplicação. A germinação do produto é maior. Enquanto no Plene tinha-se apenas uma gema, a nova tecnologia permitirá mais de uma gema dentro de um só produto. “O fato de ter mais de uma gema é o que vai conferir a boa germinação. Hoje quando uma usina planta 22 t/ ha, volume excessivo de cana, ela o faz porque não há confiança de que aquelas gemas são viáveis. No caso desta tecnologia, a viabilidade é muito alta por ter duas, três ou até mais gemas dentro de um só produto. É quase uma certeza de germinação”, afirmou Leandro Amaral, diretor de marketing em Cana-de-açúcar da Syngenta. O problema do transporte também foi resolvido. O antigo Plene possuía menor O QUE NÃO DEU CERTO? plantar na época seca e não chover mais, A primeira versão do Plene da Syngenta foi anunciada em 2008 como uma revolução porque consistia no plantio de uma espécie de “semente” (gema única) de cana, o que significava uma quebra de paradigma do segmento sucroalcooleiro, que usa toletes de cana oriundos de canaviais não voltados à produção comercial: os viveiros. Apesar de ter sido pioneira e ter chegado a atingir vendas de US$ 350 milhões no País, deixou de ser comercializado em dezembro de 2012, após problemas técnicos relacionados à produção em grande escala. Em 2014, a Syngenta reformulou a tecnologia, que deverá chegar ao mercado até 2017. com a cana normal. Vamos apenas vali- provavelmente o seu desenvolvimento deverá ser afetado assim como ocorre dar se a nova tecnologia resiste mais ou menos dias nesta primeira fase.” As expectativas em produtividade são altas. Isto porque áreas em que o antigo modelo do Plene vingou e que já passam pelo terceiro corte têm demonstrado alta produtividade. Segundo Amaral, as produtividades de terceiro ano estão entre 105 e 110 t/ha. “Áreas perto de Campinas, SP, estão dando 170 t/ha. Então resgatar as variedades com uma biofábrica já traz um salto de produtividade muito grande. A única forma de ficar menos dependente do preço das commodities é fazer igual a soja e o milho fizeram.” Você leitor, pode estar pensando: “mas se terei a tecnologia que vai me servir para o plantio comercial, isso significa que não vou precisar mais me preocupar com os viveiros de mudas”. Se pensou assim, enganou-se. De acordo com Atkin, uma tecnologia não elimi- eficiência de transporte, ou seja, cerca de meio hectare por caminhão. Com esse no- as nossas variedades de cana. Assim, como vo modelo, será possível entregar 200 ha temos acordos com o IAC, CTC e Ridesa “Desde o momento em que se de- de plantio por caminhão. “Estamos che- para o Plene Evolve e PB, a tendência é senvolve uma variedade nova, ela não é gando a uma tecnologia de semente para estender a parceria para a nova tecnologia. colocada imediatamente na nova tecno- cana-de-açúcar”, destacou Amaral. na a outra. Então teremos acesso a todas as varieda- logia. Primeiro precisamos criar viveiros, O modelo de produção também mudou des disponíveis hoje e novas variedades depois chegaremos ao Novo Plene. Para completamente. Ao invés de viveiros, o que entrarão no mercado também. Esta- que uma variedade chegue nessa tecnolo- processo industrial é todo feito em bio- mos na fase de testes, começando lá nos gia vai demorar, no mínimo, dois ou três fábrica. Saindo da biofábrica ele vai para Estados Unidos e depois trazendo ao Bra- anos. Mas isso nunca vai parar porque dentro das estufas e de lá sai pronto para sil. Nos EUA, a cana energia tem mostrado o desenvolvimento de novas variedades o campo. “Teremos um ambiente contro- ótimos resultados. Então acreditamos que vai continuar. Sempre vai ter uma série lado, vamos ter uma produção muito mais com as variedades daqui tenhamos boas de variedades entrando e outras deixando assertiva e não precisaremos sofrer com respostas”, revelou Amaral. de existir. Ou seja, algumas variedades, as intempéries do tempo. É muito maior O fato de o Novo Plene ser encapsu- as mais utilizadas, existirão no Novo Ple- a velocidade de implementação e escala- lado deverá proteger o produto contra a ne. Mas outras, mais específicas e que as bilidade”, salienta Atkin. falta de água, outro problema que o an- usinas gostam, serão produzidas via Plene Evolve e Plene PB”, enfatiza Atkin. A previsão para início da comerciali- tigo formato teve. A cera que envolve o zação do Novo Plene é em 2017. Deste ano produto armazena umidade e protege con- A origem de tudo é a biofábrica em até 2017 o produto passa por uma fase de tra a entrada de fungos. Segundo Amaral, Itápolis, SP, aonde são produzidas as mu- desenvolvimento. “Primeiro vamos trazer quando ele vai para o solo, acontece um das a partir de meristemas. Essas mudas a tecnologia Ceeds do Canadá e tropicali- rompimento da cápsula para que a plan- têm como características a pureza genéti- zar nas diferentes regiões do Brasil e com ta consiga se desenvolver e crescer. “Se ca que rejuvenesce a planta e confere-lhe 18 Grandes Marcas Desconhecem fronteiras sanidade. O Plene Evolve promove toda a afirma Amaral. introdução de novas variedades. Já o Plene De acordo com ele, a tendência é que PB é uma tecnologia de mudas pré-bro- o Plene PB seja mais utilizado para for- tadas oriundas dos viveiros da Syngenta mação de viveiros, visto que há uma difi- e é voltada àquelas usinas ou produtores culdade de escalar o processo de produção que perderam a prática de fazer viveiros desta tecnologia e por conta dos custos, no passado e têm a possibilidade muito que são altos. “Essa tecnologia tende a mais simples de replicar as variedades migrar para o uso em plantio de falhas mais consolidadas. de canaviais de soqueira. Hoje estima-se “Faz um ano que estamos comercia- que temos entre 10% e 20% de canaviais lizando estas tecnologias e os resultados falhados. Então, acreditamos que essa mu- têm sido muito interessantes. Estamos da pré-brotada vai poder atender o plantio conseguindo de 10% a 15% mais produ- dessas falhas, aumentando a longevidade tividade. O mais importante é o número e a produtividade.” de gemas viáveis. Conseguimos aumentar COMO PLANTAR O NOVO PLENE? este número, o que faz com que a taxa de multiplicação de viveiros aumente. Uma A plantadora desenvolvida pela John usina ou produtor consegue uma taxa de 1 para 3 ou 1 para 4. Estamos conseguindo ver os primeiros resultados de 1 para 6 e até 1 para 10. A tecnologia está presente em mais de 80 usinas e produtores. E mais de 50 usinas e produtores já têm áreas colhidas dando esses resultados”, Amaral: “Hoje quando uma usina planta 22 t/ha, ela o faz porque não há confiança de que aquelas gemas são viáveis. No caso desta tecnologia, a viabilidade é muito alta por ter duas, três ou até mais gemas dentro de um só produto. É quase uma certeza de germinação.” Deere para a primeira versão do Plene poderá atender ao novo modelo da tecnologia através de uma simples adaptação. A própria empresa que licenciou a tecnologia Ceeds também já tem uma plantadora voltada ao setor sucroenergético. 19 De acordo com a Syngenta, não há parceira exclusiva no desenvolvimento de plantadoras. Qualquer plantado- 20 TRINCA – MUDAS: PLANTIO MAIS BARATO plantio com adubação líquida parcelada exatamente sobre as mudas transplantadas. “Haverá economia em relação ao plantio ra que puder ser adaptada, como as de Desde o final do ano passado, a RPA atual praticamente em todas as fases, o que batatas ou transplantadoras de mudas, Consultoria deu início à formatação de um nos permite vislumbrar que conseguiremos que já têm sido usadas para o Plene PB, sistema que promete revolucionar o plantio fazer plantios comerciais de cana a um cus- serão opções. de cana no Brasil cumprindo três objetivos to de R$ 3.800 por ha, já considerando o “As máquinas serão muito meno- básicos: 1) reduzir em 40% o atual custo de custo das mudas pré-germinadas a R$ 0,10 res, com menor consumo de energia e plantio de cana, já incluindo o custo com cada”, explica. necessidade de tratores muito menores. mudas; 2) aumentar em 15 toneladas por Dentro do desenvolvimento do Trinca, A sustentabilidade vai ser muito maior hectare a produtividade da cana no primei- é fundamental para seu sucesso econômico porque haverá muito menos impactos e ro corte; e 3) eliminar a necessidade de se que cada muda de cana a ser transplantada poderão ser plantadas muito mais linhas usar áreas de viveiros. Tal sistema passou atinja o custo máximo de produção de R$ ao mesmo tempo. Logo, o ganho que a ser chamado de Trinca – Transplantio In- 0,10. Justamente por isso, a RPA Consulto- as usinas terão com redução de custos tegrado de Cana. ria separou do Trinca a parte do desenvolvi- vai ser muito grande. Acreditamos que Ricardo Pinto, sócio-diretor da RPA mento relacionada à muda, que passou a se essa simplificação do plantio vai trazer Consultoria, explica que o desenvolvimen- chamar Trinca – Muda. “Hoje as mudas de outras melhorias adjacentes. Achamos to do Trinca considerou todas as fases do cana produzidas pelo sistema MPB ou si- ainda que o ganho de produtividade vai plantio, desde a origem do material que vai milares apresentam custo de produção entre ser brutal”, destaca Amaral. dar entrada nas estufas robotizadas, geran- R$ 0,30 e R$ 0,40 cada uma. Para chegar ao Os testes no Brasil serão feitos em do mudas pré-germinadas de cana com alto custo de R$ 0,10, os desafios são grandes. canaviais próprios e de parceiros da em- vigor e taxa de pegamento, passando pelo Justamente por isso, numa parceria com a presa. A Syngenta pretende ainda abrir preparo de solo mais econômico em faixas, Fitoclone, empresa incubada da Universi- cinco biofábricas em lugares estraté- o transplantio das mudas pré-germinadas dade de Viçosa, em Minas Gerais, apresen- gicos para tornar a logística do Novo sobre canteiros com sua posição georrefe- tamos nosso projeto de inovação do Trin- Plene mais eficiente. renciada, e chegando ao cultivo pós-trans- ca – Muda ao Paiss Agrícola, do BNDES, Grandes Marcas Desafiam o tempo e tivemos nosso pedido de financiamento camente viável de se originar as plântulas aprovado”, detalha Ricardo. que entrarão nas estufas para tornarem-se Assim, o desenvolvimento do Trin- mudas, seja via material coletado direta- ca – Muda atuará no desenvolvimento de mente de canaviais comerciais, seja via jar- métodos, práticas, máquinas, estufas e ro- dim clonal ou via biofábrica de meristemas. botização das estruturas que sejam neces- “Para reduzir o custo de produção de sárias para se reinventar o atual modo de mudas germinadas, nosso projeto irá de- produzir mudas de cana germinadas e rus- senvolver uma estufa especializada para a tificadas, eliminando-se os desperdícios e produção das mudas de forma automática ineficiências. e robotizada com custo final máximo de R$ “No atual contexto do sistema de pro- 0,10 por muda germinada, já acondicionada dução de cana-de-açúcar, a problemática em bandejas especiais para a automação da da ‘muda’ se faz urgente e necessária. Se sua ida ao campo para transplantio”, apon- o plantio convencional, através de toletes, ta Ricardo. com alto consumo dos mesmos e baixa efi- Marco Viana, diretor de Novos Negócios da RPA e responsável pelo Trinca, diz 6.380 por ha, a alternativa do plantio via Ricardo explica que o Trinca deverá reduzir o valor das mudas de R$ 0,40 para R$ 0,10 cada Mudas Pré-brotadas (MPB) pode atingir um ção de mudas germinadas”, afirma Ricardo. ca se efetivarem, o modo como a cana é custo muito maior, entre R$ 8 mil e R$ 9 mil De acordo com ele, para não mais de- produzida no Brasil mudará muito. “Atual- por ha, já que só a muda tem custo individu- pender da existência de viveiros (toda usi- mente o ciclo econômico dos canaviais do al entre R$ 0,30 e R$ 0,40. Este alto custo na e produtor de cana desperdiça 3,5% de Centro-Sul está em seis cortes e a produti- empurra a tecnologia para uso somente em seus canaviais com viveiros para produção vidade média neste ciclo atinge 78 t/ha. Se o viveiros. Assim, o Plano de Inovação do de mudas), o Trinca - Muda pretende iden- custo do plantio se reduzir em 40% com ga- Trinca – Muda pretende reinventar a produ- tificar a forma mais econômica e agronomi- nho de 15 t/ha no primeiro corte, com ganho ciência de brotação, define um custo de R$ que, se os resultados projetados para o Trin- 21 semestre de 2014 resultados iniciais da rede experimental instalada para avaliar efeitos de arranjos e distribuição espacial de plantas. Na área de matocompetição também haverá novas indicações de manejos e utilizações”, afirma o pesquisador do IAC. O AGMusa, mudas produzidas através de um processo desenvolvido pela Basf que garante a homogeneidade genética, sanidade, alto vigor na formação do viveiro, não passou por evoluções desde a sua concepção. Mas a tecnologia também vem sendo testada por muitas unidades O AG Musa, sistema de mudas pré-brotadas desenvolvida pela Basf não passou por evoluções desde a sua concepção produtoras, seja em pequenos volumes ou em áreas mais representativas. nos cortes subsequentes, o ciclo econômico dentes. De acordo com Mauro Alexandre De acordo com Antônio César Aze- passará a ser de quatro cortes. Isso provoca- Xavier, pesquisador do IAC, da Secretaria nha, gerente de Negócios AgMusa da rá uma redução do custo de produção desta de Agricultura e Abastecimento do Esta- Basf, a procura tem sido alta e a tecno- cana de 14% e a produtividade média neste do de São Paulo, no momento não existe logia tem surpreendido positivamente em ciclo mais curto será de 98 t/ha. E nem estou um levantamento exato de quantas usinas relação a incrementos de produção e quan- considerando o fato de que incorporaremos e produtores adotaram o sistema, mas há tidades de gemas viáveis para a formação à área comercial cerca de 3,5% de canaviais uma intensa movimentação e procura por de viveiros. “Um viveiro com mudas Ag- de viveiros que hoje temos de ter nas usi- treinamentos oferecidos pelo Programa Musa pode atingir até 1,5 milhão de gemas nas e nos fornecedores de cana. Será uma Cana do IAC. por ha contra 800 gemas por ha no sistema revolução!”, fala entusiasmado. “As primeiras usinas a iniciar a utili- convencional”, destaca. Segundo Viana, as experiências provam zação estão tendo a oportunidade de rea- A entrega das mudas é feita pela que o desafio de se obter um sistema de lizar levantamentos que indicam pontos empresa no local de plantio no dia e quan- transplantio de mudas germinadas (ao invés favoráveis da adoção. Neste sentido res- tidade combinados. Já em relação ao plan- de toletes) é grande. “Temos convicção de saltamos aspectos qualitativos como, por tio, existe um protocolo Basf que é alinha- que as tentativas anteriores falharam em ob- exemplo, sanidade e autenticidade varie- do com o cliente e que deve ser seguido, ter um sistema de plantio significativamente tal, padronização e uniformidade das áreas desde o preparo da área até o seu controle mais barato que o convencional justamente de plantio e redução no volume de mudas fitossanitário. por focar a inovação em uma ou outra fase a serem utilizadas no processo. A integra- Outro ponto da tecnologia é que ela do processo de plantio e não em todas as ção do sistema MPB a outros manejos uti- precisa de água para garantir um bom pe- etapas de forma integrada, criativa e ori- lizados no ciclo de produção da cana abre gamento das mudas. A forma de irrigação, ginal, quebrando diversos paradigmas de oportunidades de desdobramentos em sé- segundo Azenha, pode ser desde forneci- uma só vez, como estamos buscando fazer rie, o que representa potencial natural de mento localizado no sulco de plantio a até no sistema Trinca, do qual o Trinca – Mu- aumento de produção por unidade de área sistemas mais avançados de gotejamento da faz parte. cultivada”, diz Xavier. ou aspersão. Segundo ele, neste momento há uma Para fazer o plantio do AGMusa, a em- dinâmica entre as áreas de P&D, o que presa desenvolveu uma plantadora, paten- possibilitará apresentar ao setor soluções teou-a e licenciou-a para a DMB Máqui- A divulgação do sistema de produção na forma de pacotes tecnológicos que in- nas Agrícolas fabricá-la. “O equipamento do MPB, do IAC, associado a outras práti- cluem não só a produção do MPB. “Houve segue evoluindo, mas hoje podemos dizer cas de manejo estão em fase de adoção por avanços nas ofertas de equipamentos para que é a melhor plantadora do mercado, importantes grupos do setor sucroenergéti- produção e também para o plantio. O Pro- co nacional e também produtores indepen- grama Cana IAC apresentará no segundo pois prioriza a qualidade de plantio”, diz Azenha. MPB E AGMUSA: EVOLUÇÕES 22 Fundada em 1950, a Zanini iniciou suas atividades como fabricante de equipamentos de caldeiraria pesada para usinas de açúcar. Na década de 70, a Zanini se transformou na mais importante empresa brasileira fornecedora de soluções e tecnologia da América Latina. Em 1976, a Zanini inaugurou duas grandes empresas: a Renk Zanini, empresa especializada em redutores especiais de velocidade e a Sermatec Zanini que iniciou suas atividades como empresa fornecedora de serviços de montagens eletromecânicas em equipamentos industriais para diversos segmentos da indústria brasileira, transformando-se em indústria fabricante de equipamentos pesados a partir de 1992. Na década de 80, a Zanini expandiu sua atuação nas Américas, business offices dedicados à exportação de bens manufaturados foram abertos em países estratégicos das Américas. Agora no século XXI, a marca Zanini — sinônimo de tradição, alto conteúdo tecnológico e confiabilidade — passa a liderar todas as marcas da holding de bens de capital do grupo, bem como de suas parceiras nacionais e internacionais. 23 tecnologia agrícola Luiz Geraldo Mialhe Na área de Mecanização Agrícola, as perdas mais impactantes são as que ocorrem durante a operação de colheita e transporte pela simples razão de tratar-se de perda com o maior valor agregado de todo o processo produtivo. Cada quilograma de produto in natura disponível para ser colhido após o término de um ciclo fenológico agrega custos de mão de obra, combustíveis, fertilizantes, defensivos, depreciação, juros, impostos etc. Portanto, trata-se de algo a ser focado com a devida atenção nas empresas e, principalmente, por aqueles diretamente envolvidos na gestão executiva da colheita mecanizada. SIGNIFICADO FÍSICO X REPRESENTATIVIDADE DAS PERDAS DE COLHEITA Perdas em colheita mecanizada de cana-de-açúcar é um tema de fácil definição, mas de abordagem altamente complexa devido aos inúmeros fatores intervenientes. Assim, ao se falar de perdas de colheita, é prudente começar pela diferenciação entre seu significado físico e a sua 24 representatividade conceitual. O significado físico da perda de colheita é explicitado pela parcela da massa de produto agrícola disponível in natura no terreno agrícola cultivado e que não foi removida para a unidade industrial durante a operação de colheita. Evidentemente, é com base nesse conceito que se proporá uma metodologia de aquisição de dados para a avaliação das perdas. A representatividade da perda de colheita explicita a proporção da produtividade física que deixou de ser recuperada na operação de colheita, expressa em termos de razão produto/área diretamente ou em termos percentuais. Trata-se, portanto, de uma forma relativista de se expressar o significado físico da perda de colheita. EXEMPLO PRÁTICO Consideremos um exemplo tomado da prática: no talhão “X”, com área de 8,6 ha, foram colhidas 714 t de matéria-prima. A equipe de fiscalização de perdas aplicou nele 80 amostragens de 10 m2 (segundo metodologia proposta pelo CTC), recolhendo o total de 24,05 kg de maté- A Zanini Renk nasceu da joint venture realizada entre as empresas Zanini, de Sertãozinho, SP, e a Renk AG, da Alemanha. Desde 1983 , a Renk AG mantém contrato de transferência de tecnologia com a Zanini Renk, assegurando a mesma concepção tecnológica desenvolvida nos redutores especiais de velocidade projetados na Alemanha. Entendendo a necessidade de modernizar a marca foi contratado um dos mais conceituados escritorios de designers do Brasil, WollnerSigno, responsável pela criação da marca em 1969. 25 ria-prima (tocos, cana inteira, toletes, lascas etc). Portanto, a parcela da massa de produto in natura disponível no terreno cultivado (talhão de 8,6 ha) que não foi removida pela colheita mecânica, conforme a amostragem CTC, é obtida por: Perda (produto não colhido) = (86 mil m2 x 24,05 kg) / (10 m2 x 80) Perda = 2585,4kg = 2,59 t Nesse exemplo pode-se avaliar a produtividade física do talhão (TCH) por: TCH = (714.000 kg + 2585,4 kg) / (8,6 ha x 1000 kg/t) TCH = 83,32 t/ha Assim, após a determinação do significado físico (2,59 t) da perda de matéria-prima no referido talhão “X” parte-se para verificar a representatividade dessa perda: Perda (área) = 2,59 t / 8,6 ha = 0,301 t/ha Perda (%) = (2,59 t/ha x 100) / 83,32 = 3,11% A conclusão do relatório da equipe de fiscalização de perda indicará que no talhão “X” a frente de colheita mecanizada provocou uma perda média de 301 kg/ha de matéria-prima ou 3,11% da produtividade física do talhão.Nesse relatório também deverá constar os seguintes parâmetros de amostragem: Taxa de área amostrada (% da área amostrada): TAm = (80 x 10 m2 x 100) / (8,6 ha x 1000 m2/ha) TAm = 0,93 % Massa média por amostra (gramas/m2): MAm = (24,05 kg x 1000 g/kg) / (80 x 10 m2) MAm = 30,06 g/m2 Considerando-se o exemplo, os baixos valores de TAm (inferior a 1%) e MAm (inferior a 100 g/m2) sugerem a necessidade de se avaliar a variabilidade dos dados amostrais, pelo menos através do parâmetro estatístico coeficiente de variação (CV%) e uso de balança de campo com fundo de escala de, no máximo, 200g. Trata-se de cuidados visando garantir a confiabilidade das informações levantadas pela equipe de fiscalização de perdas. O DESAFIO DO CONTROLE DE PERDAS EM COLHEITA MECANIZADA O primeiro passo na gestão do controle de perdas na colheita mecanizada é a estruturação de um protocolo de 26 avaliação/controle de perdas (incluindo procedimentos operacionais, treinamento de pessoal, rotina de trabalho etc) capaz de gerar relatórios como o do exemplo apresentado anteriormente. O passo seguinte é a identificação dos fatores que elevam as perdas acima dos níveis considerados aceitáveis pela gerência agrícola da empresa. Todavia há que se considerar, nesse ponto, todo um estudo prévio sobre os critérios de aceitabilidade de perdas, que envolvem uma série de fatores técnicos e socioeconômicos característicos da realidade de cada empresa agrícola. Daí a importância de se distinguir os diversos fatores que podem determinam o surgimento das perdas. Isso porque não há como zerar perdas em colheita mecanizada, pois é elemento intrínseco da interação Máquina X Massa Vegetal Manipulada. Assim, a minimização dessas perdas se dá via controle dos fatores que determinam sua ocorrência. Portanto, não basta ter equipes de fiscalização de perdas que apenas fazem relatórios de amostragens nos talhões colhidos - é preciso ir além disso! CUSTO DAS PERDAS X CUSTO DO CONTROLE DE PERDAS Quando alguém afirma que é aceitável um nível de perda de até 4% está implicitamente aceitando que o custo do controle (total dos gastos com as equipes de fiscalização/controle) é menor ou, no máximo, igual ao custo da matéria-prima perdida no campo. Quando a empresa tem um acurado sistema de apropriação de custos, pode-se avaliar com precisão as despesas realizadas em cada talhão e, portanto, o custo real de cada tonelada de cana nele produzida. Por outro lado, o custo hora médio de cada equipe de fiscalização/controle de perdas pode ser também precisamente levantado. Assim, a variável decisória sobre a adoção do controle de perdas de colheita passa a ser em função do tempo de amostragem/fiscalização e da eficácia da ação fiscalizadora. Quanto mais tempo for consumido na amostragem e fiscalização dos fatores de perda, maior será o preço cobrado do talhão recém-colhido. Quanto maior for a eficácia da ação fiscalizadora, menores serão os níveis de perdas nesse talhão. Trata-se, portanto, de otimizar os procedimentos de amostragem, sem perda de acurácia, associado a ação fiscalizadora de caráter educativo. *Luiz Geraldo Mialhe é professor do Departamento de Engenharia Rural da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo) 27 tecnologia agrícola Concorrendo com imagens de satélite e fotografias aéreas feitas de avião, os drones têm a vantagem do custo menor e maior agilidade no resultado 28 É um pássaro? É um avião? Não! É um drone! Já é muito comum observar pequenas aeronaves que parecem de brinquedo voando pelos céus. Diferentemente dos aeromodelos, utilizados para atividades de lazer, os chamados drones (palavra em inglês que significa “zangão”) ou Vants (veículos aéreos não tripulados), têm sido bastante estudados e adaptados para uso em áreas agrícolas. Concorrendo com imagens de satélite e fotografias aéreas feitas de avião, os drones operam em custo menor e com mais agilidade. Detecção de falhas de plantio, estresse hídrico, monitoramento da sanidade do canavial, informações para estimativa de produtividade e necessidade de replantio, são alguns dos levantamentos possíveis de serem feitos com o uso destas pequenas aeronaves que já são consideradas uma importante ferramenta para produtores e usinas de cana-de-açúcar. A Embrapa calcula que, só no Brasil, ao menos 200 drones estejam sobrevoando lavouras de grãos, cana-de-açúcar e algodão, além de áreas de silvicultura. O que mais chama a atenção é que hoje esta tecnologia de última geração está muito mais acessível não só ao grande produtor rural, mas também aos pequenos e médios. “Os drones andam bastante expressivos nos cultivos de cana-de-açúcar, pela alta falha de plantio; em florestas, pela estimativa de produção; e em citriculturas, por serem alvos frequentes de doença”, afirma o pesquisador da Embrapa, Lúcio André de Castro Jorge. Originalmente concebidos para uso militar, os drones eram utilizados em missões muito perigosas (para não expor pilotos e pessoas ao risco de morte), para tarefas simples e repetitivas, geralmente de longa duração e para uso em locais contaminados. “Eles também eram usados em missões de patrulhamento, vigilância de fronteiras, busca e salvamento, apoio aéreo, controle de tiro, amplificação da rede de comunicação, missões de inteligência em área inimiga, designação de alvos e guerra eletrônica”, conta Paulo Renato Jotz, diretor de marketing da Creare Sistemas. Os estudos voltados para uso de drones na agricultura começaram na década de 90. No Brasil, em 2000, surgiu o Projeto Arara (Aeronave de Reconhecimento Autônoma e Remotamente Assistida), desenvolvido em parceria entre a USP (Universidade de São Paulo) e a Embrapa (Empresa Os drones andam bastante expressivos nos cultivos de cana-de-açúcar pela alta falha de plantio; em florestas, pela estimativa de produção; e em citriculturas, por serem alvos frequentes de doença Brasileira de Pesquisa Agropecuária), com vistas à utilização em Agricultura de Precisão. E desde que se percebeu que estas pequenas aeronaves poderiam contribuir em outras áreas, além da militar, diversas empresas vem utilizando-as para melhorar a eficiência de seus serviços. “Os produtores e usineiros têm visto que este equipamento pode facilitar muitos dos seus serviços, agilizando a coleta de dados e colaborando na produtividade e eficiência dos trabalhos nas culturas de cana-de-açúcar. Eles podem ser utilizados nessas culturas quando há arrendamento de terras, em que há a captação de imagens antes, durante e no térmi- 29 no do contrato de arrendamento, compondo laudos ambientais e judiciais, demonstrando a real situação da área. Outro aspecto importante que se pode analisar com o uso de Vants são falhas nas plantações e a produtividade de cada talhão, desenvolvendo programas computacionais que identificam, através das imagens aéreas, algumas adversidades nas lavouras”, detalha Carla Fernandes de Barros, responsável técnica da empresa PSG/VANTs. DRONE: O QUE É E COMO FUNCIONA Os Vants são aeronaves de pequeno porte que usam forças aerodinâmicas para obter sustentação, podendo voar de forma autônoma, semi-autônoma ou remotamente controlada. Os equipamentos mais modernos conseguem fazer imagens com qualidade superior à de satélites, ajudando a localizar deficiências no plantio a tempo de correção. A diferença básica de um Vant para um aeromodelo, segundo Jotz, é que no Vant não é preciso pilotar a aeronave. Todo o seu plano de voo é programado em solo antes do lançamento/decolagem da aeronave. Com isso, a carga de trabalho da equipe envolvida na operação fica reduzida, permitindo que eles se concentrem na carga útil que o Vant carrega, ou seja, nas câmeras de vídeo, câmeras fotográficas, radares, sistemas de rádio etc. “Basicamente, o drone é constituído pelo 30 veículo aéreo, com sua eletrônica de controle, guiamento e navegação, carga útil e um sistema de comunicação de dados (via rádio) entre o veículo aéreo e a estação de controle de solo (equipamentos de planejamento e acompanhamento da missão)”, explica Jotz. Operando com câmeras semi-profissionais, o Vant decola e, de modo autônomo, cumpre uma missão previamente traçada pelo operador. Depois de fazer imagens fotográficas, o Vant emite um sinal, informando que finalizou a tarefa. Todas as imagens captadas depois são analisadas por um software apropriado. Os modelos menores custam cerca de R$ 5 mil, e são capazes, entre outras funções, de detectar falhas no meio da plantação, manchas de invasores e deformidades no tamanho de plantas. Os mais avançados, maiores e mais caros, pensados para gerenciar grandes terrenos, são capazes ainda de captar problemas como estresse hídrico e deficiência nutricional graças ao modo infravermelho da câmera, além de medir a temperatura do vegetal e do solo com a câmera térmica. MONITORAMENTOS MAIS RÁPIDOS As imagens captadas pelo Vant, aliadas a uma boa técnica de geoprocessamento, são capazes de identificar com precisão a existência de pragas e falhas em lavouras, problemas de solo, além de áreas atingidas por erosão e assoreamento de rios. Depois de coletadas pelos drones, as imagens podem ser analisadas com a ajuda de um programa de computador que indica, através de cores específicas, os problemas que provocam prejuízos nas lavouras. Carla aponta que a tecnologia facilita e agiliza os monitoramentos porque coleta imagens atuais e em tempo real. Ela ainda destaca que é possível desenvolver vários produtos que facilitam as verificações de adversidades em qualquer tipo de lavoura, contribuindo em uma maior produtividade e melhor utilização da terra pelos produtores rurais. “Os Vants vieram mesmo para ficar. Um drone em um único dia pode recobrir mais de mil ha e transmitir dados para o produtor em curto espaço de tempo. A mão de obra para realizar este tipo de serviço sem os Vants é cara e desgastante, não sendo tão ágil e eficiente. O uso adequado de drones não acarreta qualquer tipo de risco a pessoas, animais ou propriedades, necessitando de poucas pessoas para sua operacionalização”, salienta Carla. De acordo com Adriano Fecundo, gerente da Usina Agroindustrial Santa Helena, localizada em Nova Andradina, MS, quando realizado manualmente, o monitoramento das áreas necessita de seis pessoas trabalhando e leva cerca de um mês para ser concluído. Já com o uso dos Vants são necessários apenas 31 custos com amostragens e análises de campo. “Vejo que esta tecnologia poderá, acima de tudo, direcionar as análises de campo e também nortear os gestores para uma melhor tomada de decisão.” ALÉM DAS AERONAVES três funcionários e o trabalho fica pronto em três dias. “O Vant dá um subsídio muito melhor, porque com o trabalho manual nós só temos resultado de amostragens, mas com o equipamento fazemos uma área de mil ha em poucos dias”, avalia. O produtor de cana Victor Paschoal Cosentino Campanelli, da Agro-Pastoril Paschoal Campanelli, testa a tecnologia desde 2012 para o mapeamento de falhas de plantio e mapeamento de infestação de ervas daninhas. “Hoje estudamos o uso dos drones para uma melhor calibração da curva de aplicação de nitrogênio em cana-de-açúcar porque queremos sair da aplicação por produtividade média. Hoje praticamos a agricultura de precisão com aplicação de adubo e corretivo em taxa variável. Creio que o drone possa ser uma das tecnologias que ajudará nesta curva de calibração. Também existem empresas privadas trabalhando com foco nesta tecnologia e buscando novas aplicações. Usaria como exemplo a Geoagri que está desenvolvendo algoritmos para levantamento de falhas e mapeamento de linhas de plantio de cana. Também em parceria com a Geoagri buscamos um algoritmo com uso de sensoriamento remoto e/ou drone para o levantamento de infestação de pragas como migdolus.” Campanelli acredita que o uso de drones poderá trazer significativamente a redução de 32 Além do Vant e das câmeras embarcadas (diurnas, infravermelhas e multiespectrais), são necessários computadores com alta capacidade de processamento, softwares de geoprocessamento para a geração de mosaicos (a partir das imagens tiradas pelo Vant), e softwares dedicados à interpretação de imagens com suas devidas funcionalidades. É opção da usina ter a sua própria plataforma de Vants e uma equipe dedicada para o uso dessa ferramenta, no entanto, existem empresas que prestam todo o serviço. A PSG Tecnologia é umas delas. Ela fabrica suas próprias aeronaves e equipamentos para uso próprio. Carla alerta que os vants não devem ser operados por pessoas que não possuem conhecimento específico para este fim, já que estas aeronaves, além de possuírem alta tecnologia embarcada, precisam de pessoal treinado para operá-las, o que requer várias horas de treino diárias, haja vista que os drones podem causar sérios riscos a pessoas e propriedades se manuseados e utilizados de forma indiscriminada. A Creare comercializa o software de análise de imagens para a identificação da sanidade do canavial e/ou não conformidades, a partir das imagens geradas pelos Vants da usina ou de qualquer outro prestador de serviço. “Não comercializamos as aeronaves. O escopo de nosso trabalho é o desenvolvimento do software de análise das imagens geradas pelo Vant para a identificação da sanidade do canavial e/ou não conformidades. Existem diversas empresas no Brasil comercializando Vants e oferecendo treinamento, suporte técnico, peças sobressalentes etc.” “Colocar o drone para voar parece ser brincadeira de criança, mas o que vem depois é muito mais complicado. É preciso fazer os mosaicos das imagens e processá-las em softwares específicos. A análise ocular de imagem a imagem, não é a mais eficiente. Quando usados softwares apropriados, eles tem o poder de fazer centenas de milhares de cálculos e entregar uma imagem processada com um realce de anomalias, facilitando a análise e interpretação dos dados. Portan- to, creio que esta tecnologia será operada por empresas especializadas e prestadores de serviço que entregarão à usina ou para o agricultor um relatório já processado e de fácil interpretação”, adiciona Campanelli. Com o apoio de propriedades parceiras, a Embrapa desenvolve e testa diferentes softwares para serem usados com drones, um deles, o Stonway, é voltado para diferentes culturas e é oferecido gratuitamente aos produtores. SEM LICENÇA, SEM VOO Já deu para perceber que não adianta comprar um drone e sair voando com ele por aí. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), responsável pela autorização de uso deste tipo de aeronaves, já lançou diversas Instruções Normativas restringindo o uso de drones e resguardando a segurança da população quanto aos efeitos destes equipamentos. Para que seja autorizado o uso do drone no campo é preciso que o Vant seja homologado pela Anac e que sejam obtidas as autorizações de voo junto a Anac e Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para que esteja em plena concordância com as regras vigentes. Além disso, é preciso fazer uma notificação para cada voo que será feito. “Além das empresas serem registradas na Anac e terem licença de operação, houve proposta apresentada à Agência para que os sistemas Vant das classes A (até 2 Kg), B (2 0800 7700496 | sew-eurodrive.com.br A SEW-EURODRIVE investe de forma constante no desenvolvimento de soluções que otimizam o setor sucroalcooleiro. É assim que ela se tornou a líder mundial em acionamentos. São 80 anos de tecnologia e inovação, presentes nas 15 fábricas e nos 77 centros de tecnologia, distribuídos por 49 países, movimentando mais de 15 mil Nova unidade SEW-EURODRIVE — Indaiatuba/SP colaboradores em todo o mundo. Agora, a história da SEW-EURODRIVE no Brasil dá um salto tecnológico com a nova unidade em Indaiatuba/SP, ´ A INDUSTRIA SUCROALCOOLEIRA ~ E´ MOVIDA A SOLUCOES ´ INOVADORAS. uma das mais modernas do grupo. São 300 mil metros quadrados de terreno, espaço ideal para gerar maior capacidade tecnológica e produtiva, com uma planta que tem como filosofia a sustentabilidade e o máximo aproveitamento dos recursos empregados. Na nova fábrica, estão em operação os mais avançados processos, máquinas e equipamentos para fabricação e montagem nacional de acionamentos industriais, que atendem o mercado mundial. Para isso, os departamentos de desenvolvimento de produtos e serviços trabalham em absoluta sintonia com as demandas reais dos mercados. Tudo isso para acompanhar sua empresa no seu principal movimento: o da EXPANSÃO. REDUTORES DE ALTO TORQUE-SÉRIE XP® Produção e montagem inteiramente nacional dos componentes, melhor aproveitamento da energia gerada, prazos de entrega reduzidos e disponibilidade imediata de peças de reposição VISITE NOSSO ESTANDE NA FENASUCRO 2014 SERTÃOZINHO - SP e serviços – faixa de torque de 10 a 3.000 kNm. 33 a 7 Kg) e C (7 a 25 Kg) possam voar sem licença de voo ou Notam*, desde que cumpram vários requisitos, incluindo que o voo não seja totalmente autônomo, voo diurno com linha de visada limitada a 500 m, voo no máximo de 150 m de altitude, voos a 150 m de pessoas e/ou áreas populosas, entre outros”, complementa Jotz. De acordo com o pesquisador da Embrapa, ainda existem muitos relatos de quedas de Vants por diferentes motivos, sendo os principais a falta de manutenção, o não seguimento dos procedimentos de operação e falhas de operação. “A falha do sistema, em geral, não tem sido causa de quedas, uma vez que existem dispositivos de segurança como paraquedas, pousos pré-programados etc. O grande problema tem sido a manutenção inadequada e condições de operação. No campo estas condições são mais críticas ainda, considerando a robustez do campo.” A CAMINHO DA EVOLUÇÃO Como a tecnologia é nova e ainda se encontra em fase transitória, melhorias significativas deverão e irão ocorrer em todos os componentes dos Vants, bem como nas cargas úteis (câmeras e equipamentos embarcados) e nos softwares GIS. Segundo Jotz, novos softwares especialistas deverão surgir e os drones vão ser usados para 34 aplicação pontual de produtos agroquímicos, na quantidade certa, no local certo, sem expor o ser humano a situações de risco e/ou contaminação. Ele ainda lembra diversas novas funcionalidades que serão desenvolvidas com o uso dessa plataforma. “As empresas agrícolas terão informações antecipadas nas diversas fases do plantio, permitindo a tomada de ação para evitar, eliminar e/ou mitigar futuros problemas. As diversas funcionalidades e benefícios do Vant não podem ser obtidas pelo homem a pé. A questão não é se o Vant vai ser um sucesso na agricultura, mas sim quando será um sucesso. É só uma questão de tempo. Quanto antes o produtor começar a dominar e utilizar essa tecnologia, mais cedo terá resultados significativos, obtendo maior produtividade e competitividade. Daqui a alguns anos, os drones serão como os tratores são hoje para quem vive da agricultura”, conclui Jotz. O pesquisador da Embrapa, no entanto, lembra que os Vants ainda não são como tratores. “A tecnologia exige procedimentos e cuidados. Mas deve, certamente, figurar nos próximos tempos como uma das ferramentas mais úteis na agricultura de precisão”, finaliza. * NOTAM é um documento que tem por finalidade divulgar, antecipadamente, toda informação aeronáutica que seja de interesse direto e imediato à segurança, regularidade e eficiência da navegação aérea 35 tecnologia industrial Sem novidades tecnológicas, usinas precisam fazer a devida manutenção em centrífugas de açúcar e etanol para evitar perdas Após a cana-de-açúcar passar pelas moendas, temos o caldo e é a partir dele que será obtido o açúcar e etanol. Para que isso aconteça, o caldo precisa passar por várias fases e uma delas é o processo de centrifugação, composto por máquinas centrifugadoras separadoras de líquidos e sólidos de uma mistura. É importante salientar que as centrífugas de açúcar e etanol são máquinas completamente diferentes que trabalham pelo mesmo princípio da física, ou seja, a centrifugação que age por efeito da força G. Paulo Sérgio Garcia Nascimento, especialista em Equipamentos Centrífugos e Processos Industriais e diretor da Hiper Centrifugation Ltda, explica que a função da centrífuga no processo de etanol é separar a levedura proveniente da fermentação do caldo da cana evitando assim sujar as colunas de destilação. Parte da levedura separada volta para o processo e a outra é utilizada para ração animal ou humana devido a alta fonte proteica. A função da centrífuga de cesto na fabricação de açúcar é, após a evapo36 ração e concentração do caldo de cana, separar o açúcar cristalizado concentrado no melaço. As centrífugas são de extrema importância para a fabricação de açúcar e etanol. “Em ambos os casos são para melhorar a qualidade do produto final, diminuir o tempo desta fase, aumentar o rendimento industrial e o retorno financeiro”, enumera Carlos Gregório, gerente de vendas da Fives Lille do Brasil. DIFERENÇAS NA PRODUÇÃO DE AÇÚCAR E ETANOL São diversos os fabricantes e seus vários modelos de centrífugas. No caso de centrífugas para a produção de açúcar os fabricantes mais comuns são Mausa, Silver Weibull, BWS, Fives Cail, Usitep etc. No caso de etanol, as fabricantes de centrífugas são GEA Westfalia, Flottweg, Alfa Laval, Mausa, etc. Na produção de açúcar, após o obter-se a massa cozida produzida nos cozedores a bateladas ou contínuos, alimenta-se as centrifugas em bateladas ou contínuas para massa A. Esta massa será encaminhada ao elemento de separação denominado cesto, o qual proporcionará força centrífuga à massa separando os cristais de sacarose dos méis e impurezas. Neste processo nada é descartado, pois temos a sacarose de um lado e de outro lado os méis, os cristais de sacarose pequenos e impurezas (subproduto aproveitável). Neste caso recuperam-se os cristais pequenos para retornar ao processo e os méis retornam ao processo de açúcar e ou fermentação para álcool e ou ração. “Os cristais de açúcar separados podem ir para mais uma fase de refinamento ou se for a última, para ensacamento de produto final. O melaço separado pode ser enviado para mais um processo de cozimento de açúcar para se extrair mais açúcar, e quando chega no final, esse residual de melaço vai para a produção de etanol, nada é descartado”, reitera Gunnar Johansen, gerente administrativo na WSC Service Center Centrífugas Industriais Ltda. Para a produção de etanol, igualmente o vinho (mosto fermentado com as leveduras mais as impurezas) alimentará a centrifuga decantadora que também utiliza a força centrifuga e irá separar e recuperar as leveduras por uma tubulação e, por outra, o vinho levedurado com as impurezas. As centrífugas são de extrema importância para a fabricação de açúcar e etanol, pois melhoram a qualidade do produto final, aumentam o rendimento industrial e o retorno financeiro DIMENSIONAMENTO E PERFORMANCE Para a boa performance das centrífugas é necessário que as mesmas sejam bem dimensionadas. Gregório salienta que se for um projeto que está sendo iniciado deve-se saber do investidor qual a capacidade inicial e final do ILUSTRAÇÕES:empreendimento, ou seja, quantos sacos de ASSUNTO: ANUNCIO_IDEIA NEWS DATA: 26/07/2014 açúcar e litros de etanol serão produzidos por ORIGINAL: RICARDO SÁ dia e em quantas etapas acontecerá o cresci- Centrífugas contínuas usadas para a produção de açúcar mento. “Nesta fase contemplamos equipamentos que ofereçam tecnologia mais avançada objetivando retorno do capital em menor tempo. A partir disso o dimensionamento é realizado para não haver excesso ou falta de equipamentos de processo dentro de cada fase, levando-se em consideração suas capacidades unitárias e padronização dos mesmos. Isso vale tanto para as centrífugas de açúcar quanto para as de etanol.” Nascimento reforça que o dimensionado de uma centrífuga é feito de acordo com a capacidade de produção e quantidade de produto a separar. “Para a separação de levedura, existe no mercado centrífugas para produção de 30 mil a 200 mil l/h de vinho. “ Já a performance ideal, segundo Gregório, para uma centrífuga de açúcar, é que o equipamento reproduza capacidade, qualidade do produto final, durabilidade e confiabilidade operacional conforme o projeto da máquina. UMA HISTÓRIA DE MUITO TRABALHO E COMPROMETIMENTO COM A QUALIDADE AS MELHORES FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS PARA UM MAIOR CONTROLE DA CONTAMINAÇÃO BACTERIANA NA FERMENTAÇÃO Agende uma visita com nossa equipe técnica e obtenha uma avaliação de sua fermentação. Tel: (31) 3057-2000 www.quimicareal.com.br 37 Manutenções preventivas e corretivas devem ser realizadas conforme as boas práticas de manutenção e seguindo os preceitos técnicos do projeto do equipamento Johansen completa dizendo que a performance ideal é aquela que une vazão adequada para a produção de determinada usina com a produção do açúcar de menor concentração de umidade e açúcar mais branco possível (Brix - menos coloração dada por melaço). “Para centrífuga voltada para a produção de etanol, a performance ideal é aquela que une vazão adequada para a produção de determinada usina com o maior percentual de concentração possível (de fermento separado).” “A performance ideal, além da produção nominal da centrífuga, é a clarificação ideal do vinho que deve estar praticamente isento de fermentos e a concentração da levedura”, diz Nascimento sobre as centrífugas de etanol. MINIMIZANDO PROBLEMAS O mau dimensionamento de uma centrífuga causa perdas e consequentes danos ao processo. “Isso é certamente desastroso e o prejuízo é inevitável, além da previsão do retorno financeiro do investimento ocorrer em tempo maior que o projetado”, observa Gregório. Em principio não é comum haver problemas com as centrífugas de açúcar durante a safra, desde que tenha sido feita a manutenção preventiva e corretiva conforme boas práticas de manutenção e seguindo os preceitos técnicos do projeto do equipamento. “Esta é a forma de diminuir a possibilidade de haver problemas dentro da safra. O que ocorre durante a safra é a substituição de partes que sofrem desgastes pelo uso como telas de tra- 38 balho, que é rotina do trabalho de operação e que ocorre com pouca frequência dependendo do tipo de máquina e condução da operação. Isso também explica como aumentar a eficiência no processo de centrifugação, porém devo lembrar que o equipamento necessita que todos os requisitos técnicos sejam atendidos”, lembra Gregório. Entre os problemas mais comuns nas centrífugas para etanol, Johansen aponta o desgaste natural que demanda manutenções preventivas periódicas a cada 5 mil h (recomendado por fabricantes) para manter a vida útil e produtividade do equipamento, e as manutenções não feitas ou efetuadas por empresas não capacitadas que chegam a desconfigurar e mutilar os equipamentos, além de prejudicar a produtividade, colocando em Segundo Johansen, as manutenções efetuadas por empresas não capacitadas chegam a desconfigurar e mutilar os equipamentos, além de prejudicar a produtividade risco a segurança do equipamento. Nascimento também afirma que o mais comum são os danos causados por imperícia dos operadores na hora da desmontagem para limpeza. “Isso acontece devido à falta de treinamento adequado”, frisa ao mencionar que as manutenções preventivas periódicas devem ser feitas em todas as centrífugas, assim como troca de óleo dentro das especificações e treinamento do pessoal de operação e manutenção envolvido. Para evitar esses e outros problemas nas centrífugas, é necessário efetuar as manutenções periódicas e de entressafra sempre com empresas capacitadas, que podem ser os próprios fabricantes ou oficina credenciadas pelos mesmos. EFEITOS DA CRISE Apesar da crise, o mercado de centrífugas está muito escasso e concorrido, na visão de Gregório. “O preocupante é que com os baixos preços do açúcar e etanol os empreendedores tendem a comprar equipamentos com menor valor de aquisição que certamente não reproduzirão o mesmo resultado das máquinas que seguem normas rígidas de projeto e de materiais construtivos”, explica. Para esse ano, ele não aponta novidades por parte da fabricante Fives Lille. “Da parte da Fives a novidade está prevista para o próximo ano. Essas novidades visam melhorar a qualidade e minimizar custos”, sintetiza. Gregório também conta que, com a crise, as usinas deixaram de dar a devida atenção à manutenção das suas centrífugas. “A consequência disso para o processo, inevitavelmente, são as paradas das máquinas dentro da safra causando prejuízos enormes, muito maiores que o custo da manutenção”, frisa. Nascimento diz que, no atual momento, o mercado de centrífugas se encontra parado devido à crise no setor de etanol. “No momento não temos novidades e esperamos que o sucesso da Fenasucro nos dê retorno em vendas para esse setor”, adianta. O diretor também aponta que devido à crise, algumas usinas, no intuito de economizar, deixaram de fazer a necessária manutenção preventiva das suas centrífugas “Isso pode causar danos à parte mecânica, que devido à alta rotação pode ocasionar a quebra de rolamentos e consequente ruptura de eixos, pondo em risco os operadores e todos os periféricos”, conclui. Tecnologia avançada a serviço da eficiência. centrifugação filtragem secagem av Com Leopoldo Dedini 500 BR 13422-902 Piracicaba SP tel +55 19 3124 3000 fax +55 19 3124 3011 [email protected] 39 www.mausa.com.br tecnologia industrial Presentes em todo o processo produtivo de uma unidade sucroalcooleira, ainda não existe nada revolucionário em bombas e em sistemas de bombeamento para o setor sucroenergético Walter Luiz Polônio As funções das bombas centrífugas nos setor sucroalcooleiro se destinam as áreas industrial e agrícola, sendo aplicada para transporte, dosagem, promoção de pressão e mistura. Na área agrícola as aplicações se resumem a aspersão e distribuição de vinhaça e ou de água para irrigação. Já na indústria as aplicações são desde um simples bombeamento de água as mais variadas e complexas operações unitárias de processo, representando entre os setores industriais a maior diversidade de aplicação possível, inclusive com relação à indústria química, petroquímica e mineração. Os tipos de bombas podem ser resumidos em três classificações pelas siglas BA, BP e BE, sendo: Tipo 1 - Bombas para Água (BA): Manuseio de água limpa, com pH (potência hidrogeniônico) próximo a neutro e a temperatura ambiente, aplicações consideradas de baixa responsabilidade e atendendo grandes faixas de vazão e pressão, com emprego de somente um rotor. Tipo 2 - Bombas para Processo (BP): Manuseio de fluídos contendo sólidos em suspensão, sólidos dissolvidos, sólidos insolúveis, fluídos corrosivos com pH alcalino e ou ácido, fluidos com gases dissolvidos, gases inclusos e ou com liberação e gases em processo, fluidos aquecidos ou subresfriados, fluidos cristalizantes, fluidos com média viscosidade e outras exigências de processo que 40 se considerem médias e não extremas. As principais características exigidas das bombas para processo resume-se na operacionalidade a estado estabelecido o que se denomina na língua Inglesa de steady state, que significa a manutenção e fluxo constante sem variação de vazão, desde que esta varie de zero até a vazão nominal e projeto, mantendo fluxo estável independente das condições de aspiração (como altura de sucção), quantidade de sólidos insolúveis ou dissolvidos, gases inclusos ou dissolvidos, viscosidade e temperatura para a faixa de exigência de processo. Tipo 3 – Bombas Especiais (BE): Manuseio de fluídos também de processo, mas para condições extremas. Em resumo geral as aplicações são definidas para fluidos sólidos solúveis ou dissolvidos e insolúveis, com características de abrasão e ou fibrosos variando a viscosidade e temperatura, e as ações físicas resultantes de ataque de químicos, temperatura e presença de gases podendo ser dissolvidos ou ar incluso. As bombas ainda são classificadas em duas categorias em função da responsabilidade e requerimentos exigidos, sendo: - Média responsabilidade - Bombas de Processo (BP) para manuseio de fluídos de processo considerando a influência de temperatura, viscosidade, sólidos dissolvidos, sólidos em sus- pensão, fluidos com gases leves abrasivos e corrosivos. São bombas com rotor aberto (figura 1 e 3) e construção conforme Norma ANSI B73.1) - Baixa responsabilidade - Bombas de Água (BA) basicamente para manuseio de água a temperatura ambiente. São bombas com rotor fechado (figura 2 e 4), e construção conforme a Norma ISO 5199 e ISO 2858. A principal diferença física entre bombas para água e bombas para processo, está na forma em que se realiza a selagem das regiões de alta e baixa pressão no rotor dentro da carcaça da bomba. As bombas para água, denominadas aqui pela baixa responsabilidade, possuem anéis de selagem fixados no rotor fechado e carcaça, determinando fronteiras finas dadas pela largura dos anéis de selagem e que por isso são fáceis de ser rompidas e desestabilizadas por separação de pressões nas fronteiras, interrompendo o fluxo estável e permanente a qualquer passagem de sólidos, gases e ou vaporização do fluido circulante. Já nas bombas para processo, as separações das zonas de baixa e alta pressão são realizadas por rotor aberto que se ajustam as carcaças e a fronteira divisória é ampla e segura representada por quase toda a extensão do diâmetro do rotor, o que mantêm os fluxos contínuos e estáveis, dando assim características para atendimento ao processo, sem que se modifique facilmente por passagem de gases, sólidos e ou vaporização. As bombas de água devem operar em situações adequadas, com fluídos límpidos a temperatura ambiente, e por isso denominam-se de baixa responsabilidade. Já as bombas de processos são consideradas de média e alta responsabilidade, pois são capazes de manter os fluxos estáveis, mesmo que os fluidos sejam impuros (contenham sólidos em suspensão), podendo ser minerais e ou fibras ou outros orgânicos, operem com fluidos aquecidos e ou superaquecidos, que 41 42 43 44 As melhores soluções em acionamentos para o setor sucroenergético. A WEG-CESTARI oferece uma completa linha de redutores e motorredutores para toda a cadeia produtiva do setor sucroenergético com destaque para as torres de resfriamento, com produtos padronizados ou projetos especiais. Também disponibiliza a área SERVICE WEG-CESTARI, exclusiva para manutenção e repotenciamento de redutores de todas as marcas, com ampla capacidade técnica, modernos equipamentos e atendimento personalizado. Todos os produtos fornecidos contam com o suporte da Assistência Técnica WEG-CESTARI, 24 horas por dia, 365 dias por ano. WEG-CESTARI: qualidade, confiabilidade e tradição - 100% brasileira. 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Uma observação importante é que não se devem comparar valores de NPSH requeridos entre bombas com rotor fechado mais anéis de selagem com bombas de rotor aberto juntos a carcaça (construção conforme ANSI B 73), pois em poucas vezes as bombas com anéis possuem valor de confronto menor. Isto não significa superioridade, pois a confiabilidade de constância em processo para as bombas de anéis é frágil e, sendo assim, recomenda-se para uso em processo as bombas com rotor aberto junto a carcaça, que se prestam mais as condições de processo. Em relação à vida útil e capacidade de manusear fluidos sujos e em condições adversas, as bombas de rotor aberto junto a carcaça são as mais recomendadas, garantindo vida útil superior, além de possibilitarem ajustes de folgas sem desmontagem das bombas em pleno regime de campanha, ou seja, sem necessidade de intervenção corretiva, o que é necessário para bomba com anéis no rotor. Não se apresenta neste artigo aplicações de bombas para Alta Responsabilidade, que classificamos como Bombas Especiais (BE), as quais exigem formas construtivas diferenciadas de rotor, carcaça e ou emprego de outros materiais como: - Bombas de alta pressão (acima de 8 bar quando requer múltiplos estágios), como alimentação de caldeira; - Bombas para fluidos extremamente abrasivos (água de fuligem de caldeira, lodo de decantação, caldo misto de moendas, embebição para moendas por extração convencional e ou difusor); - Bombas para massas ou fluidos ou semifluidos de altíssima viscosidade (bombas de deslocamento positivo, cavidade progressiva, de embolo, de palhetas, de lóbulos e outras para aplicação); - Bombas para fluídos corrosivos (ácidos concentrados ou ácidos em diversas concentrações). Lembro ainda que este artigo não tem como objetivo explicar as razões técnicas da escolha do tipo construtivo das bombas com rotor fechado e aberto, ou diferenciações entre ANSI e ISO. UTILIZAÇÃO NAS USINAS A aplicação de bombas centrífugas se encontra distribuída em toda a sequência de processo produtivo de uma unidade sucroalcooleira, desde a recepção de cana, percorrendo todo o processo de extração, tratamentos físicos e químicos dos caldos, aquecimentos, passando pela clarificação, separação e lodo, evaporação, cristalização, centrifugação e/ou fermentação, e destilação. A tabela 1 descreve os principais fluidos em circulação dentro de uma unidade sucroalcooleira com refinaria anexa, onde se classificam os empregos de bombas BA, BP e BE em função das naturezas de bombeamento e o tipo de solicitação. Algumas operações são comuns entre os setores sucroalcooleiro, químico, petroquímico, mineração e papel e celulose, mas nem todas as soluções são viáveis e o setor sucroalcooleiro 46 tem se posicionado com soluções próprias que objetivam custos menores, facilidade de manutenção e operação aliado a condição de quem opera em regime de safra e paralização no período de entressafra. Um exemplo típico é que no setor sucroalcooleiro não se permite a aquisição de bombas atendendo normas construtivas API, normalmente empregadas no setor petroquímico, por dois motivos básicos: o elevado custo e a característica operacional do setor que tem interrupção de operação durante três a quatro meses por ano (entressafra), o que pode representar, sem maiores cuidados específicos, um desgaste ou motivo para falha prematura de equipamentos em função da inatividade. Outro importante fator que direcionou as soluções de aplicação de bombas no setor sucroalcooleiro se devem as condições de manutenção como simplicidade construtiva, facilidade na acessibilidade ao mercado (disponibilidade no mercado nacional), emprego de materiais nacionalizados que permitam recuperação com facilidade e fidelidade do conjunto para condição operacional em regimes sazonais. Como exemplo tem-se registros históricos de que no setor sucroalcooleiro existem bombas operando em condições críticas ou severas de abrasão, corrosão há mais de 32 anos sem reposição de partes como carcaça, rotor e eixo (originais), sendo mantidas com substituição somente de rolamentos, juntas e outros e ainda com excelentes condições e performance. Pode-se afirmar ainda que não existe nada de novo e ou revolucionário em bombas e sistemas de bombeamento para o setor sucroalcooleiro, por dois motivos: um devido aos fabricantes e outro devido aos consumidores. No que diz respeito aos fabricantes, os equipamentos disponibilizados no mercado nacional e internacional, atendem toda e qualquer aplicação quer seja ela existente ou a ser empregada. Um dos melhores portfolios de apresentação de bombas centrífugas que analisei com as mais variadas opções construtivas para todo e qualquer processo na indústria, foi um catálogo da empresa Ingersoll Rand datado da década de 50, muito rico em opções e especialidades e que até hoje estou esperando serem disponíveis no mercado nacional. Portanto entendo que o desenvolvimento há de prosseguir, pois também participo do meio acadêmico e opero na indústria. Mas que não está sendo fácil colocar o “ovo em pé”, isto posso afirmar, pois a indústria de bombas possui soluções para o setor sucroalcooleiro que ainda temos que enfrentar. Do lado dos consumidores, muitos ainda carecem de um conhecimento da grande variedade de equipamentos disponíveis no mercado para as variadas aplicações. A melhor escolha vai ser definida com a relação custo benefício, mas temos equacionado e resolvido mais de 98% das soluções aceitáveis no setor com equipamentos e materiais nacionais de fácil acesso e relativo baixo custo. Não nos cabe procurar um equipamento especialmente concebido para as unidades operacionais existentes, considero que as soluções são comuns, e as especialidades surgem assim como novos processos. Portanto, para uma usina padrão estamos muito bem servidos pelo mercado nacional. * Walter Luiz Polônio é engenheiro mecânico pós-graduado Master Science Industrial em Filtração a Vácuo 47 tecnologia industrial Mesmo com estudo e planejamento, podem surgir problemas durante o desenvolvimento do projeto. O que fazer para evitá-los? Tercio Marques Dalla Vecchia * Antes de qualquer coisa, permita-me fazer uma pergunta: Por que se fazem projetos e o que motiva um projeto? As respostas são claras: a) Ganância! No bom sentido, claro, ou seja, vontade de ganhar dinheiro ou mais dinheiro! Neste caso estão os greenfields, as ampliações brownfields, aumentos de eficiências etc; b) Uma necessidade técnica para resolver um problema operacional; c) Resolver uma situação de insegurança (reduzir riscos de injúrias pessoais, materiais ou ambientais); d) Sobrevivência - algumas intervenções têm que ser realizadas para que a empresa não perca competitividade ou, pelo menos, reduza seus prejuízos. Diante disso, um ponto que deve ser destacado são as principais fontes de deficiência nos projetos de engenharia. Abaixo, cito uma lista deles: O Edital: Um projeto sempre começa com um edital. Um edital bem feito é muito difícil de ser realizado por vários motivos. O edital é o Enunciado do Problema e, se este não for claro, não há solução possível. Um edital pode ser uma simples informação oral como pode ser um documento com centenas de páginas. O tamanho não é proporcional à qualidade. É comum ter editais com dezenas 48 de páginas com informações não aplicáveis ao projeto, mas simplesmente geradas pelo “copy/paste” do Word. É importante notar que se o edital não for bem feito, o entendimento dos fornecedores não será igual, ocasionando dificuldades de equalizações técnicas e comerciais. Pressão sobre os prazos: Os prazos são o maior inimigo da qualidade de um projeto. Infelizmente, as usinas dependem da safra e atrasos podem redundar em grandes prejuízos. Mudanças para a safra 2015 já deveriam ser projetadas para dar tempo adequado para aquisições, fabricação e montagem. Infelizmente, a maioria dos projetos será contratada no fim de 2014. No planejamento, todos os prazos devem ser bem estabelecidos. O prazo para elaboração do edital, para contratação e execução do projeto, para a aquisição de equipamentos e serviços, para a construção e montagens, testes de pré-operação e operação. Se a decisão de fazer o edital é tomada tardiamente, o edital acabaça ficando com falhas por ter sido realizado em curto prazo. As propostas são apresentadas de forma incompleta, a equalização das propostas fica difícil e demorada. Muitas vezes, as propostas equalizadas seguem para o departamento de suprimentos, negociações infindáveis para conseguir o menor custo atrasam a contratação do projeto... E a data de início da safra está lá, firme. Nesta fase, o prazo para exe- cução do projeto já foi reduzido a - praticamente - o impossível. Pressão sobre o custo do projeto: Há uma tendência muito grande de pressionar os preços dos projetos de engenharia para o menor valor possível. Não é aí que deve se economizar, pois cada real gasto no projeto e no planejamento pode representar R$10 ou R$20 economizados no empreendimento. O item engenharia (total) raramente ultrapassa no setor sucroenergético 3% a 4% do valor do investimento. A indústria de gás e óleo está acostumada com valores de 15% a 17%. Isto demonstra, claramente, o valor que se dá a engenharia. O custo de projeto é, basicamente, mão de obra especializada. O custo unitário (R$/h) não é muito diferente de uma empresa para outra. Entretanto, é o número de horas alocadas e a qualificação do pessoal alocado que dão diferenciais significativos ao custo. Assim, comprar um projeto pelo preço pode sair muito caro no final das contas. Mudanças de Escopo: Quando as bases do projeto não estão bem estabelecidas e acordadas ocorrem muitas mudanças de escopo que refletem no custo, no prazo e muitas vezes na qualidade do projeto. Revisões de documentos e redefinição de prazos acabam pressionando a qualidade do projeto. O mais interessante é que é difícil (ou quase impossível) convencer o cliente do aumento de custo e do aumento de prazo. Assim, se você quer um bom projeto, faça um bom trabalho de definições básicas que não exigem grandes modificações de escopo. Documentos de Terceiros: Durante a execução do projeto é necessário utilizar desenhos e documentos de terceiros (dimensionais de equipamentos, dados de operação etc.). Por pressão dos prazos, é comum utilizar-se documentos não certificados de terceiros, o que é um erro brutal. Coisas impossíveis de serem alteradas, frequentemente, o são (vide Lei de Murphy). Esta é uma das maiores fontes de erros que podem causar grandes prejuízos ao empreendimento (locação de bases erradas, interferências de tubulações, dificuldade de montagem e desmontagem e por aí vai). Claro que refazer uma base ou mudar uma tubulação já pronta custa bastante. Listas de Materiais: Uma grande reclamação é a deficiência das listas de materiais para compra e montagem. Listas faltando peças ou com especificações erradas são muito comuns. Principalmente quando as listas preliminares são realizadas para um levantamento de custos. Quando se dá por conta, a lista preliminar foi totalmente adquirida e a preliminar ficou “definitiva” até a hora da montagem, quando as deficiências vão aparecer. Pergunte ao seu projetista como ele faz a gestão de listas de materiais. As Built: 100% das nossas usinas não têm a documentação completa. Assim é essencial realizar o as built de uma instalação e ter os dados confirmados antes do projeto de instalação ser iniciado. As Built com erros faz com que os erros sejam propagados por todo o projeto. O as built deve ser realizado ao terminar a implantação do projeto e todas as vezes que se fizer uma intervenção na área. Conclusão: Qualidade (segundo o PMBOK) é “adequação aos requisitos”. Um dos primeiros processos de gerenciamento de projetos é a coleta de requisitos, onde são definidos todos os atributos que o projeto deve ter para que possa atender a qualidade desejada pelo cliente. Basicamente, trata-se do nivelamento de expectativas. A projetista tem que saber com a maior exatidão possível o que fazer (escopo), quanto gastar (custo), em quanto tempo e como (qualidade) deve entregar seu trabalho. É imprescindível que Segundo Dalla Vecchia, é imprescindível que o cliente tenha consciência do que comprou e o que vai receber o cliente tenha consciência do que comprou e o que vai receber. Começa por aí. Ou seja, as bases do projeto têm que ser muito bem feitas! *Tercio Marques Dalla Vecchia é engenheiro químico e CEO da Reunion Engenharia 49 conjuntura Ronaldo Cabrera* O setor sucroenergético está em constante transformação, desde o campo, processos industriais, até a comercialização. É um sistema muito complexo, onde na mesma empresa há a produção agrícola, a indústria, a comercialização, a mecanização, o transporte e a segurança. Esta complexidade cria um gigantesco vácuo de eficiência durante todo o processo, deixando muitos espaços para serem preenchidos com otimizações. Um exemplo clássico é o bagaço, que no passado era um problema e hoje está mais valorizado (R$/ tonelada) do que a própria cana, devido principalmente a geração de energia elétrica, que num período de crise talvez seja o produto mais lucrativo das usinas. Dentro deste contexto, surge a necessidade de otimizar os re- 50 cursos como terra, pessoal, máquinas e a própria indústria. Um modelo exemplar é a Usina Nardini, na região de Vista Alegre do Alto, SP, que cultivando eucalipto para geração de energia elétrica consegue maximizar seus recursos disponíveis. A adequação das propriedades, conforme as exigências ambientais, assim como a mecanização da colheita gerou uma perda de área muito significativa, criando pontos inviáveis ao plantio de cana, pois as áreas de manobra e/ou a declividade não permitem a mecanização. Estes pontos agricultáveis acabam abandonados, o que num primeiro momento parecem pequenos, mas o somatório torna-se representativo no universo de uma usina, que cultiva milhares de hectares. As usinas podem ganhar muito cultivando eucalipto nestas áreas. O poder calorífico do cavaco de eucalipto é 2,3 vezes maior que o bagaço da cana (4600 kcal/kg x 2000 kcal/kg – Figura 1), ou seja, produz pelo menos o dobro de energia por unidade processada. Se o bagaço já é um bom negócio para a usina, imagina um material com o dobro de capacidade calorífica e cultivado em áreas abandonadas. Os pontos de otimização seriam: 1- As terras não cultivadas; 2 - Como o plantio de eucalipto ocorre durante o ano todo, é possível utilizar os equipamentos a qualquer momento de ociosidade, pois são basicamente os mesmos utilizados no cultivo da cana, o mesmo acontecendo com o pessoal de campo; 3 - A colheita do eucalipto pode ser feita na entressafra, utilizando 51 Cavaco de eucalipto para bioeletricidade Eucalipto plantado em área não mecanizável para cana-deaçúcar a mesma estrutura de transporte da cana; 4 - O sistema de cogeração da usina pode funcionar o ano inteiro, pois o cavaco de eucalipto supre a entressafra do bagaço. Para haver sucesso nesta operação é importante respeitar regras simples na implantação das florestas, pois é possível produzir 200 t/ha no sexto ano, ou seja, 33 t/ha/ano. Considerando que uma tonelada de cana gera 140 kg de bagaço, então a produção de eucalipto equivale a 238 t/ha/ano de cana. Numa produtividade média de 80 t/ha de cana, 1 ha de eucalipto representa 2,95 ha de cana em termos de produção de bagaço e, se levarmos em consideração o maior poder calorífico do cavaco de eucalipto, o mesmo equivale a 6,8 ha de cana em termos de produção de energia elétrica. Com a produção de 33 t/ha/ano de cavaco, rendimento energético de 2 MW/t e preço de venda de R$ 150/MWh, obtem-se uma receita bruta de R$ 9,9 mil/ha/ano em uma área abandonada. PLANTIO A escolha do material genético é muito importante e hoje estão disponíveis os materiais clonados, sendo os mais produtivos os híbridos de Eucaliptus grandis X Ecualiptus urofilia, mais conhecidos como Urograndis. O plantio pode ser adensado com espaçamento de 3,0 m x 1,0 m, para colheita com três anos, ou plantio convencional com espaçamento de 3,0 m x 2,0 m para colheita aos seis anos. Os cuidados iniciais são correção do solo com calcário, gesso 52 agrícola, adubação com macro e micronutrientes, irrigação, controle de mato e formigas. No caso específico da cana é preciso tomar cuidado com os herbicidas residuais que podem prejudicar a cultura do eucalipto. O gesso agrícola tem papel importante na implantação da floresta, pois na cultura do eucalipto, não é necessário elevar tanto o pH do solo (pH em CaCl2 de 4,6 a 5,0), mas a neutralização do alumínio e o fornecimento de cálcio em profundidade é essencial para o bom desempenho da floresta, e o gesso agrícola cumpre este papel com muita eficiência. Com 20% de cálcio e 15% de enxofre, o gesso agrícola fornece dois nutrientes essenciais, que tem a função de aumentar a lignina da madeira, proteína responsável pelo aumento de peso e resistência da planta, consequentemente aumentando a produtividade e o rendimento energético. A aplicação pode ser a lanço e a recomendação segue a fórmula da Embrapa para a cultura perene: NG = 75 x % argila Onde, NG = necessidade de gesso em kg/ha, 75 = constante para cultura perene e % argila = teor de argila do solo. Na implantação da floresta é recomendável a subsolagem da linha de plantio para facilitar o crescimento radicular e o estabelecimento da floresta. Nesta operação recomenda-se aplicação de fósforo, fazendo a fosfatagem profunda na dose que varia de 80 a 120 kg/ha de P2O5. As adubações de cobertura contemplam macro e micro nutrientes, sendo boro, cobre e zinco os micronutrientes mais importantes. A recomendação deve ser embasada em análise de solo, e o monitoramento nutricional da cultura é feito com análises foliares até o terceiro ano. Vale lembrar que o sucesso da implantação da floresta depende das operações efetuadas nos 30 primeiros dias, ou seja, a qualidade e a produtividade de uma floresta de seis anos são definidas no primeiro mês de condução. A agricultura brasileira é fantástica, uma dádiva e sempre estão surgindo coisas novas, onde o aproveitamento e a competitividade dependem fundamentalmente da iniciativa de pessoas envolvidas no processo produtivo. O cultivo do eucalipto para fins energéticos é uma oportunidade que deve ser vista com bons olhos, pois seria a pedra angular para tornar o setor ainda mais competitivo e eficiente. *Ronaldo Cabrera é consultor de empresas, engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia parar o motor, o que reduz significativamente os danos e diminui o tempo de inatividade da máquina. PRODUZINDO PRODUZINDO BIOMASSA BIOMASSA DEDE ALTA QUALIDADE ALTA QUALIDADE Saiba mais sobre os produtos Morbark - Entre em contato com a Komatsu Forest, revendedor exclusivo no Brasil, conte com os melhores picadores e trituradores do mercado, e com o melhor pós-venda. 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Dessa forma, o Grupo São Martinho adquiriu uma participação societária adicional na Santa Cruz por R$ 315,8 milhões, passando dos atuais 36,09% para 92,14%. A São Martinho alienou a totalidade de suas ações da Agro Pecuária Boa Vista para a LOP por R$ 195,9 milhões. A Companhia informou ainda que celebrou um contrato de arrendamento de cana-de-açúcar entre a Santa Cruz e a Agropecuária Boa Vista por um período de 20 anos. BUNGE DEVE PERDER SÓCIA JAPONESA EM DUAS USINAS DE ETANOL Depois de acumular prejuízos consecutivos com a operação e de ainda não ter encontrado uma solução estratégica para o negócio, a Bunge terá agora que desembolsar recursos para comprar a participação que a sua sócia japonesa Itochu Corporation detém no negócio. Insatisfeita com as incertezas de rentabilidade futura do negócio, a Itochu, que investiu, de 2008 a 2011, US$ 160 milhões para obter 20% das duas usinas, decidiu vender sua participação no negócio. O pedido para aquisição pela Bunge da participação da japonesa nas usinas Santa Juliana, localizada em Minas Gerais, e na Pedro Afonso, localizada em Tocantins, está em análise no Cade. A Bunge detém 80% das duas unidades. “A consolidação do controle pela Bunge decorre da definição da sócia (Itochu) de se retirar do mercado de açúcar e bioenergia brasileiro em razão das incertezas de mercado atuais”, informou a Bunge em requerimento ao Cade. Unidade de Pedro Afonso, TO 54 FALTA DE CHUVA ADIANTA A DEMISSÃO DE 4 MIL TRABALHADORES A falta de chuvas prejudicou o desenvolvimento das lavouras de cana-de-açúcar na região de Piracicaba, SP, e vai acelerar o fim da safra, gerando a demissão antecipada de cerca de 4 mil trabalhadores rurais, segundo estimativa da Coplacana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo). O trabalho nos canaviais se estenderia até novembro, mas em razão da estiagem terminará em setembro, com produção até 40% menor que a da safra anterior. José Francisco da Silva Filho, gerente de um consórcio de produtores rurais, contratou 600 cortadores de cana, mas mudou os planos. “A gente deve fazer a demissão de 50% em setembro e dos outros antes de novembro, o que deve aumentar o custo porque vamos demitir, pagar os encargos e a viagem antes do previsto”, disse. Os fornecedores reclamam ainda do preço pago pelas usinas, que segundo eles não cobre o custo de produção. “O custo de produção (por tonelada) hoje é de em torno de R$ 72 e a gente recebe R$ 65 da usina. Não fecha a conta e o produtor não tem caixa para aguentar. Então, não tem como segurar o trabalhador”, afirmou José Rodolfo Penatti, gerente do departamento técnico da Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba (Afocapi). SANTA ADÉLIA RELATA LUCRO DE R$ 24,2 MILHÕES A Santa Adélia, grupo sucroalcooleiro com sede em Jaboticabal, SP, e duas outras unidades no Estado de São Paulo, reverteu o prejuízo líquido de R$ 102,4 milhões de 2012/2013 e relatou lucro líquido de R$ 24,2 milhões no ano-safra 2013/2014, encerrado em 31 de março. Além da Santa Adélia, o grupo controla ainda as usinas Pereira Barreto, na cidade homônima paulista e a Pioneiros, em Sud Mennucci, SP, anexada à companhia em um processo de fusão finalizado em 2012. As usinas processaram 5,8 milhões de t de cana-de-açúcar em 2013/2014, produziram 211 mil t de açúcar e 350,2 milhões de l de etanol e comercializaram 343 mil MW/h de energia cogerada. DEBÊNTURES PODEM SER ALTERNATIVA PARA AS USINAS Para ajudar as usinas sucroalcooleiras endividadas, o Ministério de Minas e Energia (MME) incluiu, no início de agosto, a produção de etanol entre os setores com benefício fiscal para a emissão de debêntures. Esta emissão de debêntures incentivadas só é possível graças à inclusão do setor sucroenergético no escopo dos projetos prioritários de investimentos na área de infraestrutura em energia. A intenção é favorecer a captação de recursos para que as usinas ampliem sua capacidade produtiva e possam reestruturar suas dívidas. O diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do MME, Ricardo Dornelles, coloca que, junto a outros esforços do governo federal, o ministério está “buscando tudo o que for possível para tentar incentivar o aumento da produção de etanol”. Entretanto, não acredita que a nova medida possa desencadear uma corrida pela operação. A emissão precisa ser realizada por uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), com a elaboração de um projeto e plano de investimento que devem ser submetidos à avaliação do ministério para a concessão do incentivo, após todas as demais etapas definidas pela Comissão de Valores Mobiliários. 55 50 ANOS CONTRIBUINDO COM NOVAS SOLUÇÕES Em agosto a DMB Máquinas Agrícolas comemorou 50 anos de muito trabalho voltado ao desenvolvimento de soluções que colaboram para o plantio e tratos culturais da cana-de-açúcar. A DMB oferece hoje mais de 500 produtos em seu portfólio e está presente em quase todas as usinas do País. De acordo com Auro Pardinho, diretor de marketing da DMB, devido a situação econômica atual, o ano político e a situação que se encontra a cultura em grandes áreas produtoras, a expectativa da empresa é que em 2016 o setor comece a se reestabelecer. “Gostaríamos de agradecer enormemente aos nossos clientes pela contribuição contínua no desenvolvimento de novas soluções que contribuem com o crescimento do setor como um todo. Garantimos que estaremos sempre atentos e buscando novas tecnologias que venham colaborar com o desenvolvimento sustentável do setor”, destaca Pardinho. TECNIPLAS TRAZ NOVIDADES PARA FENASUCRO A Tecniplas, fabricante de equipamentos em compósitos PRFV (Plástico Reforçado com Fibra de Vidro) já reconhecida pelo setor sucroenergético pelas mais de 400 unidades de torres distribuídas em usinas por todo o País e pela sua resistência, traz novidades a Fenasucro deste ano. A empresa dá destaque aos tanques de grande capacidade, que podem chegar até 4,5 mil m³ e podem ser transportados pelo método de oblatação, que reduz em até 30% o prazo de instalação e pode chegar a 10% do custo convencional de transporte. De acordo com a empresa, são produtos com alta resistência química, térmica e mecânica, e podem ser fabricados em diferentes configurações com um ótimo custo-benefício em relação a materiais metálicos nobres. Faça uma visita ao estande BC33 e conheça as soluções da Tecniplas para os seus negócios! ARMO LEVA LANÇAMENTOS EM MANUTENÇÃO INDUSTRIAL PARA A FENASUCRO 2014 Nesta edição da Fenasucro, a Armo do Brasil faz uma seleção dos últimos lançamentos em produtos para manutenção industrial para expor em seu estande. A grande novidade da Armo para este ano está na linha de consumíveis industriais. A empresa chega com os produtos da Stier, sua marca própria, que traz como novidade as mangueiras de solda dupla fabricadas em borracha. A solução tem como característica principal uma vida útil mais prolongada, reduzindo a necessidade de substituições constantes. Segundo a empresa, o produto sai na frente dos similares existentes no mercado por ser mais competitivo. “Vai ser a primeira vez que levaremos para a Fenasucro um suprimento para manutenção industrial com nossa marca”, afirmou Antonio Marcos de Oliveira, gerente de vendas técnicas da empresa. A Armo do Brasil estará no Pavilhão 2, Rua G, estande BG49. MODELO DE GESTÃO BUSCA MAIOR QUALIDADE À IMPLANTAÇÃO Atualmente, percebe-se a existência de várias modalidades de gestão na implantação de um empreendimento. Uma modalidade que vem ganhando espaço no setor sucroenergético é a utilização de contratações do tipo Engenharia do Proprietário (EP), em que o contratado se torna parte da equipe do cliente, auxiliando-o desde a etapa de projeto até fornecimento, construção, montagem, comissionamento e start up do empreendimento. A Reunion Engenharia decidiu introduzir em seu leque de produtos e serviços a EP, como uma maneira de viabilizar os novos negócios através da redução de riscos e atendimento aos objetivos de todas as partes interessadas. Com esse serviço a Reunion exerce a função de Engenharia do seu cliente, ou seja, passa a ser o “olho do dono” com o objetivo de observar, reportar e atuar. As gestões em que pode atuar são: Gestão de Escopo; Gestão do Projeto; de Tempo; de Qualidade; de Suprimentos; de RH e Gestão de Comunicação. “Não resta dúvida quanto às inúmeras vantagens que o modelo de contrato EP traz ao empreendedor sob o ponto de vista econômico. Entendemos que a Engenharia do Proprietário tem como principal papel a atenuação de riscos envolvidos, quanto a prazos e conformidade de produtos contratados e seus respectivos custos, visto que as incertezas inerentes à execução dos serviços de projetos, construção, fornecimento, montagem, comissionamento e operação de empreendimentos devem ser controladas por meio de monitoramento adequado das etapas envolvidas, praticamente em tempo real (online)”, explicou o diretor da Reunion Engenharia, Jorge Luiz Scaff. Trabalho foi desenvolvido com sucesso na Glencane Bioenergia S/A 56 AUSTRÁLIA AUSTRÁLIA ENFRENTA BAIXA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR A Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar da Austrália, a Canegrowers, afirmou que esta safra foi a pior da história do País porque não se conseguiu atingir uma produção de cana-de-açúcar suficiente para ser moída. Alguns produtores ainda estavam se recuperando dos danos causados pelas últimas inundações. Para agravar ainda mais a situação, a maior parte da cana, que não está desenvolvida o suficiente para ser cortada, foi arruinada pelas primeiras geadas do inverno. A usina de açúcar Maryborough, que entrou em funcionamento no início de agosto, prevê que não terá produção de metade de todo o montante que teve em 2013. ÍNDIA ÍNDIA COMEÇARÁ SAFRA COM ESTOQUES DE AÇÚCAR A produção de açúcar na Índia pode aumentar 4%, para 25,3 milhões de t, em 2014/15. O País terá açúcar suficiente para cerca de quatro meses de consumo, quando a nova temporada (2014/15) começar, em outubro. As usinas no maior produtor de cana, o Estado de Uttar Pradesh, que responde por um terço da produção total de açúcar da Índia, decidiram não começar a operar na temporada 2014/15, citando sua incapacidade de pagar os preços definidos pelo Estado pela matéria-prima. Mas 7,5 milhões de t de estoques em 1º de outubro de 2014 devem garantir que o maior consumidor mundial do adoçante não enfrente escassez grave, eliminando qualquer necessidade de importação imediata. TAILÂNDIA TAILÂNDIA DEVERÁ PRODUZIR MENOS AÇÚCAR EM 2014/15 A consultoria Platts Kingsman reduziu sua previsão para a produção de açúcar da Tailândia em mais de 4% para a temporada encerrada em setembro de 2015, mas manteve inalterada a estimativa de déficit global do produto, à medida que melhoram as condições climáticas na Índia. Uma menor produção na Tailândia, segundo maior exportador global, pode dar sustentação aos preços do açúcar na bolsa de Nova York, que caíram 6% nos últimos três meses. A Kingsman disse, no entanto, que maiores estoques de passagem reduziram os ganhos. A empresa projetou a produção tailandesa em 2014/15 em 10,8 milhões de t de açúcar, antes 11,3 milhões da previsão anterior, devido a um tempo ruim. FIJI FIJI TEM BOA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Em Fiji, as quatro usinas do País, produziram cerca de 71 mil t de açúcar desde o início da temporada de moagem (junho) e esmagaram cerca 634 mil t de cana-de-açúcar, de acordo com a Fiji Broadcasting Corp. Além disso, a Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar se mostra positiva para o início da nova safra. Sundresh Chetty, presidente da Fiji Sugar Corporation elogiou publicamente tanto os produtores quanto os agricultores pelo resultado positivo. Entretanto a quantidade de cana por tonelada de açúcar foi reduzida devido às condições meteorológicas adversas nas áreas chamadas de “cinturão de cana” da ilha. 57 57 Atualidades Jurídicas DIREITO TRIBUTÁRIO STJ VEDA COBRANÇA DE DIFERENCIAL DE ALÍQUOTA DE ICMS POR ESTADO O STJ (Superior Tribunal de Justiça) entendeu que o Estado onde está a empresa que vendeu mercadoria não pode cobrar diferença de ICMS caso ela não comprove a entrega do bem ao comprador localizado em outro Estado. O caso envolveu a venda de açúcar de uma empresa do Estado de São Paulo à outra sediada no Mato Grosso. O Fisco paulista, entretanto, alegou que a mercadoria não saiu do Estado, cobrando daquela o diferencial entre a alíquota interna e a interestadual do imposto. Ao julgar, a Corte Superior considerou que não faz parte da obrigação do vendedor fiscalizar a situação cadastral da empresa para a qual vai vender sua mercadoria, pois, se não há evidências de que a empresa vendedora está envolvida com algum tipo de irregularidade, o fato de não provar que a mercadoria chegou ao Estado com alíquota reduzida não é suficiente para embasar a autuação. Com o entendimento, o STJ reformou decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que havia entendido que a cláusula FOB (Free on Board) tem validade apenas entre as partes, nada valendo perante o Fisco. DIREITO DO TRABALHO EMPREGADO SERÁ INDENIZADO POR TER BANHEIROS PRECÁRIOS NO AMBIENTE DE TRABALHO Um trabalhador rural de uma empresa do setor agroindustrial será indenizado por não ter estrutura adequada para realizar refeições e necessidades fisiológicas. Segundo o ministro relator do processo, o descaso com a oferta adequada de instalações sanitárias aos trabalhadores rurais configura dano moral e ofende o princípio da dignidade humana. Em defesa, a Nova América afirmou que sempre cumpriu as regras do Ministério do Trabalho e Emprego, relativas à organização e ao ambiente do trabalho rural. Sustentou ainda que os empregados contavam com sanitários, abrigo com toldo, mesas, cadeiras, água para lavagem das mãos e água potável. De acordo com provas testemunhais, os toldos, cadeiras e banheiros foram instalados após rigorosa fiscalização do MTE no local. Ficou claro no processo que poucos trabalhadores usavam o banheiro devido ao calor e ao mau cheiro. TRABALHADOR RURAL GARANTE ADICIONAL DE INSALUBRIDADE POR CONTATO COM FULIGEM DA QUEIMA DE CANA Um trabalhador rural conseguiu o direito de receber adicional de insalubridade na Justiça do Trabalho pelo trabalho em contato com a fuligem derivada da queima de cana-de-açúcar. O Tribunal Superior do Trabalho não conheceu o recurso de revista de uma usina paulista contra a condenação. Para o TST, o adicional é devido em grau máximo, uma vez que o material queimado produz hidrocarboneto, agente nocivo à saúde e previsto em Norma Regulamentadora do Ministério de Trabalho e Emprego. Em recurso ao TST, a usina alegou que nem a queima e nem o 5858 corte de cana queimada estão enquadrados na norma ministerial. Destacou ainda, que a Norma Regulamentadora do MTE não poderia ser aplicada, já que a fuligem da cana não pode ser comparada a manipulação de alcatrão, breu, betume, óleos minerais, óleo queimado ou parafina, nem a esmaltes, tintas, vernizes e solventes contendo hidrocarbonetos, conforme prevê a norma. Todavia, para o ministro relator do caso, a decisão deixou expresso que os laudos periciais apresentados no processo constatam a existência de hidrocarbonetos na fuligem da queima da cana-de-açúcar no processo de facilitação da colheita. Por fim, concluiu que, o trabalhador era exposto a hidrocarboneto por contato na pele, e não só por inalação, e decidiu não conhecer do recurso. FALAR MAL DA EMPRESA EM REDE SOCIAL GERA JUSTA CAUSA O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª região reconheceu a demissão por justa causa de trabalhador que publicou ofensas em rede social contra superiores e contra a própria empregadora. A dispensa também teria sido motivada por agressões verbais praticadas contra cliente da empresa. As reiteradas injúrias foram devidamente documentadas. As faltas cometidas pelo empregado na rede social já bastariam para a caracterização da justa causa, mas o comportamento agressivo, desrespeitoso e imoral, que se extrai da conduta que o trabalhador adota nas redes sociais, acabou sendo novamente demonstrado no atendimento a clientes da empresa. MOTORISTA EXPOSTO À VIBRAÇÃO DO VEÍCULO TEM DIREITO A ADICIONAL DE INSALUBRIDADE A Justiça do Trabalho condenou uma empresa a pagar adicional de insalubridade, em grau médio, a um motorista que se expunha à vibração na condução do veículo de transporte de carga, operando em pisos asfaltados e irregulares. A decisão se baseou em uma perícia que, após as medições devidas, apurou que o reclamante se expunha a níveis de vibração que indicam riscos potenciais a saúde, caracterizando a insalubridade, em grau médio. Embora a reclamada tenha protestado contra a perícia, segundo o juiz do caso, a mesma não fez provas suficientes para descaracterizar as conclusões que constam no laudo pericial, seja documental ou testemunhal. Principalmente porque o perito foi claro ao afirmar que a avaliação é realizada de forma qualitativa, nos termos da Portaria ministerial, e que os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) não neutralizam o agente. PORTARIA DO MTE INSTITUI ÓCULOS DE TELA COMO EPI O Ministério do Trabalho e Emprego através da Portaria nº 1.134, inclui óculos de tela para proteção dos olhos contra impactos de partículas volantes na lista de EPIs. Na mesma data também foi publicada Diário Oficial da União a Portaria nº 440, que altera e estabelece os requisitos mínimos de identidade e desempenho aplicável a luvas de segurança utilizadas na atividade de corte manual de cana-de-açúcar. O novo texto prorroga por 12 meses o prazo para disponibilização de luvas com Certificado de Aprovação aos trabalhadores do setor. 59 60 60 61 Entrevista Quando assumiu a presidência do Ceise Br (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis) em 2013, Antonio Eduardo Tonielo Filho tinha como um dos seus desafios ajudar a cadeia produtiva no diálogo com os governos em busca de soluções e incentivos para o setor sucroenergético. Ele acredita que a sua missão foi cumprida, mas diz que ainda tem muitos desafios pela frente em busca de retomar o desenvolvimento da indústria de base e a prestação de serviços para o setor, que hoje passa pelo pior momento da sua história, acumulando, só este ano, 1.097 demissões. RPANEWS - O SENHOR ESTÁ CONSEGUINDO REALIZAR AS METAS QUE TRAÇOU QUANDO ASSUMIU A PRESIDÊNCIA DO CEISE BR? Tonielo Filho - Acredito que sim. Nossa missão é representar, defender e garantir as melhores condições para o desenvolvimento da indústria de base e prestação de serviços do setor sucroenergético. Logicamente, muitas de nossas ações atuais não são as que desejamos no início de mandato, pois estão relacionadas a um período recessivo. Mas são ações que se fazem necessárias. Gostaria de tratar sobre a inovação e desenvolvimento com sustentabilidade em um cenário de crescimento econômico, mas a agenda nos impõe temas de um ambiente recessivo como desemprego, queda de demanda, inadimplência etc. 62 RPANEWS - QUAL É A ATUAL SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA SUCROENERGÉTICA? QUANTAS PESSOAS JÁ PERDERAM SEUS POSTOS DE TRABALHO ATÉ AGORA NA INDÚSTRIA? Tonielo Filho - A situação econômico-financeira das empresas da cadeia produtiva do setor sucroenergético está muito difícil. Estamos atravessando um dos piores momentos da história do setor. Quanto ao fator trabalho, este sofre as consequências da queda de pedidos em carteiras das indústrias. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), de janeiro a junho deste ano, a indústria de Sertãozinho perdeu 1.097 postos de trabalho. Toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar amarga os reflexos da crise econômica mundial, iniciada em 2009, além de sofrer os efeitos climáticos das duas últimas safras e que já comprometem a atual. O cenário é crítico, derivado da ausência de investimentos, da falta de competitividade, do aumento do custo de produção e da falta de condições de planejamento. e eólica sinaliza um período crítico para o próximo ano, viabilizando assim a energia cogerada através da biomassa da cana. RPANEWS - ENTIDADES COMO A UNICA SOFRERAM GRANDES MODIFICAÇÕES ESTRUTURAIS PARA CONSEGUIR ULTRAPASSAR O MOMENTO DE CRISE. OS PROJETOS DO CEISE BR PASSARAM OU PASSARÃO POR ALGUM TIPO DE REFORMULAÇÃO POR CONTA DA CRISE? Tonielo Filho - O Ceise Br é uma entidade enxuta, que pontualmente contrata estudos setoriais, não tem um custo fixo alto. Atua político-institucionalmente junto aos governos municipal, estadual e federal, tendo como propósito provocar condições para a abertura, incremento, e manutenção de novos mercados. As ações da entidade estão focadas na representação, for- mação e qualificação do setor, visando à inovação, e buscando o desenvolvimento e crescimento socioeconômico sustentável. Nesse sentido, os trabalhos do Ceise Br são sempre elaborados, projetados conforme as necessidades, reivindicações da indústria de base e serviços – segmento da cadeia que representa. RPANEWS - COMO O SENHOR ACHA QUE É POSSÍVEL REAVIVAR A INDÚSTRIA SUCROENERGÉTICA NOVAMENTE? QUAIS AÇÕES EMERGENCIAIS O SETOR PRECISA PARA QUE A INDÚSTRIA SE REESTABELEÇA? Tonielo Filho - A indústria faz parte da cadeia sucroenergética, e por isso sofre os efeitos da indefinição de um marco regulatório e, consequentemente, da falta de condições de planejamento. Para a retomada de crescimento do setor urge a RPANEWS - A SITUAÇÃO AINDA PODE PIORAR? Tonielo Filho - Já enfrentamos tantos problemas nos últimos anos que é difícil fazer previsões. Particularmente acredito que, no médio prazo, ocorrerão algumas medidas de incentivo ao setor, como flexibilização de crédito e disponibilização de recursos financeiros, criando possibilidades de novos investimentos e, consequentemente, dando condições para a retomada do crescimento de toda a cadeia produtiva sucroenergética. Manter a comercialização da gasolina nos moldes atuais é inviável, tem onerado e muito a balança comercial brasileira, devido à prática de preços muito abaixo do mercado – utilizando esta política para o controle da inflação –, o que vem a dar margem à valorização do etanol, como única saída. Além disso, o abastecimento de energia elétrica proveniente das águas 63 determinação clara do papel do etanol na matriz energética do País e de uma melhor remuneração para o etanol, vi sando o aumento da atratividade para investimentos. Faz-se urgente a criação de condições de planejamento no longo prazo, sem interferências governamentais que prejudiquem a compensação dos bens produzidos pelo setor. A volta da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), a normalização do ICMS a 12% nos demais estados, e o resgate dos créditos provenientes do PIS-Cofins também são ações que podem dar um fôlego para o setor. São fundamentais ainda, investimentos em pesquisas e inovações para a melhoria da produtividade da cana-de-açúcar e do desempenho dos equipamentos de processamento, sem se esquecer da estocagem, e do transporte e logística dos produtos bruto e final – elementos responsáveis por 30% do custo de produção. RPANEWS - QUAL É O DIÁLOGO QUE O CEISE BR TEM TIDO COM SEUS ASSOCIADOS EM BUSCA DE SOLUÇÕES PARA A CRISE? Tonielo Filho - Além da sua atuação político-institucional, o Ceise Br também desenvolve, promove diversos cursos, palestras, workshops e seminários de acordo com as demandas da indústria, no sentido de abastecer tanto empresários quanto colaboradores, com conteúdos relevantes para o aprimoramento do conhecimento, apresentando possíveis alternativas, soluções, e perspectivas sobre o cenário sucroenergético. Através desse trabalho, a entidade também tem estimulado a diversificação da produção, para que as empresas possam atender a outros setores além do sucroenergético, ou seja, deixar de ser totalmente dependente da cadeia produtiva da cana-de-açúcar – o que vai avalizar maior estabilidade financeira frente a crises sazonais. Esta iniciativa, porém, está muito difícil de ser implementada, porque os outros setores da indústria também estão com baixo índice de crescimento. Atualmente, o Ceise Br desenvolve junto com a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio o projeto de Arranjo Produtivo Local 64 (APL), que tem como norte a criação de um Centro de Inovação e/ou até a implantação de um Parque Tecnológico na cidade. RPANEWS - O QUE A INDÚSTRIA PODE FAZER PARA QUE, QUANDO O SETOR SE REESTABELECER ECONOMICAMENTE, CONSIGA ATENDER A DEMANDA? Tonielo Filho - As indústrias de base do setor estão prontas para atender a demanda gerada pelas projeções de órgãos governamentais sobre a necessidade de crescimento de produção de açúcar e energia, pois ela foi projetada com uma perspectiva de receber a implantação, frustrada, de mais 100 unidades produtivas nesta década. Logicamente, deverá permanentemente investir em novas tecnologias para manter-se competitiva. RPANEWS - O CEISE BR TAMBÉM TEM TIDO ALGUM TIPO DE DIÁLOGO COM O GOVERNO FEDERAL? Tonielo Filho - A entidade tem estreitado cada vez mais seu relacionamento com os governos estadual e federal. Entre as reivindicações da classe que a entidade tem pleiteado junto ao governo está a ampliação do FGI (Fundo Garantidor de Investimentos), com maiores garantias para empréstimos e financiamentos, além da renegociação de dívidas com o BNDES e bancos públicos. Temos também solicitado a renegociação de dívidas de financiamentos e tributárias do setor. Ainda em dezembro do ano passado, em parceria com o deputado e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Nacional, Newton Lima, e com o deputado e coordenador da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético, Arnaldo Jardim, o Ceise Br realizou um café da manhã na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), que contou com a presença de 25 empresários de Sertãozinho, onde foi lida uma carta pontuando as dificuldades e anseios do setor para 180 participantes – incluindo assessores parlamentares, e técnicos dos ministérios de Minas e Energia, Desenvolvimento, In- dústria e Comércio Exterior, Fazenda e Agricultura. Em fevereiro e abril desse ano, a entidade esteve novamente na capital do País, junto aos Conselhos de Competitividade de Agroindústria, Bens de Capital e Energias Renováveis, articulando as mesmas reivindicações do setor, e foi incumbida pelo Ministro da pasta, Mauro Borges, a apresentar o perfil de endividamento das empresas. Para tanto, o Ceise Br firmou contrato com a Fundace/USP para a realização desse diagnóstico. Também tivemos algumas reuniões com a Superintendência de Negócios da Desenvolve SP (Agência de Desenvolvimento Paulista) e Invest SP buscando apoio às ações da entidade, que visam o desenvolvimento da indústria. RPANEWS - QUAL É A PERSPECTIVA PARA A FENASUCRO DESTE ANO E O QUE ELA DEVERÁ REPRESENTAR PARA O SETOR? Tonielo Filho - Apesar do momento crítico pelo qual a cadeia produtiva da cana vem passando, a Fenasucro acontece como uma grande fomentadora de novos negócios, onde todos os segmentos da agroindústria sucroenergética têm a oportunidade de mostrar suas tecnologias e inovações em equipamentos e serviços para profissionais técnicos e qualificados, e para potenciais empresas compradoras do mundo inteiro. A feira também recebe nesta edição – para reforçar seu propósito de geração de novos negócios –, caravanas de diversas regiões do País, produtoras de cana-de-açúcar e/ou ligadas ao setor sucroenergético, criando um ambiente de interesses e transações ainda mais reais, através da presença de representantes com poder de compra e de decisão. Como todos os anos, o Ceise Br acredita na realização da feira como um instrumento, um meio de expor ao mundo o quão é importante e necessária a valorização da cana-de-açúcar, principal matéria-prima na produção de etanol – combustível limpo, renovável, autossustentável e gerador de empregos. 65 executivo Djalma Teixeira de Lima Filho Naturalidade Guarapuava, PR Idade 52 anos Estado Civil Casado há 22 anos e tem um filho Formação Graduação em Engenharia Mecânica pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Pós-Graduação em Gestão de Produção, Mestrado em Administração e MBA em Controladoria e Finanças Cargo CEO do grupo colombiano Riopaila Castilla Hobby Ler Filosofia de vida “Acredito no trabalho como base do progresso, na disciplina como razão da excelência e em Deus como fortaleza e fonte de inspiração.” 6666 Para muitas pessoas mudar pode ser algo assustador, mas para o executivo do mês, as mudanças são encaradas como grandes oportunidades. Em 2012 ele não teve medo, pegou a família, as malas e voou para a Colômbia atrás de um novo caminho. Djalma Teixeira de Lima Filho, hoje CEO do grupo colombiano Riopaila Castilla, diz que sempre viu as mudanças como oportunidades de crescimento profissional e auto-desenvolvimento. “Entendi junto com minha família que poderia ser uma experiência interessante, em termos pessoais e profissionais, e decidimos aceitar o desafio.” O fato de se identificar com as Ciências Exatas, além de gostar muito da área mecânica, levou-o a cursar Engenharia Mecânica. No primeiro dia após concluir o curso, ele teve uma oportunidade de trabalho no setor agroindustrial, inicialmente como supervisor de manutenção em uma fábrica de processamento de soja conjugada a um terminal portuário. Djalma era muito jovem e conta que a experiência, apesar de demandar grande responsabilidade, deu a ele a certeza de que o esforço sempre é recompensado. “Respeitando meus pares e subordinados e sabendo trabalhar em equipe consegui executar um bom trabalho e alcançar os resultados”, diz o executivo. Oito anos depois de uma carreira ascendente em outros setores do agronegócio, dentro de um movimento estratégico de carreira, Djalma aceitou uma proposta para trabalhar na área sucroalcooleira. “Na época o setor vivia um boom expansionista, criando uma perspectiva de um grande ciclo desenvolvimentista da bioenergia no Brasil, que nos posicionaria como um País de vanguarda em termos de energia sustentável em âmbito mundial. Foi assim que passei a entender os aspectos específicos do setor, com suas oportunidades e ao mesmo tempo com suas debilidadades em termos de modelos de gestão, que começavam a desenvolver-se com mais intensidade como uma exigência dos fundos de capital privado que começavam a participar ativamente”, relembra. Nesse período, o executivo teve a oportunidade de adquirir amplo conhecimento técnico e comercial do setor, inclusive com uma passagem por um fundo de investimento, que o mostrou como se movem os capitais internacionais. Aliado a isso, Djalma nunca deixou de estudar, fazer cursos e adquirir conhecimento em todas as áreas que envolvem o ambiente corporativo de uma organização. “Dentro desse cenário recebi, ao final de 2011, um contato de uma empresa internacional de hunting sobre a oportunidade existente na Colômbia. Depois de fazer um reconhecimento da empresa, entendi que poderia ser uma experiência interessante. O que ajudou muito foi o fato de que eu e minha esposa sempre tivemos essa característica de flexibilidade geográfica, já que ela, como advogada, consegue manter-se vinculada ao escritório e trabalhar via internet com ajuda da equipe. Por isso, esse tipo de mudança nunca foi para nós um problema, ao contrário, sempre vimos as mudanças como oportunidades de crescimento profissional e auto-desenvolvimento. Sempre é possível conciliar interesses”, declara. Em março de 2013, depois de nove meses como vice-presi- Em Roma, um dos 25 países pelo qual o executivo já passou 67 Segundo o executivo, a cultura organizacional colombiana se diferencia da média do setor sucroalcooleiro no Brasil principalmente em relação à aplicação de um modelo de Governo Corporativo onde há uma participação mais intensa do Conselho de Administração nas principais decisões dente de operações, o executivo diz que se viu diante de um dos maiores desafios da sua carreira: assumir a presidência do grupo colombiano. “Mesmo com toda a situação de preços no mercado internacional de açúcar, com a experiência, conhecimentos adquiridos e com uma excelente equipe, conseguimos superar e obter sucesso.” VIDA COMO UM CEO Os desafios diários de um CEO são inúmeros e Djalma diz que seria impossível listá-los em poucas palavras. Saber administrar bem o tempo e motivar continuamente a equipe de trabalho, mantendo o contato com todos os setores da empresa, para ele é essencial. De acordo com o executivo, um dos principais desafios pelo qual passou frente a presidência do grupo colombiano se deu por conta dos baixos preços do açúcar no mercado internacional, provocados por anos sucessivos de superávit de produção em relação à demanda dentro do contexto global, fato que em uma análise preliminar de budget, levariam o Grupo a uma condição de resultados negativos no ano de 2013. “Necessitávamos urgentemente de ajustes, tanto no aspecto comercial quanto operacional. Foi assim que rapidamente redefinimos metas e ações que nos permitiram, entre outras coisas, uma redução brutal de custos e despesas de mais de US$ 10 milhões anuais, uma redução das perdas de sacarose a um nível recorde histórico da empresa, e a um crescimento de vendas de 8% no mercado de consumo massivo da Colômbia. Outro desafio importante foi projetar estrategicamente aonde a empresa quer estar em 2020, entendendo as expectativas dos acionistas, criando desafios a seus profissionais, mas ao mesmo tempo respeitando a cultura local e o DNA da organização. 68 “Creio que já conseguimos realizar um trabalho interessante de planejamento de longo prazo, para o qual será muito importante a otimização dos conceitos de Governo Corporativo da empresa, um dos próximos desafios que precisamos enfrentar.” Segundo ele, a cultura organizacional colombiana se diferencia da média do setor sucroalcooleiro no Brasil principalmente em relação à aplicação de um modelo de Governo Corporativo onde há uma participação mais intensa do Conselho de Administração nas principais decisões. Também se dá uma maior relevância aos processos de Gestão de Risco Empresarial (em inglês ERM - Enterprise Risk Management) e aos modelos de Gestão de Derivativos, como ferramentas de proteção de riscos comerciais e financeiros. RIOPAILA CASTILLA O Grupo Riopaila Castilla é composto por duas usinas - uma em La Paila, com capacidade para 2,5 milhões de t anuais e outra em Pradera, com capacidade para 2,2 milhões de t anuais. A empresa possui ainda uma participação de 22% em outra usina no Norte do Valle del Cauca, também na Colômbia. As duas usinas juntas tem 47 mil ha de cana entre terras próprias e de terceiros, com uma produtividade média de 110 t/ha. Segundo Djalma, atualmente o grupo produz 32 tipos diferentes de açúcar, estando em implementação um projeto de uma destilaria para 400 mil l/dia e uma cogeração de energia de 34 MW. “Nesta safra devemos processar 4,3 milhões de t de cana, exportando em torno de 45% da produção de açúcar.” Toda a cana no Vale do Cauca é plantada de forma manual. Apenas no novo projeto de bioenergia da petroleira colombiana Ecopetrol, no Estado de Meta, onde Riopaila Castilla é o principal fornecedor de cana, com 40% do total, se está utilizando o plantio mecanizado. VIDA NA COLÔMBIA Diferentemente do choque cultural que muitas pessoas sofrem ao deixar o seu país de origem, Djalma conta que ele e sua família, formada pela esposa Silvia, com quem é casado há 22 anos, e Lucas, seu único filho, de 9 anos, se adaptaram tranquilamente. “Tem sido muito bom. Fizemos bons laços de amizade. Para se ter uma ideia, no dia do jogo Brasil X Colômbia na Copa do Mundo, nosso coração até ficou um pouco dividido! A Colômbia é muito diferente daquilo que estamos acostumados a ouvir. Colômbia e Brasil têm muitos pontos em comum. Fomos muito bem recepcionados desde que chegamos e somos muito gratos ao País por isso. O povo colombiano é muito amável, alegre e caloroso, como somos também no Brasil. No entanto, possuem uma economia mais aberta, com tratados de livre comércio com os EUA, Europa e Coréia do Sul, entre outros, o que confere ao País uma atmosfera mais cosmopolita, fator que os difere do Brasil, mas que facilita a adaptação. Choques culturais existem, claro, mas nada que não seja facilmente contornável”, revela Djalma. Ele conta que dois fatos chamaram a sua atenção quando começou a conhecer um pouco mais da Colômbia. Um deles é o profundo respeito com que são conduzidas as relações interpessoais, principalmente quando se trata de pessoas idosas. O respeitoso “senhor” e “senhora” para os mais velhos e professores, por exemplo, não foram esquecidos e são mantidos com rigor. Outro ponto que marcou o executivo foi observar que existe um verdadeiro espírito do Natal, no qual o que mais se valoriza é o aspecto religioso da data em substituição ao consumismo exacerbado. Assim como no Brasil, o setor sucroenergético na Colômbia também pode acabar tomando muito tempo da vida de um executivo. Mas ele diz que procura não ultrapassar 12 horas diárias de trabalho. “Procuro estabelecer um período de dedicação à família logo que chego em casa ao final de cada dia e procuramos sempre jantar juntos, porém usando disciplinadamente uma hora de trabalho a noite, quando organizo agendas, reviso as metas semanais e mensais, respondo e-mails pendentes e me atualizo com as principais informações e notícias do mercado. Reservo também uma parte importante do final de semana para a interação com a família e compromissos pessoais”, afirma Djalma. Além de sair para curtir um cinema ou comer em um bom restaurante acompanhado de sua família e amigos, ele sempre tira um tempinho para ler. “Sem dúvida, o que eu mais gosto de fazer é ler. Algumas vezes leio dois ou três livros simultaneamente, além de revistas e jornais. Disso eu não abro mão! Gosto muito de me atualizar e aprender coisas novas. Neste momento, me dedico a adquirir mais conhecimentos sobre o incrível mundo dos vinhos.” O executivo ao lado da esposa Silvia e do filho Lucas Outra paixão da pequena família é viajar. O executivo diz que ele e sua esposa adoram conhecer novos lugares e revisitar lugares onde já estiveram. Entre viagens profissionais e de lazer, o executivo teve a oportunidade de conhecer mais de 25 países, onde sempre procura reservar um tempo para conhecer um pouco da cultura local. Ele diz que acredita no trabalho como base do progresso, na disciplina como razão da excelência e em Deus como fortaleza e fonte de inspiração. “Costumo dizer que tenho apenas duas preocupações na vida, a coerência com que conduzo minhas decisões pessoais e profissionais, e a reputação que construo baseada nessa coerência.” UM DIA A CASA RETORNA O executivo e sua família sentem muita falta dos familiares, dos amigos e da casa que deixaram em Uberlândia, MG. Mas esperam voltar em breve. “Amamos nosso País e sentimos falta de todos os amigos, família, da comida mineira e do churrasco. Ainda que estejamos acostumados e felizes em nossa realidade atual, esperamos em algum momento voltar. Como sempre moramos fora de nossa cidade natal, no Paraná, o fato de viver em locais diferentes não representa para nós um problema, mas sim uma experiência enriquecedora que deve ser aproveitada ao máximo. Em médio prazo temos vontade de voltar, e esperamos que, em nosso retorno, possamos encontrar um País melhor, com menos problemas políticos, maior estabilidade econômica e maior justiça social”, conclui. 69 DESACELERAÇÃO DA MOAGEM DE CANA NO CENTRO-SUL Dados da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) mostram que a moagem de cana-de-açúcar pelas unidades produtoras da região Centro-Sul atingiu 35,98 milhões de t na segunda quinzena de julho de 2014, o menor valor já registrado desde a safra 2007/2008, quando 25,27 milhões de t foram processadas na mesma quinzena. Com isso, a moagem no mês alcançou 77,39 milhões de t, retração de 11,49% comparativamente a julho de 2013. No acumulado desde o início da safra 2014/2015 até 1º de agosto, o volume processado somou 280,43 milhões de t, contra 270,16 milhões de t observadas em igual período do ano anterior. De acordo com Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica, esta retração se deve às chuvas que ocorreram em parte da região produtora de cana-de-açúcar e à redução do ritmo de moagem por várias usinas diante da perspectiva de menor oferta de matéria-prima para o processamento nesta safra. CAFÉ COM A PRESIDENTE A presidente da República, Dilma Rousseff encontrou-se em São Paulo com o presidente do Conselho de Administração da Cosan, Rubens Ometto, no início de agosto. A reunião, que durou 35 minutos e à qual a presidente chegou com 50 minutos de atraso, ocorreu na Sala das Autoridades do aeroporto de Congonhas, e foi anunciada como agenda de governo. Durante a conversa, Ometto pediu uma política mais favorável ao setor de etanol, que enfrenta uma das crises mais graves de sua história. Entre as maiores queixas estão o controle de preço da gasolina feito pelo governo para segurar a inflação. Para que o preço do etanol seja mais competitivo, Ometto defende a retomada da Cide, cuja alíquota sobre a gasolina foi reduzida a zero, em 2012. Ometto acrescentou que sua conversa com Dilma Rousseff teria a ver com demandas não só da Cosan, mas de outras empresas do setor sucroenergético. SAFRA DE CANA PODE CHEGAR A 659 MILHÕES DE T A estimativa de cana-de-açúcar produzida na safra 2014/2015 é de 659 milhões de t, de acordo com o 2º levantamento da safra feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Conab (Companhia Nacional do Abastecimento), divulgado no dia 8 de agosto. A maior parte da produção de cana-de-açúcar deverá ser destinada para a produção de etanol, representando 54,2%. A produção de etanol total deverá passar de 27,9 bilhões para 27,6 bilhões de l. Já a produ70 70 ção de açúcar está estimada em 38,2 milhões de t, com crescimento de 1% em relação aos 37,9 milhões de t produzidas na safra passada. O estudo realizado nas 393 unidades produtoras do País revela que houve elevação da área de corte, que passou de 8,8 milhões para 9,1 milhões de ha. Segundo o coordenador-geral de Açúcar e Álcool do Departamento de Cana-de-açúcar e Agroenergia (DCAA) da Secretaria de Produção e Agroenergia (SPAE) do Mapa, Cid Jorge Caldas, as condições climáticas influenciaram na diminuição da produtividade. TESTES COM CANA TRANSGÊNICA INICIAM NA AMÉRICA DO SUL O teste de campo das variedades de cana-de-açúcar transgênica desenvolvidos pela Ceres, foram iniciados para avaliar o desempenho das características de alto teor de açúcar e tolerância à seca das plantas. O primeiro ciclo de crescimento terminará na segunda metade de 2015, quando as observações de desempenho preliminares estarão disponíveis. As avaliações serão administradas por um desenvolvedor sul-americano de cana-de-açúcar. Se ficar provado que as variedades transgênicas mostram melhores características, então as novas variedades poderão oferecer benefícios expressivos à produção de cana-de-açúcar. Segundo Roger Pennell, vice-presidente de desenvolvimento de tratamentos para a Ceres, os maiores rendimentos de açúcar, maior tolerância à seca e outras condições de estresse não só aumentariam a produção, mas também diminuiriam os custos de produção. PIAUÍ: SAFRA DE CANA AUMENTA GERAÇÃO DE EMPREGOS A produtividade da cana-de-açúcar em todo o Brasil registrou o maior aumento percentual no Estado do Piauí. A informação foi divulgada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que realizou estimativa sobre a safra 2014/2015, em comparação com o mesmo período do ano passado. Com isso, empresas especializadas no refino no açúcar, na produção do etanol e no cultivo da cana, propriamente, terão que realizar mais contratações para o trabalho na produção. Apesar da área de plantio ter sido reduzida, a produtividade por hectare da cana aumentou. De acordo com a companhia, o Piauí teve um incremento de 19% no total plantado e colhido. A estimativa é de que o Piauí produza 67 t/ha este ano, em comparação com as 56 t/ha produzidas em 2013. Em segundo lugar no País, ficou o também nordestino Estado da Bahia, com variação positiva de 17%. 71 72