AVALIAÇÃO DO MERCADO DE CAFÉS ESPECIAIS
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Pôster-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias
Agroindustriais
ÍSIS STACANELLI PIRES CHAGAS; THALES FRANCESCHINI CONSENTINE; LUIZ
GONZAGA DE CASTRO JÚNIOR; EDUARDO CESAR SILVA; FRANCISCO ALBERT
SCOTT.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS, LAVRAS - MG - BRASIL.
Avaliação do mercado de cafés especiais
Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias
Agroindustriais.
Resumo
Com a dinamização do mercado global de alimentos cada vez mais intensa, a qualidade dos
produtos não pode ser mais considerada um detalhe, mas sim uma característica indispensável
para a agregação de valor aos mesmos. Neste sentido, outros aspectos tomam uma posição de
fator diferenciador: sabor, boas práticas de manejo e segurança alimentar são alguns exemplos
identificados nas intenções dos produtores e beneficiadores desses alimentos. Neste contexto,
a cadeia agro-industrial do café vem, ao longo dos últimos 20 anos, passando por diversas
mudanças, a fim de se adaptar aos novos consumidores e aos novos mercados, criando um
novo segmento da bebida: os cafés especiais. O objetivo deste artigo é expor as características
básicas deste mercado, sua evolução ao longo dos anos, os órgãos certificadores que o
promovem e as perspectivas e tendências para os próximos anos, tendo em vista a sua
dinamicidade e o grande interesse dos participantes da cadeia cafeeira para também se inserir
no segmento.
Palavras-chaves: café especial, certificação, mercado de café.
Abstract
With the dynamization of the food global market in the past few years, quality cannot be
considered a detail, but an essential feature for added value products. In this sense, other
features can be assumed as differential aspects: taste, social and environmental good practices
and food security are some of the examples that can be cited among food producers and
processors. In this context, the agro-industrial coffee-chain has passed through several
changes in the last 20 years in order to adapt to new consumers and new markets, creating a
new segment for the beverage: the specialty coffee. Thus, in this article, some basic
characteristics of this market are been shown, its evolution over the years, the certifying
bodies that promote the market and prospects and trends for the coming years.
Key Words: special coffee, certification, coffee market.
1. Introdução
Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
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A busca por qualidade na indústria alimentícia esteve em constante crescimento na
última década, devido às mudanças nas preferências dos consumidores. Muitos deles estão
dispostos a pagar mais por produtos que possuam alguns atributos desejados, que podem
incluir parâmetros tangíveis ou intangíveis (MARTINEZ, 2008).
Entre os parâmetros tangíveis encontram-se aroma, sabor, acidez, corpo,
adstringência, aftertaste (sabor residual), entre outros. Entre aqueles intangíveis, são
considerados os aspectos sócio-ambientais, entre eles comércio justo e responsabilidade
ambiental.
O café é uma das commodities mais comercializadas no mundo (PEREIRA, 2007); é
produzido em 60 países em desenvolvimento e consumido, principalmente, em países
desenvolvidos, onde, segundo dados da OIC, as vendas anuais do varejo são superiores a US$
70 bilhões. Sendo assim, pela sua importância, qualquer ínfima mudança no setor pode
representar um grande impacto no mercado, aos produtores e consumidores. Além disso, o
café está associado a preocupações constantes quanto à flutuação de preços, à diminuição dos
lucros dos países produtores, às condições de vida dos trabalhadores e cafeicultores, e ao
impacto ao ambiente.
O segmento dos cafés especiais surgiu entre 1970 e 1980, em plena crise de consumo
norte-americana. Inicialmente, um grupo de industriais fundou a SCAA, – Specialty Coffee
Association of America – com o objetivo de estimular a produção e o consumo de cafés
especiais (NETO, 2007). Pode-se dizer que tenha surgido como um meio de driblar
preocupações relacionadas à produção ou, até mesmo, apenas para agregar valor a ela e, com
isso conseguir preços mais elevados ao produto. Assim, representa um mercado em ascensão,
e cerca de 10% do total de café comercializado no mundo é especial (OLIVEIRA, 2004).
Não há uma definição precisa sobre o conceito de cafés especiais. Essa definição
costuma envolver tanto parâmetros de qualidade da bebida, quase sempre relacionados a
variedades, origens, tratos culturais e pós-colheita, quanto a outros valores mais difíceis de
serem identificados, como as condições em que os grãos foram produzidos.
Os cafés especiais se destacam por algum atributo específico associado ao produto, ao
processo de produção ou ao serviço a ele associado (OTANI et al., 2002). Diferenciam-se por
características como qualidade superior da bebida, aspecto dos grãos, forma de colheita, tipo
de preparo, história, origem dos plantios, variedades raras e quantidades limitadas, entre
outras. Segundo o mesmo autor, podem também incluir parâmetros de diferenciação que se
relacionam à sustentabilidade econômica, ambiental e social da produção, de modo a
promover maior eqüidade entre os elos da cadeia produtiva. Mudanças no modo de
processamento também levam à diferenciação, com adição de substâncias, como os
aromatizados, ou com sua subtração, como os descafeinados. A rastreabilidade e a
incorporação de serviços também são fatores de diferenciação e, portanto, de agregação de
valor.
Essas possibilidades de segmentação e diferenciação estão entre os fatores mais
relevantes que influenciam a competitividade dos produtos agroindustriais. Em conseqüência
disso, alguns atributos de qualidade, passíveis de certificação, são incorporados como
instrumento de concorrência do produto final. A crescente demanda, particularmente em
países desenvolvidos, por produtos saudáveis e corretos sob o aspecto social, possibilita a
incorporação de novos atributos de qualidade (SAES, et al., 2001).
Entre os cafés diferenciados se destacam o orgânico, os certificados, os de origem
certificada e o gourmet, que serão caracterizados a seguir.
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A diferenciação da produção de café, apesar dos custos a ela associados, permite que
pequenos agricultores se incorporem com maior facilidade ao mercado de cafés especiais
(SAES et al., 2000). Com base do mesmo autor, entre as vantagens obtidas, está a
possibilidade de comercialização direta dos grãos entre produtores, reunidos em grupos de
pequenos agricultores, e empresas distribuidoras de cafés especiais, ao que se soma os
melhores preços muitas vezes obtidos se comparado àqueles correspondentes aos cafés
tradicionais. Além disso, em relação aos cafés certificados, há diversos benefícios
indiretamente ligados ao processo de diferenciação, como por exemplo, a melhora de gestão
na propriedade e a responsabilidade social e/ou ambiental.
Atualmente, alguns órgãos majoritários do segmento cafeeiro, como a Organização
Internacional do Café (OIC), já indicam a diferenciação produtiva do café como uma solução
para o segmento, no que se refere à volatilidade dos preços, aos altos custos dos insumos e às
conseqüências advindas da crise.
O presente artigo objetiva caracterizar o segmento dos cafés especiais comparando-os
com os “convencionais”; buscar informações acerca da situação atual do mercado consumidor
desses produtos, bem como as perspectivas para o mercado. Com isso, pretende-se expor o
potencial de crescimento desse mercado, sua demanda, e as conseqüências geradas para a
cadeia como um todo. Além disso, pretende-se avaliar se há alguma vantagem, que não
financeira, na produção de cafés especiais.
2. Metodologia
Para alcançar o objetivo desejado, foi utilizado o método de pesquisa exploratória, que
segundo Gil (2002), tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses.
Neste estudo, foram utilizados somente dados secundários, provenientes de uma vasta
revisão literária sobre o assunto, realizadas em sites especializados em cafeicultura, artigos já
publicados, órgãos oficiais, organizações não governamentais e instituições privadas.
Esse processo foi composto por duas etapas. Uma primeira, de coleta, onde todo tipo
de informação referente à produção de cafés especiais foi armazenada. A segunda etapa da
pesquisa consistiu na organização dessas informações, já que muitas possuíam divergências
entre si.
Como limitações, destacam-se: a falta de literatura específica sobre o tema e a
dificuldade de se obterem dados financeiros sobre os processos de transição de uma
propriedade padrão para uma propriedade produtora de cafés especiais.
3. Resultados e discussões
Cafés diferenciados
A diferenciação dos cafés não ocorre somente nos fatores intrínsecos diretamente
relacionados à bebida, tais como sabor, aroma, amargor, acidez, corpo ou aftertaste (sabor
residual), mas a uma série de processos que agregam certo valor ao produto, seja ele a nível
ambiental, social ou ambos.
Atualmente, o produto café especial, além de seus atributos físicos e qualitativos, pode
ser caracterizado também, pela sua capacidade de atrair consumidores por meio de práticas
consideradas sustentáveis, sejam elas por respeitar as leis ambientais, trabalhistas ou por
questões morais.
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Será considerada neste artigo a divisão dos cafés especiais em quatro categorias que
serão caracterizadas a seguir:
3.1. Café Orgânico: As características para classificação dependem do processo por
meio do qual o café é produzido. Nos sistemas orgânicos de produção, não são usados
fertilizantes solúveis e agroquímicos, sendo indicadas técnicas de rotação de culturas, manejo
integrado, controle biológico, entre outros. O processo deve ser certificado por órgãos
fiscalizadores, por meio de inspeções semestrais ou anuais além da vistoria interna, no caso de
associações ou cooperativas. No Brasil, os principais órgãos certificadores são o Imaflora e o
IBD (Instituto de Biodinâmica). O modo de produção visa à sustentabilidade ambiental.
O café orgânico é produzido no Brasil desde a década de 70 e é comercializado para
Japão, Estados Unidos e Europa (THEODORO et al., 2002). Sua produção vem se
expandindo significativamente nos últimos anos, o que pode ser explicado pelo fato de o café
orgânico conseguir ágios de preço em torno de 50% em relação ao café convencional. No
Brasil, as principais regiões produtoras de café orgânico são o Sul de Minas Gerais e o
interior de São Paulo, além dos Estados da Bahia, Ceará, Paraná e Espírito Santo (REIS et al.,
2001). Em 2004, o Brasil produziu cerca de 200.000 sacas de 60 kg de café orgânico, sendo
grande parte destinada à exportação. No mesmo ano, a produção mundial de orgânico esteve
em torno de 1 milhão de sacas, o que representa apenas 1% do total de café produzido
(OLIVEIRA, 2006). Segundo o mesmo autor, com base no aumento da procura por produtos
naturais, a produção de café orgânico no Brasil cresce a uma média de 20% ao ano, superior
em 5% a demanda do grupo de cafés especiais e cerca de 18% acima do mercado
convencional,(BSCA, 2008). Entre os maiores produtores mundiais, destaca-se o México,
país em que o sistema de produção representa 10% da cafeicultura do país. Entre os maiores
consumidores de café orgânico, encontram-se os EUA, Japão e países da Europa
(MARQUES, 2000).
Depois de dois anos de lento crescimento, o mercado de café orgânico nos EUA
retornou aos altos níveis de crescimento de 2005 e 2006 (GIOVANUCCI et al., 2007). Dados
mostram que o forte crescimento provavelmente será contínuo. Os maiores fornecedores
norte-americanos não querem discutir contratos para um prazo menor que três anos e alguns
compradores estão aconselhando cafeicultores para que passem a produzir café orgânico. Em
relação às importações de café orgânico de 2005, a taxa média de crescimento em 2006 foi
aproximadamente 56% superior.
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Agronômico de Campinas, na
certificação orgânica obtém-se maiores diferenciais de preços em períodos de baixa
valorização no mercado convencional de café como o atual. Porém, à medida que o preço do
café convencional aumenta, o diferencial entre o convencional e o orgânico é reduzido,
desestimulando alguns produtores (PEREIRA, 2006).
No norte do Espírito Santo, pesquisa realizada com agricultores mostrou que o
principal fator para a adesão ao sistema orgânico de produção é a preocupação com a saúde da
família. Atualmente, também poderiam ser citados como razões o alto custo dos adubos e a
sua valorização pelo fato de ser um produto diferenciado. As principais dificuldades relatadas
foram o custo da certificação, a não-diferenciação do preço do café conillon orgânico do
convencional, a queda da produtividade das lavouras e a falta de assistência técnica
especializada em cultivo orgânico (PARTELLI et al., 2006).
3.2. Cafés Certificados: O modo de produção depende do padrão seguido por cada
certificadora, apesar de todas visarem ao modo sustentável de produção. Cada uma possui um
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foco específico, como, por exemplo, responsabilidade social, ambiental ou ambos. No
mercado de cafés certificados já atuam empresas como Kraft Foods, Caribou Coffee, First
Choice, Procter and Gamble, Tchibo, Lavazza, Royal Cup e Bolling Coffee, sendo essas,
exemplos de empresas que utilizam o selo Rainforest Alliance Certified, selo reconhecido
pela comercialização segundo princípios de proteção da natureza, melhoria na qualidade de
vida dos trabalhadores rurais e desenvolvimento econômico das regiões onde a agricultura
sustentável é realizada (RAINFOREST, 2008). Em 2008, cerca de 60% da produção de cafés
especiais certificados pelo Imaflora, representante brasileiro da Rainforest Alliance, foram
destinados à Europa e 20% ao Japão (RAINFOREST, 2008).
O selo de certificação Rainforest tem obtido grande aceitação no mercado
internacional, uma vez que zela pelo cumprimento das leis trabalhistas de cada país, bem estar
dos trabalhadores, meio ambiente (cria corredores ecológicos dentro da propriedade) interesse
das comunidades locais. Difere-se do selo orgânico por permitir o uso racionalizado de
produtos químicos e fertilizantes solúveis, entretanto, baseia-se nas práticas de manejo
integrado de pragas e doenças, a partir de monitoramentos periódicos das lavouras
(RAINFOREST, 2008).
A Rainforest exige dos participantes do programa “selo verde”, a composição de seus
blends com no mínimo 30% do produto certificado (RAINFOREST, 2008).
O McDonald’s do Reino Unido comercializa, em todas as suas lojas, cafés com o selo
sócio-ambiental Rainforest Alliance. Em seis meses, a partir da inserção de cafés certificados,
as vendas de todos os produtos cresceram 15%. A partir deste resultado, outras lojas na
Europa também passaram a vender café Rainforest. Na Austrália, a rede de fast food já
divulgou que irá comercializar esses cafés em todas as lojas, a partir de 2009 (CASCALLES
et al., 2008).
As vendas de café certificado Rainforest Alliance cresceram no mundo, em média,
93%, no período de 2003 a 2007 e se realizou, principalmente, como conseqüência do
marketing sócio-ambiental, além da adoção destes valores pelo consumidor (RAINFOREST
ALLIANCE, 2008). Os diferenciais de preço conquistados são variáveis. Em geral, elevam o
preço do café brasileiro ao mesmo nível que o do Tratado de Comércio de Nova Iorque,
fazendo com que o café certificado Rainforest Alliance atinja ou até supere as cotações dos
cafés Colombianos e da América Central (PEREIRA et al, 2006).
No segmento, também se destacam as certificadoras Utz Certified e Fairtrade que
serão caracterizadas a seguir:
Utz Certified - Segue os princípios das práticas de produção responsáveis, e sua
certificação preza a melhor gestão da empresa rural, o rastreamento do produto e a garantia de
segurança alimentar. Tal como outros cafés certificados, o café UTZ também possui um valor
extra na venda, que reflete o valor da certificação. O preço atual do prêmio é negociado entre
comprador e vendedor, porém, ele deve ser pago de acordo com o princípio de “melhor preço
para um melhor produto” (UTZ, 2008), sendo que a certificadora não interfere no preço do
produto. Segundo o guia de certificação da UTZ, a empresa não se responsabiliza por
contratos firmados no mercado futuro, já que o produtor deve garantir que sua certificação é
valida para a data do contrato e do envio do produto. O certificado se refere ao período de um
ano.
A Utz certified vem ampliando seu volume de cafés comercializados, seguindo a
tendência já esperada de crescimento. Nos primeiros cinco meses do ano de 2008, o volume
vendido já havia se igualado ao total do ano de 2006, fornecendo também, por meio do
McDonald's, cafés a países da Europa como Holanda, Bélgica, Rússia e Grécia. Hoje, o café
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UTZ CERTIFIED é vendido em 21 países, comprovando assim a demanda crescente por
cafés sustentáveis (Utz certified, 2008).
Para obter a certificação UTZ, o produtor não necessita realizar nenhum pagamento,
exceto as visitas dos consultores. . Ele deve registrar-se na empresa, via site ou via contato
com o escritório da empresa na Guatemala. Após o registro, o cafeicultor passa a ter acesso a
toda a documentação necessária para a certificação, que vai desde guias de certificação até o
código de conduta da empresa. A auditoria de certificação deve ocorrer em um prazo máximo
de quatro semanas após o registro do produtor na UTZ.
Neste período, a UTZ oferece ao produtor uma série de checklists, que podem ser
utilizadas para fazer uma comparação entre o atual estado da propriedade e as normas que
deverão ser cumpridas no dia da auditoria.
A auditoria é realizada por um Órgão Certificador (OC) previamente autorizado pela
UTZ. Este OC irá enviar uma equipe à propriedade, que será avaliada de acordo com as
especificações contidas no Protocolo de Certificação. Caso a propriedade venha a ser
reprovada na auditoria, existe um período de quatro semanas para eventuais correções.
Após aprovada, a propriedade passa a ter o selo UTZ CERTIFIED, que garante ao
produtor uma série de vantagens, entre elas o acesso à ferramenta comercial da empresa, um
banco de dados de todas as fazendas certificadas e dos compradores cadastrados ao redor do
mundo, possibilitando a ambas as partes um alcance global de seus interesses, elevando desta
forma, a possibilidade de um bom negócio.
Hoje, mais de 2,4 milhões de sacas no mundo têm o certificado Utz, valor que
representa o volume de produção das fazendas certificadas por safra.
Fairtrade – Segundo a certificadora, o comércio justo é uma estratégia de
desenvolvimento sustentável e combate à pobreza, objetivando, assim, criar oportunidades
para os pequenos produtores. Tais produtores podem participar do processo de certificação se
fizerem parte de cooperativas, associações, entre outras. Dentro de três anos de certificação, a
organização deverá ter um plano de desenvolvimento estabelecido, indicando como os
benefícios do Comércio Justo ajudarão a promover o desenvolvimento social e econômico
ambientalmente sustentável da organização e dos seus membros (FAIRTRADE, 2009). Pela
certificação Fairtrade, espera-se que os produtores reduzam continuamente e ao máximo
possível os volumes e os tipos de agroquímicos usados na produção. Quanto ao
desenvolvimento ambiental, a organização de produtores deve assegurar que seus membros
protejam o ambiente natural e façam da proteção ambiental uma parte do gerenciamento da
propriedade (FAIRTRADE, 2009). E, em relação às condições trabalhistas, a Fairtrade
Labelling Organizations, FLO, considera as convenções da OIT (Organização Internacional
do Trabalho) como a autoridade sobre elas, e espera que todas as organizações de pequenos
produtores satisfaçam as exigências da OIT, tanto quanto for possível (FAIRTRADE, 2009)
Nesse sistema de certificação, segundo a própria organização, o prêmio pago pelo café
objetiva o fortalecimento da associação de produtores, por meio de sua sustentabilidade
econômica. Quando ocorre a certificação Fairtrade associada à Orgânica, existe um
diferencial de preço ainda maior, podendo chegar aos mais altos "ágios" pagos dentre os
diferentes tipos de certificação analisados (PEREIRA et al, 2006). Os compradores devem
pagar às organizações de produtores, pelo menos, o “Preço Mínimo do Comércio Justo” como
estabelecido pela FLO, que variam de acordo com o tipo e a origem do café, sendo que, na
América do Sul, para o café arábica “lavado”, o preço foi de USD 165,33 por saca (60 kg)
F.O.B. porto de origem, em 2008. Em adição ao Preço Mínimo do Comércio Justo ou ao
preço de referência de mercado (dependendo de qual for mais alto), os compradores devem
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pagar um diferencial no valor de USD 0,10 por libra-peso, segundo dados de 2008 fornecidos
pela certificadora, o que representa 13,28 US$ por cada saca.
Os cafés certificados com o selo Fairtrade têm como foco o mercado dos países do
bloco europeu, os EUA e o Japão. Segundo dados de 2004, foram negociadas 24.323
toneladas de café torrado, o que corresponde a 0,42% da demanda total estimada para aquele
ano (BLISKA et al, 2007). Embora em expansão, o mercado de fairtrade se encontra restrito a
países importadores da Europa e América do Norte. O único país produtor que apresenta
algum interesse por parte dos consumidores é o México, principal produtor de café orgânico
do mundo (PEREIRA et al, 2007).
Segundo a Cooperativa Agropecuária dos Produtores Orgânicos de Nova Resende e
Região Ltda (Coopervitae), os custos de certificação para o ano de 2008 giraram em torno de
€ 1750,00 (por cooperativa, de acordo com o número de cooperados), mais R$ 50,00 por
produtor por relatório de inspeção, emitido pela certificadora (COOPERVITAE,2008).
As vendas ocorrem por meio da negociação dos contratos entre cooperativas
certificadas e compradores interessados, geralmente em lotes de 320 sacas, volume de um
container, sendo o preço variável e acordado entre as partes.
3.3. Cafés com denominação de origem: Relacionam-se com o cumprimento de regras
específicas para garantir homogeneidade nas características dos produtos de uma mesma
região, uma vez que alguns dos atributos de qualidade são inerentes à região onde a planta é
cultivada. Por meio da emissão do certificado, diversos produtos podem ingressar nos países
com os quais o país de origem mantém acordo comercial, obtendo vantagens como o imposto
de importação reduzido ou nulo.
Segundo Barbosa (2002), denominação de origem é o nome geográfico de país,
cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades
ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores
naturais e humanos. Teve início na Europa, onde foi criada para proteger nomes da culinária
local como vinhos, queijos, presuntos, embutidos (lingüiças), azeites, cervejas, pães regionais,
frutas e vegetais.
As certificações de origem se dividem em dois tipos: indicação de procedência e
denominação de origem. A primeira trata-se de uma versão mais simplificada das
certificações e mostra apenas a origem geográfica do produto — para conquistá-lo, basta que
a maior parte da matéria-prima seja extraída na região em questão. A segunda é a versão mais
sofisticada das certificações, pois determina não apenas a região de origem de 100% da
matéria-prima como também as características e a qualidade da produção. Não existe nenhum
produto ou serviço com esse selo no Brasil (SEIBEL, 2006).
No segmento cafeeiro, é utilizada em todo o mundo, com a mesma função. Um dos
nomes mais conhecidos na cafeicultura mundial com este selo é o café jamaicano Jamaica
Blue Mountain® Coffee, produzido na região das Blue Mountains, leste do país. Apenas os
cafés colhidos nas províncias de St. Andrew, St. Mary, Portland, e St. Thomas são
verdadeiramente considerados Blue Mountain É um grão de cor verde azulado, com boa
acidez, aroma intenso e perfeitamente encorpado; é cultivado entre 3.000 a 5.500 pés de
altitude e sua produção é consideravelmente limitada.
No Brasil, o Cerrado Mineiro é a primeira região produtora de café demarcada do país,
segundo decreto do Governo de Minas Gerais, desde abril de 1995. São 55 municípios
abrangidos, localizados no Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas,
apresentando padrão edafoclimático uniforme e possibilitando a produção de cafés de alta
qualidade. . A área possui 155 mil hectares de café plantado e, aproximadamente, 440 milhões
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de pés de café, oferecendo uma produção média de 3.500.000 sacas de 60 kg ao ano
(ORTEGA, 2008).
Para a produção de café arábica (Coffea arabica), são recomendadas áreas com altitude
variando entre 800 e 1.300 metros, podendo ser dotadas de irrigação em função do regime de
chuvas. As variedades utilizadas obrigatoriamente são da espécie Arábica.
A definição das estações climáticas, com verão quente e úmido, e inverno ameno e
seco, condição ótima para a produção de excelentes cafés, constitui-se o grande trunfo do
Cerrado. Essa condição climática ocorre pelo fato da região do Cerrado estar em área
continental, o que possibilita padrão de chuvas diferentes em relação às outras regiões
produtoras de café no Brasil, que sofrem influência direta das massas oceânicas.
Das atividades desenvolvidas atualmente pelo Conselho das Associações dos
Cafeicultores do Cerrado, Caccer, merece destaque a criação e o registro da marca Café do
Cerrado, cuja garantia de qualidade é o “Certificado de Origem”. O monitoramento da
produção é necessário para a rotulagem.
A certificação de origem pode se tornar um forte instrumento para agregar valor ao
café brasileiro, mas deve ter um monitoramento adequado e persistente para que se crie uma
boa reputação no mercado externo.
3.4. Café Gourmet: Segundo a classificação da Classificação Oficial Brasileira (COB),
refere-se a cafés com excelente qualidade, 100% arábica de bebida apenas mole, mole ou
estritamente mole de tipos 2 a 4, com 0% de defeitos pretos, verdes e ardidos (PVA), pretoverdes e fermentados (SAASP, 2007).
Para classificar o café como gourmet, observa-se três características: o
tipo de grão, produzido dentro de padrões de qualidade acima da média; o tempo de
torrefação que é mais curto; e o preparo, que deve ser feito por profissionais qualificados. A
produção de café Gourmet tem sido incentivada pela Organização Internacional do Café
(OIC) (SAES, 2001).
4. Mercado e Consumo
Quanto à questão mercadológica, os cafés especiais representam um mercado em
ascensão, à medida que a procura por produtos diferenciados que possuam características
envolvendo responsabilidade ambiental e social estão em alta. Segundo certificadoras, a
demanda mundial pelo produto cresce cerca de 15% ao ano. Atualmente, diante das
oscilações de preço nos mercados tradicionais de commodities, o segmento de cafés especiais
tem sido a aposta de produtores para driblar períodos de crise (MACHADO, 2008). Ainda
segundo esse autor, a ampliação de redes de cafeterias, novas marcas e eventos que destacam
a qualidade desses produtos têm permitido a consolidação do mercado e o aumento da renda
de cafeicultores, sendo que a indústria está aceitando pagar preços mais altos, já que a
qualidade é privilegiada entre os produtos. Segundo informações da Associação Brasileira de
Cafés Especiais (BSCA), a demanda externa continua alta mesmo com a crise e há produtores
com embarques confirmados até maio deste ano (BSCA, 2009).
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Apesar de o café ser uma commodity, o café especial tem algumas vantagens na sua
comercialização, como a fixação de contratos de longo prazo com preços mais estáveis.
Vários produtores brasileiros estão conseguindo contratos de três a cinco anos com preços
predeterminados, na maioria das vezes com valores acima dos de mercado (ARAÚJO, 2006).
Essa prática é normalmente utilizada por grandes compradores, como a Starbucks.
Dessa forma, passa a existir um forte elo entre produtor e comprador, em que ambos têm
garantidos seus interesses: para o produtor, a venda da safra por um preço justo, e, para o
comprador, o recebimento de um produto de qualidade e de procedência confiável.
Neste sentido, pode-se dizer que a certificação é uma importante ferramenta de
proteção contra eventuais alterações no mercado, em que o produtor passa a ter garantida a
venda da safra a um preço justo pré-determinado, o que, no longo prazo, é extremamente
vantajoso, alterando a forma de gestão da propriedade, que passa de irregular e sujeita a
variações no preço da saca para algo regular, com um horizonte predeterminado, sendo
possível um planejamento mais consistente e seguro.
Quanto ao prêmio pago pelo café certificado, nem sempre ele é relevante (KILLIAN,
2004). Em um estudo realizado pelo Centro de Inteligencia sobre Mercados Sostenibles
(CIMS) em vários países da America Latina, a certificação por si só não é responsável pelo
aumento do preço do café. O preço é resultado da junção da qualidade do café com o selo
certificado, em que a qualidade pode ser vista como a característica básica para a formação do
preço e a certificação como uma ferramenta que diferencia e que destaca essa boa qualidade.
De acordo com o estudo, prêmios com valores acima de 150 US cents/lb (FOB) foram
pagos para cafés certificados orgânicos, seguidos pelos cafés Fairtrade, com valor de 106 US
cents/lb. Os valores pagos pelos cafés certificados Rainforest Alliance ficaram bem abaixo, a
cerca de 25 US cents/lb. O menor prêmio observado entre as certificações estudadas foi a Utz
Kapet, com um valor máximo de 10 US cents/lb. Entretanto, quando se observa a média dos
valores pagos, o cenário é alterado drasticamente. O valor do café orgânico passa para algo
em torno de 20 US cents/lb, pouco acima da média do Rainforest, que além de possuir normas
menos rigorosas, apresenta maior facilidade na manutenção da lavoura e da qualidade dos
frutos.
Em relação à organização da propriedade, o ganho é significativo. Porém, esse aspecto
depende do nível inicial de organização da propriedade e das normas a serem seguidas, que
variam segundo a certificadora ou organização responsável.
De modo geral, as propriedades produtoras de cafés especiais possuem um sistema
administrativo desenvolvido, com um controle de entradas e saídas mais rigoroso, um
controle de gastos mais elaborado, e, sobretudo, uma divisão interna da lavoura, chamada de
talhões. Esta divisão em talhões permite ao produtor separar seu café em lotes, o que facilita a
rastreabilidade dos produtos, além de permitir identificar cafés com diferentes características
dentro de uma mesma fazenda e a necessidade de insumos diferenciada, o que pode trazer
vantagens quanto aos custos de produção.
Em relação aos consumidores, uma combinação de três fatores parece estar
continuamente chamando a atenção deles: a preocupação com a saúde e a segurança
alimentar; o crescimento do consumo de produtos com valor agregado e o desejo de participar
das tendências de consumo (GIOVANUCCI et al., 2007). Sendo assim, os cafés especiais
representam segurança alimentar, já que são produtos rastreados, ou seja, possuem
informações sobre todo o processo de fabricação, iniciando no pé de café e terminando na
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prateleira do supermercado. Outro ponto forte dos cafés especiais é o prazer que
proporcionam ao consumidor, por apresentarem sabores diferenciados e únicos, difíceis de
serem encontrados em cafés convencionais. Destaca-se também, principalmente nos países
desenvolvidos, a preocupação dos consumidores em relação à responsabilidade social
embutida nos produtos. Neste aspecto, os cafés especiais possuem uma grande vantagem, já
que devido à exigência dos órgãos certificadores, a produção deve estar de acordo com as leis
trabalhistas e com o estatuto da certificadora, assegurando a inexistência de práticas abusivas
ou prejudiciais aos trabalhadores, além da preocupação ambiental com a sustentabilidade da
área de produção.
A evolução das vendas desse segmento demonstra a aceitação do mercado em relação
a esses produtos. União Européia, Estados Unidos e Japão constituem mercados onde a
demanda é significativa. Em países como Dinamarca, Finlândia, Portugal e EUA, o mercado
orgânico é o maior no segmento de cafés especiais. Nos EUA, apesar desse segmento
representar 17% do mercado de café, atualmente, o preço mais elevado é fator limitante na
sua aquisição pelos consumidores.
Não há informações oficiais sobre as exportações brasileiras de café certificado,
porém fontes do setor, relacionados à torrefação e à comercialização, e envolvidos nas
iniciativas de certificação, concordam que cerca de 95,0% desse café é destinado à
exportação. O café orgânico é de longe o único tipo de café certificado que tem alguma
relevância no mercado doméstico (PEREIRA et al.,2006).
5. Conclusões
Com a preocupação cada vez maior a respeito das questões ambientais, sociais e com a
segurança alimentar, o consumo de produtos especiais tende a aumentar, e a oferta,
conseqüentemente, deverá seguir essa tendência, com compradores buscando a melhora da
qualidade para, assim, garantir características diferenciadas aos seus consumidores. Sendo
assim, esse segmento, com o crescimento atual e com as perspectivas de expansão futura,
merece uma maior atenção dentro da cadeia cafeeira. Atualmente, devido aos altos custos de
produção e aos baixos preços de mercado para o café convencional, a produção de cafés
especiais tem sido estimulada por organismos do setor, que acreditam que, por se tratar de um
produto com valor agregado e de alta procura, pode representar uma vantagem competitiva
para os cafeicultores.
Dentre as diversas categorias de cafés especiais, destacam-se aquelas que já possuem
canal de distribuição no mercado mundial e que, por isso, já atraíram o interesse dos
consumidores que prezam pela qualidade dos produtos ou por diferenciais que representam
uma ligação entre o produto e os valores daqueles que os consomem.
Conclui-se que os cafés especiais apresentam duas principais vantagens: melhora da
gestão das propriedades produtoras e vantagem comercial frente aos cafés comuns
(commodities).
O ganho administrativo é incontestável, uma vez que todo o processo passa por um
rigoroso sistema de registros, que deve estar de acordo com as normas da certificadora e deve
ser revisado regularmente a fim de manter a certificação.
Quanto aos mercados consumidores, segundo as diversas fontes analisadas, pode-se
concluir que há um interesse cada vez maior por parte deles, tanto devido à busca por novos
sabores, quanto devido à responsabilidade social e/ou ambiental dos diversos tipos de
produção analisados.
Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,
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Com esse trabalho, concluí-se que o segmento de cafés especiais ainda representa um
nicho de mercado a ser melhor explorado, sendo que, apesar do interesse demonstrado pela
maioria dos participantes da cadeia cafeeira, o seu custo de implantação ainda representa um
obstáculo. Porém, devem ser considerados os ganhos a médio e longo prazo que compensam
o custo inicial, já que, muitas vezes, a produção garante melhores preços para os produtores,
como, por exemplo, em tempos de crise como o atual, em que os ágios recebidos são
compensatórios se comparados aos baixos preços do café convencional.
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