1 A Expectativas dos Alunos em Relação ao Desempenho de Seus Professores: um estudo numa IES pública Autoria: Luciane Maria Stahl RESUMO: Esta pesquisa tem por objetivo identificar quais são as estratégias de ensinoaprendizagem preferidas pelos alunos do curso de Administração. Para tanto buscou-se identificar na literatura elementos significativos para a análise dos dados coletados através da pesquisa empírica, que incluiu a identificação do papel docente no processo de ensinoaprendizagem e as estratégias de ensino e avaliação, finalizando com uma breve pesquisa sobre o ensino de Administração no Brasil. O método escolhido para este estudo foi o de estudo de caso, utilizando o curso de Administração de uma universidade pública, onde a pesquisa foi realizada através de um questionário aberto aplicado aos alunos do último semestre do curso. Como resultado constatou-se a preferência dos alunos por atividades que relacionam a teoria à prática, exigindo sempre que possível a combinação de métodos, tanto para o ensino-aprendizagem quanto para a avaliação. INTRODUÇÃO Segundo Vasconcelos (1996) a grande maioria dos professores do Ensino Superior exerce paralelamente outras atividades profissionais – normalmente profissionais liberais – situação também comum entre os docentes dos cursos de Administração, que muitas vezes exercem atividades de gerentes, diretores ou consultores de empresa, profissionais que, segundo a autora, vêem a docência como uma atividade secundária, algumas vezes apenas para uma complementação da renda ou aquisição de status social. O que se observa nesses casos é a falta de qualificação para o exercício do magistério superior. Os cursos de mestrado e doutorado em Administração buscam sempre atender as inquietudes ligadas à própria Ciência da Administração, dedicando uma carga horária elevada para as disciplinas voltadas aos procedimentos de pesquisa e reduzida às disciplinas de Metodologia e Didática do Ensino Superior, isto quando as oferece. Enquanto universitária sempre questionei porque profissionais tão qualificados, competentes, com tanta experiência não conseguiam transmitir tais conhecimentos e, muitas vezes, nem mesmo nos conduzir a construção de um conhecimento dentro da proposta da disciplina. Existia, ainda, o problema das estratégias de avaliação, que ora não avaliavam o conhecimento adquirido (alunos ausentes – faltosos ou dispersos – iam muito bem nas avaliações), ora exigiam o simples processamento de superfície, isto é, que os alunos “decorassem” o que havia sido dado em aula. A pesquisa aqui proposta vem ao encontro dessas inquietudes: Como deve se comportar o professor para favorecer as aprendizagens de seus alunos? Quais as melhores práticas pedagógicas para o curso de Administração segundo os alunos? Por se tratar de uma pesquisa preliminar sobre o tema proposto delimitou-se a estudar apenas a concepção dos alunos quanto a essas práticas, deixando para uma próxima pesquisa a visão docente e uma análise detalhada de suas práticas segundo eles mesmos. Objetivos Como já exposto anteriormente, o objetivo geral dessa pesquisa é identificar quais as estratégias de ensino-aprendizagem que são reconhecidas pelos alunos de Administração como sendo as mais eficientes para a sua aprendizagem. Para atingir tal objetivo geral, faz-se necessário identificar na literatura elementos significativos para a análise dos dados coletados na pesquisa empírica, ou seja, buscou-se entender a função do docente dentro do ambiente de Ensino Superior, identificando os 2 métodos de ensino e de avaliação, finalizando a revisão bibliográfica foi realizada um breve levantamento das pesquisas que estão sendo realizadas sobre o ensino de Administração e que vem sendo apresentadas nos principais encontros e revistas da área de Administração, compondo assim o quadro referencial para a análise dos dados. Como última etapa é feita a contextualização do caso, apresentando a entidade e o curso que será analisado, bem como os resultados e a análise dos dados coletados em campo. Metodologia No que diz respeito à metodologia empregada na realização dessa pesquisa, pode-se identificá-la como sendo uma pesquisa empírica e qualitativa, de cunho exploratório (MARCONI; LAKATOS, 2003). Sendo que, para obter as informações necessárias, lançou-se mão de um questionário aberto conforme propõem Marconi e Lakatos (1996), de modo a permitir que os alunos expressassem suas concepções quanto à metodologia e ao comportamento de seus professores, sendo guiados apenas por uma relação de quatro tópicos, representativos para a identificação das principais características das práticas docentes. Os tópicos que deveriam ser abordados pelos respondentes diziam respeito à (1) apresentação pessoal e da disciplina; (2) métodos de aula; (3) métodos de avaliação e (4) relacionamento interpessoal, divisão essa que foi utilizada também para a apresentação e análise dos dados. Deve-se ressaltar que a apresentação e análise dos dados se deram de forma quantitativa e qualitativa, ou seja, a pesquisadora desenvolveu, a partir das respostas dos alunos, um quadro de referência onde foram anotadas as freqüências com que essas respostas surgiam, foram ainda feitas anotações qualitativas, na medida em que algumas respostas se destacavam dentre as demais. A população estudada foi de 142 alunos do curso de Administração de uma Instituição de Ensino Superior pública, nos turnos matutino e noturno, que compunham o quadro discente do último período do curso no ano letivo de 2003, desses 120 responderam ao instrumento o que representa 84,5% da população. É importante ressaltar que por se tratar de uma pesquisa qualitativa, onde a maior preocupação é conceber alguns parâmetros da prática docente, a pesquisadora não se eximirá por completo no processo de análise, visto que considera importante a sua contribuição enquanto ex-discente, uma vez que possui conhecimentos sobre a prática desses docentes e que sua isenção seria praticamente impossível. Deste modo, fica claro que a pesquisadora não se propõe a fazer qualquer tipo de julgamento, apenas utilizar seus conhecimentos prévios quanto à atuação desses docentes para uma melhor compreensão de suas atividades. Essa postura é permitida no meio científico através das concepções da fenomenologia (DARTTIGUES,1992; BICUDO, 2000), visto que o objetivo é identificar a visão de terceiros (alunos) sobre a prática dos docentes e que é impossível ao pesquisador eximir-se de qualquer influência de sua história de vida, desde que essa fique claramente evidente no texto e na apresentação metodológica. O Professor no Processo de Ensino-aprendizagem Quando se decide discutir as estratégias de ensino-aprendizagem no Ensino Superior é fundamental que se defina claramente os elementos que compõem o ambiente de ensino e aprendizagem, bem como seus papéis relativos dentro dessa relação, que influenciam direta ou indiretamente na determinação e eficiência dessas estratégias. Convém ainda ressaltar que o termo ‘estratégias de ensino-aprendizagem’ será utilizado no presente estudo seguindo as definições propostas por Abreu e Masetto (1983) e Bordenave e Pereira (1988), isto é, vistas como “os meios que o professor utiliza em sala de aula para facilitar a aprendizagem dos alunos, ou seja, para conduzi-los em direção aos 3 objetivos daquela aula, daquele conjunto de aulas ou daquele curso” (ABREU; MASETTO, 1983, p.50). Nessa definição os autores incluem, além da metodologia de sala de aula, das técnicas de ensino e dos materiais didáticos, também toda a organização de sala de aula que vise facilitar a aprendizagem (móveis, estrutura física da instituição, recursos áudio visuais), ou seja, “todas as atividades que serão pedidas aos alunos, e as do professor que serão necessárias para complementar, iniciar, organizar ou sintetizar essas atividades dos alunos” (ABREU; MASETTO, 1983, p. 51), considerando ainda como parte das estratégias os processos de avaliação e a própria relação professor-aluno. Abreu e Masetto (1983, p.11) expõem que o papel do professor não é ensinar, mas ajudar o aluno a aprender; não é transmitir informações, mas criar condições para que o aluno adquira informações, não é fazer brilhantes preleções para divulgar cultura, mas organizar estratégias para que o aluno conheça a cultura existente e crie cultura. Moreira (1997) exemplifica muito bem essa situação a partir das idéias de aprendizagem ativa e passiva de Scheffer (MOREIRA 1997, p.133). “O aluno pode entender que ‘em situações de crise, o melhor estilo de liderança é o autocrático’ e ter plena consciência da existência e da validade da regra, porém quando chamado a ação sequer cogitará de aplicá-la”, o que quer dizer que o aluno conhece a regra, a teoria (aprendizagem passiva), mas hesita em aplicá-la no seu dia-a-dia, isto é, ela não o impele a ação (aprendizagem ativa). Ainda segundo Abreu e Masetto (1983, p. 11) é por esse motivo que o professor deve substituir suas tradicionais indagações de “o que devo ensinar?” por “que objetivos pretendo que meus alunos alcancem?”; ou então, “como poderei mostrar que ensinei?” por “quais são as expectativas dos meus alunos ao virem fazer meu curso?”, ou ainda, “como poderei ensinar toda a matéria que devo?” por “o que poderei fazer para facilitar seu desenvolvimento e sua aprendizagem?”. Ao compreender essas mudanças, o professor perceberá o processo de mudanças e as transformações no ambiente, que o levaria a sempre refletir a sua ação docente diante dos objetivos e do próprio desenvolvimento e progresso científico, alternando suas estratégias de ensino-aprendizagem e, principalmente, revendo os conteúdos de suas disciplinas. Não se deve esquecer que tudo deve ser estrategicamente planejado, mensurado o grau de dificuldade e o tempo disponível, bem como se determinados métodos requerem ou não outros conhecimentos além do que está sendo trabalhado na disciplina. Estratégias de Ensino Vive-se hoje novas expectativas de ensino, a sociedade encontra-se imersa em um ambiente de mudança, no qual os alunos querem sempre mais, buscam sempre estar a frente. A competitividade do mercado exige isso deles e eles exigem isso de seus professores. O professor tradicional acredita que a preleção e a exposição oral são as únicas atividades válidas para ensinar e, portanto, não se preocupa com a seleção das estratégias de aprendizagem e das atividades de ensino, pois elas já estão previamente definidas e seriam as únicas possíveis. Para o professor moderno essa escolha é muito mais complexa e exige dele uma reflexão muito maior, é onde está o seu diferencial, é onde pode atuar, pois sua função é auxiliar o aluno, orientar seus estudos e não transmitir conteúdos, pois esses também podem ser encontrados nos livros, periódicos, etc., ele deve conduzir seu aluno no processo de aprendizagem, utilizando os métodos mais adequados para tal tarefa. Conforme já citado, as estratégias de ensino-aprendizagem, em seu sentido amplo, incluem também os métodos e as técnicas de ensino, que se diferem segundo Nérici (1973, p. 4 204) quanto à sua amplitude, pois o “método é a unificação e racionalização do uso das técnicas disponíveis para serem alcançados certos objetivos do ensino”. As estratégias de ensino-aprendizagem classificam-se em centradas no professor (diretivas) e centradas nos alunos (não-diretivas). Entre as centradas no professor destacam-se a demonstração, a exposição e a inquirição, as quais se manifestam nas situações comumente denominadas de aulas expositivas. As estratégias de ensino-aprendizagem centradas nos alunos compreendem as técnicas de ensino individualizadas e socializantes. Dentre as técnicas de ensino individualizadas, pode-se citar: estudo dirigido, instrução programada, fichas didáticas, entrevista, estudo de caso, estudo de texto, entre outras. As técnicas de ensino socializantes podem envolver pequenos e grandes grupos. Grupo de verbalização e observação (GV-GO), brainstorming, Phillips 66, zum-zum ou cochicho são exemplos de técnicas aplicáveis em pequenos grupos; seminário, simpósio, painel, fórum, júri simulado são técnicas a serem utilizadas em grandes grupos. A aula expositiva A aula expositiva ou preleção é o método mais comumente utilizado no Ensino Superior e, segundo Haidt (1995), trata-se do método de ensino mais antigo e tradicional, além de ser o mais difundido em todos os graus escolares. Sua execução se dá através da apresentação oral de um tema, logicamente estruturado. Para Nérici (1979) existem dois tipos de aulas expositivas: a dogmática e a aberta ou dialogada. A exposição dogmática se caracteriza pela apresentação de um “conhecimento acabado”, que não pode ser contestado pelo aluno, o qual assume uma postura passiva, aceitando tal conhecimento como verdadeiro, decorando o que o professor lhe apresentou. Já na exposição dialogada a mensagem apresentada pelo professor é apenas o pretexto para desencadear a participação da sala, promovendo a discussão, a contestação, incitando o aluno a uma participação ativa e estimulando sua atividade reflexiva. Haidt (1995, p.155) faz, algumas considerações sobre a atividade docente para que os objetivos da aula expositiva possam ser alcançados, destacando a importância de uma apresentação prévia do conteúdo a ser abordado e suas ligações com os temas já estudados, os quais devem servir de base e parâmetro para o novo conteúdo, bem como a utilização das experiências já vividas por seus alunos. A autora ressalta também a importância de um clima adequado entre professor e aluno, mostrando como o conteúdo que está sendo apresentado se relaciona com os objetivos e interesses dos alunos. Estudo dirigido Segundo Haidt (1995), o Estudo Dirigido pode ser tanto individualizante quanto socializante, quando proposto para ser realizado em grupos. Essa técnica substitui a apresentação do professor pela pesquisa do próprio aluno, que será guiado no seu estudo por um roteiro elaborado pelo professor, onde ficarão estabelecidas a extensão e a profundidade do estudo, segundo os objetivos definidos pelo docente. Essa atividade deve ser preferencialmente realizada em sala de aula, desta forma se presta para que o professor conheça seus alunos quanto à personalidade e maneira de estudar, preparo e deficiências, também sendo útil para orientar os alunos a adquirirem habilidades no uso de recursos bibliográficos (NÉRICI, 1973). Essa técnica baseia-se, ainda, no pressuposto de que a aprendizagem depende da participação ativa do aluno, exigindo dele uma série de atividades mentais, ela surgiu da necessidade de transmitir aos alunos técnicas de estudo, ou seja, da necessidade de ensiná-los a estudar, o que se tornou um dos principais objetivos dessa técnica. 5 Discussão em pequenos grupos Os trabalhos em grupo, que têm como função didática facilitar a construção do conhecimento, promover a troca de idéias e opiniões através da discussão e possibilitar a prática de cooperação para atingir um objetivo comum, constituem-se em uma das principais técnicas de ensino socializante (integrador) (HAIDT, 1995). A técnica de discussão em pequenos grupos é recomendada em situações que exijam a coleta e sistematização de dados e informações, resolução de problemas, tomada de decisões e realização de tarefas. A discussão pode ser encaminhada pelo professor de duas formas: cada grupo estuda temas diferentes (parte de um tema ou tarefas diferentes) ou todos os grupos estudam o mesmo tema e realizam a mesma tarefa. É preciso ressaltar que, em qualquer dos casos, é conveniente que, ao final, cada grupo apresente suas conclusões para que ocorra o compartilhamento do conhecimento construído. Seminário A técnica de seminário é freqüentemente utilizada na graduação e na pós-graduação e consiste na formação de um grupo (ou de um aluno individualmente, em alguns casos) que se dedicarão a pesquisar e analisar determinado assunto ou parte dele, expondo na seqüência ao restante da turma. Nérici (1973) destaca que o seminário destina-se fundamentalmente a introduzir o estudante na pesquisa e, para isso, se estrutura de forma a conciliar a pesquisa e a discussão, ampliando os conhecimentos de uma disciplina, formando muito mais que informando. Considerando isso, é importante a ressalva feita por Abreu e Masetto (1983) a fim de se aproveitar ao máximo a utilização da técnica de seminário, que coloca a exigência de independência intelectual e maturidade do aluno, bem como exige do professor capacidade de organizar, sintetizar e manter o nível geral de envolvimento da classe. Estudo de caso Diversos autores (BORDENAVE; PEREIRA, 1988, NÉRICI, 1973, ABREU; MASETTO, 1983; HAIDT, 1995) discorrem sobre a técnica do estudo de casos e, em todos eles, encontra-se a mesma definição e a apresentação dos mesmos objetivos. Segundo esses autores essa técnica consiste na apresentação de um caso real ou hipotético, baseado em fatos reais, aos alunos para que estes o apreciem e discutam suas relações, seus pormenores, os pontos positivos e negativos de cada solução possível, entre outros. Os estudos de caso são apresentados normalmente de forma escrita, em narrativa, diálogo ou texto jornalístico, podem ser também apresentados oralmente ou através de filme. As principais recomendações ao docente nessa técnica são a de que ele não se posicione, de forma a evitar limitações nas análises por parte dos alunos, que oculte (no caso de estudos sobre fatos reais) quais foram as decisões tomadas e suas conseqüências, e que verifique se todos os conhecimentos necessários para a resolução ou análise do caso já foram adquiridos pelos alunos. É importante, também, se observar que existem dois tipos de estudos de caso citados na literatura: o caso-análise e o caso-problema. O caso-análise busca apenas compreender os fatores envolvidos em determinada situação, não requisitando uma solução, fato que deve ficar claro aos alunos. Já o caso-problema busca a sua solução, ponderando diversos fatores e analisando quais seriam as soluções mais viáveis. Este tipo de caso se apresenta dentro das propostas dos métodos de problematização. Jogos e Simulações 6 A técnica de simulações e jogos se baseia nos mesmos princípios do estudo de caso, haja vista que também busca apresentar aos alunos a relação entre teoria e prática, colocandoos diante de casos reais, ou hipotéticos baseados em fatos reais, para que ponderem, analisem e tomem suas decisões. Essa técnica vem sendo amplamente utilizada no ensino de Administração, principalmente a de jogos, após a adoção dos computadores como ferramenta auxiliar de ensino. Abreu e Masetto (1983) explicitam que essa técnica pode focalizar tanto a aprendizagem conceitual quanto o desenvolvimento de habilidades interpessoais, visto que são normalmente realizadas em grupos, gerando, em alguns casos, uma certa competição entre eles. É importante ressaltar que, tanto no estudo de casos quanto no de jogos e simulações, a realidade é apresentada de forma simplificada, muitas vezes omitindo-se alguns aspectos a fim de colocá-la ao alcance das capacidades dos alunos, ou então permitindo que a atenção do aluno se volte para algum aspecto específico que esteja sendo estudado. Pesquisa e Projetos A atividade de pesquisa é um dos princípios fundamentais do Ensino Superior, visa a formação científica dos alunos, podendo ser realizada em grupo ou individualmente. A pesquisa é, ainda, a atividade suporte para a ciência e tecnologia, devendo ser estimulada nos alunos do Ensino Superior desde o início do curso, sendo utilizada como atividade curricular ou extra-curricular (projetos de pesquisa). No ensino de Administração é comum a utilização de projetos de pesquisa para a realização das atividades de diagnóstico em empresas, ou seja, alguns professores organizam a sua disciplina seguindo os parâmetros de uma pesquisa, ou seja, fornecendo orientação e disponibilizando tempo para que os alunos realizem pesquisas de campo em empresas identificando fatores importantes que são objetos da disciplina. A pesquisa é uma técnica ativa de aprendizagem, através da qual o aluno (ou o grupo de alunos) deve levantar teorias, testar hipóteses, discutir, analisar e apresentar os resultados, contando sempre com a orientação do professor que poderá analisar e avaliar o desempenho de seus alunos durante todo o processo de pesquisa. Desta forma, o professor pode conduzir os alunos ao conhecimento metodológico, ao conhecimento dos conteúdos propostos e desenvolver as habilidades de pesquisa e argumentação, ensinando o aluno a aprender a aprender, fornecendo os subsídios para que os alunos busquem, posteriormente, construir novos conhecimentos acerca dos temas que lhes são interessantes. Estratégias de Avaliação O senso comum se refere sempre a “avaliar” como fazer uma prova, um exame, atribuir nota, essa definição vem da Escola Tradicional, em que a educação era concebida como mera transmissão e memorização de informações, restringindo o processo de avaliação ao processo de medir a quantidade de informações retidas (HAIDT, 1995). As concepções mais recentes de avaliação se baseiam nos princípios de que “educar é formar e aprender é construir o próprio saber” (HAIDT, 1995, p. 286), não se reduzindo apenas a atribuir notas, deixando de avaliar apenas o produto final e passando a avaliar todo o processo de ensino-aprendizagem. Essas mudanças também mudam a visão de avaliação, que deixa de ser vista como um processo seletivo, funcionando agora como um diagnóstico, para se verificar se os objetivos estão sendo ou não alcançados no processo de ensino-aprendizagem, assumindo dessa forma uma dimensão orientadora, permitindo que os alunos e professores tomem consciência de seus 7 avanços e dificuldades para dar continuidade ao processo de construção do conhecimento (HAIDT, 1995). Haidt (1995) e Abreu e Masetto (1983) apresentam ainda quais os princípios básicos da avaliação. Para esses autores, o processo de avaliação está ligado ao processo de aprendizagem, sendo este planejado, pensado e realizado de forma coerente, ou seja, é um processo contínuo e sistemático, o que permite um contínuo reiniciar do processo de aprendizagem na busca dos objetivos finais, isto é, é também funcional. A avaliação também deve ser vista com uma função orientadora na busca dos objetivos, considerando o aluno na sua integridade, bem como avaliando a função e prática docente, visto que o professor deve, além de orientar e conduzir seus alunos no processo de aprendizagem, estar atento ao desempenho dos mesmos, identificando diariamente seus avanços e dificuldades. Haidt (1995, p. 291) apresenta uma distinção entre as funções tão comumente indicadas como sinônimos de avaliação: testar, medir e avaliar. Testar seria “verificar um desempenho através de situações previamente organizadas, chamadas testes”; medir seria “descrever um fenômeno do ponto de vista quantitativo”; enquanto que avaliar é “interpretar dados quantitativos e qualitativos para obter um parecer ou julgamento de valor tendo por base padrões ou critérios”. Essa distinção mostra o quão abrangente é o processo de avaliação, pois avaliar seria justamente fazer um julgamento, levando em consideração os objetivos previamente propostos, cumprindo assim uma série de funções pedagógicas. Haidt (1995) mostra que a cada momento do processo avaliativo uma função é cumprida, ou seja, ao buscar conhecer o aluno é suprida a função diagnóstica, pois ajuda o professor a detectar o que cada aluno aprendeu anteriormente e o que ele precisa aprender ou desenvolver (habilidades), bem como quais são as suas dificuldades de aprendizagem. Ao se determinar objetivos para o processo de ensino, e avaliar se eles foram ou não alcançados, o professor faz uso da função formativa, ou seja, verifica se o grupo atingiu as metas; caso isso não tenha acontecido, caberá ao professor organizar novas situações de aprendizagem, para que todos obtenham o êxito na construção do seu conhecimento (HAIDT, 1995). Esse tipo de avaliação promove ainda o feedback aos alunos, mostrando onde estão evoluindo e onde não estão, permitindo que o processo de ensino-aprendizagem possa ser aperfeiçoado. Por fim, o professor pode se utilizar da avaliação somativa, onde deve atribuir uma nota ao aluno para que esse possa prosseguir nos seus estudos, ou seja, para que possa ser promovido à série seguinte. A grande crítica a esse processo de avaliação é que ele acaba sendo classificatório e comparativo, não respeitando as individualidades e avanços pessoais. As Pesquisas Sobre Ensino de Administração no Brasil Analisando, brevemente, as revistas da área de Administração e os anais dos principais congressos brasileiros pode-se notar que, após um período de recesso, as pesquisa sobre ensino e educação do profissional de Administração estão voltando a se fortalecer. O tema teve destaque no final da década de 1970, mas ficou esquecido por essas publicações durante quase duas décadas, sendo retomado no final dos anos de 1980 quando houve a criação do Encontro Nacional da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração – ENANGRAD. Nesses quase 15 anos de encontro muitos temas tiveram destaque, principalmente aqueles ligados à interação universidade-empresa; os fatores condicionantes do desenvolvimento do ensino de administração; a avaliação institucional e dos docentes; a importância e necessidade da educação continuada, entre outros. Nos últimos 3 anos, no entanto, o que se vê é uma excessiva preocupação com a 8 adequação curricular visto que as grandes mudanças nos cenários político e econômico têm alterado todo o ambiente organizacional, exigindo novas habilidades e competências dos administradores e que a lentidão para a adequação dos currículos a essas novas necessidades do mercado têm preocupado tanto alunos quanto professores. Neste período houve também uma série de pesquisas ligadas ao estágio supervisionado e à formação dos egressos, seu perfil e sua atuação após a conclusão do curso. Diante de tantos temas a serem pesquisados muito pouco se viu sobre a atuação docente no que diz respeito às suas escolhas diárias, seus métodos e técnicas, seu relacionamento com os alunos e as preferências destes quanto aos métodos de ensinoaprendizagem, não que esta temática não tenha sido explorado nos encontros da ANGRAD, mas sempre foram apresentados breves estudos de casos, testando uma modalidade ou outra de técnicas em disciplinas isoladas. Um estudo importante para a presente pesquisa foi realizado por Godoy (1989) e vem sendo estudado por essa autora ao longo dos anos, abordando sempre o ambiente de ensino preferido por alunos do terceiro grau, em especial do ensino de Administração (GODOY et al. 2001). Nesses estudos (GODOY, 1989 e 1997; GODOY et al 2001) foi utilizada, no entanto, outra técnica de coleta de dados: o inventário, com uma série de assertivas (de 46 a 70 questões) cujas respostas seriam medidas através da escala de Likert de cinco pontos, onde se buscava identificar quais eram as preferências desses alunos quanto ao ambiente de ensino. Essa diferenciação nos instrumentos de coleta também levou a uma diferenciação nos métodos de análise desses dados. Godoy (1997) e Godoy et al (2001) apresentam os dados de forma quantitativa, através da análise multivariada e análise fatorial, sendo que esses resultados merecem algum destaque, haja vista que poderão compor o quadro referencial para a análise e comparação dos resultados obtidos no presente estudo. Em ambos os estudos de Godoy (1989, 1997 e 2001) foram encontrados resultados semelhantes que serão brevemente relatados a seguir: – Quanto à estruturação e facilitação do ensino os alunos preferem os professores entusiasmados com seu trabalho docente, que variam sua forma de dar aula, esclarecem suas duvidas, dando “dicas” e se mostram flexíveis quanto às necessidades dos alunos. Foram também muito apreciados pelos alunos os professores que explicam a matéria mostrando ao aluno as possibilidades de aplicação prática, apresentando exemplos e fornecendo resumos dos assuntos a serem estudados na aula; – Quanto às técnicas, foram indicadas como preferenciais o uso de seminários, o uso combinado de aula expositiva e seminário, a exigência de leitura obrigatória e a solicitação de exemplos aos alunos, bem como a promoção de discussões e debates em sala de aula; – Ao abordar o sistema de avaliação, os estudos de Godoy (1997) e Godoy et al (2001) identificaram a preferência pela avaliação através da participação do aluno em trabalhos durante o curso, bem como o seu uso combinado com provas, sendo os trabalhos individuais e em grupo; – A autora abordou ainda o ambiente sócio-emocional onde prevalece a preferência por docentes que mantêm, com os alunos, um clima de diálogo que envolva as conversas informais e de caráter pessoal. Esses resultados alcançados nos estudos realizados em universidades paulistas, públicas e privadas, serão ao final comparados com os resultados encontrados no Estudo de Caso apresentado a seguir. 9 CURSO DE ADMINISTRAÇÃO: EXPECTATIVAS DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AO DESEMPENHO DE SEUS PROFESSORES Apresentação e Contextualização do Caso Para a realização desse estudo foi escolhida uma IES pública, de grande importância regional e com um ótimo desempenho nas avaliações do MEC, tal IES já oferece o curso de Administração há 34 anos e já formou mais de 2.200 profissionais, muitos dos quais atuando como docentes dentro da própria instituição, numa média anual recente de 150 alunos por ano. O curso de Administração escolhido não possui qualquer habilitação específica e não disponibiliza opções de escolha das disciplinas, sendo assim um regime seriado com uma carga horária total de 3.204 horas/aula, contando ainda com 150horas de atividade complementar e estágio supervisionado de 300horas. Apresentação e Análise dos Dados Coletados Conforme explicitado no tópico referente à metodologia, os dados foram coletados junto aos alunos do último semestre do curso de Administração, nos turnos matutino e noturno, totalizando 142 alunos matriculados, dos quais 120 responderam ao questionário (84,5%). O questionário apresentava como indagação a pergunta: COMO DEVE AGIR O PROFESSOR DE ADMINISTRAÇÃO (de um modo geral) QUANTO A: 1. APRESENTAÇÃO DA SUA DISCIPLINA? (contextualização da disciplina, referencial teórico - bibliografia -, apresentação pessoal do docente, etc.) 2. DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO DO CURSO? (tipo de aula, recursos didáticos, tipos de trabalho/pesquisa, etc.) 3. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM? (formato das avaliações, provas, pesquisas, seminários, etc.) 4. RELAÇÃO INTERPESSOAL? (professor-aluno dentro e fora da sala de aula) Com base em tal questionamento, a pesquisadora elaborou quatro tabelas, representando cada um dos tópicos questionados. É importante ressaltar que a tabulação se procedeu através da análise do conteúdo dos questionários, onde os alunos na maioria das vezes indicavam mais de uma resposta para cada item. No que se refere ao primeiro tópico abordado: quanto à apresentação da disciplina – obteve-se as seguintes respostas: Tabela 1 – Quanto à apresentação pessoal e da disciplina APRESENTAÇÃO PESSOAL E DA DISCIPLINA Explicar onde o conteúdo da disciplina poderá ser aplicado Contextualização da disciplina Explicar o conteúdo da disciplina Apresentar os principais livros atuais e de fácil acesso Indicar os principais autores dos temas a serem abordados Utilizar revistas e periódicos Apresentação pessoal completa (titulação, experiência, contatos) f 75 70 65 50 35 30 25 % 62,50 58,33 54,17 41,67 29,17 25,00 20,83 Neste tópico o que se verifica é uma preocupação dos alunos com o conteúdo da matéria (54%), a contextualização da disciplina dentro do todo (58%) e, principalmente, com a sua aplicação prática, requerendo que o professor explique como a disciplina será aplicada no dia-a-dia (62,5%). É importante ainda ressaltar que a menor freqüência encontrada foi de 10 apresentação pessoal (20%) o que ainda assim apresenta uma grande proporção. Outro fator a considerar é a importância que os alunos deram à indicação de autores, de livros e o uso de revistas e periódicos. Esses dados corroboram a pesquisa de Godoy (1997) na qual os alunos de instituições paulistas de Administração também referenciaram como uma de suas preferências a explicação dos professores quanto à aplicabilidade da teoria. Analisando esse aspecto nota-se a presença de elementos ligados à teoria escolanovista, ou seja, muito mais existencialista e pragmática, na medida que o ensino deve servir para a prática, para o cotidiano, para resolver problemas diários (ARANHA, 2000). É importante ressaltar que essa é a visão dos alunos sobre a atuação ideal, e que portanto ela pode não corresponder à prática dos docentes do curso analisado. Inclusive o que se notou durante a análise dos questionários é justamente o contrário, pois na maioria das vezes os discentes usam expressões como “deveriam” e “poderiam”, o que indica que isso não vem ocorrendo com freqüência e sim que seriam sugestões para esses docentes. Outra constatação importante diz respeito à apresentação do docente, que apesar dos 20% de referências foi enfaticamente criticada pelos alunos, algumas vezes sendo considerada ilusória, pois os discentes afirmam que os professores dizem que trabalham em tal e tal empresa que fizeram consultoria pra tal e tal empresa mas essa experiência não é transmitida ao aluno, o que representaria uma falta de preparação didático-metodológica para a docência. Quanto ao segundo tópico abordado e principal tema desta pesquisa – os métodos e técnicas de aula – obteve-se o seguinte resultado: Tabela 2 – Quanto às estratégias de ensino-aprendizagem ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM Aula prática (interligação com empresas/casos) Integração das experiências da turma e do prof. sobre o conteúdo Aulas mistas (expositivas e participativas com pesquisas) Discussões e debates Aula expositiva Pesquisa discente sobre o tema das aulas Trabalhos em grupos Entrevistas/palestras Disponibilizar recursos na internet Através de jogos, que estimulem a competição dos alunos Indicação prévia do conteúdo da aula Enfatizar a leitura obrigatória f 80 40 40 35 30 20 10 10 5 5 5 5 % 66,67 33,33 33,33 29,17 25,00 16,67 8,33 8,33 4,17 4,17 4,17 4,17 Aqui não se buscou ainda identificar e correlacionar a fala dos alunos com as técnicas e métodos de ensino-aprendizagem, mas sim utilizar as suas próprias palavras, suas concepções para descrever as estratégias de ensino-aprendizagem que mais lhes agradam. A partir desta idéia de não padronização das respostas chegou-se aos resultados acima, onde a preferência é pela “aula prática” (66%), definida pelos alunos como sendo aquela onde o professor os leva a terem contato com atividades práticas - visitas a empresas, estudos de casos, análise de situações, simulações, etc. Também se destacaram a busca de integração entre os conhecimentos do professor e dos alunos (33%), e as chamadas “aulas mistas” (33%) que, para esses alunos, seriam aulas expositivas seguidas de atividades de pequenas pesquisas em grupo ou individual. Obtiveram também uma boa representatividade a opção de discussões e debates (29%), aula expositiva (25%) e pesquisa discente (16%). Assim como no item anterior os resultados das pesquisas de Godoy (1997) são corroborados pelos alunos da universidade em estudo. A preferência pelo uso combinado de 11 técnicas, principalmente aula expositiva e pesquisas, a exigência de leitura obrigatória, o uso de exemplos e as discussões e debates estão presentes entre as preferências dos alunos em ambas pesquisas. Esses resultados, mais uma vez, comprovam a opção dos alunos pela teoria da Escola Nova, pelo aprender fazendo, pelo pragmatismo. A função técnica do curso também pode ser responsável por essa exigência de “prática”, inclusive suas raízes, visto que o curso foi implantado no país na vigência do tecnicismo, crescendo dentro dessa realidade de formação de técnicos, de profissionais que dominassem as ferramentas, não se atendo à criação de uma Ciência Administrativa, usufruindo os conceitos, técnicas e conhecimento vindos dos Estados Unidos e da Europa (RODRIGUES; CARRIERI, 2000; SERVA, 1990) Algumas respostas, ainda que isoladas, chamaram a atenção, e não devem ser desprezadas, pois ao se trabalhar com questões abertas muitos entrevistados se restringem a poucos comentários enquanto outros expressam com maior objetividade suas idéias, muitas vezes compartilhadas por outros que as omitiram, conforme o próprio contato da pesquisadora com os entrevistados, durante a aplicação do questionário, pôde revelar. Um desses casos é o de um aluno que indica que o professor: deve enfatizar a leitura obrigatória, senão o aluno não estuda. Geralmente os trabalhos são sempre os mesmos: escolhe uma determinada empresa e vê como ela trabalha. Um trabalho pode ser apresentado mais umas 2 vezes, os professores são diferentes! Não apenas nessa passagem, mas em outras encontradas nos questionários, pode-se perceber que os alunos desejam ser “cobrados”, que precisariam de uma motivação extrínseca para se dedicar realmente aos estudos. Além desse elemento importante, que também pode ser ainda um resquício do Ensino Médio (ensino passivo), encontra-se a afirmação de que os professores exigem sempre os mesmos trabalhos, o que, também, influencia negativamente na motivação dos alunos, incorrendo sem a devida orientação e motivação a reaproveitar trabalhos anteriores, perdendo excelentes oportunidades de aprendizagem. Um dos alunos referiu-se ao fato do professor não ter metodologia e didática pra repassar os seus conhecimentos, neste caso prevalecendo a visão da Escola Tradicional com o “repassar”, “transmitir” seus conhecimentos, essa mistura entre Escola Tradicional e Escola Nova (ARANHA, 2000) será vista também nos tópicos seguintes. Foram citados isoladamente, mas esta também parece ser uma opinião comum a muitos alunos, a utilização de novos recursos audiovisuais, principalmente datashow, pois segundo eles isso desperta a atenção dos alunos. Houve uma referência quanto à necessidade de utilização de estratégias diversificadas no decorrer da disciplina para evitar a monotonia. Através desses relatos pode-se notar o que diversos autores já argumentaram, a necessidade de adequação do conteúdo a estratégias diferenciadas, que além de evitar monotonia ainda permitem que os alunos descubram o melhor meio para a sua aprendizagem, possibilitando que aproveitem, ao máximo, cada oportunidade de aprendizagem e oferecendo oportunidades tanto aos alunos que preferem aula expositiva quanto aqueles que preferem um ensino mais ativo. O terceiro item analisado diz respeito às estratégias de avaliação de aprendizagem. As respostas foram as seguintes: Tabela 3 – Quanto às estratégias de avaliação ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO Seminários Pesquisas em sala de aula Prova abordando os principais conceitos dentro de estudos de caso Pequenos trabalhos para cada tema estudado (relatos de experiências e casos) Prova objetiva Participação dos alunos f 70 50 40 25 20 10 % 58,33 41,67 33,33 20,83 16,67 8,33 12 Neste tópico se destacou, na visão dos alunos, a avaliação através de seminários (58%), seguido da aplicação de trabalhos e pesquisas em sala de aula (41%), a utilização de provas utilizando como referencia os estudos de casos (33%) e a avaliação através de pequenos trabalhos (papers, relatos de casos, estudos e análise de casos) (21%), 16% disseram preferir provas objetivas e apenas 8% demonstraram interesse pela utilização da participação do aluno como estratégia de avaliação. Comparando mais uma vez os resultados dessa pesquisa com os estudos de Godoy (1997) e Godoy et al. (2001) percebe-se a congruência entre os dados, onde a preferência é pela avaliação através de trabalhos, principalmente com o uso combinado de provas, apesar de neste estudo prevalecer a preferência por seminários. Dentre as respostas que se destacaram encontra-se a opinião de um aluno que sugere a apresentação de um único trabalho, mas de alto grau de complexidade, como uma monografia, assim o aluno aprende a desenvolver o seu próprio conhecimento. Outro aluno diz que a avaliação em minha concepção deveria ser diária, onde o aluno seria avaliado constantemente pelo seu desempenho dentro da sala de aula e não apenas em uma ‘simples prova’, favorecendo a participação e incentivando o espírito empreendedor. Houve, ainda, um outro depoimento afirmando que o professor deveria dar ênfase nos trabalhos em grupo na sala de aula e pesquisas, pois além do aluno estar adquirindo conhecimento, ele pode transmiti-lo aos demais. Por fim, um discente explicita que a avaliação deveria ser dividida em partes. A primeira seria a participação do aluno, por exemplo a cada tema estudado os discentes devem trazer um trabalho sobre alguma experiência relacionada. A segunda poderia ser uma prova que testasse os conceitos principais da disciplina, prioritariamente em forma de estudos de caso. Alguns aspectos importantes devem ser ressaltados aqui, o primeiro deles é que os alunos vêem o seminário como um método de avaliação e não de ensino. Outro dado importante é a preferência por trabalhos e pesquisas realizados em sala de aula. Em algumas das respostas, a justificativa para esses trabalhos seria o fato dos alunos trabalharem ou realizarem estágio no período oposto à sua atividade estudantil (principalmente entre os alunos do turno noturno). Deve se ressaltar também o pequeno número de alunos que se referenciaram a provas objetivas, prevalecendo entre eles a opção de prova dissertativa baseada em estudos de caso, indo assim ao encontro das estratégias preferidas, no que concerne ao ensino. Apesar de apenas 8% dos alunos terem citado a participação dos alunos como estratégia preferida de avaliação deve-se ressaltar que ela sempre foi citada em conjunto com outras estratégias, principalmente os trabalhos em sala de aula. Nas respostas que receberam destaque pode-se perceber a sintonia desses alunos com as novas estratégias de avaliação e de ensino-aprendizagem. A visão de que diversas estratégias de avaliação combinadas seriam mais eficientes e que o trabalho em grupo permite que o aluno adquira o conhecimento e o transmita aos colegas, ou seja, a utilização de outras estratégias de aprendizagem (meta-cognitivas), comprovam uma tendência renovadora e moderna para o Ensino Superior. Outra ressalva importante é que, aparentemente, para esses alunos tudo o que é avaliado (relatórios, estudos de caso, seminários, pesquisas) constituem-se em estratégias de avaliação e não de ensino. A declaração de um aluno quanto à atividade de pesquisa demonstra que muitos alunos já perceberam a sua importância como estratégia de aprendizagem, mesmo que ela ainda não seja muito explorada no curso de graduação, em especial de Administração, mas 13 ainda assim foi citada como uma estratégia de avaliação, visto que a ela é atribuída uma nota. Quanto ao relacionamento entre professor e aluno, fator sempre importante para a motivação e envolvimento da turma no processo de ensino-aprendizagem, foi destacada a busca de respeito mútuo (41%), seguido da amizade (25%) e a participação de ambos nas discussões e nas atividades de sala e extra-sala (25%), conforme mostra a tabela abaixo: Tabela 4 – Quanto às principais características do relacionamento interpessoal RELACIONAMENTO INTERPESSOAL Busca de respeito mútuo Participativo Amizade Ajuda mútua Flexibilidade Orientador f 50 30 30 15 15 10 % 41,67 25,00 25,00 12,50 12,50 8,33 O que se verifica é a preocupação dos alunos com o respeito, visto que no Ensino Superior muitos professores ainda apresentam uma postura autoritária, não aceitando a opinião e vivência de seus alunos. Destacou-se também a participação dos professores em sala de aula e fora dela, desenvolvendo relacionamentos amigáveis e informais com os alunos, garantindo assim a boa convivência e facilitando a troca de experiências. Essa constatação também vai ao encontro dos achados da pesquisa de Godoy (1997) e Godoy et al (2001), onde os alunos preferem professores que criam um clima de diálogo, de caráter informal e pessoal, favorecendo um ambiente sócio-emocional agradável a todos, contribuindo para o bom desenvolvimento das atividades de ensino. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme dito anteriormente, esta pesquisa buscou identificar quais são as estratégias de ensino-aprendizagem – vistas como apresentação da disciplina e do professor, estratégias de ensino-aprendizagem, estratégias de avaliação e relacionamento interpessoal – consideradas de maior eficácia pelos alunos de Administração, utilizando para isso o Estudo do Caso. Para atingir tal objetivo estabeleceu-se uma série de objetivos intermediários, que compreendiam a revisão bibliográfica e a pesquisa de campo. A revisão da literatura teve por objetivo contribuir para a compreensão dos itens a serem analisados, desenvolvendo uma visão geral sobre os aspectos mais importantes envolvidos na relação entre professor e aluno e seu processo de ensino-aprendizagem. Inicialmente buscou-se identificar os componentes do processo de ensino aprendizagem, as estratégias de ensino-aprendizagem, seguida de uma breve exposição das estratégias de avaliação e seus instrumentos principais. Para finalizar o referencial teórico foi elaborada uma revisão sobre os principais temas que estão sendo foco de pesquisas dentro da Administração e que possuem uma relação direta com o processo educativo e de formação profissional. Finalmente, na busca de responder a indagação inicial, se recorreu à pesquisa empírica que obteve resultados muito próximos a outras pesquisas já realizadas no país que buscavam entender justamente o ambiente de ensino. O presente estudo constatou a preferência dos alunos pelos métodos ativos de ensinoaprendizagem, comprovando a visão moderna de educação, onde o aluno é o responsável principal pelo seu aprendizado e cabendo, ao professor, guiá-lo nesse processo. Os alunos pesquisados mostraram que a visão pragmatista e existencialista são as 14 preponderantes, o que levou a identificar grande semelhança com a Escola Nova (ARANHA, 2000), principalmente ao indicarem tanto nas estratégias de ensino-aprendizagem, quanto nas de avaliação a preocupação com o “aprender fazendo”, o que no caso de um curso de graduação em Administração, se daria através de estudos de caso e simulações. Foi, também, percebida a influência dessa corrente filosófica quando os alunos indicaram a preferência por professores que explicam onde o conteúdo de sua disciplina poderá ser aplicado, que contextualizam a sua disciplina dentro do curso e explicam antecipadamente o que irá ser trabalhado, permitindo que os alunos criem uma visão geral do curso e de sua utilidade prática, que não pode ser negada, haja vista que se trata de um curso profissional e técnico. Houve um grande número de referências ao método expositivo para a condução das aulas, o que se deve à própria cultura educacional brasileira na qual esses alunos, hoje formandos nas instituições de Ensino Superior do país, conviveram no decorrer dos Ensinos Fundamental e Médio, nos quais ainda prevalece o ensino passivo, baseado em aulas expositivas, deixando pouco espaço para discussões e iniciativas dos alunos. Deve-se ressaltar que os alunos indicaram, em uma grande proporção, a preferência pela combinação de métodos, citando sempre mais de uma técnica com sendo ideal. Outro dado importante constado pela pesquisa, e que pode ainda ser influência dos níveis anteriores de ensino, é o de que se a atividade é avaliada é estratégia de avaliação e não estratégia de ensino-aprendizagem, como ocorreu prioritariamente com os seminários, que são freqüentemente alvo de avaliação dos docentes. Esse dado evidencia que, assim como acontece com a maioria dos professores, os alunos também consideram a avaliação como um momento estanque, e não como parte integrante do processo de ensino-aprendizagem. Neste caso, se recomendaria aos professores, que deixassem claro que os seminários consistem em atividade de ensino-aprendizagem, através do uso de um método ativo, de forma a valorizar essa técnica, motivando os alunos a pesquisarem e questionarem seus colegas no momento da apresentação, e o que deve ser alvo de avaliação é a produção resultante do seminário. Foi particularmente importante a presença das referências à pesquisa, tanto nas estratégias de ensino-aprendizagem quanto nas de avaliação, uma vez que esse é um dos princípios do Ensino Superior, pois é através desse método que o aluno pode aprender a aprender, criando um senso crítico e participando ativamente do seu processo de aprendizagem. Esse item merece um destaque ainda maior, pois não é comum a realização de atividades de pesquisa extra-curricular (projetos) dentro do Departamento estudado, bem como dentro da própria área de ciências organizacionais, fato que é, inclusive, muito criticado na literatura, pois tem impedido a formação de uma teoria organizacional brasileira, forçando os alunos a construir seus conhecimentos sobre as teorias americanas e européias. No que tange ao relacionamento interpessoal, o destaque é para a busca de respeito mútuo, uma preocupação que fica evidente também quando os alunos se reportaram à necessidade de integração das experiências da turma com o professor, visto que muitos professores do Ensino Superior ainda possuem uma postura autoritária diante dos seus alunos, considerando-se os “donos da verdade”, não respeitando a individualidade e as experiências que estes alunos estão vivenciando na prática. Os discentes revelaram a preferência por professores que desenvolvam um relacionamento amigável também fora das salas de aula, ajudando os alunos, mantendo relações informais e sendo flexíveis quando necessário. Deve-se lembrar que tudo o que foi apresentado nessa pesquisa é o que os alunos consideram como sendo o mais eficiente, não que isso realmente ocorra no seu dia-a-dia. O que se percebeu ao tabular os dados é justamente o contrário: isso parece uma utopia para 15 muitos alunos, mostrando que apenas atitudes isoladas são constatadas, e o que os professores, em sua maioria, estão longe de serem aquilo que os alunos desejam. Para isso seria necessário que os docentes tivessem uma maior sensibilidade, compreendessem profundamente quais as inquietudes e necessidades dos seus alunos, se mostrassem motivados e apaixonados pelo exercício da docência e, principalmente, qualificados para isso. Como já citado anteriormente são raros os cursos de pós-graduação (lato e strictu sensu) que possuem disciplinas de Metodologia e Didática, e aqueles que a têm não possuem carga horária suficiente para fornecer os subsídios necessários à docência. Conforme evidencia Vasconcelos (1996), seria necessário que todo professor tivesse conhecimentos de Filosofia da Educação, Psicologia da Educação, Metodologia, Avaliação, etc. para que dessa forma exercessem sua profissão com uma formação pedagógica adequada, suprindo as necessidades e anseios de seus alunos, compreendendo suas dificuldades e utilizando adequadamente os recursos didáticos. Esse panorama não é exclusividade dos cursos de Administração, Vasconcelos (1996) mostra que a docência tem sido colocada em segundo plano por quase todos os professores do Ensino Superior que também atuam como profissionais liberais, revelando “pouca motivação por parte desses professores quanto ao desejo de maior tempo para a realização de estudos regulares, voltados para a docência.” (VASCONCELOS, 1996, p.38). Apesar disso, a presença de profissionais que atuam no mercado como administradores é imprescindível para a formação profissional efetiva dos graduandos. Contudo, se requer certo cuidado, pois a supervalorização do conhecimento prático, em detrimento do conhecimento teórico pode transformar a Universidade em um grande centro de treinamento, que não prepara o profissional dela egresso nem para o geral nem para o específico, perdendo em qualidade até mesmo para os centros de treinamento de muitas empresas (VASCONCELOS, 1996). Luckesi (1994, p.116) faz uma colocação importantíssima para todos aqueles que se lançam na carreira docente: “ensinar não significa, simplesmente, ir para uma sala de aula onde se faz presente uma turma de alunos e ‘despejar’ sobre ela uma quantidade de conteúdos. Ensinar é uma forma técnica de possibilitar aos alunos a apropriação da cultura elaborada da melhor e mais eficaz forma possível”. É por isso que, tão importante quanto dominar conteúdos, é dominar técnicas de ensino-aprendizagem e, fundamentalmente, conhecer o aluno, pois é ele o verdadeiro responsável pelo seu aprendizado, ninguém poderá fazer isso por ele e, sem o auxílio do professor, atuando como um orientador, a sua tarefa fica a cada dia mais árdua. Acreditando que esse tema não está esgotado, sugere-se a realização de novas pesquisas que busquem identificar como essas estratégias estão sendo realmente utilizadas pelos docentes, qual é a visão destes quanto à utilização de outras estratégias de ensinoaprendizagem. Recomenda-se, ainda, o estudo das estratégias de aprendizagem utilizadas pelos alunos (cognitivas, meta-cognitivas e administração de recursos), bem como a exploração das motivações desses alunos e suas expectativas ao cursar o Ensino Superior. REFERÊNCIAS ABREU, Maria C.; MASETTO, Marcos T. O professor universitário em aula: prática e princípios teóricos. 3.ed. São Paulo: MG Ed. Associados, 1983. ARANHA, M. L. Filosofia da educação. São Paulo:Moderna, 2000. BICUDO, Maria A. V. Fenomenologia: confrontos e avanços. São Paulo: Cortez, 2000. BORDENAVE, Juan D.; PEREIRA, Adair M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 10.ed. 16 Petrópolis: Vozes, 1988. DARTTIGUES, A. O que é fenomenologia?. 3.ed. São Paulo: Moraes, 1992. GODOY, Arilda. S. . Ambiente de ensino preferido por alunos do terceiro grau. Um estudo comparativo. 1989. 228 f. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989. ________. 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