1 AGRESSIVIDADE INFANTIL NO ÂMBITO ESCOLAR E SUAS RELAÇÕES COM AS EXPERIÊNCIAS EM FAMÍLIA Denise de Paula de Oliveira Centro Universitário de Itajubá- FEPI/Iniciação Científica (FAPEMIG) Linha Temática: Trabalho, Saúde e Desenvolvimento. RESUMO Através de um estudo bibliográfico a presente pesquisa busca verificar as relações existentes entre experiências de agressividade no âmbito familiar e manifestações de comportamentos agressivos e violentos de crianças no ambiente escolar. Como recurso metodológico, o trabalho visa identificar na literatura psicológica e educacional publicada a partir de 2009 em artigos científicos da Biblioteca latino americana de pesquisas na área de saúde, disponíveis virtualmente no site: bvs-psi.org.br, estudos que apontem tal relação. O comportamento agressivo por parte da criança na escola, associado à ausência de habilidades sociais e à deficiência na regulação da emoção tende a ser uma reprodução do mesmo tipo de interação que a criança tem com os pais, o que normalmente é visto como um problema adaptativo. Os resultados obtidos corroboram para a confirmação de que há correlação entre exposição à violência intrafamiliar e práticas agressivas e violentas dos filhos no ambiente escolar. Espera-se, que reflexões a esse respeito sejam realizadas tanto pelos pais em relação aos modelos transmitidos aos seus filhos, como pelos professores na busca por um melhor planejamento de como trabalhar as questões interpessoais positivas em sala de aula, elaborando estratégias que maximizem condutas pró-sociais e minimizem os comportamentos antissociais, como a agressividade e violência, a fim de evitarem que conflitos desta natureza causem danos em longo prazo na vida dos envolvidos. Palavras-chave: Agressividade; Família; Escola. ABSTRACT By means of a bibliographical study, this research seeks to verify the existing relations between experiences of aggressiveness within family environment and manifestations of aggressive and violent behaviors of children at school. As a methodological resource, this work aims to identify studies that suggest such relationship in psychological and educational literature published from 2009 in scientific articles of the Latin American Research Library in the area of health, available online on the site: bvs-psi.org.br. Aggressive behavior of children at school, associated with the absence of social skills and disabilities in regulating emotion, tends to be a reproduction of the same type of interaction that children have with their parents, which is typically seen as an adaptation problem. The results of this research corroborate that there is correlation between exposure to domestic violence and aggressive and violent practices of children in the school environment. Careful thoughts in this regard must be carried out both by parents, in relation to the models transmitted to their children, as by teachers in the quest for a better planning of positive interpersonal relations in the classroom. This way it is possible to develop strategies that maximize pro-social conduct and minimize antisocial behaviors as aggression and violence, in order to prevent that such conflicts cause long-term damage in the lives of those involved. Keywords: Aggression; Family; School. INTRODUÇÃO As manifestações da agressividade infantil têm se tornado um assunto de grande interesse para a Psicologia, conquistando espaço nos estudos científicos em todo o mundo. Este interesse se dá principalmente diante das emissões de comportamentos agressivos entre alunos 2 nas escolas, pois estes têm preocupado cada vez mais a sociedade, justamente, pela amplitude que tem alcançado (SOUSA, s/d). Várias são as discussões sobre os motivos que levam as crianças a apresentarem tais comportamentos. Mesmo que não haja dúvidas de que a agressividade está relacionada a componentes biológicos, hoje estudos mostram também a influência de variáveis sociais nestes comportamentos. Os contextos de desenvolvimento, especialmente a família e a escola, são, atualmente, fundamentais para a compreensão da agressão humana, pois, por um lado, permitem que se abandone o paradigma ‘instintual’ e que se adotem perspectivas mais sociais diante do problema (BARBOSA et al 2011). Os autores Patias, Siqueira e Dias (2012), relatam que a base necessária para a socialização de uma criança é de responsabilidade dos pais, pois estes devem proporcionar aos filhos um ambiente incentivador e seguro no qual possam se desenvolver. Os autores afirmam ainda, que a família possui a função de ser fonte de segurança, afeto, proteção e bem-estar, mas isso nem sempre ocorre. Este estudo tem por interesse buscar um olhar mais profundo sobre os repertórios comportamentais, em especial, aos relacionados à manifestação de comportamentos agressivos de crianças, com o intuito de verificar se comportamentos agressivos na relação intrafamiliar interferem diretamente na postura do aluno em relação aos seus colegas, professores e principalmente em seu modo de lidar com suas frustrações fazendo-o com que apresente comportamentos agressivos tais quais vivencia no meio familiar. 1. COMPORTAMENTO E INTERAÇÃO SOCIAL Skinner (1998) afirma que o comportamento é uma característica primordial dos seres vivos, sendo praticamente identificado como a própria vida, já que qualquer coisa que se mova é tida como viva, principalmente quando esse movimento altera o ambiente. O comportamento é entendido como todo movimento produzido a partir da interação entre o indivíduo e o ambiente, em que o agente externo é chamado de estímulo e o comportamento controlado por tal estímulo é denominado resposta, sendo que a interação entre estímulo e resposta é compreendida como um reflexo (comportamento respondente) ou como um condicionamento social (comportamento operante) (SKINNER, 1998). Os comportamentos operantes são aprendidos e modificam o ambiente e tais modificações causam alterações nas ações subsequentes. São operantes porque são resultados da interação do sujeito com a realidade que o circunda e são mantidos e costumeiramente repetidos por promoverem adaptação dos sujeitos ao meio e por estarem associados a consequências positivas. Diferentes sistemas de interação entre o organismo e o ambiente dão origem ao processo de socialização. As interações sociais influenciam diretamente nas características de cada indivíduo bem como em seus comportamentos, de maneira que as famílias, a escola, bem como os amigos mais próximos, representam os contextos básicos da interação organismo-ambiente que são caracterizados por relações interpessoais estáveis e significativas (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2011). O desenvolvimento do repertório comportamental permite a inserção do indivíduo em um grupo e atuar neste como construtor de uma cultura. Skinner, apud Massimi (2006), afirma que a cultura é formada por variáveis que são dispostas por outras pessoas e que afetam o indivíduo. Diz ainda que a cultura envolve os procedimentos do grupo que geram o comportamento ético e a extensão de tais procedimentos aos seus usos e costumes. 3 1.1. Habilidades sociais e competência social Habilidades sociais e competência social são conceitos de extrema importância para compreensão de estudos sobre comportamento humano, principalmente os que envolvem o processo de socialização. O conceito de habilidades sociais pode ser definido como o conjunto de desempenhos, isto é, habilidades comportamentais, apresentadas pelo indivíduo diante de situações interpessoais. Tais habilidades são aprendidas, sendo que no processo de sua aprendizagem, variáveis culturais são consideradas (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2011). Já o conceito de competência social se refere ao desempenho do indivíduo na emissão de determinado comportamento. É definido como a capacidade do indivíduo, que pode ser auto avaliada ou não, de apresentar um desempenho que atinja os objetivos de uma situação interpessoal. Tal avaliação busca identificar se o comportamento emitido apresenta um bom desempenho ou se há déficits comportamentais, que abrangem tanto a ausência de um comportamento específico no repertório comportamental do indivíduo, quanto os comportamentos que são emitidos, mas não atingem o objetivo esperado, isto é, não atinge certos índices de competência (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2011). Na infância, entende-se que grande parte da aprendizagem de comportamentos sociais acontece de maneira vicária, isto é, os filhos observam os comportamentos sociais emitidos pelos pais e passam a imitá-los. Os pais também modelam os comportamentos de seus filhos na medida em que reagem de forma diferenciada diante de cada manifestação de habilidades apresentadas por eles, além de lhes fornecerem instruções específicas para determinados comportamentos. É importante enfatizar que os pais se organizam como um sistema de regras, punindo ou recompensando o desvio ou a adequação de seus filhos aos seus padrões (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2011). 1.2. Agressividade: definições e conceitos explicativos A agressividade e suas manifestações, sejam estas de forma individual ou coletiva por crianças ou por adultos nas escolas ou em qualquer outro meio de convívio, sempre estiveram presentes na vida das pessoas. No entanto, cada época e cultura possuem formas mais específicas de evidenciar tais atitudes agressivas e violentas, com maiores ou menores consequências dependendo das causas e motivos que as desencadeiam. Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999), afirmam que os instintos agressivos existem e são saudáveis à vida, isto é, ao desenvolvimento do ser humano, pois é através da agressividade, que o indivíduo consegue se adaptar ao meio em que vive, equilibrando seu estado psíquico diante das frustrações da vida. Porém, existem duas formas de comportamento agressivo, sendo a benigna aquela que garante a sobrevivência da espécie e a maligna a que consiste na tortura e na violência inútil. O indivíduo só deve recorrer à agressão, quando não houver outros meios de satisfazer suas necessidades, ou quando os ganhos forem consideráveis. Segundo a Psicologia Social, a agressividade é entendida como qualquer comportamento de um indivíduo que tenha a intenção de causar algum dano em outro organismo ou objeto, seja esse dano, físico ou psicológico. É importante enfatizar que em tais definições, há intencionalidade da ação por parte do agressor, isto é, é caracterizado como agressivo o ato que se propõe a infligir um dano a alguém (RODRIGUES, ASSMAR e JABLONSKI, 1999). Para os psicólogos sociais, a agressão é identificada de diferentes maneiras, sendo elas, hostis, instrumentais, simbólicas e sancionadas. A hostil deriva de estados emocionais fortes que tem por objetivo básico causar danos a uma pessoa ou objeto para satisfazer impulsos hostis. A agressão instrumental é o comportamento que tem por objetivo prejudicar, ferir ou magoar alguém, mas é praticada como instrumento para atingir outro objetivo. Já a simbólica é 4 definida pelos autores Faleiros e Faleiros (2008), como o exercício de propagar uma superioridade fundada em mitos, imagens, mídia e construções sociais que discriminam, humilham e excluem. Por fim, a agressão sancionada é vista pela sociedade como aceitável ou mesmo imperiosa, são atos agressivos que são vistos como altruísticos (RODRIGUES, ASSMAR e JABLONSKI, 1999). No entanto, não é correto afirmar que a agressividade é algo prejudicial ao homem. O que se nota, porém, é que em uma época em que a humanidade já é capaz de considerar-se imune ou protegida de muitas das ameaças que traziam insegurança aos seus ancestrais, o uso da violência traz de volta certa barbárie, que demonstra não só uma carência de respeito à ética, mas também um déficit no desenvolvimento de empatia, componente básico das habilidades sociais humanas. 1.3. Agressividade sob a ótica da teoria social cognitiva Com base na Teoria Social Cognitiva, uma área dos estudos da Psicologia, que visa compreender o comportamento, criado pelo psicólogo Albert Bandura, pode-se melhor compreender os processos de aprendizagem de novos comportamentos dentro de uma perspectiva social. Defende-se, a partir deste olhar, que as pessoas, em suas transações com o ambiente, não reagem simplesmente aos estímulos externos, mas a maioria das influências externas, também, afeta o comportamento por meio de processos cognitivos. Acredita-se que os fatores cognitivos determinam, parcialmente, quais eventos serão observados, como serão percebidos, se terão um efeito duradouro, qual a sua valência e eficácia e como as informações recebidas serão organizadas para o uso futuro (AZZI, BANDURA e POLYDORO, 2008). A aprendizagem de comportamentos agressivos pode ocorrer por meio do reforço recebido pelo sujeito ao emitir tais comportamentos. Esta forma de aprendizagem ocorre, por exemplo, quando uma criança entra em uma loja e faz birra para ganhar um brinquedo e a mãe atende o desejo do filho, reforçando-o positivamente, o que indica que provavelmente esta criança assim se comportará toda vez que vivenciar uma situação parecida, pois esta certamente percebeu que toda vez que emitir tal comportamento (birra) será atendida. Também pode ocorrer a aprendizagem diante da observação de comportamentos agressivos emitidos por modelos. O observador é capaz de perceber os reforços recebidos pelo emissor do comportamento agressivo na situação observada e a eficiência em conseguir respostas desejáveis. Este outro modo de aprendizagem ocorre, por exemplo, quando a criança, ao observar sua mãe agredindo o irmão ao solicitar que este a obedeça e o mesmo diante da situação assim o faz, logo percebe que o desejo da mãe foi atendido quando esta usou de violência para conseguir o que queria e tendo em vista que o comportamento da mãe foi reforçado positivamente, isto é, conseguiu o desejado por meio da violência, provavelmente este filho também agirá de modo violento com o intuito de conseguir o que deseja. Contudo, através da reprodução de comportamentos agressivos, pode-se identificar o exercício de pensamento antecipatório, quando o sujeito, ao vivenciar determinada situação ou ao desejar algo, prevê (relacionando o que se deseja com as atitudes de modelos anteriormente observados, ou com os próprios comportamentos anteriormente emitidos que trouxeram respostas desejadas) quais comportamentos devem ser emitidos. Deste modo é possível perceber que o comportamento agressivo é emitido, na maioria das vezes, quando o repertório de convívio do indivíduo também é agressivo. A modelação é outro conceito muito conhecido, já citado anteriormente, e indispensável para a compreensão do presente estudo. Azzi, Bandura e Polydoro (2008) chamaram de modelação, o processo de aquisição de novos comportamentos a partir de modelos, em que as 5 pessoas imitam comportamentos ou atitudes similares aos exibidos por modelos reais, isto é, vivos, ou simbólicos que podem ser modelos apresentados oralmente, por escrito, ou por outras vias audiovisuais. A teoria social cognitiva afirma que as principais fontes de estilos de comportamento agressivo na sociedade moderna são a agressão modelada e reforçada pela família, pela subcultura na qual vive o sujeito e os modelos simbólicos abundantes fornecidos pelos meios de comunicação (AZZI, BANDURA e POLYDORO, 2008). 1.4. Agressividade na família e nas relações interpessoais Joly, Dias e Marini (2009) afirmam que os comportamentos dos pais agem como modelos de influência no desenvolvimento de habilidades sociais dos filhos. Neste caso, se a agressividade for recorrente entre estes ou com a própria criança, o uso de recursos verbais ou físicos violentos, bem como a rejeição, a negligência, a disciplina muito rígida e a crueldade, podem ser compreendidos como recursos apropriados e poderosos a serem utilizados no repertório comportamental do indivíduo, principalmente na escola. Coll, Marchese, Palacios e colaboradores (2004) afirmam, a partir do trabalho de Peterson, DeBarushe e Ramsey de 1989, que nos lares de crianças agressivas é muito comum a visualização de ciclos coercitivos em que os pais tentam controlar as condutas incômodas dos filhos usando métodos que acabam aumentando a agressividade destes e dos próprios pais, os levando a castigarem seus filhos fisicamente. Afirmam ainda que os filhos podem aprender que a conduta agressiva ou incômoda é a única maneira de conseguir a atenção dos mais velhos. Azzi, Bandura, Polydoro (2008) e Azevedo (1997), ao relacionar a teoria social cognitiva aos modelos familiares por sua vez postulam que a exposição do sujeito a um modelo pode causar três diferentes efeitos, sendo eles: aprendizagem observacional, onde o observador demonstra um novo comportamento, que antes, mesmo quando motivado, tinha zero de probabilidade de ocorrência; inibição ou desinibição de um comportamento anteriormente aprendido, onde a observação de um modelo fortalece ou enfraquece inibições que impendiam o desempenho do comportamento anteriormente aprendido; e desempenho de respostas similares às respostas do modelo, neste caso o modelo funciona como pistas para desempenho de novos comportamentos. Afirmam, também, a existência de quatro subprocessos inter-relacionados no processo de aprendizagem por imitação de modelos sendo eles: atenção, retenção ou lembrança do comportamento, reprodução motora, e por último, reforço e motivação. Uma pessoa não consegue aprender muito pela observação se ela não está atenta ou não identifica as características do modelo, o que reforça a importância da atenção no processo de aprendizagem. Se a pessoa não se recorda do comportamento apresentado pelo modelo, ela será muito pouco influenciada por ele, o que torna necessário a lembrança do comportamento. Também, se o indivíduo não possui ou não desenvolveu ainda habilidades de controle motor, não lhe será possível reproduzir determinados comportamentos que exijam certas habilidades motoras. 1.5. Escola: lócus da violência? No ambiente escolar, diariamente, ocorrem várias manifestações agressivas entre crianças e adolescentes. Emissões de comportamentos desajustados como agressões verbais e físicas de toda ordem são expressas pelos alunos. Tal agressividade gera indisciplina e principalmente prejuízos no processo de aprendizagem e o professor por mais que tente ser um facilitador para que os alunos deixem de praticar tais atitudes, na maioria das vezes se sente 6 despreparado frente determinadas situações, principalmente em estabelecer limites, por não saber quando deve intervir (GAGLIOTTO, BERTÉ e VALE, 2012). No que diz respeito à tipologia da violência, dentre as diversas classificações conceituais existentes na literatura, cabe aqui, usar três níveis de classificação que também são praticadas no âmbito escolar, sendo a primeira, violência propriamente dita, que são os atos como golpes, ferimentos, violência sexual, roubo, vandalismo, ou seja, os modos mais comuns de serem reconhecidos. A segunda, denominada incivilidades, é caracterizada pelas humilhações e desrespeito, e por último, a violência simbólica, que são aquelas que nem sempre são reconhecidas pelos os que a praticam como manifestação de violência, podendo ser exemplificada pelo abuso de poder, onde o professor em meio a tanto estresse, muitas vezes desrespeita e agride o aluno ou alunos mais populares e fortes, impondo seus desejos obrigando estes a obedecê-lo (SILVA e RISTUM, 2010). Segundo as autoras Dahlberg e Krug (2006), a violência foi divida, pela Organização Mundial da Saúde, em três amplas categorias sendo elas autodirigida, interpessoal e violência coletiva. Cabe aqui clarificar as duas primeiras, pelo fato destas também estarem presentes no meio escolar. A violência nomeada autodirigida, é aquela que o indivíduo pratica contra si mesmo, sendo esta subdividida em comportamento suicida e auto infligida, pode ser exemplificada por comportamentos de automutilação e ocorrências de suicídio, provocados por alunos vítimas de bullying. Já a violência interpessoal é a agressão praticada por outro indivíduo ou por um pequeno grupo de indivíduos. Subdivide-se em violência de família e parceiro íntimo, e violência na comunidade (DAHLBERG e KRUG, 2006). Em relação à violência praticada contra pessoas, as autoras Abramovay e Rua (2003) afirmam que, na escola, a primeira modalidade de violência consiste em ameaças, que envolvem promessas explícitas de provocar danos ou de violar a integridade física ou moral e liberdade do outro. Verifica-se também, situações diversas de brigas, que são bastante frequentes nas escolas, que implicam em ataques verbais, bate boca, condutas brutais, que são inicialmente consideradas acontecimentos corriqueiros, mas que podem tomar enorme proporção. Depois, há ocorrências de violência sexual, que envolvem também o assédio sexual, incluindo diversas formas de intimidação como olhares, gestos, comentários obscenos, abusos como propostas, insinuações e contatos físicos. Por último, relata-se o uso de armas utilizadas com fins de ameaça ou de dano físico. Contudo, o crescimento das condutas violentas no ambiente escolar, dentre elas, as ameaças a professores e alunos, ocupação do espaço pelo crime organizado, lutas entre grupos rivais de jovens, depredação, desrespeito à autoridade de gestores e docentes, sugere-se o questionamento a respeito da escola, se esta ainda está assumindo o seu papel e principalmente se a sociedade, incluindo os alunos, ainda consegue enxergar, de forma clara, qual é o objetivo do ensino, isto é, o papel da escola e sua importância na vida de todo cidadão. Percebe-se, portanto, a importância da prevenção de condutas violentas no meio escolar, para que a escola possa atingir seu objetivo, contribuindo na construção de uma sociedade mais digna, com integrantes capazes de exercer a cidadania, além de ser um ambiente seguro para aqueles que já sofrem com as ameaças da violência no ambiente em que vivem. 2. METODOLOGIA A presente pesquisa se trata de um estudo bibliográfico realizado no período de Maio de 2013 à Abril de 2014, financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Foi realizada, por meio de uma busca eletrônica, a seleção de artigos 7 indexados na base de dados BVS-Psi (BVS Psicologia ULAPSI Brasil), publicados a partir do ano de 2009 onde foram utilizados os seguintes descritores: Habilidades sociais e crianças, violência na escola e agressividade na família, violência escolar e família, violência e agressividade na família, violência e agressividade familiar, violência e agressividade infantil e por fim, violência escolar. Tal busca foi realizada com o intuito de selecionar estudos que apontassem a correlação existente entre agressividade no âmbito familiar e comportamentos agressivos e violentos emitidos pelos filhos no ambiente escolar, bem como, estudos que indicassem a influência das práticas educativas parentais nos comportamentos emitidos pelos filhos na escola. Vale ressaltar que a violência na família, aqui referida, implica não somente às práticas educativas punitivas e coercitivas como também a exposição à violência praticada entre parceiros íntimos (pais) e violência doméstica, seja ela de forma direta ou indireta. 3. RESULTADOS Foram selecionados diante das buscas realizadas 19 artigos, sendo que 12 apontam a correlação existente entre agressividade e violência no âmbito familiar e atitudes agressivas e violentas emitidas pelos filhos no ambiente escolar, 2 apontam a exposição dos filhos a conflitos conjugais e relacionamentos insatisfatórios entre os pais como facilitadores para problemas comportamentais, incluindo a agressividade, em pré-escolares, 2 apontam a correlação existente entre maior envolvimento dos pais na vida e atividades dos filhos e comportamentos socialmente habilidosos, 1 aponta a interferência dos comportamentos dos pais nas habilidades sociais dos filhos e por fim, 2 apresentam caráter preventivo. AUTORES NOME DO ARTIGO Tortorelli, Mariana Fernandes Prado; Carreiro, Luiz Renato Rodrigues; Araújo, Marcos Vinícius de. Patias, Naiana Dapieve; Siqueira, Aline Cardosoe Dias, Ana Cristina Garcia. Durand, Julia Garcia; Schraiber, Lilia Blima; França-Junior, Ivan; Barros, Claudia. Pesce, Renata. Correlações entre a percepção da violência familiar e o relato de violência na escola entre alunos da cidade de São Paulo Joly, Maria Cristina Rodrigues Azevedo; Dias, Anelise da Silva; Marini, Janete Aparecida da Silva. Lourenço, Lélio Moura andSenra, Luciana Xavier Avaliação da agressividade na família e escola de ensino fundamental Marin, Angela Helena; Piccinini, Cesar Augusto; Gonçalves, Tonantzin Ribeiro; Tudge, Jonathan R. H.. Leme, Vanessa Barbosa Romera; Bolsoni-Silva, Alessandra Turini. BOLSONI-SILVA, Alessandra Turinie MARTURANO, Edna Bater não educa ninguém! práticas educativas parentais coercitivas e suas repercussões no contexto escolar Repercussão da exposição à violência por parceiro íntimo no comportamento dos filhos Violência familiar e comportamento agressivo e transgressor na infância: uma revisão da literatura A violência familiar como fator de risco para o bullying escolar: contexto e possibilidades de intervenção. Práticas educativas parentais, problemas de comportamento e competência social de crianças em idade pré-escolar Habilidades Sociais Educativas comportamentos de pré-escolares Parentais e Relacionamento conjugal, problemas de comportamento e habilidades sociais de pré-escolares. REVISTA / ANO Psicol. teor. prát; 2010 Educ. Pesqui. [online]. 2012, Rev. saúde pública abr. 2011 Ciênc. saúde coletiva mar.-abr. 2009. Psico USF;14(1):83-9 3, jan.-abr. 2009 Aletheia, Abr 2012 Estud. psicol. (Natal); Jan.-Apr. 2012 Estud. psicol. (Natal); maio-ago. 2010 Psic.: Teor. e Pesq.[online] 8 Maria Stephan, Francesca et al BOLSONI-SILVA, Alessandra Turini; PAIVA, Mariana Marzoque dee BARBOSA, Caroline Garpelli. BOAS, Ana Carolina Villares Barral Villase BOLSONI-SILVA, Alessandra Turini. BOLSONI-SILVA, Alessandra Turinie LOUREIRO, Sonia Regina. Bolsoni-Silva, Alessandra Turini; Borelli, Laura Moreira. Castro, Marta de Lima, Cunha, Sergio Souza da and Souza, Delma P Oliveira de Verissimo, Manuela; Fernandes, Carla; Santos, Antonio J; Peceguina, Inês; Vaughn, Brian E; Bost, Kelly K. CIA, Fabianae BARHAM, Elizabeth Joan. Velasquez, Rute; Souza, Sandra das Dores; Adjuto, Isadora; Muñoz, Lourdes Maria; Silveira, José Carlos Cavalheiro. LUIZZI, Lucianae ROSE, Tânia Maria Santana de Bullying e aspectos psicossociais: estudo bibliométrico. Problemas de comportamento de crianças/adolescentes e dificuldades de pais/cuidadores: um estudo de caracterização. Habilidades sociais educativas de mães separadas e sua relação com o comportamento de pré-escolares. 2010 Temas psicol., Jun 2013 Psicol. clin. [online]. 2009 A relação entre a qualidade da vinculação à mãe e o desenvolvimento da competência social em crianças de idade pré escolar Psico-USF (Impr.) [online]. 2010 Paidéia(Ribeirã o Preto) [online]. 2011 Estud. pesqui.psicol. 2012. Rev. 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Não foram encontrados artigos que negassem a influência das práticas educativas parentais nos comportamentos emitidos pelos filhos no meio escolar, bem como, a influência dos comportamentos dos pais na aprendizagem de habilidades sociais dos filhos. Os resultados analisados apontam as práticas educativas parentais agressivas e violentas como forte influência na aprendizagem de comportamentos antissociais e agressivos emitidos pelos filhos no ambiente escolar. Indicam também, as estratégias educativas coercitivas e punitivas, a exposição à violência praticada entre os parceiros intimos (pais), violência doméstica, bem como, a disciplina ineficiente, negligência, ausência de atenção e afeto, como fatores de risco ao desenvolvimento da criança e do adolescente, podendo desencadear comportamentos agressivos. Vale ressaltar que em dois estudos selecionados, apesar de também apresentarem correlação entre a violencia familiar e escolar, enfatisam a existência de múltiplos fatores que também estão relacionados a aprendizagem de comportamentos agressivos dos filhos dos quais a família representa, apesar de assumir uma posição de destaque, apenas um deles, sendo que fatores como características individuais da criança ou adolescente, contingências do ambiente escolar e os valores sociais, também são influentes para o comportamento agressivo na escola. Tais estudos apontam que pais habilidosos tem maior probabilidade em ensinar os filhos, por meio da imitação ou modelação, a serem mais habilidosos socialmente contribuindo para relações interpessoais mais saudáveis, principalmente na escola. 9 CONCLUSÃO Os resultados obtidos corroboram para a confirmação da hipótese de que há correlação entre exposição à violência intrafamiliar e práticas agressivas e violentas dos filhos no ambiente escolar. Tendo em vista as questões levantadas no presente estudo, no que diz respeito aos danos causados aos alunos pela violência vivenciada na escola, bem como as consequências das práticas de bullying, tornam-se necessários trabalhos interventivos que contribuam para que tais comportamentos sejam reduzidos, possibilitando um maior aprendizado por parte dos alunos dentro das salas de aulas e um ambiente propício para que os professores realizem seu trabalho de modo mais eficaz. Também, para que o ambiente escolar seja um lugar facilitador para bons relacionamentos interpessoais, bem como, aprendizagem de comportamentos sociais mais habilidosos, tendo em vista que na família, de acordo com os dados obtidos por meio desta pesquisa, tais comportamentos muitas vezes não são ensinados. Os autores Tortorelli, Carreiro e Araujo (2010), sugerem que a escola tem o principal papel de desenvolver juntamente com a função pedagógica, o bom desenvolvimento das relações interpessoais e que tal processo deve priorizar os valores que estimulem os comportamentos coletivos, o que pode contribuir para a diminuição de práticas violentas. Apontam também, a importância de investimentos, orientação e apoio aos professores por meio de aperfeiçoamento e práticas pedagógicas e relacionamento entre professores e alunos, para que juntos aos familiares busquem prevenir os conflitos e problemas relacionados à violência escolar. Já os autores Patias, Siqueira e Dias (2012) apontam a necessidade de conscientizar os pais acerca dos prejuízos trazidos pelo uso de práticas educativas coercitivas, por meio de treinamentos, pois ao considerar que as práticas educativas coercitivas estão fortemente enraizadas na sociedade, torna-se necessário ensiná-los diferentes estratégias educacionais, indicando-os práticas educativas indutivas a fim de criar e manter repertórios comportamentais mais adequados contribuindo para comportamentos sociais mais habilidosos. Contudo conclui-se que diante à problemática apresentada torna-se necessário uma parceria da escola, da família e do psicólogo escolar para que haja uma nova visão educacional, implementando nas famílias práticas educativas indutivas a fim de maximizar os comportamentos socialmente habilidosos e minimizar condutas antissociais possibilitando métodos educativos mais saudáveis e promovendo uma educação com maior qualidade, tendo em vista a redução dos problemas de comportamentos dentro das escolas. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Miriam e RUA, Maria das Graças. Violências nas escolas. Edição publicada pela Representação da UNESCO no Brasil. Brasília: UNESCO Brasil, REDE PITÁGORAS, 2003. AZEVEDO, Mario. A teoria cognitiva social de Albert Bandura, 1997. Disponível em, http://www.efdeportes.com/efd144/ensaios-sobre-a-teoria-social-cognitiva-de-albert-bandura.htm , 01/07/13. BANACO, Roberto Alves. 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